“Eu sou um escritor. Não sou bailarino, não sou músico, não sou Chico Buarque... Se você me quer como escritor, me trate como escritor.” Conosco-aqui, e que honra!, o escritor angolano José Eduardo Agualusa, em entrevista exclusiva, bonita de generosidades, a Iara Fernandes E também-mais: Eabha Rose ● Maita Assy ● Germano Xavier ● James Wilker ● Rafael Kesler ● Carol Piva ● Toni McConaghie ● Karime Limon ● Little Eagle McGowan ● Isabela Escher ● Tatiana Carlotti ● Zé Alfredo Ciabotti ● Sara Rauch ● Carol Caetano ● Paulo Cecílio ● Leonardo Valesi ● Marília Kosby ●
editorial
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Em giros, um ano depois, e revigorados! Estamos novamente Equadores, aqui-neste número 4 que temos mais-que-honra
O artista de rua Lama por todo lado nas botas dele. Outono, fim de tarde. Passos de pessoas se apressando. Multidão
The Busker,
de se embrenhar em páginas, palavras, folhas líquidas. Que
a cujos pés — na toada, prosseguindo — os dele
por Eabha Rose
vêm e vão, se evaporam, ziguezagueiam, mas permanecem
então se juntavam. E iam, em cadência. Ele atra-
The mud was thick on his boots. It
— dentro. De muito que também — e que coisa!, isso do vi-
vessava o parque como se tivesse destino algum.
was autumn, late afternoon. People
Ou plano, qualquer que. Em tempo, um tempo,
hurried past. He joined the throngs,
de trazer aos que nos leem. E (se) (re)confabulam. Gostam
gor/revigor, era o que eu dizia — parece mesmo é que tudo na gente “tem telescópios”, já poetava João Cabral de Melo
tempo de. Era quando ela dava o ar da graça. Aqui.
crossed the park in a straight line like
longe de nós uns mil metros. Te-les-có-pios. Dizendo do (re)
Ele ainda sentia. De tanto ela ali, por perto, tanto
he too had a destination, a plan. It was
vigor o que na gente pulsa tão intenso quando se vão tecen-
que ele até gracejava. Cores bem vivas. Enquanto
her time to be here. He knew it. He’d
do manhãs de literatura e arte, em flor, aéreas, à deriva, indo
ela, como se pirilampeasse, ia de canto a outro no
watched her here before, laughing
livres de armação, em suas tênues teias — o mais importan-
carrossel, volteando, volteando, a perder de vista.
as she jumped on and off the round-
Neto. Telescópios. Que espiam a rua, espiando a alma e até
te. Que é pra desdobrar a gente, bem no sentido deleuziano de dobra, de umas tantas... querências. E de acreditamentos impreteríveis: que gentes... existam sempre as-que sonharão numa praia, sem saberem datas, fazendo seus aviões de ideias, suas horas de mistério... Mesmo suas janelas de dor. Ah...! Com a tarefa — deliciosa — de vir cá editorialista-hoje, dou à estampa... que a gente retorna, neste 4º número, de vez pra sempre(s), e que agora nos vamos pensando semestrais,
about, spinning in and out of view. No banco, já sentado, ele tentava acabar o sanduíche. Dali a pouco, guardaria o resto em papel
Sitting on the bench, he tried to finish
celofane. E o embrulho, metido bolso adentro.
his sandwich before wrapping the re-
Um Outro — por ali, sacola de plástico em mãos
mainder in cellophane and shoving it
— alimentava os patos. “Engraçado”, ele dizia de si para si, “como a vida de algumas pessoas parece
e que por conta dessa bem-boa reinauguração equadora ti-
mesmo planejada, meticulosamente...” E é. Elas
vemos a alegria de conversar com o escritor José Eduardo
chegam com suas comidinhas para os patos, mui-
Agualusa, e que... minhanossa!, também foi sendo tanto
tas delas trazem à frente seus cachorros, e suas
(inter)(con)texto dessa vez, e de novo, que... enfins... o tal revigor vem é pra infinitar a gente de muitas bonitezas.
crianças, e livros, e almoços. E, em tudo, isso vem
tic bag was feeding the ducks. Funny, he thought, how some people’s lives are so carefully planned. They arrive with food for the ducks, dogs on leads, wrapped up children, books, lunches.
empacotadinho. Linhas sem desvio. Coisas assim. This elusive thing, how she’d felt un-
Nossas cinco editoras-convidadas participam com fatia imensa desse revigor gostoso, em toda a sua temperança.
Inenarráveis eram as sensações. Isso, por exemplo,
Eabha Rose, da Irlanda, abre pra nós este Equador muito
de ela já ter-se sentido até fictícia. Mas as lem-
brilhantemente com o seu belo conto, alquimista-da-pala-
branças estavam em fragmentos. Feito lama, sem
vra — ela. Iara Fernandes, nossa condessa-lis, é quem nos
in his pocket. A man carrying a plas-
real at times, the memories fragmented, as if they’d been pulled through the mud, crushed like dead leaves.
fim. Esmagadas como folhas, sem viço. Ele tinha
The last time he’d held her she’d been
Isabela Escher, do Rio de Janeiro, nos poetiza em variadas
estado com ela nos braços pela última vez fazia
two years old. Her mother had pulled
tessituras daqui em diante, e pra já! Toni McConaghie, que
já muito tempo. Em pequenina, dois eram os anos
her out of his arms, screaming, before
apresento no “Brincando de fazer um quê”, é generosa-cá
dela quando. A mãe, aos berros. Arrancando ela
ao nos cachoeirar com incrível universo artístico de cores,
dele antes que ele cambaleasse de vez. E despen-
oferta um punhado bom de prosa com o escritor Agualusa.
traços, frestas e desvios. E a querida-bela Tatiana Carlotti
he’d staggered across the floor, head spinning from the cocktail of pills
casse. Cabeça girando, o coquetel de pílulas, o
and alcohol. He’d spent the next few
álcool. Aturdiam. Ele passaria os meses seguintes
months in rehab, tried a few times to
te bonito projeto-equador, Germano Xavier, nos convida
em reabilitação. Recompunha-se, mesmo depois
cut the pain out with a knife before
(-adentro) (em) Beckett’s. E a poeta Karime Limon, eter-
de algumas vezes ter tentado esfaquear de si a dor.
namente poética, nos apresenta mais um de seus poéticos
A rua e seus passantes, o violão e ele. Sobreviven-
vem de Sampa, e de novo em sempres, nos dizer da palavra, da escrita. Também ele, o grande idealizador-tudo des-
autores a serem apreciados e...e...e: Little Eagle McGowan. Sara Rauch, Maita Assy, Marília Kosby e Carol Caeta-
do, como dava. E de família a outra, ia sendo.
taking up guitar, playing to the passersby and moving from one family to the next. And then he saw her, long hair
no são as encantáveis escritoras-poetas cujos versos e sons
Ali, àquela altura, ele avistava. Ela. Cabelo ao ven-
e texturas vêm pra sonhar a gente de literatura-esplendor.
to, comprido. Braços abertos, tão disponíveis. Em
swaying, arms outstretched. She ran
Escrevem, ainda, cá-conosco Zé Alfredo, Paulo Cecílio,
direção... Ah, aos amigos. Dela. E, de novo, a cena.
towards her friends, jumped on the
Rafael Kesler, James Wilker e Leonardo Valenti — êta-trato delicado com a palavra que dá mesmo gosto-além! Vocês aqui conosco — com revigor, é assim que eu digo, em
Ela. Correndo. Ia toda ela. Para o carrossel. Ele. Assistia, de frente. Rostinho iluminado pelo vento
He got to his feet, zipped up his coat, De pé, ele abotoou o casaco, meteu a mão no bolso. E se pôs a alimentar os pássaros.
editores-chefes | editors-in-chief
Germano Xavier (Bahia, Brasil) Carolina Piva (Minas Gerais, Brasil) Karime Limon (California, United States) editoras convidadas | guest editors
www.oequadordascoisas.blogspot.com issn 2357-8025 | fundado em março de 2012 tiragem 1.000 exemplares
impresso no Brasil | printed in Brazil idealização e coordenação editorial | conception and editorial coordination
Germano Xavier (drt ba 3647) projeto gráfico, diagramação e traduções | designed and translated by
Carolina Piva
light up as the wind caught her hair.
que lhe esvoaçava os cabelos. (Entre)tempo(s).
respiração apaixonada e agradecida! Nesta e até a próxima, Carol Piva.
roundabout. He watched her face
Iara Fernandes (Minas Gerais, Brasil) Tatiana Carlotti (São Paulo, Brasil) Isabela Escher (Rio de Janeiro, Brasil) Toni McConaghie (Texas, United States) Eabha Rose (Dublin, Ireland) textos, versos e prosas pra e com a gente for texts, swirls, and windows...to/with us germanoxavier@hotmail.com carolbpiva@gmail.com karimelimon@gmail.com fernandesiar@gmailcom tcarlotti@gmail.com escher.isabela@gmail.com dawgrox@gmail.com eabharose@yahoo.ie
dug in his pocket and began to feed the birds.
O Equador das Coisas é uma publicação semestral, independente e sem fins lucrativos. É todo ele janelas se abrindo a uma literatura o mais esquiva possível das tais “amarras-mercado” naquilo que faz a gente residuar desgostos. Propõe o diálogo com autores, seus textos e imagens, equadores que nos chegam, livre e deliciosamente, de acolás vários e, ainda, dos artistas convidados. Nossa paixão é pela escrita... palavras, sons, imagens e até os silêncios deles... este intercâmbio entre línguas e linguagens. O jornal ziguezagueia entre os t(r)atos editoriais no Brasil, Estados Unidos e agora, muito bonitamente, também na Irlanda. Uma honradeliciúra! Tudo aqui publicado é de responsabilidade exclusiva de seus autores. O Equador das Coisas, a biannual independent journal of literature/arts, features Brazilian and international writers, poets, artists. Launched in 2012 as a nonprofit publication, it is against the so-called “market motives and motifs” that limit and annihilate the (redemptive) power, (enthralling) aesthetics, and (vital) praxis embedded within art. Creative writing and its gleaming interstices/sparks are our passion! Then here it is, a collaboration between editors from Brazil, United States, and Ireland. Contributions can be submitted at any time to the editors. Artists are responsible for the statements made in their texts/pieces.
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Puro achado,
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Ela vinha arrastando umas chinelas, quando a avistei. Atravessava a pracinha pelas sombras tão lentamente que o tempo quase parava. Aquela velha maltrapilha andava como se não fosse a lugar algum. Passava os olhos no chão, varrendo sem interesse. Um costume, talvez. Suas roupas rotas, escuras como a sua pele, pareciam desprender do seu corpo, despetalar. Uma sombra pelas sombras, foi isso que atraiu minha atenção. A ausência de sua presença, como folhas mortas. Havia chovido muito, mas o sol quente já tornava a manhã escaldante. Tanta coisa pra fazer, sendo enumerada, uma a uma, numa lista mental. E o carro estacionado junto ao meio fio. E o calor já devia estar sufocante dentro dele. E, mais uma vez, a velha aparece. Saiu da praça e foi se agachar no meio da rua. Como será a manobra do carro, se ela não sair de lá? Estava diante de uma poça d’água onde ela enfiava as mãos. Lavava as mãos? Seus braços foram se movendo como garranchos até conseguir se sentar de costas, na beira daquela água parada no asfalto. Não entendi nada. Ia ficar ali? Não ia. Continuou quebrando cotovelos, punhos, ombros, pescoço até se deitar na poça que cabia seu corpo, fora as pernas e a cabeça. Os olhos dela, arregalados, se agitavam, concentrados dentro do que lhe acontecia. Da boca à testa, contorcia. Esforçava-se inteira para entrar na poça d’água, sustentar o pescoço, erguer as pernas. Por que tamanho esforço? Se queria um banho, será que não se lembrava do rio ali pertinho? Viera daquela direção, lá da beira das águas claras, correntes, refrescantes. Será que se perdia em cada lugar, a ponto de esquecer por onde passara? — O rio está logo ali... — Água quente... — escapou dela baixinho e sucinto. Água quente, rara pelas ruas. Com os ossos travados da noite fria de chuva, ela achou. E catou.
Olha só o que eles 3
Carnavalizaram a Seriedade do povo. Vomitaram a Esperança verde-amarela. Jogaram merda na cara da Revolução vermelha E deram descarga no que sobrou de Ética e Moral. Entupiram os canos do Conhecimento. Enlamearam a Arte com putaria de mau gosto. Botaram no pagode a Inteligência tupiniquim...
Cantaram: To be or not to be, eu te como!! E comeram mesmo, por trás, o nosso bom senso. Um tchú pra cá, um tchê pra lá, e o Brasil ficou de Quatro.
fizeram, por James Wilker
Enfiaram o dedo no rabo da História. Botaram pra ferver o caldeirão da Mentira. Mandaram pra “mamãe” que os pariu o resto da Política. E xingaram que a Filosofia não dizia nada.
Samuel e eu,
Samuel me assombrará no instante das cabeceiras mornas, sonolentas ainda, em acordes de manhã desdormida. Ele me dirá que não é assim que devo olhar as coisas dessa vida e que a vida é mesmo uma junção de esperanças... mesmo esperanças fajutas, mas esperanças. Eu acordarei sobressaltado, quase indiferente, porque sou um mero mortal e desfaço uniformidades de unhas de pé. Aí o Samuel me dirá vai, e eu ainda dormindo em mim. Samuel dizendo já chega e que já é hora de levantar para a vida, e que é hora já de não haver mais horas, nem tempos, nem aqueles medos medonhos e medíocres de viver e ser feliz por ser simplesmente o que realmente somos... e eu despertando, paulatinamente, um passo de cada vez, um cílio de cada vez, ainda confuso, aturdido em me prestar ouvidos logo pela matina viva e justo ao homem que li na madrugada inteira, insone. Samuel apontará os indicadores magrelos e sem vida aparente para a lâmpada do meu aposento e me dirá acenda, e me dirá brilhe, e me dirá clareie. E eu, levantando o corpo pesado, toneladas de pensamentos, direi que estou, que apenas estou e que ouço a palavra verde da vida, verve que quero no dorso carregar, no vulto e casa que sou. Ele, o homem que li na madrugada de hoje, levantar-se-á da cabeceira morna e começará a caminhar caminhos ao meu lado, me dizendo dizeres de pássaros, mesmo aqueles sem asas, mas pássaros. E na revolta dos meus frios, dirá siga e que eu consiga ser o que sempre quis e sempre desejei e sempre sonhei para mim. E me dirá que a vida é aquele galho que se rompe, talisca, fina, que se acende, gás, torto, que se perde fluido, morte. Dirá, o Samuel, que a vida é morte e que morte sempre haverá de existir para quem se vive a vida, do jeito que se quer viver, independente de tudo. E eu já de pé, ligeiramente acordado em acordos, percebendo que o fim sempre está na partida, e que um dia tudo há de acabar e ter a sua partida e não o seu fim, porque tudo que acaba não acaba, apenas parte, apenas parte... apenas é parte de uma água quebrada capaz de unir-se e fazer-se oceano, imensazul de cores, todas transformadas em azul. Dirá lute, o Samuel, dono de conselhos mil em monossílabos complicadíssimos, mas que os sentidos os decifram, porque literatura é também suor e testa franzida e retesada, dor de coração que se abre e de girassol que se curva. Samuel insistirá eternamente a passear passos ao meu flanco esquerdo, avisando olhe o perigo e tocando meus ombros não é por aí... e eu modelando perplexo a vida que se instaura estância, instância feita de instantes e sangues no papel, aqui, em mim, dentro, fundo, poço, calabouço de mim, masmorra de mim, guilhotina de mim, foice de mim que corta cortes no breu do mundo e que me separa o joio e que me diz vale o joio, não apenas o trigo. Ah, Samuel, você não acha mesmo que vou te esquecer assim foi só um momento, não é? Eu que te provo o gozo de meu deleite no pobre texto que agora redijo, mas que é alma pura o meu texto. Alma pura, Samuel... Eu que sempre lembrarei na revolta dos meus frios, que você, Samuel, você, dirá siga e que eu consiga ser o que sempre quis e sempre desejei e sempre sonhei para mim. Eu que sempre lembrarei você, que me dirá que a vida é aquele galho que se rompe, talisca, fina, que se acende, gás, torto, que se perde fluido, morte. Você, Samuel, que me dirá que a vida é morte e que morte sempre haverá de existir para quem se vive a vida, do jeito que se quer viver, independendo de tudo. Eu que sempre recordarei do dia em que eu, já de pé e ligeiramente acordado em acordos, percebi que o fim sempre está na partida, e que um dia tudo há de acabar e ter a sua partida e não o seu fim, porque tudo que acaba não acaba, apenas parte, apenas parte, Samuel...
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Maita Assy, professora de Jornalismo da Universidade do Estado da Bahia e uma das fundadoras do
pt em Juazeiro. Diz dela o nosso Germano Xavier que “decerto ela não anda mais de Aero Willys por aí, mas sempre chega para lecionar no seu Passat verdinho da década de 80, com o adesivo do Lula no para-choque dianteiro e um Minister entre os delicados dedos...”
Esta é uma das estórias do livro de contos
Sombras adentro, que está no prelo e será publicado em breve-brevíssimo.
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James Wilker Freire Machado, 26, de Jussara-
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Rafael Kesler, 24, é mineiro de Araguari e estuda Letras e Direito. Ganhou, por duas vezes consecutivas, o Concurso Nacional
ba, é formado em Letras, poeta e professor de Literatura e Filosofia. Organizador do Grupo Filosofia de Botequim, foi um dos fundadores do jornal Santo de Casa e da revista eletrônica Aos 4 Ventos.
de Contos Abdala Mameri. E escreve, às terças e quintas-feiras, para o jornal Diário de Araguari.
por Rafael Kesler
e sua vergonhosa Câmara 4
Mediocrenópolis Com as sinceras e efusivas palavras de sempre, digo com veemência: é deprimente visitar as sessões legislativas da desordenada Câmara Municipal de Mediocrenópolis. Chegamos ao pequeno e antigo prédio, acomodamo-nos em precário e desconfortável assento. O espaço é apertado, sufocante; não há lugar disponível nem mesmo para 1% dos mais de 80 mil cidadãos mediocrenopolenses. O ambiente é defasado e decepcionante; recinto totalmente inapropriado para abrigar sede do Poder Legislativo.
por Germano Xavier
O horário de início da reunião legislativa é ilógico e o habitual atraso ou a injustificada falta de alguns vereadores são fatos absolutamente insultuosos para com o público presente. A maior parte da discussão de projetos de leis é implacavelmente entediante e os discursos de alguns edis no plenário demonstram o quanto seus déficits de vocação política são manifestos, evidentes. Insensatos vereadores que deveriam elaborar leis de grande relevância e utilidade municipal, preguiçosa e desleixadamente apenas propõem inócuas mudanças de nomes de ruas ou tragicamente aprovam desnecessário aumento de imposto ou, ainda, “debatem”, de maneira infrutífera, temas sem nenhuma importância políticosocial. Frequente e ridiculamente, utilizam a tribuna para manifestar seus esdrúxulos e eleitoreiros atos de clientelismo, politicagem, politiquices, etc. (homenagear “apadrinhados” é fato bastante costumeiro). Há certo clima de algazarra na bizarra reunião.
em memória de Samuel Beckett, para Marcos Élder Parente
por Maita Assy
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Municipal, Alguns vereadores ociosos, munidos de sua inabilidade típica, fazem... simplesmente nada; a cena é absurda e eles, o desprezível bando de políticos corruptos e despreparados. Legisladores mediocrenopolenses, obrigatoriamente, deveriam buscar o bem da coletividade, o aprimoramento da saúde, da educação e da infraestrutura local nas mais diversas áreas. Lamentavelmente, ao invés disso, o que solicitam são patéticas, diversas e dispensáveis “pausas de 10 minutos” para um cafezinho ou para gozar o ócio, desperdiçando precioso tempo que poderia ser usado em prol de propostas e benefícios para a sofrida e subdesenvolvida Mediocrenópolis.
O site da Câmara Municipal mediocrenopolense é tragicômico, repleto de textos mal escritos, verdadeiras “pérolas”! Há uma seção com informações sobre cada edil. Com português deplorável, lá você pode vislumbrar quão pouco a maioria dos vereadores faz pela cidade medíocre. Entretanto, a pior mazela desta Casa Legislativa é o infame conchavo que parte expressiva dos vereadores faz com o abjeto prefeito. E ficam gravemente maculadas as estruturas e atribuições do órgão, sem a devida fiscalização do Poder Executivo. Há, digamos, um “excesso de harmonia” entre Legislativo e Executivo. Este impiedosamente domina aquele. Em decorrência disso, quem sai perdendo é a pobre e desamparada população. Comissões Legislativas de Inquérito (CLI’s) são empurradas rapidamente para o “arquivo” por causa da submissão de covardes vereadores perante o ignóbil prefeito. Tudo o que este solicita é atendido servilmente. Mediocrenópolis é uma cidade sem infraestrutura e devastada pelo caos, pela corrupção e pela incompetência governamental. A saúde é medíocre; a educação, lamentável; as ruas, esburacadas; as repartições públicas, sucateadas. E a devassidão administrativa é, de fato, abundante... Quem é que assassina, que trucida brutalmente a cidade? E os cúmplices do crime — quem são? Eis como a grotesca vida mediocrenopolense segue... Sem muitas novidades.
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palavras, escrevo porque palavras são asas
Marília Floôr Kosby, antropóloga e poeta, nasceu em Arroio Grande, Rio Grande do Sul,
prostitutas sem corpo carregando
Prestes a não mais temer nada temo tornar-me o tempo que me transborda. Peço, Senhor, que me dê do tempo a origem das carícias que aprecio: deixe-me as almas sobre o colo deixe-me às mãos renunciar de forma que os cabelos se afaguem pelos quentes atrativos de meus olhos seus quentes clamores como são quentes os colos deixe-me a maternidade sobre os pedaços incorruptíveis de natureza inanimada. E deixe-me, por fim, Pai de minhas cordas vivas, a corrupção das cores a corrupção dos tempos e o mármore dos pensamentos numa pequena cesta disposta sobre as mãos de quem a mim possa deitar a alma sobre o colo.
cruzes e sangue roxo chagas recentes ou velhas e podres
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palavras são pedras voando entre foguetes e mísseis que riscam o tempo recebem no silencio do vento meus queridos guris do congo despejam afagos nos colos tantos das meretrizes mudas sem grito talvez num tempo mais delicado em praia alva e plana entre incensos e fogos meu insano espírito cale-se em sono.
Do jeito de sempre firme, disforme eu venho vindo assim como quem vai embora
arteblog.com.br. Ou então por-acolá: www.facebook.com/leovalesi.
é o organizador do Coletivo Revolucionário e tem poemas publicados aqui: lioh.
da ausência — seu meio de produção de linguagem e estética perante o vazio da
vida, esse tão intransponível de se dizer. Radicado em Montes Claros, Minas Gerais,
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de mais poesia dela, por aqui: porcarolinacaetano.blogspot.com.br.
luimentos, a gente se admira e fica na querência de versos teus... ah! Pra ler e se querer
circunferenciar insistente pela lisura das coisas e cismar relutância pra não aceitar di-
Vim pra tudo ter que aprender a não saber Pra ser vereda e vendaval Te dar a semente, o sopro e o sal
cataventar sentidos-miríades. Do que (se) encafifa (e recolhe) em voo, também tu
Eu vim buscar nos teus senões lua nova e mansidão Vim colher no teu sorriso madressilvas e porquês
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espantas, Carol... e a gente, que de tudo vai morrendo à exceção do amor, entre o nosso
Deixa a luz do céu entrar Janela de mim Espelho da festa Deixa a luz do céu entrar
Carolina Caetano, de Uberaba, Minas Gerais, é poeta de rodopiar as palavras e
Marília Kosby
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Leonardo Valesi Valente
o passo atravessa o muro o mundo acelera o peito o furo desperta o sentimento o sentido enobrece o passo o caminho é leve não se pode arrancar um chão nem destampar as crenças o sorriso fragiliza o olho o silêncio entorna o afago o medo desobedece o veio o olho conhece o gesto o plano volta aberto não se quer afastar uma raiz nem abandonar histórias
Leonardo Valesi Valente, terapeuta de formação, é poeta e se dedica ao postulado
por
por
estrela,
vinda,
em 1984. Em 2011, publicou seu primeiro livro, Os Baobás do Fim do Mundo — Trechos líricos de
uma etnografia com religiões de matriz africana no sul do Rio Grande do Sul. No mesmo ano, teve
poemas premiados em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul. Sua segunda publicação, Siete Colores
por Carolina Caetano
por Paulo Cecílio
gente... que é este daqui: www.facebook.com/pages/PAULO-Cecilio/1380766415503660.
4 asangadaspatavinas.blogspot.com e também em www.facebook.com/mariliakosby.
e Um Pote Cheio de Acasos, é de 2012. Pra mais estreitar com a escrita dela, é bem aqui: www.
Paulo Cecílio, que poetiza com apaixonamento, a gente bem sente, abre as portas do seu espaço pra
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prece do poema,
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