Fazendo escola (ou refazendo-a?)

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Reitor: Odilon Luiz Poli Vice-Reitora de Ensino, Pesquisa e Extensão: Maria Aparecida Lucca Caovilla Vice-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento: Claudio Alcides Jacoski Vice-Reitor de Administração: Antônio Zanin Diretora de Pesquisa e Pós-Graduação Stricto Sensu: Maria Assunta Busato Faire école (ou la refaire?) Copyright © 2011 by Thierry de Duve/Les Presses du Réel. All rights reserved. Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem autorização escrita do Editor. 700.7 D985f

Duve, Thierry de Fazendo escola (ou refazendo-a?) / Thierry de Duve; tradução Alexânia Ripoll. – Chapecó : Argos, 2012. 345 p. ; 23 cm. – (Grandes Temas ; 19) Inclui bibliografias. Tradução de: Faire école (ou la refaire?), 2011. ISBN: 978-85-7897-045-1 1. Paris – Academia de Belas-Artes. 2. Escolas de belas-artes. 3. Arte – Estudo e ensino. I. Título. II. Série. CDD 21 – 700.7

Catalogação elaborada por Caroline Miotto CRB 14/1178 Biblioteca Central da Unochapecó

Todos os direitos reservados à Argos Editora da Unochapecó Av. Atílio Fontana, 591-E – Bairro Efapi – Chapecó (SC) – 89809-000 – Caixa Postal 1141 (49) 3321 8218 – argos@unochapeco.edu.br – www.unochapeco.edu.br/argos Conselho Editorial: Rosana Maria Badalotti (presidente), Carla Rosane Paz Arruda Teo (vice-presidente), César da Silva Camargo, Dirceu Luiz Hermes, Elison Antonio Paim, Érico Gonçalves de Assis, Maria Aparecida Lucca Caovilla, Maria Assunta Busato, Murilo Cesar Costelli, Tania Mara Zancanaro Pieczkowski Coordenador: Dirceu Luiz Hermes Apoio:

www.margs.rs.gov.br


Sumário

Prefácio As questões que definem Fazendo escola (ou refazendo-a?) Gaudêncio Fidelis

9

A título de introdução: a experiência de Bordeaux

15

Capítulo 1 – Fazendo escola? – A questão

41

Análise

41

Talento e criatividade

46

Ofício e meio

48

Imitação e invenção

49

Talento, criatividade, atitude

55

Ofício, meio, prática

57

Imitação, invenção, desconstrução

58

Talento, criatividade, julgamento

61

Ofício, meio, tradição

63


Imitação, invenção, simulação

68

Síntese

71

Simulação

75

Tradição

77

Julgamento

79

Ficção

82

Fazendo escola

95

Capítulo 2 – Fazendo escola? – O debate

97

Introdução

97

1. Sobre casas de tolerância, ou: “Existe um abismo entre a tolerância e a renúncia.” 100 2. Sobre o resultado, ou: “A dimensão cultural é uma falsa nata.” 105 3. Sobre a simulação, ou: “É a escola ‘um sobre um’.” 118 4. Sobre a transmissão, ou: “Uma corrente com dois elos é uma algema.” 135 5. Fazendo escola, ou: “É preciso assumir esta ambiguidade.” 152 Capítulo 3 – Hipótese de escola 157 Prefácio, 2005 157 Um ponto de partida: ensinar é transmitir 158 Uma constatação: é possível fazer arte com qualquer coisa 161


Um princípio: restituir um conteúdo técnico à arte em geral 168 Uma esperança: restituir a tradição aos artistas 171 Uma convicção: teoria e prática a serviço da formação estética 179 Uma necessidade: a História da Arte a serviço da transmissão 182 Um combate: defender a especificidade do ensino de arte 190 Uma prioridade: a formação dos alunos iniciantes 202 Uma ética: colocar a transmissão estética em seu devido lugar no mundo da arte 209 Capítulo 4 – Finalidade(s) das escolas de arte? Retorno crítico aos primeiros anos da ERG 225 Teoria 231 Prática 233 Finalidades pedagógicas e utopia política 236 Oferecer ao artista seu devido lugar na sociedade? 240 Uma escola de arte sem modelo 244 Capítulo 5 – Finalidade(s) das escolas de arte? Reflexões sobre a “Denegação nas artes plásticas” 251 O caso francês 254 O caso alemão 267


Os quatro destinos do casal belas-artes versus Bauhaus

280

Coda

290

Capítulo 6 – Para concluir sem concluir: A experiência de Gand

293

2003 – Sobre o projeto e o ensino de arte em geral

296

2004 – Sobre o projeto e o conteúdo do ensino de arte

309

2005 – Sobre o projeto e as finalidades do ensino de arte

318

Postscriptum

341


Prefácio As questões que definem Fazendo escola (ou refazendo-a?) Gaudêncio Fidelis

Fazendo escola (ou refazendo-a?) é o primeiro livro de Thierry de Duve publicado no Brasil. Quando surgiu a ideia de traduzir um de seus textos nos ocorreu escolher aquele que estivesse ainda à margem do circuito internacional de publicações. Muitos de seus livros, publicados em diversas línguas, são mundialmente conhecidos, e Fazendo escola tinha até então sido publicado somente em francês (a primeira edição é de 1992 e a versão ampliada é de 2008, cuja tradução vemos aqui), com uma circulação relativamente pequena de exemplares. Sua segunda edição foi publicada em uma coedição pela Les Presses du Réel e o Musée d’art moderne et contemporain de Genebra (MAMCO). Na época, o livro mostrou-se um sucesso pela visada crítica que empreendeu ao abordar o assunto do ensino da arte. Os sofisticados empreendimentos teóricos de Thierry de Duve, claramente definidos em seus livros como Pictorial Nominalism (University of Minnesota Press, 1991), Clement Greenberg Between the Lines (Dis Voir, 1996), Kant After Duchamp (MIT Press, 1996), Sewn in the Sweatshops of Marx: Beuys, Warhol, Klein, Duchamp (The University of Chicago Press, 2012), e seu extraordinário Voici: 9


100 ans d’art contemporain, um livro/catálogo que se originou de sua igualmente surpreendente exposição com o título homônimo realizada no Palais des Beaux-Arts em Bruxelas, só para citar alguns, assinalam um pensador empenhado em abrir novas portas para a experiência reflexiva no campo da arte. Fazendo escola demonstra uma posição militante diante do ensino e uma disposição de encarar os problemas de frente. Filósofo e historiador de arte, Thierry de Duve investe consideravelmente em uma disposição “marginal” como ele mesmo assinala, o que lhe possibilita permanecer crítico diante das reflexões que estão alinhadas com os padrões já estabelecidos da academia. Ao abordar a formação artística, sua empreitada crítica assume uma aplicabilidade prática que se caracteriza como singular no campo do pensamento sobre o ensino da arte. Nesse livro ele expõe a crise das principais estratégias de ensino e diz que precisamos abandonar os modelos estabelecidos e obsoletos como a Bauhaus e o modelo acadêmico. Ao fazê-lo, de Duve sugere ingressar em um território de exploração singular no campo do aprendizado que deixe de lado os mitos historicamente construídos como a criatividade, cuja gênese pode ser encontrada na concepção do artista genial. O autor critica a exploração do processo criativo que se vê instrumentalizado através de um espaço expressivo-confessional para o aluno em “formação”, produzindo uma excessiva psicologização que teria tomado de assalto as salas de aula aproximando por demais o contexto do ensino de uma natureza subjetiva. As questões que de Duve desenvolve em Fazendo escola atingem o próprio centro da epistemologia do ensino e dos métodos e procedimentos que alimentam aquela que pode ser reconhecida hoje como uma indústria da formação de artistas. Movido pela paixão do ensino da arte, teoria e história, o texto navega pelos meandros do aparato de formação artística (que conhecemos como escola de arte), 10


mantendo sempre um firme propósito objetivo, ainda que profundamente ancorado em questões teóricas e filosóficas. Nesse processo ele aponta um corolário de problemas a serem abordados por todos os que têm se engajado na formação de novos artistas. Fazendo escola é um livro para aqueles que acreditam no aprendizado da arte como uma práxis libertadora e não academicista. Vale salientar ainda que o texto tem muito a informar outras áreas de atuação artística como as disciplinas de crítica e curadoria, pois nos faz entender mais profundamente os meandros do ensino e aprendizado da arte, da formação do artista e do processo de aquisição do conhecimento sobre arte. O texto é repleto de relatos e experiências que mostram que é necessária a introdução de “estratégias críticas de distanciamento” para que o sucesso da “transmissão”, termo utilizado por de Duve para definir como pode ser caracterizado o processo de ensino, se dê de modo produtivo e libertário para o artista em formação. A extrema relevância desse texto torna-se ainda maior em virtude da ausência de publicações de fôlego acerca do assunto, assim como uma produção de conhecimento mínima sobre o ensino da arte que nos possibilite contemplar alternativas para aquilo que podemos considerar um falido sistema de formação artística que se mostra em vigor em diversas partes do mundo. Talvez seja o caso de pensar inclusive que esta falência não se aplica somente à área artística, mas que é necessária uma reavaliação no âmbito mais geral da academia e suas modalidades de ensino. Parece que o meio se recente de colocar em discussão os procedimentos e a atualidade das metodologias de ensino estabelecidas, visto que a tendência é de que tais textos sejam produzidos justamente por aqueles que encontram-se no domínio da experiência do aprendizado. Além do mais, o ensino da arte não tem se caracterizado por uma tradição crítica como outras disciplinas próximas, tais como a curadoria e mesmo a História da Arte, ainda 11


que algumas reformulações tenham sido levadas a cabo aqui e ali de tempos em tempos. Ao privilegiar o julgamento estético como forma de compreensão do universo da arte e da tradição – entendendo tradição como o imenso lastro de produção artística realizado por nossos predecessores –, Thierry de Duve introduz diversas ferramentas para a reflexão sobre o ensino da arte. Uma delas é justamente a necessidade de transmitir essa tradição para os estudantes, um vasto campo do qual o futuro artista precisa estar ciente. Ele advoga portanto o retorno da História da Arte e da Estética a esse repertório de transmissão, duas disciplinas que para ele têm sido negligenciadas sistematicamente. O autor promove também uma crítica à fetichização dos meios nas escolas de arte, à banalização da interdisciplinaridade, ao cruzamento das mídias e à divisão do campo de trabalho em facções (figurativos, conceituais, abstratos) visto que estas se mostram desastrosas para um ambiente fértil que a formação artística deveria fomentar. O emprego de uma teoria sobre arte como uma plataforma de disseminação de informação que seja contígua a um volume de conhecimento que lhe é indispensável, mostra ser um dos aspectos fundamentais reivindicados por de Duve. Ele propõe ensinar a História da Arte não só de uma maneira crítica, mas mais do que isso: com a consciência de que sua estruturação é construída por intermédio da ideologia e da política e que o seu ensino deve explicitar sua condição ideológica. O autor assinala ainda que a História da Arte, assim como a Estética (para ele a primeira é empírica e a segunda crítica), não deve ser vista como disciplina teórica no sentido estrito do termo, e sim instrumento de reflexão capaz de fornecer as ferramentas necessárias para a introdução do aluno em uma tradição artística, requisito que ele considera indispensável para uma estrutura eficaz em que o aprendizado possa se desenvolver. Ao mesmo tempo, Thierry 12


de Duve avisa-nos que a excessiva introdução do exercício da crítica na sala de aula transformou os artistas (ou futuros artistas, melhor dizendo) em reféns dos críticos e teóricos. Faz-se necessário, portanto, promover um delicado balanço entre os dois principais campos de atuação, o da teoria e o da prática. No entanto, o texto de de Duve aborda a raiz de questões como valor estético e canonicidade e suas origens dentro da estrutura organizacional da formação em escolas de arte. Talvez ainda mais que isso, Fazendo escola oferece um considerável número de insights para a abordagem do ensino fora das estruturas de pensamento movidas pelos agentes que proclamam a definição pública do papel de artista na sociedade, uma falácia que ganha insistência ainda hoje em diversos programas acadêmicos. Para ele a falência do modelo da escola de Belas-Artes não é necessariamente negativa e a ausência atual de uma plataforma de sucesso a ser seguida deve ser vista com otimismo, diante da possibilidade de recriar uma escola que seja capaz de responder as perguntas postas para a contemporaneidade e transformá-la no lugar privilegiado da “formação do julgamento”. Motivado por suas experiências de ensino, tais como no Departamento de Artes Visuais da Universidade de Ottawa, pela Escola de Pesquisa Gráfica (ERG), em Bruxelas, e por meio do projeto de criação da Escola de Belas-Artes de Paris, do qual foi diretor, projeto este interrompido em 1993 pelo governo Jacques Chirac, e ainda no Sint-Lucas Beeldende Kunst, em Gent, Thierry de Duve mostra-nos que a tarefa de transmissão do ofício da arte decorre de uma disposição ética que se perdeu ao longo da excessiva instrumentalização dos métodos academicistas, mas que pode ser recuperada em algum momento como forma de restaurar a experiência do ensino. Para ele, é preciso primar pelo exercício daquilo que pode ser considerado específico desse processo de aprendizado: o de que a arte é o terri13


tório por excelência da liberdade, o componente mais relevante de sua constituição e justamente por essa razão o mais difícil de passar adiante. É preciso ainda que tal “modo de transmissão” de que ele nos fala seja repassado de forma que alcance um público de maneira que este possa assimilar a informação sem ser discriminado como sendo este ou aquele estudante de arte, mas um indivíduo cujo talento possa ser despertado e eventualmente tornar-se “artista”. Coloco a palavra entre aspas porque me parece que de Duve faria neste caso, já que para atingirmos o status qualitativo que se deve esperar de uma escola de arte é necessário que algumas convenções sejam quebradas, entre elas o mito do indivíduo genial, ou do artista profissionalizado, que sai da academia pronto a exercer a suposta profissão de artista. Ao reivindicar a “reabilitação” da noção de talento, as proposições de de Duve mostram-se por demais pertinentes dentro de um contexto que exageradamente vem proclamando o privilégio do profissionalismo e da instrumentalização da criatividade como forma de alocação da subjetividade do futuro artista. Por meio de sua crítica rigorosa e até mesmo de um considerável caráter utópico, esse texto, como ele mesmo escreve, “[...] pode reatar o diálogo com aqueles e aquelas que lutam diariamente para que jovens artistas possam surgir em estruturas que não mudarão da noite para o dia.” Fazendo escola (ou refazendo-a?) demonstra uma crença no potencial de transformação das escolas de arte por intermédio do questionamento de novos métodos de ensino e da pedagogia, construindo uma leitura indispensável pelos desafios que propõe. Porto Alegre, julho de 2012.

14


Sobre o autor Thierry de Duve: é historiador de arte e filósofo, professor emérito da Universidade de Lille 3. Publicou inúmeros livros sobre arte e estética, entre eles Kant after Duchamp (The MIT Press, 1996), Clement Greenberg Between the Lines (Dis Voir, 1996) e Sewn in the Sweatshops of Marx: Beuys, Warhol, Klein, Duchamp (The University of Chicago Press, 2012). Ele ocasionalmente tem organizado exposições como Look: 100 Years of Contemporary Art, realizada para o Palais des Beaux-Arts em Bruxelas, em 2000, e a representação da Bélgica para a Bienal de Veneza, em 2003. No Brasil ministrou seminários no Centro Cultural Maria Antônia (2005), na Fundação Joaquin Nabuco, em Recife (2006), e na Universidade de São Paulo (USP, 2010).


Argos Editora da Unochapecó Site: www.unochapeco.edu.br/argos Título

Fazendo escola (ou refazendo-a?)

Autor

Thierry de Duve

Tradução Revisão técnica Coleção Coordenador Assistente editorial Assistente de vendas Secretaria Divulgação, distribuição e vendas

Alexânia Ripoll Gaudêncio Fidelis Grandes Temas Dirceu Luiz Hermes Alexsandro Stumpf Neli Ferrari Leonardo Favero Neli Ferrari Felipe Alison Zuanazzi

Projeto gráfico e capa da coleção

Alexsandro Stumpf

Capa desta edição

Alexsandro Stumpf

Diagramação

Caroline Kirschner Mariani Tauchert

Preparação dos originais

Rodrigo Junior Ludwig

Revisão

Carlos Pace Dori Rodrigo Junior Ludwig

Formato Tipologia Papel Número de páginas

16 X 23 cm Minion Pro entre 10 e 14 pontos Capa: Supremo 250 g/m2 Miolo: Pólen Soft 80 g/m2 345

Tiragem

1200

Publicação

2012

Impressão e acabamento Apoio

Gráfica e Editora Pallotti – Santa Maria (RS) Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs)


Este livro está à venda:

www.travessa.com.br

www.livrariacultura.com.br


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