Ano 8 • nº1804 Maio/2014 Guanambi / BA
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Cuidar da terra é cuidar da gente: a experiência do casal que com sabedoria e humildade renovam as esperanças no sertão. O conhecimento baseado nas experiências diárias, daquilo que aprendemos juntando os nossos conhecimentos e observando o ambiente que nos cerca, é exatamente o que podemos encontrar na casa de seu Geraldo e dona Isabel. À primeira vista o casal de agricultores ganha a todos com sua simpatia, e logo em seguida, nos encanta ao apresentar seu quintal produtivo e todas as experiências de convivência com o Semiárido encontradas por lá. A comunidade de Chafariz, município de Guanambi, na Bahia, onde o casal vive, recebeu um poço artesiano onde as famílias encontram água suficiente para as necessidades da casa e da lavoura. E é aproveitando essa oportunidade que Geraldo e Isabel cultivam hortaliças e criam animais. Brincalhão, seu Geraldo afirma que: “Aqui eu crio de tudo, crio planta, crio vaca, porco, galinha, cachorro e gato.”Algumas vacas para garantir o leite, o burrinho para ajudar na lida da roça, os porcos para a engorda e as galinhas, em maior quantidade, que precisam de pouca água e são mais fáceis de criar. “Semana passada eu vendi umas galinhas na feira. Foi bom porque serviu para inteirar o dinheiro e eu comprei um porquinho”, comenta seu Geraldo ao falar dos animais, sem se esquecer do carinho com os cachorros e gatos, que dão alegria e fazem companhia para o casal, filhos e netos. Segundo ele, é importante cuidar dos bichos e da plantação, não apenas para se alimentar ou vender a produção, mas para viver bem, para ter mais harmonia. Isso pode ser notado ao conhecermos o quintal da família, que apre-
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Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia
senta diversas qualidades de frutas e verduras, desde o capim para os animais até o alimento orgânico que vai para a mesa de casa. O quintal produtivo serve para as necessidades da família, a maior parte do que é plantado vai para a alimentação da casa, mas quando alguma hortaliça ou fruta produzem muito são vendidas na feira da cidade ou vão para os vizinhos e amigos que aproveitam os sabores de fruta e hortaliças como banana, goiaba, manga, caju, mamão, alface, cabacinha, cenoura, batata, quiabo, abóbora e muito mais. A experiência de vida e a observação do meio ambiente faz com que seu Geraldo compare o modo de plantar com as situações do nosso dia a dia. “Se você põe semente demais, não pode, esquenta. É igual nós, se põe 5, 6 numa cama de casal, não corre ar, ninguém dorme. Do mesmo jeito é a planta, se planta demais ela esquenta.” Dona Isabel afirma que desde moça sempre gostou de lidar com a terra, e que nunca usaram agrotóxicos nas hortas. “Nem tomate eu compro mais por causa de veneno. Ano passado plantei uns carreiros de tomate aqui, cada tomatão! E sem jogar veneno.” O cuidado e o zelo pela terra e pela saúde é percebida não só pelo pomar e hortaliças que cercam a casa, mas por atitudes como a busca de alternativas como o aproveitamento de sementes da própria horta, como as sementes de melancia e melão, que ficam guardadas em garrafas de plástico e estão sempre disponíveis para cada período de plantação ou as sementes das hortaliças cultivadas no terreno, que servem para renovar a horta, fazendo com que não tenham necessidade de comprar mudas ou sementes em outro lugar, preservando e mantendo uma reserva sempre que precisarem. Desse modo conseguem poupar as sementes naturais, que não recebem agrotóxicos e que já estão adaptadas ao clima da região, criando assim uma reserva de sementes crioulas dentro de casa, revivendo o antigo costume da agricultura familiar, que era armazenar feijão, milho e outras leguminosas para plantar durante o período das chuvas. Através de humildade e sabedoria a família prova que as possibilidades encontradas no Semiárido existem e são muitas. Observando outras pessoas e seguindo a própria intuição, podendo manter uma vida saudável, aproveitando cada pedacinho da terra, e como afirmou o próprio senhor Geraldo: “Cuidar da terra é cuidar da gente. Pra mim não tem nada ruim, ruim é você ter a vontade e não plantar”.
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