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Sinopse Ginny Blackstone pensou que a maior aventura de sua vida ficou para trás. Ela passou o último verão viajando pela Europa, seguindo as tarefas que sua tia Peg dispôs em uma série de cartas antes de morrer. Quando alguém roubou a mochila de Ginny com o pequeno e ultimo envelope azul dentro, ela resignou-se de nunca saber como isso supostamente terminaria.
Meses depois, um garoto misterioso entra em contato com Ginny a partir de Londres, dizendo que ele encontrou a bolsa. Finalmente, Ginny pode terminar o que começou. Mas em vez de terminar sua jornada, a última carta começa uma nova aventura, uma cheia de velhos amigos, novos amores, e experiências de uma vida. Ginny descobre que ela tem de confiar em sua inteligência. . . E em seu coração. Desta vez, não há instruções.
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Prólogo Era àquela hora do dia outra vez. Hora de encarar a pergunta, as duas linhas escritas numa página que de outra forma estaria em branco. Pergunta: Descreva uma experiência de vida que mudou você. Qual foi, e o que você aprendeu? (1.000 palavras) Essa era a redação mais genérica de inscrição, aquela que requeria o mínimo de pesquisa. Ginny havia completado todas as etapas anteriores ― pedindo transcrições, rastejando por cartas de recomendação, duas provas do SAT1, um exame AP2 quatro redações sobre assuntos diversos. Esta redação era última coisa que ela precisava fazer. A cada dia das últimas três semanas ela abria o documento e ficava olhando para a pergunta. Todos os dias, ela começava a digitar a resposta, então apagava o que havia escrito. Ela respirou fundo e começou a digitar.
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O SAT é uma sigla para Scholastic Aptitude Test ou Scholastic Assessment Test) é um exame educacional
padronizado nos Estados Unidos aplicado a estudantes do 2º grau, que serve de critério para admissão nas universidades
norte-americanas (semelhante ao ENEM brasileiro, embora as universidades não se baseiem somente nas notas dos alunos para aprová-los). 2
Advanced Placement ― Teste de nivelamento.
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Minha tia Peg morreu em maio passado. Pelo menos foi quando ficamos sabendo. Ela deixou o país há dois anos, e não sabíamos realmente onde ela estava. Mas então recebemos uma carta de um homem na Inglaterra que nos contou que ela havia morrido de câncer no cérebro. Algumas semanas depois, recebi um pacote que continha treze envelopes azuis... Minha tia Peg morreu em maio passado. Pelo menos foi quando ficamos sabendo. Ela deixou o país há dois anos, e não sabíamos realmente onde ela estava. Mas então recebemos uma carta de um homem na Inglaterra que nos contou que ela havia morrido de câncer no cérebro. Algumas semanas depois, recebi um pacote que continha treze envelopes azuis... Como ela poderia explicar o que acontecera durante o verão? Um dia, treze pequenos envelopes azuis contendo instruções estranhas e muito específicas apareceram, e então Ginny ― que jamais estivera em lugar algum e nunca fizera nada ― de repente estava em um avião para Londres. De lá, ela foi para Paris, Roma, Amsterdã e Edimburgo e Copenhague, e através da Alemanha em um trem e para a Grécia em uma lenta balsa. Ao longo do caminho, ela encontrou uma coleção de virgens de pedra, arrombou um cemitério, perseguiu uma pessoa pela Brick Lane, foi temporariamente adotada por uma estranha família, foi completamente adotada por um grupo de australianos, estreou em um palco cantando Abba em Copenhague, foi retratada por um artista famoso... ... Era um pouco difícil resumir em uma redação padrão de mil palavras. Ela olhou para o calendário que havia feito para si mesma usando papeis adesivos colados na parede próxima à sua escrivaninha. A nota de hoje dizia: Domingo, 12 de dezembro: TERMINAR A REDAÇÃO!!!! NÃO, É SÉRIO, DESTA VEZ, TERMINE A REDAÇÃO!!!!!! E algumas linhas abaixo, a data final para entrega: 5 de Janeiro. Ela arrancou o bilhete da parede e o jogou na lata de lixo. Cale-se, bilhete. Ela não aceitava ordens de nada que tivesse uma linha adesiva.
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Ginny pôs os pés na borda da mesa e inclinou a cadeira para trás. Ela sempre pensara que se candidatar à faculdade seria excitante. Viver longe de casa, conhecer muitas pessoas, aprender coisas novas, tomar algumas decisões equivocadas na vida... Esse pensamento fizera com que suportasse o Ensino Médio. Mas depois do último verão, a faculdade não mais parecia uma aventura tão grande assim. Ela começou distraidamente a percorrer as web sites das faculdades para as quais estava se candidatando. Todos tentavam vender-lhe um futuro da mesma forma que tentariam vender algum tipo de máscara (Cílios mais longos e cheios! Nova fórmula! Foco em cílios anormalmente cheios,
engrossados com alguma coisa) ou um produto para perder peso (Perdi 12 quilos! A imagem de uma mulher rodopiando em um vestido, próxima a uma foto de seu ―eu‖ anterior). Para começar, as fotos eram as mesmas. Aqui havia aquela com um aluno sorridente vagando no caminho arborizado banhado pelo sol. O close de uma pessoa curvada sobre o microscópio, com o sábio professor curvado sobre seu ombro. Havia uma de torcedores, com camisas combinando em um jogo de futebol Americano ou de basquete. Era como se houvesse uma lista de verificação que todas as escolas tinham que seguir. ― Já incluímos ―‖professor apontando para um quadro negro cheio de equações‖‖? Temos ―‖classe sorridente, com alunos envolvidos olhando para o nada‖‖? Pior que isso eram as frases de efeito. Era sempre algo do tipo: ― Nós lhe damos a chave para abrir as portas do sucesso. Ela deixou as pernas caírem da cadeira de volta ao chão e voltou à página em branco e à pergunta.
As cartas chegaram em maio passado... … E foram prontamente roubadas por uns caras em uma praia algumas semanas depois. Ah, sim. Esse era outro problema com esta redação ― o final terrível. Em agosto, ela estava na ilha grega de Corfu, parada na areia branca de uma linda praia. O único envelope que ela deixara para
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ser aberto era o último, e ela deixou para fazer isso assim que nadasse um pouco. Ela estivera em uma balsa por vinte e quatro horas, assando ao sol do deque... E a água aqui era tão, tão bonita. Sua amiga Carrie decidiu nadar nua. Ginny entrou na água morna e clara do mar Egeu vestindo suas roupas. Elas deixaram suas mochilas aos cuidados de seus três amigos, os quais adormeceram enquanto montavam guarda. Lá no alto, sobre as pedras brancas com vista para a água, dois rapazes em uma motoneta pararam e observaram a cena. Ginny estava subindo e descendo nas ondas e observando o oceano encontrar o céu. Ela se lembrou do som dos gritos de Carrie. Lembrou-se de subir em algumas rochas para encontrar Carrie dançando enrolada em uma toalha, nua e chorando, dizendo algo sobre as mochilas terem desaparecido. Ginny ergueu os olhos para ver a motoneta se afastando da cena, de volta ao caminho acidentado que levava à estrada. E foi assim. A carta número treze fora arrancada de sua vida por dois ladrões insignificantes que desejavam sua mochila de baixa qualidade. Lição aprendida? Não vá nadar no mar Egeu deixando o documento mais importante de sua vida em uma mochila na praia. Tome isso, faculdade! Seus olhos se afastaram do texto para a pequena luz vermelha no canto da tela. A luz que simbolizava Keith. Keith era o ator/dramaturgo que ela conheceu quando estava seguindo as instruções de sua terceira carta, aquela na qual ela teria que dar 500 libras para um artista faminto. Ela encontrara a peça de Keith no porão da Faculdade Goldsmith e comprara todos os ingressos para toda a temporada, fazendo com que ele se tornasse a primeira pessoa a lotar o minúsculo teatro estudantil, (mas também acidentalmente assegurando que ninguém mais assistisse á apresentação). Ele era intenso, engraçado, de uma autoconfiança bizarra, bonito... De um jeito estudante-de-artes ― pobre-em-Londres. Mas o mais misterioso de tudo era que ele estava fascinado por ela. Ele a chamava de sua ――louca‖‖.
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Para ser clara ― e ela lembrava a si mesma desse fato diariamente ― Keith não era seu namorado. Eles eram alguma coisa. Era como haviam acertado as coisas, nessas exatas palavras. Seu relacionamento era delicioso e frustrante mente ambíguo, sempre um flerte, nunca definido. Quando Ginny voltou pela primeira vez à América, eles estavam em contato todos os dias. A diferença de horários complicava as coisas, ele estava cinco horas à frente, mas eles sempre conseguiam. Por volta do dia de Ação de Graças, ele entrou em um show ao qual chamou de “panto” assim entre ensaios e sua agenda escolar, seu tempo online diminuiu dramaticamente. Nas últimas semanas, Ginny havia se postado à escrivaninha toda noite, esperando que aquela luzinha mudasse do vermelho para o verde, significando que ele estava online. Eram sete e meia agora, o que significava que era meia noite e meia em Londres. Esta noite provavelmente seria uma daquelas em que ele não estaria online. Ela odiava essas noites. Ela checou seus e-mails. Havia várias mensagens, mas a que chamou sua atenção vinha de alguém chamado oliver273@easymail.co.uk . Alguém mais da Inglaterra tentava entrar em contato, alguém que ela não conhecia. Ela abriu o e-mail. O que ela encontrou foi uma foto. Um grande quadrado azul que preencheu a tela. Levou um momento para que seu cérebro percebesse que era uma imagem digitalizada de um pedaço de papel azul com uma letra muito familiar. Demorou quase um minuto para que ela aceitasse plenamente o que estava vendo. #13
Querida Ginny, Deixe-me lhe contar sobre o sino da divisão. O sino da divisão lhe dirá muito sobre a Inglaterra. Você gosta de aprender sobre a Inglaterra, não? É claro que gosta.
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Veja no Parlamento, quando há uma votação, os membros gritam ―sim‖ ou ―não‖. O Líder diz ― Acho que o ―sim‖ venceu ― ou ― Acho que o ―não‖ venceu ― dependendo de qual lado grite mais e melhor. Às vezes, no entanto, quando não se pode determinar o lado que venceu, eles têm que usar o que é chamado de voto de pé. E é só isso ― você tem que se levantar e se colocar do lado do sim ou do não para que seja contada. Existe um adorável toque de jardim de infância em tudo isso, não?
Falando em jardim de infância... Às vezes os membros do Parlamento estão em recesso quando essas votações acontecem. Só que, ao invés de estarem no tanque de areia, eles normalmente estão no pub3. Assim, os pubs próximos ao Parlamento são por vezes equipados com um sino da divisão, que toca quando uma votação desse tipo ocorre. Quando ele toca, os membros se apressam para voltar e ficar do lado do sim ou do não. O sino da divisão está tocando para você hoje, Gin. Você fez muito nos doze últimos envelopes, se de fato você concluiu tudo o que eles continham. Por tudo o que sei você leu essas cartas em seu sofá em Nova Jersey. Mas eu confio em você. Acho que você está fazendo exatamente o que sugeri que deveria estar: em uma balsa nas ilhas gregas. Se você realmente quisesse, poderia voltar para casa agora mesmo. Talvez já tenha tido o bastante. Ou…
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Pub, deriva-se do nome formal inglês “public house”. É um estabelecimento licenciado para servir bebidas
alcoólicas, originalmente em países e regiões de influência britânica.
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… Ou poderia voltar. Pelo caminho de onde veio. Para Londres. Você quer continuar? Ding, ding. Sim ou não? Serei honesto com você, a partir de agora, as coisas ficarão um pouco esquisitas. Se estiver pronta para parar, faça-o. Aceite o conselho de alguém que sabe das coisas, se sentir a necessidade de ir para casa, ouça e respeite-a. Pense nisso na praia por um tempo, Gin. Se decidir continuar, você pode ir para a próxima página e... Nesse ponto, a carta parava. Na parte inferior, abaixo da imagem, havia uma mensagem curta:
Desculpe interromper. Você não me conhece, e eu não a conheço. Como pode ver, possuo uma carta (na verdade uma série de cartas) que parecem pertencer a você. Mas como esta última carta contém informações muito importantes, tenho que me certificar de que estou falando com a verdadeira Virginia Blackstone. Se você acha que esta carta lhe pertence, por favor, me avise. Meu nome é Oliver, e moro em Londres. Você pode me encontrar neste endereço. Por um momento, ela não fez nada. Nenhum movimento. Nenhuma palavra. Ela esperou que a informação penetrasse em sua mente. Esta era uma página da última carta. Era uma tarefa incompleta. Este era o universo mais ou menos exigindo que ela retornasse à Inglaterra imediatamente e terminasse o que havia começado. Isto era o destino. Isto era seu cérebro entrando em hiper velocidade. A velha Ginny jamais viajara e não conhecia ninguém em Londres. A velha Ginny pensaria: planeje, tenha calma. Mas a nova Ginny precisava de uma distração, e uma razão para ver seu-quasenão-namorado... E ela conhecia alguém que sabia como fazer coisas improváveis acontecerem.
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Delírios de Londres Ginny tentava processar o que estava vendo. Ela estava flutuando entre o sono e a vigília, então a linha entre sonho e realidade era um pouco incerta. Ela piscou algumas vezes e olhou pela janela outra vez. Não. Isto não era um sonho. Eles estavam mesmo ali. Dois bonecos maciços de neve infláveis, quinze metro de altura ou mais pairando no ar, seus sorrisos maliciosos voltados para a rua abaixo. Grandes monstros brancos de alegria, flutuando como nuvens. Não havia certeza de que eles estavam ali para o bem ou para o mal, se eles estavam subindo ou descendo. Eram tão largos quanto à estrada e bloqueavam o céu. Ela apontou para eles em silêncio. ― Aqueles são os bonecos de neve gigantes da Carnaby Street ― seu tio Richard explicou ― Festivos e perturbadores, do jeitinho que gostamos aqui. Não olhe em seus olhos. Ginny e Richard estavam em um táxi preto fazendo seu lento caminho pelas ruas de Londres. Eles viraram na Regent Street, que parecia uma interminável fila de lojas grandes e pequenas. As calçadas estavam repletas ao máximo de sua capacidade, facilmente acomodando de cinco a dez pessoas lado a lado. Cordões de luzes se derramavam pelas vitrines, cascatas delas, em vermelho, prata e azul. Acima, intrincados padrões de luzes e fios haviam sido enroscados entre cada poste de luz, formando desenhos de notas musicais e trenós. O filme embaçado da exaustão sobre os olhos de Ginny aumentava o brilho.
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― Provavelmente foi um erro vir por aqui ― Richard disse, observando o tráfego através da janela ― Mas achei que você gostaria de ver as ruas de Oxford e Regent durante o movimento das festas. Eu não recomendo fazer compras aqui. Se hoje está ruim, amanhã, véspera de Natal... Será uma loucura para nós. Aquele ―nós‖ queria dizer Harrods, a loja em que ele trabalhava. Era a maior, pior, mais famosa loja de Londres. Richard gerenciava um departamento que lidava principalmente com pessoas ricas e famosas. Ele era o cara que tinha que fazer os arranjos quando a Rainha queria fazer compras, ou quando estrelas de TV, cantores de rock ou pessoas com títulos queriam enviar uma cesta cheia das coisas mais improváveis. Uma vez que o Natal era a época mais difícil do ano para ele, aquela provavelmente não era a melhor hora para que sua sobrinha americana chegasse, mas ele não parecia se importar. Quando ela telefonou e perguntou se poderia vir para o Natal, ele aceitou no mesmo instante. Foi uma negociação complicada do lado de New Jersey, mas ela abordou o assunto com uma confiança que não sabia possuir. Ela expôs a idéia a seus pais: Ir para a Inglaterra seria uma experiência extremamente educacional e expandiria seus horizontes culturais, e ela poderia ficar com alguém da família. Não seria melhor do que ficar sentada em Jersey durante as duas semanas em que a escola estaria fechada? Uma ligação de Richard, com sua fala macia e seu jeito não-se-preocupe-eu-tomareiconta-de-tudo, fechou o acordo. Tudo era mais fácil quando se tinha um adulto responsável com um sotaque maneiro envolvido. Ginny apenas descobriu o fato de que tinha um tio na Inglaterra no final de sua estada no verão, quando Richard revelou que ele e tia Peg haviam se casado antes da morte dela. Richard definitivamente não se parecia com alguém com quem ela se relacionaria este inglês alto, arrumado, que sabia exatamente a largura em que gravatas, colarinhos e lapelas que eram atualmente usados, provavelmente até mesmo quantos milímetros. Ainda assim, ele era tão caloroso e descontraído, tão
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estranhamente pesaroso sobre tudo. E bonito, com seu cabelo escuro levemente encaracolado, seus olhos grandes e sobrancelhas arqueadas. Mesmo o sutil indício de calvície aumentava a suave franqueza de seu rosto. ― Fiz os arranjos para uma ceia de Natal apropriada. ― ele continuou ― Eu não vou cozinhar. Isso seria um desastre para todos os envolvidos. ― Ceia? ― ela repetiu. O fuso horário estava atingindo as bordas de seus pensamentos, tornando tudo um pouco difícil de processar. ― Oh, a ceia... É a melhor parte do Natal. Você tem peru, batatas assadas, cenouras, couve-debruxelas, o pote de molho... O motorista do táxi acompanhava o relato com acenos de cabeça e uma expressão de uma contemplação quase religiosa. ―... De qualquer modo, eu encomendei tudo do trabalho. Eu trarei para casa amanhã. A cozinha de lá é ótima. E terei alguns dias de folga. Poderíamos fazer algum passeio. Existe algum lugar que você queira conhecer? A Torre de Londres, ou… Não sei. Você quer dar uma volta na London Eye4. Eu nunca fui. ― Nunca vou a os lugares que os turistas possam gostar, a não ser a Harrods. Você quer ir à Harrods? Por favor, diga que não. Você já esteve lá, de qualquer modo? Qualquer outro lugar… Ginny assentiu contente. Enquanto eles se dirigiam para o norte e leste em direção a Islington, ela começou a reconhecer mais e mais. Havia a estação Angel Tube, a rua cheia de lojas, o pequeno pub na esquina...
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A London Eye também conhecida como Millennium Wheel (Roda do Milênio), é uma roda-gigante de
observação. Situada na cidade de Londres, capital do Reino Unido, foi inaugurada em 1999 e é e é um dos pontos turísticos mais disputados da cidade.
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― É bem aqui, a segunda com a porta preta. Richard estava falando com o motorista. Ela havia adormecido outra vez, seu rosto amassado contra a janela. Eles chegaram a casa com os seis degraus que levavam à entrada, a rachadura em forma de raio sob eles. Os vasos de plantas ainda estavam lá, cheios de galhos e terra. Richard estava falando com o motorista. Ela havia adormecido outra vez, seu rosto amassado contra a janela. Eles chegaram a casa com os seis degraus que levavam à entrada, a rachadura em forma de raio sob eles. Os vasos de plantas ainda estavam lá, cheios de galhos e terra. Ela imediatamente alcançou a bolsa, mas Richard foi mais rápido, estendendo algumas notas de vinte libras para o motorista. Descer do carro fez com que ela voltasse à realidade. Não é que não estivesse mais frio do que em casa, mas também havia a umidade. A casa de Richard ainda possuía aquela qualidade inexpressiva e estranha, a sensação de que havia sido mobiliada por uma loja de móveis para escritório. A mobília simples em pinho, o carpete baixo, industrial. Havia um novo e grande aparelho de TV, mas nada mais digno de nota na sala de estar. Tinha o ar de uma casa à espera de que seu ocupante aparecesse. Não havia adornos. A cozinha estava em um leve estado de desordem ― embalagens de comida para viagem, garrafas empilhadas no balcão esperando serem levadas para reciclagem, pilhas de sacolas no topo do lixo. Todos os sinais de um homem vivendo por conta própria que estivera correndo sem parar durante semanas. ― Tenho que voltar ao trabalho ― ele disse ― Sinto por você passar o resto do dia sozinha. Aqui está sua chave ― você provavelmente se lembra, a quadrada é para a fechadura de cima. Chaveiros genuínos da Harrods aproveite. E tem bastante comida…
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Ele indicou a cozinha com um amplo gesto da mão. Ginny percebeu o brilho prateado de uma aliança em sua mão esquerda. Ela havia conseguido não notar aquela aliança quando o conhecera. Deus, como ela era distraída na primeira vez em que estivera ali. ― Ficarei bem ― ela disse ― Prometo. Desculpe por aparecer assim quando você está tão ocupado. ― Não se preocupe. Estarei de volta às oito. Talvez nove... Mas tentarei oito. Assim que ele se foi, Ginny arrastou sua mala escada acima. Não foi uma viagem elegante, batendo e chocando nas coisas e na parede. A porta de seu quarto ― o quarto de tia Peg ― estava aberta e esperando por ela. Seria sempre estranho entrar neste quarto. As paredes cor de rosa tinham um estranho brilho à luz pálida da manhã. O cintilar dos papeis que tia Peg colou nas paredes fazia um contraste cruel com o grande pôster de Um Bar no Folies-Bergère5 O bar retrata uma cena do café-concerto Folies-Bèrgere, em Paris. A cena, ao contrário do que aparenta, não foi pintada no Folies-Bergère, mas sim inteiramente criada em seu atelier. A jovem que serviu de modelo, Suzon, no entanto era realmente empregada do célebre café-concerto. Os numerosos elementos presentes sobre o balcão do bar, garrafas de bebidas, flores, frutas, formam uma evolução piramidal, encontrando o cume, não por acaso, nas flores que ornam o colo da servente. Mas o aspecto que mais retém atenção dos críticos é o reflexo de Suzon no espelho. Suas costas não parecem revelar uma imagem exata da cena, tanto no que se refere à sua postura, tanto como a presença de um homem em sua frente, tão próximo que deveria ter tampado a visão do observador. É
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Um Bar no Folies-Bergère (fr: Un bar aux Folies-Bergère) é um óleo sobre tela de pintado por Édouard
Manet e exibido no Salão de Paris em 1882. Foi sua última grande obra.
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difícil concluir se esta anomalia é fruto da vontade do artista ou um simples erro de apreciação. Huysmans, escritor e crítico de arte francês, descreveu com deleite a maneira como o quadro surpreende os que o observam, que trocam observações desorientadas sobre a visão desta tela. O quadro possui a assinatura de Manet no rótulo da garrafa vermelha, no canto inferior esquerdo da tela, o quadro preferido de tia Peg. Richard havia empilhado toalhas e cobertores extras sobre a colcha de retalhos costurada por tia Peg Ginny deixou cair à mala sob a janela e sentou-se no chão, as costas apoiadas na cama, olhando para as paredes, o teto, absorvendo todos os detalhes. Havia duas coisas que ela tinha que realizar enquanto estivesse ali. Primeira Coisa: pegar a carta. Aquilo estava combinado. Ela encontraria Oliver em um café no dia seguinte e ele entregaria a carta. O que significava que ela tinha somente o dia de hoje para fazer A Outra Coisa. Nas duas semanas em que ela planejara esta viagem, Keith passara cada vez menos tempo online. Suas conversas, quando as tinham, eram curtas. Normalmente isso a teria deixado arrasada, mas como ela estava a caminho da Inglaterra, decidira usar isso em vantagem própria. A coisa que Keith mais parecia gostar nela era o fato de que ela às vezes surgia de repente, com alguma história improvável. Então ela não mencionou que estava chegando. Hoje ela apareceria à sua porta. Essa era uma manobra que requeria preparação. Ela conseguira, por meio de um interrogatório criativo, descobrir que ele estaria em casa esta tarde. O momento era perfeito. Ela também trouxera as ferramentas adequadas. Ela esticou o braço e abriu a mala. Sua roupa preferida estava no topo ― um vestido preto novo com bolinhas brancas. Com seu novo par de botas e um par de meias prateadas, era de longe o melhor traje que já possuíra. Hora de um banho, o que exigiria uma luta com o chuveirinho. Ela encharcara o teto muitas vezes com aquela engenhoca durante o verão. Richard também mantivera todos os produtos de toalete
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que Ginny adquirira em sua última visita e os guardara em uma prateleira vazia no banheiro. Uma ducha rápida em si mesma e um banheiro molhado depois (uma grande melhora em sua técnica), e estava na hora de se vestir. Ela fez questão de que as costuras da meia calça se alinhassem perfeitamente aos dedos (um detalhe freqüentemente negligenciado). E então as botas. Ela examinou o produto final no espelho. Estava... Ótimo. Ela estava ótima. Não parecia uma turista. Não parecia alguém que estivesse se esforçando. Ela parecia consigo mesma… Talvez um pouco mais bem vestida que o normal. Uma conferida rápida no cabelo. Quando ela voltou para casa em agosto, sentiu que precisava mudar um pouco. Havia usado o cabelo muito longo sua vida inteira, e ela os mantinha trançados. As tranças se tornaram sua marca registrada, e essa marca já estava desgastada. Ela impulsivamente cortou quatro centímetros nas pontas e tingiu os cabelos de um castanho avermelhado. Todos gostaram do resultado, mas ela ainda não estava acostumada com ele. Estava sempre checando para ver se não estava caído demais, se não iria ficar cobrindo seus olhos em dias de muito vento, ou se iria ficar todo encaracolado quando estivesse nervoso. Ainda assim, ele tinha um brilho bonito e profundo. Era mais... Maduro. Havia mais uma coisa para tirar da mala ― um pequeno presente embrulhado em papel vermelho. Ela o examinou cuidadosamente para ver se o embrulho não estava rasgado. O presente dera trabalho. Ela precisava de alguma coisa significativa, mas não tanto. Algo pessoal, mas não muito. Ela procurou bastante por ele, e finalmente o encontrou. Durante o verão, Keith a encontrara em Paris. Eles se beijaram uma vez. Isso aconteceu em um cemitério, em um monumento de pedra com a forma de uma cópia aberta de Romeu e Julieta. Cópias de Romeu e Julieta eram comuns, mas a que ela descobrira era antiga, de 1905. Tinha capa de couro azul, e era ilustrada em cores semelhantes às de jóias, com as bordas das páginas douradas. Era o tipo de coisa
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que você poderia dar a um estudante de teatro, simplesmente porque era uma coisa legal para um estudante de teatro possuir. E era o tipo de coisa que se poderia dar a alguém como lembrança de seu primeiro beijo. O papel fizera a viagem sem nenhum dano. Ela o embrulhou em uma sacola de plástico para protegê-lo da chuva, colocou em sua bolsa e pegou seu casaco e as chaves. Era hora de fazer sua segunda entrada na vida de Keith. Desta vez ela estava preparada.
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Surpresas e Explicações O caminho para a casa de Keith estava perfeitamente preservado na memória de Ginny, depois dos restaurantes Indianos e dúzias de newsagents6, ruas e ruas de fileiras de casa, todas em vários estágios de reparação. Diferentemente de Nova Iorque, a qual era uma cidade de prédios e apartamentos grandes, Londres era uma cidade de casas, fileiras e fileira de casas com pequenos jardins na frente, casas que tinha muitas famílias, conflitos conhecidos, diferentes épocas conhecidas e níveis de riqueza. E lá estava à casa que ela lembrava tão bem, a casa na qual ela pensava tão frequentemente. Lá estavam às cortinas pretas baratas, tortas como sempre. Lá estava a janela dourada de plástico na porta da frente, a caixa de lixo do lado de fora que estava sempre transbordando, a parede de pedrinhas, e o velho e minúsculo jardim, o qual sempre parecia crescer uma pequena safra de papéis de bala amassados. Como um pequeno aceno à temporada, uma série de luzes de Natal estava envolta a esmo em torno das janelas superiores, amarrada de janela a outra na frente da casa. Piscava numa textura irregular, uma que sugeria a Ginny de que não deveria estar piscando de forma alguma. Do lado de fora estava o carro branco pequeno e gasto de Keith. Ela espreitou na janela da frente para ver se ele estava tão cheio de lixo como sempre. Não estava. Ele tinha obviamente feito uma limpeza recentemente. Exceto por duas sacolas plásticas e algumas páginas impressas no banco do passageiro, estava sem bagunça. A primeira vez que Ginny viu esse carro, ele tinha sido entupido com um cenário teatral inteiro, incluindo uma palmeira inflável (deflacionada, felizmente). 6
Newsagent‖s ― ou newsagents, como é chamada na Inglaterra, é uma empresa que vende jornais,
revistas, cigarros, lanches e, na maioria das vezes, itens de interesse locais.
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Havia luz nas duas janelas do andar de cima, e a batida abafada de música escapava do vidro.
Alguém estava em casa. Deveria ser Keith, ou deveria ser David, o colega de quarto apaixonado de Keith com a terrível namora on-off 7 , Fiona, o cotonete humano. Ela chegou mais perto e ouviu cuidadosamente. O barulho estava vindo da janela da esquerda ― que pertencia a Keith. Pela primeira vez desde que tinha inventado essa ideia, ela sentiu um surto de nervosismo. Tudo isso tinha parecido não hipotético até o momento. No momento entre desligar sua luz à noite e ir dormir, ela tinha imaginado esse momento, a maneira exata que ela bateria, o rosto dele quando abrisse a porta... Agora ela estava realmente aqui, e num minuto, ela realmente veria Keith. A imaginação estava prestes a colidir com a realidade. ― Relaxe ― ela disse a si mesma. ― Você tem a vantagem da surpresa. Apenas seja normal. Claro, o primeiro passo para a normalidade provavelmente não incluía se esgueirar na frente da casa, olhando através das janelas do carro, e falar sozinha. Ela alcançou a bateu forte no painel de plástico. Uma das janelas de cima abriu um pouquinho. ― A PORTA ESTÁ ABERTA! ― Keith gritou. Ginny olhou para cima para ver se ele a estava espreitando, mas não havia cabeça enfiada na janela. Ela estava apenas deixando quem quer que fosse entrar. Embora não parecesse especialmente segura, seu benefício tinha funcionado. Ela abriu a porta lentamente. Instantaneamente, ela foi oprimida pelo cheiro familiar. Detergente, um incenso apimentado, algum tipo de sopa, roupas úmidas, pó de teatro... Era o cheiro de Keith. A porta abriu para a sala e um lance de escadas. A pequena área de recepção estava abarrotada com coisas, sacolas plásticas cheias de jornais, os tênis de Keith, guarda-chuvas, livros. Havia, por alguma razão, um martelo no chão e rolos
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gíria usada para falar que um casal sempre se separa e volta. No Brasil, pode ser chamado de ―casal iô-
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de papel higiênico empilhados no canto. Camisetas e boxers estavam espalhadas sobre o aquecedor no chão para secar. ― No andar de cima! ― ele chamou. ― Basta chegar! Ginny estabilizou-se e rapidamente checou reflexo deformado num cartaz barato moldado para o último show de Keith, Starbucks: The Musical. O cachecol preto de alguém tinha caído exatamente no rodapé dos degraus, fazendo a linha que ela tinha que atravessas para continuar. E pisou nele e fez seu caminho nos degraus acima. Keith sentava no sofá, suas pernas esticadas e seus pés balançavam no grande cesto de plástico. A primeira coisa que ela notou foi seu cabelo. Estava um pouco mais curto, e nem de longe tão desgrenhado quanto estava no verão. O corte de cabelo o fez parecer mais escuro de castanho, não tão loiro avermelhado. Ele estava com uma sobrancelha franzida para a tela do computador, ficando um pouco estrábico enquanto digitava fervorosamente. Ele estava tão atento que não a tinha percebido parada na porta. Ele virou e abriu a boca, pronto para gritar novamente, e a viu em sua porta. Na verdade, ele pulou para trás uma ou duas polegadas. ― Oi ― ela disse, sorrindo ironicamente. ― Lembra-se de mim? Por quase dez segundos, Keith não fez nada além de olhar. Ginny agarrou-se à moldura da porta. ― Tem algo terrivelmente, terrivelmente errado com você ― ele disse finalmente. E eu tenho a intenção de colocá-la num asilo. Você vai entrar, ou vai ficar pendurada na porta desse jeito? Ele empurrou alguns papéis do sofá para abrir caminho para ela. Ela entrou e sentou cuidadosamente, mal conseguindo olhar para ele pela primeira vez. Levou algum tempo para acostumar
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a sobrecarga emocional. Ele vestia um suéter preto, jeans velhos, e um par de meias brilhantes com buracos brilhantes. Ela sorriu para seus dedos tamborilando. ― Por que você não disse que estava vindo? ― ele perguntou. ― Eu queria te surpreender ― ela disse. ― Você deixa todo mundo que bate na sua porta entrar em sua casa? Você nem olhou. ― Eu pensei que você estava aqui para a audição ― ele disse. ― Pessoas têm estado aqui para ler nos últimos dias. ― Audição? ― Uma nova peça sobre a crise financeira. Se chama Quebre o Banco. É o desenvolvimento de algo que eu comecei um tempo atrás chamado Banco: Uma Ópera de Ganância. ― Você não está naquele lance de... Pantomima8? ― Ah ― ele disse. ― Eu tive uma... Discórdia artística com o diretor da pantomima. Como acontece, eu tenho problema com objetificação da mulher em Cinderela, e confiança nos sapatos como significados de identificação. Tenho certeza que você entende. ― Você foi demitido? ― Demitido não é a palavra correta. Também, eu não gosto de ser a parte de trás de um cavalo. Ginny sorriu e sentou no sofá. A chuva vinha através da janela meio-aberta, mas Keith não percebeu ou se importou. Ela alcançou sua bolsa e tirou o presente. ― O que é isso? ― ele perguntou. ― É um bolo de dinheiro? Você trouxe dinheiro para mim? Você quer fazer parte do meu show, não quer? 8
Teatro gestual que faz o menor uso possível de palavras e o maior uso de gestos. É a arte de narrar com
o corpo
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― Sim ― ela disse. ― É um bolo de dinheiro. Keith segurou o presente por um momento e apertou-o levemente. ― Você está me envergonhando. ― Ele olhou para o pacote abaixo. ― Eu não sabia que... Essa era definitivamente nova ― Keith, envergonhado. Suas bochechas até enrubesceram um pouco. ― Abra! ― ela disse. Ele rasgou o papel, revelando uma capa azul. Ele olhou confuso por um momento, depois arrancou mais tiras até que fosse totalmente revelado. Por um momento, ele não disse nada, apenas o abriu e olhou as páginas, as ilustrações. Quando ele finalmente olhou para ela, seus olhos estavam arregalados e a expressão crua e aberta. ― Eu não sei o que dizer Gin. É... É fascinante. Sua vergonha estava pegando. Ginny sentiu seu rosto esquentar, e ela achou que estava segurando cachos de sua saia em seus punhos. ― Eu sei que é um dos seus favoritos ― ela disse. ― Bem, quem não gosto do romântico pacto suicida? ― Apenas pessoas más ― Ginny disse. ― Exatamente. ― Keith olhou para alguma coisa acima, evitando o rosto dela, olhando o traçado do seu novo corte de cabelo ao invés disso. ― Seu cabelo. Você o mudou. Você parece com uma apresentadora de jornal. ― Isso é bom?
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― Você claramente não sabe da minha obsessão de infância com a mulher do tempo. Meu coração ainda vibra quando eu escuto a palavra ―precipitação‖. Eu não acho que já tenha te visto sem tranças. Eu pensei que seu cabelo tinha apenas crescido daquela maneira. Ele virou o livro e sacudiu as páginas por algum tempo. Do lugar de onde seus olhos estavam esvoaçavam nas páginas, Ginny podia ver que ele não estava lendo. Ele estava pensando. O tempo passava. Ginny deu um jeito de se mover lentamente para mais perto dele, até que estava exatamente em seus ombros. Ele não se virou diretamente para ela, mas ela estava se movendo em direção a ele com movimentos quase imperceptíveis. Era isso. O corpo dela inteiro formigava. Ela podia sentir um beijo vindo, da mesma forma que podia sentir uma forte chuva se aproximando. A porta abriu no andar de baixo, fazendo ambos começassem um pouco. Uma voz feminina gritou um oi abafado. Keith olhou em direção ao barulho, colocou o livro na mesinha de café, e se levantou. Ginny presumiu que essa terrível pessoa que havia interrompida estava ali para a audição até a voz gritou lá debaixo. ― É uma falta por aí! David deveria me agradecer melhor! Eu fiquei até tarde por ele e fiquei presa na chuva! ― Fiona? ― Ginny fez careta. ― Não. ― Keith balançou a cabeça e atravessou o quarto. ― Ela se foi. Se foi há muito tempo. Eles se separaram logo depois que você foi embora. É por isso que a grama lá de fora começou a crescer novamente. ― Ele arranjou uma nova namorada? ― ela disse rapidamente. ― Graças a Deus. Você deve estar feliz.
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― Sim. Ele arranjou. É um alívio. Ela é bem mais legal. Só que, sua cobra com raiva moderada é mais legal que Fiona. Tenho certeza que ela está mais feliz em qualquer lugar que esteja agora, queimando órfãos ou qualquer coisa que ela faz com seu tempo livre. Houve passadas rápidas nos degraus e então a garota apareceu na porta. A nova garota era extremamente bonita. Como David, ela tinha uma pele muito escura. Ela era alguns centímetros mais baixa que Ginny, com jeans skinny, com botas marrons, e um agasalho cinza enorme e ligeiramente irregular. Ela não usava maquiagem, mas suas bochechas brilhavam por causa do frio e da umidade. Seu cabelo era um halo de cachos livres que se elevavam, pelo menos, 15 centímetros em volta da sua cabeça. A umidade da chuva estava presa nas pontas dos cabelos, o qual ela estava esfregando com desgosto. ― Me lembre de nunca… ah! Desculpa! Eu vou esperar lá em baixo até você acabarem. ― Está tudo bem ― Keith disse. ― Não é uma audição. Essa é Ginny. A famosa Ginny Virginia. ― Não! ― a garota exclamou. ― Era você, com as cartas? Sua tia é uma artista? ― Sou eu ― Ginny disse estranhamente lisonjeada pela namorada de David ter ouvido falar sobre ela. ― Oh! Keith está sempre falando sobre você! ― A garota entrou e sentou perto de Ginny. ― Eu sou Ellis. É um enorme prazer conhecê-la! Você só... ― É um tipo de visita surpresa ― Keith disse com um sorriso orgulhoso. ― Como é seu jeito. ― Isso é tão excitante! O que você está fazendo aqui? Só visita de Natal? Desculpa, eu estou uma bagunça. Acabo de ter meu último dia no trabalho. Eu peguei um trabalho de Natal na H&M e agora eu terminei!
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Ela jogou seus braços no ar com triunfo antes de desabar no sofá no lugar que Keith ocupava a pouco, tirando suas botas. Ginny forçou um sorriso educado. A nova namorada de David era legal, mas ela também estava se estabelecendo. Ela nem mesmo tinha o radar eu-acabo-de-interromper-ummomento-pessoal. ― As pessoas são tão horríveis quando fazem compras de Natal ― Ellis continuou. ― Eles fazem coisas que você não acreditaria. David quer que eu pegue uma camisa para a irmã dele. Eu peguei a última, e uma mulher tentou arrancá-la das minhas mãos, e quando eu não deixei, ela puxou suas mãos volta, assim... Ela demonstrou. ― Isso parece mais um soco ― Keith disse. ― Tem certeza que esteve trabalhando na H&M, e não numa UFC? ― É difícil falar em alguns dias. Mas eu consegui a camisa. É melhor ele apreciar isso. Keith começou a casar suas meias, colocando-as dentro de pequenos feixes dobrados. Ginny nunca tinha visto Keith dobrar sua roupa antes, mas ele certamente nunca a tinha golpeado com um feixe de meia. Dele colocou cada par dentro do manto, fazendo uma pequena pirâmide com elas. ― O que é isso? Ellis pegou a cópia de Romeu e Julieta e começou a folheá-lo. Isso era muito ― O livro era pessoal. Keith olhou por cima, mas não pediu para que Ellis parasse. Sua pirâmide de meias estava saindo do controle. Ia desabar a qualquer momento. Mesmo assim ele continuou dobrando e empilhando. ― Um presente de Natal de Gin ― ele finalmente disse. ― É o máximo, não é?
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― É tão adorável ― Ellis disse, devolvendo-o. ― Você tem que nos contar sobre seus planos enquanto estiver aqui. Nós temos que sair e te mostrar a cidade. Tem um monte de coisas para fazer em Londres no Natal. ― Competições de comer azevinho e lutas de Natal… ― A voz de Keith estava um pouco resmungona. Ellis pegou uma meia espalhada e jogou-a através do quarto para Keith. Ele deu um meio sorriso e tirou-a do ombro. Sutilmente, em um segundo, Ginny entendeu tudo... Por que Keith estava desconectado tão freqüentemente, por que a porta estava realmente aberta, e que ― tipo de coisa ― realmente significava. Ellis não era a namorada de David. Era a namorada de Keith. O quarto estava insuportavelmente quente. A chuva na janela muito alta. Ela precisava sair dali, pegar o um pouco de ar, dormir... Fazer qualquer coisa. Ela só precisava sair dali. ― Sabe de uma coisa? ― ela disse. ― Eu estou... Eu não dormi no avião. Eu acho que... ― Você gostaria de uma xícara de chá? ― Ellis disse rapidamente. ― Ou café? ― Não ― Ginny se levantou. Ela ficou instável em seus pés. ― Oh, olhe para você! ― Ellis disse. ― Deus, você está exausta. Você deveria tirar um cochilo bem aqui. Keith finalmente voltou à conversa, uma expressão brilhante passou por seu rosto. ―A distância que você irá para pegar uma carona no meu automóvel magnífico! Eu mal consigo te culpar. Vamos, então. Eu te levo de volta. ― Foi muito legal conhecer você ― Ellis disse, abraçando Ginny. ― Melhoras. Um pouco de sono irá ajudar. E nos veremos novamente, certo? Vamos fazer planos!
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Uma das menores misericórdias de todos os tempos era que a carona da casa de Keith para a de Richard levava apenas 5 ou 10 minutos. Keith foi bem tagarela quando eles entraram no carro pela primeira vez, chocalhado sobre seus planos para Quebre o Banco. Ginny balançava a cabeça e tentava soar interessada no processo colaborativo de escrita, sabe baseada na nota desilusão coletiva com estrutura financeira tradicional, sabe que remete à voz comunal no teatro que nós tivemos desde, você sabe, os anos 70. A chuva tinha cessado um pouco. Agora estava agradável e nebuloso. Ginny fixou seu olhar na paisagem, a chuva, o vislumbre das árvores de Natal através da janela aberta, suplicando pela desgraça. Quando eles chegaram à casa de Richard, Keith deixou o motor ligado por um segundo, alcançando a chave e desligando o carro logo em seguida. ― Então, eu estarei fora de casa pelo próximo dia e meio ― ele disse. ― Onde é novamente? ― Ginny disse. Ela estava tentando soar casual e despreocupada, mas sua voz estava seca. ― Ler. Só fazer a coisa de Natal. Estarei de volta no BoxingDay 9, e acho que deveríamos... Fazer alguma coisa. ― Legal ― ela disse. ― Eu estarei aqui. Obrigada pelo... Ela acenou com as mãos para indicar todo o milagre do transporte automotivo. ― Sem suor ― ele disse Ela estava na metade dos degraus rachados quando ouviu a porta do carro abrir. Ele estava se inclinando lateralmente nos bancos da frente e acenando para ela voltar. Ela voltou e se inclinou para dentro da abertura. 9
É o termo utilizado em numerosos países para descrever o dia seguinte ao dia de
Natal
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― Obrigado pelo livro ― ele disse. ― Feliz Natal, ok? ― Feliz Natal ― ela respondeu. Depois voltou e pulou os degraus para que ele não visse as lágrimas que caiam livremente em seu rosto.
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Par de Cheques Na manhã seguinte, Ginny acordou num quarto frio. Ela olhou para a parede, para a paisagem estranha que Tia Peg tinha deixado para trás, a parede de lixo que tinha colecionado e colado, de todas as cores, palavras, formas e materiais diferentes. Devia parecer algo, mas deste ângulo, era tudo uma confusão. Ela não ia se lamentar. Ele ia se levantar. Hoje, ela tinha que fazer o que ela realmente tinha vindo fazer. Ela estava em Londres. Era Natal. Ela tinha uma carta para pegar. Na cozinha, Richad tinha deixado uma nota cuidadosamente colocada embaixo da caneca sobre como ele estava feliz em tê-la ali, e como ela deveria pensar nessa casa como dela. Ela abriu o computador, esperando uma longa mensagem de Keith, com uma explicação excruciante do dia anterior, mas não tinha nada dele. Ele estava no caminho para a casa da sua avó agora. Tinha uma de Oliver, confirmando que ele estaria na lanchonete acima da livraria Foyles na Charing Cross Road às 2 das tarde. Que era no que ela precisava focar. Pegar o último pequeno envelope azul, e seguir com sua vida. Ela chegou à Charing Cross duas longas horas mais cedo e perambulou na rua de lojas de livro e música. Foyles era um lugar maciço, com vários cafés populares, mesas de madeira pesadas e canecas, vinho, biscoitos e jornais indies autênticos. Estava muito cheio, então ela esperou no canto até uma mesa ficar livre, pegando-a e sentando logo em seguida. Exatamente às duas horas, um cara alto entrou na lanchonete. Provavelmente foi o que Ginny reparou primeiro ― sua altura imensa. Ele passava de 1,80m. Ginny não tinha certeza do que esperava,
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mas ele acabou sendo uma surpresa muito agradável. Ele tinha um rosto magro e cabelo curto quase tão preto como um corvo. Ele usava um longo casaco de lã preto, o qual parecia muito bem feito e caro, e, por baixo, uma camisa cinza e uma calça risca de giz preta levemente solta. Ele tinha uma bolsa de couro gasta, com as tiras sobre seu ombro. Seu rosto era pálido, e ele era magro, com olhos escuros e intensos. Embora ele tivesse algo em volta da idade dela, o efeito o fez parecer mais velho e o colocou em algum território desconhecido entre traficante e estrela do rock. Ele era, sem sombra de dúvidas, o cara mais estilo inglês que Ginny já vira. Ela não tinha nem certeza o que isso significava, realmente. Ela apenas sabia que de agora em diante, quando convocar uma imagem de um cara inglês em sua mente, essa seria a imagem perfeita. Oliver inspecionou a sala no seu ponto natural vantajoso e rapidamente se focou nela. Ele caminhou em direção à mesa em uns quatro passos e puxou a cadeira oposta a Ginny. Quando se sentou, ajustou seu casaco, revelando um feixe de seda rosada e uma etiqueta chique bordada logo abaixo. E ainda, por todo um formato estranho das suas roupas, havia três pinos minúsculos na lapela do seu casaco ― um dizia Bowie, uma era um pequeno relâmpago, e o outro tinha uma imagem de uma caveira e escrito algo que era muito pequeno para ler. Ele colocou a bolsa em seu colo. ― Virginia? Seu sotaque era muito mais puro que o de Keith, e ele era muito educado, mas hesitante. Ele era
conhecedor. ― Ginny. ― Ela disse. ― Oi, eu sou... Ela sempre faz isso, se apresenta duas vezes. Eles se sentaram, observando um ao outro por um momento. Ele colocou suas mãos sobre a mesa e entrelaçou seus dedos. Quando ele se aproximou, Ginny pôde ver que embora o casaco fosse feito por
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alguém, claramente não Oliver. As mangas eram muito curtas por muitas polegadas, expondo seus braços a qualquer movimento. ― Você quer um café? ― ele perguntou. ― Não, eu estou bem. Ele assentiu, parecendo estranhamente aliviado. ― Então ― ela disse. ― Como você conseguiu as cartas? ― Eu estava viajando na Grécia. Minha bolsa quebrou no caminho para Corfu. Eu conheci alguns caras na cidade que estavam vendendo coisas na mala do carro deles. As coisas eram usadas ― estava perfeitamente claro que eles haviam roubado, mas elas eram baratas, sabe? E eu estava meio que desesperado. De qualquer forma, eu comprei sua mochila. Se você quiser de volta... ― Tudo bem ― Ginny disse. Por ela estava bem se ela nunca visse aquela coisa novamente. Era verde e rosa, hedionda e de tamanho desproporcional, a encarnação física do constrangimento. ― A bolsa tinha vários bolsos escondidos bem estranhos ― ele continuou. ― Eu nem mesmo encontrei todos eles até chegar em casa e estar tirando tudo. As cartas estavam em um deles, com alguns recibos, e algumas moedas... Ele abriu sua bolsa. Primeiro, ele a presenteou com uma pequena pilha de recibos amarrotados e um pequeno punhado de moedas de Euro. Ginny pegou um dos recibos e olhou para ele. Era um artefato, um fragmento há muito tempo esquecido do verão. Ela tinha gasto oito Euros e 50 centavos em algum lugar na Alemanha. Ela não tinha ficado na Alemanha apesar disso, apenas mudou para o próximo trem no caminho para um sul da Grécia. Mas em algum lugar ao longo do caminho, ela comprou uma coca e uma pequena pizza numa estação de trem.
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― Eu trouxe tudo isso ― ele explicou. ― Mas essas não são provavelmente as únicas coisas que você está interessada. Oliver alcançou dentro de sua bolsa e apresentou uma clara sacola plástica cheia de papel azul e envelope de correio aéreo ― muito familiar. O coração de Ginny bateu rápido enquanto ela as alcançava e removia o conteúdo, todos os envelopes pintados à mão que Tia Peg tinha criado com tanto carinho. Essas eram as pinturas dela. A garota caminhando através do castelo numa colina para a carta nº 4. As pequenas imagens de bolos para a carta nº 6. Aqui estava sua imagem na carta nº 9, uma garota com duas longas tranças, a sombra dela moldada por todo o caminho através do envelope. A imagem estranha do envelope nº12 que a tinha confundido de primeira, por que parecia um dragão roxo saindo da água. Até que chegou à Grécia que ela percebeu que era uma imagem de uma ilha. E então... Ela embaralhou de volta à carta nº 1. Não tinha nº 13. ― A última ― ela disse, segurando as cartas apologeticamente. ― Um... A última não está aqui. Oliver beliscou pensativo o próprio queixo antes de responder. ― Quando eu encontrei as cartas ― ele disse ― Eu pesquisei um pouco, só por curiosidade. Eu li sobre o leilão das pinturas da sua tia. Eu vi que você encontrou-as mesmo sem a última carta. Você conseguiu muito dinheiro da última venda. Mas o que mais te importa, fazer as coisas nas cartas, ou conseguir dinheiro? Essa era uma pergunta estranha, mas não uma que Ginny se importava em responder. ― Fazer as coisas nas cartas ― ela respondeu. ― O dinheiro foi legal, mas não importava. ― Então a experiência foi a parte valiosa? Se você tivesse uma escolhe entre a experiência e o dinheiro, você escolheria a experiência?
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Ginny assentiu. O olhar de Oliver se espalhou para um ponto sobre seus ombros. As perguntas pareciam um pouco estranhas. As cartas eram tão pessoais. Apenas algumas pessoas sabiam sobre elas em detalhes. Aqui ela estava, falando sobre elas com um completo estranho ― se bem que um completo estranho que as tinha trazido de volta até ela. Era justo o suficiente. Se ela tivesse encontrado essas cartas, também estaria curiosa. ― Eu acho? Sim. Eu… Sim, eu escolheria. Oliver assentiu e se inclinou, colocando seus antebraços na mesa e chegando mais perto de Ginny. ― Tem algo na última carta ― bem, têm muitas coisas na última carta ― mas a coisa mais importante é que tem outro trabalho de arte. Está em três pedaços. Eles estão em lugares diferentes ao redor do mundo, então elas podem estar expostas para diferentes elementos. É baseado em um pedaço feito por Mari Adams. Você conhece Mari Adams, certo? Ginny definitivamente conhecia Mari Adam. Ela era uma artista famosa, muito amada por Tia Peg. Tia Peg tinha conhecido e sido amiga dela, e enviou Ginny a Edinburg para conhecê-la. Na primeira vez que conhece Mari, você nunca esquece sua juba de cabelo alaranjado ou as tatuagens nos seus pés que tinha os nomes das suas raposas de estimação. Ele atingiu dentro do bolso e colocou um cartão na mesa ― um familiar cartão pombo cinza. Dizia: CECIL GAGE-RATHBONE, JERRLYN AND WISE, LEILÕES DE ARTE. Esse era também um nome que Ginny conhecia tão bem. ― Esse é o homem que controlou o leilão ― ele disse. Isso não era uma pergunta. Ela não conseguia descobrir por que, mas por alguma razão, esse comentário a colocou no canto. ― Certo ― ela disse lentamente. ― Ele controlou.
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Oliver olhou atentamente para ela. ― Taxa de corretagem não parece fora de linha ― ele disse. ― Eu sugiro nós dividirmos os rendimentos da última peça de arte. Eu nos reservei uma passagem. Partimos em quarenta e cinco minutos. Ginny simplesmente não sabia como processar isso. Ela agarrou suas tranças, mas, lógico, elas tinham ido. Então ela riu ― um riso estranho, gorgolejado. ― Você está brincando. ― Nós devíamos ir. ― Oliver arrancou o cartão e colocou-o de volta em seu bolso. ― Você seriamente não pode estar falando... Sério. ― Eu estou falando completamente sério. Se não fosse por mim, você não saberia sobre tudo isso. Em retorno, eu vou te ajudar a recolher a arte. Além disso, você me disse que não se importava com o dinheiro. Então qual é o problema? ― E se eu disser não? ― ela perguntou. ― Então eu vou para casa ― ele disse. ― E a carta? ― Continua perdida. Sua escolha. ― Eu preciso pensar sobre isso ― ela disse, enganchando seus tornozelos em volta das penas da cadeira para se sustentar. ― Podemos falar sobre... ― Olha ― ele cortou ― trabalhando juntos, ambos conseguiremos o que queremos. Mas eu te asseguro, eu vou partir em um minuto, e você não me verá novamente. Você nunca verá a carta, e você nunca saberá o que estava lá. Esse é seu momento de decidir. Agora mesmo.
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Ele puxou sua cadeira para trás e ficou de pé, esperando. Da sua posição sentada, ele parecia ridiculamente alto, e exceto pela pequena contração muscular sobre seu olho esquerdo, completamente composto e sério. Ginny olhou em volta para as inúmeras pessoas na lanchonete, todas ocupadas com suas sacolas de compras, seus carrinhos, seus celulares e seus computadores. Ela queria gritar, dizer a todos eles o que estava acontecendo, contar a eles toda a história. Eles ficariam ultrajados. Eles iriam se aglomerar ao redor dele e o sacudir atrás da carta. Ele seria jogado na rua, provavelmente sem seu casaco, e forçado a correr, canecas de café voando atrás dele e quebrando nos seus calcanhares. Mas esse não é o jeito que o mundo funciona. Ela não tinha dúvidas que ele estava falando sério. Se ela fosse embora agora, ele iria embora, e seria isso. Para sempre. Ela se levantou.
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A Barganha do Diabo ― É um absoluto prazer te ver, claro ― Cecil Gage-Rathbone disse. ― Estou tão feliz que você entrou em contato. Você quer café? Chá? Alguma outra coisa? Os escritórios de Jerrlyn e Wise estavam ricamente decorados com bom gosto para o feriado. Uma árvore enorme coberta com chifre prata e dourado e frutas doces nos cantos, e várias antiguidades das festas de fim de ano ponteadas na sala. Cecil parecia exatamente o mesmo de antes, e como tudo ao redor desse prédio, ele tinha sido decorado por um alto custo. Tinha o cabelo imóvel e artisticamente arranjado, outro terno perfeitamente adaptado, abotoaduras de prata brilhando em seus pulsos. ― Eu vou querer uma xícara de chá ― Oliver disse. Ginny balançou a cabeça sobriamente. Ela se sentia como se tivesse sido raptada e estava com medo de falar, de falar a palavra errada. ― Você poderia nos trazer um pouco de chá, James? ― Cecil disse, para um homem sentado na escrivaninha do saguão. O prédio Jerrlyn e Wise parecia com uma casa velha construída em algum tempo por volta de 1800. O escritório de Cecil era uma sala pequena, provavelmente uma despensa velha, com uma parede inteira com estantes embutidas de xícaras e pratos. Isso tinha sido apropriado para mostrar colheres de prata antigas e uma coleção de catálogos de leilão. Maciços quadros dourados de imagens de coisas como naufrágios, cachorros babões e crianças pálidas estavam perdurados na parede inteira, trazendo
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desastres, raiva e anemia para cada polegada do espaço. Tinha apenas espaço suficiente entre esses desastres para sua escrivaninha de mogno maciço e duas cadeiras wingback10. ― Por favor ― ele disse, se arrumando dentro da sala. ― Por favor, sentem-se. E eu não acho que fomos corretamente apresentados, apesar de termos falado no telefone. Ele estendeu sua mão para Oliver, o qual a balançou com confiança. Ginny começou a entendeu por que ele estava tão bem vestido. Ele tinha sido preparado para esse encontro. ― Virginia, eu espero que você continue bem. ― Eu estou ótima ― Ginny disse. As palavras ficaram um pouco presas em sua garganta. Ela afundou-se na cadeira mais próxima da porta. Cecil sentou em sua cadeira e assumiu sua versão de uma posição casual. ― Você veio falar sobre outra parte do trabalho de Margareth? Eu estou lisonjeada em ouvir isso, claro. O sucesso da venda anterior combinado com o limite óbvio de disponibilidade da obra de arte... Essa era uma maneira educada de dizer ― Sua tia está morta, então ela não pode mais pintar, e isso faz o preço subir. E Sr. Davies... Você estava envolvido com o trabalho de Margareth de alguma forma, ou você... ― Eu sou um amigo de Ginny ― Oliver disse. ― Eu estou ajudando. Ginny cavou as unhas nos braços da cadeira. ― Eu vejo ― Cecil disse. ― Então, você veio aqui hoje com um novo trabalho? ― A parte pode ser entregue logo após o Ano Novo ― Oliver disse. ― Digo, na segunda? E não gostaríamos de vender imediatamente. No próximo dia se possível.
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http://cdn.freshome.com/wp-content/uploads/2007/09/london_wingback.jpg.
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Por apenas um instante, Cecil olhou surpreso. Havia um movimento trêmulo na região da sobrancelha, a qual Ginny suspeitou que estivesse altamente ―Botoxado‖11 ― Isso não nos deixa muito tempo para fotografá-lo e mostrá-lo para as partes interessadas. Seria melhor se nós pudéssemos esperar algumas semanas. ― Nós preferimos fazer isso rapidamente ― Oliver disse. ― Bem ― ele disse lentamente ― claro, nós podemos fazer as coisas dessa maneira, se você quiser. O elemento surpresa deve trabalhar a nosso favor. E é isso que você quer Virginia? Essa era a chance dela dizer a ele exatamente o que estava acontecendo. Mas Oliver iria simplesmente se levantar e ir embora, junto com a carta dela. ― Sim ― ela mentiu. ― É isso que eu quero. ― Bem ― Cecil ajustou a posição notebook na sua mesa. ― Nesse caso, por favor, me falem sobre o preço. Eu tenho que saber o que estou vendendo. ― Eu acho que é melhor se você o ver ― Oliver disse. ― É um pouco difícil descrevê-lo. Houve uma batida sutil, e James entrou com uma bandeja de prata carregando um pequeno bule chinês de chá e duas xícaras. Cecil despejou numa xícara e ofereceu-a a Ginny. Ela balançou a cabeça sobriamente. Oliver pegou uma xícara, cobrindo-a pesadamente com creme, e relaxou na sua cadeira como se fosse dono do lugar. Cecil colocou um pedaço de açúcar mascavo em seu chá e mexeu lentamente.
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com muito Botox, ela quer dizer.
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― Isso é um pouco incomum ― ele disse ― porem a última coleção também teve um pouco de história incomum. Os compradores devem apreciar isso. Eu certamente olho para frente e vejo isso. Há algo que você possa me dizer? ― Vamos rachar o rendimento da última venda meio a meio ― Oliver disse. ― Isso é um acordo que vocês chegaram? ― Cecil perguntou. ― Eu não tenho nada disso em minhas anotações. ― Está certo ― ela balbuciou. Cecil pausou por um momento, depois abriu a gaveta da sua mesa e tirou um bloco de notas. ― Claro ― ele disse. ― Nós podemos providenciar isso. Eu terei um documento legal e estará pronto para assinar quando você trouxer a peça para cá. Está aceito? ― Se for tudo mesmo… ― Oliver alcançou o interior da sua bolsa de couro mais uma vez, dessa vez tirando alguns papéis. ― Eu já tenho algo feito. Muito simples. Nós poderíamos apenas assiná-los agora. Cecil puxou um dos papéis para mais perto dele com apenas as pontas dos dedos, depois girou e leu. ― É como você diz muito simples ― ele confirmou. ― Só um momento. Cecil pegou o contrato e deslizou em volta de sua mesa e atrás da cadeira de Ginny. Ele tinha ido há mais de dez minutos, enquanto Oliver e Ginny ignoravam inteiramente a presença um do outro. Oliver fez algo com seu telefone. Ginny andou em volta, tentando ficar longe dele tanto quando ela podia em sua cadeira. Ela leu as colunas de cada catálogo na parede. Ela contou as colheres. Talvez Cecil
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voltasse com a polícia. Ou uma arma. Eles tinham que ter algumas armas velhas por aqui. Em vez disso, ele voltou com algumas cópias e uma expressão resignada. ― Isso parece estar em ordem ― ele disse. ― Básico, mas aceitável. Eu tenho quatro cópias aqui. Se vocês vão só assiná-las onde indica... Ginny rabiscou seu nome o mais rápido possível e empurrou os papéis para longe. Oliver escreveu lentamente, numa escrita pequena e firme. ― Bem ― Cecil disse, pegando as cópias ― como eu trabalho para os vendedores, vou tolerar seus desejos. Eu vou organizar a venda naquele dia e fazer o que eu posso para pegar compradores prévios de volta à sala. Você vai ter a parte antes, sim? ― Isso mesmo ― Oliver disse. ― Então eu vou organizar para um dos nossos times virem para isso. O primeiro do ano... Normalmente nós não faríamos isso, mas nós trabalhamos com as circunstâncias. A menos que haja algo mais que eu possa ajudar? ― Não ― Oliver disse, ficando de pé. ― Nós devemos ir. ― Então James vai lhes mostrar a saída. Muito obrigado por virem. Do lado de for a, o céu estava da mesma cor que a calçada e as paredes de pedra na frente das casas. Oliver afastou-se do JerrlynandWise com um passo largo e fácil, parando na frente de uma de muitas pequenas mansões que alinhavam a rua e sentando nos muros baixos que cercavam os jardins da frente. Ele puxou uma carteira cigarros e um isqueiro prata do seu bolso com um movimento circular que Ginny suspeitou ter sido ensaiado na frente do espelho. Ela permaneceu diretamente em frente a ele e cruzou os braços. ― Eu quero minha carta ― ela disse.
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― Eu ainda não posso te dar. A carta é a chave para conseguir a arte. Se eu te der a carta, você pode apenas ir e pegá-la. Não se preocupe, entretanto. A carta não tem nenhum outro valor para mim, então no minuto que terminarmos, você pode tê-la de volta. ― No minuto que terminarmos com o que, exatamente? Como isso deve funcionar? ― Nós vamos a Paris. É lá que a primeira parte está. ― Paris? ― Nada está devidamente aberto no Natal ou Boxing Day, então não vamos começar gentis e cedo no dia 27. Eu consegui duas passagens de trem. Não se preocupe, elas foram baratas. Apenas cinqüenta libras. Achei que podia contribuir para a causa. ― Você acha que vou viajar com você? ― ela disse. ― Para Paris. Você e eu. Você é louco. ― Olha ― ele disse, colocando o cigarro em sua boca ― é provavelmente difícil para você confiar em mim quando eu digo que você está perfeitamente segura comigo. Meus interesses são seus interesses. E eu não roubei nada. Eu encontrei as cartas, e eu estou devolvendo-as. Você vai ganhar dinheiro que poderia ter ganhado de outro modo. Você não tem motivo para complicar. Um pequeno gato laranja escapuliu ao longo de um dos muros no outro lado da rua. Ele sentou e olhou para eles orgulhosamente, como se perguntasse o que eles estavam fazendo em sua vizinhança. ― Nós dois precisamos disso ― Oliver disse. ― Há coisas na carta que apenas você vai entender. Eu tenho a carta, e você tem o conhecimento. Tudo que eu quero é que a gente vá e pegue as partes. É isso. Oliver acendeu lentamente o cigarro e deu uma longa tragada, esperando a resposta dela. ―Eu vou pensar sobre isso ― ela disse.
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Ele assentiu e empurrou o muro. ― Você sabe onde me encontrar.
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A Piscina Embora fosse apenas um pouco depois das quatro, o céu tinha ficado negro e todas as luzes tinham sido ligadas: Os anúncios iluminados nos ônibus de dois andares, a luz dos celulares pressionados em centenas de rostos, o brilho quente das janelas. Todo mundo estava se movendo rapidamente, os terríveis momentos finais antes de todas as lojas fecharem e o Natal começar. Londres estava brilhante e pulsante. Ginny permitiu ser carregada junto à multidão. Ela tinha ido além do choque para um novo e completamente desconhecido estado de aceitação agressiva. O verão a tinha empurrado para dentro de alguns lugares estranhos. Ela teve que lidar com eles, então lidaria com esse agora. Quando ela desembarcou na estação Angel, ela viu um homem vendendo árvores no Shopping Plaza. Decorar. É isso que ela faria. Ele decoraria, e ela só pensaria em decorar. Era Natal, e ela queria fazer as coisas legais para si mesma e Richard. Isso a manteria ocupada, e ocupação era bom. Ela comprou uma das árvores, uma fina, talvez uns 91 cm de altura. Não pesava muito; ela conseguia carregá-la com uma mão. Ela andou por aí com ela, olhando inexpressivamente para as vitrines até que encontrou algumas decorações para levar. Não tinha lugar para deixar a pequena árvore lá fora, ela não poderia exatamente olhá-la. Então Ginny a trouxe com ela. Ela comprou um pouco de tudo que encontrou em uma das mesas de exibição cheia de bolas de Natal duas-por-uma e luzes e objetos reluzentes. Ela comprou de longe mais do que podia sensatamente carregar, então carregou insensatamente, as sacolas cortando linhas ásperas vermelhas em sua pele, a árvore batendo em seus tornozelos enquanto andava. ― Você precisa de ajuda com isso? ― um homem perguntou, enquanto Ginny arrastava a árvore pela calçada.
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― Não, eu estou bem... Obrigada. Feliz Natal. Ele assentiu, mas olhou meio incerto. Embora tivesse comprado muitas coisas, algumas improvisações ainda eram necessárias. Primeiro, ela tinha se esquecido de pegar um suporte de árvore. Isso significava que teria de encontrar um balde no armário, e depois fazer a árvore ficar de pé presa com uma corda, e, depois, cobrir o balde com lantejoula. Alguns dos ornamentos vieram sem ganchos, então ela foi forçada a fazer os ganchos com alguns clipes que encontrou. Quando acabou com eles, fitou-os à árvore, escondendo a fita o melhor que pôde. Ela comprou inúmeras luzes, então as amarrou em todo lugar ― em cima da escada, ao redor do espelho acima do sofá, ao redor da televisão. Ela decorou até não restar nada para pendurar, nada para cobrir. Então ela se sentou no sofá e esperou.
Paris. Oliver queria que ela fosse a Paris. Ela não podia negar o menor dos sentimentos com o pensamento. A conversa deles passava em sua cabeça num laço sem fim. Não tinha nada que ela pudesse fazer diferente. Se ela tivesse dito algo a Cecil, Oliver teria fugido. Então ela iria a Paris. Ela já o tinha feito antes. E ao menos esse laço Oliver, Oliver, Oliver era uma distração do laço Keith, Keith, Keith. Isso era algo. O debate continuou até que um boné preto saiu da porta da frente. Houve um tinido de chaves e Richard estava na porta com três grandes sacolas Harrods. ― Olá! ― ele disse. ― Eu tenho... Caramba. ― Eu decorei ― Ginny disse, assinalando o óbvio. ― É eu vejo isso.
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Era difícil ler sua expressão. Ele não estava ambivalente, seus olhos estavam arregalados e esfregou o couro cabeludo. ― Isso é... Uau. Eu realmente nunca... Eu acho que não tenho tempo... É maravilhoso. Eu tenho uma meia saca de comida aqui. O assado! Venha. Nós precisamos colocar isso na cozinha. Ela tinha certeza que ele estava mentindo, mas ele estava obviamente feliz por estar em casa. Enquanto eles iam para a cozinha, ele deslizou uma das sacolas casualmente na cadeira. Só por casualidade, ela olhou para ver o que era. Tinha papel de embrulho no topo. Ele tinha alguns presentes para ela. ― Isso foi absolutamente espiritual ― ele disse, derrubando as sacolas que sobraram no balcão. ― Eu devo ter enviado duzentas cestas de Natal essa manhã. Algumas pessoas não caem na real de que se você quer enviar a alguém 22 kg de chocolate dentro de uma casa de passarinho para o Natal, você devia realmente me chamar antes das oito da manhã da Véspera de Natal. ― Algumas celebridades? ― Algumas. Ninguém foi muito ruim esse ano. Eu não tive que encontrar qualquer animal exótico ou plutônio enriquecido ou algo do tipo. Richard não estava exagerando sobre o assado. Tinha facilmente trinta coisas diferentes dentro das sacolas. Quando a última foi tirada, Richard pegou uma cerveja da geladeira. ― Eu estou tão cansado para beber isso ― ele disse, olhando para a cerveja pesarosamente. Ele a colocou de volta da geladeira e fechou à porta ― Eu tenho que dormir. Ele parou na metade da escada e deu uma olhada nas luzes penduradas ali. ― Alguém da sua família sempre decorou minha casa para o Natal ― ele disse. ― Peg o fez ano passado. As decorações dela eram um pouco mais estranhas como você pode imaginar. Ela suspendeu a árvore de cabeça para baixo, pra começar.
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― Ela o que? ― Ginny perguntou. ― Perfurando alguns furos de teto e a suspendendo. Bem ali, no canto. -― Ele apontou lodo acima de onde ela estava sentada. Com certeza, havia uma série de pequenas bolas ali. Tia Peg, mais uma vez, tinha passado por ali antes. ― Era uma árvore grande? ― ela perguntou. ― Era enorme. ― E ela apenas... Suspendeu? ― Ela suspendeu. Eu estou satisfeito por ela não ter derrubado o forro do teto. Mesmo se ela tivesse, ela provavelmente teria transformado o cascalho em mais decorações. Eu ainda não sei como ela fez isso. Eu suspeito que ela teve ajuda. De qualquer forma... Te vejo pela manhã. Feliz Natal. Naquela noite, enquanto Ginny deitava na cama olhando acima para a colagem da parede, seu cérebro derivou de volta para um dia de verão brutal na cidade de Nova Iorque quando Tia Peg disse ― Vamos nadar. Meu amigo tem uma piscina. Isso foi cerca de três anos atrás, quando Ginny era caloura no colégio. Foi logo antes de Tia Peg desaparecer de suas vidas. Ginny não sabia disso naquele tempo, mas essa seria a última vez que ela ficaria no apartamento da Tia Peg em East Village. O verão de Nova Iorque estava punindo a todos, calor intenso aumentado com aço e vidro, mais calor vindo dos metrôs, pesado, cobertor de umidade que faz você se sentir como se pesasse dez kg a mais. Nova Iorque é uma cidade úmida. Está localizada entre rios, tem um enorme porto, e pântano. Por questões ambientais e estéticas, Tia Peg não acreditava em ar-condicionado. Além disso, o apartamento dela estava exatamente acima de um restaurante chinês. O apartamento que era tão aconchegante e quente no inverno que todo o calor crescente começa a ser tortuoso em Julho. Era como fazer sauna em vapores de gordura.
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Então Ginny tinha sido bem miserável até que a piscina foi mencionada. Ela também estava confusa, por que ter uma piscina em Nova Iorque? Significava que você tinha que ser loucamente rico. Os amigos de Tia Peg não eram loucamente ricos, mas apenas loucos. Ginny também não tinha roupa de banho com ela. Tia Peg pegou um par de shorts velhos e uma camiseta curta e rasgada, declarou que era exatamente como uma roupa de banho, e levou Ginny para baixo, mais fundo dentro de Village, para um edifício pavoroso e em situação precária na Avenida A. Havia um beco que levava aos fundos, onde alguns artistas tinham criado um ― jardim ― de metal com parte de bicicleta e carro. Tinha um catalixo no meio do jardim com uma escada contra ele. ― Pronta? ― Tia Peg perguntou, deixando sua camisa cair, revelando um biquíni abaixo dela. Ela começou a fazer seu caminho pela escada, para o cata-lixo. Aquilo não era uma piscina. ― Está limpo ― ela assegurou Ginny. ― é seguro. Ela pulou dentro com um borrifo alto. Aquelas coisas pareciam altamente incomuns. Mas, como ele sempre fazia, Ginny seguiu sua tia. Ela lentamente escalou a escada e espreitou dentro. Piscinas geralmente pareciam claras. Elas eram pintadas de um azul alegre no fundo para dar à água uma cor prazerosa. Escalar para dentro da piscina escura violava alguns instintos evolucionários. Isso apenas não era certo, mesmo se tivesse um jacaré inflável flutuando ao redor. Ferrugem, doença, sujeira... ― Tudo bem! ― Tia Peg disse novamente. ― Eu nado nisso o tempo todo! Acredite em mim, eles limparam muito bem. Ginny chegou ao topo, sentou lá por um momento, enfiando um pouco seu pé na água. Estava quente, e cheirava a cloro. Aquilo era um sinal positivo.
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Tia Peg estava olhando para ela, esperando por ela dar um mergulho literalmente. Tia Peg era a única pessoa que Ginny odiava desapontar, então ela respirou fundo, se moveu lentamente para frente, e caiu. A água tinha cerca de cinco pés de profundidade, mas as paredes do cata-lixo tinham cerca de oito pés de altura. E também não era muito grande. Era exatamente o que parecia ― uma grande caixa de metal cheia de água no quintal de um prédio em Village. Mas tinha algo incrível sobre isso ― era uma piscina. Era uma piscina inacreditavelmente estúpida no meio de Nova Iorque. E ela tinha feito isso. Tia Peg fez a ligação, e Ginny tinha atendido. ― Sabe de uma coisa? ― Tia Peg disse. ― As pessoas diriam que é impossível ter uma piscina privada na cidade, a menos que você seja algum tipo de mongol e tenha uma no telhado do seu barracão ou algo assim. Mas não é ilegal ter um cata-lixo realmente limpo, e se você quiser enchê-lo com água, e se você quiser entrar nele... Bem, é um direito seu. As pessoas sempre dizem que elas não podem fazer coisas, que elas são impossíveis. Elas só não foram criativas o suficiente. Essa piscina é um triunfo de imaginação. É como você ganha na vida, Gin. Você tem que imaginar o seu caminho. Nunca diga que algo não pode ser feito. Sempre tem uma solução, mesmo que ela seja estranha. Ginny assentiu no tempo, e pelo próximo dia recusou o sentimento como estúpida porcaria artística, mesmo ela gostando da piscina. No dia depois que ela achou que tinha um arranhão infectado no seu braço e disse a sua mãe que o tinha conseguido na porta da garagem. Mas a idéia nunca deixou sua mente. As aventuras do verão tinham sido um triunfo de imaginação. Você poderia fazer algo incrível, de algo horrível. Então, Keith tinha uma namorada. Então, ela estava sendo essencialmente chantageada. Ela estava aqui. Ela tinha vindo a Londres para o Natal. Ela estava com o seu tio. Ela tinha pulado dentro de uma piscina de lixo antes.
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Antes que Ginny pudesse pensar demais no assunto, ela rolou e entrou na escuridão, encontrando seu computador no chão. Ele a cegou por um segundo quando ela o abriu. Ela pisou de choque e conectou o bate-papo para ver que ele estava lá. Não surpreendeu ela ao ver que ele estava.
Quando de onde? Ela escreveu. Ele começou instantaneamente a tentar responder.
Encontre-me na estação St. Pancras às dez da manhã no dia 27, no local de encontro. Eu tenho duas passagens de trem para Paris, às 11h37min. Que local de encontro? Ela perguntou. Você não será capaz de perder isso. Depois de Paris, tem outros dois lugares que nós temos que ir. Onde? Eu não posso te dizer ainda. Eu tenho que proteger meus interesses. Eu planejei tudo. Isso nos tomará quatro dias, no total.
Ginny olhou para a janela de conversação brilhando no escuro. Quatro dias? Quando Oliver disse que eles estavam indo pegar um trem para Paris, ela presumiu que eles iriam lá e voltariam. Eles não ao menos teriam que ficar, mas essa era a mágica, ir a Paris de Londres. Poderia ser uma viagem de um dia. Mas quatro dias? Várias cidades?
Nós teremos todas as partes até o dia 1º, Oliver acrescentou, e então você nunca me verá novamente. Feito?
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Ela estava na borda novamente, olhando dentro das profundezas escuras da piscina de lixo. Nessa hora, não havia vozes a tranqüilizando.
Certo, ela escreveu. Eu estarei lá. Nada por um momento, então ele começou a digitar novamente.
Feliz Natal, ele escreveu. Ela fechou o computador em resposta.
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A Festa Ginny acordou em cima de seu computador, que tinha abrigado debaixo das cobertas com ela em algum momento durante a noite. Ela extraiu-o de sua cama, olhando para ele um pouco desconfiada. Lá embaixo, Richard estava deitado no sofá em um par de calças de corrida e uma camiseta, assistindo a um especial de Natal do Doctor Who12 e bebendo uma caneca de chá.
― Desculpe ― ela disse. ― Eu dormi demais.
― Não importa. Isto é um Natal casual. Fazemos como nós gostamos. Estou tomando chá e assistindo televisão. Vá fazer uma xícara e se juntar a mim!
Gina foi até a cozinha. A chaleira ainda estava quente de sua utilização anterior. Ela ligou o interruptor e rapidamente referveu a água enquanto pegava uma das pesadas canecas listradas. Este era um ritual Inglês que ela amava. Ela nunca bebeu chá em casa. Chá era para a Inglaterra. Tinha chá na casa de Richard.
Este simples gesto a fez se sentir como se estivesse em casa.
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Doctor Who é uma série premiada de ficção científica Britânica, produzida e
transmitida pela BBC.
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― Tenho algo muito importante ― Richard disse, quando ela se juntou a ele na sala de estar. Ele chegou para o lado no sofá, pegando uma caixa comprida, aproximadamente do tamanho de um jogo de tabuleiro. Estava cheio do que parecia ser uma toalha de papel enrolada em rolos de papel brilhante.
― Biscoitos caros ― ele disse. ― O melhor do Harrods
― Biscoito?
― Biscoitos de Natal? Oh, você não teve isso. Aqui. Eu vou te mostrar. ― Ele abriu a caixa e retirou um dos tubos, segurando-a para ela.
― Conte até três, você puxa no final, e eu puxo aqui. Pronto? Um, dois, três...
Ginny deu um puxão final e o tubo estourou com um barulho alto. Três pequenos objetos caíram no chão. Um deles era um pedaço pequeno de papel rosa, um pequeno pedaço de papel dobrado, e o último era um pequeno elefante de metal em um chaveiro. Richard entregou a Ginny o elefante.
― Os prêmios são geralmente lixo, mas estes são os crackers legal, então lá vai. Elefante de metal de pequeno porte. De qualidade. Aposto que você está querendo um desses. ― Desde que eu era pequena ― Giny disse, enquanto Richard amassava a massa cor de rosa para revelar uma pequena coroa de papel.
―
Eu suspeitava. Você
também
recebe uma
coroa
e uma
piada. As
piadas são
sempre ruins. Vamos ver aqui... ― Quem oferece presentes de Natal para todos os peixes pequenos?
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― Eu não sei ― Giny disse, colocando sua coroa. ― Tubarão Santa Ho ho! Isso é uma piada de biscoito de natal. Agora, presentes!
Richard tinha dado a ela um número de presentes, uma pilha de livros (escolhidos por sua amiga na livraria Harrods), um saco de maquiagem (montado por um de seus amigos no balcão de maquiagem),
e
um
suéter (escolhido por
mais alguém). Ele era
um
profissional
em
selecionar presente, com uma equipe de centenas de especialistas que trabalham para ele. Não foi nenhuma surpresa então que os presentes eram todos perfeitos. ― Espero que esses estejam ok ― ele disse. ― Dei-lhes o máximo de informações que pude. Eu teria os escolhido sozinho, mas parecia estúpido quando eu poderia usar apenas os especialistas.
Gina entregou os três pacotes que ela havia trazido para ele. Agora que ela estava aqui, cara a cara com Richard, ela se perguntava sobre a sensatez de dar-lhe lembranças da Tia Peg. Talvez o que ele precisava era esquecer. Ele estava muito quieto quando ele os abriu, e ela podia ver que ele estava com lágrimas nos olhos, o que a fez ficar com lágrimas nos olhos.
― Eles são maravilhosos ― ele disse. ― Obrigado. ― Ele colocou-os cuidadosamente na mesa de café e tossiu em seu punho.
―Esqueci um ― Ele disse, sua voz rouca. ― Deixe-me ir buscá-lo.
Ele ficou lá em cima um pouco mais do que provavelmente era necessário para conseguir alguma coisa de seu quarto. Quando ele voltou, ele tinha mais uma caixa, que entregou a ela. ― Eu tinha um presente para você quando você me disse que estava vindo. Eu me esqueci de colocá-lo com os
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outros.
Era um telefone, mais agradável do que o que ela tinha em casa.
―
Achei que
seria
bom para
você
ter aqui
―
ele continuou. ―
O
seu próprio
número Inglês. Torna mais fácil para me achar, ou... Quem quiser ligar. As regras não a deixaram ter um desses na última vez, mas não há nada agora qe a impeça.
Ginny sorriu quando ela pegou o aparelho da caixa. Seu próprio telefone Inglês ― uma linha para Richard, sempre que ela precisasse. ― Obrigada ― ela disse. ― Agora ― Richard disse, batendo as mãos para baixo sobre as coxas de uma forma decisiva, que sugeria que ele queria empurrar o momento emocional. -― Uma vez que somos apenas nós, podemos
sempre
jantar o
que
quisermos. Eu
estava
pensando, por
que
não fazer
uma
comida agora? É hora do almoço. Não há razão para esperar. Há um pouco de tudo lá dentro. O que você diz? Não só temos assado, mas desde que as lojas não estarão abertas amanhã, eles nos dão tudo o que não vão manter. Privilégios do trabalho. Eu tenho coisas incríveis lá dentro.
Ele não
estava
brincando. Havia lagosta fria e
maionese fresca, ostras
defumadas, stilton com cranberries, creme, meia dúzia de tipos de chocolates, bolo de frutas de vidro, cupcakes minúsculos. . . ― Partridge? ― Ginny disse, analisando o conteúdo de um recipiente rotulado. ― Como, 'uma árvore de pêra‖?
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― O mesmo, exceto que não na árvore, e mais no forno. ―Você os come? ― Eles não têm perdiz na América? ― Eu nunca vi isso ― Gina disse. ― Será que ela tem gosto de frango? ― Tudo tem! Exceto isso.
Ele ergueu o bolo de fruta. ― Isso é uma comida? ― Ela perguntou.
―
Ah. Bom ponto. Nós
vamos colocar
isso aqui para
não comê-lo por
acidente. ―
Richard enfiou o bolo de frutas em cima da geladeira, fora de perigo.
Eles
decidiram comer
na sala, na
frente da
televisão, simplesmente
porque parecia errado. Mas eles fizeram isso com estilo, fixando a mesa de café com tudo o que poderia encontrar nos armários de Richard. Eles tiveram que arrastar algumas cadeiras de cozinha para servir de aparador para todos os alimentos. Harrods acharia que eles estavam errados. Era uma festa. Uma festa em grande parte composta de carnes. Carnes cozidas e coisas de carne.
― Isso é ótimo ― Richard disse, olhando para a comida que estava todo o seu mobiliário. ― Sentado aqui comendo tudo isso sozinho. Teria sido muito, muito triste e muito, muito nojento. Porque eu teria feito isso.
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Naquele momento, Giny estava feliz por ter vindo, por nenhuma outra razão além do que isso, sentada com Richard e todos esses recipientes em frente da televisão. Eles carregaram seus pratos, pesando-as com a vasta quantidade de molho que havia sido fornecido. Comeram e assistiram a um filme. Foi tão natural, tão bom estar aqui com Richard... E, ainda assim, ela estava indo amanhã para Paris. Ela tinha que lhe dizer alguma coisa, pelo menos, que ela estava indo. Se ele se opor, bem, ela poderia ignorá-lo
e ir
de
qualquer
maneira,
mas
isso seria
errado. Ela estaria
usando
e
desrespeitando alguém que foi generoso, gentil e bastante estúpido. Ela esperou até que o filme acabou, e Richard estava alcançando uma outra porção de batatas. ― Há algo que eu preciso...
... Falar com você. Yeah. Isso soou ruim. Richard congelou no caminho para as batatas. ― Alguém encontrou a última carta ― ela disse.
― Alguém encontrou? Foi roubado, não foi?
― Este cara... Ele comprou uma mochila. Ele descobriu as cartas e entrou em contato comigo. ― Bem, isso foi digno dele. ― Há uma última coisa que eu tenho que fazer ― ela disse. ― Uma última peça de arte que eu tenho que conseguir. Foi dividido em três pedaços. Eu preciso ir buscá-los. E o primeiro está em... Paris.
Pobre Richard. Ele não merecia isso. Toda vez que Ginny andava pela sua porta, ela estava no caminho para outro lugar. Então, novamente, ele havia deixado tia Peg viver em sua casa e se casou com
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ela, estava tão claro que ele tinha uma coisa por tipos americanos que gostavam de passar despercebido na calada da noite. Que era como Ginny lembrava como a América venceu a Revolução, em primeiro lugar. Os ingleses andavam com casacos vermelhos brilhantes e faziam pausas para tomar chá, e os norte-americanos apenas andavam vestidos de trapos e se escondiam em árvores e roubaram seus cavalos. Ou algo assim. O quer que seja. Ela tinha que fazer isso, era seu direito de
primogenitura. Foi o que George Washington teria querido. ― Quando você estava pensando em fazer isso? ― Ele perguntou.
― Depois de amanhã?
― Onde você vai ficar?
― Na mesma pousada que fiquei na última vez ― ela disse. ― É muito boa.
― Você vai sozinha?
― Não. Eu estou indo com um... Amigo.
Ok, isso era uma mentira.
― O amigo da última vez? Kevin?
― Keith.
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Ela podia ouvir a queda em sua voz. Ela não podia esconder. Richard olhou para ela com curiosidade.
― Ele tem uma namorada ― Gina disse. ― Eu acabei de conhecê-la.
― Ah. ― Foi um longo e triste ah de entendimento.
Richard conhecia a dor de ter sentimentos por alguém que não necessariamente eram retribuídos. Ele adorava a
tia Peg no
longo
tempo
em
que
viveram juntos,
como amigos e
companheiros. Ele tinha cuidado dela através de sua doença, e casou-se com ela para se certificar de que ela teria cuidados. E, lentamente, ao longo do tempo, ela percebeu que ela o amava muito, que tinha medo desse cara simples e estável que nunca tinha escondido seus sentimentos. Ginny tinha aprendido tudo isso a partir das cartas. Tia Peg morreu antes de dizer a alguém da família o que tinha acontecido, antes que ela mesma pudesse dizer a Richard quanto ela o amava de verdade. Ginny se viu olhando para sua aliança de casamento novamente.
― Você acha que isso é uma boa idéia, ir com ele, então? ― Ele perguntou com a voz baixa.
― Não é ele. É... outra pessoa. Vai demorar cerca de quatro dias.
Richard pegou as batatas e colocou-as em seu prato. Ele empurrou-os ao redor, pensativo.
― Eu não posso pará-la se você quiser ir para algum lugar ― ele disse. ― Mas parece que você está pedindo a minha autorização. O que é justo o suficiente, eu suponho. Vamos fazer um acordo. Eu sei que você já viajou antes. Portanto, tenha cuidado. Nada excessivamente louco. Fale comigo pelo
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menos uma vez por dia, e deixe-me saber onde você está. E se você tiver qualquer problema, qualquer problema, você telefona. Você não tem desculpa, agora. Ele bateu a caixa aberta que continha o seu presente.
― Eu não vou ― ela disse. ― Não vai ser como da última vez.
― Certo... ― Ele disse, dando-lhe um sorriso forçado.
Estava feito agora. Ela tinha feito sua decisão. Ela tinha permissão. E se alguma coisa desse errado, ela poderia chamar Richard. E quando tudo acabar, uma vez que já tivesse arrumado essa bagunça, ela poderia lhe dizer toda a história.
Ela estava indo para Paris.
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Dia do encaixotamento Ginny tinha ouvido este termo antes, mas parecia tão ridículo. Dia do encaixotamento soava como um dia em que todo mundo batia um no outro para aliviar. Richard explicou que era o dia que você... Colocava as coisas em caixas. Ou movia caixas. Ou fazia alguma coisa com as caixas. Richard tinha tinha escolha era
estado muito
senão
tão ruim
preocupado deixando-a
ir para
o
como Harrods antes
sozinha novamente,
mas ele
trabalho. Aparentemente,Harrods depois do
Natal e dia
do
do
encaixotamento era
não Natal
o
seu
Armageddon pessoal. Ele foi para cima e isso muito antes de Ginny sair da cama. Ela tinha todo o dia para si mesma, e nenhuma agenda em particular. Amanhã, iria para Paris com Oliver. Ela não tinha nenhuma maneira de se preparar para esta viagem. Ela não tinha informações. Hoje, não havia nada a fazer senão esperar. Esperar e pensar. E trabalhar na sua dissertação. Lá fora, Inglaterra estava sendo Inglesa,
estava
chovendo. Chuva
aqui não
era tão
ruim
assim. Fez estar
mais
aconchegante. Ginny preparou um banho quente, pegou um bloco de papel, e decidiu se ensopar, ouvindo a chuva, e ter pensamentos brilhantes que iriam leva-la a ser admitida na faculdade. Ela gastou vários minutos arrumando uma toalha e organizando para que pudesse escrever notas sem encharcar o papel, mas no segundo que se moveu para escrever algo, espirrou no bloco e encharcou-o completamente. Ela jogou-o pelo banheiro e afundou na água. Descreva uma experiência de vida. Bem, e quanto a isso? Que tal voltar para a Inglaterra para encontrar o cara que você ama, namorando outra pessoa e outro cara qualquer segurando a afetuosa e perdida carta de sua tia. Que tal isso, comitê de admissões?
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Eles nunca acreditariam nela. Eles iriam pensar que isso era fantasista.Eles iriam colocar sua foto no quadro de cortiça com uma nota debaixo dela que apenas diria: PSICÓTICO. NÃO ADMITIR. A água da banheira esfriou quase tão rápido quanto seu desejo de trabalhar na redação, então ela se vestiu e saiu. Seu timing foi excelente, porque assim que puxou a blusa, houve uma batida rápida na porta. Ela correu escada abaixo, descalça, com os cabelos ainda úmidos desgrenhado. Keith estava
em
pé
na porta, enrolado em
um
grande
casaco verde-exército, um
pesado
lenço preto envolvido diversas vezes em seu pescoço. Ele deu um passo para dentro, deixou cair o guarda-chuva na sala, em seguida, puxou o casaco e cachecol e jogou-os em um gancho. ― Está pingando ― Ele disse. Ele foi direto para a cozinha. Foi assim que ele fez no verão ― apenas andando como se fosse totalmente esperado, como se não tivesse uma namorada que ele tinha mantido em segredo dela. Ginny estava muito surpresa para reagir no momento, então ela fechou a porta e seguiu junto. ― Presente ― ele disse, colocando um objeto em forma de CD sobre a mesa. ― Vá em frente, abra-o! O presente parecia que tinha sido embrulhado em papel reaproveitado, cheio de linhas brancas e marcas de fita velha. Por alguma razão, Gina o abriu com muito cuidado, como se o papel precisasse ser mantido para outra missão no futuro. Dentro, havia um completo CD caseiro, com uma extravagante capa do Starbucks: o poster do O Musical. ― Devidamente registrado ― ele disse com orgulho. ―Então, você pode ouvi-la todos os dias. Então, o que temos aqui? Ele
examinou os
muitos
contêineres empilhados no
balcão
da
cozinha e
virou-se
para Ginny com uma expressão de intenso interesse. ― Nós temos um monte de sobras ― ela disse. ― Se você está com fome, há muito mais na geladeira... Ele já estava revirando a geladeira e retirando as latas.
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― O que é isso? ― Ele disse, tirando uma tampa. ― Não é peru... ― Faisão ― Ginny disse. ― Richard teve o caro jantar de natal do Harrods... Porque ele trabalha lá. Ginny passou-lhe um prato, e ele começou a empilhar com comida.Keith sempre podia comer, qualquer coisa, em qualquer lugar, em qualquer quantidade. ― Então ― ele disse: ― Eu tenho a impressão no outro dia que algo lhe trouxe até aqui, mas você não disse o quê Ginny encheu a chaleira e não disse nada por um momento. Seu cérebro ainda estava tentando recuperar o atraso com o fato de que Keith estava aqui na cozinha com ela, e que ela não estava preparada e ainda vestindo pijama... E agora ele estava perguntando sobre as cartas. Mas se alguém poderia entender esta história estranha, era ele. E ele estava lá desde o início. Ele tinha o direito de saber. Ela colocou a chaleira sobre a sua base e ligou-o. Keith tomou assento à mesa para comer. ― Alguém encontrou as cartas ― ela disse. ― Todas elas. Incluindo a última. ― Alguém da Grécia? ― Ele perguntou. ― Não é que onde elas foram roubadas? ― Sim, mas a pessoa que as encontrou é daqui. Ele é Inglês. Ele comprou a mochila. Ele usou as informações nela para me achar. A última carta, a que eu nunca cheguei a ler, tem mais instruções nela. Há outra obra de arte. Há outra coisa que tenho que fazer. Eu tenho que ir para Paris, amanhã. ― Sempre o mesmo com você ― ele disse, balançando a cabeça e dando uma mordida. ― Há um tipo de problema. Keith estava mastigando, então ele acenou com o garfo, indicando que ela deveria continuar. ― Ele não vai me dar às cartas. ― O que quer dizer que ele não vai dar para você? ― Ele perguntou, engolindo em seco.
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― Ele as mantem, porque ele quer metade do lucro da venda passada. Ele comprou os bilhetes para Paris. Ele é o único que sabe onde supostamente devemos ir ou o que devemos fazer. Dizendo em voz alta, parecia ainda mais louco e muito, muito pior. Keith largou o garfo e tocou seu punho levemente contra a sua boca, enquanto pensava. ― Você só inventou isso, certo? ― Disse. ― Não. ― Então, você está dizendo que um completo estranho comprou sua propriedade roubada, e agora está exigindo metade do seu dinheiro... E que você está indo para Paris com ele. Porque essa é a coisa sensata a fazer. A chaleira desligou. Ela se ocupou em fazer o chá. ― Que escolha tenho? ― Ela perguntou, arrancando duas canecas. ― Ele não é perigoso. Ele é só... ele só quer o dinheiro. Preciso ter as cartas. Eu já tive que fazer pior. ― Quem é esse cara? ―S eu nome é Oliver Davies. ― Isso não me diz nada. Como ele é? Quantos anos ele tem? ―Ele é tipo, nossa idade ou algo assim. Isso vai ficar bem. Eu só vou com ele. Eu viajei com pessoas que eu realmente não conhecia antes. Eu fiz isso com você. ― Não é exatamente o mesmo. ― Sua voz estava subindo. ― Nós fomos para a Escócia juntos uma vez. Nós dois só estavamos em Paris, ao mesmo tempo. E eu não roubei as suas coisas e trouxe de volta para você. ― Eu não quis dizer... ― Gin, ouça. Sente-se. ― Ele estava mais sério do que Ginny já tinha visto antes. Ela pegou as duas canecas de chá e sentou ao lado dele. ― Eu sou todo estranho como regra geral, mas você não pode fazer isso. O que você está descrevendo é uma espécie de horrivel história de viagem à espera de ser escrito. No melhor dos casos esse cara é uma espécie de vigarista, e isso é eu sendo otimista.
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― Eu sei que isso é um problema ― ela disparou para trás, incapaz de manter sua frustração por mais tempo. ― Que escolha tenho? Se eu não fizer isso, nunca terei a carta. Eu nunca encontrarei a peça. Eu nunca terminarei. E não comos e alguém pudesse me ajudar. O que eu vou fazer? Chamar
a
polícia
e dizer-lhes
que
alguém
roubou minha
correspondencia? Ele
vai simplesmente desaparecer, e eu não posso deixar isso acontecer. Keith se
recostou
na cadeira e
empurrou as
pernas
da
frente
para fora
do
chão,
suspirando pesadamente. Ele ficou equilibrada por um momento, então trouxe a cadeira no chão com um baque. ― Você disse que deveria ir amanhã, certo? ― Certo. ―Explique-me como isto supostamente vai acontecer. Ginny deu um longo suspiro. Ela estava tremendo agora. ― Eu tenho que encontrá-lo em St. Pancreas... ― St Pancras, você quer dizer. É aí que o Eurostar sai. Você disse que ele quer que você pegue o trem para Paris? ― Ele tem dois bilhetes. Eu tenho que encontrá-lo as dez. Ele até mesmo arrumou a venda. Ele me levou para ver Cecil. Seja o que for que estaremos recebendo, vai ser leiloada na segunda, e eu tenho que estar lá. Então eu acho que ele não pode me matar, certo? Ela tentou rir, mas não funcionou. Keith não apreciou isso. Keith voltou a comer por um momento, espetando um enorme pedaço de faisão que Ginny não podia acreditar que isso realmente conseguiu entrar em sua boca. Ele mastigou-a, com os olhos movendo-se frente e para trás enquanto pensava. ― Parece que tudo que você precisa é a carta ― ele disse finalmente. ― Correto? ― Certo. Mas ele não vai dar para mim. ― Mas ele vai estar com ela amanhã, certo?
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― Ele teria que estar. ― Tudo bem então. Nós temos uma solução. ― Nós temos? ― Você esquece ― ele disse. ― Eu sou um homem de muitas habilidades. Ele estendeu as mãos sobre a mesa e mexeu os dedos. ― Você toca piano? ― Ela disse. ― Você se esquece das minhas vergonhosas vidas anteriores? Eu sou um ladrão.Eu pego coisas. ― Pensei que em sua maioria, você vandalizada coisas. ― Eu roubei um carro ― ele disse com orgulho. ―E muitas outras coisas. ― Mas você parou. Você não faz mais isso. ― Eu desisti de roubar por ganho, mas não há nada de errado em usar minhas habilidades para o bem, não é? Todo mundo adora Robin Hood. E eu não perdi o meu toque. Oliver Davies leva a carta, eu a roubo. Fácil. Ele deslizou sua cadeira mais perto, até que eles estavam diretamente lado a lado, o braço dele contra a dela. Cada fio de cabelo em seu braço levantou-se em uníssono, arrepios em todos os lugares. Isso deveria ser como encostar em alguém que tinha abacaxis como membros. ― Isso é facilmente solucionável, Gin ― ele disse. ― Isso não é nada. Vamos pegar a carta de volta, e você pode ter a arte de sua tia.Vamos lá, agora. Ninguém mexe com a minha louca. Oh deus. Ela estava com tudo formigando. Ela ia ficar histérica. Ela estava indo agarrá-lo pelo rosto e beija-lo. Não havia nenhum local dele que ela pudesse olhar para tornar isso melhor. A forma como o seu novo corte de cabelo revelava seus ouvidos um pouco mais, a forma como a sua camiseta esticava em seu peito, as pulseiras envolta dos pulsos. . . tudo destaca algo sobre ele que parecia insuportavelmente maravilhoso. Suas mãos tremiam um pouco. Ela rapidamente puxou para baixo em seu colo.
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― Obrigada ― Ela disse virando a cabeça parcialmente na direção de Keith. Ela não conseguia olhar para seu rosto. Ela tinha que encontrar uma zona morta em algum lugar sobre ele que produzisse nenhum sentimento. Ela tentou para a axila, o que ela poderia olhar facilmente porque ele tinha o seu braço estendido, mas mesmo isso a fez ficar com o pulso mais rápido. ―Eu tenho que ir ― ele disse. ― Eu estava de passagem. Mas isto está certo agora, sim? Eu vou passar por aqui às oito e meia amanhã e nós vamos passar pela estação juntos para trabalhar nos detalhes. Ele se levantou e vestiu o casaco e cachecol. O fato de que ele estava saindo sem dizer porque, ou para onde estava indo, ou convidá-la disse a ela tudo o que ela precisava saber. Ellis. Eles estavam indo para algum lugar. Ou talvez ela já estava em sua casa para uma noite aconchegante. Ela comandou seu cérebro para parar esta linha de pensamento. Keith estava aqui agora. Ele estava indo ajudá-la. Eles iriam pegar a carta de volta. Não era exatamente como antes, nunca seria exatamente como antes, mas era alguma coisa. ― Amanhã ― ele disse, quando saiu. ― Nós vamos buscá-la. Lembre-se, eu nunca falhou em nada. ― Nunca ― ela disse. Ele estendeu a mão e deu ao novo corte de cabelo um chacoalhada com a mão. ― Ainda tenho que me acostumar com isso ― ele disse. ― Eu também ― ela respondeu. Muito sabiamente, ele não disse mais nada, e correu para o seu carro.
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É preciso um ladrão A estação de trem St. Pancras era precisamente o tipo de coisa que Ginny esperava ver quando foi para a Europa, junto com catedrais vastas, carros pequenos, propagandas apresentando nudez casual, e médicos fumando na frente de hospitais. Uma grande porção da construção era uma obra de arte massiva gótica vitoriana, feita de tijolinhos profundamente vermelhos e coberta em dois níveis de arcos feitos de tijolos alternativos e pedra branca. Na ponta há uma torre do relógio – uma espiral fechada cercada por espirais mais curtas. A outra parte da estação é um templo impecável e super moderno. Junto com a enorme galeria, dúzias e dúzias de arcadas de pequenos tijolos estão cheias de todo tipo de loja ou serviço, incluindo o mais longo bar de champanhe da Europa, quase 90 metros. Centenas e milhares de pessoas andando com bolsas, algumas com pouca, ou nenhuma idéia para onde vão, pessoas estendendo as passagens de trem e as conexões e desajeitadas com a nova moeda. É exatamente o tipo de lugar que um ladrão poderia gostar de passar o tempo. Ginny e Keith estavam parados no parapeito do segundo andar. Ginny levantou o olhar para o enorme arco de vidro que formava o teto. Sua mala estava em seus pés, e ela tinha quatrocentos Euros no bolso. Mesmo se conseguisse cento e trinta mil dólares na venda, a maior parte seria separada para a faculdade. Sua conta no banco tinha muito menos, e isso daria uma boa levantada. Ela teria que ter muito cuidado nos próximos dias. — Tudo bem — disse Keith. — A última vez. Você vai encontrá-lo bem ali na estátua...
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A estátua era o Ponto de Encontro, e era fácil de perceber quando Oliver aparecesse. Nove metros de altura e feita de bronze, mostrava um homem e uma mulher em um momento de encontro de tirar o fôlego, seus rostos bem próximos, prestes a se beijarem. Era tão bom ter um grande lembrete de metal do romance ascendendo sobre ela e Keith. — Vou observar de um dos arcos — Keith continuou. — E eu vou estar com isso — ele levantou um grande mapa de Londres para turistas difícil de manejar que eles tinham acabado de comprar. Tinha sido escolhido pelo tamanho, e quando era completamente aberto, se tornava um grande escudo de papel farfalhante. — Só o que você tem que fazer é fazê-lo mostrar a carta por alguns segundos. Eu faço o resto. Assim que eu pegar, eu dou no pé. Te encontro lá fora. — Acabei de lembrar de uma coisa — Ginny disse, se inclinando sobre o parapeito, fazendo força para baixo, empurrando contra o abdômen. — É o mesmo truque que algumas crianças pregaram em mim em Roma. Eles chegaram em mim com um jornal. Eles estavam balançando bastante o jornal, tentando me distrair e pegar minha bolsa. — Ora, é um movimento antigo, mas é sólido. Eles conseguiram alguma coisa? — Não. Esse cara apareceu e os espantou. O que Ginny decidiu não contar foi que esse mesmo cara, que tinha a mesma idade dela e era meio gostoso, a convenceu a ir ao apartamento da irmã dele, onde ele tentou ficar com ela. Ele era tão vago que Ginny teve que ir embora. Por que ela corria para tantos ladrões e caras imorais? Quando o enorme relógio acima deles bateu dez horas, a figura alta de casaco preto de Oliver passou embaixo deles, indo para a escada. Junto com a bolsa de couro, uma pequena mochila descansava em suas costas. Oliver estava vestido menos formalmente desta vez. Combinado com o casaco preto, ele parecia algum tipo de trabalhador prestes a ir a uma missão.
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— É ele — ela disse. Keith levou um momento para fazer uma anotação mental de seu alvo. — Casaco preto? Rosto adunco? Ginny concordou com a cabeça. — Tudo bem — ele disse. — hora do show. Não se preocupe. Eu não perdi meu toque de charlatão. Ele piscou e saiu do lado de Ginny, andando para fora de vista. Ela respirou fundo e puxou a alça de sua bolsa, deslizando ela até a estátua. — Pronta para ir? — Oliver perguntou. — Ainda temos um tempinho, mas podemos também passar pela segurança agora, a não ser que você precise de algo de alguma das lojas... — Eu quero ver a carta — ela disse. — Por quê? Você sabe que não vou deixar você ler. Bom argumento. Ginny apertou a alça da mala e olhou para o rosto de Oliver. Era um rosto magro, com feições fortes e impassíveis. A estátua atrás deles era mais expressiva. — Por que... — ela disse — eu comecei cada trecho da outra viagem olhando para uma carta. Eu só preciso ver tudo bem? É assim que é feito. Oliver se balançou nos calcanhares e considerou, então abriu a aba da bolsa de couro e tirou alguns pedaços dobrados de papel azul entre dois dedos. Imediatamente, Keith apareceu pelo corredor atrás da estátua e andou na direção deles rapidamente. Ele estava segurando o mapa, fingindo luta e confusão, abrindo o mapa deste e daquele jeito, olhando em volta como se estivesse tentando se orientar.
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— Estou no ponto de encontro — ele disse com o que Ginny presumiu que fosse um sotaque americano. Era um pouco estranho, meio como alguém que tivesse pegado os sotaques de um cowboy, um surfista, e um gangster da década de 30 e colocado tudo em um liquidificador. — A estátua. O ponto de encontro. A estátua. A grande estátua das pessoas se beijando... — Satisfeita? — Oliver disse, segurando as páginas. Ele não percebeu Keith, que estava se aproximando cada vez mais. Ele não estava, contudo, perto o suficiente. Oliver estava começando a guardá-las. — Espere... — ela disse. — Cadê o envelope? Eu preciso ver o envelope também. — Não estou com o envelope aqui. — Por que não? — Porque eu não precisava. Eu só precisava da carta. Keith estava a alguns metros atrás dele agora. — A estátua, não a estação — ele dizia. Quanto mais perto ele chegava, mais Ginny podia ouvir o sotaque, e quanto mais ela ouvia o sotaque, pior soava. Com sorte Oliver só pensaria que era como os americanos soavam. — Em que rua você está? Não, a estátua está na estação... — Bang. Keith esbarrou nele, forte. Por um momento, o mapa se fechou em volta da mão esticada de Oliver. Keith murmurou pedidos de desculpa antes de juntar o mapa como se estivesse muito envergonhado, e se apressando. Quando ele tinha ido embora, a mão de Oliver estava vazia, e Keith tinha sumido. Funcionou. Funcionou
de verdade. Este era para ser o momento em que Ginny ria de triunfo e soltava a fala que esteve preparando na mente durante a noite sem sono. Ela estava pronta para ir, assim que o olhar de consternação e choque cruzasse o rosto de Oliver. Mas não cruzou.
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Não havia mais por que fingir agora. Ginny se virou na direção em que Keith tinha fugido. Ele tinha parado na base dos degraus e estava balançando o mapa e parecendo muito confuso. Ele olhou para Ginny, balançou a cabeça, e começou a subir os degraus. — Acho que não saiu como planejado — Oliver disse, quando Keith os alcançou. — Quem é você, afinal? — Sou o cabeleireiro dela — Keith disse. — Ela não vai a lugar nenhum sem mim. O que você fez? — Cheguei aqui uma hora mais cedo. Eu fiquei bem ali... — ele apontou para um lugar do outro lado do segundo andar, talvez uns vinte metros de distância. — Eu vi vocês dois chegarem e fazerem todo seu complô. Não foi tão difícil imaginar o que vocês estavam fazendo. — Então onde está a carta? — Ginny perguntou. Oliver pegou a manga do casaco e puxou as páginas azuis. — Parece que nós dois temos mãos leves — ele disse a Keith. — Você é o maior idiota e obviamente não tem amigos. Oliver dispensou Keith com um aceno de ombro e voltou sua atenção a Ginny. — Vou pegar o trem. Está é a última oferta. Ou você vem comigo, ou terminamos aqui. Oliver começou a andar na direção da área de embarque do Eurostar. — Desculpe — Keith disse. — Pensei que tinha conseguido... — Tudo bem — Ginny respondeu. — Mas acho que tenho que ir. Eles tentaram, e eles falharam. Keith afundou as mãos no bolso e olhou para o chão. Ela levantou a mão num gesto falho de despedida.
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— Vejo você em alguns dias — ela disse. Ela tinha dado só alguns passos quando Keith correu na frente deles e bloqueou seu progresso. — Eu tenho um carro — ele disse, mostrando as chaves para Oliver ver. — Bom para você — Oliver respondeu. — Acontece que também tenho alguns dias livre. Então eu dirijo. Paris não é tão longe assim. Talvez seis ou sete horas? — De jeito nenhum que eu vou com você — Oliver disse, dando a volta nele. — Não ofereci dirigir para você. Ofereci dirigir para ela. Você pode fazer o que quiser. Mas Ginny não se mexeu. — Eu vou com ele — Ginny disse alto. — No carro. Eles obviamente deixaram Oliver de boca aberta. Ele não tinha um rosto expressivo, mas ela podia sentir o desprazer vindo dele em ondas. — Precisamos fazer isso juntos — ele disse. — Podemos — Ginny se ouviu dizendo. — Podemos nos encontrar lá. Que tal a pirâmide na frente do Louvre? — Boa escolha — Keith concordou. — Pirâmide. Louvre. Amanhã cedo? Divirta-se no trem. Ele deu um tapa no ombro de Oliver, forte, e cruzou o braço com o da Ginny para conduzi-la. Era tudo que Ginny podia fazer para não pular... Cantar... Chorar de alegria. Tudo bem, não era
exatamente como no verão, mas eram só eles dois, indo juntos. Indo a Paris juntos. Dirigindo juntos no carro dele por horas e horas, em direção à Cidade das Luzes. Eles fariam as refeições juntos, e conversariam por horas. Eles teriam que arranjar um lugar para ficar...
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— Você vai pagar pela gasolina, claro — Keith sorriu para ela enquanto ele andava para a porta. — E todo o resto. Será como os velhos tempos! Acho que quero queijo. Muito queijo. — Muitos queijos — Ginny disse, balançando a cabeça. A fantasia durou o caminho até a parada do ônibus do lado de fora das portas da estação. Foi então que Oliver os alcançou. — Outra vez — Keith disse, sem olhar para ele. — Não te ofereci carona. — Bem, eu vou. Ou isso não vai acontecer. O que devemos fazer quando conseguirmos as peças? Acho que você vai me deixar segurá-las, não é? Keith soltou um longo suspiro e olhou para Ginny. Uma leve chuva tamborilava no vidro do ônibus. — Nós vamos ter que levá-lo, né? — Ele disse. — Provavelmente — Ginny respondeu triste. — Neste caso... Quero cem Euros adiantados para a gasolina e como pagamento geral pela irritação de ter você no meu carro. — Eu comprei os bilhetes do trem — Oliver disse. — Não é culpa minha se não estamos os usando. Eu dou cinqüenta e nós vamos trabalhar a partir de lá. — E vinte libras pelo estacionamento e taxas de congestionamento — Keith adicionou. As mãos de Oliver alcançaram o bolso e tiraram um pouco de dinheiro. Ele também estava preparado; ele tinha uma quantidade de Euros. Depois de dar a Keith uma nota de cinqüenta euros e uma nota de vinte libras, ele enfiou um cigarro na boca e acendeu, mostrando que o acordo estava feito. — E você fuma — Keith fuma. — Ótimo. Nem pense em tentar isso no carro.
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Oliver solicitamente deu alguns passos. Conciliador para um chantagista. — Você percebe — Keith disse, olhando para a bolsa de Oliver — que seu único valor é a carta que você tem no bolso da frente de sua bolsa. Seria uma vergonha terrível se você fosse separado de sua bolsa e empurrado para fora de um carro em movimento em algum lugar perto de um pasto de vacas francês. — O que, esta carta? — Oliver alcançou o bolso e mostrou algumas páginas dobradas. — Posso resolver esse problema agora mesmo. Ele amassou o papel e jogou a bolinha na estrada. Ginny soltou um grito sufocado de horror enquanto carros e caminhões e ônibus andavam sobre ela. Alguns segundos depois sumiu, provavelmente carregada por algum pneu. — O que você acabou de fazer? — Ela gritou. — Aquele era só um papel azul que eu tinha comprado em Waterstones. Como ele disse, estou ciente que meu único valor é ter a carta. Não se preocupe. Está segura. — Segura onde? — Segura de batedores de carteira com ridículo sotaque americano. O ônibus se moveu até a parada. Oliver jogou o cigarro fora e mexeu as mãos, indicando que ele seguiria Keith e Ginny. — Não sou uma pessoa violenta — Keith disse sob a respiração, enquanto subiam os degraus para o segundo andar do ônibus. — Mas eu estive realmente querendo trabalhar nisso.
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A Carta Falante A maioria do caminho para Folkstone era por uma rodovia, então as próximas duas horas foram gastas principalmente olhando para traseiras de caminhões, vans entre outros veículos e os vários cavalos e ovelhas que pareciam pastar ao longo das principais artérias de tráfego da Inglaterra. O carro de Keith era até mesmo pior no inverno, no banco de trás. Era estreito e pobremente isolado. O aquecedor era um conceito de piada que provavelmente era mais engraçada perto das aberturas no painel do carro. Ginny se acomodou dentro de sua jaqueta e fechou o zíper até seu queixo, expirando ar quente em si mesma. Na frente, Keith e Ellis conversavam, mas Ginny não podia ouvi-los muito bem com o barulho do motor. Oliver esteve com seus fones de ouvidos o tempo todo. Ele estava em uma pequena bolha, na sua bolha. Uma vez que chegaram a Folkstone, percorreram um caminho por uma longa fila de carros em uma doca, onde ficaram por meia hora. Então um homem em uma jaqueta verde e amarela chamativa acenou para que fossem ao longo da plataforma do trem para um série de portas largas que dava diretamente no trem. Essa era uma experiência estranha, estar em um carro dentro do trem. Todos os carros se dirigiram através dos compartimentos do trem prateado. Havia anúncios nas paredes, e tudo estava banhado em uma luz amarela suave. Em seguida, outro homem em um colete sinalizou para eles pararem. Portas foram trancadas e uma grade de metal pesada desceu, trancando-os. Não havia janelas ao redor, não que ali deveria ter qualquer coisa para ver. Eles estavam indo por um túnel, passando por baixo do Canal da Mancha, um tipo muito longo de viagem em um elevador sentido horizontal. Oliver tentou se esticar, acidentalmente esbarrando nas costelas de Ginny. Ela se afastou.
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― Então ― ela disse. ― Vai me mostrar à carta para sabermos onde estamos indo? ― Não há nada para ver ― Oliver disse. ― Não está comigo. Nisso, Keith e Ellis se viraram. ― Você não está com a carta? ― Ginny perguntou. ― Você a esqueceu? ― Eu a memorizei. ― Você está brincando ― Keith disse. ― Eu percebi que você não é como as outras crianças, mas está brincando quanto a isso. Em resposta, Oliver tombou sua cabeça para trás, e começou a recitar. “Oh, você ainda está lendo. Bom! Tudo bem, Gin. Está na Grécia. Grécia é um ótimo lugar para
ficar...” Está certo, ele não estava brincando. Era estranho ver tia Peg abrir caminho por uma voz inglesa profundamente masculina. Era como uma sessão espírita horrível. Em um carro, em um trem, abaixo do Canal da Mancha. “Você já viu água como esta? Sol como este? É de se imaginar que os gregos estejam entre os
primeiros a realmente fazer perguntas sobre a natureza da beleza, arte e da vida em si? Este é o lugar onde nasceram os pensamentos Ocidentais. É aqui onde as Grandes Questões foram forjadas sobre as coisas que têm comido coletivamente o cérebro da espécie humana por milênios, o grande ―Que diabos está acontecendo? Que diabos está acontecendo? Isso tem sido a questão principal da minha vida.‖ ―Às vezes eu pergunto em um grande senso. Às vezes eu quero dizer em um senso imediato muito
pequeno, como quando eu tento pagar minhas contas. Ultimamente, com o câncer no cérebro e tudo mais, eu me pergunto o tempo todo. Eu me pergunto sobre o controle remoto (o que, para ser razoável comigo, é insanamente complicado). Eu me pergunto quando eu não consigo me lembrar de qual é o
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caminho para o supermercado. Minha doença tem me levado a uma jornada de questionamentos, Gin. Questões, e muito esforço para comprar (pão nos correios). ‖ ―Até mesma eu sei que algumas das coisas que eu pedi para você fazer são estranhas, e sou uma
esquisitona com um tumor do tamanho de um ovo em sua cabeça. Mas eu tenho um método para minha loucura. ‖ ―Eu quero que nós façamos uma pintura juntas. Essa pintura é inspirada por algum amigo meu e
a grande Mary Adams o chamou de Pinte Isso para Mim. Ela produziu uma série de dezesseis pinturas idênticas - bem simples - e depois as deixou em vários lugares em volta de Edinburgh para serem tocadas, admiradas, atingidas pela chuva, pisadas, rabiscadas, retalhadas... Seja lá o que aconteceu com as pinturas, tudo isso fez parte. Depois ela as recolheu e fez uma exibição. Eu sempre gostei da idéia de que as pinturas estavam lá fora vivendo suas vidas, sendo modificadas pelo mundo. Minha idéia é um pouco diferente. Eu estou fazendo uma pintura com materiais diferentes que eu tenho colocado em volta de vários lugares. Na ordem de coletá-las, você precisará visitar alguns lugares nos quais já esteve, e ir a um lugar que ainda não foi. Estou marcando seu percurso para casa. ‖ ―O primeiro lugar que irá voltar é para Paris. Ninguém – procura - Paris após uma visita.
Ninguém. Como você chegará lá é por sua conta. Eu sei o quanto gostaria de fazê-lo - eu pegaria balsas de toda maneira a caminho do mediterrâneo, parando em Sicília e Sardinia. Ou você poderia partir ao longo da costa italiana e francesa, ressaltando seu caminho ao longo de Rivera. Ou você poderia apenas pegar um avião. Seja lá o que faça seu barco flutuar. Ou avião. Apenas vá para Paris. E o que está lá - a primeira parte desta peça é o fundo - o céu.‖ ―Às vezes, Gin, eu me pergunto sobre qual objeto inanimado eu gostaria de ser, se eu pudesse ser
algum objeto inanimado no mundo. Há tantas boas escolhas. Eu adoraria ser um avião que cruza o atlântico duas vezes por dia. Amaria ser a Fonte Tivoli, onde poetas se empoleiraram por centenas de anos, e turistas vieram para entender a alegria da arte viva. Mas aquele que sempre acompanha a
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minha mente é muito mais humilde. Eu amaria ser uma mesa em Paris, onde a comida, a arte e vida são combinadas em uma, onde pessoas se reúnem e conversam por horas. Eu quero que amantes se encontrem em mim. Eu queria ser coberta com gotas de velas de cera e miolos de pão e anéis do fundo de copos de vinho. Eu nunca ficaria sozinha e eu sempre serviria para um bom propósito. ‖ ―Eu suponho que você se lembra de ir ao restaurante de minha amiga Paula, aquele que decorei?
Eu arrumei quatro mesas para isso. Todas elas ficavam do lado de fora, e eu pintei cada uma à mão. A tintura que usei não era feita para o desgaste de um restaurante, então elas devem estar bem marcadas. É com você pegar aquela que você sabe que é certa. Você saberá quando avistar. Use seus instintos. ‖ ―Paul sabe que você voltará para pegar um dos tampos. Eu pedi para não mencionar isso quando
você voltasse - então eu espero que você pareça surpresa por estar voltando. ‖ Oliver parou e brincou com o fecho de sua bolsa. ― É isso, por enquanto ― .Ele disse. Foi somente então que Ginny percebeu que estava apertando os músculos de seu estômago a ponto de dar náuseas, se segurando em seja lá qual foi à sensação que esta carta produziu. Não era tristeza ou excitação, era saudade de casa e nostalgia. Era como ouvir a voz de um fantasma. Ninguém pronunciou uma palavra sequer até o trem parar e fazerem seu caminho lentamente até a estrada francesa, o que parecia mais ou menos com a rodovia inglesa que tinham deixado para trás. ― É um café ― Ginny disse quietamente. ― Les Petits Chiens. É assim que se chama. Levou cerca de três horas de viagem através da França, pontuado por uns poucos retornos espertalhões e explosões de juramentos de Keith. Ellis navegava enquanto Keith negociava um carro com direção ao lado direito sobre o qual era, para ele, o lado errado da rodovia. Oliver voltou a ouvir sua música e a olhar pela janela. Ginny foi deixada com os próprios pensamentos, o que era honestamente o último lugar onde queria ser deixada.
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Eles alcançaram Paris por volta das cinco, bem quando as ruas estavam enredadas com o tráfego e a escuridão havia descido e as ruas brilhavam com o laranja das luzes das ruas. Era bizarra a rapidez em que as estradas genéricas poderiam se transformar em... Bem, Paris. Pela primeira vez desde que entrou neste carro, Ginny sentiu um surto de excitamento. Havia a Torre Eiffel, apenas iluminada para a noite. Havia longas extensões de prédios brancos em tom creme com seus enormes telhados cinzaescuros e clarabóias. Havia os sinais do metro Art Nouveau da virada do século vinte com seus sinuosos metais verdes trabalhados que pareciam plantas curvadas. Este estranho e impossível lugar que parecia com uma coleção de palácios, uma cidade desmazelada, um museu, um apertado grupo de cafeterias, tudo, ao mesmo tempo. No verão, as árvores haviam sido finas e verdes. Agora, estavam nuas, mas pesadas de luzes, tantas luzes, na cor de bolhas de champanhe. Paris leva suas decorações a sério. Os cheiros da cidade escoaram o pão vindo das padarias, o cheiro convidativo de um caminhão de crepes, a rajada ocasional de esgoto ou lixo. Então, voltando para os pães e crepes. O estômago de Ginny roncou alto. ― Eu poderia comer um desses cachorrinhos ― Ellis disse, apontando para alguém andando com uma criatura parecida com um rato. ― Eu estou com muita fome mesmo. ― Eu também. ― Keith desviou para evitar um pedestre ― ou, talvez, em direção ao pedestre. Era difícil de dizer. ― Estou feliz que estejamos indo a um café. Eles dirigiram em direção a cada vez mais ruas menores com aparências familiares, finalmente chegando a uma rua estreita onde motocicletas tinham tomado completamente as calçadas para seus propósitos de estacionar. O carro meramente caberia naquela rua. Keith parou quando ele não pode ir mais longe e eles pareciam estar no lugar certo. Eles saíram do carro. Oliver imediatamente agarrou seu maço de cigarros e posicionou um em sua boca.
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― Eu sei onde nós estamos ― Ginny disse. Algum lugar em seu cérebro, tinha memorizado o layout destas pequenas passagens. Começou a andar surpreendendo a si mesma com sua própria segurança. Certa o bastante, ela virou uma esquina e viu a árvore que bloqueava a entrada, agora sem folhas. Les Petits Chiens estava escuro. Havia uma indicação pregada à porta, o que era escassamente visível. Nunca é bom quando há um aviso na porta de uma loja ou restaurante. Isso nunca significa: ―
Estamos abertos e tudo está funcionando bem. Ginny segurou o celular para iluminá-lo. ― Está em francês ― ela disse. Seus três anos e meio de francês colegial a tinham liderado para este momento. ― Está dizendo... ―Queridos clientes, Jean-claude e eu fomos ao Orange neste feriado. O restaurante... Abrirá... ― Alguma coisa, alguma coisa... ― Em três de janeiro. Feliz Natal e Ano novo‖... Oh meu Deus. Estará fechado até janeiro. Assim o era. Falha instantânea, diretamente fora do portão. Oliver pôs as mãos em conchas em volta do rosto e o pressionou na janela para ver por dentro. Ele tentou abrir a porta, mesmo não tendo sentido algum. Keith imediatamente começou a rir cansadamente como alguém que dirigiu todo o caminho para Paris em um carro sentido contrário. ― Então nós fizemos toda essa viagem para nada ― ele disse. ― Brilhante, talvez fosse uma coisa que podíamos ter checado se tivéssemos a carta. ― Tudo bem! ― Ellis disse brilhantemente. ― É apenas um pequeno revés. Nós fizemos toda a nossa viagem para cá, podemos descobrir isso. Ninguém respondeu então ela tentou de novo, desta vez, repreendendo um pouco enquanto falava.
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― Nós não comemos direito o dia todo ― ela continuou. ― Precisamos de comida para nos animar, e temos a melhor comida do mundo em nossa volta. Vamos encontrar um bom cafezinho e algum jantar. Então nós poderemos nos decidir sobre o que fazer depois. Certo? Nada. ― Certo? ― Muito bem ― Keith disse. ― Estou morrendo de fome. Ele jogou um braço sobre os ombros de Ellis. Com a outra mão, ele acenou para Ginny ir junto. Ginny caminhou quietamente. Ele pousou seu outro braço sobre seus ombros, fazendo deles um amigável trio. Atrás deles, Ginny podia ouvir Oliver caminhando quietamente em seus passos.
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A Fraude do Cartão Eles estavam em um café a quatro ruas acima do Les Petits Chiens. Foi escolhido simplesmente porque era o lugar mais parecido com um Café de todos os outros Cafés pelos quais haviam passado, pequenas mesas com tampo de mármore, madeira negra, barras niqueladas, e um menu simples escrito em uma lousa oferecendo três pratos principais e um copo de vinho por dezoito Euros cada. Ainda era um pouco cedo para os Parisienses jantarem, então eles tinham o lugar quase inteiramente para si mesmos. Oliver foi forçado a se sentar sozinho em uma pequena mesa de canto. Ginny pode ver que ele estava tentando parecer digno, mesmo após sua demonstrativa rejeição e banimento. O jeito em que ele se sentou ali com seu longo casaco preto, deliberadamente em uma posição muito direita, comendo seu prato de frango assado... Ginny quase sentiu pena por ele. Ela tinha de dizer a si mesma para não olhálo. Eles já tinham acabado com uma panela de sopa de cebola, e agora iriam comer os grandes pratos de mexilhões e os cones de batatas fritas desordenadas na mesa. Ela nunca tinha comido mexilhões antes. Eles lhe pareciam muito estranhos, com suas negras, quase opalescentes conchas, que se abria largamente para revelar dentro dele um pedaço roliço de fruto do mar. Mas acabou que roliço era bom, especialmente quando se vê nadando em uma piscina de vinho branco e molho de alho, dos quais se pode bebê-los nas conchas vazias e banhar-se em pão fresco. Este provavelmente seria exatamente o tipo de prato que tia Peg gostaria de ver em sua mesa. ― Certo ― Ellis disse, comendo o último cone cheio de batas fritas. ― E agora?
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Essa era uma pergunta excelente, e uma que Ginny não poderia responder, mas ambos a olhavam como se ela estivesse prestes a jorrar correntes de pura sabedoria. ― Eu não sei ― ela disse. ― Quero dizer, eu quero pegar o tampo. Mas Paul não está aqui. Eu acho que posso tentar encontrar um e-mail ou deixar um recado ou alguma coisa. Talvez ele mande isto para mim... Alguma coisa assim. Keith pegou o resto de sua comida e Ellis se inquietou um pouco. Essa não era a resposta mais inspiradora. Ginny encarou as conchas de seus mexilhões e a pequena quantidade de caldo no fundo de sua vasilha. Ela ainda estava em Paris, comendo comida parisiense em uma bela noite parisiense de inverno. Isso já era algo. ― Alguém quer ouvir uma sugestão? ― Oliver perguntou da distância de três mesas. ― Não mesmo ― Keith disse em voz alta. Oliver agarrou seu prato com frango assado e batatas e se juntou a eles, tomando espaço ao lado de Ginny na mesa. ― O dono do restaurante já sabe que você está indo a busca disso. A carta fala claramente isto. ― Nós não roubaremos o tampo da mesa. ― Ginny disse, empilhando suas conchas em uma pirâmide. ― Não é roubo se isso já é seu. O que nós estamos falando é de arrombar e entrar ― e nós podemos entrar sem arrombar nada. ― E o que isso quer dizer? ― Keith perguntou. ― Manipular a fechadura. Keith bufou e balançou a cabeça. Ele apanhou mais um pedaço de pão e o dividiu ao meio.
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― Tudo que preciso é de um pequeno pedaço de arame ― Oliver disse. ― Estou disposto a tentar, a menos que alguém tenha idéia melhor. ― Você vai estar lá ― Keith disse, sua voz trazendo um tom suavemente defensivo. ― À vista da rua inteira, e praticar todos aqueles truques de arrombamento que aprendeu na Internet, verdade? Soa bem habilidoso. Ginny tinha se contido até agora, mas ela tinha que se manifestar. ― Vamos parando por aqui ― ela disse. ― Meu tampo. Minhas regras. Cale essa boca e volte para o seu canto. Ela ficou surpresa pela firmeza em sua voz. Julgando pelas suas expressões, todos estavam também. Keith sorriu. Ellis teve de sufocar uma risada em seu guardanapo. Oliver não fez absolutamente nada durante uns bons trinta segundos, depois pegou seu prato e se levantou. ― Escute ― ele disse, olhando-a e encontrando seus olhos. ― Se nós deixarmos Paris sem aquele tampo, então não a sentido em continuar, e nossa viagem inteira terá sido por nada. Esta é sua única e última chance. Ou tentamos pegar isto, ou irei embora agora mesmo. Eu ainda tenho a passagem de volta. Pense bem nisso. O silêncio tomou conta por um momento. Ginny ouviu o som abafado da rádio francesa nos fundos da cozinha, o arrancar da casual motocicleta que descia a rua. Ela era a capitã desta operação desastrosa, sem uma pista do que fazer agora, ou aonde ir em seguida. Ela só sabia do que não queria saber, mas este tipo de informação, na verdade, não te leva a lugar algum. ― Tanto quanto não gosto de concordar com ele ― Ellis finalmente disse, acenando em direção ao Oliver com sua cabeça e abaixando a voz. ― Acho que ele está certo. E se pudéssemos entrar sem causar nenhum dano sequer? Você poderia fazer isso, Keith. Sabe que pode. Eu já vi você abrindo janelas, entrando em vários tipos de lugares.
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― Sim, eu posso fazê-lo ― Keith disse. ― Esta não é a questão. É a pintura de Ginny. E se ela não quer arrombar nada, bem... Eles pararam a conversa quando foram presenteados com torta de maçã e café que estavam inclusos em seus cardápios. Era um belo e dourado pedaço de pasta que acabara de sair do forno. ―... Mas eu poderia examinar o local e medir quais são as nossas opções. Talvez haja um jeito de não termos de danificar nada. Quer dizer, desde que estamos aqui. Parece que não há sentido em ir embora sem nem ao menos uma segunda rodada, Gin. Ginny partiu sua torta em dois pedaços com o garfo, liberando uma pequena nuvem de vapor. A garçonete voltou e depositou um pequeno jarro de creme sobre a mesa. Tal sugestão era tão razoável que não coube a Ginny muito espaço para argumentar. Não havia sentido em ir embora sem olhar o prédio mais uma vez. Umas poucas mesas atrás, Oliver encarava abertamente, ouvindo cada palavra. ―Ta bem ― Ginny disse. ― Digo, se você quiser olhar. Só... Olhar. Acho que está bem assim. Keith bateu na mesa e se levantou. ― Você nem comeu sua torta. ― Ellis disse. ― Está tudo bem. ― Ele abriu um sorriso preocupante. ― Eu não gosto de frutas. Uma vez que ele se foi, Ellis e Ginny foram deixadas sozinhas. Eram somente elas na enorme cabine de madeira negra, encarando uma a outra através da mesa de mármore. Ellis comeu sua torta alegremente, murmurando sobre sua felicidade de estar mesmo em Paris e comendo comida francesa de verdade pela primeira vez. Ginny se sentiu levemente enjoada, mas se forçando a engolir em pequenos pedaços escaldantes. Uma vez que a comida e o café já se acabaram, não havia nada entre elas. Sem distrações. Só tempo de qualidade para beber uns aos outros. Havia Ellis, tudo que Ginny não era. Não só
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inglesa, mas londrina. Otimista e sem medo quando Ginny estava cautelosa e inquieta. Preparada. Bem disposta. Não era de se admirar que Keith a estivesse namorando. Isso só fazia sentido. Ellis brincou com seu anel por um momento, então tirou as cartas de Trop Trumps de sua bolsa. ― Quer jogar? ― Ela perguntou. ― Eu sei que é bobo, mas me acostumei a amar estas coisas. Eu devo ter tido uns 20 baralhos destes. Não era considerado um feriado se não houvesse Top Trumps. Vamos ver... Eu tenho de dinossauros, do Harry Potter, carros... Oliver deslizou pela cabine perto de Ginny. ― Quer ver um truque? ― ele perguntou. Sem esperar por uma resposta, ele alcançou um dos baralhos e começou a correr por uma série de embaralhadas muito chiques. Então ele espalhou as cartas sobre a mesa, viradas para baixo. Era o maço dos cachorros. ― Escolha uma carta ― ele disse. ―Olhe-a, mas não me diga o que é. ― O que infernos você está fazendo? ― Ginny perguntou. ― Mostrando um truque a você. Umas das duas peguem uma carta, olhe-a, e coloque de volta no maço. Pelo menos agora Ellis e Ginny estavam de volta exatamente na mesma página. Elas se olharam através da mesa. De todos os muitos aspectos de sua personalidade, Oliver nunca havia demonstrado nem de longe, Oliver, o que faz truques de mágica, que era, na verdade, o mais estranho. Ellis riu alto. ― Oh, então vamos lá ― ela disse, pegando uma carta. ― Você claramente é um espiritual. Uma vez que ela olhou e colocou no lugar, Oliver juntou o baralho, embaralhou mais algumas vezes, e começou a virar as cartas.
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― Acha que isso significa que somos amigos? ― Ginny perguntou. ―Não. ― ele continuou embaralhando. ― Esta é a sua carta? ― Ele levantou uma carta com a figura de um cão pequeno. ― Não. ― Ellis disse. Ele virou mais algumas vezes, então levantou um labrador preto. ― Este aqui? ― Não. Oliver mostrou carta por carta, mas Ellis negou em todas elas. Quando ele chegou ao fim do maço, ele vasculhou. ― Isso é estranho ― ele disse. ― Isso normalmente funciona. Qual carta era? ― Um golden retriever ― Ellis disse. A porta bateu aberta e Keith se apressou pelo café até eles. O frio havia iluminado suas bochechas, e seus olhos eram brilhosos. ― Certo. ― Ele disse. ― Nós estamos com sorte. Há uma passagem atrás de todos os prédios daquela rua. Eu a desci e achei uma janela na parte de trás do restaurante. Não será realmente um problema em abri-la e entrar. Nada quebrado. Nada danificado. Confiem em mim ― fazia isto o tempo todo. Ginny procurou por algo em sua mente, qualquer coisa que pudesse atrasar isto. ― E se houver algum alarme? ― Ela perguntou. ― Eu seriamente duvido disso. É um restaurante de um cômodo com quatro mesas. Há uma fechadura simples na porta da frente, na qual é quase inteiramente feita de vidro. Qualquer um poderia
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arrebentar aquele lugar a qualquer hora se quisessem. E provavelmente leva a caixa registradora com ele à noite. Além de que não há nada para levar a não ser as louças. Sem ofensas as habilidades de decoração de sua tia, mas pelo que pude ver da janela já parece que o lugar foi vandalizado. Aquele lugar parece com meu carro ― muito lixo para valer a pena roubar. ― Parece que está tudo bem pra mim ― Oliver disse. ― Eu toparei. ― Não é com você ― ele respondeu. ― É com ela. Todos os olhos estavam em Ginny. Fora as quatro pessoas desta mesa, ela era a única que parecia ter qualquer dúvida sobre este plano. O rádio zumbiu na cozinha e o retinir de pratos cresceram. Lá fora havia muitas buzinas. Tudo estava aumentando. Havia um sentimento crescente de que algo estava acontecendo, e se Ginny não tomasse parte disso, seria deixada para trás para sempre. ― O que nós estamos procurando de novo? ― Ela perguntou. Oliver pousou suas mãos na mesa e piscou uma vez. Ginny quase pode vê-lo mudar páginas em sua cabeça. ― Eu acho que... ― Ele parou e tamborilou os dedos, então balançou a cabeça com segurança. ― Eu suponho que se lembra de ir ao restaurante de meu amigo Paul. Aquele que decorei? Eu fiz quatro tampos para ele. Eles foram feitos do lado de fora, e eu os pintei cada um à mão. A tintura que usei não fora propriamente feito para os desgastes de um restaurante, então eles devem estar bem marcados. É com você pegar aquele que acha que é certo. Saberá quando vê-lo. Use seus instintos. ― Quatro mesas ― Keith disse. ― Não será difícil. ― Está bem. ― Ela disse. ― U-hu! ― Keith estapeou a mesa. ― Essa é a malvada que conheço. ― E nós? ― Ellis disse, indicando ela mesma e Oliver.
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― Não há sentido em todos irmos. Ginny tem que vir, para identificar a mesa, mas você deve ficar no carro, E. Não acho tenhamos tanto tempo sobrando, e a última coisa da qual precisamos é de um monte de gente na porta. O Posh Boy ficará na porta da frente. Não diretamente na porta... ― Sim, eu poderia ter adivinhado esta, obrigado. ―... Mas próximo. Você pode ficar nas redondezas, fumar e parecer francês. Qualquer problema, bata na janela. Todos combinados? Ginny não estava nem remotamente de acordo, mas as coisas estavam em movimento. A conta foi trazida, e ela deixou sessenta euros enquanto os outros vestiam seus casacos. ― Só me deixe levar Ellis de volta para o carro ― Keith disse. ― Fique aqui. Estarei de volta em um minuto. Oliver colocou seu isqueiro em na mesa e o rodou. ― Eu não tenho nenhuma ilusão sobre nós dois ― Ele disse. ― Eu fiz o truque da carta porque vi que estava nervosa. Quando está nervosa, precisa de distração. Eu providenciei uma. ― Embora você não seja tão bom em prestidigitação. Acho que é um bom sinal você não manipular a fechadura. Ele deu de ombros. ― Eu também estou nervoso ― ele disse, se levantando. ― Vou fumar. Estarei lá fora. Houve um pequeno tilintar de sinos enquanto a porta era fechada. Ginny distraidamente comeu a crosta da torta de maçã intocada de Keith. Ela não tinha certeza do que era mais desconcertante o fato de que ele a havia distraído muito bem e a fez temporariamente menos nervosa, ou de que ele estava sendo honesto sobre seu próprio nervosismo. Ela não queria que ele tivesse boas qualidades. Pessoas horríveis deveriam ser horríveis o tempo todo. Essa deveria ser a lei.
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Ela encarou a rua, relembrando a última vez que esteve em Paris com Keith. Eles invadiram um cemitério. E eles foram pegos. Na última vez deixaram passar. Desta vez, eles podem não ser tão sortudos. Realmente, a única questão agora era se ela deveria ligar para Richard antes que a polícia os pegarem, ou depois. Ela buscou pelo celular em seu bolso. Algo veio junto e caiu no chão. Ginny se abaixou para pegar. Ao seu lado, no chão, estava uma carta com a figura de um golden retriver.
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A grande cambalhota da mesa Keith puxou seu chapéu sobre sua cabeça, pressionando todos os confins franjados de seu cabelo para baixo ao redor de seu rosto. Deu-lhe costeletas longas e quase obscureceu totalmente seus olhos. ― Eu pareço matreiro, não? ― ele disse. ― Bom. Melhor olhar o papel. ― Ele bateu e esfregou as mãos ansiosamente. ― Eu não posso dizer se você está entusiasmada ou prestes a ficar violentamente doente. ― Existe uma terceira opção? ― Anime-se ― disse ele, colocando um braço em volta dos ombros dela. ― É comigo que você está. Eu iria levá-la a fazer algo estúpido? Melhor não responder. Apenas me siga por este caminho escuro. Colocado assim, a idéia tinha mais apelo. Siga Keith no escuro... Sim, isso ela poderia fazer, mesmo se o beco que ele havia descrito fosse na verdade somente um espaço de pouco mais de um pé de largura. Era uma separação menor entre os edifícios, nada que as pessoas realmente deveriam passar. Keith virou-se de lado e começou a se mover com rapidez. Ginny só podia ver o seu contorno, e principalmente seguido pelo som, tentando não arranhar seu rosto ou joelhos em nenhuma parede. Isto tinha de ser algum tipo de beco de lixo para o restaurante. O que quer que estivesse sob os pés era mole e escorregadio, talvez caixas, talvez comida ela se recusou a considerar outras opções. E, na verdade, lixo de restaurante parisiense até cheirava agradável. Era mais fresco do que outros tipos de lixo, mais doce, como frutas maduras. Talvez tenha sido algo que ela poderia colocar em seu ensaio da faculdade:
Lá estava eu, rastejando pelo beco de lixo doce para entrar no restaurante...
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― Você está bem? ― Keith perguntou. ― Tenha cuidado quando você chegar ao final. Há uma velha bicicleta que você tem que passar por cima. ― Ótimo ― disse ela, tentando manter seu tom confiante. Mesmo sendo avisada, ela tropeçou em na bicicleta. Ela provavelmente tropeçou porque tinha sido avisada e estava dizendo para não tropeçar na bicicleta. Ela fazia isso algumas vezes. Muitas vezes era mais fácil não saber quais obstáculos estavam no caminho. O espaço atrás dos edifícios era mais amplo, porém desconexo, principalmente cheio de latas de lixo, caixas, e pedaços rejeitados de mobílias. Keith havia ligado seu telefone celular para ter luz e foi segurando-o até uma janela estreita de cerca de um metro e meio do chão. ― Veja. ― Keith agarrou o parapeito e se levantou para olhar pela janela escurecida. ― Fácil. O que ele estava descrevendo como ― fácil ― teria sido mais bem descrito como ― muito alto, muito estreito, e muito trancado ― mas Ginny guardou o pensamento para si mesma. ― Tudo bem ― ele disse, pulando para baixo. ― Eu vou conseguir abrir a janela. Só preciso de uma ferramenta para o trabalho... Ele bisbilhotou no lixo por um momento até que encontrou uma cadeira de aparência extremamente instável. Se parecia arriscado no escuro, Ginny não podia sequer imaginar o quão ruim teria parecido se ela pudesse ter dado uma boa olhada nisso. Mas Keith subiu nela, no entanto, e começou a trabalhar na janela. ― Está trancada? ― perguntou ela. ― Isso não é problema ― ele sussurrou. ― Abaixe sua voz. Primeiramente, ele deve ter tentado desprende-la, mas depois de um minuto ou dois, ela ouviu seus esforços ficarem mais altos e seu tom se tornou mais frustrado e determinado. Finalmente, houve um barulho estilhaçado e ele a balançou aberta com triunfo. ―Lá vai! ― disse, descendo da cadeira. ― Sem problema. Saiba que você consegue.
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― Eu primeiro? ― Eu sou um cavalheiro. Ginny subiu na cadeira. As pernas estavam tremulas e o assento era feito de um tipo de trançado de cesta que parecia que iria ceder a qualquer segundo, então quanto antes ela saísse dela e entrasse pela janela melhor. Ela passou a cabeça e os ombros. O cômodo estava escuro como breu, com um cheiro terrível e séptico. Ela só conseguia perceber que era pequeno, e que havia um pequeno objeto branco bem abaixo dela, a privada. Isso tornava impossível deslizar primeiro com a cabeça. Na verdade, lá não parecia uma entrada afinal. Ela simplesmente estava pendurada ali, cerca de um metro e meio de altura, metade fora e metade dentro do edifício, com nada em que se segurar. Além disso, ela estava quase certa que seus quadris não caberiam na abertura. ― Vamos. Temos que ser rápidos aqui. Eu vou te dar um impulso. E com isso, sua mão estava embaixo dos pés, empurrando-a para cima e para dentro e na sua cintura. Dali, ela vacilou entre o mundo da privada e o mundo do beco, sua metade superior encarando um destino terrível, e sua metade inferior na direção de Keith. Os quadris, como ela já havia adivinhado, prenderam-na, deixando-a no vaivém. ― Se vire de lado ― ele sussurrou para ela. ― Eu sei ― Ela disse tentando se virar lentamente, com alguma forma de manobra graciosa poderia ser puxada disso. Uma vez que começou a virar, ela começou a cair para frente novamente, bem na área da privada. Keith pegou suas pernas agora e estava segurando-as para apoio, então agora ela estava pendurada sobre a privada. Na falta de outra escolha, ela arrastou-se para colocar as mãos no assento. Seu cabelo solto ficou suspenso de cabeça para baixo, bem dentro do vaso. Não havia nenhum ponto em desistir agora. Ela permitiu seu peso cair para frente e deslizou desajeitada na direção da antiga privada francesa. Em seguida, ela estava no chão, com a final e repugnante indignidade de estar com um fio de seu cabelo úmido pousando na boca. Ela o cuspiu.
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― Vê? ― ele disse. ― Fácil. O banheiro era um lugar muito pequeno, não maior que um armário de vassouras, o que significa que eles estavam pressionados juntos... Não cara a cara, mas cara a lado da cabeça. Ela estava perto o suficiente que tinha certeza que o ouviu sorrir. ― Vamos? ― ele sussurrou. Ela simplesmente podia sentir o roçar de seus lábios pelo cabelo que cobria sua orelha. Por um momento, ela se arrependeu amargamente de não ter feito tranças. Haveria definitivamente contato de lábio e pele. E agora, ele estava esfregando seu estomago na tentativa de encontrar a maçaneta. Isso era demais. Ela estava ficando tonta. Foi sorte que estava tão escuro, que ela teve a boa desculpa ao agarrar o batente da porta. Ginny precisou de uma serie de respirações profundas para se estabilizar e segui-lo, através da cortina frisada que revelava a minúscula cozinha, o bar e a sala com quatro mesas. A frente do restaurante era composta principalmente de duas grandes janelas cobertas de pesadas cortinas de veludo púrpuras. Estas estavam bem abertas. Keith apontou para elas. Ele as puxou de um lado para fechar, e Ginny atravessou para puxá-las do outro. Elas eram muito eficientes bloqueadoras de luz. Agora estava escuro como breu. ― Vamos acender as luzes e fazer isso o mais rápido que pudermos ― ele disse. Isso exigiu muita falta de jeito, sentindo as paredes. O Les Petit Chiens não era um lugar grande. Embora eles trabalhassem em paredes separadas, eles trombaram varias vezes, um numero de vezes levemente incomum, na verdade. Finalmente, um deles acertou o ponto direito na parede e o pequeno lustre se acendeu. De repente, ela pode ver o trabalho de arte da sua tia, que cobria cada superfície. Havia suas colagens, as fotos e pedaços de pratos quebrados que foram montados em estilo mosaico na parede ― as centenas de fotos de cachorros, todos os olhos e caudas e corpos peludos aleatórios. ― Tudo bem ― Keith disse, examinando as quatro mesas extravagantemente coloridas. ― Qual você acha que é?
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Uma era laranja, uma cor de ameixa, uma era amarela e uma era azul. Todas eram borrifadas com desenhos e pingos de tinta. Ela ficou em pé no final da sala e passou o olho de uma para a outra, de novo e de novo. ― Ela quer o céu, certo? ― Keith disse, apontando para a mesa azul. Seu olho demorou na mesa azul por um momento. Ela estava coberta de borrifos que poderiam ter sido estrelas. Elas eram amarelas e vagamente parecidas com estrelas. Mas Tia Peg não pintaria um céu azul com estrelas amarelas. Ela poderia pintar ao contrario, contudo. Ela se virou para a mesa amarela. Ela não tinha quase nenhuma outra pintura, exceto algumas manchas de vermelho, que quase pareciam acidentais. ― Não será essa ― Keith disse ― é só uma mesa lisa. Ginny continuou olhando para a amarela. Ela estava marcada profundamente por manchas de fundo de copos, esferas de vinho tinto, cicatrizes de umidade. Esta era a mesa com a cor mais clara, a menor proteção. Esta era a que mais se marcaria. Ela colocou a mão na sua superfície e estendeu a mão para a mesa cor de ameixa na mesma hora. A cor de ameixa tinha uma superfície fria e escorregadia. A pintura parecia protetora. Esta pintura amarela era diferente. ― É esta ― Ginny disse. ― A amarela? Tem certeza? ― Olhe ― ela disse apontando para os anéis e marcas. ― esta é exatamente aquela que ela iria querer. Ela falava sobre pessoas bebendo vinho, reunindo-se em uma mesa. E estas marcas ― elas são como o sol, ou a lua, ou... Bem, era isso realmente. Mas ela ainda sabia que era a melhor escolha. Keith se abaixou no chão e olhou para a mesa de baixo. Ele exibiu uma ferramenta multiuso no caso, com cabeças de vários tamanhos para diferentes trabalhos. ― Onde você conseguiu isso? ― Ginny perguntou surpresa.
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― No meu carro. Eu a tinha lá desde que mudei o aparelho. Já que sua cabeça estava embaixo da mesa, Ginny podia olhar o restante de Keith enquanto ele trabalhava. Esta era uma visão calma e agradável, interrompida somente pelo som inconfundível de uma sirene a distancia, uma daquelas sirenes européias choramingantes que soam como se fossem nee-
neer-nee-neer-nee-neer, e ela podia ver o eco de uma luz flamejante de algum lugar rua abaixo. Ginny afastou um pouco a cortina e encontrou-se encarando Oliver, que acenava freneticamente para ela soltá-la. ― Oh meu Deus... ― Ginny disse. ― Oh meu Deus... Pare. Pare! Keith congelou no lugar, absorvendo essa informação sensorial. ― Isso é para nós? ― ele indagou. ― Nós temos que ir! ― Certo. Talvez eu estivesse errado sobre o sistema de alarme. Oh bem. Você nunca sabe até tentar. Eu quase havia arrancado essa coisa, de qualquer forma. ― Disse calmamente, como se isso fosse simplesmente uma trivialidade, então se levantou. Ele deu uma sacudida no tampo da mesa. ― Vamos, sua bastarda ― ele disse, gemendo um pouco para conseguir afrouxar a ultima porca do parafuso. ― Precisamos ir ― Ginny sibilou. ― Isso não adianta agora. Desligue a luz e feche a janela de trás. ― O que? ― Eles provavelmente irão checar as portas e as janelas e irão embora, ― ele disse calmamente. ― Nós só temos que abaixar as cabeças e a voz. Vários segundos de completo pânico sucederam-se quando Ginny tentou encontrar o interruptor da luz novamente, então tateou pela escuridão, e colidiu na privada para chegar à janela. Então outra tateada para entrar na sala principal. Keith estava invisível na escuridão.
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― Abaixe-se ― ele sussurrou, agora com um traço de urgência na voz. Ginny caiu de joelhos, então se arrastou pelo chão até que ela encontrou o bar. Ela chegou atrás dele, curvando-se em uma bola. Do lado de fora, Oliver estava muito alto com alguém. ― Eu devia me encontrar com alguém aqui, veja ― ele estava dizendo. ― É onde ela vai ficar. Eu tentei as portas... Um Frances rápido de outra pessoa, e mais protestos de Oliver, que estava bancando o turista confuso tão bem quanto Keith de manhã. Um turista inglês levemente bêbado e arrogante. ― Veja ― ele disse ― eu não sei o que está acontecendo, mas eu só estava esperando aqui. Você fala inglês? Ela disse Vinte e cinco Rue de... Espere. Que rua é essa? Que rua é essa? Você pode me mostrar... ― Ele está roubando meu habito ― Keith sussurrou do outro lado da sala. ― Bastardo. Ele permaneceu assim por vários minutos até que as vozes retrocederam. Ela ouviu Keith se movendo, então ela espiou sobre o bar. Ele estava se levantando, puxando a mesa novamente. ― Nós precisamos sair! ― ela disse. ― Quase terminei... Fique em pé na porta, você ficaria? ― Há policiais do lado de fora. ― Eles foram embora, o que significa que temos agora para fazer isso. Confie em mim, eu fiz isso antes. Você confia em mim, não? Quando eu digo agora, você atira aquela porta aberta. Então destrance as travas. Não havia tempo para pensar nisso. Ela controlou a tremedeira das mãos quando ela buscava pelas travas. Havia duas travas na porta, mais uma trava estranha que precisava de muita sacudida para destravar. ― Pronta? ― ele disse. ― Um... ― Agora!
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As portas duplas do Les Petit Chiens se abriram. Keith içou a mesa e apressou-se para fora com ela, colocando-a cuidadosamente na calçada. ― Pegue-a ― disse. ― Leve-a para o carro. ―E você? ― Não se preocupe comigo. Estarei com você em um segundo. Ele entrou de novo e fechou as portas, deixando Ginny na frente do restaurante com um tampo de mesa feito de metade de uma porta. Ela não tinha opção a não ser se mexer, tão rápido quanto possível. O tampo era grande, mas não excessivamente pesado. Era impossível correr com ele, então ela misturou-se tão rápido quanto pode. Havia uma pequena rua ramificada a seis metros de distancia, tão estreita quanto esta. Ela virou nela, não tendo nenhuma idéia de onde ela levava. Era quase impossível descer por este beco com meia porta, mas ela também não podia ficar na mesma rua do restaurante assim, ela entrou na rua a abaixo virando à esquerda e à direita para passar espremida por latas de lixo e bicicletas. Bateu em guidões de bicicletas e paredes de tijolos e vários objetos não vistos. Este beco não ia em linha reta, mas ondulava entre edifícios em uma curva longa. Ela emergiu em uma rua muito mais brilhante e ocupada, uma rua alinhada com muitas lojas pequenas: uma quitanda noturna, uma loja de suplementos de embalagens, uma banca de crepe, um restaurante senegalês. Depois de algumas voltas erradas, ela finalmente voltou para uma rua que ele se lembrava e viu o carro branco no final. Pessoas estavam dando a ela muitos olhares, mas ela se endireitou, trabalhando seu caminho pela multidão com o tampo da mesa. Ellis pulos do carro para ajudá-la. ― Onde está Keith? ― Vindo. ― Onde está o Oliver? ― Eu não sei. Ellis abriu a porta de trás e subiu do outro lado e ajudou a colocar o tampo no lugar. Então, sem ela sequer ouvi-lo se aproximando, Keith se juntou a eles.
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― Como isso apareceu... ― disse. Oliver estava bem atrás dele, correndo rápido. Seu peso deu a ele um passo estranho e saltado, fazendo a barra de seu casaco agitar para cima e para baixo. Por um momento, Ginny estava trespassada pela visão. ― Entre, entre, entre ― ele dizia ativamente empurrando-a para a traseira com o tampo da mesa. Ele se espremeu bem atrás dela e somente para conseguir fechar a porta. Eles ainda estavam em um emaranhado quando Ellis apertou o acelerador e eles partiram.
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Para Bélgica! A cena dentro do carro havia se tornado muito mais complexa nos últimos momentos. Para começar, o tampo da mesa fez uma parede entre a frente e os bancos traseiros, com apenas dez ou doze centímetros na parte superior deixado aberto para a comunicação. Ginny e Oliver agora tinham seu próprio quartinho ― um quarto que definitivamente não conseguia manter os dois. Havia o dobro de Oliver tanto quanto havia de Ginny. Seus joelhos estavam encolhidos em seu espaço do torso, a extensão do braço era muito mais ampla do que o banco traseiro. Ele estava preso no lugar. Enquanto isso, o carro em si estava inclinando-se por uma rua parisiense, enquanto Ellis se acostumava com a condução do lado oposto. Ginny estava pulando no minúsculo pedaço de espaço restante, batendo em Oliver, então na porta, de novo e de novo. A maioria dos contatos era do tipo ombro e rosto e de cotovelo e abdômen... Com o bater de corpo inteiro ocasionalmente. À frente das boas notícias, não parecia que ninguém estava atrás deles. ― Se eu pudesse mover isto ― Oliver disse, tentando levantar o tampo da mesa o suficiente para conseguir abaixar as pernas e os pés debaixo dela. Keith olhou por cima do tampo da mesa e para o mundinho estranho das terras do banco traseiro. ― Isso parece realmente desconfortável ― ele observou, inclinando o queixo e as mãos sobre a mesa, a esmagando um pouco para baixo nos dedos do pé de Oliver. ― Você se importa? ― Você roubou as minhas palavras ainda pouco. Você é um bastardo. ― E eu salvei o seu traseiro. ― Eu poderia ter nos tirado de lá. Tudo o que tínhamos a fazer era esperar.
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― Para onde vou? ― Ellis gritou. ― Será que alguém vai me dar as direções? ― Você acha que você poderia gerenciar uma de suas pequenas declamações para que tenhamos alguma idéia do que diabos está acontecendo? ― Perguntou Keith. ― Onde é que a carta nos envia a seguir, oh irritadiço? ― Basta sair da cidade. ― Precisamos de um pouco mais do que isso ― Keith disse. ― Eu não posso exatamente alcançar o meu telefone agora para procurar as direções. ― Então diga-nos qual é a nossa próxima parada ― disse Keith. ― Nós não precisamos de você jogando Flight of the Navigator13 aqui atrás. ― Eu vou lhe dizer onde precisamos ir até a noite ― disse Oliver. ― Você pode ouvir o resto amanhã. E pare de se inclinar sobre a mesa. ― Keith liberou a mesa e se retirou. Oliver continuou seus esforços para levantar a mesa e conseguir uma posição normal sentado. Com uma série de empurrões e esbarrões, ele conseguiu isso. Seguidos empurrões e esbarroes lhe permitiu conseguir libertar seu telefone. Ele estava procurando as direções. ― Por que você simplesmente não vai dizer? ― Ginny perguntou, enquanto sua cabeça batia contra o seu ombro. ― Porque eu não quero acabar atirado para fora no lado da estrada. Quanto mais eu sei das coisas, mais eu posso evitar responder. Ela teve que admitir, havia algum sentido nisso. Na verdade, tudo de repente fez uma espécie de sentido. A pequena euforia tomou conta de Ginny, juntamente com um ataque de soluços. Eles haviam
feito isso. Eles tinham feito isso até Paris e conseguiram esta mesa. E, embora as circunstâncias não fossem ideais, Paris ainda era Paris, e o sucesso ainda era o sucesso.
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Filme de ficção cientifica de 1986
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Eles estavam na Champs-Élysées, um das grandes avenidas de Paris. Ginny a reconheceu de seu livro de francês, especificamente, de um diálogo chamado ― On the Avenue des Champs-Élysées. ― Era um dos muitos diálogos no livro entre Véronique e Sylvie, duas meninas que principalmente dedicavam seu tempo à leitura de menus em voz alta e recitar longas seqüências de números de telefone. Em On the Avenue des Champs-Élysées no entanto, elas saíram de sua zona de conforto e caminhavam e diziam como tudo era formidável na Champs-Élysées. Elas tinham um ponto. E agora Ginny realmente entendeu por que eles chamavam Paris de ― Cidade Luz. ― A Champs-Élysées durante as férias não era nada além de luz. Luzes escorriam das árvores. Com a velocidade que eles estavam indo (que estava acompanhando o tráfego, o que significava, provavelmente, muito rápido), todas as luzes desfocadas juntos em uma raia maravilhosa. Tia Peg estava certa. Paris não era um lugar que você poderia entender depois de uma visita. Um lugar maravilhoso deste iria levar uma vida inteira. ― Oh não ― disse Ellis. ―Ah ― Keith acrescentou para dar seguimento. ― Ah? ― Ginny disse, saindo do transe. ― Oh, não? ― O que 'ah' significa? ―Oh não‖ o quê? Eles tinham parado por alguns instantes. Diretamente à frente deles, banhado em luz, em um grande oceano de luz, estava um dos grandes marcos de Paris, o Arco do Triunfo, o enorme arco branco, tão grande que um pequeno avião poderia ser pilotado debaixo ele. E em torno desse tráfego circulado em arco, muito, muito tráfego. . . Centenas, milhares, talvez milhões de carros, apenas dando voltas e voltas e voltas. Tinha que ser oito ou dez faixas, mas não havia pistas. Nada ligado a carros em qualquer posição particular. ― O que estou fazendo? ― Ellis gritou. ―Para onde vou? ― Espere um momento ― Oliver disse, trabalhando ainda em seu telefone. ― Eu não posso esperar um momento! ― Sabe o que eu ouvi uma vez? ― Keith disse sombriamente, quando a luz mudou. ― O seguro é inválido no círculo ao redor do Arco do Triunfo.
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O pequeno carro branco gritou na luta corpo a corpo e começou dar a volta no monumento, carros imergindo de todas as direções, de descascando, vindo da frente, deslizando por trás. Carros estavam vindo para eles de lado. ― Tudo bem ― disse Oliver. ― Tudo bem. Você quer que o terceiro cruzamento. Aquele para a
Place de la Porte Maillot... ― Qual terceiro cruzamento? Não há cruzamentos! Uma motocicleta zumbiu perto, a apenas alguns centímetros da porta de Ginny. Ellis deve ter apertado o acelerador, porque o carro inteiro balançou e estremeceu. ― Você quer jogar? ― Ellis gritou. ― Tudo bem, então! Joguei um monte de vídeo game de crianças, vadias! ― Ali! ― Oliver gritou. ― Por ali! Na direção da Boulevard Périphérique. Lá! Lá! O carro desviou bruscamente para a direita. Ginny ouviu Keith xingar por uns sólidos dez segundos. ― Desculpe! ― Ellis gritou, imergindo cada vez mais longe para direito com determinação insana. Ela empurrou o carro para fora da rotatória em uma virada final e audaciosa. ―Vire à direita! ― Oliver gritou. ― Pegue a A-1 para Lille! ― Onde? ― LILLE. ― A-1? ― SIM! Com uma última volta gritante, eles começaram a sair correndo de Paris. A A1 era apenas uma rodovia, e a noite era um espaço em branco no inverno. Estava mais frio do que nunca agora. Ginny e Oliver tinham trabalhado juntos para criar algum tipo de paz com o tampo da mesa, mas o resultado final foi que ela sentou-se nos pés dos dois e bloqueou completamente qualquer calor vindo da frente. Então, eles tinham duas coisas fazendo-os ficar entorpecidos. Ambos entraram em um modo de hibernação, em silêncio, entocados em seus casacos. A única vantagem de sua proximidade foi que eles tinham um pouco de calor um do outro. De repente, houve uma pequena
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explosão de emoção do banco da frente, e Ginny viu que eles estavam entrando em um posto de gasolina. ― Parada da gasolina! ― Ellis gritou. Oliver e Ginny não podiam simplesmente sair do carro, eles precisavam ser extraídos debaixo do tampo da mesa. Keith e Ellis trabalharam de ambos os lados, um empurrando e um puxando, para tirála do carro. Ginny e Oliver tropeçaram para fora, Oliver fazendo um caminho irregular longe do carro para fumar. Os pés de Ginny estavam completamente formigando. Levaria vários minutos antes que ela pudesse andar. Ela inclinou-se contra o carro, enquanto Ellis foi para dentro para encontrar um banheiro, e Keith encheu o tanque. Ela observou o pequeno contador na bomba girar no que parecia ser um número incrível de Euros. Gasolina era cara aqui. ― Eu preciso lhe dar dinheiro ― ela disse. ― Vou usar o dele agora. Como você se sente, a propósito? Sendo um ladrão de verdade? ― Enjoada. ― Isso é um sinal que você está fazendo certo. Você fez bem lá atrás. ― Eu ainda não posso acreditar que fizemos isso ― ela disse. ― Oh, você sabe como essas coisas são ― respondeu Keith. ― Você vai a Paris, rouba parte de uma mesa, e depois passar toda a noite dirigindo para a Bélgica. Deus, quando eles vão parar de fazer este filme? ― Bélgica? ― Ginny perguntou. ― É onde nós vamos estar se nós continuarmos indo por esta estrada. Aposto que você sempre quis ir para a Bélgica. Ginny olhou em volta para todos os arquivos mentais que ela tinha da Bélgica, mas nada veio, exceto um pequeno memorando sobre o chocolate. Além disso, ela não tinha ligado para Richard. Ela tinha que fazer isso agora, antes que fosse mais tarde e eles realmente deixassem a França. ― Eu tenho que fazer uma chamada ― ela disse, segurando o telefone. Keith acenou e continuou enchendo o tanque. Ginny suportou a dor de caminhar sobre seus pés dormentes e tentou
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manter a caminhada uniforme e suave enquanto caminhava para o lado do posto. Richard atendeu ao primeiro toque. ― Oi ― ela disse, tentando soar casual. ― Sou eu. Estamos aqui na França... ― Como está Paris? ― ele perguntou. ― Realmente... Cheia. ― Houve muito barulho no fundo onde quer que Richard estivesse. ― Você ainda está no trabalho? ― ela perguntou. ― Infelizmente, sim. Você deu entrada no mesmo albergue? ― Oh... Nós estamos fora. Nós vamos conseguir um quarto agora. ― Não uma mentira. Certamente a intenção. ― Você não tem um lugar ainda? Não é depois das nove? ― Yeah... Mas tudo bem. Estamos indo agora. De verdade. ― Eu tenho certeza que ele está apenas... Me mande uma mensagem para me deixar saber que você está em segurança no albergue, tudo bem? ― Ok ― ela disse. ― Eu vou. ― Quando saiu do telefone, Ginny olhou para as estrelas. A visão aqui era incrível para isso, escuro e limpo. As únicas coisas em volta, além deste posto de gasolina eram um aglomerado de casas escuras até a estrada e uma turbina eólica à distância. Daqui, ela podia ver estrelas cerca de o dobro do que ela podia em casa, talvez três vezes mais. O céu estava coberto com elas. Ellis acabou com Keith no carro. Eles estavam conversando em voz baixa, rindo baixinho. Embora eles provavelmente estivessem falando sobre o que eles tinham acabado de conseguir, Ginny sentiu uma onda de ciúme. Ela voltou correndo para se juntar a eles. ― Hey, estúpido! ― Keith gritou para Oliver. ― Entre no carro ou nós deixamos você aqui! Oliver jogou o cigarro na estrada e veio até eles. ― Olha como o casaco bate no vento quando ele anda ― disse Keith. ― Muito arrojado. Ele é como Batman.
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A coisa era, na verdade ele era uma espécie de arrojado. O casaco era extremamente longo e teria diminuído um monte de caras, mas parecia certo em Oliver, e ele batia em torno de suas panturrilhas enquanto andava. ― Você vai nos levar para a Bélgica? ― Keith perguntou cansado. ― Eu preciso saber. É tarde. Precisaremos parar daqui a pouco, nós estivemos andando o dia todo agora. ― Podemos parar em Ghent à noite ― Oliver respondeu. ― Não é muito longe. Talvez uma hora. Continue indo por este caminho. ― Tudo bem. Hora de arrumar vocês dois de volta no carro. Você consegue. Ginny deu um último olhar para o céu, estremeceu sob o seu tamanho, e voltou para dentro do carro onde o mundo era menor, porém não mais fácil de compreender
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Uma Sensação de Galpão Enquanto dirigiam para o norte na direção de Ghent, o céu claro tornou-se gradualmente mais leitoso e rosa, e uma neve leve começou a cair. Era bem por volta das dez quando eles entraram na cidade propriamente dita, e era um grande contraste da desolação da rodovia ou a expansão magnífica de Paris. Ghent parecia uma congregação de catedrais. Cada edifício no centro era ornamentado, com milhares de pequenos detalhes e ganchos, pináculos e miraculosas tonalidades esculpidas em pedra ou em tijolo. Uma luz quente amarela banhava as ruas que agora estavam cobertas por uma leve camada de neve. A cidade estava situada ao redor de um rio, que brilhava sob as luzes. ― Bem, parece que encontramos Hogwarts ― disse Keith. ― Agora, aonde nós vamos? ― Nós tentaremos encontrar um lugar que esteja aberto ― disse Oliver. ― É tarde, e é feriado, então não há nenhuma garantia de que vamos encontrar nada. Eu tinha um lugar para nós em Paris... ― Então, por que você não disse isso? ― Porque nós estávamos fugindo da polícia. Eu pensei que mesmo você poderia resolver aquilo. Eu tinha um plano. Meu plano teria funcionado. Você mudou o meu plano. Não é minha culpa. ― Deus, não ― disse Keith. ― Nada disso é sua culpa. ― O que estou dizendo... ― Meninos! ― Ellis gritou. ― Estou cansada agora! Cama! Dormir!
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― Eu procurei alguns lugares bem agora ― Oliver continuou. ― Eu busquei alguns albergues e pequenos hotéis. Há uma área de estudantes que deve estar vazia. Devemos tentar lá primeiro. Sugiro que estacionemos e tentemos a pé. Pode ser mais fácil ir de porta em porta que tentar dirigir indefinidamente. Keith parou o carro junto a uma das ruas de trás, em algo que pode ou não pode ter sido um espaço de estacionamento. Mais uma vez, Ginny e Oliver foram extraídos do seu local de armazenamento. Eles entraram na leve neve que caia flocos pesados e ornamentados que já cobriam as pontes e calçadas. O frio havia permeado Ginny agora, ele estava profundamente em seus ossos. Mas pelo menos ela estava de pé. Ela podia se mover. Ghent era bonita, e Ghent também estava fechada. No centro da cidade, todas as portas enfeitadas com hera pareciam trancadas, e cada janela serpenteada com luzes de Natal estava escura. Eles caminharam por meio de um mercado central vazio, cheio de pequenas barracas verdes, todas fechadas. Eles passaram por um pequeno castelo com uma estátua de teia de aranha ao lado dele. Eles acharam a rua dos hotéis, que estavam todos fechados ou cheios. Eles passaram um albergue, mas havia fechado em outubro. Tentaram as ruas circundantes, mas encontraram muito mais do mesmo. Depois de um tempo, eles tinham claramente se perambulado do caminho turístico para uma área residencial. Dentro das casas e apartamentos acolhedores, Ginny podia ver televisores e computadores e pessoas em sofás reclináveis. Tudo o que ela queria agora era um lugar para dormir. Qualquer lugar. ― Eu sinto que estamos reencenando a história da Natividade ― disse Keith, puxando para baixo o seu chapéu sobre as orelhas. ― Nenhum quarto na pousada, nenhum lugar onde reclinar o nosso tampo de mesa. ― Que tal isso? ― Oliver apontou para uma placa em uma janela, que estava escrita em várias línguas. Em Inglês, dizia: “Quartos para estudantes ou viajantes, barato e limpo, toque a campainha .” O
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prédio parecia uma casa normal, uma das mais modernas na rua. As janelas do andar de cima estavam todas escuras, mas havia luzes no piso térreo, e uma luz perto da porta. ― Esta é de verdade uma casa de pernoite? ― Ellis perguntou. ― Não está realmente marcado, nem nada. ― Ela tem esta placa ― disse Oliver. ― Nada a perder. ― Keith avançou e tocou a campainha. Um minuto depois, um homem mais velho em um cardigan abriu a porta. Uma vez que seu objetivo geral foi explicado a ele, e ele ajustou para o Inglês, houve um monte de acenos. ― Vocês são... Alérgicos... A gatos? Uma pesquisa rápida começou. Nenhum deles era alérgico a gatos. A porta foi aberta mais amplamente. ― Entre ― ele disse ― entre, mas seja rápido. Eles foram levados a uma sala quente e desordenada. Este não era um albergue. Era uma casa. Uma casa que cheirava a gato. ― Eu dirijo um abrigo para gatos ― explicou o homem. ― E com o frio, tenho muito mais do que normal. Hoje, eu tenho... 26. ― Vinte e seis gatos? ― Keith repetiu. ― Na maior parte é um abrigo de gatos ― o homem continuou. ―Mas às vezes eu alugo os quartos. Às vezes. Quantos vocês precisam? Eu tenho dois. Eles são quarenta Euros cada um. Parecia muito óbvio que eles precisariam, pelo menos, de muitos, já que havia quatro deles. ― Nós vamos pegar os dois ― disse Ginny.
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― Oh, bom. ― O homem acenou com a cabeça e pegou um dos gatos do balcão, onde estava desfrutando de uma mordidela de uma planta no parapeito da janela. ― Por favor, aguarde um momento. Vou aprontá-los. Se eu soubesse que vocês estavam vindo, eu teria café da manhã para vocês. Ainda... Ele fez um gesto para elas esperarem e subiu. ― Nós vamos morrer ― disse Keith, no momento em que ele tinha ido embora. ― Este homem é um assassino em série. Nós vamos morrer, e ele vai nos enterrar em seu jardim e construir um galpão em cima de nós. O lugar era estranho, e sim, ele cheirava a gato, a muito gato, mas todos eles pareciam ser gatos legais. E eles estavam em melhor situação aqui que lá fora na neve. Ginny se abaixou e pegou um pequeno gato que tinha vindo para se esfregar em seus tornozelos. O gato era quase um filhote, longo e magro e de olhos arregalados, batendo felizmente em seu cabelo enquanto ele se aninhava em seu ombro. Oliver não parecia feliz com tudo isso. Dois gatos sentaram-se aos seus pés e apenas olharam para ele. Ele olhou para eles com cautela. ― Quem dirige uma combinação de abrigo para gatos e um albergue? ― Keith perguntou. ― Com o abrigo de gato sendo a principal função? Apenas as pessoas que querem matá-lo com um machado e depois colocá-lo no jardim e construir um galpão sobre você, que é quem. ― Eles estão prontos! ― O homem chamou um momento depois. ― Isso foi rápido ― Ellis disse em voz baixa. Os quartos pareciam quartos normal. Eles não tinham aquele anonimato que você encontrava em albergues ou hotéis. E eles tinham gatos neles. Pequenos olhos dourados olharam para eles através do escuro.
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― Agora ― disse o homem, abrindo as portas ― eu tenho um com duas camas e um com uma cama grande. ― Vamos pegar este ― disse Oliver, indo para o quarto de duas camas. ― Eu vejo como isso funciona ― Keith disse severamente. ― Eu fico com a parte chata. ― Está tudo bem ― disse Ellis, acenando para Ginny. ― Vamos compartilhar a cama. Tudo bem Gin? Ginny pegou um pedacinho de comunicação não-verbal que ondulava entre Ellis e Keith. Levou um segundo para decodificá-lo, e ela veio um pouco ilegível, mas a essência era: ― Aquele poderia ter sido nosso quarto. Nós poderíamos ter compartilhado a cama. Mas temos esses dois com a gente. ― Eles estavam poupando-a de ter de compartilhar com Oliver. Eles entraram em seus respectivos quartos e depositar suas coisas. Os quartos eram apenas a alguns metros de distância. Ela podia ver Oliver colocando suas coisas em cima de uma das camas, enquanto Keith caia pesadamente na outra. Seu anfitrião permaneceu no corredor, no caminho de luz entre seus quartos. Gatos invadiram a área geral, empurrando as cabeças para dentro para ver quem tinha vindo visitar. Um grande gato laranja imediatamente pulou na bolsa de Ginny quando ela a abaixou. Outro correu debaixo da cama. Ginny pegou o telefone para enviar uma mensagem de texto para Richard, deixando-o saber que eles estavam em segurança durante a noite. Ela olhou entre seu hospedeiro, os gatos, e seu telefone. Aqui e segura para a noite. Está tudo bem! Ela escreveu. Aquilo foi um alívio. A única coisa que ainda está em sua mente era o tampo da mesa. Ele estava lá fora em algum lugar, nas ruas nevadas de Ghent.
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― Estaria tudo bem se eu fosse e pegasse o tampo da mesa do carro? ― Ela chamou Keith. ― Eu me sentiria melhor se não estivesse lá fora. ― Carro? ― Isto instantaneamente interessou seu hospedeiro. ― Você tem um carro? Você deve trazê-lo aqui. Você pode colocá-lo atrás da casa. Vá buscar o seu carro, coloque-o atrás da casa. ― Está tudo bem ― Keith disse, levantando-se e indo até a sua porta. ― Nós só precisamos do tampo da mesa... ― Você deve pegar o seu carro e move-lo aqui agora. Você não quer deixá-lo na rua quando você pode colocá-lo aqui. Vá buscá-lo e coloque-o aqui. ― Certo ― disse Keith. ―Gin e eu vamos pegar o carro e o tampo da mesa. Nós voltaremos logo. Pela segunda vez naquela noite, Ginny e Keith partiram sozinhos, desta vez em uma cidade diferente. Seus passos esmagavam gentilmente na neve enquanto caminhavam para o carro. ― Não pisquei um olho ― ele disse, quando estavam há uma rua de distância. ― Não pisquei um olho. Você pensaria que a maioria das pessoas perguntaria: ―O que quer dizer com tampo da mesa? Por que você tem um tampo de mesa?‖ Mas não. ― Talvez ele não entendeu o inglês? ― O que ele quer ― Keith disse ― é que mudemos o carro para trás da casa assim ninguém irá vê-lo permanecer vazio depois que ele nos assassinar. Na verdade, ele provavelmente construirá um galpão no lugar onde o carro estava. Além disso, ele vai precisar do carro, para o assassinato. ― Pare de falar sobre assassinato ―Ginny disse. ― E galpões. ― Eu não posso evitar. Este lugar me enche de... Galpão.
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Isso era incrivelmente estúpido, mas Ginny não pode evitar a não ser rir. Ele olhou e sorriu contente. Eles haviam vagado bem longe na busca de alojamento, e eles levaram uns bons vinte minutos para encontrar o caminho de volta para onde haviam estacionado. Contudo, foi uma excelente caminhada. Havia uma qualidade encantadora para a cidade. Edifícios de tijolos cresciam diretamente de ruas pavimentadas com pedras. A neve havia grudado em cada fenda dos edifícios, havia polvilhado o chão. A distância, lá parecia ser um castelo com uma grande torre quadrada, coberta por quatro bandeiras nos cantos. Em resumo, muito romântico. Pior ainda, Keith nunca pareceu tão bem, a neve se fixando em seu casaco, o rosto vermelho do frio. Ele tirou seu chapéu e seu cabelo ficou um pouco em pé. Naquele momento, Ginny o amava tanto, ela sentiu como se suas costelas fossem se quebrar com a pressão. ― Keith Dobson ― ele disse, derrapando na neve ― um ator promissor e dramaturgo, considerado por muitos como um dos melhores de sua geração, liquidado no seu auge, assassinado por belgas. Não é exatamente como eu queria partir. Eu previa outra coisa, tipo afogado no pudim, comido por lobisomem, sufocado por fãs. Não isto. Não isto. Ah, o auto. Você sentiu minha falta, garota? Ele destrancou a porta do passageiro e segurou-a aberta para ela, então entrou ao lado dela. Ele colocou a chave na ignição e pôs a mão no câmbio, mas nada aconteceu. Fez um grito horrível, então, morreu. Ele tentou novamente e obteve o mesmo resultado. Ele desistiu de tentar e se virou no assento para encará-la. ― Ela não gosta do frio ― ele disse. ― Ou a neve. Ou chuva. Ou úmido. Ela não gosta de umidade. Ou... Temperatura. ― Ele acariciou o painel de instrumentos com amor. ― Então o que vamos fazer? ― Dê-lhe alguns minutos. Você tem Banco Imobiliário em seu bolso, por acaso?
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― Eu esqueci ― ele disse. ― É uma pena. Acho que vamos simplesmente esperar. A neve polvilhou as janelas transformou o carro em um pequeno casulo. Ele esfregou as mãos para se aquecer. ― Esta viagem certamente não foi chata ― ele disse. ― Mas então, nunca é com você. Que duas vezes tivemos que fugir da lei em Paris, você percebe isso? A última vez que quase fomos pegos as circunstâncias eram diferentes, ainda... Esta foi a primeira vez que ele havia feito qualquer referência direta ao que tinha acontecido antes, e não parecia acidental. Na verdade, a maneira como ele se posicionou para que estivesse de frente, encarando-a. ― Eu não achei que fosse voltar ― ela disse. ― É estranho. ― Você é estranha. É de se esperar. ― Você não estava me esperando. ― Não ― respondeu ele, após uma batida. ― Eu posso dizer honestamente que eu não estava. ― Ele fez o que sempre fazia quando ele estava incerto, ele começou a limpar a boca com as costas da mão, como se tentando afastar as palavras ou manter algo dentro. ― Eu deveria tentar novamente ― ele disse ― não deveria? ― Isto poderia significar um monte de coisas, mas neste caso em particular, provavelmente significou a ignição. Provavelmente. ― Eu acho ― ela disse. Ele coçou a cabeça, pensativo, deslocou-se para trás e endireitou-se no banco, e virou a chave. Desta vez, o carro ligou.
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― Olhe para isso ― ele disse. ― Ela sempre consegue. ― Ele ligou os limpadores e limpou a neve do pára-brisa, inundando o carro com rua e luar. Ele derrapou um pouco quando ele entrou na estrada, mas em poucos minutos, eles estavam de volta em segurança na Casa dos Gatos. Lá dentro, Ellis já tinha vestido seu pijama e estava enfiada na cama, lendo algum tipo de livro de auto-ajuda chamado Villages. ― Aí estão vocês! ― ela disse, enquanto Keith e Ginny entravam na sala com o tampo da mesa. ― Eu estava preocupada que você realmente tinha sido morto. ― O carro não ligava ― disse Keith, enquanto desciam o tampo da mesa. ― Eu não acho que ela gosta da neve. ― Keith deu uma olhada final na cama de Ellis e Ginny dividiriam e suspirou. ― Acho que eu vou ― ele disse. ― Meu companheiro de quarto está esperando. ― Tenha uma boa noite! ― Ellis disse, lhe dando um aceno serpenteando os dedos e uma risada. ― Eu odeio vocês ― ele disse, sorrindo de volta e fechando a porta. Mesmo que não tivesse feito nada errado, Ginny se sentia culpada. Ela calmamente selecionou em sua bolsa, retirando calças de moletom e camiseta. Você tinha que estar completamente vestida quando divide a cama com a namorada do cara que você amava. ― Eu tirei os gatos ― disse Ellis. ― Tínhamos cerca de dez deles aqui. Eu não tinha certeza de como você se sentia sobre dormir com eles. Eu gosto deles, mas... ― Eu gosto deles também ― disse Ginny. ― Mas está tudo bem. Eu acho que é melhor. Ellis saiu da cama e agachou-se em frente ao tampo da mesa para dar uma olhada melhor. ― Então, é isso ― ela disse. ― Isso se parece como arte para você? Eu não tenho uma veia artística em meu corpo. Você é a perita.
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Essa foi uma avaliação extremamente generosa. Ela havia escolhido uma mesa em um restaurante escuro e a roubado. Ela foi capaz de detectar pequenos redemoinhos na pintura, as marcas de uma escova minúscula. E apesar de que parecia ser um amarelo sólido, era mais escura em alguns lugares e mais clara em outros. As marcas de copos de vinho eram geralmente no centro, com gotas pequenas e sombras nas bordas. ― Eu acho que é a certa ― disse Ginny. Ellis traçou o dedo ao longo de um dos anéis de copo de vinho, as esferas estranhas que flutuavam por toda a superfície. Tremendo, ela pulou de volta para a cama e puxou o cobertor sobre si. Ginny pensou por um momento em ir ao corredor para se trocar, antes de decidir que era estúpido. Ela estava prestes a conhecer Ellis de uma maneira ou de outra. Ela desenganchou sutiã sob sua camisa e puxou-o pela manga, em seguida, tirou as roupas e vestiu o moletom tão rapidamente quanto podia. ― Você quer que eu apague a luz? ― ela perguntou. ― Claro. Estou exausta. Ginny desligou a lâmpada da cômoda e subiu para o outro lado da cama. Mesmo que a luz estivesse apagada, sua cama estava exatamente contra uma longa janela com muitas vidraças que não tinha cortina ou sombra. O céu estava claro e rosa e lançava um padrão de longos retângulos alongados sobre elas. Quando ela colocou a cabeça para trás, ela olhou diretamente em direção a neve caindo. A vista era agradável, mesmo que a deixava tonta observar o caminho que a neve estava tomando, por vezes descendo direto, por vezes entrelaçando de forma desigual, indo e vindo de uma distância impossível e navegando por elas até o chão. Apenas ela e Ellis. Juntas pelo menos. Ambas olhando para a neve.
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― Eu adoro a neve ― disse Ellis. ― Eu estou contente que nós estamos fazendo isso. Semana do Natal pode ser tão chata às vezes. Nada aberto por dias. E eu estava com tanto ciúme de que Keith tivesse que continuar sua última aventura. Obrigado por me deixar vir. Agora eu sinto que estou no clube. Ginny não tinha idéia do que dizer a isto, então ela fez um som evasivo. Uma espécie de ohurggghhhh. Foi, talvez, um pouco evasiva demais e talvez um pouco do lado as-vezes-sou-umFrankenstein. Ela tinha que fazer melhor. ― É muito bom da parte vocês me levar ― ela disse. ― Caso contrário, eu teria ficado presa com Oliver. ― Ele é tão estranho ― disse Ellis, apoiando-se. ― Você pensaria que, considerando o que ele está fazendo com você, ele seria mais pavoroso. Mais irritante. Ele parece ser uma pessoa normal. Ele é bonito. Quieto. Eu não sei... Ele simplesmente não faz sentido. Um gato miou desamparado do lado de fora da porta. Houve um pequeno arranhão na madeira e uma pata cutucou por baixo da porta. ― Pobre coisa ― disse Ellis. ― Eu me sinto mal por chutá-lo para fora. Você se importa se eu deixá-lo dormir com a gente? ― Está tudo bem ― disse Ginny. Assim que Ellis abriu a porta, um gato branco deslizou para dentro, seguido de várias outras sombras em forma de gatos. Ginny não poderia dizer quantos, mas tinha que haver pelo menos quatro gatos no quarto agora. O gato branco pulou bem em cima da cama e explorou por um momento, finalmente arrumando no meio da cama. Outro, o enorme gato laranja, pulou na ponta da cama e estendeu-se no pé de Ginny, travando-a no lugar. Ellis tomou seu lugar na cama e de novo, e elas voltaram para sua observação da neve, desta vez, com companhia peluda. ― Então ― disse Ellis. ― Keith me disse que você está se candidatando para a universidade? ― Yeah ― disse Ginny. Ela não queria soar tão sem entusiasmo quanto isso saiu.
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―Onde você está se candidatando? ― Ellis perguntou. ― Eu não conheço muitas escolas americanas. Eu nem sei como funciona. Eu sei que você tem que pagar muito. ― Eu estou me candidatando a poucos lugares ― disse Ginny. ― Principalmente perto de casa. ― O que você vai estudar? ― Ellis perguntou. ― Eu não sei. Eu achei que iria apenas fazer as aulas básicas por um ano e depois decidir. ― Eu acho ótimo que você possa fazer isso. É muito mais específico aqui. Minha escola é muito rígida. Não há muita escolha. ― Você é uma atriz? ― Ginny perguntou. ― Goldsmiths é de artes, certo? ― Eu? Deus não! ― Ellis mexeu-se no travesseiro um pouco. ― Eu não vou para a escola de Keith. Eu vou para FEL. ― FEL? ― Faculdade de Economia de Londres. Eu estudo Política Social. Eu sou uma grande nerd política e chata. Eu queria uma graduação que me permitisse ser útil, mas eu não sei se isso vai funcionar. Eu provavelmente vou acabar trabalhando para o NHS14 fazendo gráficos ou contagem do número de leitos nos hospitais. Uma amiga minha da escola vai para a Goldsmiths. Fui a uma festa em seu apartamento em novembro. Foi assim que eu conheci Keith. Novembro. Ginny fez a matemática mental. Isso foi na época que Keith mudou alguns de seus hábitos online, quando ele não tinha estado em contato todos os dias. Mesmo que ela já soubesse o resultado, ela estar em uma cama em Ghent ao lado do resultado, ainda doía. ― Acho que devemos dormir um pouco. Se eu roubar os cobertores, me dê um tapa, sim? 14
NHS (National Healthcare Sevice) em português Serviço Nacional de Saúde é o
serviço publico de saúde do Reino Unido.
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Nessa nota, Ellis capotou ao seu lado. Os gatos se reorganizaram em torno das meninas e a cama zumbia com seus ronronares. Ginny logo ouviu suaves e constantes respirações. Ellis tinha adormecido com facilidade e de forma pacífica. Ginny ainda estava bem acordada, seu cérebro sucumbindo a cada segundo do que tinha acontecido no carro com Keith. Se algo tivesse acontecido. Ok, nada tinha realmente acontecido. Mas, ainda assim, pareceu... Pareceu alguma coisa. Se ele houvesse se mexido para beijá-la, ela teria aceitado isso? Sim. Ah, sim. Tão rápido. Ela não teria sequer hesitado. Ela se virou para olhar para Ellis, que estava semi-sorrindo em seu sono, com os cabelos espalhados ao longo de seu travesseiro como um halo. Quando Ginny olhou para baixo, o gato branco estava olhando para ela. Era um gato incrivelmente doce. O gato laranja na ponta tinha um olhar mais de desprezo, de dominar o mundo. Esta cama estava cheia de demônios e anjos. Ginny não tinha certeza de qual ela era.
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A Lei das calças Ginny abriu seus olhos para se encontrar cara-a-cara com Ellis, compartilhando o mesmo travesseiro. Havia cinco gatos na cama agora, enrolados e esticados e descansando, muito felizes com os novos aquecedores humanos que tinham conseguido. Ginny se retirou com muito cuidado, puxando as pernas lentamente, centímetro por centímetro, tentando ao máximo não perturbar qualquer um dos seis outros seres vivos que partilham a cama com ela. Ellis não percebeu coisa alguma. O gato laranja, no entanto, foi sumamente posto para fora e caiu no chão com um baque. E estufou indignado para fora do quarto. A mesa estava um pouco menos excitante na luz da manhã, uma meia porta amarela gasta encostada na parede. Agora ela podia ver quão grosseiramente tinha sido serrada ao meio, quão fina e comprida fora o trabalho de pintura. Talvez esta não fosse à correta. Talvez houvesse uma obra-prima lá atrás. Bem, esta era a única que tinham. Ela fez uma anotação mental de entrar em contato com Paul o mais rápido possível... Embora, talvez fosse melhor não. Talvez houvesse um vídeo do que aconteceu. Talvez ele o visse e reconhecesse Ginny. Hora de parar de pensar nisso. Ela recolheu suas roupas, pegando cada item delicadamente, como se Ellis pudesse ser acordada pelo som de um suéter. Hoje, ela iria usar muitas camadas, até as longas roupas de baixo que sua mãe lhe comprou para a viagem e insistiu que ela deveria trazer. Havia mais dois gatos esperando no corredor quando Ginny saiu, aquecendo contra o aquecedor. Havia um grande relógio dourado na parede. Era 06h10min da manhã. O começo muito cedo era provavelmente bom. Quem sabia onde eles estavam indo hoje.
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Ginny foi na ponta dos pés para o banheiro e abriu a porta, apenas para descobrir Oliver lá, vestido apenas de cuecas boxers e uma camiseta, escovando os dentes. Esta foi oficialmente a primeira vez que ela havia tropeçado em um cara ao natural vestindo apenas cuecas e, agora a imagem ia ser queimada em seu cérebro. A cueca em questão era marrom com uma listra fina cinza. Suas pernas eram longas, não muito peludas, mas o cabelo nelas era escuro. Era difícil saber para onde olhar. Ela não conseguia tirar os olhos da cueca. Especialmente, ela tinha uma visão da parte de trás, mas ele fez uma meia volta quando olhou para ela. Ela ordenou a si mesma não olhar para a aba da frente, o que é claro, foi exatamente o que ela se aperfeiçoou em fazer. Ele cuspiu e colocou sua boca debaixo da torneira para pegar água. Tudo isso apenas vestindo roupas de baixo. Tudo isso justo quanto ela olhava para o lugar crucial da cueca. ― Eu vou sair em apenas um momento ― ele disse, empurrando a porta para fechar. ― Oh. Desculpe ― ela disse para a porta fechada. ― Ela não estava trancada. ― Está tudo bem ― veio à resposta abafada. Por que ela estava se desculpando? Ele foi o único que não trancou a porta. Justo quando ela estava se recuperando, a porta se abriu novamente e ele passou ainda apenas de camiseta e cueca, descalço calmo como poderia estar. ― Todo seu ― ele disse. Como isso estava ok? Não era como se ela ou Ellis estivessem indo passear em volta do Palácio dos Gatos em suas roupas íntimas. Por que Oliver sentiu que esta era uma roupa aceitável para a manhã? Por que ele não colocou uma calça para andar no corredor? Por que rapazes, que provavelmente tinham muito mais experiência nesse departamento, andam por aí de cuecas como se não fosse nada?
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Além disso, ele tinha embaçado o banheiro com seu banho. Ela não tinha sido só atormentada pela visão da roupa de baixo de Oliver, mas agora ela foi imersa no vapor de seu banho. Além disso, ela não estava tomando banho sozinha. O gato laranja, ainda descontente por ser perturbado, decidiu se juntar a ela no banheiro e assistir. O proprietário da pousada tinha deixado toalhas, mas não sabão, por isso a maior parte do banho foi um enxágüe quente. Então ela se vestiu rapidamente e saiu de lá. Embora a neve tenha sido constante durante a noite, não acumulou muito. Em Nova Jersey, uma tempestade de neve por toda a noite pode resultar em trinta ou sessenta centímetros de neve pegajosa que não se mexe por dias, mas aqui foram apenas dois ou cinco centímetros e pode ser facilmente expulsa do caminho. Oliver estava escovando o carro com as mãos enluvadas, cigarro saindo da sua boca. Ele olhou para ela sobre o teto do carro e deu-lhe um pequeno aceno de cabeça em reconhecimento. Agora que Ginny o tinha visto de cueca, as coisas simplesmente não eram as mesmas. Talvez ele tivesse feito isso de propósito, para se fazer parecer mais humano e vulnerável. ― Por que você está acordado tão cedo? ― ela perguntou. Ginny não tinha idéia do por que ela perguntou isso. Não se importou. Ela só tinha que dizer alguma coisa. Alguma conversa. Alguma coisa para tirar a imagem da cueca para fora de sua cabeça. ― Você acha que eu dormi bem compartilhando o quarto com ele? ― ele perguntou, apagando o cigarro em uma pilha de neve no teto do carro. ― Eu gostaria de manter minhas sobrancelhas, muito obrigado. ― Você age como se ele fosse o único causando problemas ― ela disse. ― Sim, bem, eu aprendi muito, sentado em um carro com três de vocês. ― Ele terminou seus esforços de escovação, espanou a neve de suas mãos, e começaram a voltar para a porta da cozinha. ― O que você quer dizer? ― ela disse.
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Ele olhou diretamente para ela. Na luz direta do sol, seus olhos eram absolutamente cor de âmbar claro. Na luz normal, eles eram marrom muito escuro, quase preto. ― Ei! ― Keith chamou da janela. ― Pare de tocar no meu carro. ― Eu estava limpando a neve ― disse Oliver. ― Eu não me importo. Oliver balançou a cabeça e voltou para a cozinha. Dentro, o proprietário da pousada estava ocupado tentando fazer o café da manhã. Ele havia arrumado quatro lugares ao redor de sua mesa da cozinha com pratos laranja pouco alegres e pequenos porta ovos vermelhos. ― Eu sinto muito ― ele disse. ― Eu não estava preparado para hóspedes. Tenho quatro ovos, um pouco de iogurte, pão... ― Está tudo bem ― disse Ginny. ― Não está bem. Eu deveria estar preparado. Agora, o que você quer? Keith e Ellis vinham juntos descendo as escadas. ― Ovo frito na torrada para mim ― disse Keith. ― Bacon, se tiver. ― Eu sinto muito. Sem bacon. ― Ovo frito na torrada para mim também ― disse Ellis. ― O mesmo ― disse Oliver. ― Posso ter os meus mexidos? ― Ginny perguntou ao dono da pousada. ― Mexidos? ― Mexidos... Tipo... Agitados? Ou...
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― É claro ― ele disse. ― Eu entendi. Ela viu quando ele balançou o ovo na casca, em seguida, rachou e fritou. Eles tinham uma audiência enquanto comiam. O proprietário da pousada estava sobre eles, e os gatos formaram um círculo ao redor. Um deles pulou em cima da mesa e encarou Oliver. ― Então ― disse Keith ― até onde hoje? ― Amsterdam ― disse Oliver, olhando para o gato. ― Voltar para um lugar que você passou antes ― o amigo de sua tia, Charlie? Ginny levantou os olhou do exame que fazia em seu estranho ovo frito. Isso foi um grande desastre, muito pior do que um restaurante fechado. Este foi o fim de toda a viagem. ― Espere ― disse Keith. ― Não é em Amsterdam, onde... Ginny respondeu, colocando sua cabeça em suas mãos. ― Essa teria sido uma dessas vezes que teria sido bom dar-lhe suas próprias cartas ― acrescentou Keith. ― O que está acontecendo? ― Ellis perguntou. ― Eu não entendo. Oliver olhou em volta, também confuso. ― Amsterdam é muito legal ― disse o proprietário do hotel. ― Meu primo faz perucas lá. Eles permitiram que este comentário passase. ― Amsterdam não deu certo ― disse Ginny. ― As instruções eram para encontrar casa de Charlie, mas ele se mudou. Ele se foi. Não tenho idéia de onde ele está. Oliver apenas deu de ombros e continuou a comer seus ovos.
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― Então,vamos encontrá-lo ― ele disse simplesmente. ― Westerstraat, 60. Esse é o endereço na carta. Nós vamos lá e perguntamos ao redor. Alguém tem que conhecê-lo, ou saber onde ele foi ― Onde ele foi, pode não ser em Amsterdam. Ele pode estar em qualquer lugar. ― Ele pode estar. Mas desta vez você tem um monte de vantagens que você não tinha no passado. Temos telefones. Eu tenho um computador. Temos mapas. E há nós quatro. Pode ser fácil. Talvez possamos encontrá-lo imediatamente. Keith olhou para Ginny e balançou a cabeça. ―Sim ― ele disse. ―Tenho certeza de que é exatamente o que vai acontecer. Ellis e Ginny levaram a tampa da mesa juntas, transportando-a suavemente sobre a neve, escorregando um pouco enquanto iam. Ginny e Oliver foram instalados no banco de trás primeiro, e a mesa foi cuidadosamente colocada em cima deles. (Bem, ela foi esbarrada em Oliver algumas vezes, mas depois foi colocada com cuidado.) ― Se você empurrar o banco para trás, você vai mover toda a mesa ― Oliver acrescentou em voz alta. ― Não vai ser apenas eu quem você estará fazendo sofrer. O cuidadoso posicionamento não se alterou muito. Houve talvez uma polegada extra na parte superior, de modo que Ginny podia ver agora a ponta das orelhas de Ellis e Keith. Isso era, em essência, uma parede. E realmente ajudou que ela não pudesse vê-los muito bem. A mesa ofereceu alguma proteção contra essa realidade particular. Eles partiram. Mais para auto-estrada européia, cheia de carros pequenos e caminhões de cabine plana e motocicletas. Ginny começou a gravar os nomes dos principais postos de gasolina belgas e holandeses, um fato que ela tinha certeza que viria a calhar no futuro. Como Oliver, ela colocou seu
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fone de ouvido. As muitas roupas que ela tinha colocado esta manhã estavam valendo à pena, tanto em termos de calor quando de estofamento. Ela estava em um casulo. Ela e Oliver estavam acidentalmente sentados poucos centímetros mais perto hoje. Seus braços poderiam colidir ocasionalmente. A única vantagem era que ele irradiava um pouco de calor corporal, por isso era mais quente estar sentada perto dele do que quando estava sentada perto da janela. Havia um leve cheiro de fumaça saindo de seu casaco, que não era desagradável. Ela decidiu pensar nele como uma espécie de lareira de baixa qualidade. Cerca de duas horas depois, ela ouviu Keith gritar algo sobre a necessidade de gasolina, e passaram para uma área de serviço, que, para surpresa de Ginny, apresentou um grande McDonald. ― Eu escolhi esta para que se sinta em casa ― disse Keith, quando ele tirou a mesa, liberando Oliver e Ginny de seu assento. Foi decidido que eles iriam tirar meia hora para um lanche e esticar o corpo. A neve estava mais pesada aqui, mas estava ficando mais quente, e tudo começou a derreter em lama. Oliver optou por não se juntar a eles, ficando fora, no estacionamento molhado, fumando e falando em seu telefone. Eles o viram pela janela enquanto eles se sentaram com a comida. ― O fumador constante ― disse Keith. ― Fumaça, o Mágico Punheteiro, vai se matar neste ritmo, o que certamente me dá um novo respeito pela indústria do tabaco. Para quem você acha que ele está ligando? Sua mãe? ― Talvez ele tenha uma namorada ― disse Ellis. ― Ou um namorado. ― Não. ― Keith tomou um longo gole de seu refrigerante. ― Não. De jeito nenhum. ― Nunca se sabe ― disse Ellis. ― Estávamos conversando ontem sobre isso, ele não é feio.
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― Onde você está agora? ― Keith empurrou um pouco fritas em sua boca e fitou Oliver novamente. Ginny e Ellis estavam jogando fora o lixo e só pisaram para fora quando Keith ligou o carro, rugiu o motor (tanto quanto era possível), então partiu abruptamente. Ele foi direto para Oliver. Oliver pareceu surpreso, mas ele não se moveu, assim como o carro branco vindo direto para ele. ― O que ele...?― Ellis disse. ― Oh Deus. Isso pareceu por um momento como aquelas batalhas de egos que acidentalmente terminam em morte, mas no último segundo, Keith girou a roda com tudo, dando um cavalo de pau ao redor, enviando uma onda de lama e gelo sujo em todo Oliver. Keith saiu e inspecionou seu trabalho com satisfação. Oliver estava tentando manter a sua dignidade, esfregando-se com calma. A força do esguicho deve ter lavado o isqueiro de suas mãos. Ele chegou a uma poça de gelo com a mão nua e encontrou o aparelho. Riscou algumas vezes, mas não produziu qualquer chama. ― Não funciona? ― Keith disse. ― Oh, isso é uma pena. Oliver cuidadosamente tirou o casaco e sacudiu-o forte para tirar a pior parte da água suja e da lama e, em seguida, enrolou-o apertado. ― Posso colocar isso no porta-malas? ― O porta-malas está cheio ― respondeu Keith. ― Vai fazer com que ela se molhe também. Keith revirou os olhos e pegou o casaco, empurrando com força em um canto da mala do carro, esmagou-o tão forte quanto pode.
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― Aí está ― ele disse. Uma vez no carro, Oliver passou os braços em torno de si e enfrentou a janela, firme e silencioso. Ele nem sequer colocou seus fones de ouvido. Ele estava tentando não demonstrar, mas a raiva crepitava dele. Se Ginny tivesse o tocado naquele momento, tinha certeza que teria levado um choque. Embora houvesse uma parte dela, uma parte muito, muito pequena de si que queria lhe oferecer um suéter ou um tapinha no ombro. Como ele fez isso? Como ele conseguia fazê-la se sentir mal por ele? Havia algo terrivelmente cru sobre Oliver. Sob o sol de inverno, seu rosto estava totalmente pálido, exceto pela sombra escura ao redor do queixo. Ele parecia um daqueles caras que tinham de fazer a barba muito, talvez duas vezes por dia, ou a besta sairia. Mesmo sendo alto e parecendo mais do que capaz de defender-se, sentou-se desafiadoramente, sem fazer nada. Ele parecia ao todo muito usado para abusos. Mas, lembrou a si mesma... Ele estava aceitando o abuso por uma razão. Ele ficou em silêncio porque não havia maneira de se defender. Ele era a pessoa errada aqui. Ela decidiu não olhar para ele, nem sequer uma espiada. Ela não ia olhar para ninguém. Ela tinha a mesa para protegê-la de frente, e seu fone de ouvido para bloquear o resto. Ela poderia simplesmente dormir. Essa ultima parecia à melhor opção, então ela fechou os olhos e aninhou-se contra a porta do carro. Pequenos filetes de ar frio a esfaqueavam pelas frestas da janela e a porta em si era como gelo, mas ela tentou não se importar. Fechou os olhos com força e ordenou-se descansar, para desligar tudo isso. A última coisa que ela viu quando fechou os olhos foi à cueca.
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A Mancha na página Quando abriu seus olhos novamente, Ginny descobriu que seu rosto estava pressionado fortemente contra a janela. Do lado de fora havia o suave e constante tilintar de campainha de bicicleta. ― Estamos em Amsterdam ― ela disse meio grogue, seus lábios esfregando contra o vidro frio. ― Teve uma soneca agradável? ― Keith perguntou da frente. Algo estava pesando sobre ela. Ginny virou-se para encontrar o dorminhoco Oliver caído sobre ela, usando-a como um travesseiro. Não era totalmente desagradável tê-lo lá. Ele era quente, e não era excessivamente pesado. Ela provavelmente tinha dormido tão bem por causa do calor corporal que ele estava liberando. Ainda assim, ele tinha que ir. Ginny endireitou-se para cima, e Oliver caiu desacordado na outra direção, rumo à sua porta. Isso o acordou, e ele em reflexo esfregou o rosto e olhou em volta. ― Já chegamos? ― Perguntou ele. ― Estamos quase lá ― disse Keith. ― Não que tenhamos alguma idéia de onde devemos ir. Para onde estamos indo, precisamente? ― Devemos deixar o carro fora da cidade e pegar o bonde em ― Oliver respondeu. ― Deve haver um estacionamento daqui alguns minutos. ― Não é realmente uma resposta ― disse Keith. ― Nos dê-nos a próxima dica. Recite aberração. Oliver ainda estava acordando. Ele bocejou forte, apertou sua mão contra a têmpora, e começou.
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― De Paris, está na hora... Calma aí. Ele piscou algumas vezes e olhou para o teto do carro, movendo os lábios em silêncio. ― Ele esqueceu, não foi? ― Keith disse. ― Cale-se. “― De Paris, é hora de voltar para Amsterdam, a cidade dos canais, bicicletas e deliciosos
queijos. Os holandeses são famosos por suas janelas abertas. Sem cortinas. Sem persianas. Suas casas estão em exibição. Caminhe pela rua do canal, Gin. Você estará ao nível dos olhos de toda a variedade da vida humana. Você pode ver milhares de mundos diferentes. ― Mas aqui está a coisa: Você supostamente não deve olhar. Este é um conhecido costume
holandês. Tudo vai ficar exposto para você, mas você não pode nunca virar sua cabeça e espiar. Isto é ao mesmo tempo elegante e incrivelmente perverso. A idéia, eu acho... Ele parou de novo. ― Isso é realmente muito melhor do que apenas trazer a carta ― disse Keith. ―... É que tudo o que você está fazendo em sua casa, a forma que você escolheu para viver, está
bem. Você não tem nada que se envergonhar e nada a esconder. Mas, ao mesmo tempo, você tem que respeitar seus vizinhos o suficiente para não olhar. ― Eu não sei. Eu estou inventando isso. Eu nem mesmo sei se os holandeses sabem por que as
coisas são assim. Provavelmente há algum precedente histórico complicado envolvendo o sindicato dos fabricantes de cortina ou algo assim. Além disso, eu olhei. Eu olhei em todas as janelas e nada nem remotamente interessante estava acontecendo. Você não pode colocar algo na minha frente e esperar que eu não vá olhar.
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― Então, para a próxima parte da pintura, eu decidi fazer uma janela holandesa, exceto que esta
você supostamente irá olhar através. Charlie está com ela. Tenho certeza que você já viu. Você só precisa voltar e recolhê-la. Sei que é difícil transportar uma mesa por aí, Gin. E agora eu estou pedindo para você levar uma mesa e uma janela. É por isso que eu não quis que você levasse as coisas na primeira vez. Quando você tiver terminado, pegue a balsa de volta para a Inglaterra. Volte para casa, para o Richard.” ― Aí está. Essa é a carta inteira. Vamos voltar para onde você começou na última vez. ― Assim teremos terminado depois disso? ― Ginny perguntou. ― Não exatamente ― disse Oliver. ― Mais enigmas ― Keith disse, saindo da auto-estrada em direção ao estacionamento. ― Maravilha. Meia hora depois, eles bateram na porta da Rua Westerstraat, 60. A pessoa que atendeu desta vez não era a mesma pessoa Ginny conheceu durante o verão. Esta pessoa também não sabia de Charlie. ― Então, nós vamos começar a perguntar, eu acho? ― Ginny disse, olhando para cima e para baixo na rua. Westerstraat era uma das ruas fora do canal, cheio de prédios bastante modernos. ― Você sabe alguma coisa sobre ele? ― Ellis perguntou. ― O sobrenome. O trabalho. Alguma coisa? ― A carta só deu seu primeiro nome e endereço. ― Certo ― disse Ellis. ― Então, nós vamos começar a perguntar às pessoas se elas conhecem Charlie. Nós podemos fazer isso.
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Não havia muitas pessoas ao redor, e bater nas portas de cada lado do número 60 não produziu nenhum resultado. Eles espalharam a busca mais para baixo em ambos os lados, Keith e Ellis indo para a esquerda, e Ginny e Oliver indo para a direita. Ninguém sabia Charlie. Pararam brevemente para obter alguns sanduíches. ― Eu não acho que isso está funcionando ― disse Keith, examinando uma salada misteriosa no seu prato. ― Talvez Charlie seja a versão em Inglês do seu nome ou algo assim ― Ginny respondeu. ― O importante é a janela. As pinturas da minha tia... Elas são meio estranhas. Talvez nós estejamos fazendo a pergunta errada. Talvez precisemos perguntar sobre a pintura em si. Então, eles tentaram de novo, desta vez perguntando sobre a janela. Isso trouxe resultado da mulher que trabalhava na loja de flores. ― Oh, você quer dizer a janela da selva? ― disse. Ginny olhou para Oliver, para ver se ele tinha alguma idéia se uma janela da selva era o tipo de coisa que eles deveriam estar procurando. ― Poderia ser isso ― ele disse, balançando a cabeça. ― O homem com a janela da selva, você sabe para onde ele foi? ― Eu não sabia o nome dele, mas acho que ele trabalha na De Bevlekte Pagina. É uma livraria. Ele é um... Ele é muito estranho... ― É ele ― disse Ginny. O rótulo de ― muito estranho ― cabia à maioria dos amigos da tia Peg. De Bevlekte Pagina era um lugar pequeno, apenas algumas ruas dali. Era uma espécie de recanto medieval, desigual em todos os aspectos, desde estranha finura das paredes, a forma bizarra da sala, a inclinação do piso, o degrau no canto que leva a uma porta minúscula na metade da parede. Ginny nunca tinha visto uma loja tão pequena, ou imaginado que você poderia conseguir ganhar muito com
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ela. Tinha um empregado, uma menina em um casaco de veludo vermelho e cabelos tingidos para combinar. Sua camisa tinha um decote baixo o suficiente para revelar o vislumbre de um coração grande tatuado em seu coração verdadeiro. ― Oi ― Ginny disse, se aproximando dela. ― Estamos procurando alguém chamado Charlie. ― Vocês são leitores? ― A menina perguntou, mal erguendo a cabeça. ― Leitores? A garota não ofereceu nenhuma outra informação. ― Será que ele trabalha aqui? ― Ellis perguntou. ― Trabalha aqui? ― A menina era só desprezo agora. ― Ele não é um empregado. ― Você pode, por favor, dizer se ele está aqui? ― Oliver disse rapidamente. A garota não parecia feliz em oferecer qualquer outra informação, mas ela pareceu gostar da visão de Oliver. Ela sorriu animadamente, antes de sair do balcão, ir para o fundo da loja e pôr de lado uma cortina de veludo que bloqueava uma passagem. ― Charlie, er zijn wat mensen hier voor jou. ― Uma voz veio dos fundos. ― Charlie, há
algumas pessoas aqui para você. ― Wie zijn het? ― Quem são eles? ― Geen flauwidee*. ― A menina virou-se para dar-lhes outro olhar de avaliação. ―Ze zijn Engels.**― Sem idéia*, Eles são ingleses. ** ― Engelse?― Ingleses. ― Ze zien er uit als studenten.― Eles se parecem com alunos. Obs. A parte em negrito, é a fala e em Holandês. E a parte em Itálico e sublinhado é a tradução
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Ela deixou cair à cortina, voltou ao balcão, e continuou lendo seu livro. ―Ele está... Vindo? ― Ginny perguntou. ― Quando ele tiver acabado ― disse ela, sem olhar para cima. ― Você trouxe livros para ele assinar ou você quer comprá-los? ― Livros? Não. A menina suspirou e balançou a cabeça. Eles eram uma terrível decepção para ela. Mesmo seu interesse em Oliver fracassou exatamente como aquele. Nada aconteceu por vários minutos. Eles ficaram ao redor da loja, tanto quanto podiam, mas era pouco maior do que os seus quartos do albergue. Os livros eram uma mistura de holandês, Inglês, francês e alemão, na sua maioria usados. Oliver se cansou e saiu para fumar. Keith e Ellis tiveram uma conversa baixinha no canto. Ginny sentou-se no único raio de sol em uma janela aberta. A janela era original, com padrões desiguais e painéis de vidro distorcidos. Finalmente, a cortina foi empurrada para trás. Um cara apareceu das trevas. Ele era mais baixo do que Ginny, talvez em meados de seus vinte anos, e absolutamente magro. O que lhe faltava em altura e massa corporal ele compensou no cabelo, barba rala, indomável apontando para cima em todas as direções. Ele usava uma pesada camisa vermelha de flanela xadrez, completamente desabotoada e expondo ainda mais o cabelo no peito. Três ou quatro colares de prata brilhava debaixo desta camada. Ele usava calça de couro preta que estavam rachadas e gastas pelo uso, e sem sapatos. Suas unhas dos pés e das mãos eram pintadas de preto parecia mais com caneta do que com esmalte. Ele era como algo que você encontra em um reserva natural, se eles fizerem reservas naturais onde você possa olhar para frenesi artístico no estado selvagem. Este era definitivamente o cara certo. ― Oi ― disse Ginny. ― Eu sou Ginny. Sobrinha de Peg?
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Ele se inclinou para frente. Ginny não poderia dizer se ele não conseguia entender o seu Inglês, ou se ele estava a cheirando. ― Eu sou sobrinha de Peg, ― ela tentou novamente. ― Margaret Bannister? A pintora? Isso trouxe uma nota de reconhecimento. As sobrancelhas subiram e ele se inclinou para trás contra uma estante de livros e cruzou os braços sobre o peito. Ele expôs o lado de baixo do seu braço no caminho, e Ginny podia ver as palavras escritas ali, um longo texto de algum tipo. ― Você fala Inglês? ― disse ela lentamente. ― Claro que eu falo Inglês. Ginny tinha descoberto isso durante sua primeira vez na Holanda, todos os holandeses pareciam falar um Inglês impecável. Ele assentiu e virou-se para a menina no balcão. ― Margaret is een Amerikaanse schilderes. Ze is erg goed. Maar ik kan niet geloven dat deze meid haar nichtje is. ― Ginny não tinha idéia de que ele estava dizendo, mas assumiu que provavelmente não era muito cortês. ― Margaret é uma pintora norte-americana. Ela é muito boa. Mas eu não posso acreditar que
esta menina seja sua sobrinha. ― Minha tia me escreveu uma carta. Ela disse que eu deveria vir vê-lo. Estive aqui durante o verão, mas fui para seu endereço antigo. Você tem algo que a minha tia deu a você. Algo que ela me pediu para vir buscar. A janela... Charlie pegou uma caneta e começou a limpeza em suas unhas com a ponta de escrita. ― A janela está no barco ― ele disse com naturalidade. ― O barco? ― Eu tenho um barco ― ele disse. ― Está no canal.
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Esse pensamento o manteve ocupado por um momento ou dois. ― Um bom lugar para isso ― Keith disse calmamente. ― O barco se foi ― Charlie continuou. Ele quase parecia feliz com isso, como se o barco tivesse finalmente procurado liberdade e agora estava vivendo uma vida mais feliz em outro lugar. ― Eu alugo o barco. Alguém contratou o barco hoje. O barco estará de volta amanhã. Você pode ter a janela então... Mas só amanhã. Esta última questão foi para a menina atrás do balcão, que olhou para cima e deu de ombros. ― Nós não ficaremos aqui tanto tempo ―disse Ginny nervosa. ― Eu não quero incomodá-lo, mas nós realmente precisamos hoje. ― Bem, hoje ele se foi. Volte mais tarde. Diga Olá para Margaret para mim. Charlie parecia ter terminado de falar e, com um aceno de mão, voltou para a cortina. ― Ela está morta ― disse Ginny. Isto não era algo que ela tinha que dizer em voz alta com freqüência, e ela não gostava de dar a notícia a ninguém. O comportamento de Charlie mudou completamente. Mesmo a garota colocou seu livro para baixo e olhou para cima em confusão. ― Margaret? Está morta? Mas, como? Ela é tão jovem. Ela teve um acidente? ― Ela não lhe disse que ela estava doente? ― Ginny perguntou. ― Doente? Doente com quê? ― Ela tinha câncer ― disse Ginny. Era como se ela tivesse sugado todo o ar para fora do quarto com um canudo. Charlie sentou-se no chão, no pequeno espaço entre as estantes. ― A janela, ― ele disse.
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Isso foi tudo o que podia gerenciar por um momento. ― Eu a conheci em Nova York ― ele disse finalmente. ― Ela veio aqui para aprender mais sobre pintura holandesa, sobre o uso da luz. Sobre a vida. Ela ficou comigo, e eu lhe mostrei o meu barco. Ela adorava. Ela estava pintando uma foto dele. É um barco muito distinto. É cor de rosa. Rosa muito brilhante. Ela disse que queria fazer algo para o barco, uma vista que você pudesse olhar através, em ambos os sentidos. Ela montou o vidro na janela do meu apartamento e pintou-o como se estivesse em uma caixa, na calçada. Ginny podia imaginar perfeitamente. Tia Peg, tão pequena, tão graciosa, os longos cabelos castanhos amarrados para trás em um nó, provavelmente em pé sobre os dedos dos pés. Ela se movia como uma bailarina, apesar de nunca ter tido uma aula de dança, em sua vida e não tinha tempo para a música. ― Eu sou um poeta ― Charlie disse. ― Talvez você conheça o meu trabalho? ― Não ―Ginny disse calmamente. ― Desculpe. ― O nome desta loja ― significa ―a mancha na página‖. Nós dois amamos a idéia. Pintura, escrita. Ambas apenas manchas na página. Charlie respirou fundo e olhou para a prateleira de livros na frente deles, traçou uma linha, muito irregular com seu pé descalço, em seguida, colocou a cabeça para baixo sobre os joelhos. A menina atrás do balcão se abaixou e tocou sua cabeça. Enquanto Ginny entendia que as outras pessoas tinham o direito de lamentar por sua tia tanto quanto ela tinha, ainda estava irritada com Charlie que estava promovendo essa pequena exibição. Ele nem sabia que ela estava morta, não tinha sido envolvido de alguma forma. Mas também, tia Peg havia escondido a doença de um monte de pessoas, incluindo sua família. Richard estava lá apenas para o pior. Finalmente, Charlie levantou-se.
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― O barco, eu alugo apenas para turistas e para as festas. Alguém o contratou para esta semana, mas vai devolvê-lo amanhã. Venha pela manhã. Vou levá-la a ele. Uma vez que eles estavam do lado de fora, Oliver foi o primeiro a falar. ― Eu reservei um lugar para ficar aqui ― ele disse ele. ― Dois quartos. Talvez devêssemos ir para lá. ― Pela primeira vez, Keith não fez nenhum comentário sobre um dos planos de Oliver.
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O koekoeksklok O hotel que Oliver reservou era de longe o mais bonito que Ginny encontrou em suas viagens. Ele ocupava uma casa inteira do canal, estreito e alto, com janelas enormes na frente e atrás de cada andar. As janelas tinham persianas vermelhas, como grandes portas. No topo, perto do telhado, havia um relógio, com pinturas de pequenos pássaros na frente. Era chamado de koekoeksklok. Ginny não precisava de um dicionário para saber que significava ― Relógio cuco. O tema continuou no interior, que contava com uma grande sala comum com painéis em madeira escura, e com relógios cuco em todas as paredes. ― Espero que estes não funcionem ― disse Ellis, olhando ao redor. O Koekoeksklok era composto por estudantes não-assassinos com dezenas de gatos. O hotel tinha uma escada central de madeira que rangia ensurdecedoramente a andar a andar. Oliver e Keith foram apresentados a um quarto no terceiro andar, e Ellis e Ginny ficaram com o quarto acima do deles. O teto de seu quarto era um pico, alto como o telhado, talvez 16 pés de altura. As decorações eram básicas, mais os quartos eram muito limpos, e as camas eram carregadas de pilhas de cobertores multicoloridos. Eles tinham uma janela enorme, o buraco do cuco, que enfrentava o canal. Ginny olhou para o horizonte. Todos os telhados eram de diferentes alturas, e quase todas as casas do canal tinham um pico ornamento no topo. Muitas das casas tinham um gancho na frente. Ginny tinha aprendido tudo sobre esses ganchos na ultima vez. Como as casas eram muito estreitas, as pessoas não poderiam levar coisas
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pelas escadas. As coisas tinham que ser içadas por uma corda e trazidas através das janelas. As janelas eram realmente necessárias aqui. A seguir, houve um constante fluxo de barcos pelo canal, e nas calçadas e estradas centenas de pessoas em bicicletas. Amsterdam era um fluxo constante de energia, não maníaco, apenas tão rápido quanto à roda de uma bicicleta ou o remo de um barco de canal. Ginny realmente amava esta cidade, talvez mais do que Paris ou Londres. Não era esmagadora, era prática, bonita e animada. ― Não há muito que possamos fazer esta noite ― Keith disse, caindo na cama de Ellis. ― E agora? ― A inércia estava começando a assumir. Ellis estava estatelada no chão. Keith estava olhando para ela, não de um modo particular, ele não estava babando ou nada parecido, mas seu olhar caiu sobre ela e ficou lá. Fez Ginny ficar desconfortável. ― Eu acho que devemos comer ― disse Ellis para o teto. ― Devemos ir para fora. ― Ginny se levantou para usar o banheiro e ficar pronta para ir. Ela só foi lá por um minuto ou dois, mas quando ela voltou, Ellis estava sentada, de costas, contra o lado da cama. Keith havia reposicionado a si próprio a fim de que ele estivesse em seu ombro, perto de seu ouvido. Novamente, eles não fizeram nada, mas Ginny tinha certeza que foi apenas porque ela estava ali. ― Não posso me mover ― respondeu Keith. ― Eu acho que tenho que dormir. ― Eu também ― disse Ellis Era perfeitamente possível que eles estivessem cansados. Ginny estava meio cansada. Mas havia algo incrivelmente desconfortável em estar ao redor dos dois agora. Escapar. Era a única maneira. ― Eu tenho que ligar para o Richard ― ela disse. ― Eu vou estar fora. E irei dar um passeio. Keith bocejou e ergueu a mão em despedida.
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Durante o verão, Ginny teve que passar muito tempo sozinha sem internet, sem televisão, sem música, nada para anestesiar-la da experiência de estar sozinha. Isto não foi por escolha. A primeira coisa escrita nas regras. Ela não poderia trazer um computador, um telefone, nem mesmo um jornal. ... Nada que possa distraí-la da experiência de estar na Europa por conta própria. Na primeira vez, tinha sido desagradável e estranho, mas ao longo do tempo, ela havia se ajustado. Que estava tudo bem só por estar sozinha, consigo mesmo. Agora, é claro, ela tinha muita companhia para se pensar. Ellis era... Extraordinariamente bonita, e espontânea, e doce. Ela combinava com a nitidez na personalidade de Keith. Ela não precisa ser persuadida a subir ao longo do muro e pular pela janela, ela não teria necessidade de ser impulsionada para cima e ser empurrada novamente. Ellis faria a escalada por si mesma. E ela era Inglesa. Ela caberia dentro. Ela tinha o modelo discreto de Londres. Claro, Ginny havia perdido as tranças, mas as falsificações vermelhas em seu cabelo já estavam desaparecendo, e a coragem recente dela era apenas uma fina camada exterior. Ela era a americana, um pouco ruidosa, um pouco fora de sintonia. Dada a escolha, ela teria datado Ellis. Só fazia sentido. Ela se sentou em um banco ao longo do canal e tirou seu telefone para ligar para Richard. Ele respondeu ao primeiro toque. ― Oi... Sinto muito. É um mau momento? ― Ela perguntou. ―
Não,
você me
pegou em
um
escritório. Como você está? Onde você está? ― Amsterdam ― ela disse. ― Amsterdam? Quando você chegou ai?
momento bom. Eu estou
me
escondendo em
meu
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― Há poucas horas atrás. Estamos em um hotel muito bom. É como uma espécie de relógio de cuco. ― Eu vejo. O que você está fazendo aí? ― Precisamos de uma janela ― disse Ginny. ― Eu acho que parte da peça é um painel de vidro. É em um barco, e alguém alugou para fora. Então, como diz respeito a isso, nós vamos buscá-la. ― E aonde você vai, então? ― Eu não tenho certeza ― ela disse. ― Nós meio que temos que descobrir isso. Ela ouviu o toque na outra linha e o som dele embaralhar as coisas em sua mesa. ―
Deixe-me
pensar o
que
eu tenho
que perguntar... Já
realizou qualquer
comportamento extremamente insensato, enquanto esteve sob a influência de álcool? Ela não tinha bebido quando ela roubou a mesa, então ela teve um passe nessa questão. ― Não ― ela disse. ― Você está vagando pela rua sozinha em uma névoa de maconha legal? ― Não. ― Você tem alguma intenção de entrar no negócio da prostituição, que também é legal, em Amsterdam? ― Provavelmente não hoje. ― Bom muito bom. Há algo que eu não abrangi? Eu sou novo para isso. ― Você foi muito profundo ― ela disse.
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― Você sabe que eu confio em você, Ginny ― disse Richard, quase parecendo envergonhado. ― Eu sei que você pode fazer o que quiser. Você tem dezoito. Eu certamente fiz muitas coisas... A porta para o Koekoeksklok foi aberta, e Oliver saiu. Escovou o casaco ainda úmido e olhou em volta. Assim que ele avistou Ginny, foi direto para ela. ― Não ― Ginny disse rapidamente. ― Eu estou bem. E agradeço. Por tudo. ― Bem, você sabe que estou aqui. Oliver permaneceu a alguns metros até que ela tivesse guardado o seu celular. Ele pode não ter respeito sobre bens pessoais, mas ele era todo respeitoso sobre dar as pessoas o seu espaço pessoal. ― Onde estão os outros? ― Ele Perguntou. ― Eles estão cansados. Acho que eles estão dormindo. Eles provavelmente não estavam dormindo. Bem, talvez eles estivessem. Provavelmente não. Ela não ia a pensar sobre o que estavam fazendo. ― Eu estava indo buscar o barco ― ele disse. ― Quer se juntar a mim? Eles se
entreolharam por
um
momento, avaliando a
situação.
Eles
estavam aqui, havia
um trabalho a ser feito. E mais importante, ele lhe daria algo para fazer enquanto Keith e Ellis estavam... Dormindo, é claro. ― Tudo bem ― ela disse. ― Eu tenho algumas direções ― ele disse, puxando tanto o telefone, quanto um mapa turístico. ― Os canais cercam o... ― Eu conheço muito bem a cidade ― ela disse, o interrompendo. ― Quero dizer, as partes turísticas.
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― Eu pensei que tudo tivesse dado errado. ― E deu ― ela disse. ― Mas eu não saía fora. Acabei neste albergue realmente horrível. Então eu fugi disso e acabei na reunião desta família chamada Knapps, dos Estados Unidos. Levaram-me com eles durante uma semana. Eles eram bons, mas eles eram super turistas. Era como se estivessem competindo para o-maior-prêmio-turístico-do-ano. Eles queriam ver tudo, tirar fotos, comprar camisetas e seguirem em frente. Eles costumavam ter horários para todos os dias... Ginny começou a andar, e Oliver a seguiu. ―Então porque você não os deixou, já que eram tão chatos? ― ele perguntou. ― Eles não eram más pessoas ― disse Ginny. ― Eles só queriam visitar tudo que estava em suas listas. Muitas pessoas fazem viagens como essa. ― Muitas pessoas vivem assim... Esse era o tipo de coisa que tia Peg teria dito. Ele estava fazendo isso de propósito? Ela olhou para ele com desconfiança. ― Mas isso ainda não explica o porquê de você não deixá-los. ― Eu estava cansada de ficar sozinha ― ela disse. ― Eu não sei. Eu apenas fiquei. Ele entendeu o recado e deixou. ― De qualquer forma ― ela disse ― o centro da cidade é pequeno, e os canais principais são em torno dele em camadas, um bando de semicírculos. Não vai demorar muito para olharmos em volta das principais áreas turísticas. Talvez algumas horas. Quero dizer, estamos procurando um barco rosa. Quantos desses pode haver?
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― Isso é Amsterdam. Poderia haver uma pequena frota de barcos rosa aqui, pelo que sabemos. Mas entendi o ponto. Devemos começar desta maneira? Estamos muito no final dessa rua, de qualquer maneira. Eles começaram a passear pelo canal, sob as arvores nuas. As luzes e a lua refletida no canal seriam românticas se tivesse sido com qualquer outro. ― Você não pôde trazer qualquer coisa, na ultima vez que veio ― ele disse. ― Nada de guias, mapas, computador, telefone ou qualquer outra coisa. Essas regras, elas foram um pouco mentais. Isso fez você segui-las? ― Sim ― disse Ginny. Havia vários barcos ao longo do canal. Estava ficando mais escuro a cada segundo, e mais difícil de determinar exatamente de que cores eram. ― Por quê? Quem ficaria sabendo se você tivesse trago? ― Eu teria sabido. ― Sim, mas... Todo esse tempo em aviões e trens sem nada para escutar. Sem internet. Nada. Soa como uma tortura. Eu teria trago tudo. ― Você não é como eu ― disse Ginny. ― Você já pensou que ela esperasse que você quebrasse algumas regras? Notavelmente, esse pensamento não tinha ocorrido a Ginny antes. Ela saiu da frente de um ciclista, e foi direto na frente de outro, mas esse desviou facilmente. ― Não sei ― ele disse. ― Talvez você goste de todas as regras, e jogos. Mas eu acho chato. ― Isso não é pra você.
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― Eu acho que é chato em geral. Ela deveria ter acabado de te dar as pinturas. Ficar andando pra lá e pra cá é tão inútil. ― Olha ― disse Ginny. ― Nós não estamos discutindo isso, ok? Você não fala sobre ela, ou o que ela fez. ― Eu só estou dizendo, que ela parece uma regra separada, então talvez ela esperasse que você as quebrasse. ― Então ― ela disse ― é assim que você justifica o que está fazendo? ― O que eu estou fazendo é talvez um pouco antiético... ― Talvez um pouco? Você está roubando. ― Eu não estou roubando ― Oliver disse com firmeza. Ginny parou. Eles estavam à beira de um túnel subterrâneo de um dos canais. A água estava alta, e dois cisnes e alguns patos estavam à deriva, e os consideravam com curiosidade. ― Como isso não é roubar? ― ela perguntou, principalmente para os cisnes. ― Alguém roubou sua bolsa ― ele disse. ― E não fui eu. Eu comprei a bolsa, sem saber que era roubada. Dentro, eu encontrei algumas coisas. E usei meu tempo e meus recursos para devolvê-la a você. Em troca pedi uma porcentagem. E você concordou. ―
Ou você
estava
indo a
pé com
as
minhas
coisas
― disse Ginny.
―
Minhas
coisas roubadas. Você não teria que retornar legalmente isso para mim, afinal? ― Eu não sou um especialista em leis, e pelo que sei você também não é. E tudo que tinha seu, de qualquer maneira, era uma bolsa... A que eu tentei lhe devolver... E alguns pedaços de papel. O papel não estava em nenhum tipo de envelope lacrado entregue pelo Royal Mail14 o que seria ilegal
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adulterar, assim não há problema. E concordamos em devolver estes pedaços de papel para você na conclusão do nosso acordo. Você quer me levar ao tribunal por alguns pedaços de papel de valor inferior a uma libra? ― Pois bem ― ela disse principalmente para si mesma: ― Eu só conheço dois caras Ingleses e ambos estão... Bem, um era um ladrão e outro é você. ― Acho que isso diz mais sobre você do que sobre nós. ― Sobre mim? ― Sobre as pessoas que você atrai. ― Não sou eu ― ela disse. ― É a minha tia. ― É você ― ele disse. ― Ela não está aqui, caso você não tenha notado. Você é a denominadora comum em tudo isso. E não se fixa comigo. Eu nunca menti para você. Eu tenho muito cuidado com isso. Eu odeio a mentira. Eu não sou um ladrão, e eu não sou um mentiroso. Esta foi a primeira vez que Ginny tinha ouvido qualquer coisa que poderia ter sido considerado uma emoção na voz de Oliver. ― Então, o que é você? ― Um oportunista. ― O que isso quer dizer? ― ela perguntou. ―
Eu
vi uma
oportunidade, e
eu peguei. Isso
é
o
que ela
estou completamente adiantado sobre isso, e eu vou continuar a estar à frente sobre isso. ― Você está delirando.
significa.
Eu
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― Bem, eu acho que está tudo certo ― ela disse. ― Quero dizer, contanto que você esteja sendo honesto. Oliver pegou um estúpido cigarro novamente. Ele tinha um isqueiro novo. Era apenas barato e de
plástico,
não
como
o
isqueiro extravagante que
tinha
antes. Tragou e
exalou lentamente, soprando a fumaça para o lado, longe dela. Agora que ela pensava sobre isso, ele era a única pessoa que ela conhecia que fumava, era apenas um hábito ridículo. Os cigarros eram seu suporte, sua forma de evitar qualquer coisa que ele não se sentia pronto para lidar, colocando distância entre si mesmo e outras pessoas. Ela estava sendo muito profunda sobre isso, provavelmente. ― Você odeia meu hábito de fumar ― ele disse. ― Faz diferença? Você vai parar porque eu não gosto? Eles foram chegando alguns passos mais perto do canal. Oliver desceu até a borda da água e mergulhou a ponta do cigarro, o apagando, e o erguendo para mostrar a ela. ― Eu não sou irracional ― ele disse. ― Claro que não ― ela respondeu.
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A Noite do Vício Eles caminharam por duas horas. Nas janelas abertas, ela viu as árvores de Natal e luzes, alguns poucos ornamentados. Ginny ficou satisfeita ao descobrir que ela tinha uma memória bastante boa do layout de Amsterdã. A largura variada dos canais, do tamanho de uma pista de um carro com seis ou mais faixas de largura. Irradiavam por toda a cidade como uma teia de aranha, com os barcos estacionados ao longo dos lados, todos os tipos de embarcações. Longas casas flutuantes tradicionais estavam ao lado de elegantes e novos cruzeiros, que ermos seguidos por pequenos barcos a remos que pareciam que iriam afundar, no segundo que a pessoa sentava em um. De vez em quando, eles passavam por um barco que tinha encontrado um final ruim, meio submerso sob as águas, inclinado para um lado, com patos olhando para ele e, zombando. Eles passaram pela zona da luz vermelha do distrito de prostituição legal de Amsterdam. Havia longas janelas pontilhadas entre as casas e lojas, cada uma com uma moldura fina de luz vermelha. Essas janelas ou testavam com alguém nelas, geralmente do sexo feminino, ou com uma cortina fechada, indicando que a pequena loja estava atualmente ocupada. As janelas eram estranhamente acolhedoras. Às vezes as mulheres se sentavam e liam ou pintavam as unhas ou apenas olhavam. Ginny tinha uma predileção por aquelas janelas e as mulheres em si. Elas tinham assustado completamente os Knapps. ― Sabe o que eu estava pensando? ― Oliver disse. ― Quando eu li que tínhamos que encontrar uma janela em Amsterdam? Eu pensei que íamos ter que encontrar um dessas. Ela teve que admitir, Oliver tinha um bom ponto. Tia Peg teria se divertido muito decorando essas janelas. ― Isso é inútil ― ela disse.
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― Mas divertido ― ele disse. Ginny não tinha idéia se isso devia ser uma piada. Ele era totalmente inescrutável. Ele só olhava ao redor, as mãos enterradas em seu bolso. Junto com as janelas vermelhas, havia vários cafés na rua. Estes eram os cafés com fumaça de maconha. Parecia que elas existiam principalmente para turistas, com sinais de néon e música tocando. Passaram por um mais silencioso que parecia um café regular. Eles tinham dois menus na frente, um pote de misturas diversas, e outra de alimentos. Principalmente pizza. ― Eu quero entrar ― ela disse. ― Você quer fumar? ― Não ― ela disse. ― Estou com fome. Têm pizza. ― Muitos lugares têm pizza. Está ok se você quiser fumar. Não vou julgá-la. ― Eu não quero ― Ginny disse com firmeza. ― Então podemos ir a algum lugar que tem boa comida. A muito desse em Amsterdam. Estes lugares não são conhecidos por... ― Eu só quero ir aqui, ok? Oliver levantou as mãos em sinal de rendição. Verdade seja dita, Ginny não queria ir ao café — ela apenas sentiu uma necessidade perversa de ir. Os Knapps (pelo menos, mamãe e papai Knapp) não queriam entrar em qualquer lugar perto das confeitarias, e havia algo dentro de Ginny, que a obrigou a fazer tudo o que os Knapps não gostavam. E se ela estava sendo muito verdadeira com ela mesma (que aconteceu na ocasião), Ginny teria admitido que os cafés a assustavam também. Mesmo que eles fossem legais e claramente cheios de turistas, tinham o ar do proibido... Literalmente. E Richard tinha acabado de perguntar se ela estava andando em uma névoa de maconha legal. Aqui ela estava andando através de uma nuvem disso. Ela empurrou a porta com muito mais força do que o necessário e marchou para dentro. Uma rápida olhada ao redor da sala revelou que o café não era muito diferente de qualquer café comum. Era um pouco mais escuro, talvez.
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O ar tinha o cheiro distinto e adocicado de fumaça de maconha. Mas não havia nada de particularmente assustador acontecendo no interior, a menos que você contasse a decoração brega. O lugar parecia um dormitório de maconheiro, almofadas baratas e cadeiras de cortas, pôsteres com luzes pretas de rostos sorridentes, e dezenas de velas em suportes de vidro brilhante, ao lado do catálogo IKEA. Os menus, tanto para alimentos e drogas, foram escritos em neon púrpura e verde em uma placa iluminada. Era um pouco triste, realmente. Tia Peg poderia ter feito um trabalho incrível com um lugar como este. Suas pinturas iriam realmente confundir as pessoas. Se ela tivesse ido por conta própria, Ginny teria se virado e saído, mas desde que ela fez um negócio tão bizarramente grande ao entrar, agora tinha que ficar aqui e comer uma pizza. Ela e Oliver tomaram um assento um pouco vacilante, metade da mesa estava tomada por um cinzeiro enorme. ― Aqui está ― Ginny disse, o empurrando para ele. ― Um presente. ― Eu não fumo dentro de paredes. O café não estava muito lotado, mas isso não significa que o serviço era imediato. O garçom, quando ele finalmente apareceu, estava abertamente confuso com o fato de que eles tinham vindo ali pela comida, mas foi maduro, aceitou isso e caminhou para fora. Ela e Oliver eram as únicas pessoas completamente sentadas na posição vertical. Eles pareciam duros e não natural. Ela tentou relaxar na cadeira, mas a má postura foi ainda mais não natural. Oliver empurrou uma vela para trás e a olhou sobre a mesa. ― Então ― ela disse. ― o que você faz ― O que quer dizer? ― Da... Vida? ― Eu fui para a universidade por um ano ― ele disse. ― Ciências políticas. ― E você não vai agora? ― Eu saí. ― Por quê?
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― Não havia sentido em ficar. Esse tipo de coisa sempre espantava Ginny — pessoas que apenas se afastavam de instituições. Pessoas que abandonaram a escola quando não viam um ponto. Tia Peg tinha feito isso. Ginny sabia que ela nunca faria. Isso a faria alguém que trabalhou duro e terminou as coisas, ou alguém que não teve coragem de romper com o bando. Talvez os dois. Claro, se ela nunca escrevesse seu ensaio, este não seria um problema. As duas pizzas foram escorregadas na frente deles, junto com uma cerveja para Oliver e um refrigerante para Ginny. Elas não eram ótimas pizzas, tipo redonda e mole, mas ela já tinha comido piores. Ela ia comê-la, não importa o quê, já que ela os trouxe aqui. ― Como é que você memorizou essa carta inteira? ― Ela disse, cortando em pedaços a pizza dela. Ela nem sequer precisava de uma faca, o garfo atravessou a crosta esponjosa. ― Você realmente gosta de fazer perguntas, não é? ― Você disse que é honesto. Ele olhou-a por um momento, enquanto pegou um grande pedaço da pizza e levantou para uma mordida. Aquilo era muito mole nas bordas para ser manuseado, por isso ele colocou de volta e continuou com os talheres. ― Eu sou apenas bom em memorizar coisas. Eu nem sequer quero decorálas, metade do tempo. Eu apenas faço. ― Você quer dizer que você tem uma memória fotográfica? ― Não ― ele disse. ― Porque isso seria útil. É muito mais aleatório do que isso. Eu posso recitar todo o primeiro capítulo de cada livro de Harry Potter. Eu posso recitar todas as 47 páginas do meu manual escolar. Eu posso re-criar oito episódios da segunda temporada de Doctor Who, com o Décimo Doutor, palavra por palavra. Eu memorizei o manual de condução. Eu só pareço memorizar coisas que têm algum tipo de significado para mim. Ele cortou abruptamente. ― Simplesmente aconteceu ― Ele disse. ― Sem o controle sobre isso. Veio a calhar, no entanto.
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― Você pode recitar todos os primeiros capítulos de Harry Potter? ― Ela perguntou. ― Sim, bem... Eu posso recitar os capítulos um a quatro do livro um capítulo um e dois do livro dois, os capítulos... ― Ok, espere ― disse Ginny. ― Eu quero ouvir isso. Porque eu não acredito em você. ― Qual deles você quer? ― O primeiro livro. ― Posso terminar minha pizza? Ela assentiu graciosamente. Oliver continuou a comer, limpou a boca, tomou um gole de cerveja, e recostou-se na cadeira. Ele assumiu uma posição de olhos fechados, cabeça inclinada para trás. ― Ok ― ele disse. ― Livro um... E assim ele começou. Ginny realmente conhecia o livro um do Harry Potter de cor, mas o que ele estava lendo parecia certo. Normalmente, Oliver tinha uma Maneira inexpressiva de falar. Quando ele recitava as letras, sua voz era completamente nítida. Quando ele recitava o livro, seu rosto relaxou e sua voz se aprofundou. Ele era um narrador muito bom, realmente. Após alguns momentos, eles tinham atraído a atenção de algumas pessoas muito chapadas sentadas duas mesas depois. Eles abertamente olhavam para Oliver, suas mandíbulas penduradas ligeiramente abertas, os olhos vermelhos e cheios de admiração. Eles começaram a abordar, deslizando suas cadeiras cada vez mais perto, centímetro por centímetro. O garçom começou a pairar também. Oliver parecia gostar de ter uma audiência, ele continuou por três capítulos, cada vez mais expressivo. ― Isso foi Harry Potter? ― Perguntou um deles. ― O que te faz dizer isso? ― Oliver respondeu. ― Você ficava dizendo 'Harry Potter' ― o cara respondeu sério. ― E soava como ele. Parecia que você estava lendo. Como você fez isso?
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Oliver tirou seu casaco preto apertado em torno de si, inclinou-se à direita na cara do cara, e calmamente disse: ― Eu sou Dumbledore. Ginny começou a rir apesar de si mesma. ― Ainda estamos tentando encontrar esse barco? ― Oliver perguntou quando eles deixaram o café. ― Ou desistimos? ― Eu acho que nós desistimos ― Ginny respondeu. ― Bom. Assim, podemos pegar o mesmo caminho de volta. Foi uma caminhada fria, mas agradável, através dos canais, sobre as pontes. Eles não falaram, mas o silêncio entre eles era pacífico. Oliver fumou, e Ginny embrulhado seu lenço em volta do rosto. Foi só quando eles tinham quase chegado ao Koekoeksklok que Ginny se lembrou por quanto tempo ela esteve fora. ― Oh Deus ― Ela disse. ― Eu não lhes disse que eu não ia voltar. ― Então? ― E se eles estão preocupados? ― Eu não acho que eles estão preocupados ― ele disse, largando o cigarro na calçada e pisando nele. Quaisquer sentimentos quente que ele provocou nela quando ele leu Harry Potter foram imediatamente refrigerados por esta observação casual. ― O que isso quer dizer? ― Ela retrucou. ― Não importa ―ele disse rapidamente. Oh, mas ela nunca, nunca poderia deixar para lá. Sua mente já estava voando. O que ele quis dizer foi que eles não estariam preocupados porque estavam felizes que ela tinha ido embora. Eles estavam ocupados. ― Você fica dizendo coisas como essas ― ela disse incapaz de esconder a emoção em sua voz. ― Qual é o seu problema? Você quis dizer alguma coisa.
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― Escute ― Ele disse, segurando as mãos defensivamente: ― Eu não acho que você queira um conselho vindo de mim, isso é tudo. ― Eu não quero conselhos de você. Eu quero saber por que você fica dizendo essas coisas. Oliver suspirou profundamente e parou de andar. ― Isso é tudo o que tenho a dizer sobre o assunto ― Ele disse. ― Eu estive preso no carro com vocês três. Eu não tive nada para fazer a não ser observar. Eu não sei o que aconteceu entre você e... Keith. . . Ele claramente não gostou de dizer o nome de Keith.
―. . . Mas eu sei que alguma coisa aconteceu. Eu também sei que foi deixado um pouco para resolver. ― Como você... ― Porque é óbvio ― ele disse. ― É a coisa mais óbvia que eu já vi. Ele flerta com você. Você flertar com ele... ― Ele não está flertando ― Ginny disse. ―Eu também não estou. ― Não, todo o cara viaja por todo o caminho para a França por uma garota que ele só quer ser amigo. ― Oh ― ela disse ― você é uma daquelas pessoas que pensa que caras nunca serão amigos de meninas... ― Eu disse, você não conduz pela França por alguém que você só quer ser amigo.
― Ele tem uma namorada ― Ginny disse defensivamente. ― Yeah. Percebi isso também. Eu não acho que muda muito. Como eu disse, eu não acho que você quer o meu conselho, mas eu seria... Cuidadoso.
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A insanidade disso tinha chagado ao limite. Ela estava com Oliver, que estava dizendo a ela para tomar cuidado com Keith. Oliver, o chantagista. Ela passou por ele, desgostosa com ela mesma. E, como aconteceu, Keith e Ellis estavam no lobby, tentando dar sentido a um jogo de tabuleiro antigo holandês. ― Onde você esteve louca? ― Keith perguntou. ― Você disse que estava saindo para fazer uma chamada. Ginny lançou um olhar triste para Oliver, que a seguiu para dentro. ― Nós estávamos procurando pelo barco ― Ela respondeu. ― Nós estávamos procurando pelo barco? Keith olhou para Oliver de cima a baixo. Oliver balançou a cabeça e foi para as escadas. Por um momento, a conversa era impossível por causa do ranger dos degraus. Estes foram os passos mais altos em todo o mundo. ― Eu fui para fora ― Ginny disse simplesmente. ― Andar. Ele estava lá. Fomos procurar pelo barco. ― Você achou? ― Ellis perguntou. ― Não. ― Não há surpresa nisso ― Keith disse, voltando-se para o jogo. ― Quer jogar? Nós não temos idéia de como isso funciona, mas nós decidimos que se você conseguir 500 pontos, você ganha. Depende de você como obter os pontos. Tenho ganhando pontos, escondendo as peças de Ellis na minha camisa. Ele agarrou um bolso de tecido por baixo do seu estômago e sacudiu-o. Fez um ruído. ― Trapaceiro ― murmurou Ellis. ― Eu acho que estou indo para a cama também ― disse Ginny. ― Você faz tudo o que ele faz ― Keith falou. ― Você o ama.
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Ela sentiu seu olhar segui-la muito tempo depois que ela desapareceu na escuridĂŁo da escada.
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Atos aleatórios de Crueldade Ginny acordou na manhã seguinte com um grito. Felizmente, não era dela própria. Era alto, do sexo masculino, e diretamente abaixo deles. Ellis sacudiu acordando na cama ao lado dela. ― O que foi isso? ― Ellis perguntou. ― Eu sonhei isso? Foi você? Agora havia gritos e um barulho. Elas pularam para fora da cama no mesmo instante e correram escada abaixo, escorregando sobre a madeira lisa quando se apressaram. A porta do quarto de Keith e Oliver estava fechada, e uma conversa febril estava acontecendo atrás dela. ― O que vamos fazer? ― Ellis perguntou. ― Eles estão no meio de alguma coisa lá dentro. Acho que devemos invadir? Outro grito abafado, seguido de gargalhadas. Keith. ―Sim,― Ginny disse, dando um passo à frente e abrindo a porta. Keith estava mais próximo, vestido com um par de largas calças de moletom e uma camiseta de ontem. Oliver estava apenas em boxers e uma t-shirt de novo, mas desta vez ela não podia culpá-lo. Ele também estava encharcado, e xingando muito. ― Feche a porta! ― Gritou. Desta vez, ele não estava no humor para mostrar as boxers. E mais uma vez, Ginny encontrou-se olhando um pouco. Keith não fechou a porta. Ele se esticou e abriu-a completamente, deixando o ar frio da escada entrar. ― Nevou ― ele disse, esticando o braço sobre a cabeça e coçando preguiçosamente seu pescoço. Agora Ginny viu. Neve espalhada por todo o piso, por toda a cama de Oliver. Tanta neve, que só poderia ter vindo de uma fonte. Keith deve ter sido muito, muito silencioso, porque as escadas eram como um instrumento musical. E deve ter levado algumas viagens, porque havia um monte de neve.
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Oliver agarrou sua bolsa e deixou escapar um gemido de desespero quando a neve se derramava ainda mais. Suas roupas estavam totalmente encharcadas. ― Oh querido ― disse Keith. ― Elas vão ficar desagradáveis e frias. Oliver empurrou Keith no ombro, e deslizou rapidamente passando por Ellis e Ginny no caminho para o banheiro. Keith o deixou ir com um sorriso. ― Isso foi para que ― disse Ginny. ― Para que? ― Keith sentou na cama e inspecionou os danos contente. Havia neve em sua cama, bem provavelmente jogada lá por Oliver. ― Isso não é nada. Eu poderia ter feito muito pior, e você sabe disso. Havia apenas um pouco de desafio em sua voz. Ellis colocou a mão sobre a boca, possivelmente para abafar uma risadinha. ― Ele vai congelar ― disse Ginny. ―Novamente, eu não estou vendo o problema. Ginny se afastou, dando passos pesados de volta até seu quarto. Ela não estava realmente certa porque estava com raiva de Keith por fazer isso, mas ela estava. Ela agarrou suas roupas, nem mesmo se preocupando com o chuveiro. Ela podia ouvir a água correndo através dos tubos, enquanto Oliver tomava banho. Ellis veio um momento mais tarde e fechou a porta silenciosamente. ― Ele está tentando ajudar ― ela disse. ― Honestamente. ― Eu sei ― Ginny disse. ― Eu só não quero esse tipo de ajuda. Ellis assentiu e puxou sua roupa também. Desceram, onde uma mesa cheia de iogurte, muesli 15, pão, queijos e carnes estavam esperando por eles. Keith juntou-se pouco depois, cantarolando alegremente sob sua respiração. ― Estou morrendo de fome. Alguém passando fome? ― Ele carregou seu prato e sentou-se à mesa. Ambas, Ellis e Ginny olharam para ele.
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É um cereal matinal popular à base de flocos de aveia crus, fruta e frutos secos.
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― O quê? ― Ele perguntou. ― Ginny está certa ― Ellis disse. ― Já chega. ― Vocês duas esqueceram o que ele está fazendo? ― Não ― Ellis disse. ― Mas... O rangido da escada quebrou a conversa. Oliver entrou na sala em sua molhada e pegajosa roupa. Suas calças estavam agarradas. Até mesmo seus sapatos estavam molhados. Ele pegou setenta Euros úmidos de sua carteira e entregou-os a Ginny. ― Para pagar o quarto ― ele disse. ― Eu vou estar lá fora. ― Aposto que o casaco não está bem seco depois de se molhar ontem ― Keith disse. ― Tão má sorte. Oliver saiu sem uma palavra. Ellis bateu em Keith levemente no ombro. ― O quê? ― Ele perguntou de novo. Estava ainda mais frio que no dia anterior, então a caminhada para a livraria deve ter sido brutal para Oliver. Ele tinha seus braços enrolado em torno de si. Charlie estava esperando por eles fora da loja, vestido com jeans skinny branca, uma jaqueta de couro preto, óculos escuros enormes e espelhados. Seu cabelo estava ainda maior e bagunçado. ― Você está molhado ― ele disse, inclinando para baixo os óculos para olhar para Oliver. ― Caiu em um canal ― Keith mentiu, sacudindo o dedo no canal por trás deles. Oliver estava com créditos por não alcançar Keith e jogá-lo no canal referido. ― Oh. Isso acontece. Venha. Caminhando com Charlie na liderança foi uma experiência estranha. Ele andou por um caminho vagamente sinuoso e, ocasionalmente, Ginny jurava que ele saltitava um pouco. Não alto o suficiente para bater em seus calcanhares nem nada. Ele tinha acabado de aparecer acima do normal. Então cobra, cobra.
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― Este homem está chapado ― Keith disse em voz baixa. ― Ou, pior ainda, ele pode não estar. O que diabos está errado com todos que sua tia conhece? Esta questão tornou-se ainda mais relevante quando viram o barco. Para ser justo, o barco cor-de-rosa não era tão terrível como Ginny tinha imaginado que seria. Em sua mente, ele ia ser pintado com Pepto-Bismol rosa, mesmo nas janelas. Na realidade, havia pelo menos quatro tons de pink e rosa. Ainda sim era muito rosa. ― Margaret escolheu as cores ― ele disse, chegando a correr o seu dedo ao longo do ramo delgado nu de uma árvore. Isto era óbvio para Ginny. Ou era tia Peg ou um grupo de cinco anos de idade. ― Onde está a janela?― Oliver perguntou. Charlie tirou os sapatos e pulou para o convés do barco. Ele caminhou até a frente (proa, o que quer que chamasse). E lá estava ela, a janela da frente essencialmente no pára-brisa do barco. Era uma pintura de uma cena de selva, um desenho animado. De maciças folhas verdes, enormes flores laranja, um papagaio grande. A imagem estava principalmente ao redor da moldura da janela, deixando o centro aberto, como uma abertura na folhagem. Quem quer que estivesse dirigindo teria que navegar através da estranha paisagem de tia Peg, enquanto fazia seu caminho em torno dos canais. Isso era interessante, se não inteiramente seguro. ― Deixe-me apenas tirá-lo ― Ele disse. ―O ohe ― Keith disse calmamente. Ginny e Ellis olharam para ele, e ele encolheu os ombros timidamente. Ele não estava muito fora do gancho ainda. Charlie pegou a janela pelas bordas e começou a puxar, o que não era exatamente o método de remoção que Ginny estava esperando. ― Você precisa de ajuda? ― Oliver disse, se preparando para escalar. Charlie mandou-o embora. ― Não é nenhum problema ― disse Charlie. ― Coloquei-a aqui com cola. Apenas cola.
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Ele era uma pessoa estranha, lutando com uma janela em um barco rosa. Ele gemeu e resmungou, travando suas pernas finas e arrancando mais e mais, jogando a cabeça para trás. Seus óculos caíram de seu rosto. Ele era uma espécie de Muppet perturbado que tinha decidido a atacar um navio à vela. ― Isso é incrível ― disse Keith. ― Podemos levá-lo para casa com a gente? Houve um ruído de rachar, o que fez o estomago de Ginny afundar. ― Aqui está ― Charlie disse, se aproximando ao lado do barco e passando a janela. O vidro não foi quebrado, felizmente. O ruído de rachar parecia ter sido a fragmentação da estrutura de madeira ao redor do painel. ― Eu sinto muito pela sua perda ― Charlie disse, colocando a sua mão manchada de tinta suavemente sobre os ombros. ― Foi uma perda para todos, para todos, para a arte. ― Sim ― Ginny disse calmamente. ― Foi. Eles pegaram a balsa Hoek van Holland, que estava logo ao sul de Amsterdã. Ginny tinha feito um monstro de um passeio de barco em sua última viagem de 24 horas em uma balsa para a Grécia. Claro, ela tinha passado grande parte desse tempo sob o sol, não encolhida dentro, evitando o ar de dezembro e o vento gelado. Mas esta viagem não foi tão longa. Ginny estava um pouco nervosa sobre deixar a janela do carro. Ela tinha tirado todas as suas roupas para fora de sua bolsa e a envolveu com cuidado, apenas no caso do barco afundar e oscilar. Idealmente, ela teria ficado no carro com ele, mas estava congelando no porão do carro, e eles não permitiam que passageiros permanecessem por lá de qualquer maneira. Os três se sentaram em volta de uma das mesas no café. Oliver foi relegado para uma mesa diferente. Ele parecia ainda mais frio uma vez que ele estava lá dentro, mas ele corajosamente pegou um livro enorme e tentou ler. Ellis tirou as cartas Top Trumps para fora outra vez. ― Vamos lá ― Ela disse. ― Você sabe que quer jogar o pacote de cavalos.
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Ela era obcecada com os cartões. Sua Pequena Ellis interior não poderia estar em paz até que alguém jogasse com ela. ― Vá em frente ― disse Keith. ― Ginny? Ginny encolheu os ombros. ― Você vai ter que me ensinar ― ela disse. Top Trumps parecia ser um jogo em que você tem cartas, e as cartas tinham uma imagem (neste caso, de um cavalo), e dizia-lhe todos os tipos de estatísticas do cavalo, o quão rápido ele era, quão grande era, etc. Quem tivesse o melhor cavalo ganhava ambos os cartões. Você repetia isso até que alguém tinha todas as cartas. Então, basicamente era exatamente como no colégio, exceto que só levou três minutos. O que era realmente um pouco mais humano, se você pensasse sobre isso. ― Você sente como se estivesse realmente em férias agora, não é? ― Disse Ellis, uma vez que tinha jogado um jogo. ― Estranhamente, sim ― Keith respondeu. ― Mas nós temos confundido a Americana. Olhe para ela. Você pode apenas dizer que ela nunca esteve em uma das festas à beira-mar onde você se senta no carro na chuva e come sanduíches. ― Aqueles são os melhores ― Ellis disse, balançando a cabeça. ― Você faz essas coisas ― Ginny disse. ― Você está tentando me enganar. Keith bateu na mesa em voz alta, fazendo com que Oliver saltasse. ― Oi! ― Disse. ― Para onde vamos agora? ― Dublin. ― Oliver rigidamente virou uma página. ― Dublin?― Keith repetiu. ― Como na Irlanda, no outro lado da Inglaterra de onde estamos agora, no continente?
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― Você é brilhante. Sim, Dublin. E já que temos que passar pela Inglaterra para chegar lá, sugiro que paremos lá por uma noite. Você não tem que vir o resto do caminho se você não quiser, pois somos capazes de lidar com isso por nossa conta. ― Dublin, depois de amanhã? ― Ellis disse. ― É Ano Novo! Dublin como Ano Novo seria épico. Isso deve ser feito. ― Ela está certa ― disse Keith, com um aceno para Ginny. ― Devemos. A propósito, eu acho que você tem um concurso de calças molhadas para estar. Você tem meu voto, e eu quero dizer isso. Oliver levantou-se e foi para fora. ― Foi algo que eu disse? ― Keith perguntou. ― Eu vou ao bar ― Ginny disse. ―Quer alguma coisa? Eles sacudiram a cabeça. Ginny foi sozinha, tropeçando da esquerda para a direita, enquanto o barco balançava. Ela viu Oliver através da janela. Claramente, ele tinha lutado entre a sua umidade e sua necessidade de um cigarro. Este último ganhou. Ele se levantou e saiu no convés no vento congelante, batendo o isqueiro mais e mais, tentando pegar uma faísca. A visão a fez triste, então por impulso ela comprou dois cafés e os levou para fora. Ela lhe entregou um. Ele olhou para ela em confusão. ― Eu sinto muito por esta manhã ― ela disse. Oliver olhou para ela e para trás, para o café. Ele apertou-a como se fosse algo raro e precioso e talvez um pouco perigoso. ― Obrigado ― ele disse. ― Eu estou indo. Meu plano é encontrar um lugar neste barco para se esconder e dormir. ― Esconder? ― A única coisa que eu aprendi ao ir para a escola quando era criança ― Ele disse. ― Eles nunca param. Nunca deixem encontrá-la dormindo. Minha única culpa.
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O lugar escondido para dormir de Oliver acabou por ser o carro. Encontraram-no lá quando eles foram alertados para voltar para o convés. Ele foi ao porta-malas, pegou todas as roupas secas de Keith, e empilhou-os sobre si mesmo. Ele estava dormindo em uma pilha de roupa. ― Ele realmente lê sites de arrombamento ― Keith disse, olhando para ele através da janela e batendo bem forte para acordá-lo. ― Este carro é como um cofre de banco. Ninguém pode entrar ― Uma vez eu abri a porta com uma caneta ― Ellis disse a ele. ― Não me diga coisas desse tipo. ― Eu fiz. Apenas um movimento da caneta e... Pop! Porta aberta. Oliver reorganizou-se no banco de trás para dar lugar a Ginny, empurrando toda a roupa de Keith até os seus pés. O empacotamento extra significava que eles estavam entalados juntos com mais força do que o habitual. De volta à sua terra natal, Keith andava com confiança, o pequeno carro branco batendo e fazendo barulho pela auto-estrada. Assim que eles entraram em Londres, Keith puxou para o lado da estrada. Não havia metrô nem nada. Ele se virou e olhou para Oliver. ― Esta é a sua parada ― Ele disse. ― Onde estamos? ― Eu acabei de dizer. Sua parada é onde estamos. ― Tudo bem ― Oliver respondeu. ― Eu só vou levar a janela comigo. Você pode ficar com a tampa da mesa. Ginny agarrou a borda da janela tão duro quanto podia. Não havia maneira de deixar Oliver tomá-la. ― Fora ― Keith disse novamente. ― A janela fica. Oliver considerou por um momento, então se virou para Ginny. ― Bem ― ele disse ― não há muito que se pode fazer com isto sem a peça final. Sobre amanhã. . . Devo assumir que estará dirigindo de novo, ou podemos simplesmente pegar o trem e a balsa e fazê-lo nós mesmos?
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― Acho que é pedir demais onde exatamente na Irlanda estamos indo? ― Keith perguntou. ― Você está realmente me perguntando isso porque você está me largando na estrada? ― Pelo menos eu te levei por todo o caminho para Londres. Eu poderia ter despejado você no País de Gales. ― Eu entrarei em contato ― Oliver disse, abrindo a porta. Keith começou a andar para longe antes que ele tivesse a chance de obter o seu saco para fora, obrigando Oliver a andar todo o caminho até o quarteirão para obtê-lo. Assim que ele chegou ao carro, Keith foi para frente novamente. Oliver esperou um tempo antes de se aproximar do carro. Quando o fez, Keith deu ré, fazendo com que Oliver pulasse para a calçada. ― Keith ― Ellis disse. ― Pare com isso! O banco traseiro estava subitamente estava muito espaçoso. Era muito grande. Ginny se moveu desconfortavelmente no espaço e olhou através da janela traseira. Oliver já estava fazendo o seu caminho garantido na estrada, como se soubesse exatamente onde ele estava indo. Por alguma razão, a visão a deixou muito triste. Quando chegaram à casa de Richard, não havia estacionamento, de modo que Keith parou o carro e manteve o motor ligado enquanto eles cuidadosamente extraiam as peças do banco de trás. Eles ajudaram a subir os degraus. ― Então, vamos esperar para ouvir de você sobre amanhã ― disse Keith. ― Hora, direções, outros detalhes. Eu suponho que nós vamos ter que fazer um terrível inicio. ― Vocês não se importam? Ir para a Irlanda? ― Claro que não ― disse. ― Nós nunca iríamos deixá-la com ele, iríamos, El? ― Definitivamente não ― disse Ellis. ― Estou animada! Isto tem sido incrível até agora! Ellis lhe deu um grande abraço; Keith, um tapa amigável no braço. Mal tinham arrancado o carro peidou e cuspir o seu caminho pela rua, Oliver apareceu. Ginny não teve sequer tempo de fechar a porta. Ele estava lá, como se tivesse crescido ali fora de um arbusto ou saiu de uma lata de lixo.
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― De onde diabos você veio? ― Ela perguntou. ― Eu só estava parado ali, esperando você chegar em casa. ― Eu teria visto você. O que, você estava agachado? ― Eu não estava agachado. Eu só estava lá... ― Como você chegou aqui tão rápido? ― Eu peguei o metrô. Eu o superei por 10 minutos. Ele realmente me deixou em um lugar muito conveniente. ― Como você sabe onde eu... Oh, as cartas. ― Agora que temos resolvido tudo isso ― ele disse, suspirando ― você não gostaria de saber por que estou aqui? ― Por que você está aqui? ― Há algo que você precisa fazer, e eu não tive exatamente a chance de explicar no carro. Eu posso pelo menos ajudá-la a levar isso lá para dentro. ― Ele apontou para a mesa e a janela encostada na porta. Se ele tivesse vindo aqui para pegar as peças? Que parecia improvável. Como ele disse, eles não tinham uso sem a última. Talvez por alguma outra razão desconhecida? Provavelmente não. Oliver realmente tinha sido expulsado do carro. Ele não poderia ter planejado isso. ― Você vai me deixar entrar ― questionou. ― Tudo bem ― Ela disse, empurrando a chave na fechadura.
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A Casa dos Segredos Ao contrário de Keith, que sempre entrava como fosse dono do lugar, Oliver entrou com cautela, abaixou a cabeça ligeiramente, pisando de leve, olhando para tudo como se pudesse haver algo esperando para emboscá-lo atrás do sofá. Ele não vagaria até a cozinha à procura de alimento. Ele nem sequer se sentou. Principalmente, ele olhava para as decorações que cobriam a sala de estar. ― Quem fez isso? ― ele perguntou. ― Então, o que você veio me dizer? ― ela disse. ― Você poderia apenas ter enviado as instruções por e-mail a respeito de amanhã. ― Exceto porque há algo que temos que fazer hoje. Aqui. Nesta casa. Ele pontuou esta declaração alcançando a guirlanda que Ginny tinha amarrado ao redor da porta, acidentalmente puxando metade desta para baixo. Ele tentou colá-la de volta novamente, remexendo-a por um momento. ― Deixe ― ela disse. ― Apenas me diga o que temos a fazer aqui. Ele se inclinou contra a porta e assumiu sua postura recitação, com a cabeça inclinada para trás e os olhos fechados. ―― Aqui está uma surpresa, Gin. Eu fiz algumas pinturas que vão realmente valer algum
dinheiro, e uma vez que você está de volta, você poderia ir e buscá-las. Você vai encontrá-las em meu espaço de trabalho na Harrods, trancadas nos armários na parte dos fundos. A chave está presa na argamassa azul sob a pintura de Um bar em Folies-Bergère... ‖― Oliver abriu os olhos e olhou para Ginny. ― Essas são as pinturas que você já vendeu.
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― Eu estou ciente disso ― ela disse. Oliver limpou a garganta e continuou recitando. ― ―Eu pensei que deixá-la lá seria um toque legal. Eu teria me sentido estúpida por deixar a
chave da minha herança em um chaveiro de I-love-London em cima da geladeira. Você tem que ter algum estilo quando está deixando coisas do além. No armário, você também vai encontrar o nome e endereço de um homem em um leilão que está totalmente preparado para lidar e vender os quadros. Seu nome é Cecil Gage-Rathbone, ele é muito bom no que faz. Cecil também pode lidar com a venda do nosso trabalho em andamento, que ainda não está terminado! ― ―Em cima, no meu quarto, há uma lareira fora de uso. Tenho certeza que você viu isso
antes. Está toda pintada. Vá até lá, pegue, observe, e eis que você terá a próxima coisa de que você precisa. Leve-a com você ao nosso destino final, que é... ― A Irlanda! Aposto que você sempre quis ir para a Irlanda, Gin. Estou aqui para te obrigar. A
Irlanda é realmente um dos meus lugares favoritos, e o último que visitei. ― Só tem uma coisa, no entanto. Eu não consigo realmente lembrar como chegar até o lugar que
eu quero que você vá. Richard sabe, porém, e já que você está aí com ele agora, você pode perguntar a ele. Diga que você quer as instruções para, o lugar perto de onde o seu avô está. Ele vai saber o que você quer dizer. ‖ Ginny se levantou imediatamente e se dirigiu até as escadas. Ela estava na porta de seu quarto quando percebeu que Oliver não tinha a seguido. Ele ficou no pé da escada, olhando para cima. ― O quê? ― ela perguntou. ― Eu posso subir?
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Não lhe ocorrera que ele não a seguiria até seu quarto. Mas eles estavam hospedados em albergues juntos por dois dias... ― Apenas venha ― ela disse. A reação de Oliver ao ver as decorações de Natal não era nada comparada com a reação dele quando chegou ao limiar de seu quarto. ― Oh inferno ― ele disse. O quarto de Ginny, o quarto de tia Peg, era uma enorme agressão aos sentidos quando se entrava pela primeira vez. Oliver olhou para a colagem do piso até o teto de embalagens e peças sortidas de papel. Ginny já estava no chão, empurrando a mala que tinha colocado em frente à lareira. Lá estava - a pequena grade corrediça feita de plástico. Isso exigiu apenas um pouco de esforço. Ginny ficou de costas e enfiou a cabeça na abertura. A chaminé tinha sido selada em algum ponto, mas ainda havia uma frígida corrente de ar descendo através da escuridão. A poucos centímetros acima, um objeto estava preso lateralmente na chaminé. Ela estendeu a mão e agarrou, e ele veio a baixo, junto com um punhado de poeira e sujeira que pousou em seu rosto. Ela espirrou e retirou-se. Era uma caixa de longa e estreita, como o tipo de caixa em que um guarda-chuva dobrável pudesse entrar. Era feita de duas peças longas, que só precisavam ser separadas para abrir. Havia duas coisas um objeto longo, e um saquinho pequeno. O saquinho continha finos lápis de cor pasteis, grandes lápis de cor extravagantes com rótulos escritos em italiano. Havia quatro deles, um cinza, um branco, um verde profundo, e um verde claro. O objeto longo era um pedaço de papel em branco. ― Oh não ― disse Ginny. Para ser justo com o papel, era um papel muito bom. Parecia feito à mão. Você podia ver as fibras. E era quase totalmente translúcido. Ainda assim, um papel em branco implicava em desenhar algo, e isso era ruim.
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― O que eu devo fazer com isso? ― Ginny perguntou. ― Será que ela acha que eu posso desenhar? Porque eu não sei desenhar. Vamos lá, você sabe o que eu tenho que fazer. ― Você vai ficar bem ― ele disse. ― Eu ficaria melhor se você me contasse. ― Honestamente, você não iria. Não faz qualquer sentido sem saber a localização, mas a tarefa real não parece difícil. Nós poderíamos partir esta noite. Nós poderíamos ir sem eles. Eu aposto que poderíamos conseguir alguns vôos baratos, estar lá em um momento. É assim que eu estava planejando fazer antes que eles se envolvessem. Por apenas uma fração de segundo, Ginny ficou tentada. Nada mais de olhar para Ellis e Keith. Apenas ir logo, terminar tudo agora. Mas não... Não. Keith estava se oferecendo para dirigir. Era assim que ela estava indo. Era assim que tinha que ser. ― Nós vamos com eles ― disse Ginny. ― Então é melhor olhar os horários da balsa. O computador de Ginny estava no chão ao lado de sua cama. Ela puxou-o. Oliver estava sobre ela quando ela digitou e se encostou cômoda, o fazendo parecer um metro mais alto. ― Há uma balsa para Dublin a uma ― ela disse. ― Ela parte de Holyhead. ― Que fica no País de Gales. Isso fica cerca de seis horas de distância. Nós vamos ter que sair às cinco da manhã. Ele disse isso como um desafio. ― Então é quando nós vamos ― ela respondeu.
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― Bem, então eu suponho que eu deveria... ― Ele olhou para um delineador de olhos que Ginny havia deixado em sua cômoda, pegou-o e examinou-o curiosamente, como se nunca tivesse visto um objeto tão maravilhoso antes. ―... Eu devo ir ― ele disse. ― Vou encontrá-la de manhã, neste lugar, eu suponho. Ele saiu do quarto. Ginny ouviu-o descer depressa as escadas e sair. ― Você é tão estranho ― ela disse em voz alta. Richard estava um tanto surpreso ao descobrir Ginny sentada no sofá quando ele voltou para casa naquela noite. ― Você está em casa ― ele disse. ― E você trouxe... Alguns itens de ferro-velho do desafio... Ele apontou para a mesa e janela que tinham se juntado as muitas decorações em sua sala de estar. Eles realmente não pareciam muito impressionantes fora de contexto. A mesa era amarela, com várias manchas circulares vermelhas, a maioria no centro, e alguns nas laterais. Havia também o parecia ser uma longa marca preta de queimado na lateral. A pintura tinha descascado completamente em vários lugares, revelando um azul cor de ovo de pato debaixo da porta. A porta tinha sido serrada ao meio e apenas lixada, deixando uma borda áspera. Essa era a borda que tinha estado em pé no carro. A janela parecia mais uma obra de arte porque tinha uma pintura nela, mas ainda estava muito suja, e a estrutura de madeira estava gasta. ― Essas são as peças ― explicou Ginny. ― Não está acabado ainda. Richard virou a cabeça para a esquerda e para a direita, tentando compreender como uma mesa amarela áspera e colorida e uma janela pintada e suja iam juntas, então balançou a cabeça, aparentemente decidindo que esta não era o melhor uso de suas energias mentais. ― Portanto, há mais? ― ele perguntou.
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― Só mais uma peça, ― ela disse. ― Nós temos que buscá-la. ― E onde está localizada esta peça? ― Irlanda. A carta dizia que eu deveria lhe perguntar pelas direções do lugar perto de onde o seu avô está. Richard balançou a cabeça e olhou para longe, tilintando suas chaves na palma da mão por um momento. ― Certo ― ele disse. ― É claro. Bem, eu proponho, se você estiver a fim disso, um passeio até a Rosa de Delhi. É na mesma rua, e eles fazem um curry muito bom. Deixe-me trocar de roupa e nós vamos. Richard rapidamente colocou um jeans e um suéter, e logo estavam andando pelas ruas embebecidas pela chuva. Sempre chove na Inglaterra, quando você não está olhando, dando as estradas e calçadas um brilho lustroso. A noite era por outro lado clara, e não muito fria. Pela segunda vez em sua vida, Ginny se viu em um restaurante indiano. Este tinha um sabor distintamente dramático. Havia pesadas cortinas de veludo por cima da porta para impedir a entrada do frio. Dentro havia um mundo de brilhantes cor de rosa nas paredes, cobertas de pequenos elefantes decalcados em tinta dourada. Bouncy Bhangra, uma música indiana, estava tocando e havia flores frescas em todos os lugares um pequeno arranjo na porta, pequenos vasos em todas as mesas, outro vaso cheio no balcão. Eles foram saudados efusivamente com toalhas, já quentes e úmidas, para limpar as mãos, e colocados em uma mesa de janela acolhedora. O garçom imediatamente reorganizou todos os copos e talheres. Isso sempre deixava Ginny perplexa. Por que eles arrumavam de uma maneira e mudavam logo que você se sentava? Um momento depois, ela estava encarando um cardápio que ela realmente não entendia. Korma, masala, Roganjosh, vindaloo, frango tikkabhuna, aloogobhi, biryani... Ela não tinha idéia do que essas
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coisas eram. Quando o popadoms chegou, os grandes discos crocantes, que eram algo como tortilhas em um restaurante mexicano, se sentiu um pouco mais confortável. Ela ainda não tinha idéia do que estava em nenhuma das cinco pequenas bacias de prata com molhos que tinha vindo com eles. Ela permitiu a Richard que a guiasse através do pedido. Ele pediu para ela algo não muito picante, e feito de cordeiro. ― Minha família é da Irlanda ― ele disse, abrindo um buraco no centro do popadom para que pudesse ser dividido e comido. ― Eu nasci lá. E me mudei para cá quando era pequeno, então nunca tive o sotaque. Eu sou o único Murphy que soa assim. É a vergonha da família. O lugar para onde você está indo é fora de Kildare, perto da Curragh. ― O que é isso? ― Cerca de 20 quilômetros de pastagens abertas. É onde as ovelhas estão. Elas andam pela cidade à noite e comem toda a grama de seu jardim e te deixam de presente cocô de ovelha. ― Então, eu estou indo para um campo aberto? ― Não ― ele disse. ― Não exatamente. ― Então, o que há lá? ― Ginny perguntou. ― O que eu vou ver? ― A carta não lhe disse? ― Eu não li essa página ainda ― ela disse. Era a verdade. Ela não tinha. ― Eu meio que as leio enquanto vou indo. Richard quebrou um pedaço grande de popadom e bateu na borda do prato. Ele parecia estar debatendo algo com ele mesmo. ― Há algo errado? ― ela perguntou.
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― Não ― ele falou. ― Só pensando na melhor maneira de chegar lá. Você está indo de Dublin, presumo? ― Nós vamos pegar a balsa de manhã. ― É claro. Eu provavelmente não deveria ter te trazido para o curry hoje à noite... Embora eu tenha certeza de que sua viagem vai ser boa. Só um pouco... Agitada, às vezes... Ele rasgou o seu pão ao meio novamente e deixou os dois pedaços do lado do prato, sem comêlos. ― Então ― ele disse, mudando totalmente seu comportamento. ― Dublin. Véspera de Ano Novo. Você estará com seu amigo, certo? ― Há quatro de nó ― disse Ginny. ― Quatro? De onde os outros dois vieram? ― Keith e sua namorada. Ele dirige. Está tudo... Bem. Agora ambos estavam sendo cautelosos. O garçom se aproximou com um carrinho com a comida, então houve uma pausa natural enquanto ele arrumou o prato quente e colocou as bandejas de metal fumegante de curry, arroz e pão. Foi tempo suficiente para Ginny mudar de assunto. ― Quão normal é para que as pessoas irem para um colégio interno aqui? ― ela perguntou, enquanto eles serviam sua comida. Richard podia lidar facilmente com uma volta em uma conversa como essa. Ele estava acostumado com perguntas aleatórias constantes, atiradas sobre ele durante todo o dia. ― Não é anormal, mas também não é uma coisa muito comum.
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― É que eu conheci alguém que foi para uma ― ela disse. ― Você sempre lê livros ou vê filmes sobre pessoas na Inglaterra indo para um internato. Eu pensei que talvez fosse o que a maioria das pessoas fizessem. ― Não ― disse Richard. ― Eu não fui a uma. Eu sei de algumas pessoas que fizeram. Elas são muito caras. ― Então você tem que ser tipo de rico para ir? ― ela perguntou. ― Bem, isso geralmente implica algum dinheiro. Algumas pessoas entram com bolsa, algumas escolas custam menos do que outras. Isso varia. Geralmente, porém, tem que haver um pouco de dinheiro vindo de algum lugar. Então, a menos que Oliver tenha ido à escola com bolsa de estudos, ele tinha que ter algum dinheiro em sua família. Ele provavelmente era esperto o suficiente para uma bolsa de estudos, mas as pessoas que ganharam bolsas de estudo não pareciam o tipo que iriam apenas a pé para a universidade. E quanto a suas roupas serem provavelmente de segunda mão, elas ainda eram de qualidade muito elevada. Ela conhecia coisa boa quando via. Seu palpite era de que havia algum dinheiro, pelo menos em seu passado. Então, por que ele precisa do seu dinheiro da venda? ― Vou anotar as instruções quando voltarmos ― Richard disse, voltando à conversa principal. ― Não é longe de Dublin. Não deve levar muito tempo para chegar lá, especialmente se você tiver um carro. ― Ele fez um gesto para a comida. ― Mergulhe dentro. Eu acho que você vai gostar disso. Fosse como fosse, aquilo parecia delicioso. Era uma cor marrom avermelhado profunda, como chili, salpicada com brilhantes pedaços verdes de coentro. E cheirava a nada que Ginny já tivesse comido antes. ― Está tudo bem ― disse Richard, indicando seu prato. ― Experimente.
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Ele estava definitivamente falando sobre o curry, mas ela tinha a sensação de que ele estava tentando tranqüilizá-la sobre algo maior, algo esperando por ela na Irlanda. Ela mergulhou o garfo e deu uma mordida grande. O prato, o que quer que fosse, era tão delicioso quanto cheirava cheio de carne macia e especiarias recém-raladas. Richard nunca a levou a um erro. O que quer estivesse esperando por ela... Tudo ia ficar bem. Ela tinha certeza disso.
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A Ilha Esmeralda ― Por que os americanos são tão fascinados pela Irlanda? ― Keith perguntou quando abriu a porta na manhã seguinte. ― Ellis e eu estávamos falando sobre isso. Agora precisamos de você para explicar. Explique norte-americana. Vocês todos parecem pensar que a Irlanda é mágica... Ele disse a última palavra em uma cadência irlandesa. Ellis, que estava sentada nos degraus segurando uma xícara de chá, abanou a cabeça. ― Bom dia, Ginny ― ela disse. ― Eu não estava falando sobre isso. Ele estava. Para si mesmo. Ginny sorriu levemente, pensando no jeans e suéter que Ellis usara desde o dia em que começaram sua viagem para a França. Ou Ellis tinha se trocado muito cedo ou... Ou ela nunca havia saído e não tinha outra roupa para trocar. Essa era uma opção horrível, mas inteiramente provável. Ginny tentou derrubar a rastejante miséria que veio com esse pensamento, e que enrolou ao redor de seu corpo como uma videira. ― Além disso ― Keith acrescentou alheio ao seu sofrimento ― todos pensam que você é irlandês. Qual é o apelo? Você gosta do sotaque? É tudo sobre as rochas mágicas? Oh, olha, um duende... O que significava a chegada de Oliver, que estava apenas chegando por trás de Ginny. ― Bom dia ― ele disse. ― É? ― Keith perguntou. ― É? Oliver tomou o seu curso normal de ignorar tudo o que saia da boca de Keith e entrou no banco traseiro. Ele tinha se preparado para esta etapa da viagem embalando coisas leves em apenas uma mochila. Nenhum computador. Nada que ele não pudesse manter em seu colo. Ginny mal podia
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enfrentar voltar para o carro,que estava sempre parecendo assim, ligeiramente pior de se ouvir. A difícil condução na chuva e neve o tinha coberto com uma camada de sujeira que realmente alterava a cor e a visão das janelas, fazendo isso parecer ainda menor. ― À nossa frente hoje ― Keith disse, sacudindo a chave e persuadindo o motor frio para a vida ― ainda temos outra longa viagem até a balsa. Nada como o mar da Irlanda, na calada do inverno. ― Você pode nos deixar no terminal da balsa ― Oliver ofereceu. ― Oh não ― disse Keith. ― Não perderia isso. Véspera de Ano Novo? Dublin? Você e eu juntos? A magia de você combinado com a magia da Irlanda? Desta vez, eles rumaram para o norte e oeste, de Holyhead, no País de Gales. Esta foi à maior viagem, no entanto, bem mais de seis horas, aproximadamente a mesma quantidade de tempo que Ginny levou para voar para a Inglaterra em primeiro lugar. Havia muito pouca discussão. Ninguém estava desperto o suficiente para isso. Ginny olhou com olhos vidrados a paisagem inglesa mudando. Os sinais foram subitamente mudados do Inglês para outra língua bastante estranha que Oliver disse a ela era galês. Ela não tinha percebido que Gales era algo que as pessoas falavam, ou mesmo que existia. Eram um pouco mais selvagens aqui, colinas e pequenas aldeias, e longos trechos de nada, exceto os campos. Era um pouco assustador dirigir na barriga da ferrovia, a metade do espaço cavernoso completava-se com caminhões enormes e um punhado de carros e motos. Logo que tinham estacionado o carro, eles fizeram o seu caminho até a escada de metal para deques para passageiros. Keith e Ellis, os dois se estenderam em alguns lugares em um dos lounges, cabeça com cabeça. ― Você quer ir dormir um pouco, louca? ― Keith perguntou, quando ela posicionou seu casaco debaixo da cabeça como um travesseiro. ― Não ― Ginny disse.
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― Certifique-se de que ninguém nos alimentará para o kraken, então, certo? ― Ele lhe deu um pequeno sorriso e uma piscadela. Ambos estavam dormindo antes do barco sequer deixar o cais. Ginny sentou-se na frente deles, balançando em sua cadeira enquanto o barco ia para esquerda e direita. Ela que não podia dormir em paz, não sobre o barco, e não nesta posição. Oliver saiu no convés. Ela podia vê-lo através da garoa salpicada nas janelas, lutando contra toda a natureza em sua tentativa de acender um cigarro. O vento golpeou seu casaco e enviando sua cauda batendo, seu estreito corte de cabelo empurrado para cima nas extremidades. Havia algo fascinante sobre a vê-lo tentar fazer a mesma coisa repetidamente. O filme do isqueiro. O copo da mão. As voltas para tentar encontrar uma posição onde o vento não apagasse a chama. Depois de alguns minutos e dois cigarros em ruínas, ele desistiu e voltou para dentro. ― Deve ser um salão de fumantes ― ele disse. ― Eu os odeio. Eles cheiram terríveis. Mas vai ter que servir. ― Eles cheiram a fumaça ― Ginny disse. ― O que você acha que você cheira? Isto foi um pouco injusto. Oliver não tinha realmente cheiro de fumaça, na maioria das vezes, talvez apenas uma pequena lufada de seu casaco logo depois que ele entrou. Ele foi embora silenciosamente. Ginny olhou novamente para o casal feliz dormindo, balançou-se, e decidiu sair para o convés. Em seguida, eles estavam lá fora, a costa galesa desaparecendo na neblina. Apesar de ter sido uma passagem fria e instável, Ginny gostou da viagem. A balsa no verão tinha sido suave e uniforme, o sol batendo na água azul. Ela gostava do balanço e barulho do barco. Isso era animado. Isto era viajar. Tinha um impulso nisso. Ela passou a maior parte das quatro horas andando no deck, ouvindo música no volume máximo em seu fone de ouvido. (Sem Starbucks: o Musical. Ela tinha considerado colocar algumas das músicas em sua playlist, mas então percebeu que tinha o suficiente de Keith em seus olhos
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e ouvidos em todos os momentos. Ela estava aprendendo.) Ela tinha orgulho do fato de que ela poderia andar tão firmemente enquanto o barco balançava e batia na água. Ela estava começando a se sentir no controle dessa coisa, podendo lidar com estar em torno de Ellis e Keith. Ela poderia lidar com Oliver. Um pouco de música alta, um áspero passeio de barco através do Mar da Irlanda... Ela poderia lidar com isso. Quando o anúncio foi feito para todos os motoristas retornarem aos seus veículos, Ginny comprou dois cafés e foi acordar e Keith Ellis, que estavam ainda dormindo nas cadeiras do salão. ― Oh, Deus te abençoe ― Ellis disse, aceitando seu café. Juntamente com um café, Ginny deu a Keith às instruções de direção que ela tinha obtido a partir de Richard na noite anterior. ― Não parece muito longe afinal ― Keith disse. ― Se nos apressarmos, podemos pegar a peça, conseguir algo para comer, e voltar para Dublin meia-noite. Mas nós dissemos isso antes, não? Eu suponho que você sabe, mas não vai nos dizer, porque é muito mais divertido conduzir em torno da Irlanda, sem uma pista do que está acontecendo. Isto foi para Oliver, que surgiu a partir de qualquer buraco onde se ocultou e se juntou a eles. ― Eu não sei quanto tempo vai demorar ― ele disse. ― Eu nem sei onde ela está. Ginny tem as instruções. ― Isto é um lugar perto da casa da avó de Richard ― Ginny explicou. A carta apenas diz sobre este lugar que ela e Richard visitaram juntos. Não dizia onde era. ― Todos um pouco misteriosos, não é? ― Keith perguntou. ― Ainda. Parece que podemos fazêlo e obter chapéus nossa festa. Vamos?
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Ginny viu imediatamente o que a tia Peg teria gostado sobre a Irlanda, as cores. Havia longos trechos de quase nada, exceto os campos, mas os campos eram uma dúzia de diferentes tons de verde. Então, de repente uma pequena igreja de pedra, algumas lojas quadradas, então uma pequena cidade com quatro pubs pintados em amarelo, vermelho e azul... Uma fileira de casas em todas as cores do arco-íris em tons pastel. Então, muitas cores, desafiando o cinza aço do céu. O sol tinha acabado de se por quando eles chegaram ao local que Richard tinha marcado no mapa. O carro tossiu até parar. Eles saíram. ― isto é um campo ―Keith disse. ― Você tem certeza que está certo? ― Diz que parar no final da estrada e olhar para o portão branco, suba os degraus. ― Ginny abaixou o papel e olhou em volta. Estava escuro demais para ver claramente. Keith produziu uma lanterna de seu carro e clareou ao redor, até que ele desembarcou em um pequeno muro de pedra, que levava a um portão lascado e branco, parcialmente coberto por arbustos. ― Aqui estamos ― ele disse. Eles começaram a marchar através da grama. O chão era esponjoso, e cada passo produzia um ruído de sucção. Apenas alguns remendos eram realmente barrentos, mas não havia nada sólido sobre este campo. O portão de ferro lascado e branco estava desbloqueado, e levava a uma série de passos de pedras que tinham sido presos ao lado de uma pequena colina, cortando um caminho por entre as árvores. ― Eu acho... ― Oliver disse. ― Não importa ― Keith o cortou ― Fique calado por uma vez e escute ― Oliver disse. Ele enfiou a mão no bolso e tirou algumas páginas em branco fotocopiadas.
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― Cópias? ― Ela perguntou. ― Eu não queria que a carta se danificasse ― explicou. ― E eu acho que você pode querer fazer esta parte você mesmo. É mais. . . Pessoal. Ginny olhou para o caminho à frente. Ela só podia ver os primeiros passos, em seguida, estava completamente obscurecido pela escuridão e árvores. Não foi a maior montanha de todas, mas ainda era uma boa subida. ― Realmente ― Oliver disse. ― Acho que devemos esperar aqui. Keith segurou tentadoramente a lanterna para ela. ― Tudo o que você quiser fazer ― ele disse. ― Eu acho que eu vou ― ela disse, a aceitando. ―É só uma subida. Ela colocou o telefone no bolso do casaco, empurrou o portão aberto e começou a subir os degraus. As pedras foram revestidas com verdes musgos escorregadios. Eles se levantaram em um desafio, pois não havia nada para segurar, exceto os galhos de árvore ocasionais ou o degrau acima. Ela escorregou várias vezes, enviando o feixe de luz dançando por todo o lugar. ― Você está bem? ― Keith chamou. Ela não podia nem mais vê-lo. A visão para baixo era apenas escuridão. ― Tudo bem... ― ela Disse, lutando até o topo. Ela estava parada em um cemitério. Não era como qualquer cemitério que já vira em sua vida. Era mais como um estranho jardim de pedra. Algumas lápides eram simples, pedras brutas. Outros monumentos foram ornamentados com
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cruzes celtas. Alguns tinham estado aqui há muito tempo que o chão tinha vindo ao encontro deles, chegando a meio caminho, às vezes mais. Alguns eram apenas poucas pontas arredondadas saindo do chão. Muitas estavam tortas, inclinando como a terra havia mudado ao seu redor. As inscrições foram cobertas de líquen branco e preto, musgos rastejando e moldes obscurecendo as palavras, isso quando as palavras ainda estavam lá. Algumas inscrições haviam sido desgastadas por anos de chuva e vento. Intercaladas com lápides novas, cortadas de alguma rocha brilhante e prateada. Em alguns destes estavam presentes e símbolos. Junto com as flores e velas de costume, pequenos bichinhos de pelúcias empoleirados nos ramos das cruzes, garrafas meio cheias de uísque restavam de alguma recente comunhão bêbada com os mortos. Era um lugar incrivelmente não-assustador. Era pacífico. A lua estava baixa e brilhante o suficiente para que ela pudesse ver muito bem, mas ela precisava da lanterna para ler as páginas que a tinha sido dada. Mesmo que eles fossem apenas cópias, fazia uma diferença enorme tê-los fisicamente em sua mão, lê-los no lugar onde ela deveria lê-los. Ela estava agradecida que Oliver tinha percebido que isse era um passo que ela tinha que tomar sozinha.
“Eu aprendi minha lição mais importante de arte quando eu tinha dez anos de idade. Nós tivemos que fazer um projeto no qual colocamos nossas cabeças em um pedaço de papel, de lado, de perfil, e então alguém os traçava. Então foram copiados, e as duas metades foram colocadas juntas. Quando você coloca os dois lados juntos, aprendemos a lição: O resultado parece em nada com você. Surpresa! Por quê? Porque não somos simétricos. O que está acontecendo de um lado, não está acontecendo do outro. Há essa teoria científica que os seres humanos pensam que simetria é bela igual, mesmo as coisas, tudo na medida correta. Mas somos assimétricos, Gin. Nossos rostos, nossos corpos eles não são os mesmos em ambos os lados. Seus olhos não são idênticos. Seu nariz não é exatamente reto. E confiem em mim, seus peitos são de tamanhos quase definitivamente diferentes.
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O que é arte, Gin? O que é beleza? O que torna meus desenhos estranhos ou as pilha de coisas em um trabalho e não apenas lixo? Esta discussão já se arrasta por eras, e não há resposta definitiva. Então, eu estou tão habilitada como qualquer uma jogar meu chapéu no aro e fazer algumas definições. Acho que algo é arte quando ele é criado com intenção, intenção séria. Mesmo intenções malucas. E eu acho que algo é belo quando revela algo importante sobre o que significa estar vivo. Este lugar é lindo. São coisas estranhas de beleza, monumentos da morte, desequilibradas, encharcado. . . Muitas gerações reunidas em um só lugar. Eles não são imaculados e ordenados em fileiras. Eles são cuidadosamente mantidos, enquanto estão também autorizados a mudar e decair como a natureza comanda. E assim, eles são lugares vivos. Olhe ao seu redor, Gin. A partir daqui, você pode ver tudo. Eu vim aqui com Richard logo depois que percebi que estava doente e fiz o teste. A avó dele vive perto daqui, e nós viemos visitar. Na verdade, eu recebi a ligação com o meu diagnóstico, quando eu estava aqui. (Richard é meio irlandês. Você deve saber isso, desde que você está ligada a ele. O que a faz apenas um pouco irlandesa, pelo menos pelo casamento. Mas eu acho que a nossa família é uma pouco irlandesa de qualquer maneira.” Droga. Keith estava certo sobre essa coisa irlandesa.
“Vínhamos planejando subir aqui, é um local famoso. Richard não queria que eu viesse depois que eu recebi a noticia, porque ir a um cemitério quando você acaba de descobrir que vai morrer é uma espécie de coisa mórbida. Eu não acho que eu aceitei isso, realmente. Ele estava mais devastado do que eu. O deixei com a sua avó por uma hora e caminhei até aqui por mim mesma, porque eu só tinha de ver este lugar.
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Eu fui imediatamente atraída para um monumento. Eu nem mesmo vou ter que dizer-lhe qual. Se você olhar em volta, você irá saber. Ginny olhou em volta. Havia tantos monumentos, em tantas condições. Mas ela se lembrou de olhar suavemente, apenas deixar os olhos à deriva. ― Pinte com seus olhos ― Tia Peg costumava dizer. ― Gestos varridos, tal como uma escova.― Lado a lado. Gentil. Lá estava ele, perfeitamente óbvio. Era um dos poucos monumentos que não era uma cruz ou uma lápide padrão, mas um obelisco. Ela caminhou suavemente, pisando em torno das lápides, os abertos e os marcados por barras de metal, deitados no chão, e as grandes lajes. Quando ela chegou perto dele, viu uma escultura de uma mulher, dançando, com um livro na mão. O que ela lia em seguida confirmou sua suspeita.
“A mulher enterrada lá era um poeta. Ela morava com sua irmã, que era uma escultora. Quando sua irmã morreu de uma Febre (ou assim disse o registro paroquial, o que ele me mostrou - é um livro enorme, cada nascimento e morte escrito à mão com tinta - O mesmo livro ainda está em uso), o escultor passou os próximos dois anos trabalhando nesse monumento para ela. Esculpir costumava ser considerado uma forma muito máscula de arte, Gin. Rocha,cinzel, quebrando mármore com suas mãos nuas... Uma escultora mulher trabalhando em 1887 teria sido uma coisa muito rara. As mãos dela teria sido ásperas; braços teriam sido bem musculosos. Ela teria gasto muito tempo sozinha no trabalho duro, colocando suas ferramentas contra a rocha. Que não era o ideal vitoriano. Levou um monte de mulheres assim, um monte de mulheres que disse: ― Eu não vou fazer o que você espera que eu faça, porque você não tem idéia do que eu sou capaz. Eu vou ficar suja, usar ferramentas e viver do jeito que eu quero ― para mover o mundo para frente. E esta mulher? Ela transformou sua irmã em uma deusa e deu-lhe um assento no topo da colina, onde ela podia dançar com o vento.
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Quando eu vi aquilo, eu sabia que eu queria dançar com o vento aqui também. Eu queria me juntar a ela. É por isso que eu pedi para Richard espalhar minhas cinzas aqui. Pelo tempo que você ler isto, tenho a certeza que isso terá sido feito. Eu estou aqui. Agora, vamos fazer isso juntas. O recipiente que você tem em Londres, você tem isso, certo? Obtenha-o. Abra-o. A mão de Ginny começou a tremer. Ela ajoelhou-se, os joelhos afundando no chão, em seguida, colocou sua bolsa para baixo e recuperou a caixa. Ela tirou selo adesivo e deslizou para fora o conteúdo. Ela colocou cuidadosamente sobre a bolsa e continuou a ler, não se importando que seus joelhos estivessem imersos e, provavelmente, imundo.
“Você vai fazer a parte final disso. Isto é um trabalho conjunto. Você precisa deixar os seus medos aqui. Não se preocupe que não vai ser bom o suficiente. Não se preocupe que você não vai fazer isso direito. Retire o papel e pressione no monumento. Aí vem a paleta de cores. Apenas rasgue o papel que a cobre, porque você vai precisar delas para virar de lado. Faça uma fricção 166 da imagem, usando as cores que você gosta. Apenas um. Todos eles. Tudo o que você quiser fazer. A imagem já está concluída. Deixo isso para você criá-la. O papel lutou contra o vento, mas Ginny segurou firme e se abaixou. Ela abriu o saco com as cores. Ela alcançou primeiro o verde, porque essa era a cor ao seu redor. Ela começou muito levemente. Então pegou o cinza. Esfregou mais forte, alternando as cores na diagonal, mesmo fazendo algumas tiras de branco, deixando apenas vestígios fantasmagóricos. Este foi realmente e verdadeiramente o fim. Tia Peg nunca poderia saber que ela iria aparecer aqui na véspera do Ano Novo, com a lua pendurada baixa e espalhando um brilho branco sobre a colina. . . Mas ela teria aprovado. As cinzas foram colocadas aqui meses atrás, foi soprado ao redor e embebido na chuva e pressionada para dentro da terra. Eles eram uma parte da paisagem agora, parte 16
uma imagem que você faz, colocando papel sobre um padrão em pedra ou metal e esfrega com algo como um lápis.
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da sujeira em suas roupas, parte de tudo. Realmente era como se tia Peg dançasse para sempre no topo da colina, um lugar que ela só tinha visitado uma vez na vida. Ela enrolou o papel e colocou-o novamente em sua caixa. Ela levou o seu telefone do bolso e ficou feliz ao descobrir que ela tinha, pelo menos, um sinal parcial. ― Estou aqui ― ela disse, quando Richard respondeu. ― Na colina. ― Você está bem? ― Ele perguntou. ― Eu acho que sim ― ela disse, olhando ao redor. ― Yeah. Eu estou. Nenhum dos dois falou por um momento. ― É um bom lugar ― ele disse. ― Ela disse que gostou porque poderia estar entre a Inglaterra e os Estados Unidos, mantendo um olho em todos. Ginny riu, e enxugou uma lágrima de seu olho. Ela não tinha percebido que ela estava chorando um pouco. Richard riu também. ― Você está aí em cima sozinha? ― Ele perguntou. ― Deve estar escuro. ― Eles estão esperando por mim na parte inferior. Nós estamos dirigindo de volta para Dublin agora. Nós vamos pegar a balsa de volta no início da manhã. ― Bem, tome cuidado. E eu estou aqui. . . Se você quiser ligar. Acho que estou tendo uma noite tranqüila. Talvez de uma volta ao pub mais tarde, então... ― Obrigada. ― Feliz Ano Novo, Ginny. ― Feliz Ano Novo ― ela disse.
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Ginny deu uma última olhada ao redor, para dizer adeus a este lugar, adeus ao ano. Ela sentiu como se estivesse deixando algo para trás aqui, ela não estava certa do que, só tinha a sensação de que algo que ela não precisava mais se soltava e se afastava. Lá embaixo, ela podia ouvir Keith brigando com Oliver. Suas vozes carregadas pelo vento. Ela conferiu uma última vez para garantir que o papel estava seguro em sua bolsa, em seguida, virou de volta para baixo do morro no escuro. Keith estava saltando em torno de Oliver, fazendo algum tipo estranho de passo de dança. Oliver ficou parado pacientemente, fumando e o ignorando. ― O que era? ― Keith perguntou, quando Ginny apareceu. ― Apenas algumas pedras ― ela disse rapidamente. ― Eu tive que fazer um retrato. Ela não estava muito certa porque mentiu talvez seria demais isso cair sobre as pessoas na véspera do Ano Novo. Keith continuou sua estranha dança-chute, e Ellis o repreendeu. Oliver, no entanto, sabia exatamente o que estava lá em cima, e ele estava olhando diretamente para ela. ― Vamos lá ― ela disse, roçando-lhe. ― Temos de chegar a Dublin.
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A Morte na Irlanda Eles jantaram em um pequeno e vazio café, o solitário café numa rua de casas com cores de arco-íris. O café era branco e cruamente iluminado por lâmpadas fluorescentes. Havia três mesas de metal nitidamente iluminados com lâmpadas verdes. O cardápio foi pintado em um grande tabuleiro verde e preso à parede. As principais opções eram Butties. Butties Bacon. Butties chip. Hambúrgueres. Curry chips. As escolhas foram beber chá ou Coca-Cola. ― Eu não tenho ideia do que qualquer uma dessas coisas são ― Ginny disse calmamente. ― Exceto o chá e a Coca-Cola. ― Eles são todos muito saudáveis ― Keith disse. ― Sugiro a butty chip. Eu sinto que é algo que você precisa experimentar. Poucos minutos depois, Ginny estava virado para dentro um sanduíche francês de peixe em pão branco, o interior coberto de ketchup. Considerando onde ela tinha acabado de estar, ela estava se sentindo surpreendentemente otimista. Ela queria comer. Ela queria dirigir rápido por toda a Irlanda. Ela queria chegar a Dublin. Ela queria fazer tudo, agora. ― Certo ― disse Keith, trabalhando o seu caminho através de um prato de batatas fritas e molho curry. ― Se nós dirigimos como o inferno para Dublin, podemos comemorar a véspera de Ano Novo em um estilo próprio. ― O que é estilo próprio? ― Ginny perguntou. ― Bem, podemos encontrar um pub e fazer as coisas da maneira clássica —beber até o estupor e vomitar na rua, e passar por alguns caixotes do lixo em um beco. Tenho defendido isso muitas vezes no passado. ― Qual é a outra opção? ― Ellis perguntou.
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― Opção dois: Nós apenas andamos até encontrar um lugar bom, e então nós entramos lá e vemos o que acontece conosco. Temos a louca aqui. Coisas estranhas parecem encontrá-la. Ela é como uma festa em seu bolso. ― Sou eu ― disse Gin. Ela deu uma mordida tímida de seu sanduíche. As batatas fritas eram grossas e quentes, com gordura, que encharcou o pão branco, o tornando mole e mole. Era ao mesmo tempo horrível e delicioso. ― Eu acho ― disse Keith ― que devemos ir para o segundo, mantendo nossos corações e mentes abertas para a primeira. Eu, é claro, não bebo e não posso beber, como estou dirigindo o carro. Mas você está convidada a fazer o que quiser. ― Eu tenho que fazer uma chamada ― Oliver disse, pegando seu sanduíche de bacon e indo para fora. ― Você sabe ― Keith disse ― uma vez que temos tudo agora, poderíamos deixá-lo e ir para Dublin. Nada nos impede. ― Você está indo para Dublin? ― O dono perguntou. ― Estamos sim ― disse Keith. ― O que é bom para fazer no Ano Novo? ― Você quer ir para Christchurch. Que é aonde as pessoas vão. Ginny estava mastigando enquanto eles conversavam e logo o sanduíche francês acabou. Ela imediatamente me sentiu doente. ― Você tem alguma ginger ale? ― Perguntou ela. ― Não, eu não, mas a loja do outro lado da rua tem. ― Eu já volto ― Ginny disse. Ela percebeu, quando saiu, que Oliver não estava em frente ao café. Não havia muitas opções de lugares que ele poderia ir, no entanto. Era uma estrada pequena, com apenas um punhado de casas de dois andares. Havia alguns carros, e uma van de leite, e dois meninos andando pela rua com uma bola de futebol. Tudo estava quieto.
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A loja do outro lado da rua estava fechada, embora as luzes estivessem acesas. Havia um sinal na janela que dizia VOLTO EM 15 MINUTOS. Ginny teve a sensação de que tinha sido muito mais tempo do que isso. Havia uma passagem ao lado da loja, e Gina ouviu Oliver falando em voz baixa. Ela olhou em torno do canto. Ele estava encostado na parede e falava intensamente em seu telefone. ― Está tudo bem, mamãe ― ele disse. ― Eu vou estar de volta amanhã. Eu prometo. Eu vou resolver isso depois. Uma pausa. Oliver chutou o chão enquanto ouvia. ― Não, eles não podem fazer isso. Vou corrigi-lo. Basta deixá-lo por enquanto. . . . Não, não chame o advogado. Não há ninguém lá de qualquer maneira. Basta deixar isso. Keith Ellis e emergiram do café, Keith mastigando um picolé. Ginny rapidamente tirou a cabeça para trás. ― Louca! ― Ele chamou. ― Para o sex mobile! Onde está o esquisito? Eu estou lhe dizendo, devemos sair. . . . ― Bem aqui. ― Oliver desceu o beco, empurrando seu telefone no bolso. Ginny deu um aceno rápido quando ele passava, mas ela não tinha idéia do porquê. A chuva caiu mais forte, batendo no teto com tanta força que parecia que unhas estavam sendo despejados no topo do carro. Keith tomou as estradas a uma boa velocidade, desacelerando quando um dos carros dos Gardaí (como a polícia parecia ser chamada aqui) ou motocicletas estava por perto. Sinais em Inglês e em Irlandês itálico apontavam o caminho de volta para a M7 em Dublin. Isso aconteceu rápido, um boa, uma nuvem negra soprou fora da parte traseira do carro, e depois uma sensação geral de relaxamento, com se nada estivesse impulsionando o carro mais e eles simplesmente estavam à deriva. Um rio de fluxo livre de palavrões saiu da boca de Keith, quando ele agarrou o volante, dirigindo o carro para fora da estrada, onde, eventualmente, diminuiu cada vez mais e, em seguida, bateu em uma pedra grande e parou.
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Ninguém disse nada por um momento. As luzes permaneceram, mas não havia nenhum som do motor. ― Eu vou contar lentamente até dez ― Keith disse. ― Eu não estou inteiramente certo o que vai acontecer, mas parece que a coisa certa a fazer.― Oliver já estava saindo do carro e indo para o capô. Quando Ginny abriu a porta, ela quase caiu em uma vala profunda que corria ao longo do lado, possivelmente para manter que as ovelhas não vagassem na estrada. A alguns centímetros mais longe, e o carro teria ido direto para nele. Ellis guinchou quando ela fez a mesma descoberta. ― Gin, cuidado! ― Eu vi isso. Ambas se dirigiram para o outro lado do carro para sair, Ginny deslizando e Ellis rastejando sobre a alavanca de câmbio e deslizando sob o volante. As poucas ovelhas vaguearam para ver o que estava acontecendo, olhando por cima da vala para eles. O carro estava envolto com um cheiro terrível de queimado. Ginny pisou em algo duro e afiado enquanto ela andava atrás do carro. Ela estendeu a mão para tocá-lo, e quase se queimou em um pedaço ardente de algo. ― Parece que você quebrou uma haste ― disse Oliver. ― Eu disse que este carro nunca conseguiria isso. ― Quebrou uma haste? ― Você vê a grande haste de metal saindo de seu motor? Você não sabe nada sobre carros? ― Não, na verdade, eu não. ―Talvez possamos conseguiu um mecânico? ― Ellis disse. ― Isso é fatal ― Oliver disse, balançando a cabeça. Ele afastou-se do carro para fumar, levantou seu guarda-chuva, e acendeu um cigarro.
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Ginny olhou para cima e para baixo da estrada que tinham parado. Não era muito promissora. Eles estavam entre um campo e um campo ainda maior. As luzes da rua estavam bastante distantes. O ruído predominante foi à zombaria suave das ovelhas. Baaaaaaaa. Ela pegou o telefone, mas o sinal era tão fraco a ponto de ser inexistente. ― Alguém tem um sinal de telefone? ― Ela perguntou. Os telefones foram verificados. Ninguém o tinha. Ela tirou o mapa de papel e foi até a rua mais próxima. Foi difícil manejar o seu guarda-chuva e o mapa, ao mesmo tempo, mas ela não queria voltar para o carro enquanto ele ainda estava cozinhando e pairando sobre a borda da vala. ― Acho que estamos à beira do Curragh ― Ela disse. ― E o que é isso? ― Keith perguntou. ― Cerca de 20 quilômetros de pastagens abertas ― ela disse. ― Eu não acho que vamos ver a polícia tão cedo ― Oliver disse. ― Eu sugiro que nós caminhamos de volta ao pub que vimos cerca de cinco minutos atrás. ― E deixar meu carro? ― Não há nada que possamos fazer parados aqui. ― Isso parece muito ruim ― Ellis disse. Keith estava experimentando o que parecia ser um arco-íris de emoções todo - rindo, xingando, de volta a rir outra vez, antes de se dobrar ante a derrota. ― A bateria ainda funciona ― Oliver disse. ― Podemos manter as luzes acesas para que ninguém bata nele. Nós andamos para trás dessa forma. Não podemos ficar aqui. Isso não via voltar a funcionar, e quem sabe quando alguém vai passar por esta estrada. É véspera de Ano Novo. ― Ele está certo ― disse Ellis, limpando a chuva dos olhos. Depois de alguns minutos, Keith coçou a cabeça e acenou com a cabeça algumas vezes. ― Tudo bem ― ele disse. ―Tudo bem. Vamos... Bem.
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As mochilas foram retiradas do carro, incluindo a bolsa que continha a peça final. Não estava um dilúvio mais, mas ainda estava chovendo bastante e de forma constante. O próprio ar estava grosso com uma névoa fria que chegava a todos os lugares que a chuva não podia bater embebendo Ginny todo o caminho até a pele. Havia um cheiro de terra e fumaça que alguém ou algo por aqui estava queimando alguma coisa para se manter aquecido. A chuva e o frio não foram os problemas reais, o problema era que a estrada não tinha espaço para todos. As escolhas foram a pé na estrada ou no pedaço de grama pantanosa que se alinhava ao redor. Esta estava irregular e pontilhada com pedras, e estava tão escuro que era muito fácil deslizar direito para dentro da vala. Assim, a estrada era a única opção real. Mas o caminho era inteiramente composto por curvas, e quando um carro ocasionalmente viesse correria cegamente para eles. Eles teriam cerca de três segundos de aviso prévio para mergulhar para o lado da estrada, onde iriam deslizar e tropeçar e quase cair na vala. Por isso, demorou cerca de meia hora para andar. O bar estava bastante escuro por dentro, iluminada por uma luz amarela. Três homens de idade sentavam-se ao bar, todos com os olhos colados a um jogo de rugby em uma televisão na parede. Todos eles se viraram lentamente para ver quem tinha se juntou a eles. A mulher atrás do bar saudou a todos calorosamente, e houve considerável simpatia quando descreveram sua situação. ― Sentem-se ali ― ela disse, apontando para uma mesa com um punhado de pano de prato. ― Sente-se lá e tomem uma bebida. Nós vamos trazer Donal. ― Donal é o homem ― um dos outros disse. ― Ele vai ajudar você. Tomem uma bebida. ― Você sabe o quê? ― Keith disse. ― Eu acho que eu vou. Eu normalmente não, mas eu sinto que hoje à noite, pode ser necessário.
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A mulher aproximou-se e acendeu uma luz, iluminando o seu canto. A rodada de copos de alguma coisa foi ordenada, bem como alguns sacos de batatas fritas. Keith sentou, silenciosamente sorrindo e balançando a cabeça. ― Eu realmente sinto muito ― Ginny disse, quando os copos foram estabelecidos na frente deles. ― Não é sua culpa. Poderia ter acontecido em qualquer lugar. Ele bebeu o litro inteiro em três goles longos e, em seguida retornou ao bar para outro. ― Isso realmente teria ― Ellis disse em voz baixa. ― É bom que aconteceu agora. Pelo menos ele morreu fazendo algo útil. Poucos minutos depois, uma branca e lisa van estacionou em frente ao pub. Keith empurrou para trás a cortina de renda branca e olhou para ele. ― Donal está aqui! ― A garçonete chamou. ― Será que estamos realmente prestes a entrar nesta van branca sem identificação? ― Keith disse em voz baixa. ― Eles não vender isso para criança? ― Exatamente o quanto Crime stoppers você assiste? ― Oliver perguntou. ― Você é um div ― respondeu Keith, jogando um saco de batatas fritas sobre a boca aberta e deixar todas as partículas finas cair. Donal era um cara muito mais jovem, provavelmente nos seus trinta anos, que não parecia surpreso por ter sido convocado. Ele estava vestido com algum equipamento extravagante e impermeável, como se todos os atletas usassem. Parecia que ele tinha acabado de correr uma maratona na chuva na véspera do Ano Novo e ouviu o grito de ajuda. ― Donal pode ajudá-lo ― um dos homens disse. ― Ele é um engenheiro. Ele faz frigoríficos. ― O que aconteceu? ― Ele perguntou, aceitando um uísque que foi entregue a ele. ― Eles tiveram um problema. Seu carro está preso na estrada.
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― Ah, bem, nós vamos corrigi-lo ― disse Donal. Ele tomou apenas um gole do uísque antes de deixar o copo para baixo. ― Vamos lá, então. ― Você não vai ― disse Oliver, principalmente a si mesmo. ― É uma haste queimada. Todos eles se empilharam na van, que estava cheia de todos os tipos de corda elástica e equipamentos de escalada. Keith colocou o seu dedo através de sua garganta. Os homens do bar seguiram em um carro azul e pegaram seus copos. Era como um pequeno grupo de férias. Eles reconstituíram sua rota, a van faz um tempo bom em torno das curvas da estrada escura. O carro era agora o objeto de interesse para um grande grupo de ovelhas que tinha talvez confundido com uma ovelha maior de metal. Os homens com os copos ficaram para trás e Donal se adiantou e lançou uma luz sob o capô. ― Você queimou uma haste ― ele disse no mesmo tom prosaico que Oliver tinha usado antes. ― O que é... Ruim? ― Keith perguntou. ― Você não pode corrigir isso. Um pequeno coro de ― não, não, não, você não pode, não. ― Melhor deixá-lo ― disse Donal. ― Vocês não vão conseguir ninguém hoje à noite para buscá-lo. ― Apenas... Deixá-lo? ― Nada mais a fazer. É melhor voltar para o bar para a noite. ― Mas precisamos chegar a Dublin ― disse Ginny. ―Você pode ser capaz de pegar o último ônibus. Vai demorar cerca de duas horas, porém, na velocidade que eles vão. Keith se adiantou e colocou a mão no carro. ― Eu acho que eu preciso dizer algumas palavras ― ele disse. ― Este carro... Também. . . Chamá-la de um carro não faz justiça ao seu espírito, seu senso de aventura. Vou lembrar sempre o barulho horrível que ela fez quando eu tentava ligá-la...
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Em circunstâncias normais, Ginny teria estado se divertindo. Mas, considerando que ela tinha acabado de ver onde as cinzas da tia Peg estavam... E que não teve elogios, nenhum momento de silêncio do grupo. . . . Isto irritava. Keith não sabia, é claro. Ele não poderia ser responsabilizado. Ainda. . . ―. . . E embora eu saiba que ela seria obrigada a deixar nossa sua inspeção seguinte e enviada para a sucata para ser esmagada em um cubo, eu sinto que ela está sendo tirada de nós muito cedo. Você viveu rápido, meu amigo. . . bem, não tão rápida, mas rapidamente... Oliver revirou os olhos e vagou em direção a van. Seus novos amigos irlandeses bebiam suas cervejas e permitindo que Keith continuasse. ―. . . E se há um céu de carro, eu sei que você vai estar lá, com vazamento de fluidos em todo o lugar. . . . ― Podemos ir? ― Ginny perguntou. Keith parecia um pouco surpreso que ela o parou, mas ele balançou a cabeça. ― Ok ― ele disse, dando ao carro uma olhada final. Eles voltaram para van e foram levados para um local mais acima na estrada. Não havia sequer um abrigo de ônibus ou até mesmo uma calçada, apenas uma marca gasta na grama onde as pessoas caminhavam, obviamente, e um único sinal com alguns números de ônibus e uma promessa, não vinculante que algo que veio aqui foi para Dublin. Eles foram deixados com as instruções: ― Quando o ônibus chegar suba. Então eles esperaram. Estava escuro. Novamente, o único ruído era o apelo suave das ovelhas. Ginny não podia vê-las, mas elas tinham que ser tudo ao redor. ― Isto deve ser como encontro rápido para você! ― Keith gritou, apontando para o grupo de ovelhas que se seguiram o seu líder para a cidade. ― Difícil escolher, não é? Oliver brincou com o isqueiro na palma da mão por um momento e empurrou-a no bolso. ― Desculpe ― Ginny disse em voz baixa. ― Por quê
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― Eu gostaria que ele tivesse parado. ― Ele não teria ― Oliver disse. O ônibus chegou mais ou menos quando falaram, e estava cheio de pessoas. Estava muito claro que este veículo para Dublin na véspera do Ano Novo era o último ônibus. Ginny não viu ninguém bebendo, mas estava sem dúvida acontecendo. Mesmo o vapor nas janelas tinha um ar levemente embriagado. Barulhos nasais pontuavam a conversa. Keith e Ellis entraram primeiro, e foram para dois assentos na parte traseira. Ginny e Oliver acabaram em um par de assentos mais perto da frente. ― Desculpe, Gin ― Keith chamou. ― Bem, se você precisar de nós. Havia algo derramado por todo um dos assentos. Ginny escolheu a acreditar que era cerveja. Oliver puxou Ginny para o lado, puxou uma camisa de sua bolsa, jogou-o sobre o banco, e tomou esse lugar. ― O mínimo que eu poderia fazer ― ele disse. Ela tinha estado otimista até elogio de Keith. Agora outra coisa estava se fixando algo mais apropriado para ver onde sua tia tinha sido colocada para descansar. Ela não sentia vontade de falar. Felizmente para ela, logo que o ônibus estava em movimento, houve uma explosão de cantar bêbado. Ginny não sabia a música, mas aparentemente todas as pessoas no ônibus conheciam e eles cantaram, e uma centena de variações quebrada, todo o caminho para Dublin. Ginny e Oliver compartilhavam uma pequena bolsa de calma. Oliver não a perturbou, mas ela podia ver seu reflexo na janela escura. A cada poucos minutos, ele olhava por cima, para ela, para ver como ela estava. Eles não estavam pressionados juntos, tanto quanto normalmente estavam, mas esbarrou no ombro dela, então permaneceu lá. Foi muito sutil, e possivelmente até mesmo acidental, mas foi o suficiente.
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Os Sinos ― Fizemos amigos ― Keith disse em uma voz muito alta, quando estavam saindo do ônibus em Dublin. Na verdade, uma pequena multidão de pessoas disseram adeus a Keith e Ellis enquanto desembarcavam. Ellis estava dando um abraço de despedida a uma garota vestindo uma brilhante calça dourada, que então caminhou prontamente para um banco. ― Você parece... Melhor ― observou Ginny. ― Ah, você sabe. ― Ele jogou um braço descuidado em torno de seu ombro, um odor de embriaguês em sua respiração.
― Tinha que ir algum dia. Um final apropriado para um bom
automóvel. ― Dublin! ― Ellis gritou, jogando os braços para cima. ― Você teve uma boa viagem? Nós tivemos. ― Vê essas pessoas? ― Keith disse, encostando-se em Ginny e apontando para a garota de calça dourada e suas amigas. ― Elas sabem aonde ir. Vamos segui-las, e tudo ficará bem. Olha o quanto elas são brilhantes. ― Tudo ficará bem ― Ellis ecoou. Então ela caiu na gargalhada. ― E elas nos deram isto! ― Ele ergueu uma garrafa do que pareceu ser champanhe, provavelmente muito barato. Ele abriu e então, tomou um longo gole de espuma. Ela pingou na frente do seu casaco. Ellis entregou-lhes enormes copos de papel, que eles também haviam adquirido, e Keith serviu. No momento, ele não tinha animosidade contra Oliver.
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― Beba! ― ele comandou. ―Ou você enraivecerá as boas pessoas desta nação. O champanhe estava quente, era muito mais do que significava engolir um copo de água ou cerveja. Mas me senti bem. Ginny tomou um gole, e Oliver fez o mesmo. Ela continuava bebendo do seu copo enquanto eles se dirigiam para fora estação e para a cidade Dublin estava lotada. Ginny nunca tinha visto tantas pessoas nas ruas. Montes de pessoas se movendo juntas. Todos pareciam ir na mesma direção, fluido como rio fora do depósito. Eles desceram por várias ruas, até chegarem a uma larga, avenida principal chamada O‖Connells Street. Atravessaram uma enorme ponte sobre um rio, que Ginny sabia pela internet que era chamada Liffey, a artéria central de Dublin, bem como o Tamisa, em Londres ou o Sena, em Paris, ou pensando nisso, o Hudson e o East River em Nova York. Água sempre desempenhava um papel nessas cidades Água movia pessoas, movia coisas. Sempre fluindo em direção a algo maior... Um homem de pé no lado oposto da ponte estava jogando ― Auld Lang Syne ― que era provavelmente muito perigoso na chuva congelante. Fogos de artifício explodiram acima, pequenos estalos e surtos que pareceram bem amadores e irregulares, então eles estavam próximos e baixos, iluminando e refletindo na água. A Irlanda era um pouco mágica. Ela se sentia melhor agora. Era quase impossível não ser pego no espírito das coisas. O desfile de pessoas feridas a sua maneira de Temple Bar. Esta era uma rua totalmente preenchida por bares e lojas de presentes ocasionais onde você podia comprar absolutamente qualquer coisa com uma bandeira irlandesa sobre ele, ou cartolas feitas de feltro verde coberta de trevos. Alguém usando um enorme traje de duende estava em um dos cantos, e as pessoas continuavam desconcertando-o para tirar fotos. Havia algumas barracas de comida abertas, vendendo pizza e kebabs desleixados. Sobretudo, porém, era uma rua de bares. Cada bar parecia ter uma linha na frente dele. Foi difícil descer a rua.
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― Nossos amigos contaram sobre um lugar onde podemos entrar ― Keith chamou. ― É por aqui... Eu acho. Ginny olhou em seu copo e ficou surpresa ao descobrir que tinha consumido todo o seu conteúdo em algum ponto. ― Eu terminei o meu ― ela disse a Oliver. Ele estende seu copo vazio em resposta. Ellis percebeu isso e virou-se para dar-lhes um refil desleixado, metade do champanhe terminando nas pedras do calçamento. Keith apontou para um bar de vários andares, que parecia uma loja muito antiga, ou talvez uma pequena fábrica. Foi pintada em preto brilhante com várias palavras irlandesas escritas nos lados em tinta dourada. Ginny podia ouvir musica vinda de dentro, rabecas e tambores e bateria. Parecia que não havia nenhuma possibilidade deles entrarem. Pessoas eram esmagadas contra as janelas. Era um carro de palhaço de bar. ― Você está brincando, certo? ― Oliver disse. ― Então fica aqui fora ― Keith disse com um encolher de ombros. ―Dane-se. Nós vamos entrar. Oliver fez exatamente isso, enquanto Ginny, Keith, e Ellis começaram o longo processo de entrar no bar. Eles fizeram isso dentro por permanecer em constante movimento, não empurrando, exatamente. Apenas movendo-se com a multidão sempre mutável. Ninguém ainda estava em Dublin hoje à noite. ― Certo! ― Ellis gritou. ― Estou indo! Quem quer o quê? ― Guinness, é claro ― Keith gritou de volta. ― Quando em Roma.
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Keith e Ginny empurraram mais adentro. Uma vez que você longe suficiente, há minúsculo lugares onde você pode ficar. Eles encontraram um desses nas escadas, em frente à plataforma dos músicos. Eles se debateram bastante ao redor, mas conseguiram uma boa visão da pista principal e dos músicos. ― Se eu começar a dançar, não tente me impedir ― Keith disse. ― Quando a musica me move, eu tenho que agitar. Você sabe disso. Eu sei disso. Eu não posso resistir a um bodhrán. Tenho certeza que você, sendo americana, não pode resistir a um bodhrán. ― O que é um... ― Um bodhrán, ― ele disse, apontando para o largo tambor que um dos músicos estava segurando e tocando febrilmente. ― Vamos lá. Você sabia disso. Você é irlandesa. Todos os americanos são irlandeses. ― Você não vai parar com isso, vai? ― ela perguntou. Ele sorriu amplamente e balançou a cabeça. A banda iniciou uma canção ainda mais rápida ― uma onda de rabecas irlandesas. O baterista estava trabalhando afastado em seu tambor de mão como um louco. ― Eu vejo você olhando para o tocador de bodhrán. Você está obcecada por ele. Está apaixonada por ele. ― Eu estou ― ela disse solenemente. ― É por isso que voltei. ― Por que você cortou o cabelo? ― ele perguntou. ― O estilo antigo era fofo, mas este é melhor. Eu gosto de como ele é franjado. Franjado, franjado.
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Ele esticou o braço e bateu nas pontas dos seus cabelos. O toque no cabelo desencadeando uma reação mais intensa, todo o corpo se derretendo. Seus olhos sentiam como se estivessem nadando em suas órbitas. ― Eu gosto de coisas franjadas ― ele disse ― O Teatro Fringe. Batatas Fringe. Também, frigobar, estranhamente. Ela segurou o corrimão arás dela para apoio. Ele se inclinou mais perto. ― Ouça ― ele disse ― Eu não estou dizendo isso porque eu gosto do seu dinheiro, embora com uma nota totalmente alheia você deva me dar uma centena de euros para a gasolina. Estou apenas dizendo... Estou feliz que tenha voltado. Sabe disso, certo? ― Eu... Acho? ― O que quer dizer com acho? Ele foi até ela, cortando-lhes algum espaço privado. Ele olhou para o chão por um longo momento e tinha levantado a cabeça para dizer alguma coisa quando Oliver atravessou a multidão e caminhou alguns passos parando bem sob eles. ― É 23:35 ― ele disse. ― E a sua namorada correu para fora, procurando um chapéu. Ginny desejava que ela pudesse pegar o bodhrán e bater na cabeça do Oliver com ele. ― O quê? ― Keith disse. ― Eu disse que é 23:35 ― Oliver repetiu. ― E Ellis viu um chapéu que ela gostou. Um chapéu de cowgirl rosa com brilho prateado. Então ela correu para fora do bar e perseguiu a pessoa que estava usando. Ela pode estar a quilômetros de distância agora.
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O balcão onde a banda estava balançou enquanto os membros batiam os pés no ritmo da música. Keith os assistiu por um momento. ― Vamos ― ele disse, ainda olhando para o arco do violino, como se hipnotizado. Ginny não queria deixar este lugar quente, insano. Ela e Keith tinham estado à beira de uma real discussão, uma importante. Havia algo enorme acontecendo entre eles, no abrigo do ruído e da multidão, e se eles parassem a conversa nunca seria concluída. Mas eles estavam saindo de qualquer maneira. Ginny caminhou lentamente, tentando ficar bloqueada pelo maior número de pessoas possível. Keith conseguiu se aproximar dela. Ele disse alguma coisa. Era ou “Vai dar tudo certo” ou “Eu farei tudo certo.” Então ele deu-lhe um olhar. Um olhar, O tipo de olhar que se dá para alguém que você quer beijar. Um sério eu-quero-isso-agora. Ou alguma coisa. Algo havia acontecido. Algo extremamente estranho. Ellis estava do lado de fora, exibindo alegremente o chapéu rosa. Ela não tinha ido tão longe afinal. ― Eu troquei meu anel por isto ― disse ela com orgulho. ― Vale à pena. ―Eu acho que a Igreja de Cristo é por aqui, ―Oliver disse, apontando para a rua. Ginny seguiu ao lado dele. Levou um momento para perceber que Keith e Ellis tinham ficado muito longe atrás deles. Keith estava falando, com as mãos nos bolsos. Algo sério estava acontecendo. ― Eu farei tudo certo? ― Isso foi realmente o que ele disse? Que diabos isso quer dizer? Ellis estava limpando o rosto. Ela estava chorando? Foi à chuva? Ele estava lá terminando com ela? Era possível? Mágica da Irlanda e toda tolice... Talvez estivesse acontecendo.
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Ela se virou rapidamente. Se ele estivesse, ele não poderia ser interrompido. Seria terrível terminar com alguém no Ano Novo, especialmente alguém tão legal como Ellis. Sinceramente, Ginny se sentiria mal por ela. Ellis a tratou como uma amiga desde que se conheceram. Ela não desejava nenhum mal no mundo a Ellis. Talvez fosse o champanhe falando, mas ela só queria que todos, em todo lugar fossem felizes. Outra série de fogos de artifício estourou acima. Eles passaram o leprechaun, que estava caminhando na mesma direção que eles. A cada poucos metros, Ginny olhava para trás. A conversa ainda continuava, e Keith era o único falando. Querido Deus. Alguma coisa estava acontecendo lá atrás. ― Você já esteve na Irlanda antes? ― ela perguntou a Oliver, para fazer alguma conversa e tentar se manter calma. ― Não. ― Por quê não? ― A idéia nunca surgiu ― ele disse. ― Eu gosto daqui. Ele lhe deu um olhar de soslaio. ― Vamos lá ― ela disse. ― É bom, certo? Você está autorizado a dizer que gosta do lugar. Eu não vou bater em você. Você nunca sorri. ― Eu sorrio o tempo todo ― ele disse, impassível. ―Interiormente. Ficou óbvio quando eles chegaram ao seu destino. A Igreja de Cristo era, sem surpresa, uma igreja - ou realmente, uma catedral de pedra cinzenta, bem iluminada e totalmente cercada de pessoas.
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A catedral e fundamentos em torno dela estavam lotados ao limite de capacidade, então a multidão encheu a estrada além do portão de ferro. Uma vez que eles pararam, as pessoas começaram a preencher a lacuna atrás deles, e ela perdeu de vista Keith e Ellis. Ela ficou na ponta dos pés procurando-os. Eles estavam longe de serem vistos. Ginny se esticou, colocando a mão no ombro de Oliver par apoio, verificando ao redor. Oliver olhou para sua mão. Bong. Os sinos tocaram, e a multidão se animou. Ginny ainda estava procurando, procurando, procurando... Talvez eles tivessem voltado, para longe da multidão. Esse não era lugar para se ter uma conversa de separação. Bong... E então, ela os encontrou. Eles estavam se beijando. Plenamente e totalmente se agarrando, de maneira que namorados e namoradas fazem. Por um momento, ela teve que assistir, teve que pressionar os dedos dos pés para ter certeza que ela teve um bom e longo olhar que a visão queimasse em sua mente. Bong... Era quase engraçado. Ela realmente tinha que rir. Por alguns minutos, lá atrás, ela realmente se convenceu de que Keith e Ellis iriam romper com base em absolutamente nada. Foi impressionante o bom trabalho que ela havia feito. Bong... Também interessante, o som de beijos ao seu redor. Você pode ver outras pessoas se beijarem, mas você não ouve muitas vezes. Só que eles estavam num mar de beijos. Esse era um daqueles eventos de beijos onde você procurava por um beijo. Oh ho ho! Ainda mais engraçado. Ainda mais engraçado.
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Bong... Meio que soou como uma mastigação, como se todos ao redor estivessem roendo o rosto de seus parceiros. Oh, ela estava rindo agora, lágrimas de riso escorrendo pelo seu rosto. Ou era a chuva? Bong... Sim, o som do beijo era o som menos romântico do mundo. Era, agora que ela ouviu atentamente, muito parecida com o som de um gato comendo comida molhada. Um roer combinado com sugar. Uma atividade tão estranha e terrível. Então porque parecia tão... Bong... Ok, quantas vezes esses sinos iriam... Bong... Isso talvez fosse como ficar insano. Você vai para a Irlanda com o cara que ama e sua namorada e então congela até a morte enquanto é suavemente lavado pela chuva fina e outras pessoas babavam enquanto faziam até a morte. Enquanto ela estava com... Bong... Oliver. Que pelo menos era quente e tinha um guarda-chuva. Bong... Ela ainda estava rindo. Ela colocou a cabeça no peito dele. ― Os sinos ― ela disse. ― Eles tocam dezenove vezes ― ele disse alto o suficiente para ela ouvir. ― Eu só ouvi alguém dizer...
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Dezenove vezes? Ela riu ainda mais. Era uma eternidade. Bong... Ele se inclinou para baixo. Quando alguém cai contra seu peito e apenas começa a rir daquele jeito, você provavelmente vai querer verificar para certificar-se ela que não está carregando uma tesoura ou comendo os botões de sua camisa. Ela inclinou a cabeça para olhar para ele. Ele era... Bong... Ok, ele era bonito. Ele era. Ângulo forte e silencioso e magro. Ele não tinha a energia meio-louca de Keith, é claro. Algo mais... Bong... Pensativo? Essa era a palavra? Essas eram águas calmas, e eles se aprofundaram. De todas as pessoas no mundo, Oliver foi o que forneceu maior estabilidade no momento. Bong... ― Isso é o inferno ― ele disse. Bong... Ele tinha um ponto. Ele era como ela. Mais ou menos. Bong... Ela se levantou na ponta dos pés mais uma vez, quase que automaticamente. Ela imaginou tia Peg na ponta dos pés, pintando a janela em Amsterdã. Ela imaginou que Keith e Ellis não estavam lá. Quando ela fechou os olhos, os sinos pararam de tocar. Ela encontrou os lábios de Oliver cegamente, seja por instinto... Ou talvez ele tivesse ido até ela na metade. Era impossível saber. Quando seus lábios encontraram os dele, ela o sentiu começar fisicamente. Mas ele não se afastou, também. Ela estava
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beijando Oliver. Devidamente beijando. Se hesitação. Todo seu corpo de repente sentiu quente. Ela colocou as mãos dentro do seu casaco preto, sentindo o forro liso. Ela podia sentir que ele tinha músculos fortes em suas costas, e ele estava se curvando para baixo tanto quanto podia para que ela pudesse colocar seus saltos de volta no chão e não cambalear. Ele estava apoiando-a para que eles pudessem beijar ainda mais profundamente, e ela estava cavando os dedos em suas costas para trazê-lo para mais perto. Não houve mais sinos. As pessoas estavam se movendo em torno deles. Ginny agachou-se um pouco para sair do beijo. Ele a seguiu por um momento, então percebeu que ela estava parando. Ele se levantou de uma vez. Já havia detritos ao redor serpentinas e confetes, garrafas, o papel rasgado das bordas de chapéus. Ano Novo era o feriado mais rápido tanto construído, e então acabava, caía em um segundo, instantaneamente sem importância. Keith e Ellis vieram até eles, dançando. Eles estavam em algum disco que não parava que só eles podiam ver e ouvir. Ellis agarrou Ginny por ambas as mãos e começou a dançar com ela. Se eles tivessem visto o que aconteceu, eles certamente não estariam agindo daquele jeito. Keith pegou uma coroa de papel molhada, pisada no chão e colocou na cabeça. ― Eu sou um rei― disse contente, fazendo um círculo lento, os braços estendidos. Seus lábios ainda estavam cheios da sensação agradável de entorpecimento do beijo, e suas pernas balançaram ligeiramente. O champanhe. Tinha que ser o champanhe. Seja qual for o caso, aquilo tinha acabado de acontecer. Um último fogo de artifício estalou e balbuciou acima.
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A Travessia Não havia muitas pessoas, ao que parece que queriam atravessar o mar da Irlanda às duas da manhã no Ano Novo. Mas todas as pessoas que queriam fazer isso estavam bêbadas. Era como se a balsa estivesse bêbada. O barco estava batendo-se em torno da doca, derrubando as pessoas já desequilibradas em portas e paredes. Estava chovendo novamente, e o vento estava atacando-os, mas Ellis insistiu em permanecer no convés apesar de estar lisa e desagradável, com vento suficiente para batê-la. A paisagem estava escura como breu. O mar era negro também. A bandeira irlandesa bateu com firmeza em cima. ― Vou lhe dizer o que ― Ellis disse, cambaleando junto. ― Estou ficando acordada. Pior coisa a fazer agora é cair no sono por isso estou ficando acordada. Não me deixe dormir, yeah? Eu vou ficar de pé. Vou andar em torno do navio. Ninguém quer andar ao redor do navio? Ela ajeitou o chapéu-rosa. Tinha perdido um pouco de sua franja prateada em algum momento durante a última hora. Ela puxou o brim e olhou para o ponto infelizmente desencapado. Dos três deles, Ellis tinha tomado mais bebida, ou simplesmente tinha alguma infeliz química corporal. Seja qual for os efeitos que o champanhe teve em Ginny foram lavados na chuva e névoa do mar. Esta viagem não tinha só terminado duas vezes, tinha terminado toda vez em uma balsa. A primeira balsa moveu-se lentamente através do sol, esta se moveu de forma irregular durante a noite. Pelo menos desta vez ela sabia-a que a viagem tinha acabado. ― Eu prevejo que isso vai ser uma viagem muito propensa a vômitos ― Keith disse, após sua namorada ir pelo deck. Oliver estava mexendo com seus cigarros de novo, então Ginny voltou para
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dentro e sentou-se em uma das cadeiras no salão. Ela não estava ciente de adormecer, só percebeu quando alguém apertou seu ombro. Ela abriu os olhos para encontrar Oliver sentado ao lado dela. Sua pele tinha cheiro de maresia, fumaça e umidade, a evidência de uma viagem que ela tinha dormido. ― Nós chegamos ― Ele disse. Ginny sentou-se instantaneamente. ― Onde estão os outros? ― Ela perguntou, esfregando o rosto. ― Eu não os vi desde que se afastaram no deck. ― Então... ― Eu estive sentado aqui. Suas coisas estão bem. Mas temos que sair agora. ― Oliver tinha estado olhando por ela enquanto ela dormia. Esse pensamento teria sido incrivelmente assustador antes, mas agora... Agora era tipo fofo. Oh, seu cérebro estava tão quebrado. Eles descobriram Keith de pé no desolado terminal, encostado a um poste. ― Hey, Gin ―e le disse cansado.― Ellis só foi ali. Na noite... Isso não combina com ela. ― Ele apontou para o banheiro feminino. ― Você poderia, um. . . Você poderia ir com ela? Ela está lá há um tempo. Eu acho que precisa de alguma supervisão. Ginny acenou com a cabeça. Ele estava certo sobre está viagem ser de vômitos. O banheiro feminino parecia vazio, mas Ginny viu um par de sapatos saindo do cubículo na extremidade. Alguém estava ajoelhado no chão na frente de um vaso sanitário. ― Ellis? ― Ela chamou. ― Oh, Olá! ― Ellis estava tentando soar alegre, mas sua voz era como a morte. ― Oh, eu estou bem. Acabei de ser estúpida. Não se preocupe comigo. ― Eu só vou ficar aqui, ok?
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― Oh, você é um doce... Um ruído engasgos, depois uma pausa. ― Oh deus... ― Ellis continuou. ― Este lugar está em movimento? Gin, eu sinto que ainda estou no barco. Gin, isso está se movendo? A porta do box não estava trancada, e ele saltou aberto. Ginny empurrou-o fechado e segurou-a enquanto alguns ruídos sombrios vieram de dentro. ― Sinto muito ― Ellis disse, tossindo. ― Isso é tão horrível. ― Está tudo bem ― disse Ginny. ― Você é tão boa. E os irlandeses, eles são tão adoráveis, e dão-lhe isso... Eles dão-lhe coisas para beber porque eles são tão adoráveis... Você sabe, é Ano Novo... Eu sou tão estúpida. Eu sou tão estúpida Gin. Por que sou tão estúpida? Ninguém fez nada estúpido. Por que é só comigo? Ginny riu. Ela não podia ajudá-la. ― Eu não estou rindo de você ― Ela disse rapidamente. ― Está tudo bem. ― Ellis soou como se ela estivesse prestes a chorar. ― Não, realmente. Eu realmente não estou. ― Ginny se sentou no chão ao lado da porta do banheiro e ouviu. Nenhum ruído agora, apenas sofrimento palpável. Ginny se aproximou e deu um tapinha no tornozelo de Ellis. ― Ellis? ― Sim? ― Sua voz estava quebrada. Oh, este foi provavelmente um erro, mas Ellis ficou tão chateada. Ela não deveria ter rido. ― Você realmente não foi à única que fez algo estúpido ― Ginny disse calmamente. ― Eu beijei Oliver. Ellis se mexeu um pouco, então forçou a porta aberta e caiu no canto da cabine, de frente para Ginny. Ela definitivamente tinha chorado. ― Sério? ― Ela perguntou.
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― Realmente. Mas não. . . ― Eu não vou dizer a Keith ― Ellis disse. ― Eu sei. Ele o odeia. Eu entendo. O queixo de Ellis caiu para o peito e ela tomou algumas respirações profundas. ― Eu vou te dizer uma coisa ― ela disse. ― Eu estava com tanto ciúmes de você quando eu conheci Keith. Sempre falando de você, esta aventura que tiveram juntos. Mas então eu conheci você e você é tão agradável, e você me deixou ir junto. Oh, eu realmente vendi meu anel? ― Seu foco tinha ido até a mão nua. ― Foi barato, mas ainda assim. Eu nunca vou beber de novo. Cara, por que eu fiz isso? Talvez eu possa arranjar outro, apenas uma nota de cinco libras... Nunca me deixe beber de novo, ok? Se você me ver beber, só me bata. Oh. . . Houve uma batida na porta. Que abriu um pouco. ― Trem em 10 minutos ― Keith chamou. ― Ei, você está viva? ―Eu acho que sim. Apenas me dê um momento. Nós estaremos ai fora Ellis agarrou a porta para tentar puxar-se para cima. Ginny ajudou. Ela conseguiu ficar em uma posição dobrada, mas não podia endireitar-se imediatamente. ― Eu não acho que o que você fez foi tão estúpido ― ela disse, firmando-se contra a cabine. Então ela vomitou no chão entre elas. Não muito, mas um definitivo prenúncio das coisas por vir. Ginny estremeceu e desviou o olhar. ― Desculpe! ― Ellis disse. ― Desculpe, oh deus. . . Keith deve ter ouvido isso acontecer, porque entrou. Ele olhou para o vômito no chão com um estranho tipo de satisfação. ― E assim começa. Eu tenho um plano ― Ellis disse, enquanto ele meio que a carregava para fora. ― Nós vamos pegar o trem, e eu vou para o banheiro. ― É como namorar a realeza ― disse Keith.
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O trem era muito elegante e moderno, com muita luz, botões e sinais computadorizados. Também era frio e cheirava a tristeza e cerveja velha. Keith e Ellis subiram a bordo e ele a posicionou na frente do banheiro. ― Só me coloque lá ― ela disse bravamente. ― Eu vou ficar bem. Eu vou estar maravilhosa. Apenas jogue-me no banheiro. ― Tudo bem, tudo bem, chega de conversa sexy. Ela acenou e bateu a porta fechada. Uma luz vermelha apareceu, o que significa que estava ocupado. Eu só vou ficar aqui por um pouco ― ele disse. ― Você pode muito bem ir se sentar. Um ruído desagradável veio do banheiro. Oliver e Ginny rapidamente se moveram para o próximo carro, que estava completamente vazio. Eles se sentaram frente a frente em um grupo de seis lugares. Não olhando um para o outros. Não falando. Keith tinha ido embora a muito tempo, de modo que tinham um tempo para evitar um ao outro artisticamente de uma forma casual. Quando ele voltou, o fez bastante alto, se soltando para baixo em uma das cadeiras ao lado de Oliver e olhando entre os dois. ― Como está Ellis? ― Ginny perguntou. ― Ela vai ficar bem. Como você está? Foi o jeito que ele disse isso, a maneira como ele se inclinou um pouco. Ele sabia. Oliver deve ter sentido isso também, porque ele se levantou. ― Preciso de um café ― ele disse. ― Você precisa de um? Esta foi para Ginny. Ela balançou a cabeça. ― Ele é muito solícito ― Keith disse depois de Oliver sair. ― Quando foi que vocês dois ficaram tão confortáveis? Eu acho que foi todo esse tempo no banco de trás. Eu suponho que não posso culpá-la. Ele é uma pegadinha.
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Yeah. Ele sabia. ― Foi apenas um beijo de Ano Novo ― ela disse. ― Eu quero dizer. . . Todos estavam se beijando. E eu tinha todo aquele champanhe. ― Bem. Parabéns. Você fez uma escolha maravilhosa. Estou muito feliz por você. Foi falso e frio. Tão frio que ela desejava que pudesse lhe dar um tapa. ― O que importa pra você? ― Perguntou ela. ― Desculpe. . . O quê? Ele se inclinou para frente. ― Que me importa? É claro que eu não me importo. Eu acho que esse é o ponto que temos demonstrado em tudo isso, minha falta de cuidado. É por isso que eu só destrui o meu carro. É por isso que eu estive viajando com você por vários dias para que você não estivesse sozinha com a pessoa que estava a chantageando. É tudo pela minha extrema falta de cuidado. Mas você parece feliz agora, então eu vou dar apenas um passo ao lado então. ― Foi um beijo ― ela disse, um desafio crescente em sua voz. ― Quero dizer, por que você se importa que eu beije? Você tem alguém. Você nem mesmo me disse que tinha uma namorada... E, lá estava isso. Que não foi do jeito que ela quis dizer isso. Isso não era como ela queria fazer. Foi para fora. Nunca poderia ser colocado de volta. ― Faça o que quiser ― ele disse, erguendo as mãos. E voltou para o outro carro, de volta para sua namorada. A porta de vidro do vagão fechou atrás dele com um silvo decisivo.
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Realidade vem visitar Isso tinha ido muito, muito mal. Isso era como um treinamento para os Jogos Olímpicos, trabalhar até um grande momento que importará para o resto de sua vida, e então só ser descuidado e cair da prancha ou esquecer de anexar corretamente seus esquis. Forma pobre. Sem pontos. Ela começou a chorar, em silêncio e pateticamente, e completamente incapaz de parar. Ela não ouviu Oliver retornar, ela estava apenas vagamente consciente de que alguém se sentou ao lado dela, e isso definitivamente não seria Keith. Ele colocou alguns guardanapos na mão. Ela empurrou-os contra seu rosto. Eles grudaram. ― Estou bem, ― ela disse. As palavras foram pouco compreensíveis. Oliver não apontou o absurdo que esta afirmação era, ou tentou acalmá-la. Ele apenas se sentou com ela, primeiro rigidamente colocando a mão em seu ombro, em seguida, estendendo o braço. Em algum momento, ela apenas desistiu e encostou um pouco. Demorou alguns minutos para ela se recompor novamente. ― Está tudo bem, ― ela disse, com voz grossa. ― Eu só. . . não éramos nada. Não é uma coisa real. Eu só, realmente gostava dele. Dissemos que éramos tipo “alguma coisa.” Ele não deveria gostar de outras pessoas. Não é assim que funciona? Você apenas gosta de uma pessoa, para sempre, e então vocês ficam juntos? ―Ela tentou sair como uma piada, mas não deu muito certo. ― Eu não tenho muita experiência pessoal no assunto, ― ele disse, ―mas eu tenho certeza que não é assim que normalmente acontece.
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Ela olhou pela janela para a manhã cinzenta. Havia alguma bela paisagem passando, mas era difícil de apreciar. Sua cabeça estava vibrando e seus olhos ainda estavam vazando e embaçados. Não era assim que ela deveria terminar esta viagem. ― Eu não culpo você por querer voltar para ele, ― Oliver disse. ―Isso funcionou? ― Eu não sei o que isso significa, ―ela disse, soluçando. Ah, bom. Os soluços pós-choro. ― Na noite passada. Ele olhou para ela como se ela fosse muito, muito estúpida. Oh. O beijo. ― O que quer dizer com isso funcionou? ― Ela perguntou. ― Você fez isso para chegar a ele. Será que isso funcionou? É por isso que ela tinha feito isso? Isso não era como se lembrava. Lembrou dos sinos, a chuva. . . ela se lembrou do beijo. Ela não lembrou de nenhum motivo. Ela só se lembrou que tinha acontecido, e que tinha sido. . . agradável. Tinha sido bom. Ela ia deixar isso quieto. ―De qualquer forma, ele não fez nada de errado, ― ela disse. ― Ele deveria ter me dito. Mas agora ele provavelmente me odeia. ― Então se ele odiar? ― Ele respondeu. Isso era demais para ela até mesmo contemplar.
***
Eles permaneceram em seus compartimentos separados pelo resto da viagem. Ginny viu Keith e Ellis e novamente quando eles saíram do trem na estação de Euston.
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Ellis parecia um pouco melhor, mas seu rosto ainda estava pálido. Ela levantou uma mão fraca em saudação. ― Eu fiz isso! ― Ela disse, sua voz rouca e áspera. ― Eu viajei do País de Gales para Londres em um banheiro. Eu deveria ganhar um prêmio. Eu acho. . . Acho que tenho de ir para casa agora. Ela encostou-se no ombro de Keith. Ele colocou um braço em volta da cintura. ― Eu vou lhe avisar que horas o leilão será amanhã, ― disse Ginny. ―Se você puder vir. . . Ellis assentiu, mas Keith não disse nada. Ele pegou sua bolsa, colocou-a sobre o ombro livre. Eles foram para um lado, e Ginny e Oliver foram para outro. No final, foi Gina e Oliver, que voltaram para a casa. Oliver ficou fora por um momento, balançando seus cigarros em explicação, mas Ginny perguntou se ele estava fora por outra razão. Ela tinha que completar a peça, e talvez, como no cemitério, ele pensou que ela precisaria ficar sozinha. Ginny entrou e se ajoelhou em frente à mesa e o vidro, e retirou o papel de sua bolsa. A ordem parecia óbvia. O documento ficou entre o vidro e a madeira. O que fazia sentido. O trabalho era tão bom que praticamente desapareceu sobre o fundo amarelo. Os anéis de vinho e manchas na mesa apareceram através, sombreando a imagem. Ela mudou o vidro e imprensou o papel no lugar. As duas figuras dançando materializaram-se de detrás das samambaias, plantas e animais do lado de fora. Ela podia ver onde a pintura na janela tinha sido afetada pela chuva e pelos elementos, estrias e leves pontinhos de luz . Havia uma leve camada de sujeira por toda a imagem também, mas só parecia adicionar ao efeito global. O espectador foi posto nesta estranha selva e estava olhando para uma realidade inteiramente outra, com uma das figuras acenando de dentro para o
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espectador. Bonito não era a palavra certa para isso. Não era bonito. Era áspero, estranho e brilhante. Era como um sonho tangível. Oliver bateu levemente e entrou. ― É incrível, ― Ele disse. ― Eu nunca em um milhão de anos teria adivinhado que iria acabar desse jeito. ― Ela era boa nisso, ― Ginny disse. Ela se levantou e sentou no sofá para olhar para ela de longe. Ele se sentou ao lado dela. ― Ele precisa de um nome, ― ela disse. ― Do que sua tia nomeou as outras pinturas? ― Ela não fez. ― Então, por que nomear esse? ― Não sei, ― ela disse. ― Os outros estavam em um grupo. Eles chamavam as pinturas Harrods. Este é único. Ele precisa ser chamado alguma coisa. Ela sentou-se e olhou por um longo tempo, até que seus olhos estavam borrados. Uma coisa boa sobre Oliver, ele poderia ficar em longos silêncios. ― Quando minha tia morava em Nova York, ― ela finalmente disse, ― ela me levou a uma piscina no verão. Exceto, que ninguém tem uma piscina em Nova York. Foi fora de Dumpster. Era uma piscina, mas não era uma piscina, sabe? ― Não. . . exatamente. ― Eu quero dizer. . . ―Era irritante quando outras pessoas não podiam entrar em sua cabeça e automaticamente recuperar o atraso com suas conversas. ―Eu quero dizer. . . as pessoas lhe dizem o que esperar. Como as coisas devem ser. A piscina supostamente seria uma coisa agradável, limpa, no quintal e é pintada de azul no fundo, mas qualquer coisa com água pode ser uma piscina, até mesmo um Dumpster. Ela chamou-lhe de o triunfo da imaginação. É como ela faz as coisas. É como, uma
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forma elegante de dizer esquisito. É o que eu quero chamá-lo. O Triunfo da
Imaginação. ― É um bom título. Estranhamente, seu impulso era colocar seus braços em torno dele. Ela não estava bêbada. Ela não estava chorando. Ainda assim, o impulso estava lá. Antes que ela pudesse fazer isso, ela notou algo lá fora, com o canto do olho. Havia uma van branca através da rua. . . assim como os que tanto pareciam perturbar Keith. Dois homens de macacão saíram e começaram a caminhar em direção à casa. Oliver olhou para a mesa de café. Ele ainda estava cheio de biscoitos de Natal e o elefante prata de Ginny. ― Eu liguei para eles, ― ele disse. O lembrete foi como um tapa na cara. Ele não estava aqui para ser o seu suporte ao sistema, ele estava aqui para cobrar. Ele tinha ficado lá fora para chamar o caminhão de entrega. Por que isso era uma surpresa? Isto sempre foi como ia acabar. Ela se afastou dele e foi até a porta. ― Senhorita Blackstone? ― Um dos homens disse. ― Estamos aqui da parte de Jerrlyn e Wise. Podemos entrar? Ginny abriu mais a porta, e eles entraram educadamente. ― É esta a peça? ―Ele perguntou. Ela balançou a cabeça. ― Nós vamos começar então, ― ele disse. Eles assumiram. Ginny e Oliver foram relegados para o lado da sala. As peças, que tinham sido maltratadas e empurradas por carros, mochilas e jogadas ao redor foram agora tratados como jóias da coroa. Os homens estenderam uma colcha no chão e levantou-a cuidadosamente. Um segurou-a na posição vertical, enquanto a outro
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medindo as suas dimensões, examinou sua construção, e tirou algumas fotografias iniciais. Eles tiveram uma longa discussão sobre exatamente como proteger, encaixotar e colocá-lo na van. Ginny pensou em pedir-lhes para deixar a peça ficar o tempo suficiente para Richard vê-lo, mas era tudo tão oficial e eficiente, parecia não haver como pará-los. Oliver estava sentado no sofá, olhando para o elefante prata de Ginny. Esta era a realidade de seu relacionamento, Ginny lembrou a si mesma. Era tudo sobre encontrar esta peça de arte e um vendê-la. O beijo, a viagem no trem. . . tudo desapareceu. ― Nós terminamos agora, senhorita, ― disse o primeiro homem, presenteando-a com uma prancheta. Ginny a preencheu automaticamente, assinalando as caixas e a assinatura, mesmo lendo. Ela parou somente na caixa marcada TÍTULO DO TRABALHO e escreveu, O Triunfo da Imaginação. Quando ela acabou, eles levaram o triunfo da imaginação para fora da porta, confortavelmente envolto em um lençol cinza fixado com fitas. ― Há uma mensagem de Cecil, também, ― Oliver disse calmamente. ― O leilão é as duas, amanhã. ―Tudo bem, ― disse ela. ― Acho que eu deveria ir. ― Provavelmente. ― Vejo você amanhã, então. Ela o viu da janela quando ele saiu. Ele nunca voltou atrás, apenas fez o seu caminho pela rua, atirando seu isqueiro na palma da mão. Como se nada tivesse acontecido. Ela sentiu uma pontada estranhamente familiar em seu coração, mas ela não conseguia encaixá-lo e não tinha vontade de tentar.
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A linha pontilhada Na manhã seguinte, foi o primeiro dia claro desde a chegada de Ginny. O céu estava claro e vividamente azul com grandes nuvens. Ginny ficou na frente aos pisos brancos que levam a porta da frente deJerrlyn e Wise. Ocasionalmente, alguém em um terno passa por ela e subia os degraus. Um ou dois deles olhavam para ela, talvez sabendo que ela era a vendedora, de dezoito anos de idade, da obra de arte em exposição hoje, mas os outros passaram sem um olhar. Dez minutos antes do leilão. Dez minutos, e nada de Keith. Oliver também não, a menos que ele estivesse lá dentro. Ela não tinham verdadeiramente acreditado que Keith não viria, mas com cada segundo passando, a realidade se definia. Ela considerou apenas voltar para Richard, então correu para cima e apertou o botão antes que pudesse entreter esse pensamento por muito tempo. Assistente de Cecil, James, abriu a porta, cumprimentou-a pelo nome, e escoltou até Cecil. O corredor estava lotado de pessoas, facilmente o dobro do que tinha estado lá para o último leilão. ― Está tão lotado, ― disse Ginny, balançando nervosamente sobre os calcanhares. ― Sim, uma boa afluência, especialmente considerando o curto prazo, ― Cecil respondeu. ― A última coleção teve uma boa dose de imprensa na indústria, de modo que tivemos um grande interesse.
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Ginny escaneou o salão, mas Oliver não estava à vista. No meio desta multidão, depois da mesa de café e morangos, tinha uma figura que ela instantaneamente reconheceu. Era impossível de perder a coroa maciça de cordão, cabelo longo, preto e laranja, a mistura de dourada da leggings Spandex, a camisa preta de pêlo de cabra angorá que descia até os joelhos, e o rosto com as estrelas tatuadas em torno dos olhos. Ginny não tinha certeza por que ela estava aqui, mas ela definitivamente sabia quem era ela. A mulher deu um suspiro e um aceno, e abaixou um prato cheio quase que inteiramente com recheio de creme e acenou. ― Olá, querida!― Ela chamou em seu sotaque escocês crescendo. ― Acho que você conhece Mari, ― disse Cecil. ― Cecil me contou sobre o leilão, ― Mari disse, respondendo à pergunta não feita. ― Ele é meu negociante de arte aqui em Londres. Eu apresentei-o a Peg. Eu conheço Cecil desde que ele era apenas um filhote. Ele não se parecia com isso quando eu o conheci. Você era um estudante de arte pobre na época , não era, amor? ― Eu era de fato,― disse Cecil. ― Você vai cuidar bem desta peça, não é? ― Mari aperta a bochecha de Cecil. Pareceu um forte beliscão. Um que deixaria uma marca. Ginny não poderia deixar de ficar impressionado com a maneira como ele o recebeu sem pestanejar. ― Nós certamente esperamos,― ele respondeu. ―Você tem tudo que você precisa? Taça de champanhe? ― Talvez apenas um pequeno, o amor. Virginia, você me lembra da minha Chloe, não é? Mari indicou uma menina apoiado casualmente contra a parede, ao lado de uma pintura de um menino minúsculo em veludo azul com um cão de olhos esbugalhados. Chloe era a assistente de Mari: parte artista, parte mordomo, parte
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porteiro. Ela estava vestida com botas de motociclista, jeans, e uma desfiada T-shirt que revelava um braço direito tatuado do ombro à ponta dos dedos em uma grande imagem de uma sereia espirrando água em torno de um oceano roxo e verde. O mullet loiro tinha sido substituído por uma cabeça raspada, com apenas um toque de pêlos cor pêssegos. Um assistente furtivamente colocou uma taça de champanhe na mão de Mari. Era um desses largos e antiquados vidros que pareciam com taças. ― Vamos dar uma olhada nisso,―Mari disse. Ela guiou Ginny até a porta do salão de leilão. O salão de leilão era um lugar tão estranho, tão fortemente carpetado, assim como acolchoado. Havia um punhado de cadeiras estofadas e quatro mesas compridas. Uma dúzia de pessoas estavam sentadas na frente de computadores, falando baixinho em telefones. A peça estava assentada sobre um cavalete no final da sala, grampos ao longo das bordas segurando-o no lugar. Com esta luz, Ginny podia ver o quão sujo a janela estava. Eles não fizeram nenhuma tentativa para limpá-lo. A camada de sujeira e a tinta escorrendo. . . era toda parte da peça. ― É sempre muito estranho vê-los quando eles chegarem aqui,― Mari disse, tomando um gole longo e barulhento do champanhe. ― Um pouco como uma sala de operações. Pegue um pouco de champanhe. Ginny sentiu uma presença atrás dela - os pelos da nuca formigavam um pouco. Ela não teve que virar para saber quem era. ― Oh, Olá, ― Mari disse. ―Você é um amigo? Mais uma vez, Oliver estava formalmente vestido. Ele se encaixa direito no Jerrlyn e Wise. Talvez o cabelo estivesse um pouco escuro demais, o casado ainda um pouco estranho.
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― Eu vou estar lá fora, ― Ele disse a Ginny. ― Só queria que você soubesse que eu estava aqui. ― Você não vai ficar para o leilão? ― Mari perguntou. Oliver olhou cautelosamente para Mari-processamento as tatuagens faciais, os nomes em suas mãos e pés, as mechas naturais laranja que emana de sua cabeça. Ela o viu terminar sua análise e decidir que o melhor curso de ação foi o de se afastar dos dois o mais rápido possível. ― Oh, ele é tímido, ― Mari disse. ― Ele é diferente do último. Onde você encontra todos eles? Ginny levou um segundo para perceber que Mari achava que Oliver estava com Ginny - da mesma maneira que ela pensava que Keith estava com Ginny. Ela estava prestes a emitir uma negação, mas depois decidiu não fazer. Por um lado, era bom ter alguém que achava que ela era como um coletor de namorados. Por outro lado, a saída abrupta de Oliver a deixou nervosa. As pessoas começaram a chegar na sala, tomando seus lugares nas mesas, abrindo os computadores e tirando seus telefones. Cecil colocou a mão delicadamente no ombro de Ginny. ― Perdoe-nos, ― ele disse. ― Virginia e eu temos negócios para ser concluído. Por favor, tome um assento, Mari. ― Acho que vou ficar em pé, querida. Eu gosto de pensar nos meus pés. ― É claro. Por aqui, Virginia? Ele acompanhou Ginny até seu escritório e fechou a porta silenciosamente. Ele não sentou, no entanto. ― Talvez seja melhor se eu falar diretamente,― ele disse. ―Eu não sei quem é o Sr. Davies, mas eu não acho que ele tinha algo a ver com a criação da obra na saleroom hoje. Eu não sei exatamente o que está acontecendo, mas quero que
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você saiba que este contrato que você assinou não a vincula a vender esta peça hoje. Se você não quiser continuar, você pode e deve dizer isso. Nós tiramos coisas da venda antes. Eu não quero ir em frente com esta venda se há algo irregular acontecendo. . . . Antes que Ginny pudesse reagir, houve uma batida rápida na porta, e James enfiou a cabeça dentro. ― Eu o encontrei, ― ele disse, empurrando Oliver para o quarto. James fechou a porta atrás deles. Agora, eles estavam todos lotando o pequeno espaço da porta de Cecil. Cecil bateu o punho contra os lábios por um momento. Oliver pressionou-se para o canto ― Virginia e eu estávamos tendo uma conversa sobre o contrato, ― ele disse. ― Eu estava explicando a ela que não era necessário para nós... ― É dela, ― Oliver disse, interrompendo-o. ― Perdão? Oliver tinha ficado completamente pálido, e estava puxando o casaco apertado em torno de si, como se quisesse desaparecer. ― Estou retirando a venda. Todo o dinheiro é dela. Apenas venda-o e deixarme fora dele. ― O quê? ― Ginny disse. Cecil moveu-se sobre a sua mesa e tirou um pedaço de papel. ― Eu pensei que algo assim poderia acontecer, ― ele disse. ― Eu só preciso de sua assinatura neste papel, que substitui o contrato, direcionando todos os lucros menos comissão para Virginia Blackstone. Você perde qualquer reclamação. ― Bom, ― Oliver disse. Ele se apertou entre as duas poltronas para inclinarse contra a mesa e assinou o nome. ― Acabamos aqui, certo?― Ele perguntou.
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―Eu não vou precisar mais nada de você, ― disse Cecil. ―Se é isso que você está perguntando. ― Isso é o que eu estou perguntando. O escritório de Cecil era tão pequeno que era impossível para ele sair sem apertar Ginny ao passar. Quando ele fez isso, ele empurrou algo em suas mãos. Ela olhou para baixo. Era o último envelope azul. ― Agora, ― Cecil disse. ― Nós podemos avançar, se está tudo bem com você. ― Vá em frente, ― Ginny disse, correndo para fora do escritório depois de Oliver. Ele estava se movendo rapidamente. Ele já havia deixado o prédio, e quando Ginny o fez, ele estava no meio da rua. ― Espere! ― Ginny disse, correndo depois dele. ― Onde você está indo? ― Casa. ― Tudo bem, ― Ginny disse, correndo ao redor para ficar na frente dele e parar seu progresso por um segundo. ― Você precisa me dizer o que está acontecendo. Ele tentou desviar, mas ela bloqueou-o de novo, colocando as mãos em seu peito. ― Não, ― ele disse simplesmente. ― É preciso explicar. Por que você fez isso? ― Eu não preciso explicar nada. Ele gentilmente tirou as mãos de seu peito e continuou andando. Ela olhou para a carta na mão. Tudo começou quando a última parte foi cortada na Irlanda.
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....dizer-lhe. Gin, você se lembra de como eu costumava arrastá-la para o Museu de Arte Moderna o tempo todo e fazer você ficar na frente de uma louca e enorme pintura de uma mulher sentada em um sofá no meio de uma selva? Reflita por um momento.Vou esperar.
De seu lugar na rua ela podia olhar a janela. Ela viu Cecil tomar a sua posição no pódio. A venda estava começando. Cecil estava acenando e apontando educadamente para pessoas que ela não podia ver, dizendo números que ela não podia ouvir. Então ele parou. Poucos minutos depois, as pessoas começaram a surgir para fora. Tudo estava acabado. A peça foi vendida. Mari saiu. Ela olhou para o céu primeiro, e depois desceu os degraus com cuidado, segurando o corrimão de bronze para apoio. Ela olhou para cima e para baixo da rua, acenando para Ginny. ― Ah, aqui está você,― ela chamou. Ela cuidadosamente se sentou nos degraus. Ela tinha que ter mais de setenta, Ginny percebeu. Suas articulações estavam duras. Ginny se sentou ao lado dela. ― Vocês dois tiveram uma briga?― Mari perguntou, indicando a figura retirada de Oliver. ― Não exatamente. ― Parecia muito dramático, o que quer que fosse. Eu adoro drama. Mas você perdeu a venda. ― O que aconteceu?― Ginny perguntou.
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― A pessoa que o comprou era apaixonada por ele. Cento e sessenta e sete libras. Cento e sessenta e sete libras. Outra grande soma de dinheiro que Ginny realmente não podia calcular. ― Você não parece animada,― Mari disse. ― Eu estou. . . Eu apenas. . . ― Eu sei,― Mari disse. ― As vendas são estranhas. Você faz a arte, e, de repente, alguém está pagando por isso. De repente é uma mercadoria. . . . ― Eu não fiz a arte, ― Ginny disse. Mari balançou a cabeça e deu um tapinha no joelho de Ginny com a mão dourada. ― Cecil me disse que você fez a montagem e a fricção. ― Eu só montei-os juntos,― Ginny disse. ―Você apenas não monta um trabalho de arte, amor. Não é um sanduíche. Você foi treinada. Talvez você não estava ciente disso, mas você foi treinada. É um trabalho muito bom. Estou muito orgulhosa disso, menina. Orgulhoso de vocês duas. É por isso que eu tinha que ter isso. Houve um lance de Tóquio, que estava me dando um inferno de tempo lá dentro, por exemplo, mas eu estava determinada. Ela sorriu e deixou Ginny tomar aquele pedaço de informação antes de ela continuar. ― Eu sou uma boa amiga de um curador do Museu de Arte Moderna de Nova York, ― ela disse. ― Eu acho que essa peça pertence lá. Então eu vou falar com eles sobre doá-la. Eu acho que deveria ir para casa e estar onde muita gente pode vê-lo, não é? ― Você comprou? E você está enviando-o para MoMA?
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A porta abriu novamente, e Chloe passou passar por elas, descendo os degraus. ― Eu vou pegar o carro, sim?― Disse. ― Obrigada, amor. Chloe deu um forte aceno a Ginny, em seguida, dirigiu-se pela rua em passos largos. ― Chloe passou a gostar muito de você, ― Mari diss. ― Ela não leva em consideração qualquer um. Ela tem bom gosto, a minha Chloe. Eu estarei buscando as pinturas aqui depois. Atrás delas, Ginny ouviu um carro a partir do pequeno parque de estacionamento privado atrás do edifício. ― Obrigada, ― Ginny disse. Mari deu um tapinha no ombro de Ginny com a mão dourada. ― O dinheiro é para fazer coisas, meu amor. Não se sente sobre ele como uma galinha chocando um ovo. Isso não choca. Eu deveria saber. Eu fiz isso o suficiente. Um pequeno carro esportivo preto, algum modelo antigo que provavelmente era dos anos setenta, veio repicar o caminho curto de cascalho e indo cegamente para a rua, pulsando estéreo. ― Certifique-se de vir me ver em Edimburgo em algum momento,― Ela disse. Mari caminhou lentamente para o carro e abaixou-se para o banco. Era apenas um pouco acima do chão. Ela e Chloe deram a Ginny um pequeno aceno, e então se lançaram para o tráfego aterrorizante de Londres.
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A Conversação Bem, acabamos. Mas eu tenho um pouco mais a dizer. Eu não quero ser arrastado para fora do palco ainda. Você se lembra de como eu costumava arrastá-la para o Museu de Arte Moderna o tempo todo e fazer você ficar na frente de uma pintura de uma louca e enorme mulher em um sofá sentado no meio de uma selva? Reflita por um momento. Vou esperar. . . .
Ginny se sentou no sofá e olhou para a carta. Pela primeira vez, ela queria que as cartas calassem a boca e parassem de fazer perguntas. O que ela queria, uma vez na vida, era uma carta que desse uma simples lista de instruções infalível. Gostaria de ter
sucesso na vida e no amor e não ser uma pessoa louca? Faça o seguinte. . . . Sim. Isso seria ótimo. Era sua última noite em Londres. Richard estava na cozinha, falando ao telefone sobre alguma crise de trabalho. Eles deveriam ir jantar para comemorar a venda. Ela realmente não sintia a fim de celebrar. Sim, a peça tinha sido vendida. Sim, ela tinha mais dinheiro. Mas fora isso. . . tinha um relacionamento arruinado e mais perguntas que respostas. Ela tinha a carta por horas agora, e nem mesmo conseguia lêla. Mesmo a única coisa estúpida que ela tinha que terminar, enquanto estava aqui, - a dissertação ― não estava feito também. Falha em todos os níveis.
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Alguém estava tocando a campainha da porta da frente. Ginny quase caiu em cima da mesa de café na sua pressa para atender. Mas não era Keith. Era Ellis, pulando levemente no frio. ― Desculpe, ― ela disse. ― Eu simplesmente não estava em nenhum estado para dizer adeus no outro dia. Eu não quero que seja a sua última memória de mim, minhas entranhas saindo em um vaso sanitário de trem. Ginny segurou a porta aberta para ela entrar, mas ela acenou. ― Eu tenho que ir, ― ela disse. ―Estou começando um trabalho voluntário, fazendo um turno da noite em um centro para crises17. É muito ruim nessa época do ano, aparentemente. Eu só queria vê-la antes que você ir embora. Só. . . Ela ficou ali saltando por um momento. Uma rajada de vento frio chegou e inundou a sala de estar. ― Eu não quero interferir, ― ela disse, ― mas. . . Eu acho que você deve conversar com Keith. Eu acho que você se arrependerá se não resolver isso. E eu acho que seria uma vergonha se você não aproveitar esta oportunidade para falar em pessoa antes de ir. Mas. . . Acho que já disse o suficiente. Isso foi estranho. Eu vou calar a boca agora. Ela abriu os braços e deu um abraço em Ginny. ― De qualquer forma. . . ― Ellis recuou um dos passos. ― Espero que você volte. Fico feliz por ter te conhecido. ― Espero que sim, ― Ginny disse. ― E. . . Fico feliz de te conhecer também. Ela fechou a porta silenciosamente e olhou para a decoração da sala de estar, até o buraco onde a árvore de cabeça para baixo havia sido suspensa. ― Tudo pronto, ― disse Richard. ― Com fome? Você vai gostar deste lugar.
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vc liga e voluntários conversam com vc e tentam te ajudar, tudo anonimamente
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― Eu poderia ter uma hora? ― Ela perguntou. A janela de Keith estava aberta, as luzes ao seu redor sendo desenhada dentro por uma força invisível. Ela pensou em chamar, mas então decidiu bater na porta do painel de ouro de plástico. David abriu a porta. Que foi sorte, Keith poderia não ter feito o mesmo. ― Gin! ― Disse. ― Eu ouvi que você estava aqui. Foi bom ver um rosto amigável. David indicou que ela poderia ir lá em cima como gostava. Ela tomou as escadas suavemente, mas Keith parecia saber que ela estava vindo. Ele tinha agarrado a metade vertente de luzes e estava brincando com as lâmpadas. O que ele estava tentando fazer, Ginny não tinha ideia, mas ele parecia bastante intencionado sobre ele. Ele nem sequer olhou para cima quando ela entrou. ― Como foi o seu leilão? ― Ele perguntou, sem parecer muito interessado. ― Você é rica agora? Mais rica, eu quero dizer? ― Eu posso dar-lhe dinheiro para o seu carro. ― Eu não estou realmente interessado em seu dinheiro. ― De Keith, isso foi um primeiro e definitivamente um mal sinal. ― Por que você está tão zangado? ― Ginny perguntou. ― Zangado? Eu não estou zangado. ― Seu rosto estava totalmente composto e calmo. ― Então, por que você não veio para o leilão? ― Eu estava ocupado, ― ele disse, puxando mais alguns metros das luzes. ― Eu tenho outras coisas acontecendo na minha vida, você sabe. Embora ele não fosse exatamente acolhedor, Ginny se sentou no sofá vermelho, afastando alguns livros e camisas. ― Você está tirando eles? ― Ela disse, apontando para as luzes.
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― Não. Estou arrumando-os. ― Eu parto amanhã, ― ela disse. Keith concordou e continuou brincando acabar com as lâmpadas. Era assim que ia ser. Se ela queria que isso acontecesse, ela teria que empurrá-la à existência. ― Por que você não me contou? ― Ela perguntou. ― Sobre Ellis. Falamos todos os dias. Você nunca me disse. E mesmo depois que eu vim aqui, você nunca me disse. Você nunca disse uma palavra. ― Eu te disse? ― Disse ele casualmente. ― Você a conheceu. . . ― Você sabe o que quero dizer, ― Ela disse. ― Você disse que éramos tipo “alguma coisa”. Por que você apenas não me disse? Silêncio. Apenas o som da televisão do quarto de Davi. Keith arrancou uma lâmpada e a sequência inteira de luzes se apagou. ― Talvez eu vá desligá-los, ― ele disse, puxando o plugue da parede. ― Não quero iniciar um incêndio. Ele começou a puxar as luzes com mais força, cada lâmpada emitindo um som de protesto quando eram puxados do radiador sob a janela. Por alguns momentos, parecia que ele nunca ia responder, mas finalmente ele falou. ― Eu disse a você sobre a minha antiga namorada, Claire? ― Ele disse, enrolando as luzes em um emaranhado confuso. Ele tinha, em um passeio de trem durante o verão. Foi a primeira vez que ele realmente disse a ela algo pessoal, como tinha sido no amor, quando ele tinha dezesseis anos, e sua namorada tinha ficado grávida e o despejado, incapaz de lidar com a volta que sua relação tinha tomado. Ele tinha ido para fora dos trilhos. Que era o lugar onde Keith, o ladrão começou.
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― Ela me disse que queria ser meu amigo, ― ele disse. ― Então eu saí e roubei um carro. Ela é a razão de eu ter uma ficha criminal. ― Você tem uma ficha criminal? ― Eu roubei um carro, ― ele disse, como se isso fosse óbvio. ― Você não me disse que foi pego. ― É claro que fui pego. Várias vezes. Permita-me mostrar-lhe minha galeria de ASBOs ― AS o que ? ― Ordens de comportamento anti-social. O emblema de honra. ― Eu não tenho ideia do que está falando. ― Meu ponto de vista, ― ele disse, ― é que nada disso explica o que você fez. Fazendo com o cara que estava explorando você, então jogá-lo na minha cara enquanto eu estava tentando ajudá-la. . . yeah. Boa jogada ― Você acabou de dizer que quando você e Claire se separaram você roubou um carro. ― Isso é diferente, ―ele retrucou. ― Não há nada pessoal sobre o roubo de um carro. É apenas um carro. ― Isso pode ser para a pessoa que possuía o carro. ― Ela estava gritando agora. ― Você roubou a propriedade de alguém. Eu beijei alguém, estou autorizada a fazer, mesmo se você não goste dele. Além disso, ele não pegou o dinheiro, então você pode deixá-lo ir agora. ― Ele não levou o dinheiro? ― Isso deu uma pausa em Keith. ― Por quê? Qual-o-nome-dele da casa de leilões, . . . ― Ele simplesmente não pegou.
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Keith apenas balançou a cabeça, como se incapaz de compreender esta nova informação. Finalmente, ele olhou para Ginny, com o rosto aberto e honesto. ― Eu pensei que eu estava fazendo a coisa certa. Eu não queria tocar-te e dizer-lhe que eu tinha conhecido alguém. Parecia errado fazer isso com você pelo telefone. ― Então, você decidiu não me contar nada? ― Você veio aqui, ―ele disse. ―Você a conheceu. O que eu deveria dizer? Ela estava bem na frente de você. ― Você deveria dizer: ―Esta é a minha namorada. ―Eu tive que descobrir. ― Isso teria sido melhor? Você queria que eu dissesse, 'Oh, sim, esta é a minha namorada? Como isso teria ajudado? Eu poderia ver na expressão em seu rosto. Eu não queria chateá-la mais. Ele tinha um ponto, mais ou menos. Não é o melhor ponto. Não um ponto afiado. Mas uma espécie de ponto. ― Você teve dias depois, ―ela rebateu. ― Houve uma abundância de vezes que você poderia ter dito alguma coisa. Eu só precisava ouvir isso de você, isso é tudo. ― Por quê? ― Não sei, ― ela disse. ― Para torná-lo oficial ou algo assim. Eu não queria que fosse verdade, mas teria sido melhor vindo de você, porque eu tinha. . . esperança, ou algo assim. Keith abaixou a cabeça, seus cabelos caindo sobre o seu perfil e escondendo sua expressão. ― Gin. . .
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― Você sabe o que é engraçado? ― Ela continuou. ― Eu gosto da Ellis. Muito. Estou feliz que você a escolheu. Metade do tempo nos últimos dias eu gostei mais dela do que de você. Isso foi muito difícil de ela dizer, mas se sentiu melhor depois que fez. Mais forte. Ela ouviu-o rir um pouco. ― Isso é justo, ― ele disse. ― E você sabe como me sinto. Quando eu ficar um delirante, austero e louco velho, poderemos ficar na casa de loucos juntos. Você continuará se esgueirando em cima de mim, e eu vou continuar a tomar o seu dinheiro, e seus dentes. . . . Keith sentou ao lado dela no sofá e colocou seu braço ao redor dela. Desta vez, ela sabia por que estava ali. ― Eu tenho que voltar, ― ela disse. ― Eu não posso oferecer para levá-la para casa, mas eu vou levá-la lá. ― Estou bem, ― ela disse. ― Eu deveria tomar um táxi, de qualquer maneira. Eu prometi a Richard. Estamos indo jantar. ― Eu tenho um número para um. O taxi foi rápido. Ele mal tinha chamado, quando houve uma buzina na frente. ― Eles ficam virando a esquina, ― explicou. Sem mais adeus. Era hora de ir. Ela voltaria para casa, talvez. Keith era um estudante. Ele poderia se mudar. Mas se ela voltasse, ela nunca mais seria a mesma. Ela nunca iria olhar para as cortinas pretas com a mesma antecedência, ou olhar para aquele pedaço de padrão de plástico dourado na porta e achar que quando a porta se abrisse, ela seria recebida com um beijo. Todas essas pequenas fantasias, tão cuidadosamente cultivadas, foram
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enxugadas. Talvez isso era o que a tia Peg significava - retorno era uma coisa estranha. Você nunca pode visitar o mesmo lugar duas vezes. Cada vez, é uma história diferente. Pelo próprio ato de voltar, você acabar com o que veio antes. Keith estava assistindo da porta. Ela tinha que ir embora, queixo para cima. Isso era difícil, mas não impossível. Essa foi à parte surpreendente. Não era impossível.
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O provável problema Era meia-noite. Ginny estava na cama, olhando para a parede. Ela não estava cansada. Agora que seu tempo na Inglaterra estava quase no fim, cada segundo parecia precioso. Tanto desta viagem havia sido doloroso e estranho, mas ela ainda queria mantê-lo. Ela saiu da cama e olhou pela janela. Havia uma luz púrpura no ambiente sobre Londres, apenas o suficiente para que ela pudesse ver os contornos e as sombras das coisas nos jardins do vizinho. Ela passou alguns minutos tentando adivinhar o que os objetos eram, chaminés redondas, hangares, bicicletas, caixas velhas. Ela estava cansada de adivinhar. Ela se arrastou de volta na cama e tirou a carta.
Gin, Você se lembra de como eu costumava arrastá-la para o Museu de Arte Moderna o tempo todo e fazer você ficar na frente de uma pintura de uma louca e enorme uma mulher em um sofá sentado no meio de uma selva? Reflita por um momento. Vou esperar. . . .
Ela não precisa de um momento para pensar sobre isso. Ela conhecia muito bem a pintura. Pegava uma parede inteira no MoMA. Era muito vívido, com verdes e amarelos profundos. Uma mulher nua deitada no que parecia ser um sofá marrom, enquanto ao seu redor, tigres olhavam curiosamente através da grama, e uma longa serpente laranja deslizava ao longo do terreno. No fundo, uma outra mulher, meio
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escondida na folhagem e flores de tamanho grande, tocando algum tipo de instrumento.
A pintura é chamada The Dream18. De Henri Rousseau. Rousseau sempre foi meu herói, por muitas razões. As pinturas, para começar. Suas cores. Sua perfeição estranha e infantil. Rousseau foi totalmente auto-didata. Ele não sabia que as pessoas viam o seu estilo em qualquer forma estranha. Ele só assumiu que as pessoas iriam querer olhar para as pinturas, que seriam aceitas. Críticos chamaram seu estilo de “primitivo”. (Alguns a chamaram de coisas piores do que isso.) Ele foi considerado inovador por pessoas como Picasso, que comprou uma de suas obras na rua onde ele estava sendo vendido para sucata. Por profissão, Rousseau foi um arrecadador de impostos, em Paris. Ele nunca viu uma selva em sua vida, mas pintou-os uma e outra vez. Ele pintou as que via em sua mente. Ele colocou figuras em suas pinturas, figuras que são tão grandes quanto a paisagem. Enquanto eu escrevo isto Gin, eu sei que minha mente está morrendo. Estou sentada em um sofá, em Londres, vários milhares de quilômetros de distância de você. Sou como aquela mulher em um sofá na pintura. Eu vejo as coisas ao meu redor que eu sei que não deveriam estar lá. Duas vezes hoje, eu já estendei a mão para um animal de estimação, um gato que eu sei que não possuímos, que eu saiba que possivelmente está sentado ao meu lado. Mas acontece que eu gosto do meu gato imaginário, e quando eu alcanço o que deveria ser um espaço vazio, eu posso sentir a sua pele, e o aumento suave e a queda de seu peito. Eu o chamo de Provavelmente.
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O Sonho - http://www.abm-enterprises.net/rousseau-dream.jpg
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Como em “Eu provavelmente preciso de tomar meus remédios, porque eu estou vendo o gato novamente.” As alucinações não são sempre tão agradáveis, mas eu tenho muita sorte. E a única coisa que vejo na maioria das vezes, Gin? É você. Você subindo e descendo as escadas. Você rastejando na janela do quarto. Você sentada na mesa da cozinha. Você falando comigo durante todo o dia, quando Richard está no trabalho. Você me dizendo sobre a escola. Jogamos 20 perguntas (e você ganha). Você está por toda esta casa. Honestamente, você provavelmente deveria estar pagando aluguel. Claro, eu não vi você em dois anos, assim que você aparece em muitas maneiras diferentes. Às vezes, você tem cinco anos. Às vezes, você é a sua idade real. Às vezes, você tem quarenta. Uma vez, você tinha de cerca de 85. Mas é sempre você, Gin. Há uma única linha dourada que atravessa todas as Ginnys. Enquanto escrevo estas cartas e pinto os meus quadros, você está aqui comigo, me aconselhando. Incentivando-me. Estas pinturas são suas pinturas. E quanto a este último trabalho. . . Eu só posso vê-lo na minha imaginação, porque não está feito ainda. Eu sou tão boa que eu possa completar uma obra de arte depois que eu morrer. Estou plenamente consciente de que metade dos licitantes vê em minhas pinturas, que esta loucura que me faz ver as coisas, é a que vai matar-me, e eu não pintarei mais. Não há nada que o mundo da arte gosta mais do que um artista morrendo com uma produção limitada. Algumas pessoas vão dizer que isso é lixo, que qualquer pessoa poderia ter uma mesa desarrumada, uma janela pintada, e fazer uma fricção em uma pedra. Bem, com certeza. Mas esse é o argumento habitual. Qualquer um poderia ter pingado pinta sobre uma lona. Mas Jasper Johns fez, porque ele sabia que estava certo. Qualquer um
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poderia ter pintado uma lata de sopa. Mas Andy Warhol fez, porque ele entendia mais sobre a sociedade moderna do que as pessoas. Ideia encontra execução. Sentimento se torna ação. Eu não sei por que as pessoas acham a ideia tão difícil de obter. Quero dizer, você pode colocar quaisquer duas pessoas juntas, isso não significa que eles vão se apaixonar. Todo mundo sabe disso. Ninguém entende bem como funciona. É apenas essas pessoas, onde elas estão em suas vidas, que circunstâncias as colocaram juntas. Claro, isso aconteceu antes, mas nunca dessa forma. Talvez eles se juntaram a partir de coisas erradas. Talvez eles amaram outros. Talvez eles nem sempre fizeram o certo um pelo outro. . . mas ele ainda está lá, o amor. O evento. E ninguém iria criticá-lo só porque ele é comum, é um pouco assimétrico, e qualquer um pode fazê-lo. É único. É deles. É lindo. Eles fizeram algo que foi feito um milhão de vezes antes e também nunca existiu antes desse momento. Tudo certo. Isso é suficiente piegas? Quando você tem câncer, as pessoas permitem que você se safe ou fuja de assassinato, eu estou lhe dizendo. Isto é como Nicholas Sparks ficou longe de coisas por anos. De qualquer forma, Provavelmente voltou para sofá e quer que eu acaricie sua cabeça, então eu tenho que ir mimar o meu gato. Eu não quero que esta carta termine, por isso não vou concluí-la. Eu só vou fazer uma pausa como se eu ainda estivesse escrevendo e....
não havia fim. Ela só parou no ar. ― Você tem que estar brincando comigo, ―Ginny disse. Ela colocou a carta de lado e olhou para o teto. Todas essas terminações estranhas. Keith. Ellis. Oliver saindo da casa de leilões. Uma dessas histórias tinham
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que terminar corretamente. Quem era Oliver, afinal? Por que não tinha tido tempo para saber mais? Ela agarrou o seu computador do seu local ao lado da cama. Ela poderia escrever para ele, mas ele não responderia, isso era certo. Ela teria que procurá-lo. No Google apareceu um monte de Oliver Davies, mas sem imagens combinadas com Oliver, pelo menos, não claramente. Havia algumas fotografias de grupo, que ele pode estar, mas eles não eram realmente útil. Tinha que haver um momento em que ele deu alguma informação. Ela tinha visto o seu passaporte? Não. Qualquer identidade ? A única vez que ele mostrou era na estação de trem, quando eles estavam indo para Paris. Ele comprou os bilhetes para Paris. . . . Eles fazem você dar informações quando faz as coisas assim. Ela rolou para fora da cama para o chão e puxou sua bolsa. Ela foi empurrando as coisas no bolso da frente. Ela abriu o zíper e senti-o ao redor. Dois guardanapos amassados, um invólucro. . . e lá estava, empurrado para baixo no fundo, o bilhete não utilizado. Número do trem 234 a Paris. Número do assento. Número de reserva. Informações de contato para a empresa ferroviária. Oliver não era o único que poderia fazer um truque. Ginny estava vestida e pronta na cozinha com a chaleira fervendo quando Richard desceu. ― Eu não esperava vê-la, ― ele disse. ― Eu só queria fazer algumas coisas no meu último dia. ― Passou-lhe uma caneca de chá, mas ele acenou e continuou amarrando sua gravata.
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― Podemos nos encontrarmos na estação de trem às dez? Talvez eu tenha que sair por uma janela para chegar lá. Vendas de janeiro. Se eu estiver coberta de sangue, não diga nada. ― Vemo-nos lá, ― Ginny disse. Ela já havia concluído a primeira etapa desse plano. Ela tinha verificado a validade e obteve um endereço de e-mail no easymail.co.uk. Agora ela só precisava ser convincente. E um pouco estúpida. Oh, havia vantagens em ter um sotaque americano ― um real. Nada conseguia substituir um real. As linhas de telefone para a empresa ferroviária tem início às sete da manhã, que é exatamente quando ela discou. ― Olá, ― Ela disse, arrastando o vogal. ― Eu comprei um bilhete para um de seus trens no outro dia, mas eu nunca o recebi. Eu comprei-o on-line e disseram que iriam enviá-lo. . . . ― O número de reserva? Ginny leu o bilhete. ― Oliver Davies? ― Perguntou o homem. ― Não. Meu nome é Olive Davies. Meu email é olive273@easymail.co.uk. Eu sou uma. . . estudante de intercâmbio? Que era bom. Fazer tudo soar como uma pergunta. Eles só querem tirá-la do telefone. ― Só um momento. Som de digitação. ― Oh, eu vejo o que aconteceu, ― disse o homem. ― Eles colocaram um r lá. Eles tinham oliver273. Eu só vou arrumar isso e reenviá-la.
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Cinco minutos depois, havia uma mensagem. Bilhetes emitidos para Davies, Oliver. Número de cartão de crédito X'ed. Endereço: 15A York Road, Guildford. ― Consegui, ― Ginny disse. Desta vez, não haverá finais soltos.
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Isso não é uma Piscina Gildford, de acordo com pessoas boas na internet, era uma cidade a poucos quilômetros fora de Londres. Cidade mercado, subúrbio, parte de algo chamado faixa
do corretor, casa do ocasional festival de música. Ficou famosa pelo livro O Guia dos Mochileiros das Galáxias como sendo a casa do Oficial Ford, que alegou que veio de lá como uma maneira de parecer chato e normal e da Terra. Havia trens de sobra para chegar lá. Graças a Deus ao Inglês e seu amor por trens. Tantas estações de trens, tantos trens em todos os momentos. Ela deveria ter ficado enjoada de trens até agora, mas não estava. Havia uma fila de táxis esperando na estação, que era maior do que ela esperava. Ela tentou entrar no mais próximo, mas foi informada para caminhar todo o caminho até o fim da linha, para o primeiro táxi estacionado. Táxis faziam filas aqui, e os taxistas não ultrapassavam seus lugares na fila. Isso não era um táxi preto também, era apenas um carro regular com um medidor e uma placa. O motorista colocou seu jornal para baixo enquanto ela entrava. ― Estou indo para a Estrada Quinze York? ― ela diz. Por que ela fazia isso, com as coisas fazendo soar como perguntas? O motorista bateu o medidor e arrancou. ― O que a traz a Guildford? ― ele perguntou. ― Você é Americana, certo? ― Para ver um amigo, ― Ginny disse.
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― De onde da América você é? ― Nova Jersey ― Eu fui a Nova Jersey uma vez, ― ele diz. ―Fui a um shopping lá. Um grande... O passeio teve talvez um minuto de duração. A parte mais difícil foi esperar no semáforo pegando o tráfego da manhã. Ela foi deixada em uma fileira de idênticas casas de tijolos amarelo-marrom com telhados pontudos. Na esquina, havia um pub, uma loja de colchão parecendo decorativa, e uma loja que parecia não vender nada além de lâmpadas. Havia muitas construções acontecendo na rua. Três das casas estavam sendo trabalhadas, então havia poeira de cimentos, tábuas, sacos e carrinhos de mão por toda parte. Quinze A era uma casa com um muro de pedra semi quebrado e uma coleção de caixas recicláveis na parte da frente do jardim fora do muro. Havia muitas latas de comida de gato nas caixas. Muitas. Ela bateu na porta, e um momento depois, e uma mulher em uma lã rosa e com cabelo preso em um rabo de cavalo respondeu. A televisão estava ligada no fundo, mostrando algum programa da manhã, e uma tábua de passar roupas estava aberta e em uso. Havia roupa pendurada em todo lugar. Esta era definitivamente a mãe de Oliver. Eles tinham os mesmos olhos escuros. O cabelo dela era preto com pedaços exaustos de cinza. Ela parecia muito cansada, e nervosa. Ela tinha profundas bolsas roxas sob seus olhos... ― Posso ajudá-la? ― ela perguntou. ― Isso é sobre as caixas, porque... ― Estou procurando Oliver
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A mulher olhou surpresa, como se amigos não procurassem Oliver muito frequentemente – certamente não tão cedo e certamente não com este sotaque. ― Ele está no trabalho ― No trabalho? ― Sim. Na Elephant na High Street. Exatamente o oposto de Oxfam. ― High Street? ― É aquele caminho, , ela disse, saindo e apontando. ― Até aquele cruzamento e vire à direita. Você o verá imediatamente High Street, Ginny rapidamente percebeu, significava Rua Principal – e High Street de Gildford era um lugar ocupado na parte da manhã. Era inteiramente pavimentada em paralelepípedo e estabelecida em uma colina. Eles estavam no topo, olhando para uma longa rua de lojas, terminando em um rio estreito. Todo tipo de loja estava representada. Havia o McDonald‖s. Havia o Starbucks. Muitas lojas de roupas. As farmácias, as livrarias, as papelarias, o supermercado... O meio da rua estava cheia com uma variedade de carrinhos, vendendo geléias, cestos, flores secas, molhos curry, porco assado fresco. Elephant estava bem no meio disso tudo. Parecia um restaurante familiar, ou possivelmente, um café bar. Tinha vagamente decorações Africanas nas paredes e um símbolo estridentemente feliz em uma fonte coberta de mato. Havia grandes cartazes publicitários de Cds de músicas mundiais na frente. Ele não foi difícil de encontrar. O lugar estava quase vazio nesta hora da manhã. Havia uma garçonete na parte de trás, colocando mesas, e um cara alto com cabelo preto sentado no bar, lendo
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uma prancheta e fazendo anotações. Era um pouco estranho ver Oliver em uma camisa pólo preto com um logotipo brilhante e um par de calças cáquis. Sua imagem cuidadosamente cultivada – o casaco de marca de uma loja de marca, a camisa a rigor, a voz elegante, o jogo constante com os cigarros. Foi tudo a falência. Ele não deve ter sido capaz de ouvi-la se aproximar sobre a música ensurdecedora – um coro de crianças animadas e percussão pesada. Ela ficou em pé bem atrás dele e bateu-lhe no ombro. Ele pulou em surpresa, enviando sua prancheta ruidosamente para o chão. ― O que você está fazendo aqui? ― ele perguntou em uma voz baixa, enquanto se recuperava. ― Como você sabe onde trabalho? ― Você não é o único que faz sua lição de casa Ela tinha começado com aquela linha pronta no trem, e isso foi extremamente gratificante por ser capaz de implantá-la tão cedo. ― O que você quer? ― Quero conversar. ― Não há nada para conversar. Você não deveria ter vindo aqui... ― Você me trouxe aqui, ― ela diz. ―Você entrou em contato comigo. Você começou isso. Agora sei onde você mora, e não vou deixá-lo sozinho até me explicar o que foi tudo isso... ― Você não deveria estar em um avião de volta para América? ― ele perguntou.
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― Em poucas horas. Se você não falar comigo agora, vou dar seu endereço para Keith. Direi a ele onde você trabalha. Ele virá visitá-lo... Isso chamou sua atenção. ― Espere aqui, ― ele disse. Ele foi para o fundo da sala por um momento, teve uma palavra rápida com a garçonete, em seguida, reapareceu com seu casaco. Ele passou por Ginny e foi para fora, o que implicava que deveria segui-lo. Lá fora, ele começou a se afastar em um ritmo furioso. Eles pararam ao lado do que parecia um salão de uma cidade medieval, um branco cruel com vigas pretas e um relógio ornamentado pendurado. ― Eu disse a você, ― ele finalmente disse. ―Encontrei os envelopes em sua bolsa. Fiz alguma pesquisa sobre o nome de sua tia e li sobre a venda online. Pensei que poderia fazer algum dinheiro fora disso. Esta é a história inteira. O que você esperava? ― Você poderia ter tido o dinheiro, ― ela disse. ― Você foi embora. Por quê? ― Esse é o meu negócio... ― E as cartas eram o meu negócio. Você descobriu sobre mim. Agora quero saber sobre você. Ele gemeu e se atrapalhou com seus cigarros. Uma multidão de estudantes do ensino médio passou, todos em uniformes, rindo, conversando, agarrando café e bolsa de educação física. Os rapazes estavam todos em casacos e gravatas. As meninas estavam todas em saias azuis combinando com os mesmos casacos e gravatas. O efeito
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geral era que todo mundo parecia mais velho, mais digno e belo, mas todos tinham um olhar assustado oh-meu-Deus-o-feriado-está-acabado-e-escola-ainda-existe em seus rostos. Ela teria aquele olhar em seu rosto em dois dias. ― Que bom, ― ele enfiou um cigarro entre seus lábios. ― Que bem você vai fazer vindo aqui? Por que importa o que fiz? Acabou. Apenas não quis levar isso até o fim. Você quer um pedido de desculpas? Sinto muito. Pronto. Está feliz? Vai partir agora? Não. Ela não partiria agora. Ela não sabia o bem que iria fazer, ou mesmo o que ela esperava ouvir. Ela só queria mais alguma coisa. ― Então, você é um garçom?― ela perguntou. ― Sou o gerente ― Que tipo de restaurante é esse? ― É um MacDonald‖s decorativo com homus 19 . Este é o Período de Perguntas? ― Você leu a última carta, ― ela diz. ― Sabe como termina. Isso apenas acaba. Estou doente de coisas que acabam sem respostas. ― Bem, então está em boa companhia. É assim que todos no mundo se sentem... Ele continuou descendo a colina, através da multidão de compradores. Ele estava mais uma vez fazendo o que Keith tinha derrisoriamente descrito como o
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pasta de grão de bico e tahine.
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caminhar elegante, seu casaco batendo ao redor de seus tornozelos. Ginny tinha dificuldades em continuar, com sua mala. Era muito difícil arrastá-la sobre os paralelepípedos, então ela teve que se manter na calçada. Ele esperou por ela para alcançar o fim da rua, uma vez que ele alcançou a pequena ponte sobre o pequeno rio que corria através do centro da cidade. ― A estação é nesse caminho, ― ele disse. ― A passagem pelo Convento é complicada, então tome cuidado. Ele apontou para outro ramo de lojas e restaurantes e um cruzamento muito complexo. Ginny não seria dispensada como isso, mas ela não tinha ideia do que fazer. Era hora de fazer algo, dizer algo. Qualquer coisa. ― Minha tia teria gostado de você, ― ela disse. Ela não tinha certeza de onde veio essa afirmação, mas sabia que era verdade no momento em que disse. Tia Peg teria gostado do plano de Oliver, mesmo se isso envolvesse metade do dinheiro. Ela teria gostado dele ainda mais por ter passado por todos esses problemas e depois não levar o dinheiro. Ela teria gostado dos truques do cartão e de memorização. Na verdade, era quase como se Tia Peg tivesse planejado para ele estar lá todo o tempo. Mas, é claro, ela não tinha. Oliver estava certo. Tia Peg não tinha nada a ver com as pessoas que Ginny conhecia. Ela atraía pessoas como Oliver tudo por conta própria. Verdade ou não, a declaração não teve o efeito pretendido. Oliver fez um pesaroso barulho rindo. ― De alguma forma, eu duvido disso, ― ele disse, enquanto se afastava.
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Não havia nenhum ponto persegui-lo novamente. Ele não queria vê-la. Era hora de encarar os fatos. Ela tinha que pegar um trem e partir. A travessia foi difícil, como Oliver disse. Ela teve que esperar com um grupo de pessoas pelo pequeno homem verde aparecer no sinal do camarote, em seguida colocar-se em uma ilha de tráfego e cruzar novamente. E novamente. Ela não percebeu Oliver vindo atrás dela. ― É um caminho complicado até a estação, ― ele disse. ― É melhor eu te mostrar Ele pegou a bolsa de seu aperto e andou – mas mais lento dessa vez, para que ela pudesse andar ao lado dele. Resultou que o caminho para estação não era tão direto como ele tinha indicado. Era enrolado através de um estacionamento de vários andares, além de um cinema, sobre outra passarela... Guildford era muito mais complexa a pé. Ela nunca teria encontrado seu caminho de volta. Oliver estava tremendo um pouco. Suas mãos estavam instáveis. Ele tentou escondê-las atrás de suas costas, mas antes que ele pudesse, Ginny estendeu a sua, tomou sua mão e a apertou. Primeiro, tremeu forte, depois diminuiu. Ele não olharia para ela diretamente, ele leu a embarcação ao invés. ― Seu trem está na plataforma cinco, ― ele disse. Ele fez um esforço indiferente para puxar sua mão livre, mas ela não o deixaria ir. Ele piscou e rolou seus olhos para cima. Não foi um gesto de desprezo. Era o tipo de coisa que você faz quando não queria reagir ou se emocionar.
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― Costumávamos ter pouco dinheiro, ― ele disse. ― Isso veio de minha avó. Não era muito, mas o suficiente para meus pais me mandarem para escola. Portanto o sotaque. Então, eu realmente não sei muito sobre como meus pais obtinham quando eu era criança. Parecia tudo bem. Não ótimo, mas tudo bem. Quando eu fui para uma universidade distante, meu pai saiu em protesto. ― Sinto muito, ― Ginny disse. ― Ele é um bastardo, ― Oliver disse claramente. ― Não me importo sobre ele. Era com minha mãe que eu estava preocupado. Quando ela me ligou, ela estava completamente caindo aos pedaços. Então parti por alguns dias para cuidar das coisas. Então poucos dias tornaram-se duas semanas, então eu tinha acidentalmente deixado a universidade por um ano. Era para ser temporário, mas...não voltei novamente este ano ― É por isso que não está na escola? ― Essa é a razão, ― ele disse. ― Meu pai controlou o dinheiro. Minha mãe nunca foi boa nesse tipo de coisa. Ela estava um pouco quebrada; ela não poderia lidar com as contas e a papelada vinda. Então voltei e comecei a trabalhar no Elephant. Ela não queria isso. Ela se sentiu mal sobre eu deixar a universidade, mas... tinha de ser feito. De qualquer forma... por volta de Outubro, eu realmente não poderia aguentar mais, então peguei um pouco de dinheiro que tinha guardado e fui para Grécia por algumas semanas para pensar sobre o que eu queria fazer a seguir. Minha mala quebrou, e acabei ficando com as suas. Então encontrei as cartas. Elas eram tão estranhas. Comecei a procurar o material que li nelas. Elas me deram algum foco. Foi quando descobri sobre a venda. E pude ver que você nunca abriu à última, e não houve um registro da última peça como a descrita, então havia mais alguma coisa lá
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fora. Achei que se você já tinha feito muito dinheiro com a primeira venda...não era como se eu estivesse roubando alguém falido. Então eu poderia dar a minha mãe dinheiro suficiente para ajudá-la a sobreviver, e poderia voltar a escola. Mas a única maneira de fazer isso, seria se eu nunca pestanejasse. Então eu tentei. Tentei fazê-lo e ser honesto e subir sobre isso. Uma voz fria anunciou a chegada iminente do trem de Ginny. O tempo era muito curto. ― Se você tivesse me dito isso, ― ela disse. ― Eu teria concordado com isso. Você não teria que fazer tudo isso. Eu teria apenas lhe dado algum dinheiro. ― Eu sei disso. Pelo menos, faço isso agora. E isso é o que torna pior. Isso realmente fez muito mais fácil seu amigo vir conosco e ser muito idiota. Ginny relutantemente liberou sua mão. Colocou ao seu lado. Ele estava olhando para ela agora. ― Então agora você sabe, ― ele disse. ― Está satisfeita? ― Ainda não, ― ela disse. Ela estendeu sua mão, pegou a dele e a apertou. No começo, estava rígida, depois suavizou. Ela importava para ele. Ele estava com medo. Ela largou sua mala, subiu na ponta de seus pés e o beijou. Forte. Ofensivamente e em público e bem na frente das pessoas tentando sair do Café Costa. Ela colocou seus braços ao redor dele. Beijando...real, beijando adequado...faz você perder todo o senso de lugar e tempo. Ela estava vagamente consciente de que estavam bloqueando as pessoas que
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tentavam se mover ao redor, que um grupo de crianças estava fazendo comentários, que Oliver tinha feito uma concha ao redor dela e estava mais ou menos a suportando para que ela não tivesse que se esforçar para encontrar sua altura. Esse foi um dos verdadeiros momentos que realmente fazem você sentir como se seu corpo estivesse completamente gelatinoso, e você gosta disso. Um irritável segundo anúncio a estalou de volta a realidade. Isso reiterou que o trem estava chegando. Seria arrastado a qualquer momento. Sarcástico, o anúncio interrompendo. Não houve tempo para dizer adeus. Ginny alcançou ao redor, tentando encontrar a alça de sua mala enquanto Oliver a liberava e lentamente separavam seus lábios. Ela estava tonta, por isso foi difícil conseguir seu bilhete na pequena abertura. Na verdade, ela se esqueceu que uma vez que ela colocou seu bilhete através, Oliver não poderia vir com ela, então eles foram imediatamente separados por uma barra de metal. Quando ela se virou, ele estava fazendo algo que ela nunca tinha o visto fazer. Ele estava sorrindo. Ginny tomou seu lugar no trem, sua cabeça ainda girando. Estava lotado, cheio de pessoas que viajavam diariamente para Londres para trabalhar, ou talvez para aproveitar o último dia de feriado. Ela se sentou do outro lado de um grupo de mães com suas filhas, talvez dez ou onze anos, em um grande dia. Eles estavam conversando sobre ir ao cinema e discutindo onde queriam jantar naquela noite. Ela não estava inteiramente certa sobre o que tinha acabado de acontecer ou o que significava, ela apenas sabia que não estava pronta para ir. Ela não estava pronta para deixar todos para trás – Keith, Richard, Mari, Oliver. Mesmo essas meninas no
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trem. Ela não queria deixá-las também. Eles eram todos parte de uma imagem, uma imagem que Ginny amava. Mas o trem acelerou eficientemente através da manhã clara e ensolarada, passando florestas, cidade e campos com cavalos. Estava a levando direto no coração de Londres, e de lá, outro trem a levaria ao aeroporto, e um avião a levaria para casa. Casa. Era um pensamento agradável. Ela tinha perdido seus pais, seus amigos...mas a palavra não tinha mais o mesmo significado. Inglaterra era sua casa também. Tanto dela estava aqui. A Questão flutuou de volta em sua mente. Tinha sido prolongada no passado, esperando o momento certo para fazer sentir sua presença. Como Oliver, ela também poderia memorizar coisas que eram importantes (embora isso era apenas duas frases, que era um pouco mais fácil). Descrever uma experiência de vida que mudou você. O que era isso, e o que você aprendeu? (1000 palavras). Talvez agora ela tinha a resposta dela, e era apenas uma palavra: Inglaterra. Claro, aquilo não expressava a grande quantidade de informação, mas aquelas pessoas não tinham o direito de se intrometer em sua vida. Eles eram oficiais da admissão da faculdade, não terapeutas. Não é como se eles se importassem com as respostas dela. Eles apenas queriam ver se ela era uma estudante funcional que podia escrever três páginas que fariam algum sentido. Ela não iria dizer-lhes a verdade, que ela queria que alguém bloqueasse seu caminho. Ela queria que esse trem quebrasse, que seu vôo fosse cancelado, que a imigração dissesse que ela não tinha permissão para partir. Ela queria que Londres se levantasse e recusasse a deixá-la passar por suas fronteiras.
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E então, assim como o carrinho de lanche veio e acidentalmente golpeou seu cotovelo, ela percebeu exatamente o que tinha de fazer. Ao longo de quinze minutos, em algum lugar entre Clapham Junction e a Estação Waterloo, ela descobriu seu futuro. Não os detalhes... não havia nenhum ponto em pensar nos detalhes. Apenas o básico. Ela mentalmente paginou através de um calendário e fez um pouco de matemática. Os prazos poderiam provavelmente ser apertados. Haveria muito trabalho e pesquisa a serem feitos rapidamente, mas ela tinha feito coisas mais difíceis. Richard estava esperando por ela em uma das lojas de café que se alinhava com a Estação Victoria, fazendo palavras cruzadas. Ginny correu em direção a ele, e ele olhou para cima com um sorriso e um aceno. ― Você parece pronta para ir, ― ele disse. ― Bem, ― Ginny respondeu, deslizando no assento ao seu lado. ― Sobre isso...O que você sabe sobre pedidos em Universidades aqui? E, como, me ter por perto. Por alguns anos. Não em sua casa, mas, você sabe... Richard levou um momento para pegar o que Ginny estava dizendo. Ele olhou para seu café cuidadosamente e virou a xícara algumas vezes. ― Eu acho, ― ele disse, ―que se era isso que você planejava fazer, então podemos conseguir essa informação. E que você sempre terá um lugar para ficar, mesmo em minha casa, durante o tempo que você quiser. Agora tudo fez sentido. Não era como se tudo estivesse resolvido agora, ou cada plano feito, cada resposta na mão...mas agora havia uma forma para as coisas. E enquanto eles caminhavam para o trem do aeroporto e Ginny deu uma última olhada
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ao redor da estação, ela sabia que seria mais fácil dizer adeus dessa vez. É sempre mais fácil dizer adeus quando você sabe que é apenas um prelúdio para dizer Olá.
Fim.
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Na mitologia nórdica, as valquírias eram deidades menores, servas de Odin. O termo deriva do nórdico antigo valkyrja (em tradução literal significa "as que escolhem os que vão morrer.)
As valquírias eram belas jovens mulheres que montadas em cavalos alados e armadas com elmos e lanças, sobrevoavam os campos de batalha escolhendo quais guerreiros, os mais bravos, recém-abatidos entrariam no Valhala. Elas o faziam por ordem e benefício de Odin, que precisava de muitos guerreiros corajosos para a batalha vindoura do Ragnarok.
As valquírias escoltavam esses heróis, que eram conhecidos como Einherjar, para Valhala, o salão de Odin. Lá, os
escolhidos lutariam todos os dias e festejariam todas as noites em preparação ao Ragnarok, quando ajudariam a defender Asgard na batalha final, em que os deuses morreriam. Devido a um acordo de Odin com a deusa Freya, que chefiava as valquírias, metade desses guerreiros e todas as mulheres mortas em batalha eram levadas para o palácio da deusa.
As valquírias cavalgavam nos céus com armaduras brilhantes e ajudavam a determinar o vitorioso das batalhas e
o curso das guerras. Elas também serviam a Odin como mensageiras e quando cavalgavam como tais, suas armaduras faiscavam causando o estranho fenômeno atmosférico chamado de Aurora Boreal.