Escola da vida, faculdade do campo

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Ano 8 • nº1592 Agosto/2014 Érico Cardoso

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Escola da vida, faculdade do campo Seu Nivaldino Domingos Onório e Dona Heliete Maria de Almeida Onório são moradores da região de Picadas, município de Érico Cardoso, há quase 30 anos. Ao pé da chapada da Pedra Quebrada, em meados dos anos 80, se casaram e começaram a construir a vida juntos. Em seu terreno de aproximadamente quatro hectares eles ergueram a casinha que em breve veria seus filhos crescerem. Apesar de ter frequentado a escola durante a infância, Din, como Nivaldino é conhecido, nunca se aplicou muito às atividades desenvolvidas na escola e acabou largando os estudos ainda jovem. O interesse e foco de Din sempre estiveram muito mais ligados à terra Vista da Chapada da Pedra Quebrada e à vida no campo do que na sala de aula, e foi isso que norteou seu caminho. Ainda nos anos 80, com a casinha já construída, o casal passou a cultivar de tudo em seu terreno com a finalidade de fornecer uma boa alimentação e também uma fonte de renda para a família. Além do plantio, a família tinha criação de gado que se fartava com o capim disponível na propriedade. Naqueles tempos, Din explica, as chuvas eram abundantes na região e tornava fácil a vida dos que dependiam da terra para o sustento. Com o passar dos anos a frequência e intensidade das chuvas começaram a diminuir e foi aí que os conhecimentos do pai da família foram colocados à prova. Fez-se cada vez mais necessário o conhecimento dos ciclos da terra e das águas para que as hortas seguissem produzindo. Para aproveitar ao máximo as águas da chuva, Din passou a plantar sempre alguns dias antes ou no dia logo após a chuva, favorecendo a germinação das plantas, passou também a fazer uso de cobertura morta e de adubo orgânico feito com esterco animal, pó de ossos e outros elementos e a respeitar as fases da Lua: Din e Heliete em seu quintal verde


Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia

“Meu tio e eu tínhamos as mesmas sementes e a mesma terra, eu plantava sempre no quarto dia após a Lua Nova e ele plantava ao 'Deus dará'...um tempo depois ele vinha me perguntar porque as frutas dele estavam tão diferentes das minhas, é Lua, eu respondia”. Outro fator que veio em ajuda da família ocorreu em 2005, quando Din e Heliete foram contemplados com uma cisterna de água para consumo do P1MC (Programa Um Milhão de Cisternas). Com isso passou a sobrar mais água As bananeiras e os pés de abóbora para cuidar de seus canteiros, mesmo assim Din só aguava as plantas ao cair da noite para que a água fosse melhor aproveitada pela terra, hábito que ele mantém até hoje. Os filhos cresceram e deixaram a casa da família, a filha foi para São Paulo estudar pedagogia e o filho foi trabalhar em Paramirim, mas sempre que podem voltam à Pedra Quebrada para passar um tempo com os pais. Seu Nivaldo já leva muitos anos de experiência Cachaça Artesanal de ótima qualidade vivendo com o que a terra e seu suor lhe oferecem, em seu terreno ele produz de tudo um pouco: milho, beterraba, cenoura, alface, abóbora, mamão, couve, quiabo, feijão, batata, guandú, limão, laranja, café, amendoim, cebola, alho, tangerina, abacate, boldo, babosa, maracujá nativo, palma, abacaxi, jaca, nim, goiaba e até guaraná, além disso faz também o plantio de cana de açúcar para a confecção de cachaça artesanal e rapadura. “Se eu tivesse dinheiro produziria mais coisa ainda” exclama com um sorriso no rosto. Hoje com 49 anos, caminhando por seu quintal, Din mostra suas colmeias de abelhas Jataí, suas galinhas e também um pequeno tanque que foi escavado para receber a recente criação de tilápias, além da plantação de mamonas para a extração do óleo. Abelhas Jataí criadas dentro de cabaças O excedente desta produção é vendido semanalmente na feira local e garante os meios de subsistência desta família trabalhadora do semiárido baiano.

A casa se perde em meio ao quintal cheio de plantas

Realização

ASAMIL

Associação do Semi-Árido da Microrregião de Livramento

Din ao lado do tanque escavado para criação de tilápias

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