3 minute read
ISP em Foco
Rede neutra não é assunto só das grandes operadoras
Estamos vivendo um amadurecimento da profissionalização do mercado de provedores de Internet. Nessa nova dinâmica, o termo Redes Neutras tem sido utilizado com frequência.
O uso de redes neutras para o compartilhamento de infraestrutura não é uma iniciativa apenas das grandes operadoras. Segundo a Abrint - Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações, os provedores regionais já seguem por esse caminho para alcançar clientes em diversos pontos do país.
Um exemplo foi apresentado por Irene Charif, Conselheira da Abrint e CEO da WSNET, durante a Abrint Nordeste, realizada em outubro de 2022, em Fortaleza, CE. Ela relatou alguns detalhes do seu case de sucesso: “Quando tomamos a decisão de expandir a rede para a cidade vizinha, nos assustamos porque o custo era alto. Foi quando pensamos em convidar nosso principal concorrente, porque sabíamos que também almejavam essa expansão. Era hora de deixar de lado o orgulho e propor uma parceria, pois seria um grande avanço para ambas as empresas”, explicou.
Ela ainda afirmou que a parceria está sendo rentável para ambos, pois “no nosso segmento é impossível ter 100% do mercado. Esse aumento de competividade é benéfico, permitindo que todos se preocupem em trazer melhores serviços para o cliente final”, salientou.
Esta seção aborda aspectos técnicos, regulatórios e comerciais do mercado de provedores de Internet. Os artigos são escritos por profissionais do setor e não necessariamente refletem a opinião da RTI.
O compartilhamento de infraestrutura sempre existiu, mas a novidade está no compartilhamento do segmento de rede que chega até a última milha, assegurando a neutralidade do negócio. Esse modelo permite otimizar investimentos e aumentar, ainda mais, a concorrência de banda larga no Brasil. Os provedores alugam a capacidade de suas redes e permitem que outras empresas possam cobrir cidades inteiras, sem a necessidade de investir em rede própria.
Cabe ao provedor que adere a esse modelo focar em marketing, vendas e atendimento. Assim, alcança um crescimento mais rápido, otimizando custos operacionais, sem incorrer em sobreposição de redes e disputas por espaço em postes. No modelo de negócio mais usual, a empresa paga apenas por porta conectada.
Um ponto de atenção para quem deseja investir nesta prática é que não existe regulamentação específica pela Anatel, deixando alguns questionamentos ainda em aberto. “O mercado tende a se autorregular”, afirmaram Elisa Leonel e Regina Nascimento, especialistas em regulação do setor, ao participarem do painel Sou Mulher e Entendo de Redes Neutras, moderado por Marina Lage, diretora da câmara Abrint Mulher e diretora da Axnet, no Abrint Nordeste 2022.
A discussão sobre redes neutras também vem sendo impulsionada com a adoção do 5G e a reestruturação da operadora Oi. A rede neutra traz importantes vantagens para o desenvolvimento do país, exercendo um papel relevante sobre um pilar crítico: o financiamento da infraestrutura. Na medida em que otimiza o fluxo de investimentos, criam-se as condições para as ofertas competitivas de Internet banda larga e expansão da conectividade, democratizando o acesso à informação.
No mesmo painel sobre redes neutras, Cristiane Sanches, conselheira da Abrint e diretora da NETserv, trouxe mais detalhes sobre o benchmark do tema e alguns dos desafios econômicos no setor. Ela defende a reorganização estrutural na empresa, segregando as atividades de serviço das de infraestrutura. “A reorganização estrutural já é uma realidade no exterior desde 2006, principalmente na Europa, e uma tendência no Brasil”, afirmou.
Um dos grandes desafios do modelo de redes neutras para o mercado brasileiro é a construção de confiança no segmento, que tem histórico de poucos competidores nas ofertas de atacado. Além de uma cultura de propriedade de rede como elemento diferencial de competitividade nos negócios.
Como tem sido a regra na evolução de mercados, a ampliação da competição e o amadurecimento do modelo regulatório são caminhos fundamentais para a construção de confiança e desenvolvimento sustentável da modalidade no mercado nacional. Para mitigar esta situação e acelerar a criação de confiança, acredito na adoção de um modelo híbrido, com parte da solução de conectividade implantada por meio de rede própria e parte utilizando rede neutra. Dessa forma, se beneficia das duas modalidades e amplia a área de atendimento da empresa, ao mesmo tempo em que se exercita a utilização de rede de terceiros e desenvolve a criação de confiança e de um novo amadurecimento empresarial.
É necessário também o amadurecimento regulatório para que as operadoras de redes neutras operem com neutralidade e isonomia. É preciso garantir que os provedores de Internet que utilizem essas redes possam ter tratamento equitativo e competir de forma saudável no mercado, mantendo a competitividade e a qualidade da conectividade para todos, em prol do avanço da inclusão digital no Brasil.