O prazeroso trabalho, lazer e aprendizado da vida camponesa

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Ano 8 • nº2035 outubro/2014 Macambira

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

O prazeroso trabalho, lazer e aprendizado da vida camponesa Localizado em terras serranas, o município de Macambira, em Sergipe, desfruta de belas paisagens e de uma das melhores vistas panorâmicas do agreste caatingueiro do estado. Neste cenário de belezas, no povoado Lagoa Seca, vivem Lene, 38 anos, e Pereira 47, e 19 de casados. São muitos invernos e verões dedicando suas vidas ao cultivo do roçado, superando as dificuldades, buscando a valorização das potencialidades do semiárido, com amor a natureza e o trabalho no campo. O casal tem três filhos: Michele de 17 anos, Marcele, de 13, e Pedro de 1 ano. E moram vizinhos e colaboram nos trabalhos do roçado aos pais de Pereira, Seu Otoniel e Dona Maria Petrina . Os dois tem alguns fatos em comum, entre eles, a Infância convivida junto a natureza, seja no trabalho na agricultura, no pouco tempo de Lene e Pereira e seu filho Pedro escola e nos poucos momentos de lazer, mas nem sempre foi assim. Em virtude de períodos de longa estiagem, eles foram obrigados a deixar a região temporariamente. Pereira trabalhou por alguns meses na construção civil, isso uma vez antes de casado, e outra depois. Lene, na época com 16 anos de idade, foi trabalhar em casa de família em Aracaju. Então outro fato em comum. Não se adaptaram a vida urbana e com saudade da convivência e do trabalho em meio a natureza, retornaram definitivamente ao meio rural. Ele já tinha um bom tempo que tinha retornado, ela após 6 anos de trabalho em Aracaju, retorna e com pouco depois casam-se. A agricultura e a criação de animais são as principais atividade desenvolvidas pelo casal e seus três filhos nas 5 tarefas de terra da família. Eles criam galinhas, gado, cabras, porcos, peixes e cultivam frutas e mandioca para fazer farinha. Culturas que tem uma boa contribuição na renda da família. “Desde o inicio a gente tem uma dedicação maior ao plantio de mandioca pra fazer farinha e vender na feira. Ultimamente estamos vendendo preferencialmente a um único freguês. Ele vem comprar aqui em casa, e além de comprar, faz troca de mercadorias. Assim, trocamos a farinha por milho e soja que são estocados e utilizados no verão, como ração para os animais”, relata Pereira.

CRIATÓRIOS TRABALHADOS NAS TERRAS DA FAMÍLIA


Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Articulação Semiárido Brasileiro – Sergipe

EXPERIÊNCIAS VIVIDAS Diz o casal, “Durante uns 5 anos deixamos de produzir a mandioca devido a uma doença que deu nos pés, apodrecendo a raiz. Devido as nossas terras serem de poucas tarefas, a gente plantava em terras de fazendeiros. Antigamente a roça era coisa de pobre, a terra era cedida pra gente plantar o milho e o capim para o fazendeiro, mais hoje a terra é arrendada e com isso o custo fica muito para produzir muito, por isso paramos de com roças maiores. « tudo que produzimos aqui Antigamente nós tínhamos muito prejuízo com a mandioca, porque é sem veneno...» colhíamos a mandioca, mais não tínhamos como transformar toda colheita em farinha devido ao nosso local de fazer a farinha era pequeno. Antes também as pessoas eram mais unidas e faziam mutirões no roçado, na farinhada, e hoje nós não temos mais essa coletividade para trabalhar. Hoje se a gente quiser fazer alguma coisa tem que pagar, não tem mais mutirão, faltam incentivos para o pequeno agricultor aqui em nosso município, nós não temos técnicos acompanhando o nosso trabalho, falta um fortalecimento da organização da associação e da comunidade. A gente sabe de alguma coisa, quanto mais instruído, a gente consegue trabalhar melhor e desenvolve mais. CONQUISTAS E AVANÇOS Com a conquista da casa de farinha tudo ficou mais fácil, a gente aproveita praticamente tudo da mandioca, seja para fazer a farinha, seja para a tapioca de fazer beiju ou mingau, sejam as cascas, folhas e manivas, em fim, tudo. Para o consumo da família, muita coisa é produzida em nosso terreno, na feira agente só compra mesmo o que nós não conseguimos produzir em nossa malhada. Já tivemos muito mais árvores frutíferas, tanto redor da casa como na malhada, infelizmente muitas morreram devido à seca outras por doenças. Hoje tudo que a gente tem vem da roça, e tudo de melhoria na vida da gente foi a roça que deu. Já tem bastante tempo que nos plantamos milho com sementes crioulas, na nossa malhada não plantamos milho transgênico, tudo que produzimos aqui é sem veneno. Tem dois anos que voltamos a produzir mandioca e algumas frutas, infelizmente tivemos que nos desfazer de algumas plantas frutíferas para fazer a roças de milho, feijão, quiabo, mandioca e na maior parte misturado (o chamado consórcio de cultivos). A gente sempre utiliza o que a natureza sempre oferece, seja trabalho ou lazer. Eu me sinto bem demais, gosto demais quando estou na malhada, quando tô lá, ave Maria..!!. Diz Pereira. O nosso lazer é tá no meio da natureza, nosso lazer não é ir para festas na rua( sede da cidade) ou em outras cidades, o nosso lazer é ir pescar, tomar banho de cachoeira, está no meio do mato, dos animais, na roça”. Completa Lena. APRENDIZADO DE VIDA E aí quando bate o desanimo e vem no pensamento de sair da nossa terra, a gente logo ver as dificuldades que nós podemos ter que enfrentar fora da nossa terra. Nisso logo vem o pensamento que durante esses últimos anos nós conseguimos aprender com as experiências vividas, que fizeram que as dificuldades se tornassem mais fáceis de ser resolvidas. Mesmo com algumas dificuldades agente ainda é feliz e tem motivação de trabalhar na roça, porque tudo agente precisa tem aqui em nossa terra, diz Lene. DESEJOS A CONQUISTAR Com a conquista da cisterna eu quero plantar inhame, verduras e maracujá. No futuro eu quero ter uma área de terra maior para que agente pudesse investir mais na plantação, criar mais e melhor meus animais. O meu sonho é esse”. Finaliza Lene.


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