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Figura 11 - Cenário bibliotecas mundial

país que não prioriza a democratização da leitura, da cultura, da informação e do conhecimento e isso resulta na existência de bibliotecas públicas sem um espaço adequado, acervo atualizado e demais serviços para a comunidade. A figura 11 demonstra a relação de bibliotecas a nível mundial, nela é possível perceber que o número de equipamentos do Brasil se aproxima do México e da Itália. Entretanto, a problemática é que a extensão do território brasileiro e o número de população não condiz com o número de bibliotecas existentes, sendo que há uma biblioteca para cada 30 mil habitantes no país. De acordo com IBGE (2021), o Brasil possui cerca de 212 milhões de habitantes, o México 128 milhões e a Itália 60 milhões.

Figura 11 - Cenário bibliotecas mundial

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Fonte: Lage (2019)

Segundo Freitas e Silva (2014, p. 04-06), a biblioteca pública é “um meio de democratização da leitura e do conhecimento para um país”, sendo assim, elas possuem como intuito atender as necessidades da sociedade de modo a fomentar o conhecimento, a informação e a inclusão social, devendo-se ser acessível e atrativa a todos, indistintamente, a fim de contribuir com o crescimento social, cultural e político dos usuários.

O acesso à informação é indispensável na formação de cidadãos conscientes, pois torna o ser humano capaz de organizar a sua visão de mundo, facilita a sua ordenação mental e possibilita externar opiniões, tomar posicionamentos e verbalizar impressões, transformando essas informações em conhecimento. (FREITAS, SILVA, 2014, p. 05-06).

Ainda segundo os autores, além de possibilitar o acesso à informação, as bibliotecas públicas devem compreender os usuários e a partir disso promover

programas, incentivos e iniciativas que fomentem a prática da leitura para atrair os indivíduos ao espaço bibliotecário evitando a exclusão social, muitas vezes causadas por falta de políticas voltada para toda a população. Nesse contexto, a instalação de uma biblioteca pública no Brasil deve levar em consideração a localização, o público-alvo e seu entorno, deve possuir conforto no espaço físico construído para garantir a permanência e comodidade dos usuários. Além disso, ela deve ampliar o horário de atendimento para os fins de semana e para o período noturno, incluindo diversas atividades culturais e profissionais que podem ser proporcionadas por este espaço (FREITAS; SILVA, 2014, p. 131). Para Santos (2010), as bibliotecas do Brasil se caracterizam por acompanhar os acontecimentos históricos. Com isso, elas foram ganhando espaço na sociedade conforme a população foi se desvinculando de Portugal e criando a própria identidade política e cultural. Sendo assim, a biblioteca pública deve ser considerada uma das instituições sociais mais relevantes da sociedade, porque preserva e transmite conhecimento, ao mesmo tempo que se altera de acordo com as transformações temporais, sendo responsável por garantir a comunicação do ser humano. Em geral, cidades com população predominantemente de classe baixa não investem em melhorias para as bibliotecas existentes e/ou na criação de novas instituições, visto que, nesses casos, o uso torna-se sobretudo, escolar. A cidade de Sarandi por exemplo, localizada no interior do Estado do Paraná, possui duas bibliotecas públicas que são subutilizadas e os principais problemas são infraestrutura e falta de acervo. O investimento da cidade abrange sobretudo, o esporte, enquanto a cultura e a educação necessitam de melhorias e atenção.

2.3 O ESPAÇO DA BIBLIOTECA

O espaço físico das bibliotecas públicas é por muitas vezes considerado um lugar de apropriação cidadã, essencial para ampliar o sentimento de sociabilidade e coletividade, como expressão cultural das comunidades. Os

espaços bibliotecários são responsáveis por criar e ressignificar significados e acontecimentos sociais, por possibilitar o equilíbrio entre histórias e gerações, e por ofertar experiências para a população. Sendo assim, a biblioteca pública pode ser vista como refúgio, ambiente de encontro, acolhimento, possibilidades, preservação da memória coletiva, coletividade, hospitalidade e, sobretudo, liberdade e igualdade (CRIPPA, 2015). Santos (2016) afirma que o espaço físico da biblioteca deve ser projetado a fim de atender e garantir a individualidade da população, a partir de uma setorização integrada com todo o edifício e que permita que cada atividade funcione isoladamente, sem interferências extremas de outros setores. Nesse sentido a setorização macro sugere que os acervos sejam separados por tipologia, área de serviços administrativos e afins, espaços para leitura e espaços livres para diferentes atividades culturais. O espaço físico da biblioteca e seu acervo deve atender as necessidades universais dos usuários, ser adequado e possuir condições suficientes para o atendimento da população, sobretudo, conforto físico e térmico do espaço. Ressalta-se que a acessibilidade universal precisa ser obrigatória nos espaços das bibliotecas, independente da condição física do usuário (AZEVEDO, 2018). Para Milanesi (1997), a área física deveria ser calculada com base no número de habitantes:

Um município de 30.000 mil habitantes deverá ter, minimamente, uma área de 300 m2 para as várias atividades culturais. Abaixo disso, será impossível abrigar o que se supõe que uma área destinada à Cultura deva ter. (MILANESI, 1997, p. 241).

As necessidades das bibliotecas estão se modificando junto com as transformações sociais; tendo isso visto, entende-se que a biblioteca pública deve acompanhar as inovações tecnológicas e criar alternativas para atender o público. Ao contrário das primeiras bibliotecas que apenas existiam para armazenar livros, as bibliotecas atuais são uma extensão das comunidades (FREITAS; SILVA, 2014). O programa de necessidades dos espaços de conhecimento deve possibilitar a educação formal e informal a partir de percursos arquitetônicos de leitura, de modo que garanta experimentações nos diferentes campos do

conhecimento. Além disso deve possuir ateliês, ambientes de leitura, salas culturais e espaços para grupos de estudos e salas co-working quando possível (CRIPPA, 2015). Sendo assim, o espaço físico deve contar com ambientes de estudos preparados para receber notebooks com acesso à internet e com tomadas; já o ambiente online deve possuir uma base de dados com o acervo e periódicos eletrônicos disponíveis em plataforma online que facilitam o acesso a todos os cidadãos e demais serviços de suporte online e digital para os usuários e para colaboradores internos (FREITAS; SILVA, 2014). Todavia, uma das maiores dificuldades em adequar as bibliotecas brasileiras para essa nova era da informação é o investimento por parte do governo, já que há alterações de infraestrutura, compra de equipamentos e materiais de informática, assim como manutenção geral do espaço da biblioteca. No Brasil o acesso à informação e à comunicação é dificultada devido à precariedade dos serviços de telecomunicação que não existem em todo território nacional e a predominância da população que se encontra em vulnerabilidade social e não possui dinheiro para compra de equipamentos eletrônicos (AZEVEDO, 2018). Em um panorama internacional, as bibliotecas públicas encontram-se em uma transição como um catalisador social. Nos últimos anos, países semelhantes ao Brasil no que diz respeito ao desenvolvimento e índice de população de baixa renda, passaram a se destacar nas novas funções ofertadas pelas bibliotecas públicas. A Colômbia em especial, é hoje referência mundial por ter investido nas bibliotecas (as chamadas bibliotecas parques), pensando no bem-estar social, na redução da violência, no conhecimento universal e no acesso político e cultural a todos (SANTOS, 2016). As bibliotecas parques como ficaram conhecidas, são as bibliotecas do futuro. Um dos motivos é porque elas englobam em seus programas de necessidades, usos como “cinema, cafeteria, salas destinadas a reuniões das comunidades, filmoteca, teatro, acervo digital de música, acesso gratuito à internet, sala de leitura para portadores de deficiências visuais e outros” (SANTOS, 2016, p. 70). A partir do exposto, entende-se que as bibliotecas públicas transitam em diferentes áreas da sociedade, sempre com o intuito de promover o acesso ao

conhecimento, proporcionar interações sociais e colaborar com o crescimento político e sociocultural. As bibliotecas do Brasil percorrem diariamente um caminho em busca da sociabilidade criada e estimulada em equipamentos públicos. Entretanto, percebe-se que elas se tornam muitas vezes esquecidas no tempo, ficando subutilizadas, esperando recursos do governo, políticas públicas exclusivas, duradouras e eficazes, e a procura por parte da sociedade.

3 BIBLIOTECAS NO ESPAÇO URBANO

Nesse capítulo será abordado de forma breve o termo equipamento cultural, a fim de compreender a sua relevância social, logo será possível entender por que a biblioteca pública se encaixa nesta tipologia. Após isso, será discutido acerca das bibliotecas como espaço de integração, com intuito de esclarecer algumas premissas para o projeto final, incluindo algumas pontuações breves de ambientes necessário e o uso da acessibilidade. Por fim o capítulo, discorrerá a respeito das bibliotecas parque, assim como seu surgimento e principais características, visto que, elas são hoje consideradas as bibliotecas do futuro.

3.1 BIBLIOTECA COMO ESPAÇO DE INTEGRAÇÃO

As bibliotecas públicas hoje são caracterizadas por serem equipamentos culturais, inseridos dentro do espaço urbano com intuito de promover as interações e discussões sociais, assim como fornecer ao cidadão lazer e sentimento de pertencimento. Elas transitam entre a esfera pública e a privada, fomentam o crescimento político, cultural e ainda contribuem com a sociabilidade. Do mesmo modo que os espaços abertos, as instituições culturais devem proporcionar vínculo entre o sujeito e o espaço, resultando no acúmulo de significados afetivos e/ou históricos (SOBARZO, 2006). Os equipamentos culturais estão sujeitos à apropriação urbana e nesse sentido, eles tornam-se espaços públicos de “bem comum”, visto que são estabelecidas relações sociais que atravessam o tempo e o espaço. Nesse caso, as bibliotecas públicas como um ambiente coletivo, deve estimular a criatividade e a individualidade, fazendo com que o local seja de responsabilidade de todos os indivíduos, assim como ocorre em uma praça (HARVEY, 2014, p. 147). Os equipamentos públicos de caráter cultural surgiram como consequência da expansão urbana e do adensamento das cidades no século passado, em que houve o desaparecimento dos ambientes abertos e a

necessidade de novos espaços com atividades diversas para a permanência das pessoas. Nesse viés, as edificações de uso público tornaram-se uma extensão da vida comunitária para o atendimento de demandas sociais (MOTA, 2016). Nesse cenário, o papel do arquiteto e urbanista era conciliar as mudanças temporais e tecnológicas que havia na época, permitir o uso saudável das cidades e das edificações, assim como compreender as novas necessidades do coletivo, a fim de projetar edificações que suprissem a falta dos espaços livres da cidade. À vista disso, as edificações culturais são conhecidas por serem expressão dos movimentos sociais e políticos, já que contribuem com a capacidade do indivíduo de se posicionar perante a sociedade. As edificações culturais são geradores de novas funções sociais e influenciam diretamente nas relações, decisões e atividades do sujeito (SOBARZO, 2006; GOMES, 2018). Nos últimos anos tais equipamentos passaram a ser projetados em processos mais amplos de regeneração, requalificação e intervenção urbana, a fim de contribuir com a vitalidade, o dinamismo social e criar atratividade no local, região ou cidade inseridos. Estes muitas vezes são responsáveis pela renovação de áreas degradadas, resgate de memória coletiva local, criação de identidade e expressão social (MOTA, 2016). Inúmeras edificações conseguiram mesclar as esferas privada e pública da sociedade a partir de estratégias convidativas, como praças em seu interior e escadas em seu exterior. Entre eles destacam-se o Centro Pompidou e o Museu Brasileiro de Escultura (MuBE). O Centro Georges Pompidou (Figura 12 e 13), localizado em Paris, projetado por Renzo Piano e Richard Rogers em 1977, com uma identidade hightech, garante a relação entre interior e exterior por meio da permeabilidade visual da fachada envidraçada e da visualização da cidade nas circulações entre andares, já que os acessos foram projetados com o intuito de criar uma movimentação interna, em que as rampas, responsáveis pela circulação vertical, são voltadas para o exterior, criando no usuário uma conexão com a cidade envolvente. A existência de uma praça voltada para a população garante permanência das pessoas (VIVADECORA, 2019).

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