Armazenando água na propriedade e colhendo frutos: a experiência de Dona Dora

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Ano 1 | nº 24 | Novembro | 2007 Queimadas- Paraíba

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Projeto Demonstrativo

Armazenando água na propriedade e colhendo frutos: a experiência de Dona Dora A agricultora Maria das Dores Tavares de Lima, mais conhecida como Dona Dora, tem 62 anos e vive com a família no Sítio Catolé do Simão, região seca do município de Queimadas. Ela teve 13 filhos, mas atualmente viúva mora com 2 filhos e 2 netas. A sua propriedade de 11 hectares é herança dos seus pais. No tempo de menina lá só existia um pequeno tanque de pedra ao lado de sua casa, onde juntava água da chuva para o gasto da casa, para os animais e no período de chuva servia também para uso dos vizinhos, durando água até o mês de agosto nos anos bons de chuva. “Certa vez apareceu oportunidade de receber apoio do PAER para ampliar o tanque no período em que meu pai era vivo, mas ele não quis porque achava que assim não ia poder ter controle da água e se tivesse ampliado, juntaria mais água e todos sairiam ganhando”, comenta dona Dora. Até o ano de 1993 a água para beber ela buscava no barreiro de seu Fernando que fica a 600 metros de sua casa, “este é um bom barreiro, até hoje fica com água o ano inteiro e só seca se passar dois anos sem chover” afirma Dona Dora. Ela lembra que 1993 foi ano de grande seca, e neste período, apareceram umas pessoas da Visão Mundial e do PAER visitando a comunidade e falando de um modelo de cisterna com anéis de cimento. Prometeram o material para construir uma cisterna, mas não apareceram. Apesar disso, Dona Dora decidiu fazer a cisterna. “Apertei o”cinto”, fiz economia, comprei todo material,pedi orientação ao PAER e construí uma cisterna com 6 anéis e com capacidade para 15.000 litros de água. Assim melhorei o problema da água de beber e cozinhar.Também sempre utilizei água da cisterna para outros usos como tomar banho e lavar roupa no período de inverno, pra diminuir o trabalho de buscar água e assim sobrava mais tempo para o trabalho do roçado”. P a r a abastecer os animais, no período que está chovendo ela utiliza água do tanque de pedra até agosto. Quando seca o tanque, busca água na cacimba feita na beira do rio, na propriedade vizinha. Mesmo resolvendo o problema da água de beber, Dona Dora ainda dependia da água da chuva para a produção, como acontece com todas as famílias da região. Em 2003, quando começou a participar das atividades do Pólo Sindical por meio do Sindicato Rural de Queimadas conheceu uma experiência com barragem subterrânea na comunidade de Bom Sucesso em

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Solânea, região muito seca e bem parecida com a sua região no Catolé do Simão. Com a visita de intercâmbio percebeu que sua propriedade tinha uma área boa para barragem subterrânea e resolveu fazer uma através do Fundo Rotativo Solidário da sua comunidade. A participação nessas atividades têm mudado muito sua vida.“O Fundo Rotativo Solidário apoiou com lona e cimento e eu entrei com a mão de obra da família para cavar o buraco. Construímos uma barragem com 40 metros de comprimento por 2,60 de profundidade. Foi um trabalho muito duro, mas desta forma, ajudou na economia dos gastos” comenta dona Dora. O feijão, milho e fava que eram plantados só no inverno agora com a barragem subterrânea podem ser plantados duas vezes no ano.Além disso, a barragem ainda permite que tenha coisas que não tinha antes como banana, caju, pinha, goiaba, laranja, manga, graviola e ainda inhame, macaxeira, mandioca, cana e capim elefante para dar de ração para os bichos. Dona Dora acha que os resultados ainda vão melhorar.A barragem ainda é nova e daqui um tempo as fruteiras se estabelecerão e produzirão mais. Ela também acha que é preciso construir um poço na barragem para poder irrigar as plantas de raízes curtas quando a água estiver profunda. E ainda quer aumentar a produção de forragem porque diz que está difícil manter os animais com o pouco pasto que tem porque afinal é muito caro comprar ração no período de seca. Para assegurar mais água na propriedade, Dona Dora fez a opção de deixar a mata nativa como o xique-xique, mandacaru, caibera, baraúna, pereiro, gameleiro, jucá, mameleiro, aroeira e quixaba em pé, plantou mais árvores, não queima o mato e fez curvas de níveis para conter a erosão.Tudo isso ajudou a conservar a propriedade e ainda descobrir um olho d'água, que ela cavou em volta, represou e agora serve para os animais. Sua filha ainda conseguiu plantar verduras irrigadas com esta água. Para manter as plantas e frutas do arredor de casa ela utiliza a água servida do banho e da louça. Segundo Dona Dora apesar de ter melhorado o sistema de abastecimento de água de sua propriedade, ainda não é suficiente. A água da cisterna e do tanque acabam no mês de novembro e assim ela e o restante da comunidade tem que buscar água no barreiro do vizinho Fernando ou esperar pelo carro pipa, que aparece de dois em dois meses fornecendo água para as cisternas que estão cadastradas na Prefeitura. Para aumentar a quantidade de água ela pretende ampliar o tanque de pedra e deixar a água da cisterna só para beber. E assim Dona Dora vem, aos poucos, fazendo melhorias na sua propriedade e sendo exemplo para outras famílias de agricultores porque ao invés de lamentar a falta de água, ela está se esforçando para estruturar a propriedade para armazenar água da chuva, seja nos tanques de pedras, em cisternas ou em barragem subterrânea.E ainda tem plantado e conservado plantas que cumprem um papel importante para ajudar na infiltração e armazenamento da água no solo, diminuindo consideravelmente a perda de água pela evaporação. São exemplos como o de Dona Dora que precisam ser irradiados para todas as propriedades, municípios e regiões do semi-árido.

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