André Tavares analisa a relação entre arquitetos e os livros de arquitetura
ENTREVISTA
Em projetos recentes, as novas soluções para o conforto acústico
TECNOLOGIA
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LAZER EM AÇO Transparência e generosidade espacial são os atributos dos centros esportivos, de lazer e social publicados nesta edição: os paulistas Sesc Jundiaí, por Teuba Arquitetura e Urbanismo; o ginásio do Clube Alto dos Pinheiros, por Gálvez e Márton Arquitetura; e o Serviço de Reabilitação para Deficiência Visual, por André Takiya e Fábio Mariz Gonçalves. A estrutura metálica é presença constante
Pensar o futuro Transformar a cidade Descongestionar centros urbanos e aumentar suas densidades. Facilitar o acesso ao transporte eficiente e aos meios de circulação. Gerar energia e ampliar áreas verdes. Conectar pessoas e aumentar seu acesso à informação. Esses são alguns dos desafios do presente e os caminhos para inovação nos municípios de amanhã. Revelem suas ideias sobre mobilidade, inclusão social, sustentabilidade e acessibilidade urbanas. Inscrevam suas equipes no URBAN21, Concurso Universitário de Urbanismo aberto a estudantes de todo o país. Cidades para todos, corretas e vivas. Redefinir o futuro é possível.
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SUMÁRIO Fundadores Alfredo Paesani, Fábio Penteado, Vicente Wissenbach Diretores Arlindo Mungioli, Eduardo Mungioli
ENTREVISTA 14
O arquiteto e editor português pesquisa a história dos livros de arquitetura e revela a influência deles na formação dos profissionais
Publisher Fernando Mungioli Editora executiva Evelise Grunow Redação Adilson Melendez (editor adjunto) Gabriela Nunes (redatora) Camila Gonzalez (redatora) Fabio de Paula (editor web) Marcos Luiz Fernandes (revisor/preparador) Colaboradora Éride Moura Arte/produção Silmara Sol (chefe de arte) Camila Nagao (diagramação) Projeto gráfico FutureBrand Contatos comerciais Camila Tomasi Claudio Biancardi Representante autônoma Mônica Della Nina (Della Nina: 99544-4314) Redação, publicidade, administração Rua General Jardim, 482, 10º andar, São Paulo, SP, CEP 01223-010 Edição nº 421 - maio 2015 periodicidade mensal
CASAS BRASILEIRAS 38
Capa Projeto do escritório Teuba Arquitetura e Urbanismo para o Sesc Jundiaí
ARQUITETURA 44
54
60
Operações de manuseio FG Press: www.fgpress.com.br PROJETO DESIGN - ISSN: 1808-6586 é uma publicação da Arco Editorial Ltda., com sede na rua General Jardim, 482, 10º andar, fone/fax (11) 3154-3838, São Paulo, SP, CEP 01223-010 Diretor responsável Arlindo Mungioli Assinaturas: ligue grátis 0800 11 9688 ou acesse www.arcoweb.com.br/assinaturas
Reabilitação para as pessoas e a paisagem Edifício de apoio à saúde, São Paulo - André Takiya e Fábio Mariz Gonçalves
INTERNACIONAL 66
Torre delgada e escalonada Edifício residencial/hotel, Nova York - Atelier Christian de Portzamparc
INTERIORES 74
Memória reunida em metamorfose Centro cultural, Porto Alegre - Tangram Arquitetura e Design
TECNOLOGIA 84
Versatilidade para o conforto acústico Conferência e projetos recentes mostram barreiras adequadas para impedir a entrada de ruído nas edificações
SEÇÕES
Operação em bancas
Assessoria Edicase - www.edicase.com.br
Ação sob arcos e triângulos Ginásio esportivo, São Paulo - Gálvez & Márton Arquitetura
Envio de colaborações
Distribuição exclusiva Dinap S/A Distribuidora Nacional de Publicações
Um Sesc em Jundiaí Centro esportivo e cultural, Jundiaí, SP - Teuba Arquitetura e Urbanismo
Foto de Joana França Sugestões de projetos para publicação devem ser encaminhadas para a redação no endereço acima, acompanhadas por fotos ou cópias coloridas de fotos, para avaliação preliminar. Se o projeto for selecionado para publicação, a redação entrará em contato com o arquiteto. Apesar de todo o cuidado no manuseio do material, não nos responsabilizamos por eventuais danos ou extravios.
Como aço, ferro retorna ao solo Residência, Nova Lima, MG - Paulo Trajano
Tratamento de imagens: Arco Editorial Impressão: Brasilform
André Tavares
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Em dia Notícias de arquitetura
34
Prancheta O novo acelerador de partículas brasileiro, Campinas, SP Paulo Bruna Arquitetos Associados
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Produtos As opções no mercado contra os sons indesejáveis
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Vão Livre Paulo Caruso
CARTA DO EDITOR - PROJETO DESIGN MAI ‘15
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Projetos
DE AÇO Evelise Grunow Editora executiva
A relação dos arquitetos com os livros (de arquitetura) é o tema da entrevista que publicamos neste mês, realizada com o arquiteto português André Tavares, diretor da Dafne, editora sediada no Porto, e também um dos curadores da próxima Trienal de Arquitetura de Lisboa, marcada para 2016. Há quase uma década, Tavares pesquisa a intrínseca relação do ofício do arquiteto com a sua prática de produzir livros, selecionando paralelos entre obras emblemáticas de ambas as áreas de atuação. “Acho que a conclusão é que os arquitetos manipulam o livro, por vezes com ingenuidade ou ignorância - positiva, no sentido de não saberem fazer o livro que querem - para dar esses saltos grandes (...). Foi com livros que os arquitetos se instruíram e construíram marcos na história da arquitetura. É no livro que se substancia o saber arquitetônico, disciplinar e muito próprio”, assinala o estudioso. A respeito da próxima mostra de arquitetura de Lisboa, ele faz um convite à audiência brasileira: “Vale a pena ir para perceber que a arquitetura ainda existe como disciplina, que os arquitetos continuam a construir e a dominar um saber, que é a arquitetura, não apenas uma competência técnica ou devaneio estilístico. Nossa curadoria reclama um profissional que não perdeu o sentido da forma, que tem consciência dos valores, inclusive sociais, do seu caráter tecnológico subjacente e do seu papel para a transformação da sociedade”.
Uma sensibilidade presente nos projetos que apresentamos neste mês, relacionados ao tema da construção metálica. A economia de meios é, evidentemente, pauta em comum entre eles - quanto menos aço, menor o custo de implantação -, e isso gera desdobramentos interessantes, como a volumetria do ginásio feito com arcos e triângulos, projetado pelos arquitetos do escritório Gálvez & Márton Arquitetura para o Clube Alto dos Pinheiros, em São Paulo; ou a implantação enxuta do Centro de Tecnologia e Inclusão, concebido por André Takiya e Fábio Mariz Gonçalves para o governo de São Paulo por intermédio da Fundação para a Pesquisa em Arquitetura e Ambiente (Fupam). De Minas Gerais, selecionamos a casa idealizada pelo arquiteto Paulo Trajano para terreno em aclive, nas imediações de Belo Horizonte, caracterizada pela assimetria e pela conquista de grandes vãos através do uso de vigas de aço; e, de Porto Alegre, o Centro Histórico-Cultural da Santa Casa - de autoria dos profissionais do Tangram -, que demorou mais de uma década para ser concluído. Persistência é um atributo que também perpassa as histórias das outras duas obras de destaque desta edição: o Sesc de Jundiaí, desenhado pelas arquitetas do Teuba Arquitetura e Urbanismo, e a Torre One57, idealizada por Christian de Portzamparc para empreendedor de Nova York. Ambos bateram a casa dos dez anos de implantação e amadurecimento arquitetônico para serem viabilizados.
ARCOWEB.COM.BR - PROJETO DESIGN MAI ‘15
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ARCOWEB.COM.BR Conteúdo exclusivo em nosso site O portal Arcoweb traz informações que complementam o conteúdo desta edição da revista PROJETOdesign, como desenhos e fotos, além de matérias exclusivas e atualização diária com as principais notícias do universo
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arquitetônico. Veja abaixo os destaques deste mês!
Fachada solar A nova sede do Banco de Pisa e Fornacette, na Itália, resulta de um projeto que parte de uma planta retangular para formar volumetria compacta, abrangendo área de cerca de 4 mil metros quadrados. Construído em Pisa, o complexo foi criado pelo arquiteto Massimo Mariani e destaca‑se na paisagem pelas placas metálicas iridescentes na fachada ‑ elas mudam de cor de acordo com a incidência de luz solar ‑, pelos painéis de vidro translúcido multicoloridos.
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PAUTA ONLINE - PROJETO DESIGN MAI ‘15
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PAUTA ONLINE 36.971 LIKES
“Se você quer uma vida fácil, não seja arquiteto”, afirma Zaha Hadid
DIVULGAÇÃO
Veja as matérias que tiveram maior repercussão em nossa rede social no mês de abril!
A arquiteta iraquiana Zaha Hadid afirmou, em entrevista a um portal norte-americano, que trabalha muito, mas não tem frustrações com a carreira. “Se você quer uma vida fácil, não seja arquiteto. Você tem que trabalhar todo o tempo. Se você quer um trabalho das 9 às 17 h, ir para casa e relaxar, não faça arquitetura.” Mais informações sobre essa e outras notícias em nossa página no Facebook: www.facebook.com/arcoweb
@PORTAL ARCOWEB E #REVISTAPROJETO
World Habitat Awards anuncia os vencedores de 2015
Ganhadores do concurso que reúne arquitetura e fábula
Criado em 1985 pela Building and Social Housing Foundation, o World Habitat Awards acaba de anunciar os vencedores de 2014-2015. Bienalmente, dois prêmios de 10 mil euros são concedidos a projetos que promovam soluções práticas e inovadoras para problemas relacionados à moradia.
Organizado pelo portal Blank Space, o segundo concurso internacional Fairy Tales, que combina arquitetura e narração de histórias, acaba de anunciar seus vencedores. Como o nome sugere, os participantes devem desenvolver não apenas projetos arquitetônicos relevantes e inovadores, como também um texto baseado nos desenhos a fim de aguçar a imaginação dos leitores.
WORLD HABITAT AWARDS (@bshf_WHA)
RT World Habitat Awards (@bshf_WHA) anuncia os vencedores de 2015: goo.gl/YGynM9
BLANK SPACE
(@BlankSpaceNYC )
RT Concurso da @BlankSpaceNYC que reúne #arquitetura e conto de fadas anuncia vencedores: goo.gl/jimwey
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ENTREVISTA - PROJETO DESIGN MAI ‘15
JOÃO DORIA
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André Tavares O arquiteto e editor português, curador da próxima Trienal de Arquitetura de Lisboa, fala sobre a arte de produzir livros em sua área. E a coloca em perspectiva histórica, narrando os eixos e meandros da pesquisa que está realizando sobre a relação dos arquitetos com os livros de arquitetura. Ele acaba de vencer a versão 2015 do Prêmio Fernando Távora, de Portugal, com seu projeto de viajar por Roma, Vicenza, Paris e Londres, a fim de visitar, nessas cidades, edifícios e edições originais de obras escritas. É sobre a importância e as características dos livros de arquitetura para a formação dos profissionais que André Tavares fala nesta entrevista.
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André Tavares 15
Curador da Trienal de Arquitetura de Lisboa de 2016, cargo que compartilha com Diogo Seixas Lopes, o arquiteto português André Tavares é um amante profissional de livros. Diretor da editora Dafne, sediada no Porto, está finalizando uma pesquisa intitulada A anatomia do livro de arquitetura, em que traça paralelos entre a prática do projeto e a da elaboração de livros, pelos arquitetos, revelando similaridades programáticas e o papel central da obra escrita para o ensino e a consolidação da profissão. Em seu estudo, Tavares está interessado nos livros da era industrial, quando surgem as técnicas de impressão seriada e as figuras do editor, do designer gráfico e do distribuidor, interpostos entre o arquiteto‑autor e a obra. Busca coincidências cronológicas de marcos arquitetônicos com a história moderna dos livros de arquitetura, investigando o paralelismo entre saltos epistemológicos em ambos os campos, igualmente protagonizados por arquitetos. No caso das publicações, como salienta André, graças a certo ingênuo desconhecimento da área por estes profissionais. A Dafne foi criada em 2003 pelo pai de André, Domingos Tavares, para publicar uma série de 23 livros sobre a história da arquitetura europeia, do século 16 ao 19. Trata‑se da coleção Sebentas de História de Arquitetura Moderna, que, completada em 2014, é originária das aulas que Domingos proferiu na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto. “O desejo era fixar, o que é um assunto‑ chave, os conhecimentos transmitidos aos alunos; dar corpo às ideias, saindo do universo físico da voz, para que elas ganhassem materialidade própria. Essa fixação, no livro, obriga a uma disciplina de pensamento para ser comunicável, que acredito ser a grande contribuição da obra escrita”, analisa André. O arquiteto lamenta o “desaparecimento das livrarias tal como as conhecíamos, e mais ainda dos livreiros, cilindrados pelas grandes cadeias de distribuição que tratam os livros como hambúrgueres de fast food; eles eram personagens fundamentais, que faziam a ponte entre livros e leitores”. Na Dafne, tem trabalhado simultaneamente nos meios digital e físico ‑ “é raro avançarmos para a impressão de
livros cujo financiamento não esteja garantido. Isso resulta que, com um pouco mais de esforço, é possível disponibilizá‑los também online, o que serve para aumentar nossa rede de contatos”. Quanto à possível substituição do livro físico pelo digital, sinaliza: “Estou curioso; acho que a nossa e a próxima geração não escapam dos livros. É um pouco como as doenças, eu já não tenho cura”. O QUE VOCÊ PRETENDE REVELAR AO ESTUDAR A RELAÇÃO ENTRE OS ARQUITETOS E OS LIVROS DE ARQUITETURA?
Os arquitetos sempre fizeram livros. A começar de uma curiosa coincidência cronológica, de [Johannes] Gutenberg [alemão, inventor do tipo mecânico móvel para a impressão, no século 15] e [Leon Battista] Alberti serem contemporâneos. Gutenberg deu corpo ao livro impresso tal como o conhecemos hoje e Alberti teorizou a profissão do arquiteto como a pensamos. Ou seja, um profissional independente, que domina certo saber e o organiza intelectualmente. Minha pesquisa [que será editada em livro, em negociação com a editora suíça Lars Müller] trata de entender como esse saber é comunicado ao livro. Em O corcunda de Notre-Dame [1831], Victor Hugo disse que o livro mataria a arquitetura. Apreciador da arquitetura gótica, reagiu ao livro ‑ o lugar onde as sociedades inscrevem seus valores simbólicos ‑, que retratava, na sua opinião, a decadente arquitetura a partir do Renascimento. No fundo é isso. E me interessa saber como os arquitetos inscreveram o seu conhecimento particular em livros muito singulares, só compreensíveis a partir do conhecimento de que há uma relação da prática do projeto com o espaço do livro. Minha ideia é cartografar esse mundo. UMA ATUAÇÃO DE DUAS VIAS. TANTO A PRÁTICA DA ARQUITETURA TRANSPOSTA AO ESPAÇO SIMBÓLICO E FÍSICO DO LIVRO QUANTO O LIVRO QUE PROCURA DAR SENTIDO A ESSA PRÁTICA?
É exatamente isso. [Andrea] Palladio reconfigurou a estrutura do livro a partir de sua peculiar prática de projeto, tal como Rafael [Sanzio] a tinha teorizado anos antes. Foi fundamental a forma como ele
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relacionou o corte e a elevação nas páginas esquerda e direita do livro, resolvendo uma equação lançada, antes, por Rafael, em sua carta a [papa] Leão 10. Nela, Rafael explicava a prática da arquitetura da Antiguidade e o modo como se levantavam os monumentos. Disse: “Fazem-se três desenhos, todos na mesma escala. Da planta, retiram-se as projeções verticais, metade dela serve para desenhar o corte e a outra, a elevação”. Foi Palladio quem seguiu o preceito e definiu o fazer da arquitetura na primeira metade do século 16. Usou aquela dupla projeção, de corte e elevação, preconizada por Rafael, fazendo-a coincidir com a página dupla do livro.
industrial sem o requinte desejável a um salão como aquele, dedicado à mais importante exposição do mundo. Jones teve o domínio da cor através do desenvolvimento do livro sobre Alhambra. QUE PERÍODO É ANALISADO NA SUA PESQUISA?
Parece, mas não estava resolvido antes. Palladio interrompia o desenho se a relação entre a escala e o tamanho do papel assim o pedisse. Já, ao contrário, numa edição do tratado de Vitruvio, de Daniele Barbaro, em 1556, houve tentativas de se imprimir os desenhos maiores do que a página, com dobras do papel, para manter a escala da planta. Foi Palladio, então, quem, trazendo para o livro o conhecimento da sua prática de projeto, organizou visualmente a obra escrita. Outro momento interessante foi quando no século 19, em meio ao debate sobre a arquitetura grega ser branca e marmórea ou colorida e exuberante, os arquitetos fizeram livros em cromolitografia, explorando a representação das cores arquitetônicas que viram nos seus grand tours. Também Owen Jones fez uma publicação impressionante sobre Alhambra [palácio e fortaleza islâmicos, em Granada, na Espanha], desenvolvendo, ele próprio, certa metodologia para produzir a cor local. E é incrível ver como essa prática foi fundamental a ele, em 1850 e 1851, quando concebeu as cores dos interiores do Palácio de Cristal, em Londres.
Interessava-me o livro físico. A certa altura fui perceber que há progressos significativos no pós-Segunda Guerra Mundial, quando os livros transformam-se substancialmente. Em1995 publicam-se o SMLX, de [Rem] Koolhaas, e o primeiro volume da monografia de Peter Zumthor - dois exemplos contrários, mas com sintonia muito grande entre o desenho gráfico e a percepção do livro como objeto comercial de circulação em massa. Algo que já acontecia antes da guerra e, portanto, fixei meu primeiro limite temporal nos livros de 1925 a 1929. O segundo foi nos anos 50 do século 19, que me permitiam perceber do que se tratava o livro industrial. Em 1851 coincidem a mostra no Palácio de Cristal e alguns livros-chave para a história da arquiteura, como As pedras de Veneza, de [John] Ruskin. Interessavam-me essas coincidências entre arquitetura e gráfica, como a realização da Exposição de Artes Decorativas, em Paris, em 1925, paralela à publicação de livros como os da Bauhaus, organizados por [Walter] Gropius e Maholy Nagy; o Arts decoratives d’aujourd-hui, e o Vers un architecture, de Corbusier. Por outro lado, esse limite temporal, do passado, permitia-me também contar o aparecimento das figuras do editor no contexto do livro industrial e a do designer, com sua consciência visual marcante a respeito do objeto livro. Entre o arquiteto e o impressor vão surgindo, então, outros personagens que criam filtros sucessivos para a construção do livro. As características fundamentais - visuais e conceituais - dessa indústria já estavam lançadas no século 16.
POR CAUSA DA TÉCNICA DE PIGMENTAÇÃO
EM QUE ASPECTO?
UTILIZADA NO LIVRO?
Organizo em minha pesquisa cinco temas-chave para o estudo do livro de arquitetura: textura, superfície, ritmo, estrutura e escala. Eles valem tanto para o fazer da arquitetura como para o livro. Exploro os pontos de contato entre esses
ISSO NÃO PARECE ÓBVIO?
Sim, e também pelo desenvolvimento das teorias de apreciação da cor. Ela pode ser decomposta e aplicada, por exemplo, na estrutura metálica do palácio, que em princípio, contudo, é um material
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conceitos. No fundo, correspondem à dimensão física, sendo a textura a página, a superfície a dupla página, o ritmo a sequência de páginas, a estrutura essa sequência armada no objeto livro e a escala a fixação da dimensão do objeto. Ou seja, também tentei fazer o meu próprio livro pensando como um arquiteto. É importante ter em mente que não dá para entender o livro sem seu enquadramento social e cultural, expresso por suas características mais diretas e formais: o papel, a tinta, o cheiro. O mesmo vale para a arquitetura. Suas características físicas nos fazem viajar no tempo.
“Há o aspecto de o mar de livros ser uma ambição desmesurada dos arquitetos para atingirem a imortalidade, arranjarem encomenda ou deixarem a sua marca na história. Mas acontece de um livro ter, por si só e inesperadamente, a capacidade de gerar debate”
QUAL ACREDITA SER A CONTRIBUIÇÃO
VOCÊ MENCIONA A DIFICULDADE DE FAZER COM
PRINCIPAL DA SUA PESQUISA?
QUE OS LIVROS GEREM DEBATE. A QUE SE REFERE?
Eu fazia livros. Um dia, lancei-me num projeto em que ingenuamente pensei: vou tratar a relação entre os arquitetos e os livros. Ganhei uma bolsa que me permitiu estar uma temporada no Centro Canadense de Arquitetura. Progressivamente fui descobrindo livros e livros, perdendo-me nesse mar de relações entre eles e os arquitetos e tentando entender a história do livro. Uma disciplina relativamente recente do ponto de vista da sua autonomia disciplinar, mas bastante bem caracterizada. Nunca, no entanto, se menciona o livro de arquitetura na história do livro. Há excelentes trabalhos sobre isso - Mario Carpo me induziu nessa aventura, com seu Architecture in the age of printing; um livro de Catherine de Smet sobre a relação de Corbusier com os livros [Le Corbusier, architect of books, 2005]; outro de Robert Whitman sobre a esfera pública no século 18 e a forma como, particularmente na França, o debate público sobre a arquitetura se fez no espaço impresso; e há também os trabalhos de Beatriz Colomina sobre as revistas de arquitetura. Mas alguém que diga que na história do livro há um livro de arquitetura, e que ele tem qualidades próprias, eu não encontrei. O que achei foram as qualidades próprias dos arquitetos a fazerem livros. Claro que a cromolitografia também teve impacto impressionante nos livros de anatomia, de onde vem o título do meu trabalho, mas foram estes que impactaram a forma como Viollet le Duc concebeu não só o livro, mas a sua própria arquitetura. Os campos não são estritos e fechados.
Há o aspecto de o mar de livros ser uma ambição desmesurada dos arquitetos para atingirem a imortalidade, arranjarem encomenda ou deixarem a sua marca na história. Mas acontece de um livro ter, por si só e inesperadamente, a capacidade de gerar debate. Um dos casos foi Contrasts, publicado pelo próprio autor, [Augustus] Pugin, em 1836. É sobretudo um livro religioso, em que Pugin opõe a imagem de uma bela obra medieval [ao que considera] uma horrível obra de um arquiteto contemporâneo - John Son ou John Nash, por exemplo. Gerou-se uma polêmica fortíssima e Pugin se tornou um autor famoso. Mas é certo que ele conhecia o meio editorial, sabia onde pôr as suas alfinetadas para garantir que aquilo corresse bem. Nesse sentido, a partir do século 19, com o livro industrial, o que vai gerar o seu sucesso é o contexto social - as apreciações críticas, a capacidade do editor de se posicionar, dar o enquadramento certo e fazer a obra chegar a determinadas redes de comunicação. Le Corbusier, por exemplo, tinha o apoio de uma casa de edição - G. Cres et Cie. - e também a sua própria rede de legitimação gerida a partir da revista L’Sprit Nouveau. QUE PAPEL TEVE A FOTOGRAFIA PARA O DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA DO LIVRO DE ARQUITETURA?
Decisivo. Assim que a fotografia aparece, em 1839, há um editor que começa a produzir livros com fotos -
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Excursions daguerriennes [por Noël-Marie Paymal Lerebours]. Os livros de fotografia, dando sequência aos de viagem, que já existiam, são, portanto, livros de arquitetura. Servem para que o público veja as pirâmides do Egito, os templos gregos, as cataratas do Niágara, a casa onde morreu Napoleão Bonaparte. E essa condensação de uma arquitetura reconstruída dentro de um livro vai ter efeitos muito importantes, quer na própria história da arquitetura - estou a pensar como James Fergusson [historiador escocês de arquitetura, 1808-1886] usava a fotografia enquanto instrumento da sua história da arquitetura -, quer, de novo, no Palácio de Cristal, onde se vai construir uma pequena Disneylândia. Nos seus pátios estão reconstituídos espaços dessa história da arquitetura mostrada nos livros de fotografia, que migra para dentro da própria arquitetura e, assim, reflete a presença da fotografia nos livros de arquitetura. E o que é incrível, isso acontece num período curtíssimo, de dez anos. Depois há um segundo momento em que a fotografia vai permitir uma representação mais complexa e rigorosa, mais rápida também, das próprias obras de arquitetura, tornando mais econômica a tarefa que era desempenhada pela gravura e pela litografia. É o processo fotográfico que vai permitir a mistura dinâmica e sintética de texto com imagem, o que revoluciona a forma como os arquitetos modernos reconfiguram o próprio discurso através da foto. Penso, por exemplo, nos livros de Sigfried Giedion, historiador com formação em engenharia e cabeça de arquiteto. DE QUE FORMA?
Giedion consegue visualmente, e não pela decomposição analítica do projeto, montar uma narrativa da história da arquitetura. Diz que os arquitetos não têm tempo de ler e que cabe à fotografia contar metade da história, vinculada a uma pequena legenda que dá sentido à leitura visual. Junta a isso, então, a dupla página de [Heinrich] Wölfflin - utilizada nas suas aulas de história da arte - e mistura a arquitetura de ferro de [Henri] Labrouste com a de concreto de Corbusier, por exemplo, discorrendo visualmente sobre o vínculo entre particulares lógicas construtivas de materiais diferentes. Essa continuidade permite uma nova
linguagem para a arquitetura, com papel fundamental desempenhado pelo par texto/ imagem. DEMAGÓGICO, NÃO?
É um perigo, mas uma virtude também. Nos últimos anos tem havido uma crítica grande à imagem, à sua midiatização. Creio que, apesar de tudo, o espaço físico do livro dá a ela outro caráter, que permite decompô-la com segurança maior. Certo que isso implique uma manipulação, que sempre existiu na história da arquitetura, em que a imagem sempre se prestou a múltiplas interpretações e, portanto, a equívocos também. É curioso Alberti estar pensando ainda em termos de manuscrito quando escreveu o tratado dos seus dez livros. Temia que o copista não reproduzisse a imagem com a fidelidade da reprodução textual e optou por fazer uma descrição da cartografia de Roma, uma espécie de imagem analógica. Só pela escrita, com pontos e coordenadas, conseguiu traçar o mapa da cidade. Até que pouco tempo depois surgem os primeiros livros ilustrados por gravuras e no século 16 consegue-se fixar sistemas de proporções que garantem a sua reprodução fiel, em sucessivas edições. Está garantida a estabilidade do cânone visual, não teórico, o que foi ótimo para os arquitetos. Sempre nos alimentamos de imagens que promovem a arquitetura. QUAL A CONCLUSÃO DO SEU TRABALHO?
Os arquitetos têm uma cultura de projeto muito peculiar, pensada em função da obra. Ela foi construída e transmitida ao longo de muitos anos através do livro, que, portanto, foi o suporte da aprendizagem da arquitetura. Num segundo momento, quando os arquitetos dão saltos epistemológicos e de conhecimento, usam o livro como meio para fixação dessa nova ideia de arquitetura. Os arquitetos manipulam o livro, por vezes com ingenuidade ou ignorância - positiva, no sentido de não saberem fazer o livro que querem - para dar esses saltos grandes. Também posso dizer que não se realizou a profecia de Victor Hugo. O livro não matou a arquitetura e talvez porque foi com livros que os arquitetos se instruíram e construíram marcos na história da arquitetura. É no livro que se substancia o saber arquitetônico, disciplinar e muito próprio. (Por Evelise Grunow)
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EM DIA - PROJETO DESIGN MAI ‘15
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GRAMACHO éo MAIS votado Não foi só para João Emanuel Carneiro, autor de Avenida Brasil, novela exibida pela Rede Globo em 2012, que o aterro sanitário de Gramacho, em Duque de Caxias, Região Metropolitana do Rio de Janeiro, serviu de mote. Desativado naquele ano, mais de três décadas depois de ter entrado em funcionamento, ele foi também o tema do trabalho final de graduação em arquitetura que levou a aluna Manuela da Silva Ramos Muller (PUC/RJ) a ser uma das cinco vencedoras da 25ª edição do concurso Opera Prima, em escolha feita pelo júri, e a levar o Prêmio Cebrace Escolha do Público, em votação realizada através da internet. A proposta denominada Non Park foi a preferida de cerca de 45% dos mais de 22,5 mil eleitores. Pelo reconhecimento dos internautas, Manuela recebeu um computador MacBook, oferecido pela patrocinadora da competição entre formandos de arquitetura de todo o país. Manuela soube que fora a escolhida pelo público na cerimônia de premiação do Opera Prima, realizada no início de abril, em São Paulo, com a participação dos cinco vencedores, de professores que orientaram as propostas, profissionais que atuaram nas etapas regional e nacional do júri, além de outros convidados, entre eles o presidente do CAU/BR, Haroldo Pinheiro. “É uma honra ter ganho o Opera Prima, que é um concurso tão importante e tão competitivo, porque, na verdade, já existe uma pré-seleção que acontece dentro das próprias faculdades. Vencer dá ânimo para continuar na profissão”, afirmou Manuela.
CLÁUDIA MIFANO
pelo público no Opera Prima
Manuela Muller entre Arlindo Mungioli e Fernando Mungioli, respectivamente diretor e publisher da revista PROJETOdesign
A proposta de intervenção idealizada por ela (com a orientação do professor Otávio Leonídio Ribeiro) para a regeneração da área do aterro é inusitada, porque, embora espacialmente esteja vinculada à configuração de um parque, não estabelece diretrizes imediatas ou fixas de ocupação. O projeto considera o aterro um território de estrutura mutante e, por isso mesmo, trabalha com cenários abertos. Para a recuperação ambiental, Manuela sugere a drenagem da água pluvial/ tratamento do chorume e a coleta e transformação do gás metano (proveniente da decomposição dos materiais ali enterrados) em energia elétrica.
Concurso URBAN21 A Arco Editorial e a revista PROJETOdesign lançam neste mês o URBAN21, concurso universitário nacional de urbanismo criado com o objetivo de promover o debate sobre o futuro das cidades e divulgar ideias para uma urbanidade melhor. O objeto da competição é o estudo preliminar de desenho urbano a ser desenvolvido para uma área real, com no mínimo 300 mil habitantes e tamanho de 10 a 25 hectares, definida pela equipe inscrita (de estudantes de arquitetura ou multidisciplinar). Coerente com os instrumentos previstos no Estatuto das Cidades, do Ministério das Cidades, o projeto deverá contemplar programa que suscite o equilíbrio entre habitação e oferta de trabalho, a mobilidade urbana, a preservação ambiental, a utilização racional de recursos naturais e a criação de infraestruturas para o bem público. Serão consideradas as melhores ideias sobre inclusão social, sustentabilidade e acessibilidade das cidades. Além de prêmios em dinheiro, o concurso terá seu resultado divulgado na edição de dezembro da revista PROJETOdesign e no portal ARCOweb. Informações adicionais sobre prazos e o conteúdo do URBAN 21 estão disponíveis em www.urban21.org. O patrocínio do evento, exclusivo, é da Alphaville Urbanismo.
Intervenção no Serra Dourada
RUI FURTADO
Inaugurado em 1975, com projeto concebido por Paulo Mendes da Rocha, o Estádio Serra Dourada, em Goiânia, passará por processo de modernização. Vencedor da licitação pública estadual, o escritório paulista GCP Arquitetos será o responsável pelo projeto, que objetiva “adequar o estádio às necessidades atuais e manter/reforçar as virtudes do partido original, garantindo o uso futuro daquela obra de extrema qualidade arquitetônica e urbanística”, explica Sergio Coelho, sócio-fundador do estúdio. Entre as mudanças planejadas figuram: extensão da arquibancada inferior com cadeiras até o nível do gramado; reforma e nova divisão das cabines de rádio e tevê; criação de um auditório e espaço para jornalistas, bem como reforma dos vestiários.
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Novo Mamm, em Medellín O Museu de Arte Moderna de Medellín (Mamm), na Colômbia, passa por um projeto de expansão que deverá ser concluído em setembro deste ano. O novo prédio acolherá espaços expositivos, teatro e salas para música e de múltiplo uso, escritórios e serviços, triplicando sua área em relação à atual. Os escritórios de arquitetura 51 + 1, do Peru, e Ctrl-G, da Colômbia, são os autores da proposta de ampliação do museu (vencedores de concurso realizado em 2010), que passará a contar com cinco níveis, em uma área de 7.220 metros quadrados. A atual sede ocupa uma antiga fábrica de aço (Talleres Robledo), construída em 1938 e reformada para a mudança de uso em 2009. A recente adição, caracterizada pela sobreposição de volumes ligados com escadas, será inaugurada com a exposição da coleção Mamm, que passará a ser permanente, além de um programa variado de mostras e eventos de dança, cinema e música.
Etec no prédio de Tozzi Assim como a Hospedaria dos Imigrantes (leia nota nesta seção), o edifício que abrigava o Centro de Educação em Ciência, Tecnologia e Educação Acácio de Paula Leite Sampaio, em Vila Nova, na cidade de Santos, vai receber uma unidade educacional da rede pública, neste caso uma Escola Técnica Estadual (Etec). A edificação foi projetada na década de 1960 pelo arquiteto Decio Tozzi, em conjunto com Luiz Carlos Ramos, para ser a sede de uma escola técnica do Instituto Municipal do Comércio. Tozzi foi contratado pela prefeitura local para realizar o projeto de recuperação do conjunto, o que inclui itens de atualização tecnológica. Na edificação, que tem cerca de 5 mil metros quadrados de área construída, serão acomodadas 15 salas de aulas, cada uma com capacidade para receber até 30 alunos. Tombado pelo Condepasa, órgão municipal de preservação ao patrimônio, o prédio é um exemplar da arquitetura moderna paulista.
ARQUIVO MLD ARQUITETURA +RESTAURO
Notícias 25
Porto Alegre ganha cinemateca Mais de 20 anos depois de ter sido adquirido pela prefeitura de Porto Alegre e de ter passado por um restauro em etapas que, no todo, somou mais de uma década, reabriu no final de março o Cine-Theatro Capitólio, que passou a se chamar Cinemateca Capitólio. O edifício, construído na segunda metade dos anos 1920 e projetado pelo engenheiro-arquiteto italiano Domingos Rocco, fica na rua Demétrio Ribeiro, esquina com a avenida Borges de Medeiros, no centro histórico da capital, e é considerado patrimônio histórico municipal e estadual. A cinemateca tem projeto arquitetônico de autoria de Marcelo Nunes Vazques Fernandez e Telmo Stensmann, do escritório Meta Arquitetura. Embora tenha permanecido com o aspecto externo original, internamente o conjunto foi substancialmente alterado para acomodar as novas funções. Além da sala de cinema para 164 pessoas, passou a contar com biblioteca, sala multimídia, cafeteria, salas de pesquisa, espaço para exposições e uma área dedicada à preservação de filmes, roteiros, fotos, livros e cartazes relacionados à memória cinematográfica. Em sua configuração original, o Capitólio podia receber cerca de 1,3 mil pessoas. A proposta de transformá-lo em uma cinemateca começou em 2003, juntando prefeitura, a Fundação Cinema RS e a Associação dos Amigos do Cinema Capitólio.
Quase quatro anos depois de noticiar que a antiga Hospedaria dos Imigrantes, em Santos, no litoral paulista, seria transformada em uma unidade da Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo (Fatec), finalmente a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia anunciou, no final de janeiro, a abertura da licitação para as obras de recuperação da parte remanescente daquele conjunto, localizado na rua Silva Jardim, no bairro de Vila Matias. Para transformar a antiga construção - que, apesar de ter sido criada para acomodar temporariamente os imigrantes, nunca foi usada com essa finalidade em escola universitária, o governo estadual prevê investir 70 milhões de reais. A incumbência de desenvolver o projeto arquitetônico foi atribuída à Fundação para a Pesquisa Ambiental (Fupam), vinculada à FAU/USP, que contratou para a tarefa o escritório MLD Arquitetura + Restauro, da arquiteta Maria Luíza Dutra. A intervenção é muito mais ampla e complexa que recuperar as partes da edificação, que, tecnicamente, é considerada pela profissional como ruína. Para acomodar o programa técnico-educacional, o MLD encaixou dentro das alas que compunham a antiga construção um novo prédio em estrutura metálica, valendo-se de alguns desses elementos para ancorar as paredes em alvenaria de tijolo aparente do edifício original. A Fatec terá mais de duas dezenas de salas, o mesmo número de laboratórios, auditório com mais de 250 lugares e setores administrativos. Ela vai oferecer cursos nas áreas de petróleo, gás e construção naval.
MARCELO NUNES VASQUEZ FERNANDEZ
Para hospedar uma escola
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Mostra homenageia Tomie Ohtake Após o falecimento de Tomie Ohtake, em 12 de fevereiro, o instituto que leva seu nome, em São Paulo, expõe as últimas pinturas realizadas pela artista (na foto, uma obra de 2014). A mostra, denominada Tomie Ohtake 100 - 101, reúne cerca de 30 telas, a maioria delas monocromáticas, concebidas no intervalo do 100º ao 101º aniversário de Tomie, além de esculturas em metal e depoimentos inéditos de críticos e artistas. Inaugurada no começo de abril, a exposição tem a curadoria de Paulo Miyada e ficará aberta até 7 de junho, com entrada franca. A arte de Tomie dividirá espaço com a midiática exibição dedicada ao trabalho do artista espanhol Joan Miró, composta por pinturas, esculturas, desenhos, gravuras e alguns objetos de sua criação, pertencentes à Fundação Joan Miró, de Barcelona, e a coleções particulares. A abertura será em 24 de maio.
Tempo livre nas metrópoles
BAÚ/ESCOLA DA CIDADE
Realização conjunta da Escola da Cidade com o Sesc, o 10º Seminário Internacional Tempo Livre na Cidade, que ocorreu em São Paulo entre os dias 23 e 27 de março, contou com a participação de profissionais de diversas áreas, entre arquitetos (como o português Ricardo Bak Gordon e o espanhol Francisco Burgos), cineastas, sociólogos, historiadores e artistas, além do diretor regional do Sesc São Paulo, Danilo Santos de Miranda. Em meio aos tópicos abordados no encontro, foram discutidos exemplos de arquitetura que aplicam o conceito do espaço para o usufruto do tempo livre do cidadão. Foi feita também uma reflexão sobre o significado do “tempo livre no mundo contemporâneo, o que fazer com ele numa metrópole, do ponto de vista espacial e urbano”, detalha Ciro Pirondi, arquiteto e diretor da Escola da Cidade. O tema
seguirá em pauta até junho, quando grupos de alunos vão apresentar seus trabalhos às bancas avaliadoras. Em depoimento a PROJETOdesign, Francisco Burgos e Ginés Garrido, sócios no escritório Burgos & Garrido Arquitetos Associados, instalado na capital da Espanha, falaram sobre o projeto e a implantação do River Park Madrid, iniciada em 2005 e em fase final de conclusão. Trata-se de um parque público para ligar partes próximas da cidade, isoladas nos lados opostos do rio e cortadas por autopista de tráfego intenso. Para os autores, ter a capacidade de desenvolver esse projeto contribuiu para a melhor compreensão da cidade e do espaço público, nas suas múltiplas camadas em complexa relação. A requalificação urbana das margens dos rios será tema fundamental à qualidade das cidades de diversas partes do mundo, analisam.
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Aberta exposição universal em Milão Começou no primeiro dia deste mês e irá até 31 de outubro a exposição universal Expo Milão 2015. O evento é realizado a cada cinco anos, e este ano, pela segunda vez em sua história, ocorre na cidade italiana. Com o tema Alimentar o Planeta, Energia para a Vida, dedicado a assuntos como comida e nutrição, a mostra busca estimular os países participantes a refletir, confrontar ideias e procurar soluções que possam promover um futuro sustentável. Presente na Expo Milão, o Brasil tem pavilhão com área de 4.133 metros quadrados desenvolvido pelo Studio Arthur Casas, com expografia e cenografia de Marko Brajovic. O projeto é organizado por dois elementos principais, construídos com madeira: uma longa galeria que conta com rampa de acesso à parte superior e uma rede adjacente, acima do espaço de culturas de plantas; e uma construção feita com ângulos retos que abriga outros espaços expositivos. O contraste entre esses dois elementos é acentuado pelo tratamento da superfície, que passa de um denso
e compacto bloco lateral até um telhado treliçado que se estende pelas paredes, proporcionando jogos de luz e sombra. Com número recorde de 53 pavilhões no total, a exposição recebeu investimento de mais de 1,2 bilhão de euros provindos de 144 países. Na geopolítica da alimentação mundial cotejada pelo evento, o ranking dos maiores pavilhões é encabeçado pela Alemanha, com 4.933 metros quadrados, seguida pela China, com 4.590, e Suíça, com 4.432. “Metade dos dez maiores pavilhões pertence a países asiáticos. No geral, algumas histórias extraordinárias estão surgindo do Sudeste asiático, como é o caso do Vietnã, que está se tornando o líder de exportações de grãos de café, bem como um dos principais produtores de arroz. Mas a África é a maior surpresa da exposição, por ser o continente com o maior número de países participantes, alguns deles presentes pela primeira vez, como Angola, Marrocos e Nigéria”, comenta Stefano Gatti, coordenador diplomático internacional da Expo Milão 2015.
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Ideias para Reforma Urbana A Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) e a Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo (Fenea) promovem o 9º Concurso Nacional de Ideias para Reforma Urbana. O tema deste ano é A Participação Popular e o Direito à Cidade: Como Democratizar a Produção do Espaço?, com o objetivo de debater os processos de urbanização desigual nas cidades e estimular a produção acadêmica sobre reforma urbana. Os autores das três melhores propostas apresentarão seus projetos no 39º Encontro Nacional de Sindicatos de Arquitetura e Urbanismo (Ensa), a ser realizado em Campo Grande, em novembro de 2015. Além disso, serão distribuídos prêmios de 2,5 mil, 1,5 mil e mil reais, respectivamente, para os três primeiros colocados. As inscrições estão abertas até 30 de junho, podendo participar estudantes matriculados em instituições de ensino no Brasil ou formados no ano de 2014. Mais informações no site www.fenea.org.
Moradias premiadas Realizado a cada dois anos, o World Habitat Awards - prêmio criado em 1985 pela Building and Social Housing Foundation e voltado para a promoção de novas soluções para problemas relacionados à moradia - anunciou os dois vencedores da edição de 2014-2015, eleitos entre mais de 200 participantes. Os escolhidos foram a entidade social The Y Foundation, que tem como objetivo realocar os moradores de rua da Finlândia, e o projeto filipino Liter of Light, que desenvolve uma solução para levar eletricidade a comunidades carentes, utilizando apenas garrafas plásticas e água.Cada um dos projetos receberá 10 mil euros (cerca de 33 mil reais). Entre os finalistas estava o projeto brasileiro de reurbanização da favela Audi União, em Curitiba, para proteção de famílias que vivem em áreas de risco, nas margens do rio Iguaçu, por meio de uma abordagem multidisciplinar e participativa integrada, envolvendo parcerias entre a comunidade e líderes locais, organizações da sociedade civil e agências governamentais.
Projeto de reassentamento em Viçoso Jardim, do arquiteto Honório Pinto Pereira de Magalhães Neto, da Universidade Federal Fluminense, vencedor da oitava edição do concurso
Correção O nome correto do escritório autor do projeto de intervenção no Engenho dos Erasmos, em Santos (PROJETOdesign 420, abril de 2015), é Doisamaisv Arquitetos Associados.
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BIBLIOTECA Arquitetura e urbanismo no Vale do Paraíba do colonial ao eclético Percival Tirapeli Edições Sesc São Paulo e Editora Unesp, São Paulo, 2014
A dissertação de mestrado do autor serviu de base à publicação, que conta ainda com desenhos e fotos de autoria de Tirapeli. O Vale do Paraíba abrange área dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo e seu desenvolvimento se deu a partir do ciclo do café (1830-1930). Ao contrário de outras obras que tomaram como tema as fazendas cafeeiras, o livro está focado na riqueza da arte sacra que acompanhou as manifestações religiosas na região, que também é conhecida como Vale da Fé.
O terceiro território - Habitação coletiva e cidade Héctor Vigliecca, Lizete Rubano e Luiz Recamán Vigliecca & Associados, São Paulo, 2015
Organizado por Lizete Rubano, professora e pesquisadora da FAU/Mackenzie, e apresentado pelo professor doutor Luiz Recamán, da FAU/USP, o livro de 280 páginas com textos bilíngues (português/inglês) reúne os principais trabalhos de habitação de interesse social e de reurbanização de favelas desenvolvidos no estúdio. O próprio escritório editou a publicação, que busca mostrar os raciocínios de projeto que deram a Vigliecca e equipe projeção e experiência ímpares no enfrentamento de áreas críticas.
Palavra de designer - Citações, ironias e doses de sabedoria Sara Bader Editora G. Gili, São Paulo, 2015
Editora da Princeton Architectural, Sara Bader conta ter se tornado, ao longo dos anos, uma colecionadora de citações. Foi a essa coleção que ela recorreu para dar forma ao livro que contém mais de uma centena de pensamentos das principais mentes do design gráfico ao longo da história. Nas frases, esses profissionais refletem, sinteticamente, sobre os méritos do fracasso, a maneira correta de contratar as pessoas certas e a forma adequada de agradecer aos seus mentores.
Arquitetura - Ensaios críticos Mário Pedrosa Cosac Naify, São Paulo, 2015
Organizado por Guilherme Wisnik, o volume selecionou textos sobre arquitetura assinados por Mário Pedrosa. Para Wisnik e outros estudiosos do tema, Pedrosa teve contribuição seminal na crítica arquitetônica, tendo sido o primeiro a situar a arquitetura como a arte verdadeiramente moderna do país. Os textos estão organizados em cinco temas: Arte e Arquitetura; A Formação do Brasil; O Papel das Individualidades; Brasília: Síntese das Artes; e Hora de Planejar. “Pedrosa não chegou a publicar um livro sobre arquitetura, nem sequer um ensaio acadêmico mais alentado sobre o assunto”, registra Wisnik no prefácio da publicação.
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PRANCHETA - PROJETO DESIGN MAI ‘15
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Sirius, o síncroton
MAIS BRILHANTE
Localizado em terreno de 150 mil metros quadrados no campus do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) - organização social qualificada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) -, em Campinas, SP, o complexo batizado de Sirius, em homenagem à estrela mais brilhante do céu noturno, está sendo construído, desde o início do ano, para ser a nova fonte de luz síncroton brasileira. A arquitetura é de autoria do escritório Paulo Bruna Arquitetos Associados.
Desde 1997, o Laboratório Nacional de Luz Síncroton (LNLS), do CNPEM, opera o primeiro acelerador de partículas do hemisfério sul e o único da América Latina - uma máquina de segunda geração chamada UVX. Com a radiação síncroton, emitida por elétrons em velocidade próxima à da luz quando a sua trajetória é desviada por um campo magnético, é possível analisar microscopicamente a estrutura interna de materiais orgânicos e inorgânicos. A nova máquina, que será de última geração, foi projetada para gerar mais energia e ter o maior brilho dentro da sua classe. Isso significa mais qualidade da fonte de luz síncroton e, portanto, pesquisas ainda mais precisas nos mais diversos ramos do conhecimento, como farmacologia e agricultura Com um anel de 518,40 metros de circunferência
- cinco vezes maior que o do UVX -, o Sirius poderá receber até 39 linhas de luz (estações experimentais onde os materiais são analisados), ou seja, o espaço destinado a pesquisadores acadêmicos e industriais será mais do que duplicado em relação ao antigo, que atingiu sua capacidade máxima, com 18 linhas de luz. A complexidade do projeto exigiu das equipes de engenharia e arquitetura - o escritório Paulo Bruna Arquitetos Associados - diálogo constante com os físicos e engenheiros do laboratório, buscando gerar as condições de estabilidade mecânica e térmica necessárias para o máximo desempenho. Além disso, por seu ineditismo - atualmente, apenas a Suécia está construindo um equipamento semelhante -, foram necessárias pesquisas e trocas com equipes de centros de outros países. O complexo, que tem no
Sirius, o síncroton mais brilhante 35
CORTES
17 12
8
15 8
3 Nível + 623,00
8 12 8 17
7 4 Nível + 619,00
14
8 9 10 12 13 Nível + 614,00
6 16 11 4 8
8 2 5 1 DETALHES DAS FACHADAS
total 69,2 mil metros quadrados de área construída, foi desenhado como uma envolvente isolada de qualquer influência exterior. O formato circular da edificação deve-se à geometria da máquina, que é protegida contra radiações externas por um túnel de concreto armado com paredes de até um metro de espessura. Todo o programa está disposto concentricamente, tendo como referência o centro geométrico da circunferência. Como o terreno apresentava uma diferença de 22 metros entre a cota mais baixa e a mais alta, estabeleceu-se o nível 614,00 como referência para o programa - é nesse patamar que está localizado o hall experimental, principal ambiente do prédio com pé-direito triplo de 17 metros. Dessa forma, a implantação do edifício foi dada pela cota mediana, de equilíbrio
Nível + 610,00
DIAGRAMA DE ÁREAS ÁREAS COMUNS 1 Restaurante 2 Exposições 3 Terraço 4 Administração 5 Auditório ÁREAS DE PESQUISA 6 Laboratórios 7 Escritórios 8 Núcleos de comunicação vertical HALL EXPERIMENTAL 9 Laje especial 10 Túnel de luz 11 Laje comum INSTALAÇÕES 12 Galeria de instalações 13 Linac 14 Área de engenharia 15 Área superior de instalações 16 Criogenia/instalações 17 Vazio/pé-direito/ pontes rolantes
entre corte e aterro, e pela necessidade de afastá-lo ao máximo de eventuais fontes de vibração. No prédio principal, além dos aceleradores e linhas de luz, há laboratórios, escritórios, salas de reuniões, áreas de descanso (distribuídas em seis núcleos diferenciados do resto do programa), entre outros. No espaço de acesso ao complexo estão os ambientes sociais, como restaurante e auditório. Para obter melhor estanqueidade e isolamento térmico, a estrutura de concreto armado terá cobertura de telha metálica zipada, que além de cônica é calandrada, e fachada externa em pele de vidro sombreada por brises. A construção do complexo, atualmente em fase de fundação, será acompanhada pela empresa de engenharia Engineering (responsável pelo projeto executivo) e tem término previsto para 2018.
CASAS BRASILEIRAS - PROJETO DESIGN MAI ‘15
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1 A área em balanço também protege o acesso à residência, qualificada pelas grandes transparências 2 Angulações inusitadas na fachada principal da residência, implantada em condomínio de Nova Lima
COMO AÇO,
ferro retorna ao solo
1
Como aço, ferro retorna ao solo 39
2
TRANSFORMADO EM PERFIS METÁLICOS, O MINÉRIO DE FERRO FOI, DE CERTA MANEIRA, DEVOLVIDO ÀS ORIGENS NO PROJETO DESTA RESIDÊNCIA NO CONDOMÍNIO VILA DOS CRISTAIS, EM NOVA LIMA, CIDADE QUE FAZ PARTE DO QUADRILÁTERO FERRÍFERO MINEIRO. PAULO TRAJANO É O AUTOR DO PROJETO QUE MOSTRA O AÇO NA SUA FORMA PÓS-INDUSTRIAL. O DESENHO DA ESTRUTURA AJUSTA-SE À GEOMETRIA IRREGULAR DO LOTE E À SUA TOPOGRAFIA EM ACLIVE. ► Paulo Trajano ► Residência, Nova Lima, MG
Alguns anos depois de sua graduação pela Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte, Paulo Trajano mudou‑se da capital para Uberaba, por circunstâncias profissionais: a aprovação em um concurso da prefeitura local. A trajetória inversa feita por um cliente propiciou ao arquiteto a oportunidade de voltar a projetar, se não na capital, onde desenvolveu seus trabalhos no início de carreira, pelo menos nas imediações dela. Trajano recebeu a tarefa de dar forma a uma residência em Nova Lima, em terreno de pouco mais de mil metros quadrados no Vale dos Cristais, condomínio fechado que fica em área
pertencente à cidade vizinha de Belo Horizonte ‑ mais especificamente na estrada que liga ambas. Lançado há pouco mais de uma década, esse foi o primeiro empreendimento da Odebrecht Realizações Imobiliárias no estado e ocupa área de mais de 6 milhões de metros quadrados, com a proposta de transformá‑la em um novo bairro, a partir do fracionamento em mais de 500 lotes e da implantação de vários condomínios. A topografia acidentada é típica da região ao sul da capital, de onde, em determinados pontos, é possível avistar a metrópole. Como a maior parte dos terrenos do Vale dos Cristais, aquele para o qual Trajano desenhou a moradia possui
CASAS BRASILEIRAS - PROJETO DESIGN MAI ‘15
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1
1 O programa se distribui em quatro pavimentos de dimensões distintas, irregularmente sobrepostos 2 A estrutura metálica, criada com perfis disponíveis no mercado, dá a tônica do projeto 3 Piso de cimento e teto revestido com madeira de demolição. Do interior avista‑se parte de Belo Horizonte 4 A piscina em forma de raia, no quarto pavimento, possui estrutura de concreto e está apoiada no vigamento
Como aço, ferro retorna ao solo 41
2
acentuado aclive. No caso, acrescido de geometria incomum, com fachada larga e fundo estreito, uma lateral reta e outra inclinada, resultando na forma aproximada de um triângulo. O projeto amolda-se à conformação “cravando-se embaixo e pousando em platô de topo, ao fundo, no nível acima do lote”, descreve o arquiteto. O programa se distribui em quatro pavimentos de dimensões distintas, que levam em consideração os limites laterais não paralelos do terreno. O toque de ousadia veio com a sobreposição irregular das projeções, resultando numa angulação intencionalmente fora de esquadro na face principal.
3
O autor explica que, como os níveis se trespassam, também ajudam a travar os balanços da estrutura em aço. “Os componentes metálicos permitiram leveza e movimento com generosos vãos e balanços, estando expostos no estado bruto industrial”, ele afirma. A estrutura metálica foi calculada manualmente, tomando como ponto de partida perfis laminados disponíveis no mercado. Trajano informa que estes foram considerados como grandes treliças de piso a piso, o que diminuiu o peso total do aço utilizado na construção, melhorando as condições econômicas e facilitando a execução da obra.
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CASAS BRASILEIRAS - PROJETO DESIGN MAI ‘15
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PLANTA DE COBERTURA
2
1
4º PAVIMENTO 1 Piscina 2 Deque externo
1
2
3 3
3º PAVIMENTO 1 Suíte principal 2 Suíte 3 Dormitório
CORTE AA 2
1
3 4 2º PAVIMENTO 1 Convivência 2 Estar 3 Jantar 4 Cozinha
CORTE BB C
B A
A
1 2
CORTE CC
B
4
3
1º PAVIMENTO 1 Garagem 2 Escritório 3 Dormitório 4 Área de serviço
C 01
10 N
Como aço, ferro retorna ao solo 43
Para inserir a garagem na porção frontal e definir a entrada social da residência, foi necessário cortar o terreno, o que tornou esses espaços semienterrados, mas suavizou a rampa de acesso e permitiu a iluminação e a ventilação naturais próximo do solo preservado. “Ele está separado do interior da casa apenas por vidros”, conta o arquiteto. A transparência já presente nessa cota expande-se nos pisos superiores - no topo, a piscina (na forma de raia) suspensa em concreto armado está apoiada no vigamento metálico. Nesse mesmo nível, ela se comunica por ponte com um deque externo, de onde se avistam as montanhas vizinhas. Internamente, avalia Trajano, a moradia mostra aspecto rústico, em razão do uso de madeira de demolição no forro e no piso, este último complementado por superfícies de pedra. Externamente foram empregados concreto nos pisos e pedras nas paredes. Para o autor, a identidade do projeto se traduz em uma casa mineira na era do aço, onde o aconchego e a amplitude, a leveza e a imponência convivem em harmonia. (Por Adilson Melendez)
1
1 Espaço de banho não está fisicamente delimitado na suíte principal / 2 Área de cocção integra-se à mesa da sala de jantar 2
PAULO TRAJANO
Paulo Trajano, formado em 2000 pela Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais, pertence ao quadro funcional da prefeitura de Uberaba, para a qual desenvolveu vários projetos, entre eles o do Memorial Chico Xavier. Atualmente divide o trabalho entre seu escritório e a Universidade Federal do Triângulo Mineiro, ambos naquela cidade
FICHA TÉCNICA RESIDÊNCIA UNIFAMILIAR LOCAL Nova Lima, MG DATA DO INÍCIO DO PROJETO 2011 DATA DA CONCLUSÃO DA OBRA 2013 ÁREA DO TERRENO 1.005,83 m 2 ÁREA CONSTRUÍDA 804,56 m 2 ARQUITETURA Paulo Trajano ESTRUTURA Vicente Marino ELÉTRICA E HIDROSSANITÁRIO Etec TERRAPLENAGEM Greide FOTOS Gustavo Xavier FORNECEDORES JH Construções (estrutura metálica);
O Grosso da Obra (fundação e estruturas de concreto); Carré (mármores e granitos); Marcenaria Santa Rosa (madeiras de forro e piso); Calcário Triângulo (pedras da fachada e paredes internas); NS Brazil (revestimentos de paredes e pisos cimentícios); Alcoa (esquadrias de alumínio); Isoeste (cobertura com telhas metálicas)
ARQUITETURA - PROJETO DESIGN MAI ‘15
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UM SESC em Jundiaí
► Teuba Arquitetura e Urbanismo ► Centro esportivo e cultural, Jundiaí, SP COLOCAR O VISITANTE EM CONTATO PERMANENTE COM A CIDADE E A NATUREZA, EM CONTRAPARTIDA AO ATENDIMENTO DE PROGRAMA DENSO E COMPLEXO, É O QUE QUALIFICA O PROJETO DO SESC JUNDIAÍ, FEITO PELO ESCRITÓRIO TEUBA ARQUITETURA E URBANISMO, QUE TAMBÉM ESTÁ TRABALHANDO PARA A INSTITUIÇÃO NA CRIAÇÃO DA UNIDADE DE BARIGUI E NA REQUALIFICAÇÃO E ELABORAÇÃO DE UM PLANO DIRETOR PARA O COMPLEXO DE BERTIOGA.
Um Sesc em Jundiaí 45
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1 Ladeado por embasamento com extremidades pontiagudas, o volume circular do ginásio organiza a volumetria 2 Situado no trecho de urbanização mais recente de Jundiaí, o Sesc é vizinho do jardim botânico e do Paço Municipal. À esquerda, a via férrea que é parte da extinta estrada de ferro Santos-Jundiaí 3 O cilindro tem cobertura chanfrada, com inclinação voltada para a serra do Japi e superfície revestida com mosaico de cerâmica esmaltada
2
Quando iniciaram o projeto do Sesc Jundiaí, em 2004, as arquitetas Christina de Castro Mello e Rita Vaz, sócias do escritório paulista Teuba Arquitetura e Urbanismo, tinham como área disponível à intervenção um amplo terreno, livre e em aclive, vizinho ao Paço Municipal da cidade (projeto de Araken Martinho, Jackson Homero Vicentin e Paulo Sérgio Scarazzato). O Sesc margeia o (canalizado) rio Jundiaí num dos pontos em que o curso d’água é interceptado pela linha férrea, atualmente restrita ao transporte de cargas, mas que já acolheu passageiros, na mesma época em que serviu ao escoamento da produção cafeeira do interior de São Paulo para o porto de Santos pela estrada de ferro Santos-Jundiaí. Situada em vale, a unidade do Serviço Social do Comércio pertence ao trecho de urbanização mais recente da cidade, contraposta ao núcleo antigo do outro lado do rio. Ao fundo daquela área está a serra do Japi, um dos raros remanescentes de mata atlântica no interior paulista. Nas primeiras visitas de campo, as arquitetas identificaram na situação montanhosa um possível ponto de reação para o seu projeto. O terreno tem contorno irregular e é acentuadamente mais largo do que profundo, com a frente ampla descortinando vista privilegiada para a zona de preservação ambiental. Assim, imerso em um
3
ARQUITETURA - PROJETO DESIGN MAI ‘15
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C
PAVIMENTO SUPERIOR 1 Vazio 2 Rampa de acesso 3 Exposições 4 Cabine de som e projeção 5 Administração 6 Quadra poliesportiva 7 Oficinas 8 Sala multiúso 9 Comedoria 10 Cozinha 11 Piscina semiolímpica coberta 12 Piscina infantil coberta 13 Solário 14 Piscina infantil descoberta 15 Piscina descoberta 16 Fonte lúdica
B
A
C
MEZANINO 1 Anel técnico 2 Administração 3 Varanda/palco 4 Marquise 5 Cozinha/panificação 6 Cozinha/confeitaria
A
B
TERRAÇO 1 Hall de acesso 2 Copa 3 Terraço coberto 4 Espelho d’água 5 Cobertura do vão central 6 Arquibancada 7 Terraço coberto 8 Placa solar 9 Terraço descoberto PLANTA DE COBERTURA
6 4
6 9
7
8
1
4
2
3
5
TERRAÇO
3 2
4 56
1
MEZANINO
1 O terraço da cobertura é de uso público. Pelas venezianas baixas podem-se vislumbrar as atividades nos interiores 2 Terraços envidraçados possibilitam a vista da cidade e da natureza. O desenho dos caixilhos prima pela máxima transparência, ao mesmo tempo em que propicia ventilação natural cruzada
1
Um Sesc em Jundiaí 47
5 8
16
15
14 13
12
6
3
7
11 10
4
1
9 2 7
PAVIMENTO SUPERIOR
5
16
18 19 20
17
16
15 8
11 12 10
6
4 13 14
9
3 2
1
TÉRREO 1 Acesso principal 2 Convivência 3 Foyer do teatro 4 Teatro 5 Camarins 6 Acesso ao subsolo 7 Acesso ao estacionamento 8 Acesso às piscinas 9 Biblioteca 10 Hall 11 Ginástica 12 Odontologia 13 Espaço Brincar 14 Tecnologia e Artes 15 Rampa de acesso às piscinas 16 Sala multiúso 17 Sala de atividades 18 Quadra poliesportiva 19 Minicampo de futebol 20 Arquibancada SUBSOLO 1 Acesso ao estacionamento 2 Porão do palco 3 Reservatório dos sprinklers 4 Poço inglês 5 Central de água gelada 6 Galeria (acesso à casa de máquinas das piscinas)
TÉRREO
4
5
3
4
1 2
6
N 8 SUBSOLO
2
0 10
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1 Um teto com perfil em V faz a ligação entre as curvaturas do cilindro central e da fachada. Revestido com lâminas de ACM, ele reflete a luz incidente pelas venezianas superiores 1
2 O volume circular é envolvido por terraços. Sob o ginásio, estão dispostas salas de leitura e de atividades 3 Instalações aparentes e o misto de concreto e metálica estão presentes na arquitetura. Na foto, a comedoria, no pavimento superior 4 O mobiliário é de autoria de Paulo Alves. Em detalhe, a biblioteca
Um Sesc em Jundiaí 49
2
descampado, a referência mais palpável para Christina e Rita naquele momento era que o complexo de lazer, serviço e esporte seria visto por cima e a partir de diversos pontos da cidade. Organizaram a proposta, então, a partir de um núcleo visualmente enfatizado pela arquitetura, que é o cilindro onde está localizada a quadra poliesportiva e para apresentações artísticas. Este tem o topo chanfrado, com inclinação voltada para a serra, e foi revestido, tanto interna quanto externamente, com cerâmica esmaltada na cor azul, assentada em forma de cacos.
3
O cilindro está envolto por embasamento de três pavimentos, com extremidades angulares - à esquerda está o complexo de piscinas e à direita, o teatro - e contorno levemente curvo no ponto de inflexão do lote, onde se situa o acesso público ao complexo. O resultado é o máximo de aproveitamento da área edificável: ao denso programa corresponde uma profusão de salas para atividades corporais, educativas, recreativas, de atendimento odontológico e exames médicos, entremeadas aos núcleos principais. As áreas abertas do térreo estão praticamente restritas à zona das quadras e arquibancada. E é nesse aspecto
4
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1
2
COBERTURA DO GINÁSIO (dets. das calhas) 1 Painel composto por chapas cimentícias revestidas com mosaico de cerâmica esmaltada, montada em quadro de cantoneira inox pintada de azul-oceano 2 Telha em aço galvalume ou galvanizado, pré-pintado na face superior na cor azul naval 3 Rufo de chapa de aço inox com pintura poliuretânica bicomponente azul 4 Projetores para a iluminação da cobertura de mosaicos 5 Calha metálica com pintura na cor azul 6 Captadores sistema Epams 7 Perfil-cantoneira calandrado de arremate 8 Fita de vedação autoadesiva 9 Isolamento em lã de rocha 10 Barreira em manta geotêxtil 11 Bandeja perfurada em aço galvalume ou galvanizado, pré-pintado na face inferior na cor branca COBERTURA DO VÃO CENTRAL (dets. de arremate e tesoura) 1 Arremate da cobertura, perfil U calandrado 2 Veneziana de vidro 3 Chapa perfurada 4 Rufo, chapa 24 galvanizada 5 Cobertura, manta Alwitra 6 Isolante térmico, isopor e=25 mm 7 Chapa de aço, e=6,35 mm 8 Tesoura 1 a 9 9 Pingadeira (tubo fixado na chapa de aço, ancoragem da manta Alwitra) 10 Paredes 1 e 2, de concreto aparente impermeabilizado no espelho d’água 11 Terças, tubo de 114 mm 12 Corrimão, tubo de 114 mm calandrado 13 Espelho d’água 14 Isolante térmico, manta de lã de vidro 15 Lâminas de chapa de ACM branco 100 x 4 mm, coladas com fita adesiva 3M nas tiras de apoio de aço 16 Apoio do forro
3
1 O acesso principal é recuado em relação à rua 2 A piscina semiolímpica integra o complexo aquático. Também aqui a transparência máxima dos caixilhos propicia a comunicação visual do interior com o exterior 3 A série de piscinas ocupa a extremidade esquerda da edificação, vizinha ao jardim botânico
Um Sesc em Jundiaí 51
ELEVAÇÃO PRINCIPAL
4 5 67
1
2 3
4
8
5 6 7
9
11 10
CORTE AA
13 12 10
11
5 14 15 8
CORTE BB 5
11
12
14 16
CORTE CC
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COBERTURA DO VÃO CENTRAL 3
3
1 2
4
7 8
5
9 10
10 9 1 2
11
6 11
COBERTURA DO GINÁSIO
8
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VE JA MAIS CONTEÚDO E M ARCOWE B .COM . B R E NO APP RE VIS TA PROJE TO
1 O ginásio, no pavimento superior, é acessado também pelo terraço da cobertura. Passarelas técnicas penduradas no teto organizam e dão acesso às instalações de ar-condicionado, iluminação e elétrica, que possibilitam múltiplas configurações e usos do ambiente / 2 O teatro está posicionado na extremidade direita do complexo
Um Sesc em Jundiaí 53
que o projeto revela sua pertinência. Em todos os setores internos o visitante se encontra em contato visual com o exterior, como se o caminhar entre uma e outra sala ou pontos de encontro ocorresse em meio a uma praça (semi) aberta, algo presente também no vizinho edifício do Paço Municipal. Para tanto, colabora uma série de soluções arquitetônicas, a começar pela disposição das rampas e terraços internos ao longo de toda a fachada principal, no primeiro pavimento, e circundando, neste e no terraço, o cilindro do ginásio. Contribui também o projeto dos caixilhos, que teve a consultoria da SSG. Privilegiou‑se a máxima transparência, com a consequente eliminação de componentes metálicos
associada à inserção de chapas perfuradas que propiciam ventilação cruzada e permanente. Junto das varandas o visitante avista o tempo todo a cidade, bem como, através de venezianas de vidro, os diversos setores da edificação, o que facilita sua orientação nos interiores. Mas o ponto alto da aparente incorporação ao Sesc da área envoltória ‑ qualificada, ao longo dos mais de dez anos de construção do complexo, pela implantação de um jardim botânico ‑ é o terraço aberto e de uso público em quase toda a extensão da cobertura. Nele há uma sucessão de espaços para o lazer, desde as piscinas descobertas e o solário até simples varandas, por onde se acessa o nível superior das arquibancadas do ginásio. (E. G.)
TEUBA ARQUITETURA E URBANISMO
ESTACIONAMENTO Michel Sola Consultoria e
Engenharia
ESTRUTURA DE CONCRETO E METÁLICA Kurkdjian e
Fruchtengarten
FUNDAÇÃO Consultrix IMPERMEABILIZAÇÃO Proassp LÓGICA Marciano Engenharia Elétrica LUMINOTÉCNICA Mingrone ODONTOLOGIA Terra Arquitetura PAISAGISMO Rodolfo Geiser Paisagismo e
Christina de Castro Mello e Rita de Cássia Alves Vaz formaram‑se pela FAU/USP em 1972. O escritório Teuba Arquitetura e Urbanismo, no qual são sócias, foi constituído em 1978
FICHA TÉCNICA SESC JUNDIAÍ LOCAL Jundiaí, SP DATA DO INÍCIO DO PROJETO 2004 DATA DA CONCLUSÃO DA OBRA 2015 ÁREA DO TERRENO 15.030 m 2 ÁREA CONSTRUÍDA 30.000 m 2 ARQUITETURA E INTERIORES (AMBIENTAÇÃO E DESENHO DO MOBILIÁRIO FIXO) Teuba Arquitetura e Urbanismo -
Christina de Castro Mello e Rita Vaz (autoras)
PROJETO EXECUTIVO (ETAPA 2004-2008) ACESSIBILIDADE Boldarini Arquitetura e Urbanismo ACÚSTICA E CONFORTO TÉRMICO Daltrini Granado
Arquitetura e Conforto Ambiental AR CONDICIONADO Thermoplan ÁUDIO E VÍDEO AVM CENOTÉCNICA Espaço Cenográf ico COZINHA Precx ELÉTRICA E HIDRÁULICA PHE ELEVADORES Empro ESQUADRIAS SSG
Meio Ambiente
IRRIGAÇÃO Acquagarden SUPERVISÃO PREDIAL SI 2 MAQUETE ELETRÔNICA K-Design MAQUETE FÍSICA Triviño PROJETO EXECUTIVO (2012) ACÚSTICA Modal CENOTÉCNICA J. C. Serroni Criações Visuais COMUNICAÇÃO VISUAL Homem de Melo & Troia Design COZINHA Nucleora PAISAGISMO (ÁREAS EXTERNAS) Rodolfo Geiser
Paisagismo e Meio Ambiente
PAISAGISMO (ÁREAS DO EDIFÍCIO) Buriti - Bruno
Carettoni
INSTALAÇÃO LÚDICA DO ESPAÇO BRINCAR Teuba
Arquitetura e Urbanismo - Christina de Castro Mello e Davi Deusdara CONSTRUÇÃO Paulitec COORDENAÇÃO E GERENCIAMENTO Sesc SP FOTOS Joana França FORNECEDORES Jund Aquece, Phoenix, Aquecedor Solar Transsen (aquecedores); A&T Brasil (arquibancadas); Refritec (câmaras frias); Telem (cenotécnica); Alwitra Brasil (cobertura plana); Bemo do Brasil (cobertura metálica); Topema (equipamentos de cozinha); Glafcon, Turim (esquadrias metálicas); Metaltec (esquadrias de alumínio); Sistemac (geradores); Ishida (irrigação); Itaqua Marmo 10 (pedras); Ciro Peixoto Camargo (paisagismo); Coxport (quadras); Lisonda (pisos esportivos); Four Pisos (piso marmoleum); Recoma (pisos de madeira); Forbo (pisos vinílicos); Prominent Brasil (piscinas); Apelucio (quartzito); Técnica Campoy (sistemas de lógica); Expernet Telemática (supervisão predial)
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AÇÃO sob arcos e triângulos
2
Ação sob arcos e triângulos 55
PRECISO NO DIMENSIONAMENTO ESTRUTURAL, O PROJETO DO GINÁSIO DAS QUADRAS COBERTAS DO CLUBE ALTO DOS PINHEIROS FEZ DA RACIONALIZAÇÃO CONSTRUTIVA A SOLUÇÃO PARA A VIABILIDADE ECONÔMICA DO EQUIPAMENTO. ISSO IMPLICA A PERTINÊNCIA ARQUITETÔNICA, EM QUE CADA ELEMENTO CUMPRE UMA FUNÇÃO ESPECÍFICA, E A ASSOCIAÇÃO DE ARCOS COM TRIÂNGULOS PARA CONFERIR ESTABILIDADE DIMENSIONAL AO CONJUNTO. 1
► Gálvez & Márton Arquitetura ► Ginásio esportivo, São Paulo
Em 2010, o escritório Gálvez & Márton Arquitetura foi chamado para desenhar o ginásio das quadras poliesportivas cobertas do Clube Alto dos Pinheiros, em São Paulo. Interviriam em projeto de 1970, de autoria de Fábio Penteado e Teru Temaki, que demandava restauração e complementação a fim de melhorar a integração e ampliar o uso das áreas sociais, culturais e esportivas do clube. A ideia inicial dos arquitetos Márton Gyuricza, Andrés Gálvez e Gabriel Reis, sócios do escritório, foi retomar o plano de expansão esboçado pelos autores da proposta original do CAP, ou seja, prolongar a cobertura do edifício‑sede de forma a abarcar também o ginásio. E assim seguiram na concepção do seu trabalho. Mas questões orçamentárias e legais barraram os planos. A ligação entre as edificações se inviabilizou tanto pelo custo da nova estrutura, que apontava para gasto excedente
3
1 Arcos e triângulos constituem a geometria da cobertura metálica / 2 Pilares triangulares, com abertura em V, recebem a água pluvial proveniente da cobertura e a encaminham para cisternas de reúso 3 Os acessos ocorrem nos vértices do ginásio, e os fechamentos laterais alternam vidro (na base) e lonas microperfuradas que permitem a passagem do ar
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1 A cobertura vence vão de mais de 30 metros 2 Os componentes triangulares unem as duplas de arcos entre si e estas com os arcos de cumeeira
PLANTA BAIXA 1 Acesso
1
1
1
1
IMPLANTAÇÃO 1 Acesso / 2 Sede / 3 Piscinas 4 Futebol / 5 Vôlei / 6 Tênis 7 Quadras cobertas PILAR PLANTA 1 Detalhe 1 / 2 Bloco executado no local / 3 Chapa de aço inox 4 Alvenaria PERSPECTIVA 1 1 Revestimento de chapa de aço inox 3 mm, faceando o concreto / 2 Alvenaria ELEVAÇÃO 1 1 Detalhe 2
PLANTA BAIXA
PLANTA DE COBERTURA
ELEVAÇÃO 2 1 Chapa de aço inox 2 Rebaixo para encaixe da grelha 3 Topo do bloco, na cota +1,00 4 Fechamento de alvenaria 2
ELEVAÇÃO 4 1 Caixa de instalações embutida no pilar de concreto 4 DETALHE 1 1 Insert metálico 2 Chapa metálica pintada 3 Chapa de aço inox 3 mm DETALHE 2 1 Inox / 2 Concreto aparente
6
7 3 1
2
5
0
IMPLANTAÇÃO
N
10
50
Ação sob arcos e triângulos 57
1
2
PILAR
1 2 3
1 2
4 PERSPECTIVA DO GINÁSIO
PLANTA
PERSPECTIVA 1
1 1 2
4 PERSPECTIVA DO CLUBE
ELEVAÇÃO 1
3
ELEVAÇÃO 2
1
1
CORTE TRANSVERSAL
ELEVAÇÃO 3
1 2
ELEVAÇÃO 4
1 2
3 CORTE LONGITUDINAL
DETALHE 1
DETALHE 2
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1 Detalhe da ligação da cobertura com o pilar de concreto 2 Acesso ao ginásio, posicionado em cota rebaixada 3 Grandes aberturas e membranas microperfuradas propiciam ventilação
1
3
2
Ação sob arcos e triângulos 59
ao orçamento previsto, quanto pela perda de faixa de terra do clube - uma cessão de área municipal - para o alargamento da marginal Pinheiros. A saída, segundo Gyuricza, foi recorrer a solução diversa, independente da linguagem arquitetônica do CAP. Já nos primeiros traços e prévias de orçamentos vislumbrou-se que a máxima redução do volume de aço seria o requisito fundamental para a viabilização da empreitada; uma ação matemática, de estreita relação da arquitetura com os princípios da engenharia. A proposta dos arquitetos foi, então, trabalhar com a combinação de arcos e triângulos em seus mínimos raios em cada trecho de aplicação, os primeiros conformando o desenho da cobertura - vedada por membrana branca tensionada - e os últimos sendo responsáveis pelo intertravamento da estrutura metálica. Dispostos no sentido transversal da quadra, os arcos estão ligados em pares, na forma de folha, encabeçados por arcos de cumeeira de onde parte o caimento da membrana branca, que filtra a luz diurna incidente, dispensando temporariamente o uso de iluminação artificial. Cada extremidade do conjunto é apoiada em pilares triangulares, que se sucedem nas fachadas frontal e posterior do ginásio, caracterizados por desenho inspirado nos
apoios do projeto de Penteado e Temaki. O gabarito é de dez metros, embora a quadra poliesportiva, rebaixada em dois metros, tenha pé-direito maior. A água pluvial escoa pela cobertura tensionada e desemboca em grelhas de captação posicionadas nos pilares triangulares, de onde são encaminhadas para cisternas de armazenamento e reúso. Há certa simplicidade de sistemas que otimiza a manutenção do equipamento e reduz a quantidade de componentes. Tal princípio se reflete na arquitetura, que tem elevada permeabilidade entre ambientes internos e externos. Embora o embasamento - na altura dos pilares de concreto - seja vedado com vidro transparente, há grandes aberturas nas fachadas que permitem a troca de ar com o exterior, entremeadas a membranas microperfuradas que propiciam também a ventilação cruzada. Cada elemento arquitetônico, assim, sinaliza visualmente a função desempenhada. (E. G.)
GÁLVEZ & MÁRTON ARQUITETURA
FICHA TÉCNICA
A Gálvez & Márton Arquitetura atua desde 2006 em projetos de diversas naturezas e locais do território brasileiro. São sócios do escritório os arquitetos Márton Gyuricza (FAU/ Mackenzie, 1997), Andrés Gálvez (Pontifícia Universidade Católica de Chile, 1986) e Gabriel Reis (Escola da Cidade, 2007)
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GINÁSIO PARA QUADRAS COBERTAS DO CLUBE ALTO DOS PINHEIROS LOCAL São Paulo, SP DATA DO INÍCIO DO PROJETO 2011 DATA DA CONCLUSÃO DA OBRA 2013 ÁREA DO TERRENO 21.877 m 2 ÁREA CONSTRUÍDA 1.280 m 2 ARQUITETURA Gálvez & Márton Arquitetura - Márton
Gyuricza, Andrés Gálvez e Gabriel Reis (autores); Renata Rabello e Gabriel Bocchile (equipe) CÁLCULO ESTRUTURAL AdLux - Alexandre Munaretto ELÉTRICA E HIDRÁULICA Integração - Márcio Yoshida CONSTRUÇÃO Sobrosa Mello Construtora - Wilson Lisboa de Mello FOTOS Cristóbal Palma FORNECEDORES Construmet (fabricação e montagem da estrutura metálica); Recoma (piso de madeira); Tensobras (estrutura metálica e tensoestrutura); Serge Ferrari (membrana tensionada)
ARQUITETURA - PROJETO DESIGN MAI ‘15
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1
Reabilitação para as pessoas e a paisagem O ELEGANTE PAVILHÃO METÁLICO DO SERVIÇO DE REABILITAÇÃO PARA DEFICIÊNCIA VISUAL DA REDE LUCY MONTORO, NO JARDIM HUMAITÁ, ZONA OESTE DE SÃO PAULO, AMENIZA O ÁSPERO ENTORNO DA RUA GALILEO EMENDABILI. PLASTICAMENTE, ELE É O ELEMENTO MAIS CATIVANTE DO CENTRO DE TECNOLOGIA E INCLUSÃO, PROJETADO PELOS ARQUITETOS ANDRÉ TAKIYA E FÁBIO MARIZ GONÇALVES PARA ATENDER AOS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS, OFERECENDO ESPAÇOS COM ALTERNATIVAS DE REABILITAÇÃO. ► André Takiya e Fábio Mariz Gonçalves ► Edifício de apoio à saúde, São Paulo 1 e 2 Ligeiramente elevado em relação à cota da rua, o edifício qualifica a paisagem do Jardim Humaitá. Ele será ocupado por uma unidade da Rede Lucy Montoro e atenderá portadores de deficiência visual
Reabilitação para as pessoas e a paisagem 61
2
No dia 13 de dezembro do ano passado, Dia Nacional do Cego, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, esteve no Jardim Humaitá, bairro da zona oeste de São Paulo, para inaugurar a primeira unidade da Rede Lucy Montoro específica para a reabilitação de portadores de deficiência visual. E, referindo-se ao cenário anterior da construção onde ocorria a solenidade, lembrou que ali havia apenas um terreno abandonado e uma casinha ao fundo, que servia como ponto de consumo de drogas. O prédio no qual o governador esteve fica na acanhada e estreita rua Galileo Emendabili, cujo acesso não é dos mais fáceis e exige certa destreza dos motoristas e precaução dos pedestres. O detalhe chama a atenção pelo fato de que, desde o início, a edificação (desenhada por encomenda da Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência) destinava-se a receber atividades para a reabilitação de portadores de necessidades especiais. Se há um atenuante à inóspita localização, é a pouca disponibilidade, na capital, de terrenos públicos propícios a receber conjuntos dessa natureza.
Como fizera em outras ocasiões, o governo estadual incumbiu a Fundação para a Pesquisa em Arquitetura e Ambiente (Fupam), que é vinculada à FAU/USP, do desenvolvimento do projeto da edificação, chamada num primeiro momento de Centro de Tecnologia e Inclusão. A Fupam repassou o encargo para os arquitetos André Takiya, que naquele momento desenvolvia atividades na faculdade, e Fábio Mariz Gonçalves, professor da escola. O programa incluía espaços para a realização de ateliês e oficinas, biblioteca, auditório e quadra poliesportiva. De acordo com Takiya, no terreno (próximo das marginais Tietê e Pinheiros, na região onde esses rios se encontram) existiam as instalações semiabandonadas de um equipamento esportivo municipal, que deram lugar ao futuro (até o início de abril ainda não prestava atendimentos) Serviço de Reabilitação para Deficiência Visual da Rede Lucy Montoro. Mantida pelo Estado, a rede proporciona tratamento de recuperação e capacitação para pacientes com problemas físicos incapacitantes motores e psicomotores.
ARQUITETURA - PROJETO DESIGN MAI ‘15
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1 A circulação horizontal sempre se faz no perímetro do pavilhão 2 A quadra poliesportiva emprega estrutura metálica, com fechamento lateral do tipo veneziana / 3 Conjunto de pórticos metálicos paralelos faz parte da estrutura da edificação, implantada numa região de várzea
2 1 3 1 6
5
4
3º PAVIMENTO 1 Depósito
2º PAVIMENTO 1 Administração / 2 Diretoria / 3 Copa 4 Reuniões / 5 Apoio limpeza / 6 Segurança
1
0
5
3
2
4
5
10
6
7
8
9
0
5
10
1º PAVIMENTO 1 Brinquedoteca / 2 Biblioteca / 3 Informática / 4 Costura / 5 Bijuteria / 6 Pintura / 7 Cerâmica / 8 Tecnologia / 9 Atendimento
PLANTA DE PAISAGISMO
A
B 3
1
2
6 4
2
5
A
7 8
B TÉRREO 1 Auditório / 2 Varanda / 3 Cantina / 4 Pilotis / 5 Exposição/recepção 6 Átrio / 7 Fonte / 8 Quadra poliesportiva
CORTE AA
0 N
5
20
Reabilitação para as pessoas e a paisagem 63
1
PLANTA DE LOCALIZAÇÃO
2
PERSPECTIVA
ELEVAÇÃO 3
CORTE BB
ARQUITETURA - PROJETO DESIGN MAI ‘15
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1 A rampa lateral é uma das opções de acesso ao pavimento superior / 2 Vista da circulação horizontal do pavilhão na direção da quadra poliesportiva
1
2
O lote é praticamente plano. Porém, por estar próximo dos cursos dos rios, apresenta características de várzea, como o lençol freático próximo da superfície. A dupla de autores equacionou o programa em três blocos distintos. Uma das extremidades do terreno foi ocupada com um cubo de alvenaria, na outra inseriram a quadra poliesportiva coberta, composta por elementos metálicos, e, intermediando a relação entre ambos, um leve e atraente pavilhão de dois pavimentos, também projetado com estruturas metálicas e lajes do tipo steel deck. Do ponto de vista plástico, esse é o elemento que mais se destaca.
Reabilitação para as pessoas e a paisagem 65
Estruturalmente, o pavilhão de quase 70 metros de comprimento é constituído por um conjunto de cinco pórticos metálicos paralelos, unidos no sentido longitudinal por vigas principais. Takiya explica que, para ancorar o edifício no terreno, foram necessárias fundações (estacas) robustas, com a caixa do elevador sendo também elemento de travamento da estrutura. No programa original, o térreo, mais fluido, é parcialmente em pilotis e estava destinado a recepção/exposições. No pavimento superior, ao qual se chega por escada ou pela rampa lateral, estão “penduradas” as salas para as atividades de reabilitação. Nesse pavilhão é possível notar influências da plasticidade da estação Largo 13, em São Paulo, projetada por João Walter Toscano (leia PROJETOdesign 76,
ANDRÉ TAKIYA E FÁBIO MARIZ GONÇALVES
junho de 1985), da circulação horizontal externa característica dos edifícios da primeira fase dos Centros Educacionais Unificados, em São Paulo, que Takiya assina com Alexandre Delijaicov e Wanderley Ariza (PROJETOdesign 284, outubro de 2003) e nuances da espacialidade da FAU/USP, de Vilanova Artigas, também na capital paulista. (A. M.)
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ÁREA DO TERRENO 4.157,96 m 2 ÁREA CONSTRUÍDA 2.255,85 m 2 CLIENTE Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa
com Def iciência
PROJETO Fundação para a Pesquisa em Arquitetura e
Ambiente (Fupam)
ARQUITETURA André Takiya e Fábio Mariz Gonçalves
André Takiya formou-se em 1979 pela FAU/USP, onde concluiu mestrado em 2009 com a dissertação “Edif, 60 anos de arquitetura pública”. Trabalha na prefeitura de São Paulo desde 1987, estando atualmente lotado na Secretaria Municipal de Cultura. Fábio Mariz Gonçalves (FAU/USP, 1986) é desde 1989 professor da mesma escola, na qual também concluiu seu doutorado. De 1989 a 2003 foi sócio do escritório Projeto Paulista Arquitetura. Atualmente é diretor do Departamento de Urbanismo da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano de São Paulo
FICHA TÉCNICA SERVIÇO DE REABILITAÇÃO PARA DEFICIÊNCIA VISUAL DA REDE LUCY MONTORO LOCAL São Paulo, SP DATA DO INÍCIO DO PROJETO 2012 DATA DA CONCLUSÃO DA OBRA 2014
(autores); Viviane Silva (desenvolvimento); Jihana Nassif e João Silva (estagiários) ESTRUTURAS Cândido Hernández Hernando Filho, Fábio Masini Rodrigues e Elizangela Rodrigues (concreto); Alberto Hamazaki (metálica) PAISAGISMO Fábio Mariz Gonçalves ELÉTRICA Antônio Cláudio Muylaert HIDRÁULICA Mônica Muylaert LUMINOTÉCNICA Antônio Carlos Mingrone ACÚSTICA José Fernando Cremonesi ORÇAMENTO Mauro Zaidan CONFORTO Márcia Peinado Alucci, Leonardo Marques Monteiro e Mônica Marcondes Cavaleri (pesquisadora) CONSTRUÇÃO Lemam FOTOS Gal Oppido FORNECEDORES Votorantim (aço); Vidraçaria Barueri (vidros); Única (laminados); Tintas MC, Old, Navaltec, 4 Ases (tintas); Artel, Hipeferaço, Ellofer (telas); S&S, Dracena (paisagismo); Potencial, Regemad (portas); Petrofontes (fonte); Perf ilam, New Aço (perf is); Pedras Iraci (pias de granito); Metalcorte (chapas); MBP (lajes steel deck); Manetoni (perf is laminados); KMC (gesso); Jatobá (pastilhas); Gradeforte (painel Orsometal); Gail (grelhas); Engemix, Conf iança (concreto); Ergo (elevador); Direct (piso tátil); Eginox (calhas e rufos); Jundiaí (aquecedores); 3Kflex (cobertura); Ames (iluminação); Mantovent (veneziana Comovent); Pointer (iluminação); Megazordy (venezianas industriais)
INTERNACIONAL - PROJETO DESIGN MAI ‘15
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Torre delgada e
ESCALONADA ASSIMÉTRICA E ESBELTA, A TORRE ONE57, PROJETADA PELO PREMIADO ARQUITETO FRANCÊS CHRISTIAN DE PORTZAMPARC, É O NOVO DESTAQUE NO SKYLINE DE MANHATTAN. UM DOS MAIS ALTOS DA CIDADE, O EDIFÍCIO COM 75 PAVIMENTOS, DE USO MISTO (HOTEL E RESIDÊNCIA), APRESENTA FACHADAS ENVIDRAÇADAS QUE SE AFINAM E SE MODIFICAM EM PATAMARES NA DIREÇÃO DA ALTURA. SEU COROAMENTO EM CURVA VOLTADO PARA O CENTRAL PARK, COMO A REVERENCIAR O FAMOSO ESPAÇO VERDE, TEM AINDA A FUNÇÃO DE REDUZIR A FORÇA DA AÇÃO DO VENTO.
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► Atelier Christian de Portzamparc ► Edifício residencial/hotel, Nova York
Inaugurado em novembro de 2014, o One57 teve seus primeiros desenhos desenvolvidos em 2005, quando o executivo Gary Barnet, da empreendedora Extell, solicitou a Christian de Portzamparc o estudo para a implantação de dois edifícios para hotel e residências na rua 57, área nobre de Manhattan. Na mesma via, Portzamparc já havia inaugurado em 1999 a torre LVMH (leia PROJETOdesign 241, março de 2000). A área do terreno para o novo projeto ainda não estava acertada, mas desde os primeiros esboços o arquiteto já definira o coroamento em curva e voltado para o Central Park. No período que se seguiu, várias hipóteses de aquisição de parcelas foram oferecidas à empreendedora, e Portzamparc ia adaptando seus desenhos aos possíveis cenários. Após quatro anos de estudos e dezenas de maquetes e programas de volumes de grande altura - em 2007 estavam considerados 400 metros -, os terrenos em negociação não puderam ser adquiridos. Em 2008, um lote de 74 mil metros quadrados, em forma de L, foi finalmente destinado à construção de uma única torre de 75 pavimentos (306 metros de altura, 210 quartos de hotel e 130 unidades residenciais). Portzamparc desenvolveu, então, o projeto definitivo para um terreno bem menor do que o imaginado inicialmente. Os 60 primeiros pisos seriam ocupados por um grande hotel e os 15 últimos, por apartamentos de alto luxo, com vista para o Central Park. Em 2008 estourou a crise financeira nos Estados Unidos, mas isso não impediu a aprovação do projeto em 2009 e o início das obras.
O edifício está localizado ao sul do Central Park
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FACHADAS
Portzamparc procurou tirar partido não só da peculiaridade do formato em ângulo do terreno, mas também das exigências regulamentares e direitos aéreos apresentados pela administração de Nova York. Esses imperativos levaram a uma torre delgada e escalonada, com demandas estruturais específicas. As modificações em altura - o prédio afina à medida que sobe -, com fachadas distintas, produzem múltiplas percepções da edificação a partir dos pontos cardeais. O trabalho sobre a forma da fachada principal, ao sul, na rua 57, conduziu à ideia de uma queda d’água, com vidros curvos ligando todos os corpos do volume e abrigando terraços. Em cada um deles foram inseridos os jardins dos apartamentos, envolvidos por teto curvo, de vidro. A verticalidade da fachada é marcada por trama de faixas verticais contrastantes e alternadas, em dois tons de vidro diferentes externamente, mas iguais no interior. Essas faixas encobrem as junções horizontais da parede-cortina. Os vidros duplos da torre propiciam eficaz isolação térmica. Foram utilizados essencialmente vidros brancos low iron e, como vidro de base, o float, que recebeu pintura verde (a cor se intensifica conforme aumenta a espessura). Segundo Portzamparc, o uso de cores em vidraças é sempre um risco, e o empreendedor queria evitar qualquer interferência negativa para a visão a partir do interior. Vários testes foram realizados para verificar os reflexos de acordo com os tipos de luz incidentes e também o efeito das cores. “Trabalhamos sobre maquete nas usinas de fabricantes de janelas, em locais afastados de Nova York. O resultado foi excelente”, conta Portzamparc. O largo embasamento na face sul abriga o acesso ao hotel e a entrada privativa dos apartamentos. No nível da rua, há elementos de interface, comércios e as duas marquises que assinalam os acessos.
1 Vista a partir do rio Hudson: o edifício supera as construções vizinhas, em altura / 2 Composição pixelizada de vidros caracteriza as fachadas laterais (leste e oeste) 3 A curvatura do coroamento aponta para o Central Park
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CORTES
ELEVAÇÕES
IMPLANTAÇÃO
DETALHE DA MARQUISE DA ENTRADA
Estas, constituídas por corian e aço inox, dão continuidade aos movimentos ondulatórios da fachada. Ao norte estão os acessos logísticos e secundários. É a face acentuadamente vertical, delgada e recuada em relação ao alinhamento da rua 58, com a qual se relaciona através de um volume baixo, na altura dos edifícios vizinhos. Por ser muito estreita, essa fachada não necessitou da alternância de vidros para salientar sua verticalidade. Localizada na extremidade do L do terreno e facilmente visualizada do Central Park, ela acolhe no alto, antes dos andares técnicos, a iluminação da torre. As faces leste e oeste retomam o tema aleatório de projetos anteriores de Portzamparc, com pixelizações que evocam trabalhos do artista plástico Gustav Klimt. Com as variações de luminosidade, os reflexos passam progressivamente do claro para o sombrio em faixas horizontais, procedimento que permite acentuar a verticalidade e destacar os diferentes planos. Serigrafias foram usadas para reduzir a reflexão dos vidros e limitar a autorreflexão do edifício, principalmente no
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ângulo reentrante da outra extremidade do L, onde fica a face leste. Esta é também muito delgada e se destaca dos edifícios vizinhos. Sua fachada recua para o alto em patamares, realçando um contorno de jogos de diferentes alinhamentos, inclinações e subidas. Já a fachada oeste divide‑se verticalmente em duas, com uma diferença de planos bem discreta, de cerca de 30 centímetros. Essa linha vertical acompanha, na sua parte alta, o ângulo do coroamento da face norte, cuja curvatura atenua a força da ação do vento. EXECUÇÃO
A estrutura da torre é clássica, e sua esbeltez exigiu um núcleo de concreto muito eficaz para os contraventamentos. Combinada a esse núcleo de concreto, a estrutura recebeu vigas nas periferias
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para a sustentação das cargas das lajes. Como não havia espaço para instalar um canteiro próximo da obra, a racionalização da construção foi fundamental. “Era tudo preparado minuciosamente para a montagem imediata no local. A única exceção foi a colocação das peças de concreto, que exigiu o uso de fôrmas de montagem simples e rápida”, relata. Com relação aos blocos de esquadrias e vidro das fachadas, ele acrescenta que os caminhões chegavam no sábado pela manhã cedo e tinham um prazo mínimo para descarregar. Os painéis eram montados e arrumados diretamente em seus lugares, e durante a semana iam sendo fixados definitivamente. Nos interiores, o Atelier Christian de Porzamparc definiu os planos principais, os pavimentos de lobby e, no alto do hotel, os salões e uma piscina. (Por Éride Moura)
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ATELIER CHRISTIAN DE PORTZAMPARC
Autor de edifícios simbólicos que se tornam referências urbanas em grandes cidades dos vários continentes, Christian de Portzamparc nasceu em Casablanca, no Marrocos, em 1944, e se diplomou arquiteto e urbanista pela Escola de Belas Artes de Paris, em 1969. Criou o Atelier Christian de Portzamparc em 1980, em Paris, onde está baseado, atuando em projetos com grande variedade de programas e escalas, em cidades de todo o mundo, onde trabalha com paternaires juntamente com a sua equipe - atualmente composta por mais de cem profissionais. Em 1994, aos 50 anos, Portzamparc foi o primeiro arquiteto francês a receber o Prêmio Pritzker. Na França, vem acumulando as mais altas distinções, como o Grande Prêmio Nacional de Arquitetura, em 1993, e o Grande Prêmio de Urbanismo em 2004. Nos EUA, é membro de honra do Instituto Americano de Arquitetos. Em 2006, foi escolhido o primeiro titular da 53ª cadeira dedicada à criação artística, no Colégio de França. Embora atuando separadamente, os arquitetos Christian e Elizabeth de Portzamparc trabalham desde 2013 no mesmo edifício, cada um com suas próprias equipes
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1 A fachada norte é composta por faces planas 2 Volumes escalonados atendem às restrições construtivas de Nova York 3 Vidros ondulantes no embasamento e marquise de corian constituem a entrada do edifício
FICHA TÉCNICA TORRE ONE57 LOCAL Nova York, EUA CLIENTE Extell Development Company DATA DO INÍCIO DO PROJETO 2005 DATA DA CONCLUSÃO DA OBRA 2014 ÁREA DO TERRENO 74.041 m 2 ÁREA CONSTRUÍDA 797.000 m 2 ARQUITETURA Atelier Christian de Portzamparc
- Christian de Portzamparc (autor)
INTERIORES DOS APARTAMENTOS Thomas
Juul-Hansen
INTERIORES DO HOTEL Yabu Pushelberg ESTRUTURA WSP Cantor Seinuk CONSULTORIA DE FACHADA Israel Berger Associates ESCRITÓRIO DE ESTUDOS FLUIDOS AKF CONSULTORIA DE ZONEAMENTO Development
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Consulting Ser vices
ILUMINAÇÃO Tillotson Design Associates FOTOS Wade Zimmerman
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Memória reunida em
METAMORFOSE
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PARTE DA MEMÓRIA DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE PORTO ALEGRE, SECULAR INSTITUIÇÃO DE SAÚDE DO RIO GRANDE DO SUL, ESTÁ DEPOSITADA NUM CONJUNTO DE ANTIGAS RESIDÊNCIAS DE NOME BUCÓLICO - AS CASINHAS DA INDEPENDÊNCIA -, NA REGIÃO CENTRAL DA CIDADE. UMA DAS GUARDIÃS DESSE PRECIOSO PASSADO É A EQUIPE DO ESCRITÓRIO TANGRAM, RESPONSÁVEL PELA VERDADEIRA METAMORFOSE QUE FOI O PROJETO DE CONVERSÃO DAS CASAS NO CENTRO HISTÓRICO-CULTURAL SANTA CASA, QUE ABRIU SUAS PORTAS NO ANO PASSADO. ► Tangram Arquitetura e Design ► Centro cultural, Porto Alegre
Quem passava todos os dias pelo trecho inicial da avenida Independência, na região central da capital gaúcha, talvez nem notasse mais os tapumes que por mais de uma década envolveram o conjunto de moradias que integram o patrimônio imobiliário da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. No primeiro semestre do ano passado, a proteção foi removida e os transeuntes puderam observar, recuperadas, as faces externas das antigas moradias que originalmente eram alugadas para manter os programas assistenciais da instituição. Geminadas, as oito moradias são sobreviventes do conjunto edificado em 1906 - as casinhas da Independência, como são afetuosamente tratadas que, somado às instalações do Hospital São Francisco (de 1930), da Capela do Senhor dos Passos e do Prédio Centenário (estes do início do século 19), constitui o núcleo histórico do Quarteirão da Santa Casa, quadra que também tem frente para a praça Dom Feliciano. A informação é da arquiteta Ceres Storchi, sócia do escritório Tangram Arquitetura e Design, responsável pelo projeto que transformou as casinhas no Centro Histórico-Cultural Santa Casa. A intenção de promover a mudança de uso do espaço tinha mais de 15 anos e desde o início previa a manutenção da volumetria externa original das casinhas. Embora não fossem tombadas (curiosamente, nenhuma das centenárias edificações da Santa Casa é protegida por órgãos
de preservação do patrimônio), o Tangram decidiu-se pela manutenção das fachadas em razão da representatividade delas na paisagem da avenida. Interveio, porém, radical e precisamente na organização espacial interna, inclusive com o rebaixamento do piso para acomodar o novo programa; em 2006, a equipe revisou a proposta inicial, dando-lhe a atual configuração. O ponto central do programa, explica Ceres, era abrigar e expor o valioso e amplo acervo documental e museológico acumulado em mais de dois séculos de trajetória da Santa Casa, mas contemplava também áreas para biblioteca e teatro. “As paredes originais, na sua essência fenomenológica, só são percebidas no grande hall pela sua supressão no eixo central do acesso, onde se nota nitidamente o plano de divisão entre duas geminadas, plano esse que coincide com o eixo central das oito unidades componentes do conjunto”, discorre a arquiteta sobre a intervenção que coordenou. “As duas paredes altas e contínuas delimitadoras do átrio são atravessadas vertical e horizontalmente por perfis I da estrutura metálica que suporta a cobertura e a claraboia”, ela completa.
1 A primeira enfermaria, com os instrumentos utilizados no século 19 / 2 Cenário da botica: os medicamentos eram preparados no próprio hospital
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1 A passarela metálica está junto à parede da face voltada para a avenida Independência / 2 A escada de concreto em bloco único é a protagonista do átrio / 3 Estrutura metálica suporta tanto a cobertura como a claraboia
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QUARTEIRÃO DA SANTA CASA
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TÉRREO 1 Escultura sobre o acesso / 2 Átrio / 3 Bistrô 4 Sala de múltiplos usos / 5 Balcão de informações 6 Módulo Arqueologia / 7 Exposição de longa duração 8 Biblioteca / 9 Ensaios / 10 Loja / 11 Laboratório de restauração / 12 Reserva técnica / 13 Arquivo 14 Laboratório de conservação / 15 Laboratório de história oral / 16 Laboratório de mídias
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PAVIMENTO SUPERIOR 1 Foyer / 2 Exposição de longa duração 3 Sala de múltiplos usos / 4 Plateia/mezanino do teatro / 5 Ação educativa / 6 Circulação 7 Coordenação do teatro e museu / 8 Reuniões 9 Administração / 10 Arquivo/pesquisa 11 Arquivo/acervo
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Na outra extremidade desse eixo se dá o acesso pela rua interna da quadra da Santa Casa. A entrada do centro cultural é antecedida por um jardim e a área de ingresso, especificamente, é protegida por uma cobertura/escultura (um grande plano nervurada de aço corten) criada por Nico Rocha. Já no interior, o protagonista do átrio é a escada que leva ao andar de cima. “Pré-moldada em bloco único de concreto, sua curvatura acompanha o mesmo raio do peitoril que delimita a circulação no pavimento superior”, detalha Ceres. Neste, ao teatro e seu foyer lateral, somam-se as salas de ação educativa e de múltiplos usos, constituindo uma estrutura de suporte para colóquios, eventos científicos e culturais. A sala de apresentações tem capacidade para quase 300 pessoas e programas variados, como espetáculos de dança, música de câmara, peças, projeção de filmes e seminários. “De pequeno porte, o teatro tem sua plateia entre paredes de uma dupla de casinhas - a da extremidade interna, junto ao Hospital São Francisco”, descreve Ceres. “Com restrição de altura e limite em relação ao plano da fachada, configura-se com um pequeno mezanino, acessível a partir do foyer.” (A. M.)
1 Na parte da mostra intitulada A Santa Casa e a Cidade, projeção e animações abordam o desenvolvimento e ocupação do sítio / 2 Teatro para quase 300 pessoas pode receber espetáculos variados / 3 O acesso ao centro histórico-cultural se dá pela parte interna do Quarteirão da Santa Casa / 4 Na fachada voltada para a avenida Independência, preservou-se a volumetria do conjunto, embora as casas não fossem tombadas
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TANGRAM ARQUITETURA E DESIGN
Ceres Storchi (FAU/UFRGS, 1978) é especialista em museologia e museografia pelo Politécnico de Milão (1985/86), e desenvolve trabalhos para museus e outras instituições. Laura Hagel (FAU/UniRitter, 2002) é pós-graduada e especialista em patrimônio cultural pela FAU/UFRGS. Ambas são sócias
na empresa Tangram Arquitetura e Design. Luiz Antônio Custódio (FAU/UFRGS, 1977) especializou-se em preservação e gestão do patrimônio cultural e é professor de pós-graduação da UniRitter. Nico Rocha (FAU/UFRGS, 1978) é artista plástico e professor no Instituto de Artes da UFRGS desde 1994
FICHA TÉCNICA CENTRO HISTÓRICO-CULTURAL SANTA CASA LOCAL Porto Alegre, RS DATA DO INÍCIO DO PROJETO 1998 DATA DA CONCLUSÃO DA OBRA 2014 ÁREA DO TERRENO 2.699,06 m 2 ÁREA CONSTRUÍDA 3.749,57 m 2 GESTÃO DO PROJETO Rosani Porto da Silveira CAPTAÇÃO DE RECURSOS Departamento de Projetos da
Santa Casa
ARQUITETURA Tangram Arquitetura e Design - Ceres
Storchi, Laura Hagel e Luiz Antônio Custódio
ESCULTURA SOBRE O ACESSO Nico Rocha PAISAGISMO Ceres Storchi, Laura Hagel, Nico Rocha
e Soraia Pereira
INTERIORES Ceres Storchi, Emily Borghetti, Laura
Hagel e Roberta Guerra
ESCAVAÇÃO ARQUEOLÓGICA Alberto Tavares e Fernanda
Tocchetto
PROJETO ACÚSTICO E CONSULTORIA DO TEATRO
Solé Associados
CENOTECNIA E SONORIZAÇÃO SLS e Stage ILUMINAÇÃO Ceres Storchi, João Piovan e
Marcus Siluk
PROJETOS COMPLEMENTARES Água Técnica, CM, Deltacon, Sistema e IHE CONSTRUÇÃO Departamento de Engenharia da Santa Casa - André Nedel, Lauro Vaz Pereira, Waldir Konzen e Marcus Vinícius Gattoni SINALIZAÇÃO Mull Design - Emily Borghetti MUSEOGRAFIA Ceres Storchi e Nico Rocha (projeto curatorial, cenográf ico, design e direção de arte); Alberto Tavares (curador do módulo Arqueologia); Ana Luíza Car valho da Rocha, Luíza Helena Schmitz Kliemann, Naida Menezes, Paulo Staudt Moreira, Véra Lúcia Maciel Barroso e Zita Rosane Possamai (consultores); Adriane Maria Raimann, Amanda Mensch Eltz, Edna Ribeiro de Ávila, Juliana Mohr dos Santos, Maria Teresa Custódio, Rafael de Oliveira Dias, Véra Lúcia Maciel Barroso e Vera Lúcia Zugno (pesquisa histórica e iconográf ica); Mull Design - Bianca Custódio e Emily Borghetti (projeto gráf ico da exposição); Ismael Monticelli (tratamento de imagens); Gabriel Fendt (animação - modelagem, texturização, animação e edição); Ivo Stiger e Maria Teresa
Custódio (textualização); 360° Visualização da Arquitetura (maquete do sítio histórico); Eduardo de Castro Mena Barreto, Kátia Basai Ataídes, Maria Leonilda dos Santos, Maria Luísa Faccioni Damiani e Suzana Cardoso (restauração de acer vo); Juliana Marques (registro e catalogação) ARTISTAS PLÁSTICOS Malu Rocha e Bruno Teixeira (esculturas), Raquel Magalhães (pintura a óleo para cenários) CRIAÇÃO E EDIÇÃO DE SOM PARA CENÁRIOS Pátio Vazio DESIGN E CRIAÇÃO DE SOFTWARE INTERATIVO Enovative - Sérgio Mello FOTOS DelReStein_Vivafoto FORNECEDORES Acquabio (espelho d’água); Agnits (iluminação da área expositiva); Arquium (restauração interna e externa das fachadas e alvenarias originais e piso da plateia); Arte Cor, Pino (impressão digital); Arte Final (pinturas); Atlas Schindler (elevadores): Belas Artes (claraboias, passarela e vidros de piso); Brascril (vitrines); Bueno (gesso); C. A. Nunes Móveis (bancos de madeira); Deca Duratex (louças e metais); Digipro (áudio); Efenge (estrutura de concreto); Moschetta (esquadrias de madeira e painéis acústicos); Florense (mobiliário da cafeteria, loja, recepção e teatro); Gail, NGK (revestimento); Goimage (impressão fotográf ica); GTA (f iltros); IIIbruck-Sonex (tratamento acústico); Imab (fechaduras); Itaim, Utiluz (iluminação); Lajeadense (vidros); Legno del Brasile (piso do palco); Lumar (escultura e complementos estruturais na exposição); Madder (móveis); Miller (estruturas metálicas); MRI (instalação do ar-condicionado); Pisoclean (tratamento de granitina); Preconcretos (escada do átrio); Piso de Ouro (tratamento dos pisos de madeira); Rosito Luce, Securit, Heduarte (serralheria de complementos e suportes para displays expositivos); Schneider (reforços estruturais do piso técnico); Universal (esquadrias de alumínio); Springer Carrier (ar-condicionado); Tecmov (painéis e mobiliário expositivo); Tradesign (divisórias e carpete); Tomazelli (pavimentação externa); Uniflex, Trilho Suísso (persianas)
PRODUTOS - PROJETO DESIGN MAI ‘15
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NUVENS para desempenho acústico
A Armstrong apresenta como solução acústica as nuvens SoundScapes Shapes, que são painéis de fibra de vidro servidos por linha completa de kits de suspensão e acessórios. São mais de dez opções de formatos de placas, em 14 cores, que podem ser ajustadas para diferentes alturas e ângulos. O produto pode ser instalado individualmente ou em grupos, na laje ou diretamente no forro de gesso.
Painéis de fibra de madeira Os painéis de fibra de madeira Heradesign, da AMF, têm propriedades acústicas e atuam também como peças decorativas. O produto pode ser aplicado tanto em revestimentos de parede e de teto como em móveis, murais, baffles, ilhas acústicas e tratamento acústico de salas de reuniões, escritórios, quadras poliesportivas e auditórios, entre outros. Além de apresentarem resistência mecânica contra impactos, não serem combustíveis, terem alta durabilidade e admitirem pintura, os painéis são fabricados a partir de fibras de madeira de reflorestamento, água e magnesita, com certificado de qualidade e sustentabilidade.
Forro modular Confeccionado em espuma de poliuretano semirrígida, o forro acústico modular Sonique CleanLine é um lançamento da Vibrasom. O produto pode ser aplicado em locais com alto índice de umidade e temperatura, é autoextinguível e fornecido com 625 x 625 milímetros. Conta ainda com uma película que impermeabiliza a espuma, aumentando a eficiência acústica e permitindo o uso de cores mais claras.
Produtos para acústica 81
Mantas acústicas de fácil aplicação
Células no design de cortinas Uma cortina que também pode funcionar como elemento acústico é a Duette, produto da linha Luxaflex, da Hunter Douglas. Graças à tecnologia desenvolvida pela empresa Honeycomb - com design inspirado em favos de mel das colmeias -, o ar fica preso entre as células, dificultando a passagem das ondas sonoras e absorvendo o som em até 70%. A cortina está disponível com células tradicionais, duplas, triplas e nas opções exclusivas Architella e Architella Trielle compostas por duas e três células, respectivamente. Os tecidos possuem tratamento que impede o acúmulo de poeira e tecnologia que garante que a peça não perca o formato característico.
As mantas acústicas da Aubicon atenuam os ruídos provenientes da tubulação hidráulica na construção civil, como é o caso do modelo Sound Soft Tubulação. O produto tem fácil aplicação, sendo fixado por braçadeiras plásticas, a partir de peças pré-moldadas para revestimento das caixas sifonadas. Outro lançamento é a manta Sound Soft Wave (foto), que, devido à geometria ondular da sua parte inferior, faz com que o contrapiso e toda a base sobre ele tenham pouco contato com o restante da estrutura. Ideal para casas de máquinas e áreas técnicas, o produto está disponível nas espessuras 6/3, 8/4 e 10/5 milímetros.
Solução em vidro laminado
Isolamento com lã de PET Feito com material à base de lã de PET, 100% reciclado, o Kempercoustic Plus, da Kemper Brasil, destaca-se por ser eficaz no isolamento acústico, principalmente para absorção acústica em lajes ou contrapisos e no sistema drywall. O produto atinge números superiores ao teto do índice da norma de regulamentação acústica (NBR 15.575) e conta com certificado de sustentabilidade. Além de ser antialérgico, antifungos e antiácaros, o material isolante é resistente à água, ao ozônio e aos raios ultravioleta.
Duas chapas de vidro plano, intercaladas por uma película plástica de grande resistência, o polivinil butiral (PVB), compõem o Laminado Cebrace, um dos produtos da marca indicado para que se obtenha bom desempenho acústico. Além dessas características, o vidro laminado bloqueia quase 100% dos raios ultravioleta e não estilhaça quando é quebrado, devido ao PVB. Suas espessuras, de 6, 8, 10 ou 12 milímetros, são ideais para coberturas, fachadas, sacadas, portas, janelas, divisórias, vitrines e pisos.
PRODUTOS - PROJETO DESIGN MAI ‘15
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Energia gerada por janela Com o objetivo de promover soluções de conforto acústico em ambientes residenciais e corporativos, a Atenua Som tem como novidade a janela Smart Window, que, além de proporcionar bom desempenho acústico, inova ao transformar a luz solar incidente em energia limpa e renovável, utilizável em diversos tipos de sensores (temperatura, movimento ou claridade), alarme de incêndio ou transferível para qualquer periférico que possua saída USB.
Forro em fibra mineral A Artesana Engenharia passou a contar com um departamento específico de acústica, a fim de encontrar soluções e desenvolver projetos com as mais altas complexidades para o segmento. A empresa disponibiliza, como exclusividade do grupo, os forros em fibra mineral Ultima dB, da Armstrong. O produto é recomendado para escritórios, salas de reuniões e de teleconferência, entre outros. Os forros possuem resistência à deformação e à umidade, e têm peso de 7,6 kg/m2.
Chapas mais espessas A Knauf do Brasil traz como lançamento a chapa Hardboard, com nova espessura de 15 milímetros. Disponíveis anteriormente em até 12,5 milímetros, os modelos recentes apresentam melhor desempenho no isolamento acústico e maiores resistências mecânica e ao fogo. Com a nova medida, o produto proporciona aumento de três decibéis em relação à versão anterior.
Vidros acústicos Os vidros acústicos da PKO do Brasil amortecem as vibrações sonoras por meio de duas soluções: laminado com polivinil butiral (PVB) acústico ou insulado. O modelo laminado com PVB apresenta menores espessuras, maior compatibilidade com caixilharia padrão e bloqueio de até 9,6% da radiação ultravioleta. O modelo insulado tem maior flexibilidade em projetos, pois permite a combinação com vidros comuns.
Produtos para acústica 83
Lã de vidro em construção a seco A Isover lançou a geração de lã de vidro para isolamento acústico Isover 4+. Fabricada com 65% de material reciclado e resina ecológica, a lã é incombustível e pode ser aplicada em paredes de sistemas de construção a seco, como drywall e steel frame. Os tradicionais feltros para isolamento da marca agora estão disponíveis nas versões Wallfelt POP4+, sem revestimento, e Wallfelt Topfelt4+ (foto), revestido com lã de vidro.
Acústica em ambientes amplos As nuvens Sonex illtec, da OWA, proporcionam alto desempenho acústico, com diversos formatos geométricos. O produto pode ser instalado em composições variadas e flexíveis, aliando conforto acústico à criatividade e à harmonia com o projeto arquitetônico, além de atender aos critérios de segurança em relação à flamabilidade. A marca também apresenta as placas acústicas Sonex illtec Baffle (foto), compostas por painéis para a absorção de ruídos, dispostos verticalmente - suspensos por cabo de aço e tirantes - e desenvolvidos especialmente para ambientes cobertos com estrutura metálica ou que tenham pé-direito elevado, como restaurantes, indústrias e ginásios, entre outros.
Painéis acústicos autocolantes Uma novidade da Trisoft, os painéis acústicos Isosoft Revest e Isosoft Revest Frame são feitos com lã de garrafa PET reciclada. Sua instalação é rápida, sem necessidade de colas, furos ou parafusos, já que o produto é autocolante. O modelo Revest Frame pode ser instalado tanto em forros como em paredes, e mede 60 x 60 centímetros. Já o painel Revest é voltado para o uso em paredes e tem dimensões de 1,20 x 2,70 metros.
TECNOLOGIA - PROJETO DESIGN MAI ‘15
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VERSATILIDADE
para o conforto acústico SONS GERADOS PELO TRÁFEGO DE VEÍCULOS, GERADORES, AR‑CONDICIONADO E OUTROS EQUIPAMENTOS DE USO COTIDIANO, ALÉM DO RUÍDO DAS MULTIDÕES, CONTRIBUEM PARA O AUMENTO DA POLUIÇÃO SONORA EM GRANDES CIDADES. A PREOCUPAÇÃO COM OS DANOS DECORRENTES É EVIDENCIADA PELA QUANTIDADE DE SOLUÇÕES ACÚSTICAS QUE O MERCADO DA ARQUITETURA ANUNCIA COM FREQUÊNCIA, RELACIONADAS A FORROS, PAINÉIS, VIDROS, LÃS ESPECIAIS, MANTAS E AOS MAIS DIVERSOS MATERIAIS, CAPAZES DE GARANTIR UM BOM DESEMPENHO DAS CONSTRUÇÕES. 2
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Versatilidade para o conforto acústico 85
Em evidência, o assunto foi escolhido como tema da 2ª Conferência Municipal sobre Ruído, Vibração e Perturbação Sonora, prevista para ser realizada no final de abril, em São Paulo, por iniciativa da Associação Brasileira para a Qualidade Acústica (ProAcústica). Contava-se com a participação de arquitetos especialistas em acústica, pesquisadores da área, engenheiros, físicos, advogados e jornalistas. Além de abrir um diálogo sobre as soluções para a mitigação da poluição sonora, o evento discutiria questões relacionadas aos desafios de uma cidade 24 horas, com alto índice de entretenimento noturno, o excesso ou a falta de normas voltadas para o setor, além do monitoramento do ruído urbano. E aventava a possibilidade de se implementar um projeto piloto em São Paulo, além das diretrizes para um novo projeto de lei sobre ruído urbano, em que se mapeie a paisagem sonora da cidade. “Esclarecer quais são os pontos críticos principais e que conexões já existem em relação ao planejamento urbano, e seus benefícios para a cidade, é o objetivo desse mapeamento”, afirma o arquiteto e urbanista Marcos Holtz, mestre em acústica e coordenador da Comissão Acústica Ambiental da ProAcústica, que assinalou os pontos estruturantes do encontro. À frente de diversos projetos acústicos de auditórios, museus, hotéis e shopping centers, o escritório Harmonia Acústica, que tem Holtz como sócio-diretor, é responsável pela consultoria e projeto acústico do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (MIS/RJ). Em construção na avenida Atlântica, em meio à zona residencial da orla da praia de Copacabana, a proposta arquitetônica concebida pelo escritório Diller Scofidio + Renfro (leia PROJETOdesign 396, fevereiro de 2013) tem como principal desafio acústico controlar o vazamento do som para o exterior. “Foi necessário prever um duplo isolamento: da avenida para o museu e do museu para os vizinhos”, explica Holtz, que, para atender a essa demanda, definiu o emprego de elementos absortivos no forro e o envelopamento do edifício com concreto e vidro laminado. A ideia do empreendimento é proporcionar ao visitante uma experiência sensorial, como é o caso do espaço da Boate, que contará a história da noite carioca e a genealogia da música black, com
influência do funk; e da Sala Carnaval, que mostrará a história da tradicional festa carioca, com a projeção 360 graus do som da bateria de uma escola de samba. Nesses dois ambientes era necessário garantir o conforto e o isolamento acústico. Para isso, foram usados vidros duplos - para a Boate se conectar visualmente com o átrio assimétrico que vai do térreo ao último pavimento -, contrapisos flutuantes e painéis com lã mineral de tecido e forros acústicos. Outro espaço de destaque do museu é o cineteatro, ambiente versátil com capacidade para 280 pessoas. Por permitir diferentes usos, como projeção de filmes, auditório e sala de espetáculos, o revestimento acústico tinha que garantir a reflexão e também a absorção do som. O projeto arquitetônico previa painéis de madeira em formato de onda nas três paredes principais, modelados em 3D, para representar tanto as ondas do mar como as do som. “A intenção era visualizar as ondas sonoras se propagando pela parede, o que foi uma ideia polêmica e difícil de executar. Mas que, por fim, atendeu às demandas estética, conceitual e acústica”, lembra Holtz. A sala conta ainda com a parede posterior feita em vidro, em contato com o foyer do museu, além de cortinas de veludo que absorvem o som e escurecem o ambiente em sua configuração de cinema. A maior parte da solução acústica foi personalizada para o MIS/RJ. “A acústica não pode impor uma solução, ela resulta sempre da arquitetura e, portanto, foram estudadas em conjunto neste projeto, que se desenvolveu através de um processo interessante e interativo”, revela Holtz. Casas que recebem grandes espetáculos também contam com elementos acústicos para garantir o isolamento do som, como o Teatro Porto Seguro, localizado em São Paulo. Com inauguração prevista para o início de maio, a área de cerca de 4,2 mil metros quadrados dará espaço a uma sala com 504 lugares, segundo o projeto do escritório
1 Projeção do terraço do MIS/RJ, que contará com cinema a céu aberto / 2 Revestimento do cineteatro/auditório será composto por painéis de madeira que simulam a forma de ondas / 3 Chamado Carinhoso, em homenagem ao compositor Pixinguinha, o espaço permite que os visitantes conheçam exposições individualmente
TECNOLOGIA - PROJETO DESIGN MAI ‘15
86 MIS/RJ - CORTES PISO 1 Piso sobre contrapiso acústico (det. C) PAREDES 2 Parede de madeira espessura mínima de 25 mm / 3 Divisória com vidro duplo laminado fixo 6 + 8 mm, Rw mínimo: 50 dB 4 Parede de bloco de concreto espessura mínima 19 cm preenchida com areia seca 5 Revestimento fonoabsorvente de paredes com feltro colado sobre painel de gesso perfurado (det. G) / 6 Paredes de alvenaria com reforço de drywall (det. C) / 7 Divisória tipo drywall espessura total 10 cm com duas placas de 12,5 mm de cada lado e miolo em lã de vidro, de rocha ou PET densidade mínima 30 kg/m3 espessura mínima 50 mm (det. K) / 8 Divisória de vidro laminado espessura mínima 12 mm, Rw mínimo: 35 dB com vedações de silicone / 9 Revestimento de uma das paredes do poço dos elevadores com placa acústica / 10 Cortina de veludo densidade mínima 600 g/m3 drapeada para metade da área total de cortina FORRO 11 Forro modular preto, αw mínimo: 0,70 12 Forro modular de fibras de madeira mineralizada, αw mínimo: 0,65 / 13 Forro fonoabsorvente de gesso perfurado (mínimo 20%) com véu de vidro colado e pintado, com lã de vidro, de rocha ou PET, densidade mínima 30 kg/m3 e espessura mínima 50 mm sobreposta / 14 Forro modular, αw mínimo: 0,70 em placas de gesso perfurado 15 Forro de uma placa tipo drywall, espessura 12,5 mm com lã de vidro, de rocha ou PET, densidade mínima 30 kg/ m3 , espessura mínima 50 mm sobreposta 16 Reforço de isolamento sonoro de drywall (det. C) / 17 Isolamento acústico entre nervuras de concreto com drywall (det. D) 18 Forro fonoabsorvente de gesso perfurado (mínimo 18%) com lã de vidro, de rocha ou PET, densidade mínima 30 kg/m3, espessura mínima 50 mm sobreposta / 19 Forro de painel acústico ranhurado, αw mínimo: 0,80 PORTAS/ESQUADRIA 20 Porta acústica simples de madeira, Rw mínimo: 40 dB / 21 Porta acústica dupla de madeira, Rw mínimo: 40 dB 22 Porta acústica simples de madeira, Rw mínimo: 30 dB / 23 Porta acústica dupla de madeira, Rw mínimo: 30 dB / 24 Porta acústica dupla metálica, Rw mínimo: 35 dB 25 Porta pivotante de vidro laminado e temperado espessura mínima 12 mm, com vedação acústica perimetral, Rw estimado: 25 dB / 26 Painéis pivotantes acústicos de madeira tipo leve toque 27 Porta acústica escamoteada 28 Visor de vidro duplo laminado 6 + 8 mm, Rw mínimo: 50 dB (det. P) 29 Caixilhos e portas da fachada tipo glazing com vidros laminados com PVB espessura mínima 13 mm, Rw mínimo: 35 dB / 30 Visores de vidro duplo laminado fixo, Rw mínimo: 50 dB (det. H)
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13 18
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13 8 22
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13 29 12 16 6
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CORTE AA
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14 14
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CORTE DD
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20 11
Versatilidade para o conforto acĂşstico 87
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6 3
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CORTE BB
CORTE CC
14 B
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29 13 29
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7
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C
E
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D
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A
7 13
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3 15 5 2 21
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CORTE EE
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TECNOLOGIA - PROJETO DESIGN MAI ‘15
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DIVISÓRIA DE VIDRO - BOATE
DIVISOR DO FUNDO DO TEATRO
VISOR CABINE DE PROJEÇÃO
REVESTIMENTO DO FUNDO DO TEATRO
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2 2 3 21 20 19
7 3 1
6
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3 9
2 2 5 4 REFORÇO DE ISOLAMENTO ACÚSTICO
NICHO PARA CAIXA DE SOM
SISTEMA ANTIVIBRATÓRIO
11 10
10
3 8 3
ISOLAMENTO ACÚSTICO ENTRE NERVURAS
TRATAMENTO ACÚSTICO DE TUBULAÇÃO DE ESGOTO
CORTE 4
CORTE 3 CORTE 2
MIS/RJ - ESPECIFICAÇÕES 1 Painel de lã de PET, de vidro ou de rocha, espessura: 50 mm, densidade mínima: 30 kg/m3 / 2 Banda acústica de espuma 3 mm autoadesiva 3 Placa tipo drywall, espessura: 12,5 mm / 4 Painel de lã de vidro 15 mm, 60 kg/m3 / 5 Contrapiso de argamassa armada com tela tipo viveiro, espessura: 6cm / 6 Vedação com mástique e acabamento com fita 7 Tirante antivibratório para forro / 8 Manta de lã de vidro 50 mm, 14 kg/m3 / 9 Junta de expansão de borracha / 10 Amortecedor helicoidal de vibração, dois por apoio / 11 Espuma de borracha, células fechadas, espessura: 1/2” / 12 Amortecedor de tração chumbado na laje 13 Placa de gesso perfurado / 14 Vedação de silicone / 15 Painel de lã de PET, de vidro ou de rocha, espessura: 20 mm, densidade mínima: 30 kg/m³ / 16 Preenchimento dos vazios com MDF / 17 Vidro duplo laminado fixo 6 + 8 mm / 18 Revestimento em feltro, espessura 6 mm 19 Painel de lã de vidro, espessura: 50 mm, densidade mínima: 40 kg/m³ 20 Nicho de MDF, espessura mínima: 20 mm, para fixação da caixa acústica 21 Painel de lã de vidro, espessura: 25 mm, densidade mínima: 40 kg/m³
2 3
CORTE 1
APOIO REFLEXÍVEL DE TUBULAÇÃO
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4
4
1
ELEVAÇÃO VISTA INTERNA
Versatilidade para o conforto acústico 89
AIC Arquitetura & Urbanismo. Possibilitar a uniformidade sonora em todos os lugares da plateia, tanto em eventos ao vivo ou amplificados, para atender também a encontros corporativos multimídia, foram os pilares do projeto acústico. Entre os desafios de um espaço como este, está o controle dos ruídos de ar-condicionado, transformadores e outras instalações. A reverberação excessiva, bem como ecos e ressonâncias no palco, também foram objetos de maiores cuidados. O consultor acústico do projeto, Alexandre Sresnewski, conta que a opção foi pelo emprego de materiais com acabamentos e tipologias com características peculiares de isolamento para cada parte, como teto, paredes, pisos e palco. “Foram usados materiais acusticamente versáteis, da Nexacustic, produzidos pela OWA, com absorção em algumas superfícies e difração em outras. Nas paredes, utilizou-se uma mistura de painéis absorventes e refletentes. E no teto, refletores curvos em gesso, para levar os sons do palco até a plateia. Além disso, colocamos outros painéis de tecido sobre mantas minerais”, ele detalha. Porém, não são apenas ambientes com alto fluxo de pessoas que requerem cuidado especial com a paisagem sonora. Comportando até 170 pessoas, o restaurante de comida japonesa Djapa, de São Paulo, levou o conforto acústico em consideração. A solução adotada foi o forro suspenso Heradesign, importado da Alemanha pela fábrica Knauf AMF. Diferente de um forro de gesso, por exemplo, por ser feito com fibras de madeira, tem absorção sonora otimizada. Em outros casos, a principal preocupação não é com o vazamento do som, mas com a interferência da poluição sonora externa. O escritório do hangar da companhia aérea TAM, no Aeroporto de Congonhas,
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em São Paulo, precisava minimizar o ruído constante dos aviões no ambiente interno. O edifício estava vedado por sanduíche de vidros insulados, de oito milímetros, e câmara de ar de nove milímetros, resultando em vidro de 40 kg/m², com ruído de até 104 decibéis. Após diversos estudos e o uso de recursos tecnológicos, como a holografia acústica, que revela o nível de ruído e por onde ele é transmitido na fachada, a Atenua Som identificou o ponto fraco do sistema existente e buscou uma opção que melhor correspondesse à demanda. De acordo com Edison Moraes, diretor da empresa, a decisão foi substituir os vidros antigos por multilaminados de seis milímetros, com câmara de ar de quatro milímetros, e outro vidro de seis milímetros, da Cebrace. Com isso, além de um sistema mais leve, a medição do ruído mostrou uma queda para 56 decibéis. Independentemente do tipo de vidro, o desempenho acústico será determinado pelo conjunto composto por caixilho e isolamento. Para o gerente de marketing da Cebrace, Carlos Henrique Mattar, o caso do hangar mostra a importância de uma especificação correta. “Não existe fórmula para identificar um vidro ideal para cada projeto, é preciso fazer uma análise do local e do tipo do ruído que se pretende barrar a fim de obter o conforto acústico”. Seguindo tal linha, a empresa lançou o aplicativo gratuito Cebrace Acústica, que permite que cada usuário verifique qual seria o vidro mais apropriado às diversas situações do cotidiano. (Por Gabriela Nunes)
1 e 2 O restaurante Djapa, em São Paulo, empregou forros suspensos de fibra de madeira para garantir o conforto acústico dentro do estabelecimento / 3 Detalhe da parede do Teatro Porto Seguro, que aplicou uma mistura de painéis refletentes e absorventes
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VÃO LIVRE - PROJETO DESIGN MAI ‘15
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Editor irresponsável: Paulo Caruso
Nós, Volta às Aulas na Pátria Educadora
Projeto, Questão de Estilo
Quem diria, foi aqui, no Clube Alto dos Pinheiros, que nosso editor (ir)responsável e seu irmão gêmeo (menos responsável ainda) lançaram-se na carreira musical, compondo sucessos que, (in)felizmente, apenas não aconteceram...
INFORME PUBLICITÁRIO
Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro (RJ). Projeto de Lucio Costa, Jorge Machado Moreira, Ernani Vasconcellos, Affonso Eduardo Reidy, Carlos Leão e Oscar Niemeyer. Foto de Nelson Kon
ARQUITETURA E URBANISMO SE FAZ COM ÉTICA. DIGA NÃO À "RESERVA TÉCNICA" Código de Ética e Disciplina proíbe arquitetos e urbanistas de receber comissões ou vantagens pela indicação de produtos e fornecedores Arquitetura e Urbanismo é atividade que vem crescendo nos últimos anos no Brasil. São mais de 120.000 profissionais legalmente habilitados para trabalhar na concepção e execução de edificações, paisagens e espaços urbanos. Para que todos eles possam prestar o melhor serviço à sociedade, contribuindo para o desenvolvimento socioambiental do Brasil, o CAU/BR aprovou em 2013 o Código de Ética e Disciplina dos Arquitetos e Urbanistas. A norma contém princípios, regras e recomendações para orientar a relação com a sociedade. O objetivo é valorizar cada vez mais o trabalho desses profissionais, preservando sua atuação técnica e ética em favor de seus clientes. Uma das regras diz respeito à prática conhecida como “Reserva Técnica”, ou “RT”, que é o recebimento de comissão de lojistas e fornecedores pela indicação de produtos a seus clientes. Segundo o Código, o arquiteto e urbanista deve recusar-se a receber remunerações, gratificações, vantagens ou presentes oferecidos por fornecedores de seus contratantes – seja qual for o pretexto. Esse trecho regula a Lei 12.378/2010, Para que caracteriza como infração “locupletar-se ilicitamente, ler o Código de por qualquer meio, às custas de cliente, diretamente ou Ética e Disciplina na por intermédio de terceiros”. Faça Arquitetura e Urbanismo com Ética. Diga não à Reserva Técnica!
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