Ano 8 • nº2029 Junho 2014
Várzea do Poço Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
“Reflorestar é ajudar a Natureza e melhorar a nossa Vida” Na comunidade Laginha, município de Várzea do Poço, região Centro-Norte da Bahia, o Sr. Nivaldo dos Santos Reis e sua família realizam uma experiência inovadora na região. Com o objetivo de melhorar a qualidade de vida e o ambiente em que vivem, estão reflorestando a propriedade de 5 hectares com mais de 20 variedades de árvores, entre elas a copaíba, jacarandá, cibpiruna, ypê branco, ypê rosa e guabiroba que estão em processo de extinção na região. Seus pais, João de Souza dos Reis e Maria Augusta dos Santos Reis compraram a propriedade em 1970. Nesse período, tinham 10 filhos, entre eles Nivaldo que já tinha 16 anos. Depois nasceram mais 2. E como é o costume do lugar, os filhos mais velhos ajudavam a cuidar dos mais novos. O pai trabalhava na lavoura e como carpinteiro e a mãe se responsabilizava pelas atividades domésticas e pela produção de hortaliças.Os filhos se encarregavam de cuidar da criação e buscar água para o consumo da família e dos animais em uma aguada que fica a 3 km de distância. “A gente trazia água nos carotes (recipiente de madeira utilizado para carregar água) de 50 litros; imagine aí quantas viagens a gente dava para abastecer a casa... Gastava de manhã até meio dia só carregando água”, relata seu Nivaldo. Seu pai, inconformado com o sofrimento e o cansaço dos filhos, em 1985, decidiu fazer um tanque quadrado e bem fundo, colocou uma bica no telhado e começou a armazenar água da chuva para o consumo da família. Mas como o sofrimento continuava, pois esta água não era suficiente para o consumo dos animais e a produção, decidiu fazer outro tanque bem fundo e cimentado, cuja borda fica no nível do chão a fim de captar água da enxurrada. Convocou os vizinhos e fizeram um mutirão para fazer a escavação. Um dos vizinhos comentou: “Seu João, isso não vai dar certo; o senhor não está vendo que vai encher de terra quando chover? E ele respondeu: “Então a gente faz um buraco antes que é pra terra cair dentro” – e assim, em 1989, a família construiu um tanque de chão com decantador e capacidade de armazenar 36.000 litros de água. Nivaldo decidiu ir para cidade grande, pois os irmãos já estavam crescidos e poderiam ajudar o pai nas tarefas agrícolas. Em São Paulo, trabalhou um tempo na indústria e depois numa empresa de jardinagem, casou-se com uma descendente de japonês, tiveram 2 filhos e viveram lá por 26 anos. A convite da família, sua esposa decidiu se mudar para o Japão, mas Nivaldo não se adaptou e depois de 2 anos e meio decidiu voltar ao Brasil deixando lá a mulher e os filhos.
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia
De volta a São Paulo, sentindo-se sozinho e com dificuldade para recomeçar a vida, os irmãos o convenceram a voltar para o interior da Bahia e cuidar da propriedade da família, que já tinha uma cisterna de consumo humano feita com recursos do fundo solidário da Cáritas Diocesana de Ruy Barbosa em 1995. “Voltei bem no período da seca, não tinha como fazer nada, queria trabalhar mas não conseguia; quando choveu comecei a plantar e multiplicar mudas, minha idéia é ver isso aqui tudo cheio de árvores”. No final de 2013, numa capacitação de pedreiros do P1+2, foi construída uma cisterna-calçadão de 52.000 litros. Com isso ele pode construir um viveiro de mudas coberto com tela sombrite medindo 100 metros quadrados próximo da cisterna. Nele são reproduzidas, organizadas e armazenadas mais de 3.000 mudas que estão sendo plantadas na propriedade. As excedentes serão distribuídas para entidades e pessoas que têm interesse em plantar e cultivar árvores. Seu Nivaldo conta com a contribuição dos 4 irmãos que moram próximo e normalmente se juntam nos finais de semana, trabalham, se divertem, colhem frutas frescas diretamente do pé, admiram os pássaros que agora habitam o ambiente e contam com as sombras das árvores. A família se alegra com as mudanças: “Meu sobrinho construiu uma casa na árvore e quando vem pra cá, passa a maior parte do tempo lá em cima. Outro dia fui cortar um tronco seco de árvore para plantar outra no lugar e escutei um barulho; quando olhei dentro do oco do tronco vi um pica-pau amarelo que ali morava – desisti de cortar e deixei a casinha dele lá” conta Nivaldo.
Sabendo da existência do PRONAF Floresta, uma linha de crédito para reflorestamento, seu Nivaldo tentou acessar, porém encontrou várias dificuldades. Segundo ele, mesmo apresentando a experiência que já está sendo desenvolvida na propriedade, seria necessário um estudo de viabilidade, que foi agendado várias vezes porém até hoje não aconteceu. “Parece que esse tipo de iniciativa não é prioridade, preferem financiar projetos que ajudam a destruir ao invés de recuperar”, relata Seu Nivaldo meio desapontado. Mesmo com essas dificuldades, a família segue no seu propósito de tornar sua propriedade um modelo que atraia as pessoas e que elas multipliquem a experiência a fim de modificar a paisagem do sertão e melhorar a qualidade de vida das pessoas que nele vivem.
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