Ano 8 n˚1779 Junho / 2014 Tavares
Uma terra e duas águas: Uma janela que se abre para a soberania e qualidade de vida da família de Dona Selma e Seu Arlindo Na beira da pista (rodovia PB 306 sentido Água Branca a Princesa Isabel, no Sertão da Paraíba) reside a família Andrade. Como é satisfatório poder relatar um pouco da história da agricultura familiar vivida por Dona Selma e Seu Arlindo. Ela diz que desde pequena, com seus irmãos, aprendeu de sua mãe a lidar com hortaliças para o alimento de casa e para vender em feiras. Quando casou, para ajudar nas despesas de casa, ela resolveu produzir alguns produtos que pudesse ter em sua mesa e vender outra parte. Há mais de vinte anos que essa é a atividade principal de Dona Selma e foi com ela que pode criar os filhos e segurar as despesas da casa com Seu Arlindo. De dentro de casa, pelas janelas e portas, a família acompanha o desenvolvimento de cada semente plantada no quintal arredor das cisternas de placas. Isso aqui é a minha vida. Todas as cisternas ficaram boas mas a minha é a melhor de todas. Diz Dona Selma. As palavras certamente não são suficientes para dizer o que se contempla, o que se ver e o que se sente da janela. Mas, a família sabe o tamanho da janela que se abriu com a segunda água. Ter água de qualidade para beber e cozinhar e agora ter para produzir no arredor de casa é uma janela que se abre para a soberania e qualidade de vida da família. Quando Dona Selma começa a contar como era antes e como está agora transmite uma satisfação emocionante e as palavras vão saindo da contemplação para a realidade: por conta da estiagem a nossa plantação era longe de casa, 3 quilômetros. E eu ia a pé. Eu acordava de madrugada para deixar tudo pronto e fazer comida para levar. Ficava lá o dia quase todo.
A minha filha disse: vejo a hora mãe fazer canteiro dentro de casa. Disse Dona Selma rindo. Todos os cantinhos ao redor das cisternas Dona Selma preencheu de canteiros.
A casa ficava fechada porque meu marido e meu filho saiam também para trabalhar. Nas vésperas de feiras arrancava os produtos e tinha que ficar molhando. Pra trazer pra casa meu marido trazia num carro de boi. A água era de cacimbas que a gente cavava dentro de um riacho. Eu usava um motor-bomba que tinha todo dia que ir buscar e deixar longe (no lugar aonde era guardado porque não podia deixar lá). Agora boto a panela no fogo e venho pra aqui cuidar; toda hora posso tá aqui. Num preciso me levantar de madrugada, vou cuidando da casa e dos meus canteiros; não me desgasto como antes e quando tô dentro de casa vejo o quintal da janela da sala ou da porta da cozinha. É muito bom! Os 3 quilômetros que eu andava de casa para os canteiros agora restaram em 3 passos do batente da cozinha para o quintal. Graças a Deus! Sempre plantei e em muitos outros lugares longe de casa; aqui era só quando chovia, mesmo assim faz uns três anos que não plantava aqui. Dona Selma também disse que sendo o canteiro ao redor de casa Seu Arlindo e o seu rapaz que trabalham fora, quando estão em casa podem ajudá-la nos cuidados com a produção. Aproveitando a revência de um barreiro e a água das chuvas que se junta num tanque de pedra do outro lado da pista, de outro terreno Seu Arlindo usa uma longa mangueira que, por gravidade, mantêm a cisterna cheia. É nesse sentido que Dona Selma diz que a cisterna dela é a melhor de todas: por se manter sempre cheia. E terá água por vários meses ainda. O casal produz para sua alimentação e para comercializar em feiras livres de Tavares-Paraíba na segundafeira, na quarta-feira em Tabira-Pernambuco e quando colhe mais vai aos sábados para Princesa Isabel-PB. Durante os outros dias da semana os cuidados são voltados para os canteiros: fazer canteiros, adubá-los, plantar e regar; uma luta constante para manter sempre os produtos nas feiras. Alimentação saudável, de qualidade e em quantidade suficiente – garantia de segurança alimentar. Poder decidir sobre o que comer e produzir respeitando os hábitos alimentares, eis a soberania alimentar. Soberania em vários aspectos e mais qualidade de vida para as famílias como a de Selma e Arlindo, eis a janela que se abriu no semiárido pelas implementações do P1+2.
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