A IGREJA DA CUMIEIRA ENQUANTO PERTENÇA DO PADROADO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA– SUPOSTA PINTURA DE

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A IGREJA DA CUMIEIRA ENQUANTO PERTENÇA DO PADROADO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA1 – SUPOSTA PINTURA DE NICOLAU NASONI – Armando Palavras 1. Cumieira Durante os primeiros terços do século XVIII pertenceu ao Arcebispado de Braga. Só no terceiro quartel o pároco passou a ser apresentado pela Universidade de Coimbra. Em 1757, o pároco era abade, podendo renunciar obtida a devida licença do ordinário, porque a abadia pertencia à Oitava Regra da Chancelaria2. Por esta altura existia na freguesia3 uma irmandade, a do Santíssimo Nome de Jesus, tendo a sua igreja sete altares: o Altar-mor, Senhora do Rosário – colateral e do lado do Evangelho, São José, altar com a imagem do Senhor Crucificado que servia para depósito da pia baptismal, Senhor das Necessidades – do lado da Epistola, São Sebastião e São Gonçalo. Esta igreja fazia parte dos bens do Colégio das Artes, a quem passou a pertencer não se sabe muito bem desde quando nem porquê. Sabemos que em 1757/58 pertencia ao Arcebispado de Braga. Só a partir dessa data passou a fazer parte do Padroado da Universidade, ao seu Património Novo, constituído pelo conjunto de bens advindos, em 1774, da Companhia de Jesus, dado que o Colégio das Artes com todos os seus bens regressara já à posse da Universidade em 1772, por Provisão de 16 de Outubro4. A confirmação da Bula em missiva de sete de Fevereiro de 1784 pelo bacharel Bernardo António Teixeira Mourão e sua mulher Antónia Joaquina, que estaria na base desta transferência apresentada neste capítulo (Cumieira -19)5, também não é esclarecedora6. Como o documento de 1774 lhe não faz qualquer referência, esta transferência teria sido consumada no período que medeia 1  Os elementos deste trabalho podem ser consultados em: Os tectos durienses: a iconografia religiosa setecentista nas pinturas dos templos da região demarcada, tese doutoral defendida na Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Lusíada de Lisboa. Área científica: História da Arte. Orientada pelo Professor Doutor Luís Manuel Aguiar de Morais Teixeira, com a co-orientação da Professora Doutora Isabel Mayer Godinho Mendonça (2011). 2   Cardoso, Luís, Dicionário Geográfico, IANTT, Vol 11, rolo 320, mem. 363, fol. 2498-2499, 1757/58. 3   Tinha cinco capelas: Nossa Senhora da Esperança no lugar da Cumeeira, Senhora da Breia no lugar do Assento, São Paio em Bertelo, Santo Amaro na Veiga e Santa Bárbara num ermo da freguesia. 4   O Colégio das Artes, segundo António de Vasconcelos (1939) foi instituído por alvará de 16 de Fevereiro de 1553, principiando, contudo, a funcionar em 1548 (Os Colégios Universitários de Coimbra, p. 61). Foi entregue à Companhia de Jesus até 1759, ano em que esta foi expulsa de Portugal por decreto do Marquês de Pombal. Advinha, portanto, da tradição colegial medieval. Estas agremiações estavam anexas às Universidades. 5   Os restantes documentos serão a partir de agora, apenas numerados. 6   A Bula da União da Igreja da Cumieira ao colégio das Artes é ainda referida em documento sobre a Congrua do pároco (38).

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o ano de 1758 e 1772. O ano ao certo não o sabemos, bem como as razões que estariam na causa da mesma. Já pertença do padroado da Universidade, é feita a “Rellação das cazas e herdades pertencentes à Igreja de Santa Eulália da Comieira, extrahida do Tombo respectivo” (53). Esta Relação, sem data, além de descrever os bens da igreja nos vários lugares – aldeia de Bertelo, lugar da Sercegueda, freguesia de Poiares, vale de Lobrigos, São Miguel de Lobrigos e Quinta das Lamas – descreve-nos o título do assento da igreja, o título da redondeza do assento, o termo e o limite da freguesia da igreja. 2. A actividade construtora no Período Setecentista A data de 1729 firmada na padieira da porta principal do templo, deve corresponder à conclusão da obra de alvenaria e cantaria, ou ao início de uma das campanhas. Se em relação aos cronogramas firmados nos templos é sempre aconselhável “pormos certas reticências”, na medida em que muitas pedras de templos demolidos eram aproveitadas para a construção ou reedificação dos novos (13 deste acervo). E muitas dessas pedras pertencentes a templos mais antigos estavam datadas. É certo que isso se verifica mais em relação às colocadas no interior dos templos. De forma geral, as datas firmadas na padieira da porta principal, no exterior, corresponde à verdade. O mesmo não diremos para as datas existentes em pedras interiores, porque temos alguns desses exemplos7. Em relação à pintura já desaparecida, atribuída a Nicolau Nasoni, mais adiante nos havemos de pronunciar. As primeiras notícias sobre as obras efectuadas na igreja, aparecem-nos no ano de 1776 em documento originário do Depósito Geral da cidade de Braga (2), onde se assentavam várias despesas em débito para com a Universidade. Porém, não é elucidativo. Refere as despesas “com o rendeiro” de “várias obras”. Sabe-se que a despesa foi de 242.300 reis, contudo, estas não são especificadas8. Por provisão da Rainha (4), Dona Maria I, datado de 29 de Novembro de 1780, dava-se conhecimento ao corregedor da comarca de Lamego, sobre a arrematação da obra da Cumieira, por Manuel dos Anjos, da cidade de Lamego9. Porém, não refere a obra em si, mas sim o processo contratual. Dizia-se: “não tendo o referido empreiteiro dado as Fianças necessarias para se lhe confiar a dita Obra…”. Ou seja, não tendo apresentado os fiadores para receber os paga7   A título de exemplo, refiramos a igreja de São João de Lobrigos. Sabe-se pelo contrato apresentado que foi feita escritura de obrigação para a construção desta nova igreja em 1792. Contudo, dentro do templo existem duas pedras datadas. Uma de 1638 existente num túmulo da capela-mor e outra de 1728, na sacristia. 8   Estas obras poderiam não corresponder a obras de construção. Como se nota em várias visitas, a palavra “obra”, correspondia, por vezes, a artefactos que o visitador impunha se pusessem na igreja: velas, cortinas, etc. Porém, o volume dessas despesas era considerável, por isso sugere obras de alguma monta. Não poderiam apenas referir-se a artefactos ou alfaias litúrgicas. Diziam respeito, com certeza, a obras de construção. Se estas se referiam à sacristia, capela-mor e corpo, ou à residência paroquial, aí é que reside a dúvida. 9   Alexandre Alves (2001) faz-lhe referência. Num dos contratos citados por este autor, Manuel dos Anjos obrigava-se, com outros, a fazer a obra de carpintaria dos Armazéns da Companhia do Alto Douro, na Régua, em 1782 (Artistas e Artífices nas Dioceses de Lamego e Viseu”, Vol I, p. 96). Em outro contrato, do mesmo ano, era apresentado como “mestre carpinteiro e mercador”, sendo fiador de mestre José Pires da obra de carpintaria e talha da capela-mor e sacristia da igreja de São Pelágio de Fráguas (Idem, Vol I, p. 97).

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mentos, se devia, sem “a menor perda de tempo”, notificar o dito empreiteiro. A rainha, ordenava assim ao corregedor, para o empreiteiro tomar conta da obra e, no espaço de um mês, apresentasse as “referidas fianças” as quais, após aprovadas pelo magistrado, fosse assinado termo onde se obrigasse a dar “pronta e concluída a mesma obra” até finais de Setembro do ano de 1781, a qual seria paga em três prestações. Manuel dos Anjos, conclui-se pela leitura do documento, não havia cumprido com as formalidades do contrato estipuladas em arrematação. Porém, outro documento, uma informação do ouvidor, para além de declarar onde eram as obras – nas casas da residência paroquial e na sacristia da igreja – é mais elucidativo quanto ao empreiteiro10. Este teria então apresentado as ditas fianças e regularizado o processo pois precisamente um ano depois, a 14 de Novembro de 1781, é dada ordem pela Universidade, ao corregedor de Lamego, para obrigar “o empreiteiro das obras da Comieira Manuel dos Anjos” a conclui-las na forma da sua arrematação (6). Analisado o documento verifica-se ter havido um pequeno litígio entre as partes, estando em causa 12.800 reis referentes à mudança de uma porta e 72.000 reis pela “melhoria” feita por Manuel dos Anjos na obra, não constando no risco11. Todavia, o laudo dado pela avaliação dos peritos nomeados foi favorável ao mestre. O auto de vistoria, além de confirmar a utilidade do acréscimo, tece elogios a Manuel dos Anjos pois “ dipois de tudo examinado miudamente com pontos se mostra que o Empreiteiro Manoel dos Anjos não so dezempenhara com sua obrigaçam muito completamente tanto em pedraria Como em Carpintaria (…) foi zelo e não particular devoção do Empreiteiro este excesso em que dispendenria a maiores 72$000”. O mesmo auto, elaborado por peritos de Vila Real, datado de dois de Fevereiro de 1782, acrescenta ainda, depois de o justificar, o “prejuízo Vizivel” de 12.800 reis do empreiteiro, em relação à mudança da porta, concluindo ter o empreiteiro feito um acréscimo “ não só proveitozo mas decente” não acautelado no risco, enaltecendo de seguida as qualidades técnicas daquele: “… que tudo se mostra Cumprir o Empreiteiro não Só com a sua obrigação acabando perfeitamente a obra mas tambem ter excedido em beneficio della”. Com efeito, a Junta da Universidade, a seis de Março de 1782, ordena ao rendeiro para pagar ao empreiteiro “ não so o resto do preço da sua arrematação mas tambem os doze mil outocentos reis que importou a mudança da porta”. Quanto aos 72.000 reis “sobre melhoria” feita pelo mesmo na obra, esperava-se pelo parecer do Procurador da Fazenda, dado com bastante celeridade, como se verifica na ordem da junta datada de 17 de Abril de 1782. Ordena para se “entregar ao Empreiteiro os setenta e dois mil reis de resto, que declarão os Louvados valer o acrescentamento de que se trata”. A nove de Abril de 1783, por ordenação régia, o juiz de fora de Santa Marta de Penaguião é incumbido de promover, verificar e aprovar o concurso para a reparação dos telhados e pintura exterior da capela-mor (7). A 23 de Maio do mesmo ano, o escrivão das sisas e direitos reais de lances de Santa Marta, redige o termo (8) de apresentação da ordem dada ao juiz de fora, António da Silva Salgado. Proceder à arrematação do “Conserto dos tilhados e de Aluamento da Capella Mor de Santa Vlalia da Comiejra”.

10   Esta denominação era comum. O próprio Grão Vasco era denominado de empreiteiro e mestre pintor. A tal propósito, cf. Teixeira, Luís, O Retábulo Manuelino do Altar-Mor da Catedral de Viseu (Tese de Doutoramento policopiada), Universidade Católica de Louvain, 1989, p. 22. 11   Qualquer modificação ao risco teria de ter o acordo de partes, principalmente do contratante.

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Desta forma, o juiz de fora teria, primeiro, de passar a ordem em editais, para assim se proceder à dita arrematação. Com este termo onde, para além de se mandar fazer o “Aluamento” por fora, se deve consertar os telhados da capela-mor, se começa a desvendar o mistério da “desaparecida” pintura da igreja da Cumieira, atribuída a Nicolau Nasoni por diversos autores. A 28 de Maio é elaborado auto de arrematação (15) para esta obra, sendo arrematada por João Dias Pires12, do Salgueiral, oferecendo o lance de 29.000 reis. Foi depois assinado termo de lance (16) e de fiança (17) no mesmo dia. Cerca de um mês depois, a obra estava concluída e a 1 de Junho é dada ordem “para se pagar ao empreiteiro João Dias Pires o preço de arrematação de sua Empreitada por estar feita e concluída” (18), estando “Conforme os apontamentos que se lhe derão”. A 17 desse mês, o juiz de fora informa a rainha. O empreiteiro “dezeja saber donde deve ser pago dos seus trabalhos”. Para estas obras foram elaborados os apontamentos e os riscos pela Universidade. Embora não estando datados e dispersos no arquivo documental da mesma, a menção feita a Manuel dos Anjos (6), indica-nos a época da sua execução. Neste conjunto, são apresentados os apontamentos sobre os consertos da capela mor da Igreja da Cumieira, onde se diz para retelhar a sacristia, compor os telhados da capela mor, “advertindo que Junto ao pé da parede da mesma Capella Mor será tilhado Meio dobrado sinco palmos. Sera a cal caBeja o que sera trasada tres por dois” (9). Também é apresentado o risco para casa de residência da Igreja de Santa Eulália da Cumieira13 (10 –B- Plantas), assinado por André Ribeiro Pinto Gomes da Cunha e mestre Francisco Oliveira, arrematantes (11 – B), e o risco para a capela-mor e sacristia assinado por António José (12- B). Convém, aqui chegados, fazer uma referência a este mestre, pela sua importância quando se fundamentar a “questão Nasoni”. De António José, o único documento existente neste acervo da Cumieira, é o indicado acima. Refere-se ao risco da capela-mor. Porém, a referência em documento a Manuel dos Anjos (6), desvenda algum mistério. Este António José só pode ser aquele mestre carpinteiro a quem Alexandre Alves (2001) faz referência. Morava na rua Nova, ao pé da Rua da Fonte de Almedina. Aparece frequentemente como fiador, a partir de Agosto de 1777, em escrituras de obrigação de obras. Alerta ainda o autor para a sociedade formada, a perdas e ganhos, a 14 de Fevereiro de 1782, respeitante à obra dos armazéns da Companhia do Alto Douro na Régua14. Ora esta sociedade foi feita com Manuel dos Anjos, Francisco Ferreira e José Pires15. Mas para tirarmos as dúvidas, consultámos o documento referido por Alexandre Alves. A assinatura do contrato é mais elaborada e repenicada, à boa maneira desse tempo16. A do risco é mais simplificada, mas pertence ao mesmo mestre.

É, provavelmente, o mesmo João Dias que construiu a torre da igreja de Fontes em 1789.   Cf. Anexos deste trabalho. Neste conjunto de documentos são ainda apresentados os “Apontamentos da obra de pedreiro Carpinteiro e Trolha que se a-de fazer em 1 huma adega Contígua as Cazas da Risidensia do Reverendo Vigário de Nossa Senhora da Comieira” (13), para a qual aproveitaram a “pedra e madeira que ocupa huma pequena e pobre caza que ate agora servia de tulha a qual será deMoLida”. Para estas obras se vinha advertindo como se mostra na “Relação de Ornatos e mais couzas necessarias para esta Igreja de Santa Eulalia da Comieira”, sem data (14). Nela se alertava para a necessidade de reformar as casas da residência – telhados, paredes e sobrados –, reforma do armazém dos vinhos de feitoria e do lagar. 14   Artistas e Artífices nas Dioceses de Lamego e Viseu, Vol II, Governo Civil de Viseu, Viseu, p. 64 15   Idem,. Vol I, pp. 96-97. 16   E isso justifica-se porque o contrato era um documento oficial. Havia que aprimorar. 12 13

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Mas também é conhecida a deslocação do arquitecto Manuel Alves Macamboa, a pedido da Universidade, datado de 15 de Abril de 1780, à igreja de Santa Eulália da Cumeeira, para mandar fazer os concertos necessários na capela-mor, sacristia e casas da residência, fazendo os respectivos apontamentos17. De facto, o documento referido por Lurdes Craveiro, assinado pelo deputado secretário da Junta Luís José Foucalt, ordena ao Mestre das obras Manuel Alves Macamboa que “ vá sem perda de tempo” à igreja de Santa Eulália da Cumeeira18. Contudo, não encontramos nenhuns apontamentos subscritos pelo arquitecto. Apenas a correcção do orçamento da residência paroquial (34). A 11 de Fevereiro de 1786 é dada ordem ao rendeiro da igreja da Cumieira “para mandar fazer as obras capituladas” (22), que eram, entre outras, os douramentos das sanefas da capela-mor, cortinas de damasco encarnado e dois pedestais grandes para os tocheiros. Para estas obras, o Arcebispo de Braga, à altura Dom Gaspar, “mandou socrestar os frutos da Renda da mesma Igreja”. Ou seja, havia um litígio entre as partes, por isso se optava pelo depósito judicial, ou apreensão dos “frutos da Renda”19. Nessa ordem se determina “que os Prelados ou seus Visitadores quando por visitação mandarem fazer algumas obras nas Igrejas a que por direito forem obrigadas pessoas da Jurisdição Real, o fação saber ao Provedor da Comarca, mostrando-lhe o traslado authentico de tal visitação para este as constranger no caso que sem razão repugnem. Se pois o sequestro seria incivil quando a administração estivesse num particular vem a ser incivilissimo achando se a administração nesta Universidade que he da immediata Protecção Real. Deve-se portanto sem demora expedir Ordem ao Provedor da Comarca para que se passe logo a relaxar de nullo sequestro todos os fructos nelle comprehendidos entregando aos supplicantes, e mandando arrombar as portas das Cazas em que se acharem depositado, ou prendendo os Depositários quando não queirão entregar as chaves20. E enquanto a esta Junta se não remetter traslado authentico da visitação porque se mandarão fazer as obras de que reza o rolo junto e o Provedor da Comarca informar de sua necefsidade requeira que de sorte nenhuma se mandem fazer” (21). A 12 de Setembro de 1788 o procurador da Universidade no Arcebispado Primaz, procede a inventário (23) da Igreja da Cumieira, ao qual faremos referência pela importância da informação nele contida, ainda que lateral. Informa-nos sobre o estado de conservação das peças artísticas, do património e as obrigações das partes: Universidade e fregueses. Faz referência aos sete altares. O altar-mor pertença da Universidade e os seis do corpo da igreja pertença dos fregueses. Aos fregueses competia “fabricar o corpo da Igreja”, enquanto à “ Universidade de Coimbra a quem se achão unidos os fructos desta Igreja a obrigação de fabricar a sua Capella mor, sachristia e cazas da Residência…”. Além de indicar o estado de conservação da tribuna do altar-mor, “toda dourada e com muyta decencia e perfeição”, alude à existência de algumas imagens21. Do lado do Evangelho “se acha hua Imagem grande da Santa Padroeira, dourada e estofada e muyto decente”, e do lado da Epistola “se acha a Imagem de Santo Antonio tambem pintada e dourada”. 17   Craveiro, Lurdes, Manuel Alves Macamboa, Arquitecto da Reforma Pombalina da Universidade de Coimbra, Subsídios para a História da Arte portuguesa, XXXI, Instituto de História da Arte, Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra, 1990, p.48 18   Ordenava-se ainda ao juiz de fora de Santa Marta de Penaguião que suspendesse a arrematação antecedente, remetendo o auto e apontamentos. 19   Estes litígios eram frequentes. A tal propósito, Cf. Teixeira, Luís, op.cit. p. 23 20   Davam-se indicações aos visitadores, da forma como deveriam agir. Este documento, aliás, transfere poderes ao visitador. Passa a actuar com o poder do Bispo ou, neste caso do Arcebispo. 21   Tinham-se cumprido os capítulos de 1786.

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Por esta informação se retira a importância inestimável destes inventários. Através deles sabe-se hoje da existência de peças de arte desaparecidas. Ou, pelo contrário, servem para confirmar se as peças de hoje são as mesmas de ontem. Além da imaginária, garantem-nos a existência de outras peças sacras e alfaias litúrgicas de grande valor artístico, bem como do seu estado de conservação. “Jtem seis castiçaes de pao Com sua entalha prateados mas o prateamento já negro e debotado”, acrescenta o documento. A indicação dos materiais constitutivos das peças, também está presente. O ouro, a prata e, no caso da madeira, o castanho. Madeira praticamente utilizada em toda a região por ser a de maior qualidade e de maior resistência às variações de temperatura. Para além do castanheiro ser uma árvore de grande tradição na região22. As casas da residência paroquial, por esta altura, não necessitavam de ser intervencionadas23. Além desta, o inventário transmite-nos outro tipo de informação complementar. Aos rendeiros da igreja de Santa Eulália da Cumieira ” incumbe a obrigação de pagar ao Reverendo Encommendado a sua Congrua annual em dinheiro, que são cento e vinte mil reis, E alem diso dous alqueires de trigo para hóstias, E dous almudes de vinho para as Missas, E a cera preciza para Mifsas Conventuaes dos Domingos e dias Santos, E a administração dos Sacramentos e todo o azeite precizo para a lampada do Santissimo”. Contudo, indagado o reverendo, confirma o rendimento por ele “percebido”: 200.000 reis. Em relação a este aspecto, outro documento (38), garante-nos a informação pedida pelo pároco à Universidade. Na resposta informa-se: “Na Bulla da união da Igreja de Santa Eulalia da Comieira ao Collegio das Artes, não se asigna quantia certa e determinada para Congrua do Parocho”. Reafirma os 200.000 reis anuais de côngrua, tendo o pároco direito às casas da residência, “Com delaração porem que o Vigario da Comieira haverá cento e vinte mil reis dos dito fructos unidos, e oitenta em todo o pé d’ Altar, e terra para horta na forma que a tem o Encomendado”. Por esta ordem Régia Bula Apostólica, todas as rendas da igreja da Cumieira transitaram para a Universidade de Coimbra, ficando ligada ao Colégio das Artes, como vimos. Assim o atestam o Bacharel Bernardo António Teixeira Mourão e sua mulher Dona Antónia Joaquina (19). Faziam ainda referência ao privilégio do pároco residente. Tinha como regalia os rendimentos de duas propriedades: uma vinha e uma pequena lameira. Propriedades pretendidas pelo empreiteiro Manuel dos Anjos, em 1784, para aforrar (20). Entre 15 de Março de 1792 e 24 de Outubro de 1793 foi feito o rol das despesas das igrejas da Universidade (24). Nele constavam as da igreja da Cumieira. Estas pequenas despesas podem não nos dar grande informação sobre obras de relevo, mas transmitem-nos informação suplementar sobre os artistas locais. Destas, julgamos ser de alguma importância trazer ao estudo apenas algumas. A 28 de Maio gastaram-se 01$600 com um jogo de sacras em madeira, feitas pelo entalhador João Pinto24. A sete de Junho gastaram-se 01$200 na pintura e douramento do 22   Mendes, José Maria Amado, Trás-os-Montes no século XVIII segundo um manuscrito de 1796, Instituto nacional de Investigação Científica, Centro de História da Sociedade e Cultura da Universidade de Coimbra, Coimbra, 1981 pp.75-76 23   Estavam “com decencia”. Apenas as paredes da “lógea” precisavam de ser rebocadas e o sobrado concertado. O armazém do vinho de feitoria precisava de algumas obras na parede de norte e a casa do lagar estava arruinada, por isso, com a sua telha se iria “Retelhar hua Logea da caza da Renda e a caza do azeyte”. 24   Este entalhador, com todas as probabilidades de ser um mestre local, sem ter ainda sido referenciado pela historiografia, tanto quanto conseguimos apurar. Já a oito de Junho se tinha gasto 2$800 com o risco da casa da residência do pároco da Igreja de Santa Maria de Ferreiros, executado pelo mestre pedreiro António José Lopes.

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jogo de sacras25. A 25 de Junho gastou-se em pregos, com “ hum official” que “acondicionou o caixão dos paramentos”, 00$090. E com o transporte feito por um almocreve, 01$200. A sete de Abril entregaram-se ao mercador António Vieira de Sousa 12$075 pelo forro do sacrário. Para além destas relações, eram feitas outras onde se mencionavam as peças em falta para a igreja (25). Só a 16 de Julho de 1794 é dada ordem (26) ao pároco José Rodrigues Teixeira Telles, para fazer obras de alguma monta na igreja. Reparar o telhado da capela-mor e sacristia, além de outras consideradas menores26. Dada na sequência da informação precedida do mesmo, onde alerta a Universidade para os capítulos da visita de cinco de Outubro de 1793. Já no inicio da centúria de oitocentos, o então pároco colado da Igreja da Cumieira, Manuel Inácio de Araújo, comunica à Universidade as péssimas condições da residência paroquial27, originando lances cujos orçamentos foram revistos pelo arquitecto responsável da Universidade, Manuel Alves Macamboa, aos quais propôs alterações consideráveis (34), forçando a Universidade a propor novos lances que não excedessem os orçamentos do arquitecto28. A 20 de Fevereiro de 1804 faz-se a arrematação da obra, expedida a 31 de Outubro de 1803 (39). A obra de carpintaria foi arrematada por José Pereira de Carvalho e as de trolha e cal por Manuel Pinto Brandão (42)29. Todavia, ao orçamento apresentado por José Pereira de Carvalho onde refere algumas obras na capela-mor e sacristia (40), juntou-se um outro de mestre Filipe Moyos (41). Só justificável porque os dois mestres deveriam trabalhar em parceria30.   Com grandes probabilidades de ter sido o mestre João Pinto a executar a obra.   Isto vai ao encontro do afirmado pelo pároco Lemos em 1804, como veremos. Dizia ele, por esta altura que as obras de empreita eram “imperfeitíssimas” (44). E pelos vistos eram. João Dias Pires tinha terminado esta obra em 1783, passados onze anos precisaram de se fazer de novo. Outra razão para a morosidade das mesmas. 27   Denota o reverendo, alguma indignação pela situação, responsabilizando a Universidade (28). Mas, mesmo antes o havia feito informando a mesma Universidade (27). Perante tal indignação, a 30 de Maio de 1801, são dadas instruções, pela Universidade, ao juiz de fora de Santa Marta para “mandar fazer apontamentos e orçamentos”, reforçadas a 22 de Junho do mesmo ano por provisão real (29). Mandava-se que o magistrado procedesse a todas as “averiguaçoens necessarias” sobre o estado da residência paroquial, o que havia feito a 21 de Julho desse ano , (31). O lance para a obra de “trolhas e caiadores” foi de 220.000 reis oferecido por José da Silva, mestre trolha residente em Vila Real. O lance para a obra de carpintaria foi de 290.000 reis, oferecido por Manuel da Silva, carpinteiro do lugar de Fogendes, termo de Vila Real (31), que apresentaram apontamentos e orçamentos (32). O parecer do juiz de fora, foi arquivado pela Universidade a 26 de Setembro de 1801 (30). 28   Apesar de ter sido lançada em editais, em 1802, não “houve lanço algum”. Porque ninguém se interessou pelos preços reformulados por Macamboa. (Doc 35). Este impasse obriga a nova provisão real datada de 31 – mês ilegível – de 1803 (36). A 10 de Setembro desse ano, o pároco Inácio de Araújo informa a Universidade do estado da residência há 3 anos a esta parte, em ruína (37). 29   Ambos de Vila Real. 30   Cumpria-se assim, o pretendido na provisão real de 21 de Fevereiro de 1803. Para estas obras e arrematação, o escrivão de Santa Marta, Joaquim Manuel Seixas, redigiu termo a 26 de Março de 1804 (43). Todavia, declarava: “o Rematante” ainda não tinha assinado o auto nem tinha dado as finanças. O próprio pároco da freguesia, Manuel Inácio de Araújo e Lemos, se ofereceu, a 21 de Abril desse ano, “ a mandar concertar a mesma obra pelo mesmo preço que os Arrematantes a tinhão tomado” (44). A 24 de Abril desse ano, o juiz de fora, João Moreira Pinto, pede para a Universidade “expedir ordem para o primeiro pagamento” (45). A 14 de Outubro desse ano, o reverendo, dirigindo-se a Marçal da Costa Barradas, declara estar a obra quase concluída e, deste modo, devia ser dada ordem ao rendeiro para pagar o 2.º pagamento (46-47). Requeria, posteriormente, a certidão de preço e quantia sobre a arrematação das obras (48). Contudo, ainda em 1807, o mesmo reverendo dava informação idêntica (49). A 13 de Novembro de 1807, Manuel Pinto Brandão arrematou a obra de caiação 25 26

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3. A actividade construtora na centúria de Oitocentos Em 1818 deu-se conta ao Juízo da Casa do Despacho de todos os capítulos e visitas por cumprir na capela-mor e na casa paroquial da Cumieira (59). Assim, fez-se logo “nas deligencias do Estillo” orçar todas as obras por mestres próprios, na quantia de 881.000 reis. Por isso se mandaram sequestrar os rendimentos da igreja. Efectuado o sequestro em 50 pipas de vinho de Embarque, propunha-se a sua arrematação para cobrir o orçamento acima. Designadas seguidamente as várias visitas, na de 1795 propunha-se o concerto do “Solho, e pavimento “ da capela-mor e dourar os seis castiçais do Altar-mor. Bem como a compra de um paramento de damasco vermelho para a festa da padroeira31. Na de 1802, além de algumas obras recomendadas em 1795, propunha-se o concerto da residência: paredes, portas, janelas, telhados e alguns forros. Quanto à de 1818, propunham-se praticamente as obras recomendadas em 1802. Ou por litígio judicial, ou pelas outras razões indiciadas documentalmente, estas obras da Cumieira primaram pela grande morosidade. A 19 de Março de 1821 expedia-se ordem ao procurador da Universidade para, quando pudesse, mandasse fazer os apontamentos e orçamentos das obras necessárias, “tanto da Igreja como das Cazas da Rezidencia”, pondo-as “a Lanços” (60). Este, Teotónio de Alpoim Lobato, por sua vez, dava conta da necessidade das mesmas, descrevendo o seu estado calamitoso, de quase ruína. Lamentava-se do seu estado de saúde, alertando para a enorme distância entre a sua residência e a Cumieira: 25 léguas. Ainda por cima “de mao caminho”32, propondo a conveniência em ser o procurador de Lamego a “inspecionar esta obra” de “carpintaria, cayador e mesmo castiçais” porque se encontrava a três léguas. Quanto aos paramentos e alfaias, dava a sugestão para serem feitos em Braga33. A 22 de Junho desse ano o procurador Teotónio Lobato, expede missiva reincidindo no seu lamentável estado de saúde (61-62), desculpando-se pelo facto de não ter podido corresponder ao pedido em Portaria de 28 de Maio desse ano: “formalizar appontamentos e orsamento da despeza que se poderá fazer com as obras de absoluta necessidade da Igreja de Santa Eulalia da Comieira e Rezidencia, por as mesmas a Lanços, e remetter os termos delles”. Propunha, contudo, a sua fiscalização através do procurador de Lamego, a três léguas de distância, tendo pedido ao padre Manuel Guedes Mourão, encomendado da igreja, o seu parecer sobre essa possibilidade pois as obras “ exigem brevidade, não só por que se estraga tudo, e se faz depois mayor despeza, mas também por que da Caza do Despacho apertão…” (62)34. (50). A 25 de Novembro desse ano é expedida ordem para o juiz de fora proceder à vistoria dessa obra e o caiador Manuel Pinto Brandão certifica tê-la arrematado (51-52). Só a 14 de Maio de 1808 é dada ordem para pagar a José Pereira de Carvalho. Dos três pagamentos apenas tinha recebido dois (54). A 22 de Outubro de 1808, é dada nova ordem para novamente se por a obra “a lanços” (55). Ordenava-se para estes lances não excederem os preços de 1801. O impasse em resolver a questão, prolongado durante sete anos, devia-se a um litígio judicial entre a Universidade e o rendeiro. Por isso a obra tinha sido embargada sobre a forma de sequestro. Eram, porém, as dificuldades financeiras do rendeiro João Rebello Catallão a origem do impasse e do litígio (56, 57). Noutro documento (58), o rendeiro especifica melhor as razões. Justificava-se, para o não cumprimento, com a entrada do exército francês no Douro. 31   Através deste documento conclui-se da antiguidade da festa popular da freguesia. 32   Informação sobre o péssimo estado das estradas de então. 33   Esta sugestão é interessante porque através dela podemos conhecer um dos locais de origem das peças sacras. 34   Teotónio Lobato sentia-se pressionado para o cumprimento das obras.

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A 20 de Julho de 1822, por provisão régia, ordena-se ao procurador de Lamego para mandar formalizar apontamentos e orçamento das obras (63). Nessa altura o procurador da Universidade, Teotónio Lobato, informa o Rei sobre as obras capituladas: o pavimento da capela-mor e os concertos da residência paroquial, bem como a casa do rendeiro. Referindo-se à Portaria de 28 de Maio passado reincide nas desculpas acima. Dessa forma esse trabalho “se não effeituou”. Todavia, concordava na grande necessidade de se fazerem as obras, declarando ter mandado fazer na freguesia da Cumieira, os apontamentos remetidos “ que só servirão para fazer algum conceito do que he precizo, pois estão incuriaes”. Recomendava ainda, a necessidade de se nomear um novo procurador devido ao seu actual estado de saúde. A 27 de Agosto de 1822 são assinados esses apontamentos (64) por Francisco Pinto de Araújo e pelo mestre pedreiro Manuel Teixeira e o mestre carpinteiro João de Oliveira. As obras da capela-mor e da sacristia referiam-se ao soalho. Precisavam ser novamente “abarrotadas” de madeira de castanho, pois o actual “solho” estava podre. Precisavam ainda de lhes compor os telhados, com as beiras e cumes rematados com argamassa e cal. Estas obras foram arrematadas pela quantia de 120 mil reis. Em Setembro de 1822 mandava-se informar Manuel Baptista sobre o orçamento apresentado por aqueles mestres, remetendo-se os apontamentos ao Rei a 29 de Agosto desse ano (65). Porém, a 10 de Maio do mesmo ano dava-se ordem para “por a lanços e arrematar comtanto que se não exceda o preço arbitrado pelo Mestre Baptista” (Doc 66). Contudo, um ano depois, a 6 de Maio de 1823 são remetidos por António Baptista Freire, ao vice-reitor da Universidade, novos apontamentos “precisos fazer na Igreja e Sacristia e Capella Mor e Cazas de Rezidencia de Santa Eulalia da Comieira” (66). A 24 de Maio desse ano o Rei era informado sobre o estado de calamidade da casa da residência paroquial e dos armazéns do vinho; a 23 de Junho o vice-reitor da Universidade dava ordem para se fazerem os paramentos, mandando novamente fazer apontamentos e orçamentos destinados à casa da residência paroquial (67). Por isso, o Colégio das Artes, a quem pertencia o padroado da Cumieira, propôs à Junta da Companhia do Alto Douro a 20 de Agosto desse ano, a compra do vinho pertencente aos seus rendimentos. Com esse dinheiro suportaria as obras. Contudo, a Companhia a um de Setembro do mesmo ano, muito respeitosamente responde negativamente ao pedido porque “ lhe he absolutamente impraticavel a compra dos referidos vinhos” (68). Apesar de tudo, para “prova dos seus bons dezejos” punha à disposição do Colégio, “emprestadas, e não alugadas”, o número de vasilhas necessárias para o guardar. A nove de Novembro de 1849 é arrematada a obra de “caliamento” para a igreja da Cumeeira, por Domingos Rodrigues da freguesia de São Pedro de Vila Real, pelo preço de 59.500 reis. Esta arrematação foi conduzida pela Junta da paróquia. Desta obra constava o concerto de todo o telhado com telha nova, as paredes rebocadas com cal e areia, limpeza do forro e toda a igreja “caliada” por dentro e por fora (69-30 – Dispersos da tese). Todas as rendas da igreja transitaram para a Universidade, ficando ligada ao Colégio das Artes. Contudo, o único documento (19) onde é feita referência directa à Bula de União é datado de 1784 e não menciona o ano em que essa ordem régia foi promulgada35.

35   Um outro faz-lhe referência indirecta. Aquele onde se levanta a polémica sobre a congrua do pároco (38). E não é datado. No entanto, parece-nos ser já de oitocentos.

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Quanto às obrigações das partes, é bem explicito que o corpo da igreja era pertença dos fregueses, tendo a Universidade a obrigação de zelar pela sacristia, capela-mor e casas da residência. As primeiras obras de que temos conhecimento, realizadas nesta igreja, são datadas do ano de 1776. Contudo, a primeira intervenção de alguma envergadura, é apenas registada numa provisão régia de 1780, onde transparece um litígio entre a Universidade e o empreiteiro lamecense, Manuel dos Anjos. Nas várias intervenções até finais do século XVIII, existe uma mescla de artistas locais, lamecenses e vila-realenses. Estas intervenções, apesar de tudo, nunca foram concluídas, pelo menos até 1849. As reformas efectuadas nesta igreja, principalmente na sacristia e capela-mor, foram sucessivas, prolongando-se pela época oitocentista. 4.  O Mistério da pintura de 1739 Teria Nasoni executado a pintura desaparecida entre 1949-1951? Hoje, pela força repetitiva da sua atribuição ao arquitecto toscano, por parte de alguns estudiosos, não deixa razões para dúvidas. O primeiro a fazer tal atribuição teria sido Pinho Brandão em 196436. Robert Smith deu-lhe voz, argumentando-a37. A seu tempo, Dom Domingos Pinho Brandão colou-se à argumentação do antigo investigador americano e sustentou-a38. Ao longo dos anos, publicações generalistas39, incluindo algumas publicações locais40 têm dado eco à atribuição. Fundamentados nos dois investigadores, outros estudiosos a têm repetido. Em 1991 Natália Ferreira Alves e Jaime Ferreira Alves, fundamentam-na na inscrição ainda existente na parte interior da porta principal da igreja41. Em 1995, José Fernandes Pereira, seguindo os estudiosos antecedentes, ao referir a presença do arquitecto em Lamego a partir de 1737, afirma categoricamente, referindo-se a Nasoni: “repete esquemas idênticos na Igreja de Santa Eulália da Cumieira (Santa Marta de Penaguião) ”42. Da mesma forma o insinua mais recentemente, em 2003, Vítor Serrão43, fundamentado em Giuseppina Raggi44. Raggi o teria provado no seu artigo de 2001, acrescenta o historiador. Todavia, Raggi elabora uma argumentação sustentando uma certa evolução do arquitecto toscano. Quanto às pinturas da Cumieira, na nota 35 do seu artigo, remete-nos para Pinho Brandão e Robert Smith. Para uma atribuição que tem cerca de 50 anos. 36   Brandão, D. Domingos de Pinho, Nicolau Nasoni Pintor da Igreja da Cumieira, “Mvseu” (separata), segunda série, n.º 7, Porto, 1964, pp. 5-8. 37   Smith, Robert C., Nicolau Nasoni, Arquitecto do Porto, Ed. Livros Horizonte, Lisboa, 1967, pp. 50-52. 38   Brandão, D. Domingos de Pinho; Rocha, Manuel Joaquim Moreira da; Loureiro, Olímpia Maria da Cunha, Nicolau Nasoni, Vida e obra de um Grade Artista (Breve Resumo), Gráficos Reunidos, Porto, 1987, pp. 39 e 41. 39   Azevedo, Correia José de, Inventário Artístico de Portugal, Edições Nova Cesta, Algés, 1991. 40   Parente, João, Roteiro Arqueológico e Artístico do Concelho de Vila Real, Ed. Câmara Municipal de Vila Real, (2.ª ED-s.d), Porto, p.90 41   Alves, Natália Marinho Ferreira; Alves, Joaquim Jaime B. Ferreira, Niccòlo Nasoni (1691-1773) un artista italiano a Oporto, Ponte Alle Grazie, 1991, pp.20-21. 42   O Barroco do Século XVIII, História da Arte Portuguesa, Dir. Paulo Pereira, Circulo de Leitores, Barcelona, 1995, p.70 43   História da Arte em Portugal – O Barroco, Editorial Presença, Lisboa, 2003, p.262 44   Revista Monumentos, n.º 14, DGEMN, Lisboa, 2001, pp.33-41.

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Esta atribuição nunca foi documentada. Fundamenta-se numa inscrição com o nome do arquitecto e a data de 1739, na parte superior da porta principal e numa fotografia tirada pelo fotógrafo de Santa Marta à altura -1951-, ao tecto da capela-mor45. Perante tal atribuição, para fundamentarmos a nossa posição, fizemos primeiro, uma descrição das obras efectuadas nessa igreja, a partir do ano de 1776. Ano da primeira referência, para, agora sustentarmos a nossa tese. Debrucemo-nos, contudo antes de mais, com algum pormenor sobre as duas principais publicações relacionadas com esta questão, nas quais se fundamentam todas as atribuições recentes, analisando-lhes as fragilidades e os méritos. 5.  Dom Domingos Pinho Brandão – Artigo de 1964 Dom Domingos Pinho Brandão foi informado em Junho de 1964, pelo Reverendo Padre João Gonçalves da Costa, da existência na igreja da Cumieira, de “vestígios de pinturas feitas por Nicolau Nasoni”. O investigador a quem se lhe reconhece o grande contributo dado à investigação pelos trabalhos trazidos a público, fundamentados em provas documentais, deslocou-se então à Cumieira e, “in loco”, observou os restantes fragmentos da dita pintura. Embora tenha constatado, no local, a informação transmitida pelo pároco João Gonçalves da Costa, o investigador fundamenta a atribuição numa tradição, também transmitida pelo pároco: O Morgado de Mateus possuía, no tempo da construção da igreja, uma grande quinta na Cumieira, sendo tradição na freguesia, ter Nasoni passado algum tempo nessa quinta com o Morgado de Mateus, “durante o andamento das obras”46. Depois de fazer uma síntese sobre o morgadio de Mateus, propõe estar a vinda de Nasoni para a Cumieira em 1739, ligada “ao protectorado mecénico do Morgado de Mateus que era também Morgado da Cumieira”. De seguida, sustenta ter sido toda a igreja decorada com pinturas executadas pelo arquitecto toscano, pois “Os vestigios e documentos47 existentes não deixam dúvidas sobre o assunto”, propondo ainda: “a talha joanina parece obra de entalhador portuense”. Faz então referência à inscrição, à fotografia de Diogo Seixas publicando-a, e transcreve na nota quatro do seu artigo uma informação fornecida pelo fotógrafo: Havia no tecto da igreja pinturas com numerosos dísticos. A parte inferior do coro estava dividida em seis caixotões pintados. Um deles representava a cena da tentação de Eva no Paraíso terrestre; outro, Adão a cavar a terra e Eva com um menino ao colo. “Temas bíblicos tão ao gosto de Nasoni”, acrescenta o investigador. 6.  Robert C. Smith – Publicação de 1967 Robert Smith, a quem se lhe reconhece o mérito de trazer a publico uma série de documentos sobre obras realizadas no Norte de Portugal e um dos mais característicos investigadores do barroco português, como refere Augusto França em artigo publicado

Diogo Seixas   O que não deixa de ser curioso para quem se preocupava em documentar os seus estudos. 47   Julgamos que se refere à fotografia de Diogo Seixas. A ser outro tipo de documentos, tinha-os publicado, com era seu costume, ou ter-lhes-ia feito referência directa. 45 46

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no Comércio do Porto48, no seu trabalho publicado em 1967, no capítulo dedicado a esta freguesia, inicia com o abade. A Cumieira “tinha como abade, na época que nos interessa, Dom Luís de Noronha e Meneses”. Chamando a atenção para o “recente artigo” de Pinho Brandão sobre “as pinturas da Cumieira”, depois de fazer uma síntese sobre a fidalguia de Dom Luís de Noronha, Robert Smith, inviabiliza a hipótese sobre o protectorado mecénico do morgado de Mateus proposto por Pinho Brandão, parecendo-lhe, em relação à encomenda dessa obra, ser “mais justa a teoria de Dom Luís de Noronha e Meneses”. Justifica a teoria com dois argumentos: “primeiro porque era abade da igreja e segundo por causa de certo material heráldico visível na fotografia do perdido tecto da capela-mor”. Aí aparecem, acrescenta, “numa tarja e no meio de uma balaustrada fingida, um leão e uma espada”. Estes emblemas teriam sido tirados do brasão da família Noronha. Publicando, de seguida, um desenho rigoroso sobre a inscrição existente na parte superior da porta principal, onde é visível a data de 1739, bem como o nome do arquitecto toscano, depois de referir a data de 1729, acrescenta: “O interior ficou terminado uma década depois, quando Nasoni não só executou as pinturas, como também desenhou toda a riquíssima talha”. Para concluir: “Esta obra que lhe atribuímos incontestavelmente, será considerada no capítulo dedicado às esculturas de Nasoni”. Como Pinho Brandão, faz referência à fotografia, ao fotógrafo, à inscrição “Nova Ierusalem”, aos dísticos e aos painéis de Adão e Eva, “lembrando a iconografia da nave esquerda de Lamego”. Propõe ser possível, através da fotografia existente, reconstruir um enquadramento arquitectónico “quase iguais aos de Lamego”, descrevendo a imagem do Espírito Santo e os elementos de enquadramento representado na fotografia, “motivo empregado várias vezes por Nasoni na sua talha”. Faz alusão a outros elementos como os “anjos saindo de folhas”, para terminar: “ No que resta da pintura sobre pedra não há novidade. O arco cruzeiro, dividido também em três registos, oferece o mesmo repertório de florões, frisos verticais de cascas e folhas assimetricamente dispostas, que distingue a capela-mor da Sé do Porto. Em todas as pinturas as cores são iguais”. Dedica depois o capítulo às esculturas de Nasoni e aí caracteriza a talha da Cumieira49, onde encontra semelhanças com aquela executada pelo arquitecto em obras similares. 7. A pintura nasoniana terá mesmo existido? Posto isto e feita a breve referência a publicações generalistas e a investigadores recentes, praticamente fundamentados nestas duas publicações, continuemos. A documentação encontrada no Arquivo da Universidade de Coimbra propõe um período longo para as obras desta igreja, situado entre os anos de 1776-1823. Prolongar-se-ia mesmo para lá de 1823. Documento da Junta da Paróquia dá-nos conta de obras de “caliamento” no ano de 1849. Não invalidando, deste modo, que o mesmo não tenha acontecido desde 1729 até 1776. Façamos uma sucinta resenha, apenas sobre as obras do corpo da igreja, da sacristia e da sua capela-mor. O documento de 1776 não especifica o tipo de obras, mas o volume das despesas (242.300 reis) sugere obras de alguma monta, onde, possivelmente, estariam incluídas as 48   França, José Augusto, Comércio do Porto (jornal), 9 de Abril de 1968 (Colecção da Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian, cota JAF 933) 49   Smith, Robert C., Idem, p. 67.

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do corpo, capela-mor e sacristia. Em 1781 são executadas na sacristia. Em 1783, faz-se o concerto dos telhados e “dealba-se” por fora a capela-mor. Conserta-se ainda, nesse ano, aquilo que está arruinado50 e o forro da mesma capela. Por esta altura surge o risco da capela-mor e sacristia, executado por António José, bem como os apontamentos do concerto. Em 1786, fazem-se alguns reparos na capela-mor, para em 1788 se confirmar o bom estado da tribuna do altar-mor e a intervenção do entalhador João Pinto. Em 1794, manda-se reparar o telhado da capela-mor e sacristia e em 1801, compor o pavimento da capela-mor. Em 1795 propunha-se o concerto do soalho e pavimento da capela-mor. Em 1804 é apresentado orçamento por José Pereira de Carvalho, onde se faz referência a intervenções na capela-mor e sacristia. Em 1821 expede-se ordem para realizar obras na igreja. Em 1822 referem-se obras capituladas: o pavimento da capela-mor. São ainda apresentados orçamentos por Manuel Teixeira e João de Oliveira, onde se transcrevem os concertos da capela-mor e sacristia. Em 1823 são remetidos apontamentos à Universidade para fazer obras na igreja51, sacristia e capela-mor e em 1849 compõe-se o telhado. Por esta resenha sucinta, a reflexão de Robert Smith sobre a conclusão do interior da igreja após o ano de 1729, data apontada para a conclusão de cantaria e alvenaria do corpo, não faz sentido. O seu interior não ficou terminado “ uma década depois, quando Nasoni não só executou as pinturas, como também desenhou toda a riquíssima talha”. O trabalho apresentado sobre as obras desta igreja, entre 1776 e 1849, mostra a sua morosidade. Mas não foi caso único. O longo espaçamento entre as várias intervenções, verificou-se na totalidade das igrejas. A título de exemplo, referimos alguns. A obra de alvenaria e cantaria da igreja de Cever foi executada entre 1731 e 1733; só 25 anos volvidos, em 1758, foram executadas as obras de madeira. A alvenaria e cantaria da igreja de São Miguel de Lobrigos foram laboradas entre 1719 e 1721, estando por dourar em 1769. Na igreja da Régua é feita escritura para obra de pedraria em 1743 e 1747. Só passados 30 anos, em 1777, se fizeram obras de carpintaria e nove anos depois, em 1786, se fizeram obras de talha. Em Fontes a igreja foi demolida e reconstruída em 1745; em 1750 foi sujeita a novas obras de pedraria e em 1752 fizeram-se obras de carpintaria. Contudo, em 1753 e 1757 ainda se encontrava em obras de pedraria. Em Godim, a igreja é reconstruída em 1738, em 1747 é acabada a obra de cantaria e alvenaria da capela-mor e em 1769 estava por dourar. As atribuições deste historiador e de Dom Domingos Pinho Brandão sobre a obra da talha, onde encontram semelhanças à “talha portuense”, também não podem ser conclusivas. As obras eram feitas mediante o gosto de quem decidia52: os fregueses e o pároco. Com frequência se serviram de alguns edifícios de culto para modelo dos da sua freguesia. Foi o caso da capela da Senhora dos Remédios, em Medrões, que teve como modelo a igreja de Cever. Esta, por sua vez, tinha tido como modelo a capela do padre Nicolau de Fontelas. As igrejas de São Miguel de Lobrigos e São Pedro de Vila Real serviram, por sua vez, de modelo para a igreja de Fontes: “… terá seu choro que será do feitio do da igreja de Sam Miguel de Lobrigos (…) tera um pulpito comforme o da Igreja de Sam Miguel de Lobrigos (…) tera mais a dita igreja tres portas a saber: hua principal, e duas travessas as quais serão de boa madeira bem liza e seca de bitolla de quatro dedos e serão todas emrilhadas em suas almofadas pello feitio da porta travessa de Sam Pedro Novo de villa Real …” (71). Logo, o encomendador da igreja da Cumieira bem poderia ter mandado fazer a talha e a pintura “como a da igreja de…”.   Referindo-se o documento ao “Aluamento”, ou seja, aluimento.   Como é óbvio, no corpo. 52  Cf. Teixeira, Luís, Idem, p. 22 e 29. A propósito da encomenda do retábulo da Sé de Viseu à Flandres e a propósito das exigências do doador. 50 51

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A documentação apresentada, já o dissemos, mostra a morosidade destas intervenções. O período entre 1729 e 1739, parece-nos demasiado curto, para nele se ter executado a dita pintura53. O corpo do templo pertencia aos fregueses, como está bem documentado (23). Ora os fregueses, normalmente agrupados em confrarias ou irmandades, quotizavam-se para a execução dessas obras. E, como se demonstra54, por vezes tinham dificuldade em reunir o dinheiro, ao contrário dos abades possuidores de fortuna pessoal. Mas aos abades, cabiam as obras da capela-mor. São poucos a contribuírem para a construção ou reconstrução do corpo do templo. Excepcionalmente o fizeram como o abade de São João de Lobrigos, cujo contrato para a edificação da nova igreja no-lo informa textualmente. Mas esse caso excepcional deve-se à sua riqueza pessoal, à qual Pinho Leal se referiu. A tradição citada por Pinho Brandão, de o arquitecto ter passado ”algum tempo” na quinta da Cumieira, pertença do Morgado de Mateus, “durante o andamento das obras”, não nos parece plausível. Carece de fundamento, porque “algum tempo” tem o sentido, quanto muito, de escassos meses55. Ora uma obra desta envergadura, proposta pelos dois investigadores – toda a pintura do corpo da igreja, incluindo paredes e tecto; pintura da capela-mor, para já não incluir o desenho da talha. Este poderia ser feito em qualquer lugar, incluindo o Porto onde o arquitecto residia – levaria a concluir mais de um ano. Para fundamentarmos esta questão, lembramos, a título de exemplo, apenas o contrato da pintura de Sedielos. Em 1755 o pintor de Lamego Bartolomeu de Mesquita Cardoso, contratou dourar e pintar o forro da igreja, pintar o altar de Santo António e pintar as grades do coro, no espaço de um ano. Mesmo juntando à obra de pintura e douramento, a obra de talha dos painéis do forro e púlpito executadas pela parceria de Domingos Martins, esta não se compara com a envergadura da atribuída a Nasoni. Hoje está bem documentada a forma como muita dessa pintura foi feita, aliás, nós próprios damos alguns exemplos. Através da circulação de gravuras. E observando a fotografia de Diogo Seixas, nada nos garante que essa pintura não tenha sido executada, copiada de uma gravura. Quanto à pintura em si, a ter existido, é inquietante a sua omissão nos documentos da Universidade. Mais singular ainda é o seu arquitecto, Macamboa, o omitir. Uma pintura de Nicolau Nasoni, não era uma pintura qualquer e a Universidade saberia, com certeza, da sua existência. E o seu arquitecto responsável também. Não permitiriam, com toda a certeza, a execução de obras sem acautelar esse património. Aliás, está mesmo documentada a deslocação do arquitecto a lugares remotos, em relação à situação geográfica de Coimbra. Por essa altura (1780) deslocou-se a Mós do Douro56, antigamente conhecida como as Mós, no concelho de Vila Nova de Foz Côa, para a qual, ele próprio executou 53   A igreja de Nogueira no termo de Vila Real, tem na padieira da porta principal, inscrito o cronograma de 1739. Referência a uma das últimas campanhas de cantaria e alvenaria. Contudo, o tecto apenas foi pintado no ano de 1765. Vinte e seis anos depois (Cf. Ferreira, Joaquim de Barros, Achegas para um dossier de artistas das igrejas e capelas de Vila Real e seu termo, Estudos Transmontanos e Durienses, n.º 11, A.D.V.R., Vila Real, 2004, pp.269-277). 54   Veja-se escritura de obrigação dos moradores de Cever para a construção da torre da igreja. Cf. Palavras, Armando, A Actividade Construtora nos Templos de Penaguião, Tellus, revista de Cultura Transmontana e Duriense, n.º 59, Ed. Grémio Literário Vila-Realense/ Cãmara Municipal de Vila Real, 2013, pp. 20-21. Neste trabalho elabora-se resenha de toda a actividade em Penaguião (pp. 18-39). 55   Dois a três meses. 56   Foz Côa Inventário e Memória, Coord. João Soalheiro, Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa / Diocese de Lamego, 2000, p.53.

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o risco da sua capela-mor. Como já se demonstrou, o arquitecto não visitou apenas essa igreja. Acompanhou, por resolução tomada em reunião de oito de Julho de 1780 pela Junta da Fazenda, o deputado Manuel Barreto Perdigão Vilas Boas, na missão de providenciar a manutenção dos templos do Padroado da Universidade, visitando-os. E essa deslocação, nas províncias da Beira, Trás – os – Montes e Minho, culminou com a visita a 96 templos57, chegando mesmo a visitar a igreja da Cumieira, como registámos. Tendo a Cumieira um património artístico tão importante, porque razão ao deslocar-se lá, não faz referência à presumível pintura? Está documentado que o arquitecto Macamboa executou o risco de algumas capelas-mores como a de Mós e o risco de alguns retábulos como o de Dine, em Bragança58. Templos sem a importância patrimonial da Cumieira59. Porque razão deixou Macamboa que o risco da capela-mor fosse executado por António José, um mestre local, e não por ele próprio? Como se demonstrou, é o próprio arquitecto que corrige o orçamento da casa da residência paroquial da Cumeeira (Cf., alínea 5.2. deste capitulo – 34). Ou seja, deu mais importância à obra da residência paroquial do que à do templo60. Se a pintura de Nasoni existisse realmente, Macamboa, na sua deslocação, tê-lo-ia registado. Até porque o tempo que medeia entre o ano de 1739 e o ano da sua deslocação (1780), não é assim tão desfasado. São apenas 41 anos. E tê-la-ia preservado. A fotografia de Diogo Seixas, mostra uma pintura elaborada através da técnica de fresco, assente numa armação de esteira. Técnica com uma preparação própria. Porém, os telhados da capela ainda estavam a ser concertados em 1823. Para além de não haver referência alguma a essa pintura, esta só poderia ser executada com os telhados e forro devidamente concluídos. Os documentos o indicam61. Ou seja, para essa pintura ser executada, teria primeiro de se fazer toda a obra de carpintaria onde se incluía o telhado, forro e retábulos, para depois se preparar a superfície numa armação de esteira onde se aplicaria a devida camada de argamassa, para só depois se aplicar a pintura62. Tudo isto leva o seu tempo. O “algum tempo” declarado por Pinho Brandão não era suficiente para uma obra desta envergadura. 8.  Mas então…e a inscrição da porta? Embora os historiadores atribuam toda a obra a Nasoni, a inscrição pode sustentar uma intervenção apenas no corpo do templo, apesar de os documentos apresentados, além de se referirem à capela-mor, fazem-no também, em relação à “ igreja e a sacristia”.

57   Bandeira, Ana Maria Leitão, O Património da Universidade de Coimbra: Aspectos Particulares do seu Padroado, Actas do colóquio A Universidade e a Arte- 1290-1990, Coimbra, 1993, p. 324. 58   Bandeira, Ana Maria Leitão, Contributo para um dicionário de artistas que trabalharam no distrito de Bragança, Brigantia, Vol 20 – n.º ¾, 2000, p. 163 59   Acreditando na atribuição da suposta pintura a Nasoni. 60   Registe-se que o arquitecto foi incumbido de fazer os apontamentos. Contudo, o risco que se conhece é o de António José e quanto aos apontamentos de Macamboa, se de facto existem, não os encontrámos no acervo documental. 61   Repare-se, por exemplo, nos apontamentos feitos para a obra de pintura e carpintaria da obra da igreja de Baldos em 1780: “sera repregado tendo o forro e bem comsertado antes da pintura Sendo reformado o tilhado da Capela-mor e Sancrestia de ripa e guarda-po”. E acrescenta:“tudo sera com aprovasão do espector que mandara Segurar e Consertar na tribuna o Retablo o que antes da pintura for nesesario” (70 – B.L.39). 62   A propósito da periodização entre a obra de talha e douramento (dois anos), cf. Teixeira, Luís, Idem, p. 25.

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Teriam os fregueses capacidade financeira para o patrocínio de obra com tal envergadura? É que, como se demonstrou, o corpo do templo pertencia aos fregueses. E um artista da nomeada de Nasoni, considerando a hipótese de ter feito a sua intervenção no corpo do templo, por inerência seria forçado a intervir na capela-mor, pela seguinte razão: não seria de bom-tom um artista como Nasoni fazer a pintura para os fregueses e não a fazer para o abade. Além do mais, seria desprestigiante para o Santíssimo que merecia toda a reverência. Mas, é dado adquirido a existência da inscrição. Para esta questão, debrucemo-nos sobre outros trabalhos. O pároco da Cumieira informa Dom Domingos Pinho Brandão em 1964, para a existência dos vestígios das pinturas de Nasoni. Maria Amélia Abreu Braga, cinco anos antes, quando apresentou o seu trabalho final de Licenciatura, não teve conhecimento do facto63. Ou mesmo antes Magalhães Basto em quem a referida autora se fundamentou64. Fundamentada, como se disse, em artigo de Magalhães Basto65, Maria Amélia Abreu Braga, conclui também que o arquitecto toscano se autografava Niccolao Nasoni ou menos vezes Nicolau Nasoni. A tendência, acrescenta, “ de alguns para usarem o”z” em lugar do “s”, residia no facto de Nasoni, na maioria dos casos, escrever o dito “s” à maneira antiga com perna e haste, lembrando um f ” 66 De facto, as várias legendas com o nome do arquitecto e deixadas junto das suas obras, não coincidem na sua totalidade com o fac-simile da sua assinatura67. Este Niccolao Nasoni é diferente do da legenda do vão de uma janela da capela-mor da Sé do Porto, Niccolo Nazoni, e do da legenda existente na igreja da Cumieira, Niccolao Nasonio. A dúvida em relação à da Cumieira, não se põe em relação ao primeiro nome (Niccolao). Vai ao encontro da conclusão da autora. Põe-se sim, em relação ao segundo. Embora escrito correctamente com o “s”, termina com um ” o” e não com um ” i”. Admitimos, contudo, ser uma deturpação linguística, a nível fonético, de quem a escreveu. E é bem possível a pronúncia transmontana, mesmo a actual, ter contribuído para isso. Mas apenas justificável se quem a escreveu fosse oriundo da região, o que não teria sido o caso. Se não foi o próprio Nasoni, só poderia ser um dos seus oficiais que, com toda a certeza, não eram locais. Em relação a algumas atribuições de Robert C. Smith, remetemos para trabalho de Eduardo Pires de Oliveira68. Quanto a algumas atribuições feitas pelo historiador, corroboradas por Pinho Brandão, mencionadas por Natália Ferreira Alves e Joaquim Ferreira Alves, referentes ao convento de Ferreirim e Tarouca, remetemos para o trabalho elaborado por Alexandre Alves69. Embora a nossa argumentação não seja conclusiva, os factos apresentados, sustentados em alguma documentação, sugerem que a pintura atribuída a Nasoni não existiu. E aquela fotografada por Diogo Seixas deve situar-se para lá de 1849, pois a capela-mor andou em constantes consertos e obras até esta altura. A dúvida a pairar no ar é apenas sustentada pela inscrição, bem visível na parte superior da porta principal. 63   Vida e obra de Nicolau Nasoni, Tese de Licenciatura em História, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1959. 64   Basto, A. Magalhães de, Nasoni e a Igreja dos Clérigos, Revista o Tripeiro 65   O Primeiro de Janeiro (7-7-1950), Falam Velhos Manuscritos – Nasoni, Nazoni, Nanzoni, Nazioni?...” 66   Idem, p.10 67   Viterbo, Souza, Dicionário Histórico e Doc.umental dos Arquitectos, Engenheiros e Construtores Portugueses, Lisboa, 1922, p. 193. 68   Os Alvores do Rococó em Guimarães e outros estudos sobre o barroco e o rococó do Minho, Edições APPACDM Distrital de Braga, 2003, pp. 83-95 69   Cf. Estado da Questão, nota 47 (da Tese Doutoral indicada em nota 1 deste trabalho).

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A dificuldade em tirar conclusões definitivas deve-se, sobretudo, a duas razões: Por um lado, a pintura já não existe, por outro no cartório notarial de Santa Marta, constituído por cinco ofícios, não existe qualquer documento do século XVIII sobre intervenções que se refira a esta igreja. Nota conclusiva Todas as rendas da igreja transitaram para a Universidade, ficando ligada ao Colégio das Artes, e à semelhança das de Alijó o corpo da igreja era pertença dos fregueses, tendo a Universidade a obrigação de zelar pela sacristia, capela-mor e casas da residência. As obras nesta igreja foram de grande morosidade. Nas várias intervenções até finais do século XVIII, existe uma mescla de artistas locais, lamecenses e vila-realenses. Estas intervenções, apesar de tudo, nunca foram concluídas, pelo menos até 1849. As reformas efectuadas nesta igreja, principalmente na sacristia e capela-mor, foram sucessivas, prolongando-se pela época oitocentista. Quanto à atribuição a Nazoni da pintura desaparecida, é pouco sustentável. Não se pode concluir em definitivo, no entanto, tudo indica que essa pintura não existiu. Aquela fotografada por Diogo Seixas deve ter sido pintada já em Oitocentos. Até podemos admitir (mesmo sem a comprovação documental) que Nasoni tenha feito uma pequena intervenção (principalmente no que diz respeito à pintura), mas nunca a defendida por Dom Domingos Pinho Brandão, por Robert C. Smith e pela força repetitiva de atribuição por parte de alguns estudiosos da actualidade. Fontes manuscritas (com a colaboração da Dr.ª Lina Oliveira) Arquivo da Universidade de Coimbra (AUC) ; Dep. IV, 1.ª E, Est. 6, tab 2, n.º13 Doc 1 – 1775 – Rol dos frutos da igreja. Doc 2 – 1776 – Deposito Geral da Cidade de Braga a Universidade de Coimbra sobre o deve e haver da igreja. Doc 3 – 1777, 10 de Abril -Conta corrente respectiva ao depódsito dos frutos da igreja Doc 4 – 1780, 29 de Novembro – provisão da rainha, Dona Maria I. Doc 5 – 1782, 4 de Dezembro – Visita de José Bernardo de Carvalho à igreja. Doc 6 –1781, 14 de Novembro -Dada ordem pela Universidade, ao corregedor de Lamego, para obrigar “o empreiteiro das obras da Comieira Manuel dos Anjos” a conclui-las na forma da sua arrematação. Doc 7 – 1783, 9 de Abril – Por ordenação régia, o juiz de fora de Santa Marta de Penaguião é incumbido de promover, verificar e aprovar o concurso para a reparação dos telhados e pintura exterior da capela-mor. Doc 8 – 1783, – Apresentação da ordem vinda da Universidade de Coimbra para arrematação do concerto dos telhados e aluamento da Capela-mor. Doc 9 – 1783 (?) – Apontamentos sobre os consertos da capela mor da Igreja da Cumieira, onde se diz para retelhar a sacristia, compor os telhados da capela mor. Docs. 10, 11 e 1270 – 1781 (?) – Risco da obra que manda fazer a Universidade de Coimbra para Casa de Residência da Igreja de Santa Eulália da Cumieira, assinados por André Ribeiro Pinto Gomes da Cunha e Francisco Oliveira. Risco da capela -mor da igreja, elaborado por António José, artista de Lamego.   Estão inseridos na tese de Doutoramento como documentos 10B, 11 B e 12 B no volume V-B – Plantas.

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Doc 13 – (?)Apontamentos da obra de pedreiro Carpinteiro e Trolha que se a-de fazer em 1 huma adega Comtigua as Cazas da Risidensia do Reverendo Vigario de Nossa Senhora da Comieira cuia fasia a-de estroser e fazer galaria Com a obra ajustada para verdadeiras Cazas de Rizidensia. Doc 14 – (?) Relação de Ornatos e mais couzas necessarias para esta Igreja de Santa Eulalia da Comieira. Doc 15 – 1783, 28 de Maio – Auto de aRematasam feito na Compustura dos tilhados e de Aluamento da Capella Mor da Jgreja de Santa Eulalia da Comieira. Documento 1671 – Termo de lanço de obra por 29$000 reis, arrematado pelo mestre João Dias Pires Doc 17 – 1783, 28 de Maio – Termo de fiança que deu Joam Dias Pires do Salgueiral a obra que Rematou da capella Mor de Santa Eulalia da Comieira. Doc 18 – 1783, 1 de Julho -Solicita-se ordem para se pagar ao empreiteiro João Dias Pires o preço da arrematação de sua Empreitada por estar feita e concluida na forma da conta deste Ministro. Doc 19 – 1784, 7 de Fevereiro – Confirmação da Bula pelo bacharel Bernardo António Teixeira Mourão e sua mulher Antónia Joaquina. Arquivo da Universidade de Coimbra (AUC) Dep. IV, 1.ª E, Est.6, Tab. 2, n.º 10 Doc 20 – 1784, 24 de Abril – Referência ao privilégio do pároco residente na Cumieira. Tinha como regalia os rendimentos de duas propriedades: uma vinha e uma pequena lameira. Propriedades pretendidas pelo empreiteiro Manuel dos Anjos, em 1784, para aforrar72. Arquivo da Universidade de Coimbra (AUC) ; Dep. IV, 1.ª E, Est. 6, tab 2, n.º13 Doc 21 – 1786, 11 de Fevereiro – Ordem dada ao rendeiro da igreja da Cumieira “para mandar fazer as obras capituladas. Doc 22 – 1786, 11 de Fevereiro – Solicita-se ordem ao Rendeiro respectivo para mandar fazer as obras capituladas segundo se diz nesta relação. Doc 23 – 1788, 12 de setembro, O procurador da Universidade no Arcebispado Primaz, procede a inventário da Igreja da Cumieira. Doc 24 – Entre 15 de Março de 1792 e 24 de Outubro de 1793, Rol das despesas das igrejas da Universidade. Doc 25 – 1793, 3 de Agosto, – Rol dos paramentos, e mais couzas que por Ordem da Real Junta da Fazenda mandei para a Igreja de Santa Eulalia da Comieira. Doc 26 – 1794, 16 de Julho – Ordem dada ao pároco José Rodrigues Teixeira Telles, para fazer obras de alguma monta na igreja. Reparar o telhado da capela-mor e sacristia, além de outras consideradas menores. Dada na sequência da informação precedida do mesmo, onde alerta a Universidade para os capítulos da visita de cinco de Outubro de 1793. Arquivo da Universidade de Coimbra (AUC) ; Dep. IV, Est. 6, tab2, n.º1 Doc 27 – O então pároco colado da Igreja da Cumieira, Manuel Inácio de Araújo, comunica à Universidade as péssimas condições da residência paroquial Arquivo da Universidade de Coimbra (AUC) ; Dep. IV, 1.ª E, Est. 6, tab 2, n.º13 Doc 28 – 1801, 30 de Maio – O então pároco colado da Igreja da Cumieira, Manuel Inácio de Araújo, comunica à Universidade as péssimas condições da residência paroquial. Doc 29 – 1801, 30 de Maio e 22 de Junho – Instruções dadas , pela Universidade, ao juiz de fora de Santa Marta para “mandar fazer apontamentos e orçamentos”. Doc 30 – 1801, 26 de Setembro – Parecer do juiz de fora, arquivado pela Universidade. Doc 31 – 1801, 21 de Julho – Mandava-se que o magistrado procedesse a todas as “averiguaçoens necessarias” sobre o estado da residência paroquial. 71 72

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Este documento extraviou-se e foi transcrito como nota retirada à altura da investigação.   Assinatura ilegível.


Doc 32 – Apontamentos da obra de Caiadores Doc 33 – 1802, 20 de Novembro – O então pároco colado da Igreja da Cumieira, Manuel Inácio de Araújo, comunica à Universidade as péssimas condições da residência paroquial. Doc 34 – 1802, 30 de Junho/ 28 de Agosto – Solicita-se ordem para por novamente a lanços a obra de que trata e o remate pelo menor e mais seguro lanço, contanto porem que não exceda o arbitrio de Mestre Manuel Alves. Doc 35 – 1802, 30 de Dezembro – Certifica-se que se pôs a lanços em Praça publica a Obra dos concertos ou Reparos das Cazas da Rezidencia do Parocho de Santa Eulalia da Comieira. Arquivo da Universidade de Coimbra (AUC) Dep. IV, 1.ª E, Est.6, Tab. 2, n.º 10 Doc 36 – 1803, 31 de Outubro – Ordem real dada ao juiz de Fora de Santa Marta para pôr a lanços as obras dos concertos da Rezidencia do Parocho da Jgreja de Santa Eulalia da Comieira. Doc 37 – 1803, 10 de setembro – o pároco Inácio de Araújo informa a Universidade do estado da residência há 3 anos a esta parte, em ruína. Doc38 – (?) -Sobre a congrua do pároco residente, declarada na Bulla da União da Igreja de Santa Eulalia da Comieira ao Collegio das Artes. Doc 39 –1804, 20 de Fevereiro – Arrematação da obra dos Consertos e Reparos das Cazas da Rezidencia do Parocho. Arquivo da Universidade de Coimbra (AUC), Dep. IV, sec.1.ª E, Est.6, Tab. 2, n.º 11 Doc 40 – (?)- Orçamento apresentado por José Pereira de Carvalho onde refere algumas obras na capela-mor e sacristia Doc 41 – (?) – Orçamento de de mestre Filipe Moyos Arquivo da Universidade de Coimbra (AUC) Dep. IV, 1.ª E, Est.6, Tab. 2, n.º 10 Doc 42 – 1804, 20 de Fevereiro – Arrematação da Cbra dos Concertos da Caza da Rezidencia do Parocho desta freguezia. Doc 43 – 1804, 26 de Março – Termo redigido pelo escrivão de Santa Marta, Joaquim Manuel Seixas para as obras e arrematação. Doc 44 – 1804, 21 de Abril, O pároco da freguesia, Manuel Inácio de Araújo e Lemos, ofereceu -se, “ a mandar concertar a mesma obra pelo mesmo preço que os Arrematantes a tinhão tomado”. Doc 45 – 1804, 24 de Abril – O juiz de fora, João Moreira Pinto, pede para a Universidade “expedir ordem para o primeiro pagamento”. Doc 46 e 47 1804, 14 de Outubro – (Arquivo da Universidade de Coimbra (AUC) Dep. IV, 1.ª E, Est.6, Tab. 2, n.º 10) – O reverendo, dirigindo-se a Marçal da Costa Barradas, declara estar a obra quase concluída e, deste modo, devia ser dada ordem ao rendeiro para pagar o 2.º pagamento. Arquivo da Universidade de Coimbra (AUC) Dep. IV, 1.ª E, Est.6, Tab. 2, n.º 10 Doc 48 – Requerimento certidão de preço e quantia sobre a arrematação das obras Doc 49 – 1807 – Requerimento certidão de preço e quantia sobre a arrematação das obras Doc 50 – 1807, 13 de Novembro – - Manuel Pinto Brandão arrematou a obra de caiação Doc 51 e 52 – 1807, 25 de Novembro – Expedida ordem para o juiz de fora proceder à vistoria dessa obra e o caiador Manuel Pinto Brandão certifica tê-la arrematado. Doc 53 – (?) – Rellação das cazas e herdades pertencentes à Jgreja de Santa Eulalia da Comieira, extrahida do Tombo respectivo Arquivo da Universidade de Coimbra (AUC) ; Dep. IV, Est. 6, tab2, n.º 1 Doc 54 -1808, 14 de Maio – Ordem para pagar a José Pereira de Carvalho.

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Arquivo da Universidade de Coimbra (AUC) ; Dep. IV, 1.ª E, Est. 6, tab 2, n.º 13 Doc 55 – 1808, 22 de Outubro – Nova ordem para novamente se por a obra “a lanços”. Arquivo da Universidade de Coimbra (AUC) Dep. IV, 1.ª E, Est.6, Tab. 2, n.º 10 Docs. 56 e 57 – 1810, 2 de Junho de 1810 / 15 de Setembro- Ordenava-se para os lances não excederem os preços de 1801. Doc 58 – (?) João Rebello Catalão do lugar do Asento da Comieira, termo da Villa de Santa Martha, que sempre arrematou a Sanjoaneira e sempre cumpriu, informa a Universidade que está arruinado devido às invasões francesas e à fuga das pessoas para outras terras. Arquivo da Universidade de Coimbra (AUC), Dep. IV, sec.1.ª E, Est.6, Tab. 2, n.º 11 Doc 59 – 1818 – Dá-se conta ao Juízo da Casa do Despacho de todos os capítulos e visitas por cumprir na capela-mor e na casa paroquial da Cumieira. Doc 60 – 1821, 19 de Março – Expede-se ordem ao procurador da Universidade para, quando pudesse, mandasse fazer os apontamentos e orçamentos das obras necessárias, “tanto da Igreja como das Cazas da Rezidencia”, pondo-as “a Lanços”. Doc. 61 – 1821, 22 de Junho – O procurador Teotónio Lobato, expede missiva reincidindo no seu lamentável estado de saúde. Doc 62 – 1821, 22 de Junho – O procurador Teotónio Lobato propunha a fiscalização das obras da Cumieira através do procurador de Lamego. Doc 63 – 1822, 20 de Julho – Por provisão régia, ordena-se ao procurador de Lamego para mandar formalizar apontamentos e orçamento das obras. Doc 64 – 1822, 27 de Agosto – São assinados esses apontamentos por Francisco Pinto de Araújo e pelo mestre pedreiro Manuel Teixeira e o mestre carpinteiro João de Oliveira. Doc 65 – 1822, Setembro – Mandava-se informar Manuel Baptista sobre o orçamento apresentado pelos mestres Francisco Pinto de Araújo e pelo mestre pedreiro Manuel Teixeira e o mestre carpinteiro João de Oliveira , remetendo-se os apontamentos ao Rei a 29 de Agosto desse ano. Doc 66 – (?)- dava-se ordem para “por a lanços e arrematar comtanto que se não exceda o preço arbitrado pelo Mestre Baptista”. um ano depois, a 6 de Maio de 1823 são remetidos por António Baptista Freire, ao vice-reitor da Universidade, novos apontamentos “precisos fazer na Igreja e Sacristia e Capella Mor e Cazas de Rezidencia de Santa Eulalia da Comieira” (10 de Maio de 1822) Arquivo da Universidade de Coimbra (AUC) ; Dep. IV, Sec. 1.ª E, Est. 6, tab 2, n.º12 Doc 67 – 1822, 24 de Maio – ordem para se fazerem os paramentos, mandando novamente fazer apontamentos e orçamentos destinados à casa da residência paroquial. Arquivo da Universidade de Coimbra (AUC) Dep. IV, 1.ª E, Est.6, Tab. 2, n.º 10 Doc 68 – 1822 – O Colégio das Artes, a quem pertencia o padroado da Cumieira, propôs à Junta da Companhia do Alto Douro a 20 de Agosto de 1822, a compra do vinho pertencente aos seus rendimentos. Com esse dinheiro suportaria as obras. Contudo, a Companhia a um de Setembro do mesmo ano, muito respeitosamente responde negativamente ao pedido porque “ lhe he absolutamente impraticavel a compra dos referidos vinhos”( 1 de Setembro de 1822) Arquivo Paroquial, Livro da junta da paróquia da cumeeira – fls 73 e 73v Doc 69 – 1849, 9 de Novembro (Doc 30 – Dispersos) Arrematação da obra de “caliamento” para a igreja da Cumeeira, por Domingos Rodrigues da freguesia de São Pedro de Vila Real. Esta arrematação foi conduzida pela Junta da paróquia. Desta obra constava o concerto de todo o telhado com telha nova, as paredes rebocadas com cal e areia, limpeza do forro e toda a igreja “caliada” por dentro e por fora.

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Arquivo da Universidade de Coimbra (AUC) – Obras em Igrejas no Bispado de Lamego – IV/1ªE/5/17/33 – (fls. 158 e 167) Doc. 70 (B.L.39) – Apontamentos da obra que de Pintura e Trolha e ainda pouca pursão de Carpinteiro he presiza fazer-se na Jgreja de São Sebastião de Baldoz e a manda fazer a Universidade de Coimbra Arquivo Distrital de Vila Real, Notariais de Santa Marta de Penaguião, 3º oficio, Liv. 76, fls. 22v - 26. Doc. 71 – 1752, 19 Julho Escriptura de aRematação das obras de madeira da Igreja de Sam Thiago de Fontes que fazem Francisco da Silva e João Baptista mos mestres carpinteiros este asistente no couto do Pezo e aquelle da mesma villa de Fontes com o Juis da mesma Jgreja Manoel Rabello e os Juizes eleitos para as mesmas obras João de Mesquita do cabo da villa e Manoel Cardoso de Mattos e Manoel Pinto pardal de Taboadelo e o Reverendo vigario da mesma Igreja Frei Antonio Paullo Mendes. Arquivo da Universidade de Coimbra (AUC) ; Dep. IV, 1.ª E, Est. 6, tab 2, n.º 13 Documento 10 e 11 B DESENHOS COM LEGENDAS Risco da obra que manda fazer a Universidade de Coimbra para Caza de Residencia da Igreja de Santa Eulalia da Cumieira. N.º 1 porta de escada dentro do adro N.º 2 Armazem para adega nos subeterranios e por sima 1Sala 2 gabinetes e Caza de Jantar com porta para a Cozinha que he a casa que fiqa N.º 3 Parede que deve procurar firme donde elle estiver e ter de groso no cabouqo 8 palmos ate o olivel da terra e ate o vigamento 6 dahi ate o frixal 3/2 toda feita com Cal e asim a frontaria N.º 4 parede que por arruinada e por fazer a purpiedade paralela de 30 de vão se a-de faze<r> de novo ainda que a cozinha podese algum corte N.º 5 Parede que a-de estroser = ou ao menos atar com a qina da Cozinha que fica N.º 6 Adega para o Reverendo Paroco e por sima para Salla com porta debaixo da Janela que deita para o pátio que deixa das cazas demolidas N.º 7 Cozinha que fica com 2 Janellas novas para o patio e porta para a Caza de Jantar N.º 8 Corredor que tem serventia por 2 escadas de pedra N.º 9 Caza propia de Jantar 1 Janella sobre o tilhado da adega nova N.º 10 Senefica a dita nova adega sobre cuia parede Levanta 10 palmos N.º 11 Canpo que deixão as demolidas Cazas no fim porta para a Rua da Pia N.º 12 Entrada para os dois Lagares e defronte leva porta para os pasais N.º 13 Varanda suspensa sobre ao menos 10 Caxorros de pedra N.º 14 Comũa no patim da Escada do patio novo N.º 15 Cazazinha com serventia somente para o corredor a fim de ser do moso N.º 16 Cor emcarnada que denota o antigo = e amarella tudo o novo Andre Ribeiro pinto gomes d’acernhão Mestre Francisco de oliveira Dos aRematantes N.º 1 porta de esCada dentro no adro defronte da torre da Igreja da Cumieira N.º 2 Armazem para adega nos subeterranios e por sima 1Salla 2 Gabinetes e Caza de Jantar com porta para a Cozinha que he a casa que fiqa antiga

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N.º 3 parede que deve proCurar firme donde estiver e ter de groso No cabouqo 8 palmos ate o nivel da terra e ate o vigamento 6 depois 3/2 tod[a] feita com Cal e assim a frontaria N.º 4 parede que por arruinada e para fazer a propiedade paralela de 30 de vão se a-de fazer de novo ainda que a cozinha podese algum corte fazer N.º 5 Parede que a-de estroser ou ao menos a ter com a qina da Cozinha que fica N.º 6 Adega para o Reverendo Paroco e por sima para Salla com porta de escada no adro N.º 7 Cozinha que fica com 2 Jenellas Novas para o patio e porta no Corredor e Caza de Jantar N.º 8 Corredor que tera serventia por 2 escadas de pedra N.º 9 Caza propia de Jantar com 1 Jenella sobre o tilhado da adega chamada a nova N.º 10 Senefica a dita nova adega sobre Cuia parede Levanta 10 palmos N.º 11 Campo que Avião de deixar-se Cazas que novamente Se mandou sedozir a continua da adega para rendeiros com 2 sobrados […] sima para seleiro e sua asistensia N.º 12 entrada para os dois Lagares digo adegas com porta na fasia da rua N.º 13 Varanda suspensa sobre o menos 10 cachoros de pedra N.º 14 Comua no patim da Escada do patio novo N.º 15 Cozinha com serventia somente para o corredor e no fim Caza propia para moso N.º 16 Cor emcarnada que denota o antigo assim como o amarello que he de novo = e a Cor Carmezim he a obra para o novo aJuste.

daqui para dentro he quanto estava ajustado

e isto quanto se mandou fazer de novo sobre paredes que na primeira se uzão de demolir e agora servem metendo-lhe as jenellas nos seus respetivos lugares e somente a frentedoria a-de ser de novo estrosendo com o adro como se mostra

Cazas não sei de quem

Frontaria dentro no adro voltada para o Nasente

Parede que se muda para estorser com o adro quando nova

Por ordem ao Doutor Ouvidor de Villa Real para que mande por a lanços aquella porção de obra que fica contigua as cazas de Residencia que actualmente se fazem para servir de adega selleiro e apozento do Rendeiro na forma dos apontamentos o que tudo no risco vai de cor Avaliando-se primeiro toda a pedra e madeira que desta porção de obra pertencia ao Rematante Manuel dos Anjos para que elle depois não peça mais do que he justo por este titulo, e ao Rematante futuro se lhe concedem a pedra e madeira das Cazas que athe agora serviam de Selleiro ao Rendeiro o que tudo deve entrar em consideração para os Lanços que serão remetidos pelo sobredito Ministro

Documento 12 B DESENHO COM LEGENDAS abobeda aRoinada Retabolo Sacristia Terapleno da Sacristia Bemzuleu do Retabolo Capella Major Arco do Inboco Arco do estribo Se fara para a capela Major que se acha aRoinda que me parece que ficara segura a Roina que ameaça Antonio Joze

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