Ouvidos dominantes - vozes silenciadas

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OUVIDOS DOMINANTES − VOZES SILENCIADAS


Série Debates Argos − Editora Universitária − Unoesc-Chapecó Av. Attílio Fontana, 591-E Bairro Efapi − Chapecó − SC 89809-000 − Caixa Postal 747 Fone: (0**49) 321 8218 E-mail: argos@unoesc.rct-sc.br

É vedada a reprodução total ou parcial desta obra

Associação Brasileira de Editoras Universitárias


Noeli Gemelli Reali

OUVIDOS DOMINANTES VOZES SILENCIADAS A PRESENÇA/AUSÊNCIA DOS MIGRANTES RURAIS NO CURRÍCULO ESCOLAR URBANO

Chapecó, 2001


C o n s e l h o E d i t o r i a l : Odilon Luiz Poli (Presidente); Arlene Renk; Claúdio Jacoski; Marinês Garcia; Monica Hass; Nedilso Lauro Brugnera; Valdir Prigol; Volnei de Moura Fão Diretor Executivo: Valdir Prigol Assistente Editorial: Hilário Junior dos Santos Revisão: Arisangela Denti, Ireno Antonio Berticelli e Ana Alice Bueno Diagramação: Mauren Rigo Projeto Gráfico: Gisele dos Santos Capa: Gisele dos Santos e Hilário Junior dos Santos a partir de fotos de Noeli Gemelli Reali e Eliane Fistarol

375.006 Reali, Noeli Gemelli R288o Ouvidos dominantes vozes silenciosas : a presença/ausência dos migrantes rurais no currículo escolar urbano / Noeli Gemelli Reali. − − Chapecó : Argos, 2001. 194 p. − − (Debates) 1. Currículos − Análise. 2. Currículos − Colonos. 3. Currículos − Cultura. I.Título. ISBN: 85-86311-58-8

Catalogação: Biblioteca Central Unoesc-Chapecó

UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA Santo Rossetto REITOR

PRÓ-REITORA DE PESQUISA, EXTENSÃO E PÓS-GRADUAÇÃO: Arlene Renk PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO: Gilberto Luiz Agnolin PRÓ-REITORA DE ENSINO: Silvana Marta Tumelero


Agradecimentos

Os escritos deste livro são de minha inteira responsabilidade, contudo, ele não poderia ter sido escrito sem as diversas parcerias que estabeleci. Por mais solitária que nossa tarefa de pesquisadores/ as possa parecer, ela é sempre uma tarefa coletiva, resultado de ajudas mútuas, tanto no âmbito da academia como fora dela. Também é resultado de uma estranha e positiva parceria entre homens e mulheres que muitas não sequer se conhecem, que sequer vivem no mesmo espaço e no mesmo tempo. Uma espécie confraria que nos une pelas idéias e pelos compromissos políticos e sociais que se firma através do tempo. Esta página inicial é o espaço que reservo para, publicamente, agradecer às pessoas que de diferentes formas contribuíram na transformação de minha dissertação de mestrado. O trabalho que ora apresento é, portanto, fruto de estudos, reflexões, discussões e muitos afetos. Por isso, agradeço com carinho distinto aos homens e mulheres migrantes rurais protagonistas centrais deste estudo que permitiram, de certa forma, que eu entrasse em suas casas e em parte de suas vidas. Não poderia deixar de agradecer às professoras que aceitaram e toleraram minha presença incômoda durante a observação em sala de aula. De modo particular, estendo minha gratidão à direção da escola e à equipe pedagógica da Secre-


taria Municipal da Educação e Cultura de Chapecó, por ter aberto as portas e atendido sempre, prontamente, minhas solicitações. Ao doutor Nilton Bueno Fischer, professor e orientador que, com paciência e atenção, discutiu e forneceu sugestões importantes ao meu trabalho. Estendo minha gratidão e admiração aos professores e professoras do Curso de Mestrado em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul: Dr. Alceu Ferraro, Drª Arabela Oliven e Drª Maria Helena Weit. Agradeço profundamente ao professor Dr. Tomaz Tadeu da Silva, cujas leituras e exigência acadêmica contribuíram decisivamente para meu amadurecimento intelectual. À admirável Arlene Renk, cujo trabalho antropológico de reconstrução da memória de grupos culturais marginalizados da Região Oeste de Santa Catarina tem aberto caminhos e estimulado muitas pequisas, pelo tempo que dedicou à co-orientação deste trabalho com minuciosas leituras e sugestões valiosas. Creio que sem sua inteligência, sensibilidade e apoio este livro não teria sido possível. Não poderia deixar de agradecer à querida amiga e companheira Marlucy Alves Paraiso que, através do convívio diário, tornou o tempo do mestrado um tempo menos solitário e mais afetivo e, sobretudo, pelas preciosas leituras e material bibliográfico concedido. À querida amiga Eliane Peres, pelo acolhimento, pelas leituras pertinentes e, de maneira especial, pela amizade e alegria que iluminava nossos encontros. Ficarei eternamente grata à Lucíola Licinio de C. P. Santos que, mesmo não me conhecendo pessoalmente, leu meu projeto inicial de pesquisa e contribuiu com sugestões pertinentes. Agradeço com muito carinho ao colega Dr. Ireno Berticelli pela leitura minuciosa e observações pertinenetes na fase final deste trabalho. Estou muito grata ao coordenador da Argos, Valdir Prigol, pelo apoio, incentivo e paciência para materialização deste livro. Estarei sempre com débito com meus familiares, especialmente com minha mãe adotiva Clementina, pelo apoio e incentivo de sempre. Muitos amigos e amigas, que de longe foram um importante suporte afetivo. De forma especial agradeço a Cezer e Marcia, a Gilberto e Carme, a Valmor e Lígia, pois, através deles, seus filhinhos Alexandre, Isabella e Aníbal, respectivamente, tornaram-se crianças muito especiais. À Associação Catarinense das Fundações Educacionais − ACAFE −, à CAPS, enquanto órgão financiador, e à Universidade do Oeste de Santa Catarina − Unoesc-Chapecó, pelo apoio e atendimento às minhas solicitações.


In memorian

Do tempo da defesa da dissertação até a realização deste livro a pessoa que eu mais amava morreu. Ele era meu parceiro afetivo, cuja convivência me possibilitou compreender e experimentar as emoções mais importantes da aventura humana. Com ele conheci o amor, a solidariedade e a maternidade em suas dimensões mais profundas e a crença de que a convivência entre as diferenças pode ser uma das mais fascinantes experiências da vida. Este trabalho foi escrito com a ajuda dele. Ele é uma ausência presente que atravessa de forma invisível cada página deste livro. Esta homenagem a tempo eu lhe devia. Dedico este livro para o Amadeu e para o nosso João Pedro − menino feito luz que me faz prosseguir.


Sumário

APRESENTAÇÃO ................................................................ 11 A CONSTRUÇÃO DA PESQUISA ................................... Textos e motivações ............................................................... Encontros e histórias ............................................................. Os cenários da pesquisa ......................................................... Os personagens ......................................................................

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1 - CULTURA NO PLURAL .............................................. Culturas: idéias e práticas ...................................................... Lutas permanentes, conquistas provisórias ........................... Cultura no plural, currículo multicultural ...........................

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2 - MIGRANTES RURAIS NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS ESCOLARES LOCAIS ............. 117 Os currículos escritos: intenções e contradições ................ 119


3 - MIGRANTES RURAIS NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS DA SALA DE AULA ....................................... 229 Vozes dominantes, alunos silenciados ................................... 231 Migrantes rurais: presença ausente ....................................... 250 Ouvidos dominantes, vozes silenciadas ................................ 284 CONCLUSÃO ..................................................................... 301 REFERÊNCIAS .................................................................... 313


Apresentação

Este livro é resultado de minha dissertação de mestrado defendida em abril de 1996 no Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Confesso que fiquei muito hesitante em publicá-la sem realizar um trabalho de requalificação e atualização, contudo, isto seria, agora, um outro texto. Mexer aqui e ali, ampliar um pouco, recortar, suprimir partes seria uma espécie de reforma forçada. Hoje, o texto, em várias passagens, certamente seria outro. A decisão veio do apoio e do incentivo de várias pessoas que julgaram


Ouvidos Dominantes − Vozes Silenciadas

estudo pertinente e atual bem como do Conselho Editorial da Argos. O livro está dividido em três partes. Na primeira delas − Cultura no Plural − faço uma revisão histórica dos conceitos de cultura procurando analisar seus efeitos práticos. Isto é, como eles ajudam as pessoas tomarem certas posições a partir dos significados que a palavra carrega. Narrativas e discursos conservadores se aninham nas palavras impondo-lhes significados que ajudam a fortalecer posições sociais e culturais excludentes. Problematizo, ainda nesta parte, os conceitos e implicações do termo cultura popular e os embates epistemológicos e práticos travados entre diferentes posições e grupos. Relativismo? Populismo? Miserabilismo? Circularidade? Autonomia cultural? Heteronomia? É possível pensar um diálogo entre as culturas? Fechando esta primeira parte, apresento uma discussão acerca de possíveis efeitos conceituais de cultura no âmbito escolar. Perspectivas elitistas, universalistas, tecnicistas, escolanovistas, comunitaristas, multiculturalistas são analisadas do ponto de vista das disputas políticas e culturais que perpassam tais modelos. Fica nesta parte demarcada a provisoriedade das conquistas e a necessidade da luta permanente. Não há como baixar a guarda.

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Noeli Gemelli Reali

Na segunda parte − Migrantes Rurais no Contexto das Políticas Públicas Locais − procuro compreender e posicionar as diferentes narrativas que compõem as políticas locais da escolarização municipal. Presença em nível discursivo e oficial de uma política da diferença, vai aos poucos revelando as fragilidades e as contradições de uma narrativa elaborada em bases epistemológicas e políticas confusas. A seleção de materiais de ensino (textos, exercícios), enquanto proposta oficial, nega a política do outro. Há uma grande diferença entre o dito e o feito. O que constatei foi a fabricação do/a operário/a e o apagamento da memória camponesa. Na terceira parte − Migrantes Rurais no Contexto da Sala de Aula − o espaço microssociológico da sala de aula e as políticas discursivas dominantes ganham materialidade. A identidade cultural das crianças migrantes é sistematicamente apagada num jogo onde o poder − desigualmente distribuído − vai definindo os vencedores. Os ouvidos dominantes da professora vão silenciando as vozes e a memória das crianças migrantes.

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