Ano 8 • nº 1641 Dezembro/2014 Anagé Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Escola Família Agrícola de Anagé: "aqui somos nós que escrevemos nossa história" Estudar Português a partir de palavras como Umbu, Gabiraba, Umburana e Jurema... E da palavra milho se aprender matemática a partir da utilização das medidas e combinações de como se fazer um delicioso bolo, ou então, a partir dos tipos de solo e vegetação da Caatinga se aprender Geografia, bem como, conhecer e vivenciar de perto os segredos da Mãe -Terra são algumas das práticas diárias desenvolvidas na Escola Família Agrícola (EFA) no município de Anagé BA. Fundada em 2002 está localizada na Fazenda Sertaneja, que fica a uns 2 km da cidade, e de lá para cá, muitos foram os alunos e alunas que passaram pela EFA de Anagé, e que hoje se dedicam a levar todo o conhecimento e aprendizado adquirido para suas comunidades de origem. Atualmente, além do município de Anagé, a EFA tem 64 alunos/as, vindos/as de diversos municípios da região do sudoeste baiano, que estudam do 6º ao 9º ano, distribuídos/as conforme as etapas de formação de cada turma. Situada às barrancas do Rio Gavião, todo o ambiente da EFA é dividido em setores para o desenvolvimento e cultivo das diversas culturas. A começar pelos canteiros das hortaliças e verduras, com leiras de alface, coentro, cenoura, couve, cebolinha, pimentão, quiabo, beterraba e tantas outras variedades. Logo ao lado da área de verduras e hortaliças, tem uma um espaço reservado ao cultivo do mamão. Lá é possível encontrar diversas variedades da fruta: mamão de corda, mamão gigante, papaia, pra 'fazer cortado' e espécies só para fabricação de doces. No pomar se cultiva banana, limão e a mandioca, além de plantas para alimentar a criação, como: a Palma doce, Mandacaru sem espinhos e o Sorgo que servem como ração animal. Antes de cultivar e colher toda essa variedade de culturas, a terra é preparada com carinho e amor juntando a preciosa colaboração dos diversos monitores e monitoras, que juntamente com os alunos e alunas, aprendem a labutar com a terra de forma prática e dinâmica. Todas as práticas desenvolvidas por lá, tem por base os princípios da agroecologia, a começar pelo preparo e renovação dos “berços” para o plantio das culturas cultivadas em toda a área. O cuidado dos animais, são os/as alunos/as responsáveis, por cada área, sendo acompanhados dos seus respectivos monitores, que dão as orientações práticas de como cultivar a terra e cuidar dos animais de forma harmoniosa, com toda teoria compartilhada em sala de aula, formando assim, um conjunto de saberes sem limites, e que servirão para a vida diária desses alunos e alunas.
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia
A base de todas essas atividades são os princípios da agroecologia, mostrando na prática a viabilidade de um Semiárido cheio de vida, feliz e possível de se conviver, quando se educa e se constrói laços de harmonia com essa natureza, a partir de práticas contextualizadas. Além do plantio e trabalho com a terra, a EFA tem o espaço da criação animal: a pocilga, o galinheiro e o curral, como por exemplo, o jovem Marcos da 'Fazenda Fundos' é responsável pelo aprisco ou curral, segundo ele, é preciso levantar bem cedinho pra tirar o leite e cuidar do gado. Já Natã, da comunidade do Caçote no município de Anagé, sente-se orgulhoso em saber da importância e da satisfação em fazer parte desse modelo educação contextualizada, “Plantei um pé de mamão aqui quando estudei a 5ª série, e hoje já concluindo a 6ª série vejo o resultado do que plantei”. E assim, as turmas no sistema de revezamento quinzenal cuidam dos animais completando o ciclo de atividades de campo que fazem parte da formação educacional na EFA. A disciplina, o compromisso e a responsabilidade de uma formação comprometida com a cidadania, o aprendizado e o cuidado com a natureza sem perder as raízes são bases fundamentais para o bom funcionamento da EFA de Anagé. Aqui as atividades começam bem cedinho, o despertador é o cantar do galo e a barulheira da “passarada”, às 6 da manhã tem inicio as atividades e vai ate às 9 da noite. Nesse período, acontece um série de atividades de formação, desde aulas e realização de tarefas próprias de cada série, bem como trabalhos de campo com o plantio, manejo com a terra e o cuidado com os animais. E como 'ninguém é de ferro', entre uma atividade e outra têm os momentos de pausa, lazer, intervalos livres para a interação e descanso das tarefas do dia. Dinâmica essa, que naturalmente une o conhecimento teórico vivenciado na prática, o que resulta na produção de um valioso saber construído, transmitido e preservado pelos/as próprios/as alunos/as. Para Edson, um dos monitores responsáveis pelos trabalhos de campo, é motivo de satisfação e alegria fazer parte da formação desses jovens e adolescentes, não somente para que avancem de uma série pra outra, mas de uma formação que se preocupa com a pessoa humana por inteira, onde se aprende que é preciso preservar as tradições e culturas das comunidades, cuidar da natureza e sempre procurar ampliar os saberes a partir da troca de experiências. As experiências aqui produzidas, vividas e transformadas em conhecimento são um verdadeiro e sólido exemplo de educação contextualizada, que resiste a um modelo de educação tradicional, onde os adolescentes e jovens são estimulados, dentro do próprio ambiente escolar a irem embora do seu lugar, abandonando famílias, amigos, suas histórias, culturas e tradições. E bons exemplos e belas experiências, essa Escola Família Agrícola tem de sobra, são inúmeras atividades que demonstram e revelam um estilo de vida que, resultam em atitudes práticas que fazem com que essa forma de educação tenha sentido na realidade vivida por cada jovem e adolescente que integra essa escola.
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