Ano 8 • nº 1973 Julho/2014 Santana do Acaraú
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Mandala: prática simples que ajuda na convivência com o Semiárido
S
uzete e Jacinto Farias são bastante hospitaleiros. O casal mora no Assentamento Aroeiras, em Santana do Acaraú, distante 22 km da sede do município. A história de vida dos dois se interliga com a luta pela terra e o acesso à água no Semiárido cearense.
Jancinto e Suzete Farias
famílias, pelo qual pagam um valor anual ao Estado. Além da dificuldade de acesso à terra eles enfrentam - assim como outras famílias no Semiárido, a dificuldade de acesso à água. Mas que já tem sido amenizada pela implementação de uma cisterna de primeira água (pelo programa P1MC - Um Milhão de Cisternas) e uma barraginha. Além do mais, Seu Jacinto já está cadastrado para a implementação de uma cisterna calçadão. Independente dos desafios encontrados, a família iniciou um novo processo de produção através do sistema de mandala - uma tecnologia de canteiros circular que agregam elementos agroecológicos. Utilizam práticas alternativas de controle de pragas, com o uso de defensivos naturais como o extrato do nim; uma adubação orgânica a partir do reaproveitamento das culturas que incorpora o máximo de nutrientes ao solo, e a própria irrigação que é toda planejada para que não haja desperdício de água. O sistema de mandala também inclui uma
A conquista efetiva da terra ainda é uma peleja, pois ela pertence ao Estado. Para garantirem a posse, o casal entrou num processo de compra, juntamente com seis
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Articulação Semiárido Brasileiro – Ceará
criação de animais, geralmente peixes, galinhas ou patos que contribuem para todo sistema. Durante 16 dias, no ano de 2012, Seu Jacinto Farias participou de um curso promovido pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (EMATERCE) sobre o sistema de mandala. O curso visava a implementação de três mandalas no município de Santana do Acaraú. Foram lançados os desafios e propostas e Seu Jacinto os acatou, embora inicialmente desacreditado, pois não estava acostumado com esse novo método de produção. Anteriormente cultivava apenas feijão, milho e mandioca e estava receoso de que o cultivo variado do sistema de mandala não fosse progredir em suas terras por conta da dificuldade de acesso à água. “Eu nem sabia e nem acreditava na mandala. Tô me sentindo uma riqueza. Plantando dá, a gente colhe e vende”, disse Seu Jacinto. A mandala da família de Seu Jacinto tem seis metros de diâmetro. Em seu centro há um tanque onde cria tilápias. Em seu entorno é cultivado banana, cheiro verde, pimentão, tomate, tangerina, manga, laranja, entre outros. A mandala possui 10 círculos e a produção é principalmente para o consumo familiar, mas Seu Jacinto também comercializa as verduras na própria localidade. “A gente não tinha ganho de nada. Com a mandala me animei, criei vida de novo”. Além da produção da mandala eles têm uma pequena criação com 10 ovelhas, 2 vacas e algumas galinhas. Pretendem ampliar a criação de vacas, construir um poço amazonas um cacimbão de 5 metros de diâmetro em média, e ampliar a mandala para que a produção também seja destinada à alimentação escolar do município a partir de um convênio com a Prefeitura. E pretendem ainda, juntamente com as outras famílias da comunidade, construir uma casa de sementes. Através de práticas simples e levando em consideração o respeito ao ambiente em que está inserido, seu Jacinto vai diversificando sua produção e ampliando o conhecimento de quem visita o seu terreno.
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