JORNAL DO CURSO DE PSICOLOGIA DA NEWTON
N.5| Outubro | 2017 | ISSN 2526-6365
Zeitgeist
EDITORIAL A Mona Lisa é a pintura mais famosa de todas, a mais reproduzida das obras de arte, a mais visitada no museu do Louvre. Leonardo Da Vinci, o gênio do Renascimento que a pintou, certamente fez obras mais lindas, como por exemplo esta acima, “A Anunciação”, pintada entre 1472 e 1475. Muito mais bela em composição, cores, tema e tudo. Afinal, o que faz A Gioconda (outro nome pelo qual ela é conhecida) tão famosa e relevante? O mistério! O olhar, os olhos sem cílios e sem sobrancelhas, o vestido, a posição com as mãos sobrepostas em decoro, o fundo enfumaçado e fabuloso... o sorriso. É claro que o fato dela ter sido roubada do Louvre no início do século XX e depois recuperada em aventura policial de folhetim, fotografada e publicada em jornais e revistas desde então, favoreceu sua fama, “na era da reprodutibilidade técnica”. Mas o sorriso com os lábios fechados, aberto à interpretações mil, é misterioso o suficiente: o sorriso da Mona Lisa. Tanto que virou filme com a Júlia Roberts, de novo, “O Sorriso da Mona Lisa” (2003). Filme que não fala do polímata Leonardo ou explica o mistério da obra, mas sobre uma professora de História da Arte que inspirava suas alunas a serem livres. Um perigo, não é mesmo? Liberdade feminina. Foi justamente este o filme escolhido para iniciar os debates de um grupo feminista do curso de Psicologia: EM-PENHA. Gostaria de dizer feminista-anarco-punk, mas não é o caso, ainda. É um grupo de estudos sobre as mulheres na psicologia e no mundo. Um grupo que se dedica a pensar e discutir o espaço, o pensamento das mulheres, através de estudos e debates, tudo bem acadêmico (no bom sentido!) e em alto nível. Assim, abrindo o espaço do Zeitgeist para este debate, além da capa da Mona Lisa em homenagem e da coluna de citações com a Simone de Beauvoir, trazemos nesta edição uma matéria especial da Ellen Matias, nossa nova estagiária de jornalismo, sobre o ativismo do EM-PENHA e o empoderamento feminino. Também a palavra do nosso aluno Lucas sobre seu percurso no curso e as indicações culturais da professora mais chique do curso, a Ana Paula Manso. Seguimos em frente! Força às mulheres da Psicologia, avante!
HOMERO NUNES
EXPEDIENTE ZEITGEIST | JORNAL DO CURSO DE PSICOLOGIA DA NEWTON | ISSN 2526-6365 Coordenação: Andreia Barbosa de Faria Jornalista Responsável: Homero Nunes Estagiária de Jornalismo: Ellen Matias Produção: Núcleo de Produção Acadêmica da Newton - NPA Projeto Gráfico| Ariane Lopes
Dúvidas, críticas e sugestões: homero@newtonpaiva.br
COM A PALAVRA, O ALUNO Lucas Araújo Aluno do 10° período de Psicologia da Newton
O QUE ESPERAR DA TEORIA QUE TE ESCOLHE Em 1946, Jean Paul Sartre disse que “o homem, estando condenado a ser livre, carrega nos ombros o peso do mundo inteiro: é responsável pelo mundo e por si mesmo enquanto maneira de ser”. É com esse pensamento que começo a descrever sobre uma das escolhas mais difíceis para o acadêmico durante a sua graduação em psicologia. Não é de hoje que temos conhecimento sobre as inúmeras correntes teóricas que ciência humana desenvolveu e ainda desenvolve ao longo do tempo, cada uma com características e detalhes que dirão somente dela. Não muito diferente, a psicologia se caracteriza por essas diversas e distintas raízes que não cabe a mim tentar descrever ou qualificá-las, deixo isso para nossos teóricos e estudiosos em suas especialidades. Porém, ter conhecimento base sobre as inúmeras possibilidades de escolha, se torna essencial para o desenvolvimento do estudante enquanto um sujeito disposto a se enriquecer culturalmente. É diante da possibilidade de escolha, que temos o amargo e incômodo costume de ficarmos paralisados, inertes perante ao desenvolvimento. Quando decidimos por algo, acabamos escolhendo muitas vezes aquilo que talvez não descreva o que realmente queríamos. Sobre isso, Sartre nos diz que: -“a escolha é possível, em certo sentido, porém o que não é possível é não escolher. Eu posso sempre escolher, mas devo estar ciente de que, se não escolher, assim mesmo estarei escolhendo”. (SARTRE, J., O Existencialismo é um Humanismo, 1946). Quando iniciei o curso de psicologia, jamais imaginei que um dia iria me deparar com uma escolha tão grande e de suma importância para a minha formação profissional. Até o terceiro ou quarto período, quase na metade da graduação, o alto nível da angústia era notoriamente percebido, isso devido a passividade diante da possibilidade de escolha da teoria que me acompanharia e seria aperfeiçoada pelo resto de toda uma vida. Com todo esse emaranhado de ideias,
encontrei-me com o texto de Émile Durkheim, que diz - “O indivíduo só poderá agir na medida em que aprender a conhecer o contexto em que está inserido, a saber quais são suas origens e as condições de que depende. E não poderá sabê-la sem ir à escola, começando por observar a matéria bruta que está lá representada”. (Durkheim, Revista Nova Escola, 166, out 03). Foi então quando eu percebi o que deveria ser feito. Hoje, no 10° período do curso, faltando apenas alguns meses para encerrar essa jornada, percebo o quanto foi importante me colocar disposto a aprender. Ter a liberdade e a disponibilidade para disfrutar de tudo que foi oferecido durante a graduação. Se hoje me coloco em uma posição firme, em que digo da certeza da minha escolha, é porque me permiti desfrutar de todos os encontros oferecidos no meio acadêmico. Por mando do acaso ou pela liberdade de escolha, quando colocado diante de toda a grade curricular, pude me encontrar em três matérias que foram ofertadas como optativas. Essas, foram fundamentais para que eu me achasse na psicologia, sendo uma delas a base para a monografia que descrevo como trabalho de conclusão de curso. O que quero dizer é que por mais que haja uma suposta certeza, devemos nos permitir, devemos nos colocar dispostos as experiências de cada vivência. Um professor disse certa vez em sala de aula, que cada profissional tem a teoria que merece. É de se concordar plenamente com isso, uma vez que a escolha feita por exclusão e não por afinidade, pode aumentar ainda mais as chances de arrependimento daquilo que se escolheu. Para finalizar, gostaria de citar Émile Durkheim trazendo em seus pensamentos a ideia de –“é preciso sentir a necessidade da experiência, da observação, ou seja, a necessidade de sair de nós próprios para aceder à escola das coisas, se as queremos conhecer e compreender”. (Durkheim, Revista Nova Escola, 166, out 03)
COMPORTAMENTO GRUPO EM-PENHA EMPODERA O FEMINISMO NA PSICOLOGIA Em um curso formado majoritariamente por mulheres, por que apenas os homens prevalecem nas referências bibliográficas de cada disciplina? Esse foi o questionamento levantado pelas meninas do EM-PENHA. A partir dessa problemática, surgiu a ideia de criar um grupo de estudos entre alunos e professores do curso de psicologia, para discutir o assunto. No primeiro encontro, no dia primeiro de julho de 2017, os participantes conheceram autoras que fazem parte do arcabouço teórico e que também são relevantes para o curso, mas que não passavam de uma espécie de sombra ou pouco conhecidas pelos alunos. Após esse encontro, concretizou-se o objetivo da formação do grupo, que até então não tinha um nome. A partir de várias conversas e discussões, o nome EM-PENHA foi o escolhido pelas alunas, alicerçado em alguns conceitos da psicologia. Segundo Dominique Coelho, uma das líderes do grupo, o uso do hífen foi proposital, porque em algumas correntes da psicologia o “tracinho significa conexão”, explica. Daí o nome EM (empoderamento) - (hífen, conexão) PENHA (personagem que sentiu na pele o peso de ser mulher). Além de ter dado peso ao nome do grupo, foi uma forma de prestar uma homenagem à Maria da Penha, cuja sanção da lei completou dez anos em 2016. O objetivo era dar ênfase a algum termo muito falado e ligado ao poderio feminino e à uma personalidade que representasse a força da mulher na sociedade e que estivesse marcado a história de alguma forma. O grupo recebeu apoio da coordenadora do curso, Andréia Barbosa de Faria e do coordenador da clínica de Psicologia, Fernando Dório, que segundo Amanda Oliveira, outra aluna que também media as rodas de conversa do grupo, é padrinho do EM-PENHA. “Ele sempre nos dá um apoio. Seja em questões burocráticas, ligadas ao espaço e local dos encontros ou alguma dificuldade, pelo fato de estarmos trabalhando com pessoas”, afirma. Dominique contou que a ideia inicial era a criação de uma equipe de estudos para analisar a representativi-
dade da mulher na psicologia e explorar o número de teóricas existentes, nesse âmbito, que são pouco vistas e reconhecidas em um curso em que a maioria de seu público é feminino. Mas o que era pra ser apenas um grupo de estudo, tomou proporções maiores e caminhou para o seu terceiro encontro, neste mês de outubro. As alunas do curso de psicologia não imaginavam que a ideia alcançaria repercussão e ficaram surpresas com o crescimento do público a cada encontro. Segundo elas, o grupo está progredindo e muitas personalidades de movimentos feministas se interessaram pela iniciativa e oferecem seu apoio. “O grupo proporcionou a oportunidade de sair do contexto acadêmico e nos levou além dos muros da faculdade. Estamos tendo a chance de expandir uma ideia que nasceu aqui, para outras pessoas que não estão dentro da academia, que não possuem o mesmo acesso à informação, como nós temos. Acredito que isso seja o mais legal dessa iniciativa: levar empoderamento para outros grupos, que estão fora do contexto acadêmico”, disse Amanda. A roda de conversa acontece toda última quarta-feira do mês, e é dividida em duas etapas. Primeiramente há uma dinâmica, seja com a apresentação de um vídeo, um filme ou imagens, logo depois há uma discussão envolvendo o tema escolhido. As alunas preparam uma programação para cada encontro. No primeiro, houve uma discussão sobre o terceiro capítulo do livro “O Segundo Sexo”, da Simone de Beauvoir e o filme “O sorriso de Monalisa”. No encontro de setembro, o tema foi “A cultura do cuidado”, a partir do filme “Que horas ela volta” e na programação de outubro o tema escolhido foi “Relacionamentos abusivos”. Amanda e Dominique enfatizam que estão muito satisfeitas com o apoio da instituição e da coordenação do curso de Psicologia e deixam o convite a todos para participarem do grupo. De novo: toda última quarta-feira do mês. Ellen Matias Da redação do ZEITGEIST
FALE-ME MAIS SOBRE...
SIMONE DE BEAUVOIR (1908 – 1986) Escritora e intelectual francesa, autora de diversos livros, ensaios e estudos, considerada um símbolo do movimento feminista. Frequentou os círculos da filosofia existencialista e conquistou sua posição de independência e pensamento próprio, no trabalho e na vida. Avessa ao casamento e às convenções tradicionais, manteve um relacionamento aberto com o filósofo Jean-Paul Sartre por toda a vida. Abaixo uma seleção de frases de Simone de Beauvoir:
“Não se nasce mulher: torna-se.” “Quando se respeita alguém não queremos forçar a sua alma sem o seu consentimento.” “Não acredito que existam qualidades, valores, modos de vida especificamente femininos: seria admitir a existência de uma natureza feminina, quer dizer, aderir a um mito inventado pelos homens para prender as mulheres na sua condição de oprimidas. Não se trata para a mulher de se afirmar como mulher, mas de tornarem-se seres humanos na sua integridade.” “Ninguém é mais arrogante em relação às mulheres, mais agressivo ou desdenhoso do que o homem que duvida de sua virilidade.” “Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilantes durante toda a sua vida.”
O INDICADOR | PELA PROFESSORA ANA PAULA MANSO LIVROS ENVIAR: O GUIA COMPLETO DE COMO USAR O E-MAIL COM INTELIGÊNCIA E ELEGÃNCIA
Will Schwalbe e David Shipley, 2008. Apesar de usarmos muito mais o watsapp em nosso cotidiano, o email é o canal mais apropriado para nossos contatos formais. O livro ENVIAR, de David Shipley e Will Schwalbe, apresenta uma série de situações, provavelmente já vivenciadas por todos nós, tais como ter enviado email para a pessoa errada, esquecido de redigir ou anexar mensagens, bem como emails longos e com vários temas no mesmo documento. Quantas vezes nos arrependemos de ter enviado uma mensagem e, ilusoriamente tentamos recapturá-la? Quantas vezes julgamos que a mensagem está clara, mas na verdade está ambígua ou mesmo oculta? Sabemos que o processo de comunicação é complexo e pressupõe certos cuidados, para que sejamos compreendidos. Shipley e Shwalbe, percorrem inúmeras situações, muitas delas bem humoradas, para indicar um bom termo para nossos email. Informar sem emoção, como se desculpar, escolher palavras certas, encaminhar com ou sem cópia, pontuação, o que fazer quando se envia um email capaz de arruinar uma carreira são alguns dos temas apresentados neste guia.
O
SEGREDO DOS CORPOS
Vincent Di Maio e Ron Franscell, 2017 O que acontece em uma autópsia? A experiência de um médico legista vai revelando por intermédio de casos, os segredos que um corpo denuncia após a morte. Se você assiste alguma série do canal Investigation Discovery, vai gostar deste livro.
DISCOS
Que tal experimentar country music?
TRAVELLER Chris Stapleton, 2015 Especialmente a faixa “Tennessee Whiskey”
NASHVILLE SKYLINE Bob Dylan, 1969 Especialmente a faixa “Girl from the North Country”, em parceria com Johnny Cash
FILMES AMADEUS Milös Forman, 1984 Bela e triste história do talentoso Mozart e seu rival Saliere, numa relação de inveja e ódio. O filme é narrado pelo invejoso Saliere e tem ótimas tiradas de humor. Fotografia excelente e cenários deslumbrantes. Compensa.
A ESCOLHA DE SOFIA Alan Paluka, 1982 Como o título indica, haverá uma escolha, gerando discussões sobre uma das grandes questões de nossa existência: as escolhas que trazem em seu bojo possibilidades e responsabilidades. Com a Meryl Streep e o Kevin Kline.
O QUE MAIS RECOMENDA? Parque Prof. Amilcar Viana É um mirante com uma bela vista da cidade. Árvores frondosas e bem silencioso. Lembra uma fazenda. Rua Cobre, 114, acima do Mercado do Cruzeiro. Parque Rosinha Cadar Há bancos e mesas para jogos. Tem cascatinha, bambuzal, jaqueira, tamarindo e outras tantas. Pequeno e acolhedor. Rua Matias Cardoso, 126. Perto da Assembleia.