Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 8 • nº1841 Agosto/2014
“Se eu tivesse uma cisterna de placa daquelas grandes que eu vejo em outras comunidades tudo era mais fácil pra mim, pois eu poderia dormir tranquilo sabendo que tinha água próximo para meus animais o ano todo”, relata com esperança Valmir.
Acopiara
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Mas mesmo com pouca água, Valmir vem mostrando que com muita força de vontade e com um apoio técnico especializado tudo é possível. Ele e outros produtores da comunidade e da região participaram de vários cursos promovidos pela Associação dos Produtores de Ovinos e Caprinos de Acopiara (Apocace) e são constantemente orientados por técnicos do Serviço Nacional Aprendizagem Rural (Senar), pela Ematerce (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará), Secretaria de Agricultura do Município, pelo Instituto Elo Amigo e pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) “Aqui não falta nada pra minha família, é tudo difícil, mas a gente vai vivendo. O segredo é se preparar para o período de seca. Do mesmo jeito que o pessoal do sul se prepara pro inverno forte, a gente tem que se preparar pro calorzão do nosso sertão”.
Valmir Um parceiro da natureza
Realização
Apoio
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A 23 quilômetros de Acopiara-CE, vivem algumas famílias que contam um passado de muita luta e resistência pela pouca água para o consumo e para a criação de animais, que é a principal atividade e fonte de renda das pessoas que moram ali. Essa comunidade se chama Sítio Alto da Serra. Um desses moradores é Antônio Cavalcante de Oliveira, 40 anos, mais conhecido como Valmir, casado com Francisca Diniz Souza, que também é mais conhecida pelo seu apelido, Marciene. Valmir conta que a maioria das pessoas da comunidade tem o nome de batismo diferente dos nomes que são popularmente conhecidos, pois isso já faz parte da cultura daquela região. Valmir também é bastante elogiado por todos, devido a sua organização, qualidade dos animais e pela sabedoria que possui quando o assunto em questão é sustentabilidade, agroecologia e convivência com o Semiárido. Ao chegar a sua propriedade, logo se constata o seu diferencial. Nos fundos da casa, Valmir cria ovinos, caprinos, suínos e galinha caipira. Tudo é devidamente separado, fazendo assim, com que as diferentes espécies, mesmo próximas não se misturem. Ele nos conta que vende os ovinos e caprinos para abate, as galinhas são usadas na produção de ovos para serem comercializados na cidade e os suínos são criados para reprodução a fim de vender os filhotes para outros produtores. Valmir tem um casal de porcos muito conhecidos na região e seus filhotes são muito desejados por outros produtores. “O grande segredo dos meus animais é a alimentação balanceada e manter os locais sempre limpos, pois assim os animais permanecem sempre saudáveis e não passam doenças uns para os outros” diz Valmir. Ao dar uma volta na propriedade pode se observar uma grande quantidade de árvores nativas preservadas, pois Valmir também é um alto defensor da preservação ambiental. Mas ele nos conta que nem sempre tudo foi assim. Há 10 anos, quando chegou à região, era tudo desmatado. “Fui plantando no quintal a jurema, o sabiá e a catingueira para garantir no futuro, sombra aos animais”.
Ele também nunca deixa faltar a palma forrageira, pois além de uma ótima fonte alternativa de alimento, ela é extremamente adaptada ao nosso Semiárido se mantendo viva e produtiva no período mais seco, garantindo alimento saudável e diferenciado para os animais. No fundo do quintal ele já tem garantida a silagem da ultima plantação de sorgo, assim, quando a estiagem chegar e o alimento ficar mais escasso ou até mesmo não mais existir, a silagem é implantada na alimentação dos animais garantindo nutrientes suficientes para a sobrevivência da criação. Próximo à propriedade, Valmir fez uma barragem para segurar a água por onde passa o rio Trussú, pois quando chegava entre o mês de setembro e outubro, o nível do rio baixava e ele ficava sem água para alimentar os animais. ”Tenho sempre o cuidado em preservar as árvores nativas da beira do rio, preservo o Mufungo, o Pau Branco, o Sabonete e a Ingazeira sempre por perto, pois se não preservar elas acabam e depois demoram muitos anos para conseguir implantá-las novamente na mata” diz com orgulho Valmir, embaixo de um Muquem de aproximadamente 70 metros. Valmir conta que o problema que ele sempre enfrentou foi a pouca água existente na região e que tudo sempre teve que ser muito regrado. Ele e outros produtores e moradores da comunidade já são beneficiados com as cisternas do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) destinadas para o consumo das famílias e com capacidade de armazenar até 16 mil litros de água da chuva, mas sonham em um dia conseguirem o benefício de um projeto que os possibilitem armazenar água para produção e para a criação de pequenos animais.