Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 6 | nº 937 | outubro | 2012 Olho D´Água das Flores- AL
"Mesmo no clima quente do sertão, quando tem água e cuidado a hortaliça cresce" Davi Venâncio de Lima, 45, nasceu na comunidade Serra Limpa em Olho D' Água das Flores/AL. Filho dos agricultores, Maria Venâncio de Lima e José Venâncio Filho. Aos sete anos já acompanhava o pai para roça e ajudava no plantio do feijão de arranca e de corda, de milho, mandioca e algodão. “Desde pequeno eu e meus sete irmãos aprendemos com meus pais o valor que tem trabalhar na roça, mexer com a terra, aprender as técnicas de manejo. Eles não tinham estudo mais sabiam ensinar a regra do bom viver, a respeitar o próximo e a viver com dignidade, pois viver no semiárido não é fácil mais não é impossível”. Os pais eram evangélicos e deu aos filhos o nome bíblico: Davi, Ageu, Tiago, Inalva, Diva, Eli, Josete e José. A religiosidade contribuiu para Agricultura familiar cultiva sem agrotóxico dedicação de Davi Venâncio a família e a cuidar da Mãe Terra. Assim, após o falecimento do pai ficou responsável em tirar da roça o sustento da mãe e da irmã. Porém, a responsabilidade aumentou quando no início de 2012 decidiu se casar com a prima, Maria das Virgens Bezerra Venâncio, 36, conhecida como Nega, também filha de agricultores. Antes do casamento, Maria das virgens tinha uma horta e para irrigar buscava água na barragem, por isso, quando casou incentivou Davi a cultivar além da agricultura de sequeiro as hortaliças. “No início fizemos uma pequena horta para ver se dava certo e com dois meses a gente colheu cem quilos de verdura por semana. Foi dessa horta que compramos nossa primeira televisão e semanalmente a gente vende hortaliças na feira. Na horta eles produzem coentro, cebolinha, pimentão, couve, alface, tomate, salsa, quiabo, maxixe, abobora e já realizaram uma experiência com o plantio da cenoura, da batatinha, da beterraba e do repolho. Eles avaliam que essas culturas se desenvolveram, mas no momento não tem plantado. Além, da horta e da criação de pequenos animais, eles cultivam ao redor de casa algumas fruteiras: Mangueira, goiabeira, acerola, graviola, seriguela, abacateiro, cajueiro, pinheira, mamoeiro, laranjeira, manga-rosa, Hortaliça cresce com a resistência do agricultor. coqueiro,romã, limoeiro, amendoeira, pitombeira, umbuzeiro, carambola, cáqui, e um roçado com
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milho, feijão de corda e carioca, fava, macaxeira e mandioca. Também, a cana-de-açúcar. Davi destacou a importância da água para viver na região com dignidade “A nossa felicidade é a água da barragem que foi feita em 1987 e a gente usa para todo o serviço de casa, para regar a horta e o pomar, para dar de beber aos ovinos, e as galinhas. Se não fosse essa água não teria como produzir nem criar nada, pois sem beber água ninguém vive”. A força da mulher e do homem do campo O excedente da produção a família vende na feira do município de Carneiros. Segundo Maria das Virgens “uma das dificuldades que a gente encontra é para levar as hortaliças para a feira Alternativa de convivência no sertão todos os domingos. A gente acorda três horas da manhã, coloca as verduras numa carroça de mão e andamos de pé aproximadamente uns 10 km até chegar à cidade de Carneiros. Mas, a gente vai com a esperança de que a feira seja boa e a grande surpresa é quando a gente chega no ponto de vender, a freguesia já está esperando e fazem fila para comprar os produtos, pois são de boa qualidade e não têm agrotóxicos”. Para adubar as plantações o casal utiliza o esterco dos animais e para combater as pragas a urina de vaca, a urtiga machucada e o fumo. “Não uso veneno na nossa horta, porque a gente não quer consumir droga e nem quer que outras pessoas que comem das nossas hortaliças se alimentem de produto sem qualidade. Também, a gente sabe que quando colocamos veneno na terra estamos destruindo a terra e podemos contaminar a água da barragem”, ressaltou Davi Venâncio. Maria das Virgens (Nega) destacou as dificuldades para ir buscar água três vezes ao dia na barragem para irrigar as plantações “antes de casar eu tinha minha horta e enfrentava a dificuldade de ir buscar água para irrigar. Hoje conto com a ajuda de Davi e todos os dias a gente vai buscar água na barragem para irrigar, e é pesado, principalmente por causa da ladeirinha que a gente enfrenta subindo e descendo com os dois regadores”. Segundo Davi Venâncio a força e a coragem das famílias que vivem em Serra Limpa mostram que tudo que se planta na serra se desenvolve. “Mesmo no clima quente do sertão, quando tem água e cuidado a hortaliça cresce. Mas, temos esperança de aumentar a produção e diminuir o sofrimento, quando chegar a cisterna no quintal da nossa casa. Eu nasci e me criei aqui, e não quero sair daqui como muitas pessoas fazem. Deixam sua vida no sertão e vai morar nas favelas das grandes cidades, passando fome, entrando na marginalidade, e eu não quero isso pra mim e nem para minha família, pois meu lugar é aqui em cima dessa serra onde nós somos privilegiados, porque toda chuva que se forma passa por aqui, tudo que se planta dá. E como vocês podem ver é possível viver no semiárido basta ter vontade e coragem de trabalhar. Pois sem trabalhar ninguém vive, morre de fome ou vive de esmolas”, concluiu. Davi Venâncio relembra o período de estiagem prolongada, porém mesmo nesse período não pensou em sair do semiárido, mas em resistir igual aos pais. “Meus pais criou a gente com muito sacrifício e na década de 70, com a seca prolongada ele nunca deixou faltar o pão para gente e para quem chegava.. Naquela época as coisas eram mais difícil e ele continuou aqui. A gente vai continuar trabalhando e pedindo a Deus para as coisas melhorar, principalmente que a gente ganhe nossa cisterna. Porque,, com ajuda minha esposa eu vou plantando e tirando nosso sustento daqui”. . Apoio:
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