Uma vivência agroecológica

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Ano 8 • nº1599 Julho/2014 América Dourada

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Uma vivência Agroecológica O agricultor Antônio José de Souza nasceu em Bonito de Santa Fé no estado da Paraíba. Ainda menino, aos 7 anos, começou a ajudar seu pai, José Pedro de Souza no trabalho da roça. E é assim que sua historia como agricultor se inicia. Nesta época, seu pai que trabalhava em roças de milho e feijão, o ensinou a plantar, cuidar da terra, respeitar a natureza e a entender os períodos da estiagem das chuvas e como passar por estes períodos. Ainda jovem, Antônio de Souza se mudou para São José do Belmonte, estado de Pernambuco, onde casou e começou sua família. Os longos tempos de estiagem nesta época, fizeram Antônio e sua família deixar a cidade pernambucana, onde pensaram em viver e criar os filhos. Com a esperança em seus corações, todos da família de Antônio vieram em cima de um “pau-de-arara” para a Bahia. Chegando ao novo destino, seu Antônio fixou moradia no povoado de Mulungu de América, no município de América Dourada, com reconhecida produção de tomate, cenoura e batata. Para garantir o sustento de sua família, ele foi trabalhar em uma dessas fazendas, mas, sempre achou errada a maneira de produção com excessivo uso de venenos e agrotóxicos. Então, Antônio deixou sua família e foi para o Ceará a convite de um amigo para tocar gado. Foi lá que ele aprendeu as cantigas de vaqueiros e aboiadores e segundo o agricultor, foi a época onde ele foi mais feliz. Mas sua estadia no Ceará não durou muito. Antônio retornou para a Bahia. A saudade de sua família era grande e ele tinha esperança de começar a plantar em sua propriedade. Foi um período difícil. O agricultor plantava milho, mamona e feijão para garantir o alimento de sua família, mas, os anos de estiagem por muitas vezes, o fizeram perder boa parte do que plantava. Nesse tempo, o bravo agricultor foi para Minas Gerais trabalhar na colheita de café para poder ganhar algum dinheiro.


Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia

O Momento da mudança... O desejo permanecia. A vontade de poder plantar e produzir em sua roça fez o agricultor retornar para a Bahia. Em sua propriedade, ele plantava nos períodos de chuva da região, milho, feijão, mamona, melancia, beterraba, além de ter a criação de porcos, ovelhas e galinhas. Mas foi a partir da conquista de uma cisterna-enxurrada, que o agricultor conseguiu realizar os sonhos de toda uma vida. Hoje aos 69 anos, Antônio de Souza é um modelo de vitalidade e força para os mais jovens de sua comunidade. Acorda cedo, com o bom-humor de sempre, está a todo o momento molhando suas hortas. “Quando não estou molhando os canteiros, fico por dentro deles caminhando e admirando a beleza que é, em pleno mês de junho, ter coisa verde na minha roça é uma satisfação grande”, afirma o agricultor. Seu Antônio mantém uma plantação de palma em sua propriedade. A experiência e a iniciativa de sempre ter a palma para garantir o alimento dos animais, ele aprendeu convivendo com outras pessoas nas viagens que fez, conhecendo outros estados e culturas. O agricultor aprendeu que o mais importante é sempre manter o equilíbrio do meio ambiente, preservando-o e não o degradando. Como ele mesmo diz, “aqui em América Dourada, muita gente ainda produz com veneno, botam mais veneno que água. Eu não, minhas hortas e minhas plantações não tem veneno nenhum, pode comer direto do canteiro, um coentro, cebolinha, alface, pimentão... o que tem aqui é tudo saudável”.

Caminhando, para construir um Sertão Agroecológico. Antônio de Souza é uma liderança local atuante. Está sempre participando das reuniões do sindicato dos agricultores de sua comunidade, chamando a juventude para participar de ações que fortaleçam a agricultura familiar na sua localidade. Recentemente, o agricultor de 69 anos, após andar muito por este sertão nordestino, foi para um evento com a vontade enorme de aprender mais sobre produção agroecológica e participar ativamente na construção de um modelo de agricultura que ele defende há décadas. “Só vou parar de lutar pelo meu sertão quando a força das pernas me faltar, mas, enquanto força e lucidez eu tiver, vou continuar enfrentando, e vou deixar meu exemplo para meus filhos e netos”.

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