Exposição on-line Grotesca, Rafael Lobo, Secretaria de Cultura, Prefeitura de Chapecó, 2020

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EXPOSIÇÃO ON-LINE

GROTESCA Rafael Lobo

EDITAL DE SELEÇÃO DE EXPOSIÇÕES DE ARTES VISUAIS NA GALERIA MUNICIPAL DE ARTE DO CENTRO DE CULTURA E EVENTOS PLINIO ARLINDO DE NES Nº 258/2019.

CHAPECÓ/SC


FICHA TÉCNICA Exposição “Grotesca” Artista Visual Rafael Lobo Organização e Design gráfico Ricardo Garlet (Ricardo de Pellegrin) Abertura on-line dia 5 de novembro de 2020, às 19h, via Google Meet. PROJETO SELECIONADO NO EDITAL DE SELEÇÃO DE EXPOSIÇÕES DE ARTES VISUAIS NA GALERIA MUNICIPAL DE ARTE DO CENTRO DE CULTURA E EVENTOS PLINIO ARLINDO DE NES Nº 258/2019.


APRESENTAÇÃO A Exposição on-line “Grotesca”, do artista visual Rafael Lobo, é uma mostra virtual no formato de publicação organizada pelo Setor de Artes Visuais, através da Secretaria de Cultura - SECUL da Prefeitura de Chapecó. A idealização do modelo on-line para a exposição foi uma estratégia adotada para mitigar os impactos da Pandemia de COVID-19 que afeta o mundo, cujo primeiro caso diagnosticado foi na China em dezembro de 2019 e no Brasil em fevereiro de 2020. O projeto foi selecionado no EDITAL Nº 258/2019 PARA EXPOSIÇÕES DE ARTES VISUAIS NA GALERIA MUNICIPAL DE ARTE DO CENTRO DE CULTURA E EVENTOS PLINIO ARLINDO DE NES. O Setor de Artes Visuais é responsável pela gestão de três equipamentos culturais da Prefeitura de Chapecó, sendo eles a Galeria Municipal de Arte do Centro de Cultura e Eventos Plinio Arlindo De Nes, a Galeria Municipal de Arte Dalme Marie Grando Rauen e o Memorial Paulo de Siqueira, com coordenação de Ricardo de Pellegrin desde o ano de 2016. A equipe conta com profissionais das Artes Visuais e da Pedagogia, formações que garantem as habilidades técnicas necessárias para o desenvolvimento de ações como a proposta neste trabalho. A organização de publicações on-line é uma das atividades que pretendem garantir a continuidade das ações do Setor de Artes Visuais junto a cultura local, propondo um diálogo com a comunidade por meio da produção e divulgação de materiais inéditos, de documentação e educativos. Os conteúdos abordados são as exposições realizadas, o acervo e os projetos selecionados nos editais do ano de 2020. A proposta é disponibilizar conteúdos gratuitos, de qualidade, com fácil acesso e adequado a diferentes públicos. Ricardo de Pellegrin (Ricardo Garlet) Coordenador Setor de Artes Visuais


Foto: Ricardo Garlet


GALERIA MUNICIPAL DE ARTE DO CENTRO DE CULTURA E EVENTOS PLINIO ARLINDO DE NES A Galeria Municipal de Arte do Centro de Cultura e Eventos Plinio Arlindo De Nes é um espaço cultural público da Prefeitura Municipal de Chapecó, administrado pela Secretaria de Cultura, com coordenação do Setor de Artes Visuais. O equipamento foi concebido para atender a demanda da comunidade artística por um local adequado às manifestações visuais da Arte Contemporânea, sendo inaugurada no ano de 2012 e criada pela lei nº 6410/13. A sede da Galeria fica no andar térreo do edifício do Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo De Nes, que fica localizado na Rua Assis Brasil, nº 20 D, Centro de Chapecó. As finalidades da Galeria, estabelecidas na lei nº6410/13, estão alinhadas a uma visão de fomento e valorização da produção artística local, regional e nacional. Os objetivos da galeria são: disponibilizar um espaço público para exposições e difusão das artes visuais; fomentar a legitimação de artistas locais, regionais e nacionais; abrigar exposições de caráter local, regional e nacional com objetivo de troca de referência e vivências nas produções culturais; estimular a produção artística e cultural através de ações de fomento e incentivo. A sede da Galeria se destaca por suas características arquitetônicas. A sala branca possui um grande vão retangular central, sem janelas e com piso cinza escuro, com pé direito alto e ângulos irregulares no teto. Devido a estes aspectos, a área da Galeria permite o fluxo dos visitantes e a produção de diferentes projetos expográficos. O espaço, sem aberturas para áreas externas, propõe uma situação de imersão aos visitantes, podendo estes vivenciar com plenitude o envolvimento nas diferentes produções artísticas. A visitação na Galeria pode ser espontânea ou por meio de agendamento prévio, de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e 13h às 16h, ou em horário diferenciado desde que previamente agendado. O espaço dispõe do acompanhamento de um mediador, acadêmico do curso de licenciatura em Artes Visuais, que orienta, facilita, comunica, intermedia, realiza intervenções e provoca o interesse e a discussão a partir de temas relacionados às exposições. O público visitante é formado por moradores da comunidade local, estudantes do ensino regular, fundamental e superior, e turistas das diversas faixas etárias. Em um olhar retrospectivo para a trajetória de ações realizadas na Galeria Municipal de Arte do Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo De Nes podemos evidenciar que, apesar de estar localizada distante das grandes capitais, a instituição tem se tornado referência pelo acolhimento e fomento de produções artísticas e projetos com foco na Arte Contemporâneas.


Convite da Exposição on-line Grotesca | 2020


EXPOSIÇÃO ON-LINE

GROTESCA Rafael Lobo


Nos domínios do grotesco Grotescas é título de uma série de pinturas realizadas com óleo, cera e tela, que agora se converte em projeto de exposição individual para este edital. A escrita decorrente da produção artística foi pensada a partir da pesquisa sobre a Domus Aurea, palácio romano construído durante o império de Nero, em especial sobre as imagens encontradas durante explorações de suas ruínas, em meados do século XV. Descritas como grotescas essas imagens influenciaram diversos artistas do Renascimento. E continuam a inquietar artistas modernos e contemporâneos. Grotesco, do italiano grotta, quer dizer gruta, caverna. Atelier-caverna, lugar de penumbra, de imersão na pintura para descobrir e trazer à luz, metáfora e conceito para a minha prática pictórica. Pintura densa, óleo misturado à cera, que permite profundidade e volume, fazendo as figuras se confundirem com o fundo escuro. Matéria pictórica e imagem fundem-se no quadro: imagem-tinta. Pintura essa que, assim como toda pintura, investe na imaginação como linguagem crítica da realidade e da concepção estandardizada do corpo na cultura. Certo “barroquismo” atravessa minha figuração, com deformidades e excessos presentes nos corpos representados. O intelectual e literato russo Mikhail Bakhtin, em seu livro, A cultura popular na Idade Média e Renascimento: O contexto de François Rabelais considera que “o exagero, o hiperbolismo, a profusão, o excesso... são sinais característicos mais marcantes do corpo grotesco.” E continua dizendo que “no grotesco, o exagero é de um fantástico elevado ao extremo, tocando a monstruosidade.” A presença do monstro na arte é muito antiga. Pesquisando uma tradução do poema épico A Odisséia, atribuído a Homero, percebi que muitos personagens do poema eram monstros, e que um deles, o gigante Polifemo, vivia solitário dentro de uma caverna. O anacronismo do fenômeno grotesco nas artes me permitiu fazer ligações com os mitos antigos, encontrando narrativas pertinentes ao contexto da minha pesquisa em poéticas visuais. Uma das mais interessantes é a história de Teseu no labirinto do Minotauro, monstro com corpo de homem e cabeça de touro, forte e feroz, alimentado com carne humana, era mantido em um labirinto, construído por Dédalo, tão habilmente projetado que era quase impossível sair. Uma bela metáfora, inclusive, para a situação da pintura (e da própria arte em geral), presa a um labirinto de possibilidades e caminhos, mas que tem de se firmar como arte.


Recentemente a pesquisa teórica possibilitou o encontro com dois objetos da cultura “grotesca” nacional: o estudo do cientista dinamarquês Peter Wilhelm Lund (1801-1880), que é considerado o pai da paleontologia brasileira, o ramo científico que estuda as formas de vida existentes em períodos geológicos passados, a partir dos fósseis. Lund se mudou da Dinamarca para Minas Gerais, por volta do ano de 1833, época em que fazia escavações nas grutas da Lapinha, no município de Lagoa Santa, próximo a Belo Horizonte. Entre suas principais descobertas figuram o chamado homem de Lagoa Santa, habitante da região a mais de dez mil anos, além da preguiça gigante, do cachorro das cavernas, do tigre-dente-de-sabre e muitos outros grandes animais extintos. E o reencontro com Macunaíma de Mario de Andrade, obra em que, após recente releitura, pude identificar alguns elementos da estética grotesca dos mais evidentes. A escatologia na cena em que o herói se movimenta em uma gangorra, sobre uma feijoada gigante, na qual bóiam partes de corpos humanos é exemplar dessa tendência estética. Rafael Lobo



Salamandra | รณleo, cera e tela | 50 x 60 cm | 2018



Porcoroth | รณleo, cera e tela | 50 x 60 cm | 2018





Vanitas | รณleo, cera e tela | 110 x 75 cm | 2017


Cadeia alimentar | รณleo, cera e tela | 80 x 100 cm | 2019


Gargantua | รณleo, cera e tela | 100 x 120 cm | 2018



Autรณfago | รณleo, cera e tela | 45 x 55 cm | 2017



Fênix | óleo, cera e tela | 70 x 40 cm | 2018


Registro do processo. Foto: Raquel Walder

Minotauro | รณleo, cera e tela | 50 x 60 cm | 2018



Noturna I | รณleo, cera e tela | 30 x 40 cm | 2017



Noturna II | รณleo, cera e tela | 30 x 40 cm | 2017



Noturna III | รณleo, cera e tela | 30 x 40 cm | 2017


Registro do processo. Foto: Raquel Walder Predador | รณleo, cera e tela | 80 x 100 cm | 2019



Descorporificação | óleo, cera e tela | 50 x 50 cm | 2017




Procedimentos Técnicos O processo de trabalho para as pinturas grotescas é dividido em três etapas ou procedimentos. Inicialmente, utilizo como método a apropriação e coleção de reproduções fotográficas, geralmente retiradas de livros e revistas sobre arte, cinema, publicidade e outras mídias de massa, inclusive internet. Por meio do exercício de recorte e colagem, opero, dilacero, manipulo ao máximo as imagens, em fotomontagens sobre papel preto. Essas colagens são os modelos provisórios para as pinturas. Antes de pintar, há o confronto entre a tela branca e os papéis pretos carregados de imagens. A segunda etapa é acabar com os espaços brancos da tela: misturando cera de encáustica ou cera de pátina com tinta a óleo preta consigo uma matéria densa e volumosa, que utilizo para cobrir o suporte, criando um todo escuro. Naquele fundo barroco é que são impressas camadas espessas de tintas, também, misturadas à cera. Nesse momento, inicia-se a terceira e última etapa: a pintura. Quando começo a pintar, vou para dentro da caverna do meu inconsciente e lá tento o encontro com estes seres imaginários, com o estranho monstro que me habita. Em meio à penumbra vou iluminando aos poucos, cromaticamente, minha travessia no submundo da mente, do inconsciente, fazendo-se imagem por meio da linguagem pictórica. A citação e a releitura de imagens, também fazem parte dos meus procedimentos operativos para fins poéticos. A apropriação, que segundo o historiador da arte Michael Archer se caracteriza, conceitualmente, como “a cópia que alguns artistas faziam de imagens pré-existentes” (appropriation art) é retomada e atualizada, uma vez que não copio as imagens das quais me aproprio, mas sim, imponho uma constante “decupagem” daquelas imagens, em todas as fases do processo de trabalho. Dessa maneira, pode-se perceber em minhas pinturas, a imagem de um Da Vinci, de um Goya, de um Munch, de um Bacon, mas, sempre reeditadas ou, melhor dizendo, desfiguradas, desde o primeiro recorte na reprodução fotográfica até a última pincelada no quadro. Pois, ao pintar, sempre há um descontrole da situação, no meu caso, enquanto pinto a partir de fotografias e imagens pós-produzidas. Como influência e referência para meu trabalho, encontrei uma proximidade com o pintor Francis Bacon, pelo uso que fazia da fotografia, como modelo para pintar, e com o tipo de figuração que produzia. E com o artista Iberê Camargo, pelo caráter expressionista de suas figuras. Dentre muitos outros artistas e autores. Rafael Lobo


Registros do processo


Fotomontagens (modelos para as pinturas) | Reproduçþes fotogråficas diversas | 2017-2019


Fotomontagens (modelos para as pinturas) | Reproduçþes fotogråficas diversas | 2017-2019


Registros do processo


Registros do processo


O artista visual Rafael Lobo comenta o processo poético da série Grotesca | Vídeo | 2020 Acesse aqui.

Depoimento do artista visual Rafael Lobo sobre os procedimentos técnicos usados na série Grotesca | Vídeo | 2020 Acesse aqui.


BIOGRAFIA RAFAEL LOBO Nasceu em 1985 na cidade de Guaxupé, sul de Minas Gerais. Na oficina de seu pai aprende sobre marcenaria e alvenaria entre outras atividades. Depois de algum tempo descobre o cinema, o rock e o graffiti. Em 2004 se muda para Campinas, onde desenvolve seus estudos em música e pintura. Nessa época, adota o nome “Drum”, que mais tarde modifica para “Zé”. Começa a produzir intervenções urbanas pintando muros da cidade. Atualmente sua produção artística está voltada para a pintura, mas, possui trabalhos em escultura, desenho e instalação. Seus (sis)temas de (in)formação são os livros, o cinema, a música, a arte. Bacharel em Artes Visuais pela Universidade Federal de Pelotas (Ufpel). Atualmente vive e trabalha em Campinas - SP. EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS 2017- Perpetuum Mobile, Galeria Plínio Arlindo de Nes, Chapecó –SC 2019 - Ossuário, Espaço de Arte Mello da Costa da Biblioteca Pública Pelotense, Pelotas - RS SALÕES E EXPOSIÇÕES COLETIVAS 2014 - Poéticas em Movimento no casarão/sede DCE da Ufpel, Pelotas - RS; Vox Populi no casarão DCE da Ufpel, Pelotas - RS 2015 - Convoca no espaço cultural OCA, Pelotas - RS; Assina na Casa Velha, Pelotas - RS 2016 - Convoca 2 no espaço cultural OCA, Pelotas; (In)Cômodo Mostra de Arte Contemporânea, Museu da Cidade, Pelotas – RS 2017 – XI Salão Nacional Victor Meireles, Espaço Coletivo Nacasa, Florianópolis - SC 2018 – Do Sonho e do Pesadelo na Galeria JM. Moraes, Pelotas – RS; XXV Salão Curitibano de Artes Visuais, Curitiba – PR; XXV Salão de Artes Plásticas de Praia Grande, Praia Grande – São Paulo; XXVI Salão Limeirense de Arte Contemporânea, Limeira – São Paulo; Desarticulações Extemporâneas, Galeria A Sala, Pelotas - RS CURADORIA 2017 - Mostra Todxs Singulares. Todxs Plurais, Galeria Brahma Ufpel, Pelotas –RS 2019 – Exposição 100 Aves de Pelotas, Salão Frederico Trebbi, Pelotas – RS


PUBLICAÇÕES EM PERIÓDICOS 2015 - Causa e efeito: as novas experiências com imagens durante o choque cultural. Artigo publicado no XVI seminário de história da arte da Ufpel. 2016 - O gênero musical e a estética do rock e seus consequentes cruzamentos com o mundo das artes visuais. Artigo publicado no XXV congresso de iniciação científica da Universidade Federal de Pelotas. 2017 - Narrativas pictóricas e apropriação de imagens na cultura contemporânea. Artigo publicado no XXVI congresso de iniciação científica da Universidade Federal de Pelotas. EVENTOS E PROJETOS CULTURAIS 2006 - Festival artístico-cultural Virada da Lua na Moradia da Unicamp, Campinas-SP 2013 - Grito Rock Pelotas 2015 – Bienal de Arte Cultura e Cidadania da UFPEL (Projeto Espaços Expositivos) 2016 - Spraysons - Festival de Graffiti de Pelotas 2017 – Pró-cultura Pelotas (Projeto 100 Aves de Pelotas)




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