Ano 8 • nº 1706 Julho/2014 Paquetá do Piauí
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Cultura do reisado é forte na comunidade Costaneira
Figuras do Reisado
"O objetivo da dança do reisado é conscientizar as famílias do valor da cultura e da religião passada pelos nossos antepassados. Dizem os historiadores que, quando Jesus nasceu, em volta da sua manjedoura tinham alguns animais. Esses animais também acompanham o reisado hoje, para lembrar o nascimento de Jesus. Porém, os reis magos só foram visitar o menino no dia 6 de janeiro, prestando-lhe homenagens e lhe dando presentes. Então, para nós, também fica a data do nascimento de Jesus para celebração", explica Arnaldo de Lima, conhecido por Naldim, militante da comunidade e coordenador estadual das comunidades quilombolas.
O Reisado é uma das culturas mais ricas e mais apreciadas, principalmente no Nordeste. Seu repertório faz parte das Festas Juninas e é também apresentado de 24 de dezembro a 6 de janeiro, pelo Natal, Ano Bom e Reis. No Piauí, mais especificamente na comunidade quilombola Costaneira, localizada a 9 quilômetros da cidade de Paquetá, o reisado é presença forte e viva da cultura. É uma dança alegre e festiva. Estrela Dave é um grupo de reisado composto por 12 foliões, sendo 4 caretas, 4 dançadores de figuras, 2 cantadeiras de portas e 2 arrumadeiras de figuras para apresentação. Essas pessoas visitam famílias, levando cantorias e danças.
Arnaldo Lima
Segundo Naldim, o reisado na comunidade tem mais de 150 anos. “Pela idade da nossa comunidade dá para ter ideia do tempo de existência da manifestação do reisado. Nós temos 115 anos de Festejo do Sagrado Coração de Jesus, mas o reisado já vem há muito mais tempo e tem envolvimento com a juventude, com as crianças, com adolescentes e pessoas idosas”. Esses últimos, segundo ele, mestres no ensinamento. Uma das coisas mais interessantes do reisado da comunidade Costaneira é que as crianças com idade de seis anos também dançam. Elas mesmas trabalharam toda figura dos reis do seu jeito. Fazem as caretas e fazem apresentações dentro e fora da comunidade. “Ver as crianças dançar o reisado mirim é encantador. É como uma coisa que movia dentro de mim, um sentimento muito profundo pelo valor da cultura no sangue e na vida do povo desta comunidade Costaneira”, afirma Arnaldo Lima.
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Articulação Semiárido Brasileiro – Piauí
De acordo com o coordenador, o crescimento da comunidade se deu graças à expressão cultural da comunidade. "No ano de 2002, nossa comunidade não tinha acesso a nenhuma outra localidade. Tudo era feito através da tração animal, como levar e trazer o comércio para dentro da comunidade. Não tinha nenhum benefício ou desenvolvimento social de governos estaduais, federais e municipais. Com a divulgação da festa dos reis, o povo de fora vinha assistir as apresentações aqui e só chegava a pé. Então, a gente começou a contar com o apoio de algumas pessoas que compreendiam a divulgação da expressão e diversidade cultural, do valor do reisado. Com esse apoio, fizemos um abaixo-assinado e pedimos a estrada, que chegou em 2005. Foi a cultura dos reis, da lezeira, do samba de cumbuca, do São Gonçalo, São Benedito, nossas datas comemorativas e celebrativas que ajudaram no crescimento e desenvolvimento da comunidade", explica.
O boi e os 3 caretas
Velha Carolina
"Nosso reisado é de figurino e preserva a tradição dos primeiros. Temos o boi, a burra, o jaraguá, o lobisomem e a velha Carolina, que representa a mãe cheia de vida que expressa seu sentimento sem ter nenhum receio e faz o povo sorrir. Sentimento de tristeza ou de mágoa impede de viver bem. Essa alegria é cantada no reisado. Falar de cultura é falar da vida, por isso tenho entusiasmo. Me sinto uma pessoa realizada e digo para meus 3 filhos que deem continuidade a toda essa nossa história, porque se ela tem 150 anos, acredito que pode chegar aos 500, 1000 anos. Depende dos continuadores da história, que são as crianças, os jovens e todo o povo que reside aqui", conta ainda Naldim. Além da cultura, o povo tem o reisado como uma devoção, uma expressão de fé, devido à promessa de muitas pessoas que "colocam um reis", como dizem, na sua casa. Caso a pessoa esteja doente, depressiva, recorre aos Divinos Reis, que foram visitar Jesus e tiveram o privilégio de ser guiados por uma estrela que iluminava seu caminho. Essas pessoas pedem para que a mesma estrela resolva seus problemas. Além de apresentar os reis como cultura, essas pessoas dançam em agradecimento pelas graças alcançadas. Para Arnaldo Lima, a Costaneira deveria ter uma placa com o título "Comunidade da liberdade", por causa da vivência da união. "Aqui, as famílias vivem em comunidade, da agricultura familiar, trabalham em mutirão, estão juntas em todos os momentos e valorizam o seu crescimento. Foi este valor que trouxe energia, estrada e desenvolvimento". Ainda sobre a união das 16 famílias que vivem ali, o coordenador conta que as pessoas nunca perderam o hábito de reunir- se todas as noites para conversar.
Realização
CÁRITAS
BRASILEIRA Regional do Piauí