UNI-CV UNIVERSIDADE PÚBLICA DE CABO VERDE Departamento das Ciências Sociais e Humanas Pólo do Mindelo
Disciplina Filosofia Contemporânea II Trabalho de pesquisa
TEMA
“Hans Georg Gadamer e a Teoria da Hermenêutica”
Gadamer (1900 – 2002)
Docente: Mestre: Elisa Silva
Discentes: Arlindo Rocha Roberto Andrade Hélida Lopes Zenaida Cruz Elaborado em Maio/Junho de 2010 Alunos do quarto ano do curso de licenciatura em filosofia
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Índice
1 – Introdução............................................................................................................................. 2 2 - Vida e Obras ......................................................................................................................... 3 3 - Historiografia do Conceito de Hermenêutica........................................................................ 4 4 - O Conhecimento Histórico como Diálogo. ........................................................................... 6 5 - A Hermenêutica Filosófica ................................................................................................... 7 6 - A Hermeneutica Filosófica após a Crítica .......................................................................... 11 7 - A História dos Efeitos e a “Conciência Hermenêutica” ..................................................... 13 8 - A Perspectiva Ontológica e Temporal de Verdade em Gadamer ....................................... 14 9 - Conseqüências da Hermenêutica Filosófica para a História e as Ciências Humanas. ........ 17 10 - Conclusão .......................................................................................................................... 19 11 - Referências Bibliográficas: ............................................................................................... 21
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1 – Introdução O objectivo do presente trabalho “Hans Geog Gadamer e a Teoria da Hermenêutica” é o de expôr suas reflexões acerca da hermenêutica, e a problemática em geral acerca do tema linguagem, ferramenta que extrapola de si mesma, abrindo perspectivas além da mera semântica ou filologia. O trabalho de Gadamer, importante hermeneuta do séc. XX, foi contribuição de grande valia para a filosofia e a hermenêutica contemporâneas, que desenvolveu em relação aos aspectos da fenomenologia de Husserl. Deve-se a ele a estrutura dialógica da comunicação e a compreensão do ser humano da realidade que o cerca, da qual retira elementos auxiliadores da própria compreensão de si mesmo. Assim, do processo hermenêutico definido por Gadamer, envolve-se uma dialéctica de compreensão de textos, a fim de aplicá-los aos diversos sectores da vida, dada que essa é a sua finalidade última, determinar regras às práticas sociais, sendo ele mesmo uma das práticas sociais. A hermenêutica filosófica de Gadamer, requer mais do que um papel de apenas indicação de possíveis interpretações, mas sim requer uma posição hermenêutica criativa diante dos problemas. Propõe então á desenvolver e ampliar as descobertas sobre a compreensão, agora como “modo de ser originário da vida humana” e, em particular, sobre a compreensão nas ciências humanas. A estrutura existencial , fundamento da compreensão, deve estar na base das ciências do homem. Na historiografia, em particular, torna-se primordial o desenvolvimento teórico do que significa o passado ainda actuante. Suas reflexões o levam a uma crítica do modo como as ciências se definiram a partir do Iluminismo, e a uma revisão radical do significado de conceitos como, tradição, autoridade e outros. Para Gadamer aprender a dizer a palavra é aprender a ser em última instância, livre. Ser livre é ter a autonomia do ser de si, em si e para si, é um ser “Eu” além do cristianismo, já que neste o apêndice ainda é Deus. Se apreender a dizer a palavra, é de suma importância, a sua interpretação torna-se assim ferramenta indispensável para a sua compreensão, e foi isso que o nosso grupo tentou fazer, através de uma recolha de excertos essenciais da vasta obra de Gadamer, alargando assim o nosso campo de conhecimento no que tange as suas reflexões, mas também sintetizar aspectos que consideramos relevantes, para a interpretação e a compreensão de outros textos, filosóficos ou não, tendo sempre como ferramenta imprescindível, a hermenêutica textual.
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2 - Vida e Obra Hans Georg Gadamer (Marburg,11 de Fevereiro de 1900 – Heidelberg,13 de Março de 2002), foi um filósofo alemão. É considerado como um dos maiores expoentes da hermenêutica filosófica. Foi mestre de Gianni Vattimo, o qual introduziu o pensamento de Gadamer na Itália. Viveu em Breslau, hoje Polônia, onde frequentou a Universidade até 1919. Nesse ano voltou a Marburgo junto a sua família, e completou o Doutorado em 1922, estudando junto a Paul Natorp e Nicolai Hartman. Entre 1923 e 1928 estudou e foi assistente de Heidegger em Marburgo, que exerceu um forte efeito em Gadamer que, depois que Heidegger declarara seu desapontamento com seu trabalho, decidiu concentrar-se na filologia, e passou o exame estatal em filologia clássica em 1927 sob orientação de Paul Friedlander. Em 1928 começou a ensinar como professor substituto em Marburgo, e foi apontado como professor titular em 1937. Em 1939 assumiu como Diretor do Instituto de Filosofia em Leipzig, em 1946 foi eleito Decano da Faculdade, e em 1947, Reitor. No ano seguinte retornou ao ensino e a pesquisa em Frankfurt, e em 1949 tornou-se o sucessor da cátedra de Karl Jaspers em Heidelberg até se aposentar como Professor Emérito em 1968. Sua obra de maior impacto foi “Verdade e método” de 1960, ao que se seguiram diversos artigos e participação em debates, dos quais os mais renomados aqueles que desenvolveu junto a Emilio Betti,
Habermas e Jacques Derrida. Depois de retirar-se
oficialmente, realizou diferentes viagens e passou algum tempo nos Estados Unidos como professor visitante em diferentes universidades e recebeu diversos prémios, entre eles o mais alto reconhecimento acadêmico da Alemanha, Cavaleiro da Ordem de Mérito. Gadamer atravessou todo o conturbado século XX e morreu em Heidelberg, em 13 de Março de 2002, com 102 anos, sendo considerado o pensador mais longevo da história da filosofia ocidental.
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3 - Historiografia do Conceito de Hermenêutica O termo hermenêutico deriva do verbo grego hermeneuein e do substantivo hermeneia, que significam, em sua extensão semântica, algo que “é tornado compreensível”, “levado à compreensão”. Muitos autores correlacionam o termo ao Deus grego Hermes, o mensageiro dos deuses - a quem se atribui a origem da linguagem e da escrita -, que tinha o dom de permitir às divindades falarem entre si e também aos homens. De uma forma ou de outra, facto é que o termo está directamente associado à idéia de compreensão de algo antes ininteligível. Não havia ciência hábil a desenvolver métodos que levassem interpretação correcta, até o século XVII. Neste período, os embates entre católicos e protestantes remontados à reforma religiosa conscientizaram a necessidade de se desenvolver uma ciência capaz de interpretar com maior verdade possível. Vale citar que tal necessidade se viu inadiável a partir da divulgação do princípio scriptura sola, mediante o qual Lutero afirma que a Bíblia devia ser interpretada por si só, contrariando a Igreja Católica que se dizia a única capaz de interpretar a Escritura. Com efeito, em primeiro momento, a Hermenêutica passou a servir de auxiliar da Teologia. O Iluminismo concedeu outras atribuições à Hermenêutica. A apologia à universalidade da razão e a crença no método científico, levaram-na a ser exportada para outros campos científicos (Filologia e Direito), mas ainda como ciência auxiliar. Schleiermacher1, no início do século XIX, deu a Hermenêutica outra importância. Avaliou, a partir da distinção entre os contextos em que a mesma se daria e os métodos científicos que proporcionariam direcção objectiva ao entendimento. Era aplicável não só ao conhecimento científico, mas a todos os domínios em que se fizesse necessária uma compreensibilidade através da palavra. Para
Schleiermacher a Hermenêutica reduzia-se à
técnica da boa interpretação de um texto falado ou escrito. Apregoando a existência de uma interrelação entre parte e todo, numa clara alusão ao que desde os tempos antigos se denominava círculo hermenêutico, ensinava que o conhecimento anterior da obra era fundamental à compreensão de suas partes, assim como a compreensão adequada das partes resultaria numa boa interpretação do todo. Dilthey2 sugere que a Hermenêutica é o alicerce de sustentação epistemológica das ciências do espírito. Ainda que limitadamente às humanidades, teve o mérito de assentar a
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Frederich D. E. Shellermarcher. Alemanha: 1768 – 1834. Wilhem Dilthey. Alemanha: 1833- 1911.
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Hermenêutica dentro do mundo histórico, divergindo daqueles que achavam ser possível importar métodos das ciências naturais para interpretar fenômenos vivenciais. Heidegger3 inova completamente os estudos sobre a Hermenêutica quando afirma que as coisas correntes no mundo não são compreensíveis a partir da apropriação intelectiva do homem via dicotomia sujeito/objeto, mas a partir da perspectiva de que são fenômenos que, independentemente do subjectivo humano, possuem a potencialidade de se apresentar como são. A Hermenêutica é um modo de existência, algo anterior e mais profundo do que a actividade interpretativa, e passa a ser compreendida, pois, como fenomenologia da existência A fundação da Hermenêutica contemporânea é atribuída a GADAMER 4. Ele contrapõe toda definição que havia no século XIX sobre o tema, afirmando ser a Hermenêutica uma disciplina filosófica que, além de possuir um foco epistemológico, também estuda o fenômeno da compreensão por si mesmo, isto é, tem como preocupação não apenas o fenômeno em tese, mas também a operação humana do compreender. Ao proceder ao que ficou conhecido como giro herenêutico, inaugurou a Hermenêutica como Hermenêutica Filosófica. Gadamer deu ao fenômeno do compreender nova conotação. Para ele, a compreensão não apresenta uma estrutura tipicamente circular (se assim fosse o intérprete sairia do movimento do mesmo modo que entrou), e, sim, espiral. Segundo seu entendimento, a análise do texto, com as pré-compreensões do intérprete, tem como resultado um primeiro sugnificado que precisa ser continuamente revisto à base de penetrações mais profundas no texto, até que, naturalmente, com o passar do tempo, sejam descobertos novos sentidos que superam as pressuposições anteriores (um elemento continua dialeticamente a determinar-se e formar-se no outro). O intérprete deve deixar que o texto lhe diga algo (alteridade do texto) e não querer que se adapte aos próprios preconceitos, porque o texto adquire vida autónoma e sequer depende daquilo que o autor tencionou dizer (efeitos do texto). Gadamer jamais negou o método como aferição da verdade, muito embora queria ser o atingimento da verdade impossível. Contudo, acreditando estar a Hermenêutica posicionada antes de qualquer método científico, presumia que a aferição da verdade necessariamente dependeria da situação hermenêutica do intérprete aplicador do método.
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Martin Heidegger. Alemanha: 1899 – 1976. Hans Georg Gadamar . Alemanha: 1900 - 2002.
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4 - O Conhecimento Histórico como Diálogo O fenômeno hermenêutico para Gadamer tem o caráter de um diálogo. Sua estrutura é então a da questão e da resposta. A “abertura” que a relação com os textos da tradição implica, leva o intérprete a formular questões. Entretanto, neste ponto, o ideal metodológico se frustra: não existe método para se aprender a questionar, pois todo questionamento pressupõe um “saber do não saber”, “uma ignorância precisa que conduz a uma questão precisa”. Para Gadamer, ocorre em todo fenômeno hermenêutico o “primado” da questão, isto é, o texto interpretado é interpelado pela questão que lhe é posta e seu sentido depende disso. Da mesma forma, o interprete também é tocado pela questão apresentada pelo texto. Gadamer concorda que entender um texto é entender a questão que este nos apresenta. Essa tarefa pressupõe a aquisição do “horizonte hermenêutico”, o horizonte da questão da qual o texto é uma das respostas possíveis. Em outras palavras, compreender a questão que está em jogo em um texto não se limita a entender a questão do autor no acto da escrita. As tendências de sentido ultrapassam em muito essa problemática historicista. O sentido de um texto normalmente ultrapassa o que um autor tinha em vista. Gadamer chama a atenção para o papel fundamental da temporalidade histórica no estabelecimento do sentido dos textos. Este carácter dialógico que Gadamer reivindica para a compreensão e para a ciência histórica é fundamental para entendermos o papel ético-social que pretende conferir a todo tipo de conhecimento. Gadamer denuncia nossa época actual como um momento que a ciência é a palavra de ordem absoluta, um fim em si mesmo. Cada vez mais a ciência é vista como instância suprema de decisão das questões humanas. Em resposta a essa “consciência científica exacerbada”, o filósofo propõe o retorno ao diálogo com vistas ao entendimento entre os homens, povos e nações. Sua aposta está num saber, não mais monológico, como na ciência, mas num saber dialógico, uma “razão prática” geral, que venha em auxílio do homem em sua busca por novas perspectivas e possibilidades de futuro.
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5 - A Hermenêutica Filosófica Embora contendo pressupostos de Heidegger e recebendo, posteriormente, contribuições de Habermas5, Apel6, Derrida7 e Ricouer8 a Hermenêutica Filosófica chega ao cume com Gadamer. O filósofo refuta o pensamento de que a obra de arte possa ser algo dissociada do observador (e que, portanto, pode ser atingível em sua verdade pela aplicação do método clássico). Alimenta, também, a tese de que observador e objecto analisado coexistem no mesmo mundo, não podendo ser subentendido como duas coisas isoladas. Além disso, chega à conclusão de que a compreensão possível não deverá ser apenas estética, mas também histórica, daí porque, deve situar-se dentro da História, requerendo-se, portanto, a manutenção de um íntimo diálogo entre Hermenêutica e modernidade. A sua compleza obra filosófica é composta por várias estruturas fundamentais da compreensão, todas vinculadas entre si: o horizonte histórico, o círculo hermenêutico, a mediação, o diálogo e a linguística.
5.1. O Horizonte Histórico Gadamer conceitua horizonte como “o âmbito de visão que abarca e encerra tudo o que é visível a partir de um determinado ponto” . Tal horizonte não tem fronteira rígida, pelo contrário, é deslocável à medida que se dá o processo de interpretação. Vale ressaltar que este deslocamento jamais se dará para o sentido do fechamento do processo de interpretação, dar-seá, sim, sempre no sentido da abertura do mesmo, no rumo de um padrão cada vez mais próximo do correto. Partindo da compreensão de que o ser humano é incluído na história e que, por isso, acrescenta ao seu âmbito de visão conjunto de experiências trazidas pela tradição (que, inclusive, amolda-lhe a intelecção, o que denomina de princípio da história efeitual), Gadamer conclui, embassado na noção de pré-compreensão de HEIDEGGER, que horizonte histórico é o campo de visão acrescido de todos os pré-juízos e preconceitos já adquiridos. Sua linha de raciocínio não pára por aí, sugere dois horizontes distintos à interpretação: o horizonte daquele que interpreta e o horizonte do objeto da interpretação. Mas eis que tais horizontes não são desprovidos de historicidade.
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Jurgen Habermas . Alemanha: 1929 – . Karl Otto. Alemanha: 1912 -. 7 Jacques Derrida. França (Argélia): 1930 - 2004. 8 Paul Ricouer. França: 1913-2005. 6
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5.2. O Círculo Hermenêutico O processo de interpretação se dá através de uma interação ontológico-dialética (representada em forma de espiral), entre a consciência histórica do intérprete e a abertura interpretativa permitida pelo objeto, a partir de seu mundo próprio. Partindo da noção de existência de dois horizontes, Gadamer conclui que o ser humano interpreta através de uma fusão de horizontes, ou seja, a compreensão verdadeiramente se apresenta quando há interação, daquilo que se conhece e daquilo que se propõe a conhecer. Além disso, necessariamente haverá, também, interação circular entre passado e presente, desde que o horizonte do presente, estando em constante mutação, não pode assentar-se à margem do passado. Como conseqüência da fusão de horizontes, apresenta-se evidente a fusão de três características antes concebidas como distintas: compreensão, interpretação e aplicação. Para Gadamer, a interpretação nada mais é do que a forma explícita da compreensão. Por seu turno, a aplicação integra o acto de compreender, ou seja, compreende-se aplicando. Tal dedução é de extrema importância para a Hermenêutica Constitucional, na medida em que é base/fundamento de um de seus princípios, o da concretização, segundo o qual a interpretação da lei consiste em sua concretização em cada caso concreto, resumindo, a lei realiza na sua aplicação, já que o juiz deve adequar a especificidade dos factos à generalidade da norma.
5.3. A Mediação Para Gadamer, dentre as estruturas fundamentais para a compreensão está a mediação que consiste no facto de que, todo fenómeno que nos é posta à frente, jamais se mostra em sua pureza objectiva e história, como que isolado e pronto à descoberta em seu estado bruto, mas antes aparece matizado pelo espectro de cores que formam o raio de visão daquele que o observa. Assim se afirma para concluir que nenhum objecto é compreendido na totalidade de seu sentido, mas parcialmente, ou seja, a compreensão é influenciada pelo prisma sob o qual o intérprete o analisa. É o conhecimento de algo como algo. Há uma pluralidade de camadas de sentido, importando dizer que através do processo da mediação podemos alcançar a compreensão plena do objeto. É que a análise está contaminada pela tradição em que o intérprete se acha situado e de onde ele recebe as experiências e preconceitos que o influenciam na compreensão (conhecimento) do objeto. A busca da revelação (retirada do véu) é o constante projetar e
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reprojetar de sentidos. Aí se insere o conceito de distância temporal adoptado por Gadamer , para salientar que o recuo histórico permite aferir que opiniões fizeram jus ao fenómeno, dissociando-as das que dele se separaram. Daí decorre que toda actividade interpretativa é de reconhecimento, ou seja, de conhecer novamente o objecto analisado, aí resultando na importância da situação histórica do objeto interpretado e da tradição na qual o intérprete se acha inserido, em confronto (choque, mediação) com o horizonte actual, este já impregnado pela compreensão precedente. Assim sucessivamente o ciclo se repete até a plenitude do conhecimento do objecto analisado, que é delimitada (a plenitude) pelo impulso que nos instiga a conhecer.
5.4. O Diálogo Para Gadamer, a maneira pela qual o intérprete busca a abertura para a verdade do objecto observado e sua estrutura é a dialética da pergunta e da resposta, processo que marca o carácter dialógico da compreensão. Interrogar é abrir-se ao conhecimento é impulsionar a vontade de saber, é pressupor que do objecto observado nada ou pouco se sabe, o que em última análise também confirma a historicidade e a mediação como estruturas fundamentais para a compreensão. O processo dialógico de interrogar é também reconhecer a polaridade existente entre o que se conhece e o que se desconhece, encontrando-se a Hermenêutica na posição intermediária. Isso reforça a negativa da separação entre sujeito e objeto no fluxo do conhecimento, ou seja, não há que se falar em conhecimento gerado por meio de um movimento unidirecional que parte do sujeito, unidade absoluta de compreensão, em direção ao objecto. O autor assevera que a chave para a compreensão se dá no relacionamento íntimo entre sujeito e objecto, suscitando a conclusão de que o resultado final do processo encontra-se, de certa forma, latente no próprio objecto interpretado.
5.5. A Linguisticidade Como estrutura fundamental para a compreensão, em termos de Hermenêutica Filosófica, encontra-se a linguisticidade, que nada mais é do que o meio pelo qual ocorre a compreensão, pois tanto o pensamento como a comunicação são realizados através da linguagem. Esta não pode ser vista como mero instrumento de interligação subjectiva entre a coisa (objecto) e o intérprete (sujeito), pois além de possibilitar o conhecimento dos fenómenos a ela pertencemos e nela estamos contidos.
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Parte-se da premissa de que toda linguagem é convencional, pois são convenções para designar os fenômenos e não propriedade intrínseca destes, ou seja, para o autor, as palavras não são fruto de uma atribuição intelectiva feita pelo homem às coisas, mas sim, convenções que refletem a possibilidade de o tema vir à tona. Gadamer adopta um raciocínio inovador ao afirmar que “o ser que pode ser compreendido é linguagem”, transformando-a, assim, no elemento universal da Hermenêutica, pois todo fenómeno é linguisticamente delineado.
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6 - A Hermeneutica Filosófica após a Crítica A hermeneutica Filosófica de Gadamer, foi acusada de subjetivismo, relativismo, conservadorismo e submissão cega à tradição. Um dos principais críticos de Gadamer foi Jurgen Habermas. O núcleo da divergência se encontra no facto de Habermas criticar a superestimação dos preconceitos ou pré-concepções vinculadas à tradição, vista na teoria de Gadamer. Entretanto, Habermas em muito concordava com Gadamer, entre os pontos de consenso havia o conceito de temporalidade intrínseca à compreensão, na medida em que esta se encontra vinculada ao acontecer histórico no qual o intérprete se acha inserido, ou seja, Habermas também critica a redução positivista da verdade ao conceito de método. Para Habermas, a Hermenêutica Filosófica tal como é posta por Gadamer, não pode pretender a universalidade a que se propõe, pois destruindo a idéia iluminista de racionalidade, não está apta a reflectir sobre a dimensão ideológica presente em toda linguagem, assim não consegue estabelecer padrões racionais que possam distinguir os preconceitos legítimos dos ilegítimos. Para Habermas, a Hermenêutica somente seria universal se a linguagem fosse isenta da dominação, no entanto, como a linguagem reflecte a relação dominantes/dominados, a interpretação se torna comprometida. Daí a universalidade da Hermenêutica Filosófica somente seria possível alheia à influência ideológica. Habermas foi fundamental para uma revisão de alguns aspectos da hermenêutica filosófica de Gadamer, sendo repensado o papel da crítica dentro do processo de compreensão, o que implica igualmente repensar a função do método em relação ao tema verdade, assim, Gadamer se pôs a demonstrar que o seu círculo hermenêutico poderia deixar de ser vicioso – acriticamente influenciado por preconceitos ilegítimos – para ser virtuoso. Gadamer, portanto, esclarece que jamais foi contra a utilização do método científico na busca da verdade, mas reafirmou-se contrário ao conceito de que o método seria o único caminho infalível na busca da verdade absoluta e universal. Concorda, assim, com Habermas, ao admitir que a aceitação incondicional dos preconceitos tradicionais é incapaz de servir na busca da verdade. A pré-compreensão, embora necessária e incidente no processo interpretativo, deve ser temperada com propriedades críticas capazes de dissociar os preconceitos legítimos dos ilegítimos. Gadamer identifica essas propriedades críticas do processo de interpretação como sendo: a antecipação do todo; a distância temporal; a situação de aplicação e a retórica, assim, Gadamer ameniza o viés da submissão dogmática à tradição e à autoridade, identificada por Habermas em sua teoria, lançando a questão da legitimidade dos preconceitos. 11
Gadamer relativizou o conceito e a força da tradição e da autoridade no processo de Hermenêutica Filosófica, na medida em que seu reconhecimento não seria feito mediante uma submissão dogmática, mas através de um acto de razão que é livre por essência. Assim, não se pode reduzir o conceito de preconceito em Gadamer a uma mera assunção do que se chega pela tradição, mas sim, uma apropriação crítica desses preconceitos dissociando os legítimos dos ilegítimos.
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7 - A História dos Efeitos e a “Conciência Hermenêutica” O “modo mais elevado de consciência hermenêutica” deve comportar aquilo que Gadamer chama de “consciência da eficiência histórica”, a consciência de que a tradição histórica não está morta inteiramente, mas está viva em nossa cultura, e em nossos “preconceitos”. Os textos escritos e fenômenos históricos possuem relevância para os homens em geral e para a historiografia em particular em decorrência do efeito que causaram na história e somente deste modo podem ganhar sentido. Esta “história dos efeitos” actua sempre em qualquer acto compreensivo de forma inconsciente; é parte do pertencimento à tradição, dos preconceitos que determinam a compreensão. Gadamer propõe, entretanto, que o intérprete da tradição desenvolva um nível de consciência desses efeitos, embora esclareça que uma consciência total é impossível. Atentar a este entrelaçamento histórico-efeitual em que se encontra a consciência histórica é importante, não somente por possibilitar o afastamento dos preconceitos nocivos à compreensão, mas também, e principalmente, por trazer à luz aquelas “pressuposições sustentadoras” que guiam o compreender rumo às melhores e mais corretas questões. Este é, para Gadamer, o momento crucial de realização da compreensão: a consciência da “situação” hermenêutica, isto é, a obtenção do horizonte de questionamento correto na relação com a tradição. Nesse momento inerente a qualquer acto compreensivo, havendo dele certa consciência ou não por parte do intérprete, ocorre o que Gadamer chama de fusão de horizontes, momento em que o horizonte passado e o horizonte do intérprete se unem num único horizonte. Não se trata de horizontes fechados em si, a que o historiador ou o intérprete deve chegar. Gadamer esclarece que a noção de “horizonte” significa o âmbito de visão que abarca e encerra tudo o que é visível a partir de um determinado ponto. Horizonte móvel a partir do qual vive a vida humana e que a determina como sua origem e como sua tradição.
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8 - A Perspectiva Ontológica e Temporal de Verdade em Gadamer A hermenêutica filosófica de Gadamer sendo apoiada na perspectiva de uma exploração filosófica do carácter e das condições fundamentais de toda a compreensão, rejeita a idéia de métodos nas Ciências Sociais e de verdades absolutas e verificáveis que advenham desses métodos. Assim sendo, a mesma não se preocupa em apresentar uma metodologia para tais Ciências, interessando-se em descobrir o que elas são e que tipo de conhecimento e de verdade encerram. Desse modo, é que uma primeira observação que Gadamer faz nesse sentido é a de que a verdade nas Ciências Humanas encontra-se para além da questão de método. Criticando o facto de estas Ciências terem retido muito da herança humanística e da metodologia das Ciências Naturais, vai chamar a atenção para o facto delas não só possuírem objecto diferenciado das Ciências Biológicas, Físicas e Matemáticas, como, igualmente, sua própria relação com a verdade é distinta destas, posto que, suas ‘verdades’ não são verificáveis como ocorre nestas últimas, não prescindindo de métodos para constatá-las. Divergindo em Verdade e Método das Ciencias exatas, vai alertar para o facto de que “…a autocompreensão das Ciências Humanas é fundamentalmente errônea…” , à medida que, é apoiada numa busca de compreensão e de verdade que não estão em movimento. Gadamer questiona-se sobre a possibilidade de compreensão, e respondendo que “... toda compreensão é hermenêutica e, portanto, que uma análise da natureza da compreensão coincide com uma análise da ‘hermenêutica universal”, vai afirmar que a hermenêutica é o básico estar em movimento do Ser aí, do Ser no mundo, movimento este que constitui sua finitude, sua historicidade face ao universo. Desse modo, consequentemente para ele, então o estudo da hermenêutica é o “... estudo do Ser e, finalmente, o estudo da linguagem, porque o ‘Ser que pode ser compreendido é linguagem”. Com relação à experiência da verdade nas Ciências Sociais Gadamer vai afirmar que a experiência da arte é a que se encontra mais próxima dela, isto porque, para ele, nessas Ciências se deve entender que a verdade está intrinsecamente relacionada ao compreender e este compreender “... não implica a descoberta de leis gerais, mas torna imperativo compreender um fenômeno na sua concreção única e histórica”, e o caminho para isso se dá através de uma experiência da arte, porque só a arte revela as limitações do conceito Iluminista de verdade à medida que “ na experiência estética, é sempre a autocompreensão que tem lugar em relação a algo que é compreendida” Diante disso, é que levando em consideração a natureza dessa experiência, que denomina compreensivo-estética, vai defender que esta, sendo ontológica, possui como chave 14
para seu entendimento a linguagem, pois a linguagem, possibilitando a representação, possibilita igualmente a leitura interpretativa. Gadamer concorda com Heidegger no sentido de que a experiência compreensiva é prélingüística porque expressa uma relação ontológica, porque é através da linguagem que temos a oportunidade de lidar com esta experiência, interpretando-a. A interpretação vindo depois da compreensão, e não ao contrário como proferia a tradição hermenêutica, tenta dar conta dos preconceitos que existem no processo compreensivo, mas não na tentativa de superá-los, porém sim na de situá-los ante um olhar crítico. A análise das Ciências Sociais é oposta à das Ciências Naturais, posto que seu modo de compreensão é hermenêutico, contesta o caminho que vem sendo trilhado pelas ciencias, tendo em vista que, esse caminho é contaminado pelo objectivismo, pela racionalidade e pela tentativa de unir a certeza da Ciência à certeza da Filosofia. O conceito de experiência de vida de Gadamer, é diferente do de Husserl e do de Dilthey, não sendo epistemológico, é desvinculado da busca de critérios de validade e verdade acerca do conhecimento. Dessa forma, é que a compreensão, sendo concebida como a realização do Ser no mundo, é igualmente desvinculada de qualquer pretensão epistemológica, metodológica, tendo em vista que ela é ontológica. Isto é, que justifica o facto de que o objecto de pesquisa das Ciências Humanas não existe em si mesmo à medida que ele é constituído pela motivação da investigação na historicidade, pela compreensão que ocorre e que se dá no tempo em seus desdobramentos e contingências. Diante disso, é que Gadamer vai ser um feroz crítico de Dilthey devido ao facto dele não ter sido capaz de abandonar a necessidade de se encontrar um método para as Ciências Sociais - herança do Iluminismo -, dando importância a questões epistemológicas ao invés de ontológicas. Embora o elogie por interpretar a realidade histórica como um texto, contudo, o crítica por essa insistência em torno de uma metodologia, afirmando que esta implica ainda a necessidade de objectivar a realidade, facto que diz ser impossível. Assim, defende que "Ainda que Dilthey conceda que há uma diferença entre os modos de conhecer históricos e científicos, reivindica o mesmo tipo de objectividade para as ciências naturais e para as sociais”. A separação que Gadamer propõe entre verdade, método/objectividade apoiasse na idéia de que para ele ao invés da verdade é o preconceito que indica o nosso estar situados na história e no tempo; esta é a condição prévia de estarmos no mundo e não o seu obstáculo. É por isso que afirma que o método como critério de verdade não faz sentido.
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No que se refere à concepção de verdade difundida pelo Iluminismo e a universalidade que este movimento tenta imprimir ao método das Ciências Naturais, generalizando-o para as demais Ciências por se crer ser ele o único capaz de captar a realidade, Gadamer vai objectar chegando ao extremo de inverter a lógica, propondo a universalidade da compreensão e da hermenêutica para toda a Ciência.
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9 - Conseqüências da Hermenêutica Filosófica para a História e as Ciências Humanas. Gadamer não pretende com sua hermenêutica filosófica propor um novo método para as ciências humanas e a história. Sua tarefa é a explicação filosófica do caráter das condições fundamentais de toda a compreensão, expondo assim, o que estas ciências são para além de sua autoconsciência metodológica, e não a investigação metodológica no âmbito de suas actividades. Gadamer aposta que, embora tais ciências tenham surgido imbuídas do espírito das ciências modernas, puderam manter sua herança humanística, residindo nesta sua verdadeira vocação. A posição de Gadamer tem profundas implicações para as ciências humanas e a historia. A filosofia hermenêutica nos leva a por em primeiro plano no trabalho científico e, em particular, na historiografia, “a realização de nossa própria historicidade” . Tal realização pode-se dar de diferentes formas: Em primeiro lugar, a hermenêutica filosófica suscita no pesquisador um trabalho constante de esclarecimento sobre suas questões, motivos e “preconceitos” com relação ao material de pesquisa e sobre como isto está condicionando seu trabalho. Porém, essa exigência não implica o abandono de tais questões e idéias prévias, embora isso seja parte integrante da compreensão, mas principalmente o reconhecimento de seu potencial produtivo na formulação de questões. O “historiador gadameriano”, por assim dizer, não é alguém que domina uma metódologia apenas, mas um homem fundamentalmente ligado às questões de seu mundo e à actuação em seu tempo. A hermenêutica filosófica de Gadamer a primeira vista, separa inteiramente “verdade” e “método”: o estabelecimento de conhecimentos verdadeiros não dependeria de procedimentos metodológicos, mas se daria unicamente no interior dos processos ontológicos. Podemos entender de outra forma as conseqüências das idéias de Gadamer para as ciências humanas. Não se trata de banir o método, mas de reconhecer como anterior a sua ligação à totalidade de nossa experiência no mundo. Gadamer não pretende afirmar que qualquer conhecimento fundado na metodologia científica não produza conhecimentos verdadeiros. Sua intenção é mostrar que o método só se torna realmente produtivo quando vinculado a questões relevantes, que por sua vez não se desenvolvem através do conhecimento metodológico, mas da experiência humana de ser parte integrante de um mundo histórico. 17
A actitude objectiva faz parte do processo de conhecimento e de compreensão do mundo, mas não é o seu elemento mais importante. A teoria de Gadamer não parece levar necessariamente a uma postura acrítica. O fenômeno hermenêutico supõe, a revisão constante dos preconceitos trazidos pelo intérprete. Esta “revisão” já traz em si um sentido crítico, embora se trata de uma crítica que supõe uma relação de pertencimento com aquilo que é criticado. Gadamer defende uma crítica não racionalista, que não pretenda se retirar inteiramente da teia de determinações históricas; uma crítica fundada no diálogo, na proposição de idéias. As reflexões de Gadamer incitam a uma orientação da disciplina histórica para a “reinterpretacão criadora das heranças culturais” – para usar as palavras de Ricoeur - como atitude importante na criação de novas perspectivas de futuro, novas formas de pensar e agir. Neste esforço hermenêutico, a historiografia não mais apenas conhece o passado, mas esforçase por discutí-lo e reavaliá-lo à luz das questões do presente.
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10 - Conclusão Ao concluir este trabalho apraz-nos dizer que o objetivo foi apresentar o desenvolvimento das perspectivas de Gadammer no campo hermeneutico, referindo mesmo, que de forma sucinta, aos itens constantes do índice do trabalho. No caminho percorrido, verificamos em nossa reflexão que o pensamento gadameriano traz de volta à consciência filosófica, uma tradição que valoriza, os processos de procura de novos sentidos e novas aprendizagens, que ocorrem não só pela linguagem, mas também pelo diálogo vivo e pela interpretação. Como vimos ao longo deste trabalhoo, a hermenêutica filosófica desafia, uma tradição que se abre ao desconhecido, criando uma nova consciência da compreensão, e deu a esse fenômeno uma nova conotação. A compreensão não apresenta uma estrutura circular, mas sim em espiral e o intérprete deve deixar que o texto lhe diga algo, uma vez que o fenômeno hermenêutico tem o caráter de um diálogo. Para ele, entender um texto é entender a questão que este nos apresenta, o que pressupõe a aquisição do “horizonte hermenêutico”, o horizonte da questão da qual o texto é uma das respostas possíveis. Sua obra é composta por várias estruturas fundamentais da compreensão: o horizonte histórico, em que âmbito da visão que abarca tudo o que é visível a partir de um determinado ponto de vista; o círculo hermenêutico, com processo de interpretação que se dá através de uma interação em espiral, entre a consciência histórica do intérprete e a abertura interpretativa; a mediação, que consiste no facto de que, todo fenómeno que é nos posta à frente, jamais se mostra em sua pureza objectiva e história; o diálogo, maneira pela qual o intérprete busca a abertura para a verdade do objecto observado e sua estrutura é a dialética da pergunta e da resposta, processo que marca o carácter dialógico da compreensão¸ e a linguística, como meio pelo qual ocorre a compreensão, porque pensamento e a comunicação são realizados através da linguagem. Um dos principais críticos de Gadamer foi Jurgen Habermas, que classifica a hermeneutica como subjetivista, relativista, conservadora e submissa à tradição, e por isso, ele foi fundamental para uma revisão de alguns aspectos da hermenêutica filosófica de Gadamer, sendo repensado o papel da crítica dentro do processo de compreensão, o que implicou repensar a função do método em relação ao tema verdade. Gadamer crê que o “modo mais elevado de consciência hermenêutica” deve comportar a “consciência da eficiência histórica”, de que a tradição histórica não está morta inteiramente, 19
mas está viva em nossa cultura, e em nossos “preconceitos”, e propõe que o intérprete da tradição desenvolva um nível de consciência desses efeitos, embora uma consciência total é impossível. A hermenêutica filosófica de Gadamer, rejeita a idéia de métodos nas Ciências Sociais e de verdades absolutas e verificáveis que advenham desses métodos, e por isso não se preocupa em apresentar uma metodologia. Divergindo das Ciencias exatas, vai alertar que
a autocompreensão das Ciências
Humanas é errônea porque é apoiada numa busca de compreensão e de verdade que não estão em movimento. A análise das Ciências Sociais é oposta à das Ciências Exatas, porque seu modo de compreensão é hermenêutico, ao contrário do objectivismo, da racionalidade e pela tentativa de unir a certeza da Ciência à certeza da Filosofia. Gadamer não pretende propor um novo método para as ciências humanas e a história, e considera que, embora tais ciências tenham surgido imbuídas do espírito das ciências modernas, puderam manter sua herança humanística. A hermenêutica filosófica de Gadamer separa “verdade” e “método”: o estabelecimento de conhecimentos verdadeiros não dependeria de procedimentos metodológicos. De qualquer forma não se trata de banir o método, mas de reconhecer como anterior a sua ligação à totalidade de nossa experiência no mundo. Gadamer defende uma crítica não racionalista, mas sim uma crítica fundada no diálogo, na proposição de idéias. Por fim, achamos que a teoria Hermeneutica de Gadamer faz todo sentido, tendo em conta a inexistencia de um métdo universal aplicavél a todas às ciencias humans, tendo em conta a natureza do seu objecto de estudo, e que o caminho que se dever percorrer envolve uma dialéctica em aspiral visando descobrir novos sentidos, novos conhecimentos e novas aprendizagens, consciente de que a verdade nas ciências sociais e humans não é universal. Sendo assim, concordamos também que não é rigor metodológico, aplicado nas Ciencias Exatas que nos conduz a uma verdade, mas sim de uma correcta interpretação dos dados e dos factos a luz do processo hermeneutico, não como verdade adquirida mas sim , como uma construção. Concordamos também com a elevada importância que atribui ao diálogo constante e a interpretação textual como forma de ampliar o nosso horizonte, e que constitui uma procura cosntante de algo que precisa ser desvelado e que só graças a hermeneutica é possível.
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11 - Referências Bibliográficas: GADAMER, Hans Georg, 1999”Verdade e método; traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Tradução de Flávio Paulo Meurer. ed. Petrópolis: Vozes, v. 1.
FERREIRA, J. 2002 “A Hermenêutica de Heidegger e Gadamer”. Recife, UFPE, Projeto Virtus.
Web Grafia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hermen%C3%AAutica, consultada no dia 16 de Maio de 2010 às 16 horas. http://en.wikipedia.org/wiki/Hans-Georg_Gadamer, consultada no dia 16 de Maio de 2010 às 16 horas.
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