O poder das mulheres camponesas no acesso a mercados

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Ano 8 • nº1739 Setembro/2014 Cubati

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

O poder das mulheres camponesas no acesso a mercados

Feira da Agricultura Familiar de Cubati-PB

Desde criança a agricultora Solange José de Medeiros vive e convive com as adversidades da região do Seridó Paraibano, na comunidade Capoeiras, município de Cubati. Ela, junto com seus oito irmãos e seus pais, cresceram enfrentando os desafios dos períodos de estiagem e dos limites da agricultura familiar na região. A família de Solange sempre viveu da agricultura, através do cultivo de roçados, criação de pequenos animais e do cultivo de hortaliças próximo aos barreiros, nos períodos de chuva. Atualmente, os pais, ela e seu marido, Aldo, moram na casa, seus demais irmãos seguiram outros destinos. Solange também conta que o pai sempre criou porcos «ele mesmo abatia e vendia a carne aqui na comunidade e na cidade». Com a comercialização da carne suína e de ovos de galinha, a família conseguia obter uma renda extra para cobrir suas despesas. No passado, durante os períodos de seca, a família toda se unia para buscar água em cacimbas e barreiros de outras comunidades de Cubati. Foi em 2003 que a família recebeu sua primeira cisterna de captação da água da chuva, através do Programa Um Milhão de Cisternas. Desde então, Solange diz que não sabe o que é beber água suja de barreiro, “acabou a dificuldade que a gente tinha com água, a gente nem lembra mais que mora em zona rural”, afirma. Em 2012, a família conquistou a cisterna-calçadão do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), porém desde que foi construída, ainda não choveu na região. No entanto, com a água que Solange colocou logo após a construção, ela conseguiu melhorar a produção de hortaliças. “O P1+2 veio fortalecer minha produção, devido ao caráter produtivo, porque com as cercas e os canteiros econômicos posso plantar minhas hortaliças e não preciso me preocupar com a criação de galinhas, que antes destruíam tudo que a gente plantava ”, fala a agricultora.


Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Articulação Semiárido Brasileiro – Paraíba

A conscientização e o fortalecimento da ações junto ao grupo de Mulheres Foi no ano de 2009 que Solange uniu-se a um grupo de mulheres da comunidade para beneficiar as frutas nativas, que naquele momento tinha uma boa safra. Foi a partir daí que elas perceberam a possibilidade de melhorar a renda familiar por meio da comercialização. O grupo recebeu o apoio do Coletivo Regional das Organizações da Agricultura Familiar e do Patac, participaram de alguns intercâmbios, conhecendo experiências de outros grupos de mulheres da região e de outros estados. Também participaram de oficinas sobre manipulação e Solange e o grupo de mulheres de Cubati armazenamento dos produtos, fortalecendo o início da experiência com a produção de polpas, doces, geleias, compotas, etc. Por meio da organização do grupo, as mulheres já conseguiram acessar mercados institucionais, a exemplo do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Atualmente os produtos beneficiados pelo grupo e produzidos pelas famílias da comunidade são comercializados através do PNAE Estadual, na Bodega Agroecológica, sediada no município de Soledade-PB, na própria comunidade, nas atividades de formação dos programas P1+2 e P1MC, além da Feira da Agricultura Familiar de Cubati. Após participarem da Jornada de Inclusão Produtiva, no início desse ano (2014), o grupo percebeu seu potencial para organizar a feira periódica. Desde então, a feira vem sendo realizada todas as últimas quarta-feira do mês. Hoje são doze famílias que levam para feira ovos, queijo, hortaliças, carne, galinha, bolo, polpa, doces, entre outros produtos. É através da comercialização individual e coletiva que Solange diz ter conseguido melhorar a qualidade de vida de sua família. “Além de garantir a segurança alimentar de minha família, eu tenho conseguido uma renda extra com a venda dos excedentes que eu produzo. Com a renda que consegui com trabalho no grupo, completei o valor que precisava para adquirir minha casa própria”, afirma. Solange reconhece seu papel enquanto mulher para o fortalecimento da agricultura familiar camponesa. “Temos que dá autonomia a outras mulheres para que elas percebam sua força e capacidade. Temos que estar envolvidos em grupos, participando ativamente de todas as ações de forma coletiva.” conclui a agricultora.

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