Revista enee

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Expediente Institucional Copyright © 2013 Sebrae – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610/1998).

R E L AT Ó R I O Brasília, 27, 28 e 29 de maio de 2013

Informações e contatos Sebrae – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SGAS 604/605 – Conjunto A – Brasília-DF Tel.: (61) 3348-7100 www.sebrae.com.br Presidente do Conselho Deliberativo Nacional Roberto Simões Diretor-Presidente Luiz Eduardo Pereira Barretto Filho Diretor-Técnico Carlos Alberto dos Santos Diretor de Administração e Finanças: José Claudio dos Santos Unidades do Sebrae Nacional coordenadoras do Encontro Nacional de Educação Empreendedora PRESI (Presidência) DITEC (Diretoria Técnica) DAF (Diretoria de Administração e Finanças), UAIN (Unidade de Assessoria Internacional), UARI (Unidade de Assessoria Institucional), UCE (Unidade de Capacitação Empresarial) e UMC (Unidade de Marketing e Comunicação UCSEBRAE (Universidade Corporativa SEBRAE),

Expediente editorial Produção e Edição Sérgio Pádua Colaboradores Abnor Gondim, Bruno Eustáquio, Francisco Pinelli e Pelágio Gondim Supervisão de produção e editorial Mônica Caribé (Universidade Corporativa SEBRAE) Validação Flávia Azevedo Fernandes (Unidade de Capacitação Empresarial) Alessandra Cunha (Unidade de Capacitação Empresarial)

Empretec: 20 anos de soluções

Empreendedorismo nas universidades

L ançado o Pronatec Empreendedor

É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte. Distribuição gratuita.


Sumário

Abertura Institucional..................................................................................................................... 04 Além do Empretec – Características da Personalidade e o Modelo de Negócio Empreendedor Marina Fanning (idealizadora do Empretec).............................................................................. 06 Talk show: Oportunidades e Desafios de Empreender – moderador: Alexandre Garcia; Janete Vaz (Sabin); Lindolfo Martin (Multicoisas); André Telles (4 One Agência de Inovação e Negócios)............................................................................................................................. 10 Ministro da Micro e Pequena Empresa Guilherme Afif Domingos: Pequenos negócios, um novo momento............................................................................................................................... 14 Carlinhos Brow: Projeto Voz e Tudo............................................................................................ 18 Painel Universidade e Empreendedorismo – Pedro Vera (Universidad de Concepción/Chile); Renato Nunes (Unifei/MG); José Roberto Aranha (PUC/RJ).................................................. 20 Pronatec Empreendedor................................................................................................................ 24 Experiências de Educação Empreendedora pelo Mundo – moderador: Gilberto Dimenstein; Bunker Roy (Universidade dos Pés Descalços) e José Pacheco (Escola da Ponte)............... 28 Salas Temáticas • Ensino Fundamental Jogos e Empreendedorismo................................................................. 32 • Ensino Fundamental Fundamentos da Educação Empreendedora...................................... 34 • PronatecEducação Profissional e Empreendedorismo.......................................................... 36 • Capacitação Pronatec Empreendedor..................................................................................... 38 Vila do Conhecimento.................................................................................................................... 42 Pesquisa de satisfação................................................................................................................... 46 Programação................................................................................................................................... 47


Novos rumos

Empreendedorismo a caminho da escola Charles Damasceno

Encontro Nacional de Educação Empreendedora reúne especialistas e autoridades do governo federal para debater e efetivar a inserção do tema no sistema educacional

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m público especializado vindo de várias partes do País e do exterior esteve reunido nos dias 27, 28 e 29 de maio em Brasília para discutir e efetivar novas ações ao fortalecimento do ensino do empreendedorismo no sistema educacional do Brasil. Promovido pelo Sebrae, o Encontro Nacional de Educação Empreendedora destacou a importância do desenvolvimento do comportamento empreendedor na formação de novos profissionais. Marco do novo patamar da Educação Empreendedora no País, o evento reuniu educadores, especialistas internacionais, reitores de universidades e empreendedores, tanto da

2013 foi declarado como o Ano da Educação para o Sebrae. Roberto Simões, presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Nacional

Evento histórico aberto pela diretoria do Sebrae reuniu 2.351 participantes, com a presença de educadores nacionais e internacionais, empresários de sucesso, colaboradores das capitais e do interior e parceiros

própria instituição quanto de organizações parcerias na iniciativa conjunta de complementar a inserção do empreendedorismo desde o ensino fundamental, passando pelo nível médio tradicional e abrindo largos espaços na formação técnica e na graduação superior. O Encontro contou com a presença de 2.351 pessoas e foi prestigiado por autoridades do governo federal – o vice-presidente da República, Michel Temer; o ministro da Educação, Aloizio Mercadante; e o ministro da Micro e Pequena Empresa, Guilherme Afif Domingos, em sua primeira participação em um evento após a posse no cargo.

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Novos rumos

Rodrigo de Oliveira / ASN

Jorge Chediek (à direita), coordenador do Sistema ONU no Brasil, entregou o Certificado de Excelência ao Sebrae. Homenagem foi recebida pelo presidente do Conselho Deliberativo Nacional, Roberto Simões, pelo presidente do Sebrae, Luiz Barretto

Reconhecimento da Excelência Durante o evento, a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) entregou um certificado de excelência ao Sebrae, em reconhecimento aos 20 anos de atuação do Empretec na formação de empreendedores por todo o Brasil. A homenagem foi entregue por Jorge Chediek, coordenador do Sistema ONU no Brasil, ao presidente do Conselho Deliberativo Nacional (CDN) do Sebrae, Roberto Simões, e ao presidente do Sebrae, Luiz Barretto. Simões comemorou a aproximação da instituição com o ensino formal. “2013 foi declarado como o Ano da Educação para o Sebrae e agora temos um leque que atende a todas as faixas da população, e assim podemos levar o comportamento empreendedor para mais pessoas”, comemorou. "A sociedade contemporânea exige cada vez mais pessoas com iniciativa. Por isso, é importante discutir a educação empreendedora, pois assim, desde cedo, o empreendedoris-

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mo é desenvolvido e lapidado nesses profissionais do futuro", apontou Barreto.

Despertar em todo o País No Encontro, também foi anunciado que os alunos do Ensino Médio das escolas públicas brasileiras terão a oportunidade de aprenderem sobre empreendedorismo. O projeto Despertar, oferecido pelo Sebrae do Rio Grande do Norte, será aplicado em todos os estados brasileiros por meio do Sebrae Nacional. O projeto surgiu em 2003 e nesses dez anos já capacitou mais de 26 mil alunos e 573 professores das escolas públicas do estado potiguar. Futuramente, a intenção é que os alunos do Ensino Médio particular também tenham acesso. “Esse evento representa um marco importante, uma vez que reunimos governos, educadores, técnicos e especialistas para debater o modelo empreendedor. E quanto mais evoluirmos na era do conhecimento, maior será nosso desenvolvimento”, afirmou o diretor-técnico do Sebrae, Carlos Alberto dos Santos.


O tema do evento está diretamente relacionado a uma das principais missões do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, que de 1972, já capacitou quase 2 milhões de pessoas, com crianças de apenas seis anos até empresários com negócios consolidados. “O Sebrae é a casa do conhecimento para o fomento do empreendedorismo e comemoramos 40

anos dedicados a essa causa. Ao longodesses anos, presenciamos uma disseminação muito significativa na Educação Empreendedora e, a partir de agora, também teremos toda essa memória disponível no Memorial Sebrae, que estará acessível virtualmente”, destacou o diretor de Administração e Finanças do Sebrae, José Claudio dos Santos.

Leque de opções educacionais No Encontro Nacional de Educação, o Sebrae apresentou o leque de cursos para públicos de diferentes perfis, idades e objetivos. Veja as principais opções: Ensino Fundamental Jovens Empreendedores Primeiros Passos – JEPP – metodologia com jogos, dinâmicas de grupo, exercícios e pesquisa para alunos de seis a 14 anos. Ensino Médio Crescendo e Empreendendo – esse curso desperta o empreendedorismo na juventude como estratégia para inclusão social e acesso ao mercado de trabalho.

Charles Damasceno

Formação de Jovens Empreendedores – aplicado em escolas públicas, privadas e técnicas, visa estimular novas ideias e transformar uma ideia em produto ou serviço. Projeto Despertar – favorece o desenvolvimento de profissionais e os torna mais preparados para atuar no mercado de trabalho Ensino Superior Disciplina de Empreendedorismo – adoção da disciplina de empreendedorismo nos currículos de cursos de graduação nas instituições de ensino superior. Para Empresários Quero Empreender – são três cursos para potenciais empresários que tem um negócio próprio, mas que ainda não foi formalizado ou para os que estão se estruturando. Sou um Microempreendedor Individual – sete cursos para o empresário que fatura anualmente até 60 mil reais. Tenho uma Microempresa – dez cursos para microempresas que faturam até 360 mil reais por ano.

Sebrae expôs no evento os cursos de empreendedorismo

Tenho uma Empresa de Pequeno Porte – mais de dez cursos para negócios que faturam mais de 360 mil e menos de 3,6 milhões.

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Empretec – 20 anos

Brasil é líder na formação de empreendedores Com o programa criado pela ONU, o Sebrae já formou 185 mil empreendedores em 8.000 turmas e deve capacitar 300 mil pessoas até 2017

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m 1993, o Sebrae implantava no Brasil o Empretec, um programa desenvolvido pela Organização das Nações Unidas (ONU) para oferecer aos países-membros com economias em transição metodologias de aprimoramento de empreendedores na gestão de empresas e de negócios. Após 20 anos, o Brasil é líder mundial entre as 34 nações que adotaram a experiência, com a formação de 185 mil empreendedores em 8.000 turmas e estimativa de capacitar até 2017 mais 300 mil pessoas. A comemoração de duas dé-

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cadas do Empretec no Brasil foi marcada no Encontro Nacional de Educação Empreendedora por uma palestra de Marina Fanning, uma das consultoras da ONU que ajudou a idealizar o Empretec, em 1982. Atualmente, o curso é aplicado com exclusividade pelo Sebrae em todos os 26 estados brasileiros e no Distrito Federal. Fanning foi homenageada pelo Sebrae por ter contribuído para introduzir a metodologia em 30 países, inclusive no Brasil. Também foram homenageados com placas comemorativas os gestores e consultores do Sebrae

O século 21 será o século do empreendedor nos países do G-20 [no qual está o Brasil]. Marina Fanning, idealizadora do Empretec


Charles Damasceno

e empreendedores pioneiros que efetivaram a implantação do curso inicialmente no Distrito Federal e em seis estados (ES, MS, PE, RS, SC e SP). A homenagem aos 20 anos do Empretec foi marcada também pela divulgação uma pesquisa realizada pelo Sebrae, apontando que, em média, aumentou em R$ 24,6 mil o faturamento mensal de empresas dirigidas pela divulgação de “empretecos”, como são denominados os empreendedores qualificados pelo Empretec. Esse aumento foi declarado por 90% dos 1.871 empretecos entrevistados pela pesquisa em todo o País. Eles atribuíram o crescimento do faturamento às técnicas aprendidas no curso de capacitação do Sebrae.

O século do G-20 Empresária mexicana naturalizada norte-americana, Marina Fanning é atualmente vice-presidente da Managment Systems International (MSI), uma organização sediada nos Estados Unidos que desenvolve mais de 70 projetos em todo o mundo. Mais de 30 são de longo prazo, inclusive em países frágeis e propensos ao conflito, a exemplo de Iraque, Afeganistão, Paquistão e Sudão do Sul. Durante a palestra, a idealizadora do Empretec traçou um panorama sobre as mudanças econômicas e tecnológicas que ocorreram no mundo desde que a metodologia começou a ser aplicada no Brasil. “Muitas coisas aconteceram

Diretoria do Sebrae homenageou os pioneiros do Empretec na ONU e no Brasil

Em média, aumentou em R$ 24,6 mil o faturamento mensal de empresas dirigidas por “empretecos”. Pesquisa do Sebrae sobre o Empretec

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Charles Damasceno

Empretec – 20 anos

Marina: Brasil ocupa o 35º lugar em educação empreendedora, à frente dos EUA (56º), graças ao Sebrae

nos últimos 20 anos: a China não era uma economia mundial, as grandes economias eram sete, a internet não existia, não havia telefones celulares”, historiou a convidada especial . “Duas décadas depois”, comparou, “a China é a segunda economia do mundo. As principais economias mundiais hoje são 20, das quais o Brasil é uma delas, fazendo parte do G-20 (o grupo dos países mais desenvolvidos). Um bilhão e meio de pessoas estão online e quase 4 bilhões de pessoas possuem celulares”, atualizou. A palestrante também fez projeções animadoras para os empreendedores brasileiros: “Haverá mudanças importantes no mundo e no Brasil, sobretudo. Temos visto como os empreendedores estão reformando o mundo neste momento de globalização. Já se fala hoje que o século 21 será o século do empreendedor nos países do G-20”. Na sua apresentação, Fanning também ponderou sobre uma questão crucial para os que pre-

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tendem ingressar no mundo dos negócios ou do trabalho: ser ou não ser empreendedor. Na avaliação dela, tudo começa com a motivação pessoal e a satisfação para gerá-la. “Os empreendedores devem ser motivados por si mesmos”, ensinou. Em contrapartida, a idealizadora do Empretec afirmou que no Brasil o acesso ao financiamento é muito difícil, além de outras dificuldades que atrapalham a vida dos empreendedores. “O Brasil é o número 121º entre 185º países em facilidade para abrir um negócio. No Brasil são requeridos 300 procedimentos e 109 dias para abrir uma empresa; nos Estados Unidos são seis procedimentos em seis dias. Em número de impostos, o Brasil é o 156º entre 185º países e toma 2.600 horas por ano para pagar os tributos; os Estados Unidos é o 69º em número de impostos e paga os tributos em 175 horas por ano.” Como boa notícia, a idealizadora do Empretec destacou: “Em educação empreendedora, o Brasil

Quem tem mais conhecimento e educação consegue estar à frente nos negócios e ter mais rendimento. Luiz Barretto, presidente do Sebrae


está em 35º lugar, numa posição bem melhor do que a dos Estados Unidos (56º lugar), graças ao Sebrae – o que é sensacional”.

Conhecimento e educação “Quem tem mais conhecimento e educação consegue estar à frente nos negócios e ter mais rendimento”, afirmou o presidente do Sebrae, Luiz Barretto, que entregou a Marina Fanning o livro Inovação e Sustentabilidade: Bases para o Futuro dos Pequenos Negócios. A obra reproduz textos que foram produzidos a partir dos debates do Seminário Internacional de Pe-

quenos Negócios, realizado pelo Sebrae, com apoio do jornal Valor Econômico, em abril de 2012. “20 anos é uma história, 20 anos é uma vida”, comemorou o diretor-técnico do Sebrae, Carlos Alberto dos Santos. “Nós temos que olhar o que conquistamos, mas principalmente nós temos que olhar para o futuro”. Ao comentar que os empreendedores continuam a manter contato após o curso, ele defendeu a criação de uma grande rede nacional de “empretecos” e “empretecas” com base nas novas tecnologias de informação e comunicação. “Para impulsionar negócios, para fazer networking”, justificou.

O Voo da Cobra moda jovem Cobra d’Água e à própria trajetória empreendedora. “O Empretec estimula os empreendedores e contribui para a melhoria da qualidade de vida nos países em desenvolvimento”, agradeceu.

Lucas: melhoria da qualidade de vida nos países em desenvolvimento

Charles Damasceno

Em nome de todos os 185 mil “empretecos” brasileiros, o empresário capixaba Lucas Izoton Vieira foi homenageado pelo Sebrae durante a cerimônia que comemorou os 20 anos do Empretec no Brasil. Ele fez parte da primeira turma do seminário pioneiro realizado no Espírito Santo, em 1993, e se tornou não só instrutor do Empretec como exemplo das lições aprendidas e ensinadas. Preside o grupo Izoton, que atua nos segmentos de moda e varejo, bem como em empreendimentos imobiliários e hotelaria. Vice-presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria) e membro de várias entidades nacionais, o homenageado é autor do livro O Voo da Cobra”, numa alusão à sua marca de

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Talk show

O sucesso de quem soube vencer desafios Empresários contam como aproveitaram oportunidades para crescer

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creditar, persistir e não vacilar diante das oportunidades. Essas são lições deixadas por três empresários que transformaram desafios em negócios consolidados: Janete Vaz (Laboratório Sabin), Lindolfo Martin (franquia Multicoisas) e André Telles (4 One Agência de Inovação e Negócios). Eles participaram do talk show “Oportunidade e Desafios de Empreender”, mediado pelo jornalista Alexandre Garcia e realizado no primeiro dia do Encontro Nacional de Educação. Janete contou que, aos 29 anos, ao abrir o Laboratório Sabin, logo

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aprendeu a identificar oportunidades de negócios. Na época, ela trabalhava em duas clínicas. Um colega pediatra, querendo tirar proveito da situação, provocou-lhe: “Quanto você vai me dar para eu indicar todos os clientes para você?”. Janete viu ali uma oportunidade de aprender que “existia um caminho sujo” e outra direção: “fazer o justo e o honesto com um olhar bem amplo e de longo prazo”. Ao optar pelo certo, ela deu o troco: “Você vai mandar tudo pra mim porque você conhece o meu serviço. Agora, se você quiser, eu posso dar descontos para os seus

O empreendedor precisa perceber oportunidades o tempo todo. Janete Vaz, Laboratório Sabin


Charles Damasceno

pacientes”. O episódio fez Janete aprender que “o empreendedor precisa perceber oportunidades o tempo todo”. Hoje, o Laboratório Sabin é o maior do Centro-Oeste e está presente em seis estados com mais de 100 unidades. Já Lindolfo Martin viu na criação do Mato Grosso do Sul a oportunidade de se torna empresário. Com a esposa, “Dona Elza”, mudou-se para Campo Grande. Ali, em 1978 fundou a Multicasa, que depois de seis anos daria origem à Multicoisa, empresa de varejo de produtos para construção civil. A nova loja, além oferecer maior variedade de produtos, disponibilizou aos clientes atendimento personalizado. O negócio decolou. Em 1990, adotando o modelo das redes ameri-

canas, a Multicoisas se tornou uma das pioneiras no Brasil no ramo de franquias de grandes empresas de varejo. Hoje, tem mais de 100 franqueados em todo o país. Martin conta que a sua vontade de empreender foi maior do que a sedução de ficar na zona de conforto de não arriscar. “Quando foi criada a Multicoisas, eu não perguntei se isso iria dar lucro ou se não ia - eu queria fazer isso acontecer”, relata. “Eu não sou muito de fazer contas. Dona Elza faz mais contas. Eu gosto é de fazer. Eu sou mais do lado empreendedor do nosso negócio. Quem fez o tablet não perguntou. Ele simplesmente fez”. O curitibano André Telles, por sua vez, investiu num novo nicho de negócios: o mercado digital.

Alexandre Garcia (a esquerda) mediou talk show com empresários consolidados

O empreendedor precisa perceber oportunidades o tempo todo. Janete Vaz, Laboratório Sabin

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Talk show

Lindolfo Martin: fazer acontecer

A oportunidade surgiu diante da então carência, no Brasil, de empresas especializadas em mídia digital para atender empresas que querem estar bem na internet. Assim, Telles criou a 4 One. Para atrair clientes, em 2005 publicou o livro “Orkut.com”, sendo o primeiro brasileiro a lançar uma publicação do gênero. Em 2008, veio a segunda obra: “Geração Digital”, e em 2010, a terceira: “A revolução das Mídias Sociais”. Dessas experiências, Telles tirou uma lição: “O pioneirismo tem que estar aliado ao tempo certo, pois o fato de você ser pioneiro em algo não quer dizer que você vá prosperar 1.000%”. Foi o que aconteceu com o primeiro livro, quando o mercado brasileiro ainda engatinhava. “Imaginei que o momento era aquele e fui atrás de editoras sem nem estar com o livro concluído ainda”, relata. O livro vendeu bem, mas não engordou a carteira de clientes da 4 One. Isso porque, na época,

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serviços para negócios na internet eram prestados pelo “braço digital” das agências de publicidade. Esse braço, em geral, era o “menino que mexe no Orkut”. O cenário mudou a partir de 2010, quando o mercado passou a contratar agências especializadas. “Era preciso ter uma empresa correta, com soluções corretas e cobrando preços corretos”, lembra. Atualmente, a 4 One é uma das mais conceituadas empresas do mercado.

Eu gosto é de fazer. Quem fez o tablet não perguntou. Ele simplesmente fez.

DESAFIANDO OS RISCOS Os três empresários deixaram outra lição: o risco faz parte de qualquer negócio, saber lidar com o risco faz parte do sucesso do negócio. É o que ensina Janete Vaz: “Trabalhar com riscos é o grande desafio de todo mundo o tempo todo. Você não vai conseguir crescer se você não tiver uma certa dose de risco no seu negócio”. Martins encara da mesma for-

Lindolfo Martin, Multicoisas – franquia


ma: “Dona Elza dizia que a gente não deveria arriscar porque não iria ter recursos suficientes. Esse risco fez com eu desenvolvesse uma nova veia: se eu tenho um formato, um conceito testado, por que não arrumar mais gente que acredita nesse conceito e entra com capital e trabalho? E aí a gente faz a multiplicação do processo. Agora, a primeira pergunta de um candidato à franquia é: ‘Qual o tempo do retorno do investimento?’ Aí eu falo: ‘A nossa previsão, se tudo correr bem, é de três a cinco anos ou nunca. Você topa?’ Existe risco, minimizado, mas tem”. Para Telles, ser empresário no Brasil ainda é um desafio, principalmente para os mais jovens. “Há um certo glamour em torno desta palavra: empreendedorismo”, queixa-se. “Muitos jovens querem ser empreendedores, mas não empresários de fato, pagar impostos, ter colaboradores registrados e todos os desafios da empresa. Sem

essa adrenalina, dificilmente ele vai ter a coragem desse desafio que é empreender no Brasil”. Martins entende que os riscos seriam menores se o Brasil seguisse exemplos de países como o México, Peru, Chile e Colômbia, que se uniram para torna-los mais competitivos. “Eu tenho muito medo de que, nessa de que ‘Deus é brasileiro’, ele se canse de ser brasileiro”, brincou. Janete concorda. “Nós vivemos num país em que nós não sabemos o que vai acontecer em três, quatro anos. Isso faz com que você trabalhe com mais cautela e com mais rigor”, ressalta. Para ela, empreender é arriscar, é não temer instabilidades políticas ou econômicas. “Não temos medo”, garante. “Nós chamamos isso de desafio. Vale a pena ter uma certa dosagem de risco, muito consciente do que você pode alcançar, sempre com o pé no chão, mas com a cabeça lá em cima”.

O fato de você ser pioneiro em algo não quer dizer que você vá prosperar 1.000%”. André Telles, 4 One Agência de Inovação e Negócios

Charles Damasceno

André Telles: pioneirismo no tempo certo

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Secretaria da Micro e Pequena Empresa

Lugar de papelada é na “nuvem” O ministro Afif Domingos quer desburocratizar a regularização dos negócios, facilitar o crédito e graduar o teto de receita do Super Simples

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montanha de documentos exigidos para abrir e manter uma empresa no Brasil deverá sair dos armários de escritórios para ficar disponível nas juntas comerciais por meio de cloud computing (computação em “nuvem”), onde estarão acessíveis a consultas online o tempo todo. Assim, em vez de o empresário ir a cada órgão levar a papelada, os órgãos é que irão checá-la via internet. Isso permitirá, por exemplo, o funcionamento imediato das empresas que atuem em áreas não consideradas de alto risco. Estima-se que essas empre-

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sas correspondam a 70% do total de sociedades em funcionamento no Brasil. Esse cenário faz parte de um ambiente mais amigável para os pequenos negócios no País, e foi delineado pelo ministro-chefe da recém-criada Secretaria da Micro e Pequena Empresa (SMPE) da Presidência da República, Guilherme Afif Domingos, ao participar do Encontro Nacional de Educação Empreendedora. Em sua primeira participação em evento como ministro, ele proferiu a palestra Pequenos Negócios, um Novo Momento.

A meta é informatizar, em dois anos, pelo menos 50% das juntas comerciais. Guilherme Afif Domingos, ministro da Micro e Pequena Empresa


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“No mundo moderno, são os dados que precisam caminhar para agilizar o sistema de criação de novas empresas”, defendeu Afif Domingos, ganhando entusiasmados aplausos da plateia, composta em parte por empreendedores de pequenos negócios formados em cursos do Empretec, cujos 20 anos de aplicação pelo Sebrae no Brasil foram comemorados no Encontro. “Todas as juntas comerciais serão informatizadas e digitalizadas para acabar com os papéis. A meta é informatizar, em dois anos, pelo menos 50% das juntas comerciais”. Segundo Afif Domingos, a modernização das juntas comerciais será atingida com o fortalecimento da Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização

de Empresas e Negócios (Redesim). Trata-se de um sistema integrado que permite a abertura, fechamento, alteração e legalização de empresas em todas as juntas comerciais do Brasil. Nas palavras do ministro, a digitalização dos documentos arquivados nas juntas comerciais é uma das ações que o governo brasileiro pretende efetivar para promover o crescimento dos pequenos negócios no País, juntamente com o acesso fácil ao crédito e a elevação do teto da receita anual para enquadramento dos empreendimentos no Simples Nacional, atualmente fixado em R$ 3,6 milhões. Em relação ao crédito, a ideia do ministro é facilitar a obtenção de recursos para capital de giro e inves-

Afif Domingos: novo ministro anunciou a modernização das juntas comerciais

[Vamos] aperfeiçoar o Simples, desburocratizando atos que foram criados pelos estados e que anularam todos os benefícios desse sistema, a exemplo da substituição tributária. Guilherme Afif Domingos, ministro da Micro e Pequena Empresa

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Charles Damasceno

Secretaria da Micro e Pequena Empresa

Secretaria da Micro e Pequena Empresa terá assentos nos conselhos dos bancos federais

timentos oferecidos principalmente por bancos públicos federais às micro e pequenas empresas. Por isso, com autorização da presidente Dilma Rousseff, a SMPE terá assento, por exemplo, nos conselhos do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Afif quer também aumentar a participação das MPEs nas compras de prefeituras, Estados e União. “O Sebrae dará uma grande ajuda nesse processo”, acrescentou. Na palestra, o ministro anunciou que começará na cidade de São Paulo, com o apoio da prefeitura, uma operação “arrasa-quarteirão” para facilitar a abertura e o fechamento de empresas. Uma das intenções é conceder alvará de funcionamento aos estabelecimentos que ainda não têm o documento. Segundo o ministro, a ação pretende cadastrar 80% das empresas na capital paulista. Para o ministro a falta de alvará “é um problema muito sério que derruba o Brasil em indicadores do

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Banco Mundial [que tem São Paulo como referência para a conformação dos dados brasileiros]”.

Mudança no Simples Nacional Apesar de apontar os avanços em favor dos pequenos negócios, o ministro admitiu que o Brasil ainda não decolou no ranking dos países que adotaram políticas para facilitar a abertura de empresas e reduzir o peso dos tributos. Citou que, entre 185 países pesquisados pelo Banco Mundial, o País ocupa o 121º lugar em facilidades para abrir uma empesa e é o 156º em carga tributária. Por razões como essas, Afif Domingos defende que é preciso avançar mais – e já. Um avanço significativo para mudar esse quadro, segundo o ministro, seria ampliar o teto da receita anual fixada pela atual legislação para que as empresas sejam contempladas pelos benefícios do Super Simples. “Quem sai do Simples entra no complicado”, ironizou Afif Domingos. Ampliando esse pa-

Quem sai do Simples entra no complicado. Guilherme Afif Domingos, ministro da Micro e Pequena Empresa


tamar, mais empresas seriam beneficiadas com a redução da burocracia e de impostos, recomendou. O ministro lembrou que o setor dos pequenos negócios foi impulsionado desde a criação em 1996 do Simples Federal, versão anterior do Simples Nacional, que surgiu em 2006. E também por causa da criação da figura do Microempreendedor Individual (MEI), em 2008, regularizando milhares de profissionais que trabalhavam na informalidade. Mas, na avaliação do ministro, o modelo estabelecido pelo governo federal acabou sendo desvirtuado pelas versões estaduais do Simples, que criaram “diferenças e dificuldades” burocráticas, prejudicando os pequenos negócios em todas as unidades da federação. Em especial, devido ao uso indiscriminado da figura da substituição tributária, que onera o segmento com a cobrança das alíquotas cheias do ICMS (Imposto sobre a Circulação de Bens e Serviço) em lugar da incidência reduzida prevista no Super Simples.

De acordo com o ministro a fórmula para eliminar essas barreiras, é “aperfeiçoar o Simples, desburocratizando atos que foram criados pelos estados e que anularam todos os benefícios desse sistema, a exemplo da substituição tributária”. Para planejar e executar esse conjunto de ações, em breve, a SPME contará com duas secretarias: a de Racionalização e Simplificação e a de Competitividade e Gestão. “Precisamos chegar ao chão da pequena empresa para que estas se tornem grandes empresas, para que não mergulhem num mar revolto, impedindo o seu crescimento”, justifica Afif Domingos. Em resumo, para o primeiro ministro da Micro e Pequena Empresa do Brasil, é hora de unir esforços para aprimorar as políticas públicas de apoio ao pequeno empreendedor: “Precisamos contribuir com a micro e a pequena empresa para que elas possam crescer e, assim, todos nós vencermos juntos esse grande desafio”, conclamou.

Entre 185 países, o Brasil ocupa o 121º lugar em facilidades para abrir uma empesa e é o 156º em carga tributária. Doing Business 2013 (Banco Mundial)

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Palestra do primeiro ministro da Micro e Pequena Empresa foi bastante prestigiada no evento

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Histórias do Candeal

Inspiração para um mundo alegre e positivo Carlinhos Brown canta sua experiência de empreendedorismo social na Bahia e afirma que o empreendedor é aquele que tem prazer de servir e desenvolver o ser humano

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Charles Damasceno

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nspirar as pessoas a empreender para servir aos outros. Foi com esse propósito que o cantor e compositor Carlinhos Brown aceitou o convite do Sebrae para relatar sua trajetória empreendedora à frente do projeto Voz & Tudo no encerramento do primeiro dia do Encontro Nacional de Educação Empreendedora. “Estou aqui para falar um pouco da minha vida e inspirar pessoas a ver o mundo de uma forma alegre e positiva”, contou Brown, no início da entrevista interativa, conduzida por Cecília Amado, neta do escritor Jorge Amado e cineasta responsável pelo filme “Capitães de Areia”, cuja trilha musical foi composta pelo artista baiano. Entre uma pergunta e outra feita pela entrevistadora, o artista cantou canções consagradas. Brown apresentou conceitos próprios sobre o que é ser empreendedor. “Eu gostaria de dizer que o empreendedor não é aquele que vê as coisas passando, mas sim

Que é um prazer servir ao outro, é um prazer servir a outro ser humano. Carlinhos Brown

Carlinhos Brown contou sua trajetória empreendedora em entrevista a Cecília Amado, neta do escritor Jorge Amado


aquele que age, aquele que está em busca de um conforto que concebe e que isso pode ser de todos, que é um prazer servir ao outro, que é um prazer servir a outro ser humano”, observou. O cantor resumiu que, como empreendedor, está muito feliz principalmente por estar colaborando para melhorar a qualidade de vida e dos sonhos da comunidade do Candeal, bairro de Salvador, onde nasceu e se criou. O local se tornou um celeiro musical, notabilizando-se por consolidar a música como alternativa de vida, criando perspectivas profissionais para os jovens na carreira musical. “Eu estou muito bem. Já ajeitei a casa de minha mãe e a casa de uma vizinha”, afirmou Brown, ganhando aplausos da plateia. “O importante é que a moçada está com instrumentos bons”, comemorou, referindo-se aos jovens capacitados no Candeal. Relembrando momentos de sua infância, o cantor contou que é filho de uma lavadeira de roupas e de um pintor e que nasceu quando sua mãe tinha dezesseis anos. “Até os doze anos eu só conhecia músicas religiosas”, revelou. A descoberta dos instrumentos aconteceu por rebeldia. Nas batu-

cadas dos terreiros não era permitida a presença de crianças e aos 12 anos Carlinhos desobedeceu à ordem e se dirigiu ao instrumento bongô e começou a tocá-lo. “O mestre Pintado ouviu e perguntou rispidamente: ‘O que é isso aí?’. Eu fiquei assustado e disse que adorava tocar. Ele me respondeu que não poderia tocar um instrumento sem lavar as mãos antes, e essa foi a primeira aula que tive. Depois ele falou que se eu aprendesse a tocar o instrumento, ele me daria de presente”, recordou. Mais tarde, na sua trajetória, ele retribuiu o presente para formar novos músicos e cidadãos no Candeal.

O artista baiano descobriu os instrumentos por rebeldia

Eu estou muito bem. Já ajeitei a casa de minha mãe e a casa de uma vizinha. Carlinhos Brown

Empreendedor social Escola de música, mobilização comunitária e educação são alguns dos projetos de Carlinhos Brown na área do empreendedorismo social. Alguns deles são os seguintes: • A Associação Pracatum forma jovens do Candeal na carreira musical. • Associação Pracatum Ação Social (APAS) desenvolve um trabalho fundamentado no tripé “educação e cultura, mobilização social e urbanização” para a melhoria da qualidade de vida dos moradores. • Pracatum Escola de Música desenvolve trabalhos musicais com uma metodologia que utiliza referências e práticas culturais pertinentes ao universo do aluno. • Tá Rebocado é uma metodologia baseada na construção comunitária, participativa e democrática.

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Painel Universidade e Empreendedorismo

Universidade é chamada a empreender Recomendação do educador chileno Pedro Vera coincide com edital lançado pelo Sebrae para disseminar a Educação Empreendedora no ensino superior

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Universidade de Concepción, no Chile, é um modelo de instituição de ensino superior. Trata-se da primeira em transferência tecnológica para empresas, também lidera em registro de patentes, possui uma incubadora de novos negócios e atualmente desenvolve um parque regional de ciência e tecnologia dentro do campus. Tudo isso é fruto do Emprendo, um programa que há dez anos estimula o empreendedorismo dentro do ambiente acadêmico. Pedro Vera, diretor do projeto Empreendo e convidado como

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palestrante do painel Universidade e Empreendedorismo realizado no Encontro Nacional de Educação Empreendedora, apontou os novos paradigmas que estão impondo uma mudança no papel das instituições de ensino. Ele também criticou o engessamento do ensino superior formal, que não atende às demandas atuais da sociedade. Para incentivar uma atuação mais empreendedora das universidades brasileiras, foi anunciado, ao final do painel o lançamento de edital do Sebrae Nacional para apoiar projetos com essa orientação (veja box pág. 25).

A universidade tem que ser considerada um agente para o desenvolvimento econômico. Pedro Vera, do projeto Empreendo da Universidade de Concepción


Fotos Rodrigo de Oliveira/ASN

Na avaliação do educador chileno, de modo geral o sistema educacional na América Latina, não desenvolve habilidades empreendedoras em seus alunos, ao passo que o mundo requer cada vez mais cidadãos com iniciativa. “Formar profissionais para grandes empresas e achar que elas serão a fonte de renda e desenvolvimento profissional para toda a vida ou considerar que apenas as chamadas profissões tradicionais vão garantir segurança são velhos paradigmas”, pontuou.

Cursos de curta duração O professor defendeu o empreendedorismo como, um caminho apontando que várias ideias do

século XX já não servem mais atualmente. “Vamos ter que percorrer outro caminho para o desenvolvimento, pois existem muitos nichos de mercado em que cursos de curta duração vão permitir igualmente o desenvolvimento profissional, renda e segurança para toda a vida. É preciso explorar”. Sobre o papel da universidade, Pedro Vera afirmou que não se fala mais em ensino, mas, sim, em aprendizagem e é preciso repensar e redefinir os modelos. E citou atividades que podem ser desenvolvidas para inovar o ensino. “Aulas semipresenciais, pois estamos na era educação online; flexibilidade para trabalhos interdisciplinares e extracurriculares; estímulos na busca de projetos e

O educador chileno Pedro Vera debateu o tema Universidade e Empreendedorismo com os brasileiros Renato Nunes, ex-reitor da Unifei/MG, e José Alberto Aranha, diretor na PUC/RJ

Uma empresa quando cria um produto inovador tem que mudar. E na universidade, continua tudo praticamente na mesma. Renato Nunes, ex-reitor da Universidade Federal de Itajubá (Unifei/MG)

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Painel Universidade e Empreendedorismo

oportunidades; cobrança de metas e persistência; além de um preparo dos professores para reconhecer que a aprendizagem é um processo contínuo e, que se pode errar, são alguns dos exemplos de uma pedagogia para inovação”, enumerou. Para Pedro Vera, a formação educacional deveria ser contínua e a quantidade de barreiras da escola, eliminada. “Se estamos na era da economia voltada para o conhecimento, a universidade tem que ser considerada um agente para o desenvolvimento econômico”. recomendou. “A universidade tem a credibilidade e a neutralidade para assumir a liderança. Não podemos fazer uma tarefa acadêmica voltada para dentro, temos que falar e estar inseridos no local e no regional, dentro de contexto de cada cultura e território”, concluiu.

Barreiras e plano de vida O painel também contou com a presença de dois acadêmicos do Brasil, convidados para pontuar o debate: Renato Nunes, ex-reitor da Universidade Federal de Itajubá (Unifei/MG), e José Alberto Aranha, diretor do Instituto Gênesis da PUC/RJ. Renato Nunes destacou as dificuldades de implantação do empreendedorismo nas instituições de ensino e afirmou que a função da universidade, como descrita nas definições conceituais e constitucionais, está ultrapassada. “Uma empresa quando cria um produto inovador tem que mudar e adaptar parte da sua estrutura produtiva e organizacional para que

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aquele produto seja competitivo. E na universidade, continua tudo praticamente na mesma”, comparou o educador. O professor José Alberto Aranha ressaltou a necessidade das faculdades ensinarem os alunos a fazer um plano de vida. Para ele, essa deveria ser a primeira visão dos estudantes dentro das universidades para, assim, aproveitá-las melhor. “Um empreendedor é um ser ativo. É uma pessoa que modifica o local em que está, que atua, identifica os problemas da sociedade e é protagonista de uma mudança, e é assim que uma universidade empreendedora deveria ser”, ponderou.

Modelo O programa Emprendo foi criado na Universidade de Concepción em 2002, com o apoio do Ministério da Educação, para a formação de profissionais empreendedores. Trata-se de um conjunto de disciplinas oferecidas todos os semestres que são complementares ao currículo e abertas a estudantes de qualquer curso. Professores de várias áreas trabalham juntos e fazem da interdisciplinaridade uma das principais características do projeto. Desde a sua criação, mais de 3.500 alunos já foram certificados. Veja mais: www.emprendo.udec.cl e www.emprendesur.net

Um empreendedor é um ser ativo. É assim que uma universidade empreendedora deveria ser. José Alberto Aranha, diretor do Instituto Gênesis da PUC/RJ


Ao final do painel, foi anunciada a publicação da Chamada Pública nº 1/2013, do Sebrae Nacional, destinada a projetos de instituições de ensino superior para a disseminação de oferta de educação empreendedora. De acordo com o edital da Chamada Pública, o Sebrae vai apoiar financeiramente ações voltadas ao jogo de simulação de negócios Desafio Empreendedor Universitário, publicações sobre pequenos negócios e a versão do Empretec em sala de aula. “Há 40 anos o Sebrae atua na capacitação de empresários e empreendedores e nós queremos impregnar e disseminar essa cultura. Temos a meta de fazer convênio com 64 universidades e chegar ao Distrito Federal e aos 26 estados do País”, destacou Mirella Malvestiti, gerente da Unidade de Capacitação Empresarial do Sebrae Nacional. Segundo a Chamada Pública, as instituições terão liberdade para escolher quais projetos e também para propor linhas de ação. No caso da disciplina de empreendedorismo, o Sebrae também vai apoiar modelos já consolidados. Uma das principais novidades é o Desafio Sebrae, que depois de 13 anos de sucesso e 1 milhão Há 40 anos o Sebrae de participantes, passou por uma reformu- atua na capacitação lação e, a partir deste de empresários e ano, será denominado empreendedores e nós de Desafio Empreenqueremos impregnar e dedor Universitário, sendo um produto da disseminar essa cultura. rede de instituições de ensino para desenvolver a capacidade Mirella Malvestiti, gerencial e a habili- gerente da Unidade de Capacitação Empresarial do Sebrae Nacional dade empreendedora dos alunos. “O Desafio Universitário Empreendedor será mais amplo e vai integrar um conjunto de ações que inclui aplicativos, jogos, palestras, cursos e concursos”, acrescentou Mirella Malvestiti. A duração dos projetos é de dois anos e vão receber o apoio de até 150 mil reais do Sebrae, o que pode representar, no máximo, 70% do valor da proposta. As inscrições serão concluídas em agosto.

Charles Damasceno

Edital apoia Educação Empreendedora nas universidades

Edital estimula a formação de empreendedores

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Mundo do trabalho

Empreendedorismo escreve novo capítulo no ensino técnico Parceria entre o Sebrae e MEC visa capacitar 1,46 milhão de alunos até 2014, fazendo o Brasil seguir o exemplo de 16 países da Europa, onde a disciplina é obrigatória

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o segundo semestre deste ano, começa a ser escrito um novo capítulo na história da educação profissional do País. É quando começa a ser inserido como disciplina obrigatória o ensino de empreendedorismo no currículo de estudantes de 15 cursos. A meta é atender 160 mil estudantes até o final de 2013 e mais 1,3 milhão em 2014. Eles poderão vivenciar atitudes empreendedoras, bem como construir um plano de vida e carreira para abrir e gerir o próprio negócio ou se tornar um profissional mais proativo e protagonista no mundo do trabalho.

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Com isso, o Brasil avança na mesma linha adotada por um terço dos 50 países europeus, que estão incluindo a educação para o empreendedorismo em suas escolas. Relatório da Agência Executiva de Educação, Audiovisual e Cultura da União Europeia aponta que nesses países a disciplina é obrigatória no conteúdo das aulas do ensino médio. Em países como a Lituânia e a Romênia, o empreendedorismo é disciplina específica no currículo. A experiência-piloto será resultado de acordo de cooperação técnica firmado entre o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas

O Brasil não será um país moderno se não pensar que o empreendedorismo é uma forma significativa de inclusão produtiva. Luiz Barretto, presidente do Sebrae


Charles Damasceno

Empresas) e o Ministério da Educação, durante o Encontro Nacional de Educação Empreendedora, ganhou o nome de Pronatec Empreendedor como parte do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), criado em outubro de 2011, pelo governo federal, para expandir, interiorizar e democratizar as escolas técnicas e a oferta de cursos técnicos e profissionais de nível médio. O Pronatec Empreendedor prevê também a capacitação de 7.000 educadores e a oferta de aproximadamente mil bolsas de estudo para os professores interessados em cursos de especialização ou mestrado em Educação Empreendedora. De acordo com a parceria, o ensino de empreendedorismo destina-se a agregar a perspectiva do au-

toemprego, além de desenvolver competências empreendedoras ligadas à aplicação de princípios de gestão e à percepção e análise de condições de oportunidade de mercado, dentre outros temas.

Michel Temer: empreendedorismo é construção das aspirações

Aspirações, cultura e inclusão produtiva Prestigiando a assinatura do acordo, o vice-presidente da República, Michel Temer, afirmou que o empreendedorismo está muito ligado à ideia de construção das aspirações pessoais. “Não há mais a ideia de que as pessoas não podem aspirar a nada”, destacou. “Isso faz com que aspirem a um progresso pessoal. E nós sabemos que o progresso pessoal no plano profissional é o que gera progresso coletivo”, apontou.

O progresso pessoal no plano profissional é o que gera o progresso coletivo. Michel Temer, vice-presidente do Brasil

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Charles Damasceno

Mundo do trabalho

Aloizio Mercadante: empreendedorismo na juventude

Na solenidade, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, ressaltou a necessidade de se criar no País a cultura do empreendedorismo na juventude. Também afirmou que o Brasil não será uma nação desenvolvida, se não resolver o problema da educação. “O Pronatec abre a porta para o ensino técnico profissionalizante. O jovem precisa ter um projeto de vida de ser um profissional ou um empreendedor. É preciso sonhar com a possibilidade de poder crescer no mundo do trabalho ou com a criação de sua própria iniciativa”, observou Mercadante. Por sua vez, o presidente do Sebrae, Luiz Barretto, ressaltou que o mercado de trabalho está cada vez mais competitivo e globalizado, exigindo trabalhadores bem qualificados e que tenham um diferencial. “O esforço do Sebrae é ter uma agenda conectada com o século XXI, que passa pela educação e pela inovação. O Brasil não será um país moderno se não pensar que o empreendedorismo é uma forma significativa de inclusão produtiva”, complementou. Também participaram da assinatura do acordo Marco Antônio de

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Oliveira, secretário de Educação Profissional e Tecnológica do MEC, e o diretor-técnico do Sebrae Nacional, Carlos Alberto dos Santos.

Capacitação Pelo acordo, o Sebrae será responsável pela capacitação dos professores, a ser realizada via internet durante quatro semanas, com duração total de 32 horas. Caberá aos professores e às escolas definir a carga horária do ensino de empreendedorismo nos cursos técnicos, cujos conteúdos produzidos pelo Sebrae variam de 24 a 52 horas de duração. A carga mínima de 24 horas, que é obrigatória, corresponde ao módulo de Plano de Vida e Carreira Na 1ª fase, a disciplina fará parte do currículo dos seguintes cursos: cabeleireiro, cuidador de idosos, promotor de vendas, montador e reparador de computadores, técnico em informática, eletricista de linhas elétricas de alta e baixa tensão, motorista de transporte escolar, pedreiro de alvenaria, pintor de obras, técnico em agroindústria, bovinocultor de leite, manicure e pedicure, fruticul-

É preciso sonhar com a possibilidade de poder crescer no mundo do trabalho ou com a criação de sua própria iniciativa.” Aloizio Mercadante, ministro da Educação


tor, horticultor orgânico e salgadeiro. Ao dar as boas vindas para a parceria, o presidente do Conselho Deliberativo Nacional do Sebrae, Roberto Simões, comemorou a aproximação da instituição com o ensino formal. “Temos sempre falado sobre essa preocupação do Sebrae como ente educador. Ele já o é de várias formas, mas sempre procuramos ampliar esse aspecto, tendo em vista as nossas grandes necessidades nacionais”, destacou, classificando o Empretec como “uma das maiores joias da coroa sebraeana”.

Da sensibilização à premiação O Pronatec Empreendedor terá três etapas. A primeira é a de sensibilização, com objetivo de mobilizar estudantes, educadores e instituições de ensino para a temática do empreendedorismo. Para isso, serão

disponibilizados pelo Sebrae materiais de divulgação como cartilhas, publicações, vídeos, entre outros. A segunda fase é a de capacitação de estudantes e professores. O pessoal docente de empreenderorismo será indicado pelos parceiros ofertantes da Rede Pronatec. Por último, haverá uma premiação para ações empreendedoras de alunos, educadores e instituições, além de um Concurso de Objetos de Aprendizagem para professores. Enfim, o empreendedorismo no ensino técnico começa a dar os primeiros passos gerando grandes expectativas. “Há tempo para todo propósito debaixo do sol”, ensina a cartilha elaborada pelo Sebrae para a capacitação dos professores Visite o site www.pronatecempreendedor.sebrae.com.br/

Educação Empreendedora é o tema do Volume 4 da Coletânea Pequenos Negócios – Desafios e Perspectivas, coordenada pelo diretor-técnico do Sebrae, Carlos Alberto dos Santos. A publicação foi lançada no evento nacional sobre o tema. Reúne artigos de 30 autores, enfocando o desenvolvimento brasileiro na perspectiva dos pequenos negócios, a partir de abordagens que privilegiam a reflexão teórica da prática. A coletânea objetiva conectar o debate acadêmico com o cotidiano da assistência técnica e dos serviços empresariais. Os quatro volumes da coletânea podem ser acessados em

Charles Damasceno

Coletânea aborda Educação Empreendedora

www.biblioteca.sebrae.com.br. Coletânea: reflexão teórica da prática

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Pelo mundo

A revolução social do empreendedorismo Educadores de Portugal e Índia exportam modelos que ajudam a melhorar a qualidade de vida e a desenvolver comunidades pobres

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empreendedorismo vai muito além das fronteiras do mundo dos negócios. Pode nascer e crescer entre populações analfabetas, marginalizadas e excluídas, transformando a vida de pessoas e comunidades pobres. Para mostrar resultados do poder da educação empreendedora que transforma, o Sebrae levou para o Encontro Nacional de Educação Empreendedora duas experiências inovadoras de diferentes países: a Escola da Ponte, de Portugal, e a Universidade dos Pés Descalços, da Índia. Essas experiências foram relatadas por seus idealizadores, o português José

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Pacheco e o indiano Bunker Roy, em debate mediado pelo jornalista Gilberto Dimenstein e acompanhado por mais de mil pessoas. Há 40 anos, a Escola da Ponte, na cidade do Porto, era puro caos: alunos agressivos, professores desmotivados, instalações depredadas, comunidade abandonada. Pacheco, então um jovem educador, decidiu implantar na escola uma forma diferente de ensino. O modelo priorizaria a educação comunitária, estimulando ações de solidariedade, autonomia e responsabilidade. A nova metodologia integrou a comunidade à escola. Acabou com salas de aulas

Os professores agem não com a expectativa de ensinar para a cidadania e sim de praticar o exercício da cidadania. José Pacheco, revolucionador da Escola da Ponte, em Portugal


Rodrigo de Oliveira/ASN

e eliminou turmas, séries e até feriados escolares. Adaptando o lema “Um por todos e todos por um”, criou-se o conceito de que a escola é de todos e todos são da escola. Assim, segundo José Pacheco, a Escola da Ponte tornou-se uma instituição comunitária de empreendedorismo social. “Na escola, que é comunitária, aprendemos uns com os outros”, explica. “Os professores agem não com a expectativa de ensinar para a cidadania e sim de praticar o exercício da cidadania. Escolas são pessoas e pessoas são valores. Desde o início o empreendedorismo tomou forma porque o projeto não prioriza o individual, prioriza equipe e valores”. Hoje, a Escola da Ponte é referência para o mundo.

José Pacheco trouxe o modelo para o Brasil em 2012, quando implantou num complexo de três favelas na cidade de Cotia (São Paulo) o Projeto Âncora. É uma escola de tempo integral, que funciona todos os dias, inclusive nos feriados. Oferece creche, jardim de infância, ensino fundamental e médio a 400 crianças e jovens pobres ou em situação de risco, todos moradores das favelas. O Projeto Âncora tem apenas cinco professores, mas conta com 50 voluntários da própria comunidade, que levam para a escola seus conhecimentos profissionais, repassando e adquirindo experiências. São eles que disponibilizam aos estudantes atividades extracurriculares, como aulas de danças, teatro

O Jornalista Gilberto Dimenstein (à esquerda) foi mediador das palestras do indiano Bunker Roy (com o microfone) e do português José Pacheco

Na Escola da Ponte, criou-se o conceito de que a escola é de todos e todos são da escola. José Pacheco, revolucionador da Escola da Ponte, em Portugal

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Charles Damasceno

Pelo mundo

José Pacheco: experiência bem sucedida no interior de São Paulo

e pintura. O aluno é quem escolhe o que quer aprender. Para aferir o aprendizado de cada estudante, são feitas autoavaliações em vez das tradicionais provas. Os resultados correspondem às perspectivas, segundo José Pacheco. Na última avaliação para aferir o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), do Ministério da Educação, os estudantes do projeto foram bem classificados. Após os testes, que derrubaram o índice de muitas escolas, alguns dos alunos do Âncora até tripudiaram, perguntando a Pacheco: “É só isso, professor?”.

A energia dos Pés Descalços Na Índia, o empreendedorismo social tem a sua melhor tradução na Universidade Pés Descalços, fundada em 1972, por Bunker Roy, o indiano apontado pelo jornal inglês The Guardian como uma das 50 pessoas do mundo que podem salvar o planeta. A universidade de Bunker Roy ensina mulheres e homens do meio rural, muitos deles

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analfabetos, a tornarem-se engenheiros solares, artesãos, dentistas e médicos nas suas próprias aldeias a partir dos usos e costumes locais. O método de Bunker Roy resgata o conhecimento da cultura popular para aplicá-lo em ações empreendedoras realizadas na comunidade geradora desse conhecimento ou em outros povoados, tornando-os autônomos e menos dependentes de caras tecnologias importadas. Para tocar os projetos, a universidade treina pessoas da própria comunidade, em geral mulheres idosas, avós e analfabetas. Para desenvolver o método, Bunker Roy inspirou-se em experiências da província onde nasceu: a desértica Rajastão, uma das mais pobres da Índia. “Lá, usam uma tecnologia desenvolvida há centenas de anos para enfrentar o problema da água: coletam chuva”, contou. “Os engenheiros, em vez disso, preferem abrir poço artesianos caros e que roubam mais água do que será reposta pela natureza. Não é sustentável. Estamos criando desertos”.

Qualquer avó, em qualquer parte do mundo, pode se tornar engenheira solar. Bunker Roy, fundador da Universidade Pés Descalços


Um dos casos de sucesso da Pés Descalços está em Tilônia, pequena cidade de Rajastão com 2 mil habitantes. Ali, a universidade instalou um sistema de captação de energia solar que atende toda a população da cidade. O complexo energético, que em tese exigiria a participação de graduados engenheiros, foi desenvolvido e é operado por mulheres analfabetas treinadas pela Pés Descalços. “Quando digo pra elas: ‘Vocês são as únicas engenheiras solares do seu país, então tenho a certeza de que vocês não vão falhar’. Elas então voltam para os seus países de origem e mostram que nenhum homem é engenheiro solar, porque eles vão,

ficam na cidade ou não voltam para as suas vilas. Mas elas ensinam para os filhos, filhas, netos e maridos e para as pessoas da comunidade.”. Bunker Roy pretende repassar aos brasileiros essa experiência, que está relatada no site www.perfootcollege.org. “Quero levar oito brasileiras oriundas das comunidades mais pobres para ensinar como eletrificar seus povoados com a luz do sol”, afirmou. A Universidade dos Pés Descalços, com ações de empreendedorismo social, beneficia hoje 3 milhões de pessoas em 54 países, dos quais 34 estão entre os mais pobres do mundo no ranking da Organização das Nações Unidas (ONU).

Quero levar oito brasileiras oriundas das comunidades mais pobres para ensinar como eletrificar seus povoados com a luz do sol. Bunker Roy, fundador da Universidade Pés Descalços

O perfil dos educadores JOSÉ PACHECO

BUNKER ROY

Mestre em Ciência da Educação pela Universidade do Porto, Portugal .Especialista em Música, Leitura e Escrita, escreveu diversos livros sobre educação. Revolucionador da Escola da Ponte, define-se como “um louco com noções de prática”.

Educador e ativista social, fundou a Universidade dos Pés Descalços. É crítico feroz de tecnologias não sustentáveis quanto à exploração dos recursos naturais. Seu lema: “Valorizar a pessoa e não a pessoa que se esconde atrás do diploma”.

Bunker Roy: avós brasileiras para a Universidade Pés Descalços

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Ferramentas

Jogos animam as lições de empreendedorismo Professores podem usar games disponíveis na internet para estimular crianças e adolescentes a enfrentar os desafios do mundo real dos negócios

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Charles Damasceno

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ivertidos e ingênuos, jogos eletrônicos encontrados no universo virtual da internet podem ser poderosas ferramentas nas mãos de professores dispostos a enfrentar o desafio de introduzir crianças e adolescentes no mundo real do empreendedorismo. Para estimular o uso dessas ferramentas em escolas de Ensino Fundamental, o tema Jogos e Empreendedorismo foi o foco de uma das salas temáticas de debates do Encontro Nacional de Educação Empreendedora, promovido pelo Sebrae em Brasília. Com vasto currículo em Psicologia Escolar, o professor Lino de Macedo, da Universidade de São Paulo (USP), recorreu ao Jogo do Gato Preto (leia o box na pág 35) para demonstrar que despertar e estimular o empreendedorismo entre o público infanto-juvenil não é um bicho de sete cabeças. Jogando o game, os educadores participantes logo captaram a mensagem do mestre: “Os jogos possibilitam observações e intervenções favoráveis ao desenvolvimento e à aprendizagem das crianças e adolescentes bem

A escola tem que ensinar à criança que ela pode ter condições de concorrer no jogo da vida. Lino de Macedo, professor da Universidade de São Paulo (USP)

Elimara e Lino: jogos eletrônicos são ferramentas da Educação Empreendedora


como de reflexão e aprofundamento do trabalho educacional de profissionais”. Segundo Lino de Macedo esses jogos virtuais, podem contribuir bastante para estimular atitudes empreendedoras na vida real, uma vez que induzem o jogador a enfrentar e a vencer desafios. Assim, a criança ou o adolescente aprende brincando a identificar oportunidades, a ter iniciativa, a persistir, a buscar conhecimento, a planejar estratégias, a calcular riscos, a ter autoconfiança, a sentir-se capaz de realizar, de empreender. “A escola tem que ensinar a criança que ela pode ter condições de concorrer no jogo da vida”, provocou Lino de Macedo professor da USP. A proposta foi reforçada pela consultora Elimara Rufino, do Sebrae em São Paulo, que defendeu o uso de jogos de acordo com cada ano do ensino fundamental. No segundo ano, por exemplo, já seria possível propor aos alunos um jogo que os ensinasse a montar e a tocar um pequeno

negócio, como uma loja de temperos naturais. Os alunos migrariam do jogo virtual para a vida real, participando de todas as etapas do empreendimento, indo desde a implantação da loja, passando pelo plantio das ervas e chegando à venda dos produtos. “A ideia é simular a realidade empreendedora na escola, fazendo com que o aluno olhe para a própria realidade, entenda o contexto e saía da escola para a comunidade”, explica a consultora. Foi o que aconteceu em Pinheiros, no Espírito Santo. A professora Silvia Machado, coordenadora municipal do programa Jovens Empreendedores Primeiros Passos (JEPP), criado pelo Sebare, relatou o caso de um garoto da 8º série que, com as noções de empreendedorismo aprendidas na escola, estimulou o pai, padeiro, a se tornar um empresário da panificação. “Hoje, a família desse aluno toca uma das melhores padarias de Pinheiros”, orgulhou-se.

A ideia é simular a realidade empreendedora na escola. Elimara Rufino, consultora do Sebrae em São Paulo

O Jogo do Gato Preto Na internet, há diversos jogos educativos que podem ser usados para motivar o empreendedorismo em sala de aula. O Jogo do Gato Preto é um deles. Na tela aparece o gato num tabuleiro. O jogador tem que impedir que o bichano saia do tabuleiro. Basta clicar nos círculos em volta do gato para não deixá-lo escapar. Parece fácil, mas não é. Ao levar esse ou outro jogo educativo para a sala de aula, o professor estará incentivando o aluno a enfrentar e a vencer desafios no difícil jogo da vida real. Quer tentar? Acesse: http://www.njogos.pt/gato_preto.html

Com o jogo, o professor incentiva o aluno a enfrentar desafios

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Ensino Médio

Não dá certo sem preparo e planejamento Especialistas defendem mudanças no sistema educacional para que os jovens sejam capacitados para o mundo dos negócios

Charles Damasceno

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falta de preparo e de planejamento para a vida e para o mundo dos negócios são alguns dos principais obstáculos para o sonho dos jovens de empreender no Brasil. Avaliações nesse sentido foram feitas no Encontro Nacional de Educação Empreendedora pelas palestrantes Lina Useche, diretora da Aliança Empreendedora, uma instituição de apoio ao desenvolvimento de novos negócios e à transformação das pessoas e comunidades por meio do empreendedorismo; e Eda Castro Lucas, professora do departamento de Administração da Universidade de Brasília (UnB). Na programação do evento, elas discorreram sobre suas ideias relacionadas ao tema com foco no Ensino Médio.

Ambiente para a inovação

Se não existir uma cultura empreendedora, nem o maior empreendedor do mundo vai empreender.

A professora da UnB ressaltou a importância dos jovens de se planejarem a vida antes de conceber um plano de negócios. Essa deve ser a

Eda Castro Lucas, professora de Administração da Universidade de Brasília (UnB)

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Eda Castro Lucas, da UnB: a escola deve estimular a inovação


contribuição da escola, apontou a educadora. “Os jovens precisam encontrar na escola um ambiente que propicie a inovação, um caldo cultural em que eles possam desenvolver possibilidades, realizar práticas, atuar de forma corajosa, criativa e aprendam a planejar a própria vida antes de fazer qualquer plano de negócios. É preciso organizar-se”, destacou. Eda Castro Lucas destacou o papel dos professores como formadores de pessoas disseminadoras da inovação. Disse, porém, que não há uma receita para isso, mas, sim, um bom preparo e formação.

Disciplinas da confiança Em sua palestra, Lina Useche apresentou dados sobre os anseios da sociedade e, principalmente,

sobre a juventude brasileira. “As pesquisas mostram que mais de 50% dos jovens brasileiros querem empreender, mas não tem formação ou preparo”, comentou. Lina Useche explicou que o tripé para o sucesso de um pequeno negócio é o acesso ao conhecimento, ao crédito e investimentos e às redes de clientes e parceiros. “O empreendedorismo é um conhecimento que pode ser ensinado e aprendido, e os exemplos que temos mostram que isso faz muita diferença”, observou. A Aliança Empreendedora mantém um portal de crowdfunding (financiamento obtido por contribuições). A entidade ainda dispõe de um canal a distância e já realizou duas versões do Prêmio Aliança de Empreendedorismo Comunitário.

Atuamos com empresas que queiram criar modelos de negócios inclusivos junto aos públicos de baixa renda.“ Lina Useche, diretora da Aliança Empreendedora

Visite o site www.aliancaempreendedora.org.br

Empreendedorismo no Ensino Médio Em 2014, o Sebrae Nacional vai estender a todos os estados e ao Distrito Federal uma experiência bem sucedida de inserção do empreendedorismo no Ensino Médio realizada em escolas públicas do Rio Grande do Norte. Trata-se do Projeto Despertar que, em dez anos já capacitou 26 mil alunos e 573 professores. No futuro, também terão acesso ao projeto estabelecimentos particulares de ensino. A ampliação do Despertar foi anunciado durante o Encontro Nacional de Educação Empreendedora. Acre, Rio Grande do Sul e Roraima já estão aplicando a metodologia. Segundo o gerente de Educação Empreendedora do Sebrae RN, Antônio Carlos Liberato, o Projeto não forma apenas futuros empresários, mas também pessoas com visão de mercado, planejamento, iniciativa e cooperação. “O Despertar faz com que os jovens saibam como enfrentar as adversidades da vida e os conscientizam de que eles são os responsáveis pelo seu próprio futuro”, observou.

Antonio Carlos Liberato, do Sebrae RN: 26 mil alunos em dez anos

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Pronatec – Educação Profissional e Empreendedorismo

Inclusão e e integração no Ensino Técnico Senador Cristovam Buarque diz que não há país desenvolvido sem educação; professora Olgamir Francisco de Carvalho aponta que existe sucesso fora da universidade formal

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Charles Damasceno

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Pronatec Empreendedor vai melhorar o Ensino Profissional, integrar a rede de instituições da área e criar novas oportundades para os jovens alunos. Opiniões nesse sentido foram manifestadas pelo senador Cristovam Buarque (PDT-DF), pela professora Olgamir Franscisco de Carvalho, do Departamento de Educação da Universidade de Brasília (UnB) e pela analista Flávia Fernandes, da Unidade de Capacitação Empresarial (UCE) do Sebrae Nacional. Eles participaram da atividade Pronatec – Educação Profissional e Empreendedorismo, que reuniu gestores das instituições parceiras do Pronatec Empreendedor – o novo conteúdo do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, lançado no Encontro Nacional de Educação Empreendedora. Cristovam Buarque ressaltou que se deve deixar de lado a ideia de diferenciar a educação profissional. “Tudo é educação plena”, destacou. “A educação permite compreender e

Apenas uma elite educada não é o suficiente para o País. Todos têm que ter acesso. Cristovam Buarque, senador

A professora Olgamir e o senador Cristovam expuseram suas posições sobre formação técnica


inserir-se no mundo. Não há como um país ser desenvolvido, crescer ou possuir centros de pesquisa sem educação de base. Por isso, o grande capital de uma nação é o conhecimento”, complementou. Para o congressista, a falta de investimentos no setor é uma questão cultural que precisa ser combatida. “Em algum lugar no imaginário coletivo, nós formamos a opinião de não dar importância à educação. Apenas uma elite educada não é o suficiente para o País. Todos tem que ter acesso”, criticou.

O erro da universidade Na segunda parte do debate, a professora Olgamir Francisco de Carvalho defendeu a integração da rede de ensino profissional, reunindo institutos de tecnologia, entidades e o Sistema S (Sebrae, Senai, Senac, Senar, etc.),para fazer avançar o empreendedorismo na área. A professora citou que empresas de tecnologia de ponta, como Apple, Microsoft e Facebook, permitiram-se inovar e explorar caminhos diversos da universidade formal e são exemplos de sucesso. Segundo

ela, o ensino superior no Brasil não propicia o empreendimento. “A universidade trabalha com respostas certas e não permite o experimento. Com o erro, nós temos a possibilidade da aprendizagem e estimulamos a capacidade de inovação e criatividade”, apontou.

Capacitação para gestores Na terceira parte da atividade, a analista Flávia Fernandes anunciou que está sendo formulada uma capacitação para os gestores das instituições parceiras, para que eles também conheçam o conteúdo e o funcionamento do Pronatec Empreendedor. Na avaliação da analista, o ensino do empreendedorismo nos cursos técnicos é uma possibilidade aberta aos jovens para inclusão produtiva, independência, autoemprego e desenvolvimento de competências para conduzir ou fazer parte de um negócio. “Esse é um momento importante, pois estamos fazendo uma mudança no processo de ensino e aprendizagem”, reforçou.

A universidade trabalha com respostas certas e não permite o experimento. Olgamir Carvalho, professora da UnB

Pronatec Empreendedor: sensibilização, capacitação e premiação

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Pronatec Empreendedor

As missões dos gestores do Sebrae Colaboradores vindos das capitais e do interior dos estados receberam capacitação sobre a parceria firmada para inserir o empreendedorismo nas escolas técnicas

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s gestores das unidades do Sistema Sebrae espalhadas por todo o País devem articular e monitorar a implantação do Pronatec Empreendedor. Caberá a eles também a função de sensibilizar as escolas ofertantes dos cursos de Ensino Técnico sobre a importância da Educação Empreendedora na formação de cidadãos e profissionais. Também terão a tarefa de verificar a correta aplicação da disciplina Empreendedorismo. O foco da colaboração dos gestores sobre a parceria firmada entre Sebrae e o Ministério da Educação foi detalhado pela gerente da Uni-

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dade de Capacitação Empresarial (UCE) do Sebrae Nacional, Mirela Malvestiti, durante a palestra Capacitação Pronatec Empreendedor no Encontro Nacional de Educação Empreendedora. Para participar da atividade, foram convidados gestores que trabalham tanto em capitais quanto nos escritórios do Sebrae localizados no interior dos estados. A gerente da UCE destacou a importância da participação da rede de atendimento do Sebrae no Pronatec Empreendedor junto aos parceiros nos municípios onde estão as escolas. “É necessário que vocês tenham a informação para fazer esse pro-

A Educação Empreendedora é importante para a formação do cidadão brasileiro, para elevar o patamar dos nossos profissionais e para uma vida mais profícua e criativa. Mirela Malvestiti, gerente de Capacitação Empresarial (UCE)


Charles Damasceno

cesso de articulação”, orientou. Nesse trabalho, a gerente recomendou aos colaboradores do Sebrae que procurem levar aos parceiros a mensagem de que o empreendedorismo não se destina apenas a alunos que desejam abrir o próprio negócio. “A Educação Empreendedora é importante para a formação do cidadão brasileiro, para elevar o patamar dos nossos profissionais e para uma vida mais profícua e criativa”, afirmou. A palestrante recomendou que os gestores incorporassem esse discurso para alcançar êxito nos contatos que farão com as escolas parceiras. Por isso, ela defendeu a necessidade de esclarecer que a disciplina pode proporcionar aos

alunos mudanças de comportamentos e atitudes para superar desafios no mundo do trabalho, o que foi reforçado por vídeos e apresentações exibidas pelo consultor do Sebrae Marcelo Lima Costa. “Vamos ter muitas perguntas, muitos questionamentos e muitas resistências”, apontou Mirela. “Precisamos dizer que existem duas vertentes do empreendedorismo: uma é para abrir empresas; e, muito mais que isso, é para ensinar atitudes empreendedoras e as dez características dos empreendedores, independentemente se vão abrir empresas ou não. Quando a gente leva a Educação Empreendedora como uma coisa mais geral, a gente vence resistências”, observou.

Mirela Malvestiti pediu a colaboração dos gestores para o sucesso da experiência inédita

Quando a gente leva a Educação Empreendedora como uma coisa mais geral, a gente vence resistências. Mirela Malvestiti, gerente da UCE

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Charles Damasceno

Pronatec Empreendedor

O Sebrae será responsável pela capacitação dos professores por meio de cursos a distância

Construção do futuro Uma das propostas do Pronatec Empreendedor, segundo Segundo Mirela Malvestiti, é estimular o aluno a construir o próprio futuro. “A gente fez uma pesquisa para desenvolver o Pronatec Empreendedor e ficou muito claro: o jovem brasileiro é levado. 'O que vc quer do seu futuro?' [pergunta ao aluno]. 'Ah, o que aparecer' [resposta do aluno]. O jovem não faz o seu futuro. Então, no Pronatec Empreendedor, a gente quer trabalhar muito que ele escolha o seu futuro” , avaliou a gerente. Durante os cursos, entre as principais competências a serem assimiladas pelos alunos estão as seguintes: compreender o mercado de trabalho e o mundo do trabalho para o desenvolvimento do seu projeto de vida; identificar os tipos de empreendedorismo e suas características; reconhecer a importância do desenvolvimento de atitudes empreendedoras para o seu projeto de vida; e desenvolver um plano de vida e carreira.

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Mirela Malvestiti destacou que a parte operacional do programa ficará por conta das escolas ofertantes. Caberá ao Sebrae capacitar os professores por meio de cursos a distancia pela web. Para auxiliar a aprendizagem, uma equipe de dez consultores prestará suporte pedagógico. “Não é o Sebrae que vai capacitar os alunos. Os professores das escolas ofertantes são o nosso foco de capacitação”, assinalou.

Visibilidade Na palestra, a gerente da Unidade de Capacitação Empresarial realçou que o início do ensino de empreendedorismo nas escolas técnicas deve ganhar visibilidade nas mídias acessíveis aos gestores. Por exemplo, em cidades com poucos veículos de comunicação, a inserção da nova disciplina deve atrair o interesse como pauta para a rádio da comunidade ou o jornal do município. Um dos atrativos para despertar o interesse da mídia é o Baú do Saber, que será distribuído pelo

A gente fez uma pesquisa para desenvolver o Pronatec Empreendedor e ficou muito claro: o jovem brasileiro é levado. Mirela Malvestiti, gerente da UCE


Sebrae para as escolas ofertantes. Trata-se de uma caixa confeccionada em madeira que funciona como espécie de acervo móvel de publicações relativas ao empreendedorismo produzidas pelo Sebrae. Nele haverá cartilhas do Sebrae, cursos para os microempreendedores individuais, publicações do Banco Central e do Ministério da Previdência. A gerente comemorou outras iniciativas inéditas anunciadas no evento, a exemplo a Chamada Pú-

blica do Sebrae para selecionar propostas de parceria voltadas à disseminação de oferta de Educação Empreendedora em universidades e faculdades. “O País passa por um momento muito bom. Estamos com a oportunidade de dar um salto histórico”, projetou. “O Pronatec Empreendedor deve ser simples de explicar, simples de operar e ter a missão de fazer um diferencial na educação do País”.

O País passa por um momento muito bom. Estamos com a oportunidade de dar um salto histórico. Mirela Malvestiti, gerente da UCE do Sebrae Nacional

Os parceiros dos empreendedores Já são nove os parceiros do Sebrae e do Ministério da Educação no Pronatec empreendedor. Cabe a eles a missão de oferecer, a partir de agosto, inicialmente 15 cursos com conteúdo de Empreendedorismo. Quatro são do Sistema S, conjunto de instituições no qual está também o Sebrae cuja finalidade prevista na Constituição é promover bem-estar social e disponibilizar uma boa educação profissional para o desenvolvimento do País. A escolha desses cursos levou em conta as ocupações mais procuradas para regularização por parte dos microempreendedores individuais e a grade das instituições ofertantes. Conheça os parceiros: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9.

IInstituições do Sistema S integram a rede de ofertantes dos cursos.

Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial); Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial); Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural); Senat (Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte); Conif (Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica); Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação); Consect (Conselho Nacional de Secretários para Assuntos de Ciência, Tecnologia e Inovação); Condetuf (Conselho dos Diretores das Escolas Técnicas Vinculadas às Universidades Federais); Fiec (Fundação Indaiatubana de Educação e Cultura).

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Vila do Conhecimento

Espaço de exposição e interação Sebrae e parceiros mostram iniciativas inovadoras, estimulam troca de experiências e fortalecem ações empreendedoras

C

om estandes tecnológicos, coloridos e interativos, a Vila do Conhecimento foi o ponto de exposição de projetos inovadores do Sebrae e parceiros e de interação entre os participantes do evento. O espaço foi bastante visitado durante o Encontro Nacional de Educação Empreendedora. Entre os intervalos das palestras e debates, o local serviu para trocar ideias, conhecer boas práticas, produtos e projetos do Sebrae e parceiros e de resto, tirar fotos para a posteridade. O Sebrae esteve presente na Vila mostrando projetos e cursos. Apre-

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sentou o Observatório Internacional Sebrae (OIS) – http://ois.sebrae. com.br –, que é uma plataforma online que permite acessar informações sobre os pequenos negócios no mundo, além de dados sobre as missões já realizadas pela instituição em outros países e experiências e parcerias com instituições estrangeiras. Ao lado, um espaço foi reservado para a Universidade Corporativa Sebrae (UCSebrae) – http://www. uc.sebrae.com.br, com um portfólio de produtos e o Memorial Virtual, nova ferramenta de aproximação entre o Sebrae e a sociedade, que

É possível acessar o mesmo conteúdo do espaço localizado no prédio da 605 Sul [sede do Sebrae Nacional, em Brasília], como o primeiro documento constitutivo da instituição. Alzira Vieira, gerente da Universidade Corporativa SEBBRAE, sobre o Memorial Virtual


Charles Damasceno

apresenta de forma interativa a trajetória dos 40 anos da instituição. "Em breve será possível acessar o mesmo conteúdo do espaço localizado no prédio da 605 Sul [sede do Sebrae Nacional, em Brasília], como o primeiro documento constitutivo da instituição. A partir de agora, vamos também mapear o que há de histórico e de memória no Sebrae", explicou a gerente da Universidade Corporativa Sebrae (UCSebrae), Alzira Vieira. No terceiro espaço, dedicado à Educação a Distância, foram apresentados os cursos oferecidos pela internet. Em outro espaço, reservada a cursos presenciais de Educação Empreendedora, os visitantes puderam percorrer os corredores que mostravam cada um dos produtos

oferecidos pelo Sebrae para as redes de ensino. Um deles foi o projeto Jovens Empreendedores Primeiros Passos (JEPP) – http://www.brasil.gov.br/ empreendedor/empreendedorismo-hoje/jovens-empreendedores -, que tem o objetivo de disseminar a cultura empreendedora entre jovens de seis a 14 anos por meio de 9 cursos para os 9 anos do Ensino Fundamental. Para o Ensino Médio, foram apresentados o projeto Despertar e o Formação de Jovens Empreendedores. Houve ainda um espaço interativo para identificar o perfil empreendedor, além do Pronatec Empreendedor – http://pronatecempreendedor.sebrae.com.br. No espaço dedicado ao Ensino

A Vila do Conhecimento ofereceu um passeio aos participantes sobre produtos e projetos empreendedores

É gratificante acompanhar o desenvolvimento de jovens empreendedores e observar como eles eram e no que se tornaram. Francisco Fernandes Neto, professor da Fundação de Apoio à Escola Técnica e da Faculdade Cândido Mendes (RJ)

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Charles Damasceno

Vila do Conhecimento

O Sebrae apresentou projetos para todos os níveis de ensino

Superior, havia um painel com as universidades que já implementaram a disciplina do empreendedorismo ou desenvolvem práticas empreendedoras, a exemplo de Universidade de Brasília (UnB). “É uma iniciativa muito interessante, pois cerca o aluno de empreendedorismo por todos os lados”, avaliou o professor de administração Francisco Fernandes Neto, da Fundação de Apoio à Escola Técnica e da Faculdade Cândido Mendes (RJ). “É gratificante acompanhar o desenvolvimento de jovens empreendedores e observar como eles eram e no que se tornaram”, comentou.

Projetos inovadores A Vila do Conhecimento contou com ambientes de instituições parceiras, como TV Futura – http://www.futura.org.br –, Sistema S, Ministério da Educação (MEC) – http://portal.mec.gov.br/ index.php, e Junior Achievement – http://www.jabrasil.org.br/ja, que mostraram iniciativas para estimu-

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lar o empreendedorismo. Cedric Salutto, professor de eletrônica do Instituto Federal Fluminense, desenvolve tecnologia na área de sistemas embarcados e aeroespaciais e teve um dos projetos desenvolvidos pelo seu departamento selecionado pelo Ministério da Educação para ser mostrado no encontro. Acompanhado de seus alunos, ele comentou que a maioria da pesquisa feita pelo Instituto pode ser aplicada ao mercado e vendida. “Os alunos adquirem conhecimento prático em tecnologia e percebem que podem fazer uso disso para criar produtos que podem ser industrializados”, afirmou Salutto. Na avaliação do professor, a introdução do conteúdo de empreendedorismo nas escolas preenche uma lacuna e agrega. “O comportamento empreendedor não é gerado a partir do conhecimento da escola. É algo nato que precisa ser identificado e estimulado, e o professor precisa estar habilitado e descobrir o potencial dos alunos”, analisou.

Os alunos percebem que podem fazer uso da tecnologia para criar produtos que podem ser industrializados. Cedric Salutto, professor de eletrônica do Instituto Federal Fluminense


No espaço do Ministério da Educação, foram apresentados projetos inovadores de institutos federais

mular o senso crítico”, recomendou. Segundo o professor, o jovem tem ideias, mas falta colocar isso em prática. “O conteúdo de empreendedorismo dentro da sala de aula chega em uma boa hora para suprir essa carência e vai ensinar como uma boa ideia pode se transformar em um bom negócio. Sem contar o fator motivacional, pois bons exemplos se multiplicam e servem como espelho”. Um dos espaços mais concorridos da Vila foi um estúdio fotográfico em que os visitantes podiam tirar uma foto de recordação. Com filas enormes, cada um posava para as fotos segurando cartazes com frases como “Aqui tem educação”. Outra área bastante visitada foi a do painel em que os participantes puderam colocar sugestões de oportunidades para os pequenos negócios. "Foi uma maneira de colher as contribuições dos visitantes para depois inseri-las em nossas publicações", explicou a gerente-adjunta de Assessoria Internacional do Sebrae Nacional, Renata Malheiros.

[A coleta de sugestões] foi uma maneira de colher as contribuições dos visitantes para depois inseri-las em nossas publicações. Renata Malheiros, gerente-adjunta de Assessoria Internacional do Sebrae Nacional

Charles Damasceno

Leonan Pecly, aluno de Engenharia de Controle e Automação do Instituto Federal Fluminense e um dos autores do projeto de aeronaves não tripuladas mostrado no espaço do MEC, afirmou que empreender e desenvolver produtos devem trazer benefícios para a sociedade. “No momento em que se produz uma tecnologia e ela se torna um produto, a própria indústria pode reinvestir em mais desenvolvimento e pesquisa, portanto, o ciclo se fecha”, analisou. Outro projeto mostrado no espaço do MEC tratava-se de um software de apoio para o estudo da física instrumental que poderá ser desenvolvido em kits e aplicado em outras unidades de ensino. Para o professor Flávio Fonseca, de Tecnologia da Informação do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG), responsável pelo projeto, a inovação é resultado de pesquisa e empreender é pesquisar. “Essa foi uma ideia voltada para a educação e queremos levar o software para as comunidades e esti-

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Secretaria da Micro e Pesquisa Pequena Empresa

Encontro recebe avaliação positiva dos participantes Evento recebeu 95,76% de aprovação com conceitos bom e excelente

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Charles Damasceno

C

om um público de 2.351 pessoas, o Encontro Nacional de Educação Empreendedora avaliado pelos participantes com a média de 95,76% no Índice de Satisfação (Bom + Excelente). De acordo com pesquisa encomendada pela Universidade Corporativa Sebrae, o painel “Experiências de Educação Empreendedora no Mundo” foi a atividade do evento que recebeu o maior número de votos Excelente – 88,29% – e ficou em segundo no Índice de Satisfação (Bom + Excelente) – 97,35%. Com esse painel, mediado pelo jornalista Gilberto Dimenstein, registrou um dos maiores públicos do evento – 931 participantes. Um de seus palestrantes, o indiano Bunker Roy, da Universidade dos Pés Descalços (Índia), obteve a segunda melhor avaliação individual com 98,60% de Índice de Satisfação. Nesse painel, Bunker Roy contou como ensina competências empreendedoras a pessoas de comunidades pobres. Também participou do painel José Pacheco, da Escola

da Ponte (Portugal), que obteve a quinta melhor avaliação individual ao falar sobre a escola que não fecha em fins de semana e feriados.

Capacitação No balanço geral dos palestrantes individuais, Mirela Malvestiti, gerente da Unidade de Capacitação Empresarial (UCE) do Sebrae Nacio-

Os participantes fizeram a avaliação no próprio evento

Painel sobre experiências internacionais obteve mais votos Excelente.


nal, obteve a melhor índice de satisfação – 98,68%, com a palestra sobre Capacitação Pronatec Empreendedor. Dentre as salas temáticas, a atividade conjunta mais bem avaliada, com 97,47% de Índice de Satisfação, foi a que tratou de Ensino Médio -

Fundamentos da Educação Empreendedora, proferida pela professora Eda Castro Lucas, da Universidade de Brasília (UnB) e pela diretora Lina Useche, da Aliança Empreendedora. Em terceiro lugar nas atividades conjuntas ficou o painel Universidade e Empreendedorismo, com

97,27% de Índice de Satisfação. Contou com a palestra do professor Pedro Vera, diretor do programa Emprendo, da Universidad de Concepción (Chile). Também participaram Renato Nunes, ex-reitor da Unifei/ MG, e José Alberto Aranha, diretor do Instituto Gênesis/PUC-RJ.

Tabulação das Avaliações de Reação – ÍNDICE DE SATISFAÇÃO (EXCELENTE + BOM) Plenária Empretec 20 anos” – 27/05 Palestrante/Moderador

Conteúdo

Performance

Marina Fanning Alexandre Garcia Janete Vaz Lindolfo Martin André Telles

93,64%

93,89% 92,82% 94,35% 89,88% 77,18%

93,06%

ÍNDICE DE SATISFAÇÃO Profissional/individual 93,76% 92,94% 93,70% 91,47% 85,12%

Geral da Plenária

91,39%

Painel “Universidade e Empreendedorismo” Palestrante/Moderador Pedro Veras Renato Nunes José Alberto Aranha

Conteúdo

Performance

96,15% 95,20% 98,07%

98,07%

ÍNDICE DE SATISFAÇÃO Profissional/individua 97,11% 96,63% 98,07%

Geral da Plenária 97,27%

Plenária “Experiências de Educação Empreendedora no mundo” Palestrante/Moderador

Conteúdo

Performance

Bunker Roy José Pacheco Gilberto Dimenstein

98,60% 98,18% ----

98,60% 97,85% 95,60%

ÍNDICE DE SATISFAÇÃO Profissional/individua 98,60% 97,87% 95,60%

Geral da Plenária 97,35%

Sala Temática 1: Ensino Fundamental - Jogos e Empreendedorismo Palestrante/Moderador

Conteúdo

Performance

Lino de Macedo Elimara Rufino

-------

95,76% 94,07%

ÍNDICE DE SATISFAÇÃO Profissional/individual 95,76% 94,07%

Geral da Sala 1 94,91%

Sala Temática 2: Ensino Médio - Fundamentos da Educação Empreendedora ÍNDICE DE SATISFAÇÃO

Palestrante/Moderador

Conteúdo

Performance

Eda Lucas

----

96,97%

96,97%

Lina Useche

----

97,98%

97,98%

Profissional/individual

Geral da Sala 2 97,47%

Sala Temática 3: Pronatec - Educação Profissional e Empreendedorismo Essa atividade não foi avaliada em razão de termos contado com a palestra do Senador Cristovam Buarque no Painel. Capacitação Pronatec Empreendedor ÍNDICE DE SATISFAÇÃO

Palestrante/Moderador

Conteúdo

Performance

Mirela Malvestiti

----

98,68%

98,68%

Marcelo Lima Costa

----

93,75%

93,75%

ÍNDICE DE GERAL DE SATISFAÇÃO DO ENCONTRO

Profissional/individua

Geral da Capacitação 96,21%

95,76%

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Programação do Encontro Nacional de Educação Empreendedora Dia 27 de maio de 2013 Sala: Plenária. • 09h às 10h Credenciamento e café da manhã de boas-vindas (local da exposição). • 10h às 10h30 Abertura Institucional. • 10h30 Palestra “Além do Empretec – Características da Personalidade e o Modelo de Negócio Em preendedor” – Marina Fanning (idealizadora do Empretec). • 11h30 Homenagens – Condução: jornalista Renata Ceribelli. • 12h30 Visita à exposição e almoço. • 14h30 Talkshow: Oportunidades e Desafios de Empreender com o moderador Alexandre Garcia; Janete Vaz (Sabin); Lindolfo Martin (MultiCoisas); André Telles (4 One Agência de Inovação e Negócios). • 16h às 16h30 Intervalo. • 16h30 Ministro da Micro e Pequena Empresa, Guilherme Afif Domingos: “Pequenos negócios, um novo momento” • 17h15 Entrevista interativa com Carlinhos Brown: Projeto Voz & Tudo

Dia 28 de maio de 2013 Lançamento Pronatec Empreendedor

• • • • •

• • • • •

Sala: Plenária. 09h às 10h Credenciamento e café da manhã de boas-vindas (local da exposição). 10h às 10h10 Composição da mesa com autoridades. 10h10 às 10h20 Boas vindas do Presidente do Conselho Deliberativo Nacional do Sebrae, Roberto Simões. 10h20 às 10h30 Lançamento do livro Educação Empreendedora. 10h30 às 11h Apresentação do Pronatec Empreendedor – diretor Técnico do Sebrae, Carlos Alberto dos Santos, e o secretário de Educação Profissional e Tecnológica do MEC, Marco Antônio de Oliveira. 11h às 11h20 Assinatura do Acordo de Cooperação MEC – Sebrae. 11h20 às 11h30 Pronunciamento do presidente do Sebrae, Luiz Barretto. 11h30 às 11h50 Pronunciamento do ministro da Educação, Aloizio Mercadante. 11h50 às 12h10 Pronunciamento do Presidente da República em exercício, Michel Temer. 12h às 14h Visita à exposição e almoço.

Experiências de Educação Empreendedora no Mundo

Sala: Plenária • 14h às 14h15 Abertura Palestras com o moderador Gilberto Dimenstein

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Programação do Encontro Nacional de Educação Empreendedora

14h15 às 15h

Palestra: Banker Roy – Universidade dos Pés-Descalços (Índia)

15h às 15h45

Palestra: José Pacheco – Escola da Ponte (Portugal)

15h45 às 16h15 Intervalo

16h15 às 17h50 Debate com condução de Gilberto Dimenstein

Dia 29 de maio de 2013

Sala 1: Ensino Fundamental Jogos e Empreendedorismo

08h30 às 09h30 Abertura e café de boas vindas (local da exposição)

09h30 às 10h10 Palestra de Lino de Macedo – USP

10h10 às 10h50 Palestra de Elimara Rufino – SP

10h50 às 11h30

11h30 às 12h30 Debate

Caso de Sucesso: Sistema Sebrae

Sala 02: Ensino Médio

Fundamentos da Educação Empreendedora

08h30 às 09h30 Abertura e café de boas vindas (local da exposição)

09h30 às 10h10

10h10 às 10h50 Palestra de Lina Useche – Aliança Empreendedora

10h50 às 11h30 Caso de Sucesso: Sistema Sebrae

11h30 às 12h30

Palestra de Eda Castro Lucas – UnB

Debate

Sala 03

PRONATEC – Educação Profissional e Empreendedorismo

08h30 às 09h30 Abertura e café de boas vindas (local da exposição)

09h30 às 10h10 Palestra do senador Cristovam Buarque

10h10 às 10h50 Palestra da professora Olgamir Francisco de Carvalho - UnB

10h50 às 11h30 Apresentação Pronatec Empreendedor

11h30 às 12h30 Debate Sala 4

Capacitação Pronatec Empreendedor

08h30 às 12h30 Apresentação do Pronatec Empreendedor: Mirela Malvestiti, gerente da Unidade de

Capacitação Empresarial do Sebrae Nacional.

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