Ano 8 • nº 1755 Junho/2014
Serra Dourada Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Mulheres que produzem e preservam tradições Preservação da tradição, coletividade, união e persistência são sinônimos que caracterizam os moradores da comunidade de Montes do Zezé, localizada no município de Serra Dourada no oeste da Bahia. Em meio à serras e vegetação catingueira, é fácil encontrar o verde de hortaliças cultivadas por um grupo de mulheres da comunidade. Montes do Zezé é uma comunidade que está diretamente ligada com a história de sua gente. Como contam os próprios moradores, as raízes e a tradição na produção de hortaliças vêm sendo cultivada há quase 50 anos de geração em geração. Rita de Cássia dos Santos Nascimento é uma das mulheres que realizam esse trabalho e expressa com satisfação sobre a importância dessa atividade para as famílias da comunidade: “Já tem 26 anos Grupo de mulheres e seu Jair no local de produção das hortaliças que eu planto e isso é uma ajuda muito importante para nossa família, porque ao invés de comprar na feira a gente produz aqui sabendo de onde vem esses alimentos. E a gente que mora na roça, num é todo dia que tem o dinheiro pra comprar, e tendo plantado aqui, é bem melhor.” O tanque e a propriedade que o grupo de mulheres usa para plantar as suas hortaliças, pertencem a seu Jair Lourenço de Oliveira que disponibiliza esses recursos para que as mulheres produzam organicamente. Jair relata que a terra sempre pertenceu a sua família e a tradição de plantar ao redor do tanque vem desde o tempo do seu avô, que cuidou, preservou e deixou seus ensinamentos para que a tradição não morresse com o tempo. “No início, eu comparava as sementes e dava pra elas plantarem de meia. Depois eu consegui a doação de tela e cerquei a área e deixei pra elas trabalhar e zelar pelo que fosse produzido.” As mulheres relatam que o acesso à água na comunidade sempre foi difícil. E o tanque que era do avô de Jair, foi aberto à mão e servia para as atividades mais necessárias das famílias. Para outros afazeres, as famílias utilizavam a água que minava nas serras. Gleicione dos Santos Nascimento relembra: “A gente Cleonice Maria Barbosa de Oliveira é uma das mulheres que ia com a nossa mãe e levava as roupas sujas pra lavar no gerais. produzem à beira do tanque A gente ia quando o sol saia e voltava no clarear da lua.”
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia
Avós, mães, filhas, netas, irmãs, mulheres agricultoras que aprenderam a cultivar alimentos de forma orgânica para o consumo de suas famílias. Além disso, elas têm o hábito de guardar as sementes que são plantadas em suas hortas e também distribuir para outras famílias da comunidade que produzem em seus quintais. Ao redor do tanque, elas produzem uma diversidade de alimentos como alho, cebola, coentro, beterraba, cenoura, alface, quiabo, maxixe, pepino e abóbora, que são cultivados de forma totalmente orgânica e livre de qualquer veneno. O adubo é coletado na própria comunidade e, quando é necessário, elas mesmas fazem alguns defensivos orgânicos por conta das eventuais pragas que aparecem nas Rita de Cássia regando as hortas que cultiva hortas. Além das mulheres que produzem ao redor do tanque de seu Jair, outras famílias da comunidade de Montes de Zezé também têm a prática na produção de hortaliças nos seus quintais que são regadas com a água de um poço artesiano que foi aberto pela prefeitura e funciona há mais de 20 anos. Os alimentos produzidos pelas mulheres são utilizados para o próprio consumo e garantem uma alimentação mais saudável e nutritiva para essas famílias da região semiárida. Montes do Zezé é uma comunidade com histórias e tradições muito valiosas que se fortalecem a cada dia com a organização e a coletividade de sua gente. Exemplo disso são os festejos em comemoração do Divino Espirito Santo, padroeiro da comunidade, que acontece todo ano no mês de julho há mais de 150 anos. A tradição dos festejos em honra ao padroeiro e a produção de hortas à beira do tanque são duas ações conjuntas dos moradores da comunidade. Isso porque, segundo alguns moradores, desde o tempo dos seus bisavós, todo o tempero que era usado para preparar a comida da festa do padroeiro, era doado pelas famílias que plantavam ao redor do tanque, e essa ação vem passando de geração em geração e continua sendo efetuada até os dias de hoje. Essas e tantas outras ações demonstram sempre como o semiárido é um lugar rico em diversidade, cultura e tradições, e o povo que aqui vive é cheio de criatividade, persistência, sabedoria e conhecimentos que impulsionam uma realidade cada vez mais dinâmica e cheia de vida na Espaço onde as mulheres produzem região.
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