Grupo gera renda e segurança alimentar com produção de sequilhos

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Ano 7 nº 1217 Junho/2013

Ichu

Grupo gera renda e segurança alimentar com produção de sequilhos EM ICHU, Bahia, um grupo de mulheres tem produzido alimentos de qualidade, garantido renda e contribuído para a segurança alimentar das famílias. Os grupos Sabores da Terra e Mulheres de Luta existem desde 2002 na Comunidade Nova Esperança e entre as integrantes estão jovens que vieram da experiência do trabalho infantil, mulheres que dependiam financeiramente do marido e conquistaram com esse trabalho a autoestima e a autonomia de suas próprias vidas, com o apoio do Centro São João de Deus e da Cooperativa de Produção, Comercialização e Serviço Padre Leopoldo Garcia Garcia (COOPERAGIL). Quem conta esta história são as próprias integrantes dos dois grupos. “Estou desde o começo do grupo, entrei aos 12 anos, foi bom por que a gente trabalhava desde criança, quebrava brita, catava fio. Deixamos esse trabalho, foi quando a gente se esforçou na escola e foi para o PETI. Em 2002, eu participei da criação do grupo, fizemos reunião junto com Dona Dalva, teve várias formações para fazer o biscoito, o bolo. Ninguém sabia fazer, foram 15 pessoas, hoje já têm outras participando”, recorda Jeisiane Silva de Jesus, 23 anos. O grupo Sabores da Terra está ligado à COOPERAGIL e o grupo Mulheres de Luta ao Centro São João de Deus, no entanto elas trabalham em união, fazem a divisão dos dias de trabalho e se ajudam mutuamente. “Na COOPERAGIL tem seis mulheres e no Centro tem oito, ao todo são 14 mulheres trabalhando, porém estão chegando pessoas novas. A primeira coisa é encaminhar uma carta de aptidão. Tudo o que tem aqui Dona Dalva ajuda, ela é uma mãe”, explica Maria das Graças, integrante do Grupo Sabores da Terra, que se lembra da importância de Dona Dalva, uma das líderes da Comunidade que apoia a luta das mulheres. “Esse trabalho é muito importante para mim. Eu não tinha trabalho nenhum, ficava em casa no pé do fogão, aqui eu estou ganhando, me divirto, faço amizade, fazemos de tudo um pouquinho. Melhorou muito a vida, quem não tinha um fogão, um armário, um guarda-roupa, hoje tem. A gente trabalhava para a merenda escolar, para a Conab. Estamos aguardando o contato deles para voltar a comprar o produto da gente, fazemos biscoito de cebola, maracujá, cenoura, tapioca para a merenda escolar, para encomendas de festa. A gente faz bolo, empanada, coxinha, pastel, salgados e doces”, conta Maria das Graças.


Para Maria de Lourdes o projeto ajuda não só com a renda, mas complementa a alimentação da família. “Sou novata no grupo, o pouco tempo que estamos trabalhando estou gostando, embora seja pouco o lucro, mas o pouco com Deus é muito. Ajuda a gente dentro de casa, antes eu vendia pão, e esse trabalho já dá um dinheirinho a mais, não tenho marido, trabalho sozinha, tenho três filhos, e o sequilho e os bolos já servem para ajudar no café da manhã, na alimentação da casa”

Os desafios do trabalho Se o trabalho trouxe mudanças para vida delas, elas também ressaltam que ainda existem muitos desafios a serem superados. Durante o período de seca, elas contam que passaram muita dificuldade para produzir. “Trabalhava na roça, aí me chamaram para trabalhar de cozinheira no Centro São de Deus, surgiu esses projetos e até hoje estamos na luta. Mudou muita coisa, só agora que estamos paradas por causa da seca. O leite tá difícil de achar, a gente usa também a farinha de trigo, a maisena, o açúcar, a seca atrapalhou um pouco. Atualmente vendemos o bolo no valor de 3 reais para supermercado, para a CONAB o bolo é vendido no peso, no valor 8 reais o quilo, o sequilho é 2 reais a vasilha e 12 reais o quilo para a CONAB. Temos bolos de aipim, tapioca e milho. O maior desafio do grupo atualmente é estar parado, por que não tem projetos que comprem os produtos, e o preço da matéria-prima fica caro, quando vai dividir o dinheiro fica pouco. Agora estamos paradas, só se surgir uma encomenda. Antes era a presidente do centro que fazia os pagamentos por que a gente não sabia. Hoje a gente já consegue fazer as compras, pagar as despesas”, diz Maria Luzenaide de Santana. Os grupos estão buscando sempre ampliar os conhecimentos, elas não só aprendem, como ensinam , dão cursos, recebem visitas, trocam experiências. Uma conquista é a reforma do espaço onde elas se reúnem para produzir. “Ano que vem teremos uma reforma nesse salão, todas vão trabalhar juntas, vai adequar o espaço para as exigências da vigilância sanitária. Logo no início a gente comprou equipamentos com o recurso dos projetos e elas também compravam com o lucro delas. Quando começou, as meninas eram super jovens, tinham entre 12 e 40 anos. Aqui na comunidade, a maioria dos jovens vai para São Paulo. Mesmo ganhando pouco no grupo elas ficam morando em caso junto com a família. Eu mesma saí para morar em Goiânia por que não tinha oportunidade aqui, quando eu voltei em 2003 eu vi que os grupos estavam formados aí eu fiquei. A nossa comunidade era muito parada, não tinha oportunidade, graças a esses grupos ajudou a movimentar. Surgiram grupos de artesanato de palha, de sisal, um tear”, disse Ednéia Santos, jovem liderança e presidente do Centro São João de Deus. “O centro surgiu para trabalhar com pessoas surdas, mudas e cadeirantes, depois veio o projeto Criança Esperança, com os grupos de produção e artesanato, está sendo um aprendizado que eu vou levar por toda a minha vida, eu sempre achei que não ia conseguir nada, hoje eu aprendi muito, viajei muito, conheci pessoas e lugares” conta Ednéia. Agora as mulheres aguardam a chamada pública para fornecer alimentação para o PNAE e para a Conab.


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