CURRÍCUL O URRÍCULO
E MÍDIA
A BRASILEIRA EDUCA TIV EDUCATIV TIVA
É vedada a reprodução total ou parcial desta obra.
Associação Brasileira de Editoras Universitárias
MARLUCY ALVES PARAÍSO
CURRÍCUL O URRÍCULO
E MÍDIA EDUCA TIV A BRASILEIRA : EDUCATIV TIVA PODER , SABER E SUBJETIVAÇÃO
Chapecó, 2007
REITOR: Gilberto Luiz Agnolin VICE-REITORA DE PESQUISA, EXTENSÃO E PÓS-GRADUAÇÃO: Maria Assunta Busato VICE-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO: Gerson Roberto Röwer VICE-REITOR DE GRADU AÇÃO GRADUAÇÃO AÇÃO:: Odilon Luiz Poli
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Paraíso, Marlucy Alves Currículo e mídia educativa brasileira: poder, saber e subjetivação / Marlucy Alves Paraíso – Chapecó: Argos, 2007. 274 p. 1. Currículo. 2. Comunicação de massa – Aspectos sociais. I. Título.
CDD 375 ISBN: 978-85-98981-76-5
Catalogação: Yara Menegatti 14/448 Biblioteca Central da Unochapecó
Conselho Editorial: Elison Antonio Paim (Presidente); Priscila Casari (Vice); Alessandra Machado; Alexandre Mauricio Matiello; Antonio Zanin; Arlene Renk; Edilane Bertelli; Jacir Dal Magro; José Luiz Zambiasi; Juçara Nair Wollf; Maria Assunta Busato; Maria dos Anjos Lopes Viella; Monica Hass; Ricardo Brisolla Ravanello Coordenadora: Monica Hass
D EDICO
A
Lindolfo Vieira Paraíso, meu querido pai, pelo que as lembranças do que foi e de como viveu significam para mim; por ter me ensinado a praticar sentimentos tão importantes como a emoção e o amor; pelo orgulho que sentia de mim e pela felicidade que demonstrava com minhas conquistas, o que sempre me deu forças e coragem para prosseguir. Pai, receba minha gratidão eterna! “As pessoas não morrem, ficam encantadas.” (Guimarães Rosa). Cláudio Lúcio Mendes, pelo amor compartilhado; pela parceria, cumplicidade e lutas conjuntas, pelas inúmeras, produtivas e respeitosas discussões travadas; e pelas contribuições dadas a este livro.
A GRADECIMENT OS GRADECIMENTOS
Ao CNPq pelo financiamento deste estudo. Ao Departamento de Administração Escolar da Faculdade de Educação da UFMG por viabilizar as condições necessárias para que este livro fosse escrito. A Antônio Flávio Moreira e Tomaz Tadeu pelas produtivas interlocuções durante a realização do estudo aqui apresentado. À minha mãe, Francisca Paraíso, pelo enorme amor e carinho; pela dedicação incansável e pelo esforço ao longo da vida para educar-me, desafiando as regras e imposições de uma sociedade hierárquica, injusta e desigual. A toda a minha “grande família” (Liquinha, Erluce, Sinvaldo, Luiz, Gê, Dô, Marlene, Leninha e Zé [em memória]) pelo amor que nos une, pelas parcerias ao longo da vida, pela torcida, pelo apoio incondicional e pelo carinho compartilhado. Aos meus sobrinhos e minhas sobrinhas maravilhosos pela beleza que proporcionam à minha vida, pelo amor sem medida que sempre aumenta minha potência de agir, surpreende-me e revigora-me. Amo vocês!
Aos meus amigos e às minhas amigas que, de diferentes formas, torcem, apóiam e tornam minha vida cheia de amor, alegrias e esperanças. Renata, Dani e Shirlei, muito obrigada pela grande ajuda nos últimos minutos antes da finalização do livro. A todas as pessoas que acreditam e lutam pela escola e universidade públicas, gratuitas e de boa qualidade no Brasil. Sem as universidades públicas deste país, eu jamais teria escrito este livro.
S UMÁRIO
|13| Prefácio |17| Apresentação |21| A educação escolar como um problema e objeto de investimento da mídia educativa brasileira |37| Intensificação governamental: práticas de produção e tecnologias de subjetivação na mídia educativa |67| Regularidades e singularidades do discurso |93| O currículo da mídia educativa brasileira |133| Endereçamentos no currículo da mídia educativa |163| Tecnologias de subjetivação
|187| Diferentes autoridades na mídia educativa |211| Pensamentos autorizados |231| Quereres no currículo da mídia educativa |245| Conclusão: o modo como signifiquei o discurso da mídia educativa brasileira |259| Referências |273| Anexo
Ao escrevermos, como evitar que escrevamos sobre aquilo que não sabemos ou que sabemos mal? É exatamente nesse ponto que imaginamos ter algo a dizer. Só escrevemos na extremidade do nosso próprio saber, nesta ponta extrema que separa nosso saber e nossa ignorância e que transforma um no outro. É só deste modo que somos determinados a escrever. Suprir a ignorância é transferir a escrita para depois ou, antes, torná-la impossível. Deleuze
P REFÁCIO
Sempre que me convidam para escrever o prefácio de um livro, assaltam-me as mesmas dúvidas, não resolvidas até o presente momento. Que devo incluir no referido prefácio? Que tom convém escolher? Como expressar de modo adequado minha opinião sobre o texto, sem pender nem para o excesso de elogios nem para a desagradável frieza acadêmica? Como melhor incentivar o leitor a se envolver com o livro em questão? Deixando de lado as dúvidas (em parte por não resolvê-las), trago uma certeza: sempre que aceito elaborar um prefácio, o faço porque o livro me agrada e, ademais, porque estimo, respeito e admiro seu autor. No caso de Marlucy Paraíso, confirmam-se tais sentimentos. Ex-orientanda, colega, amiga e companheira do Grupo de Trabalho de Currículo da ANPEd, Marlucy apresenta as qualidades necessárias a uma atuação séria, competente e produtiva na universidade. O rigor, o empenho e o cuidado com que desenvolve uma pesquisa são notáveis. Todos os atributos indispensáveis a um bom pesquisador evidenciaram-se na elaboração de sua tese de doutorado, hoje (finalmente) socializada por meio deste livro. No caminho que percorremos juntos, durante a orientação, houve momentos em que, em nossos diálogos, muitas concordâncias e algumas discordâncias (sempre respeitosas) surgiram. Aproximou-nos em todo o trajeto
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o acentuado interesse pela escola, pelo currículo e pelo docente. Estudiosa da obra de Michel Foucault, Marlucy empregou o pensamento do filósofo francês para estranhar e analisar discursos da mídia educativa brasileira sobre a escola, o currículo e a professora. Com o consistente apoio do referencial teórico que tão bem conhece, Marlucy esforçou-se para mostrar como a mídia, por meio de discursos veiculados na TV Escola e no Canal Futura, durante os anos de 1999 e 2000, construiu e utilizou conceitos pedagógicos (apresentados como imprescindíveis), bem como inventou e propagou práticas com o propósito de intervir nos sujeitos, nos currículos e nas escolas, para que, assim, exercessem o governo de si, o governo dos outros e o governo do Estado. Não dominando, como Marlucy, a obra de Foucault, instiguei-a, o tempo todo, a me convencer de que, como ela própria afirma nas conclusões do livro, não seria preciso entender como os discursos eram recebidos e interpretados pelos sujeitos pedagógicos e quais eram seus efeitos nas escolas. Em outras palavras, sem aderir plenamente ao ponto de vista de que o discurso constrói a realidade de que fala, senti, em muitos momentos em minhas reações, a força de elementos do discurso pedagógico moderno ainda configurando, ao menos parcialmente, meu pensamento e minhas práticas. Tais elementos se confrontaram, por vezes, com os posicionamentos que Marlucy defendia com vigor, embora sempre atenta aos meus argumentos. Estimulei-me, então, a ler e a reler textos de Foucault. Se minhas perspectivas não foram totalmente modificadas, certamente Marlucy contribuiu para que eu as questionasse e as renovasse. Aprendi muito durante todo o processo de orientação. As análises elaboradas pela autora certamente levarão o leitor a se interrogar sobre os discursos que circulavam/circulam na mídia sobre a escola, o currículo, a professora, a avaliação. Incentivarão o/a leitor/a a procurar apreender que escola, que currículo, que professor e que avaliação se mostram e se deseja defender. Permitirão que o leitor identifique mecanismos e estratégias de subjetivação que a mídia emprega e perceba o que tais práticas podem
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emergir. Ainda, estimularão o leitor a problematizar os objetivos pretendidos pelos formuladores dos programas, assim como a estranhar o convite para que a professora assumisse, quase que por si só, os esforços para um bom estudo para bem ensinar os estudantes, formar cidadãos úteis e conscientes e para promover o desenvolvimento do país. Para que a professora atendesse a tais expectativas sua conduta precisou ser regulada, o que se procurou fazer pelos textos estudados por Marlucy. A política de verdade instituída por discursos da mídia sobre a educação escolar é questionada neste livro. Nesses discursos, busca-se articular ciência, afeto, humor, alegria e descontração. Ou seja, tenta-se seduzir o público a se comprometer com a solução dos problemas da educação brasileira. Em suas reflexões a pesquisadora concebe o discurso como prática objetivadora e produtora, disposta por técnicas de poder, modos de saber e efeitos de verdade. O discurso em questão é mobilizado, como um programa de governo, para regular a vida dos indivíduos e tornar possível o alcance de determinadas metas. Não será relevante e atual um estudo que nos auxilie a entender melhor como temos sido constituídos por discursos e práticas? Não será relevante e atual uma investigação que nos permita entender o papel que a mídia desempenha nesse processo? Não serão relevantes e atuais interpretações que nos propiciem perceber e analisar como os currículos vividos por docentes e estudantes têm transbordado os espaços escolares e circulado por outros igualmente poderosos espaços educativos? Além de relevante e atual, o estudo de Marlucy é bem fundamentado, bem ilustrado, bem estruturado e bem redigido. Apesar de sua densidade, sua leitura se faz de modo agradável, sem cansar o leitor. Sem me alongar mais, sugiro, pelos motivos expostos, que iniciem imediatamente e aproveitem bastante a leitura deste livro. Rio de Janeiro, janeiro de 2007. Antonio Flavio Barbosa Moreira (UCP/UERJ)
A PRESENT AÇÃO PRESENTAÇÃO
Gilles Deleuze e Félix Guattari caracterizam quem escreve como uma espécie de feiticeiro; e, “se o escritor é um feiticeiro é porque escrever é um devir; escrever é atravessado por estranhos devires” (Deleuze; Guattari, 1997, p. 21). São muitos os devires que atravessam a nós “feiticeiros/as” no processo de escrita. Aliás, um livro é feito de escritos diferentemente construídos, em datas e locais muito diferentes, com muitas ajudas, a partir de encontros múltiplos, de desencontros para então se fazer outros encontros. Contudo, não quero, nesse momento, falar de qualquer escrita ou de qualquer livro. Quero falar deste livro. No processo de produção do discurso que ora é apresentado, pensei, fiquei à espreita de idéias, experimentei, hesitei, fiz arranjos, desfiz, retomei tudo de cima a baixo e mais uma vez refiz de um outro modo. Bem sei que durante os múltiplos arranjos e desarranjos feitos para descrever, significar e discutir o discurso da mídia educativa brasileira sobre a educação escolar, produzi um outro discurso que é constituído por este estudo. Bem sei que estou aqui divulgando (em um espaço completamente distinto daquele que foi analisado) verdades, saberes que são lançados por aí para serem retomados por outras feiticeiras e, então, serem problematizados, desarranjados, questionados, complementados, desmontados, desconstruídos. É isto que este livro espera.
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Se na minha aventura intelectual recolhi “flechas” atiradas por diferentes pensadores1, atiro agora as minhas flechas para que outros possam enviá-las em novas direções, efetuando novos arranjos, em um processo que se multiplica. É como concebo o trabalho intelectual, o pensamento, a pesquisa e a escrita. No caso deste livro, se já havia me encontrado, antes de iniciá-lo, com os escritos de Michel Foucault; se as instigantes flechas por ele lançadas interpelavam-me e faziam pensar de um outro modo; durante a escrita deste livro, suas provocativas flechas, que enunciam um modo original de compreensão das palavras e das coisas, seduziram-me completamente. Para continuar pensando com a flecha do feitiço (que eu apanhei de Gilles Deleuze e Félix Guattari) talvez eu possa dizer que os feitiços produzidos e lançados por Michel Foucault enfeitiçaram-me totalmente. Por isso ele foi o autor escolhido para conduzir este trabalho analítico. Seus escritos foram fundamentais para que eu refletisse e escrevesse o que hoje apresento neste livro. Como o próprio filósofo tão bem expressou: “existem momentos na vida onde a questão de saber se se pode pensar diferentemente do que se pensa e perceber diferentemente do que se vê; é indispensável para continuar a olhar ou a refletir” (Foucault, 1986, p. 13). Pois bem, deparei-me por diferentes vezes com esses momentos durante a realização deste estudo. Embora o que ora apresento já constitua os efeitos produzidos por esses momentos, não quis que todos esses “jogos comigo mesma” permanecessem inteiramente nos bastidores. Afinal, eu os vejo como “experiência modificadora de si no jogo da verdade” (Foucault, 1986, p. 13). Por entender a experiência como algo que se dá solitariamente, mas que outros podem cruzá-la, atravessá-la, compor com ela; e como “alguma
A noção de flechas foi tomada da reflexão de Nietzsche (1999) sobre a aventura intelectual. Nessa reflexão ele sugere que os pensadores atiram flechas no vazio, até que outros pensadores as recolham para enviarem em novas direções: “La Naturaleza dispara al filósofo como um dardo em médio de los hombres; no apunta, pero espera que el dardo quede clavado em alguma parte.” (Nietzsche, 1999, p. 134).
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coisa da qual saímos transformados”, então, julgo importante dizer que o processo de produção deste livro foi uma experiência plena. Nesse processo fui completamente modificada, ao mesmo tempo em que problematizava o já dito, o já visto, o já significado sobre educação e currículo. É claro que isso só foi possível porque nessa experiência permiti que outros cruzamentos, atravessamentos, composições e conexões fossem feitos. Quero deixar claro, já nesta apresentação, que procurei, em todos os momentos de escrita deste livro, desvencilhar-me de uma perspectiva que procura comprovações do que já foi significado e sistematizado no campo do currículo e da educação. Busquei, o tempo todo, fazer surgir sentidos imprevistos, que agora podem ser retomados por outros pesquisadores com outras teorias de sentidos. O que apresento a seguir é um discurso produzido com base naquilo que consegui ver e significar com as ferramentas conceituais que escolhi para operar. É um discurso que adquiriu esse formato com idas e vindas, que fez com que eu modificasse meus modos de pensar durante a sua construção e que passa agora a fazer parte das verdades produzidas no campo geral da educação e do currículo.
Título Currículo e mídia educativa brasileira: poder, saber e subjetivação Autor Marlucy Alves Paraíso Assistente editorial Hilario Junior dos Santos Assistente administrativo Neli Ferrari Secretaria Alexandra Fatima Lopes de Souza Divulgação Josué Carvalho Projeto gráfico e diagramação Franciéli Roos Capa Ronise Biezus Preparação dos originais Jakeline Mendes Ruviaro Revisão Jakeline Mendes Ruviaro Juliane Fernanda Kuhn Formato 16 X 23 cm Tipologia CaslonOldFaceBT e Futura BK BT entre 7 e 15 pontos Papel Capa: Cartão Supremo 350 g/m2 Miolo: Pólen Soft 80 g/m2 Número de páginas 274 Tiragem 800 Publicação Setembro de 2007 CTP, impressão e acabamento Gráfica e Editora Pallotti - Santa Maria (RS) Argos - Editora Universitária - UNOCHAPECÓ Av. Attilio Fontana, 591-E - Bairro Efapi - Chapecó (SC) - 89809-000 - Caixa Postal 747 Fone: (49) 3321 8218 - argos@unochapeco.edu.br - www.unochapeco.edu.br/argos