Ano 8 • nº 1568 Abril /2014 Itaberaba
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
A história de superação de Dona Rosimari
“Nasci e me criei na comunidade de Gerais”. Assim começa dona Rosimari Fonseca contando sua história. Ela diz que nasceu em uma família de 07 irmãos, sendo 03 homens e 04 mulheres. A família sempre trabalhou na roça e desenvolvia trabalhos na igreja. Seu pai era animador e ministro da igreja e sua mãe era uma religiosa que sempre participativa dos eventos da comunidade. Casou-se cedo, aos 27 anos, mas após 5 meses seu esposo sofreu um acidente de cavalo e faleceu. Ela conta que foi muito difícil, pois estava grávida de 02 meses. Logo depois de ter a criança, saiu da comunidade para trabalhar, porém, teve que retornar para cuidar dos seus pais que estavam doentes. Depois da morte de seus pais, ela ficou muito abalada e foi orientada pelos médicos que se recuperasse primeiro para depois voltar a trabalhar. O tempo foi passando e Rosimari voltou a realizar os trabalhos da igreja que tanto gostava com os grupos de estudo bíblicos e formação de leigos. A comunidade de Gerais fica no município de Itaberaba e possui aproximadamente 10 famílias que não têm água encanada nem energia elétrica. O acesso à cidade é muito difícil por se tratar de um local distante e com certa declividade. As famílias vivem basicamente da agricultura e da criação de pequenos animais. Por volta de 2001, a família de Rosimari recebeu uma cisterna de consumo através do Olho Vivo – grupo que luta pelo acesso à cidadania e busca recursos para melhorar as condições das comunidades. Foi esse grupo que percebendo que as famílias necessitavam de um reservatório de água começou a construir as primeiras cisternas na comunidade. “Graças a Deus temos água de boa qualidade pertinho de casa o ano todo – tanto para beber como para as outras necessidades básicas”, diz dona Rosimari.
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia
Em 2010, com a chegada da cisterna de produção, através do Programa Cisternas – uma parceria entre a Cáritas Diocesana de Ruy Barbosa e o Estado da Bahia por meio do Ministério Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) – as coisas melhoraram muito, mas dona Rosimari relembra que no início pensou em desistir por não ter ninguém que pudesse ajudar na construção. Porém, um animador do projeto falou da importância que seria a cisterna de produção para sua família e o quanto ela ajudaria nos plantios e os animais, então, ela percebeu que seria bom ter a tecnologia em sua propriedade. Ela relata que está muito feliz, pois possui uma diversidade de culturas em sua horta como cebola de cabeça, cebolinha verde, alface, beterraba, pimenta, chuchu, quiabo de metro, maracujá, pimenta de onça, repolho, feijão guandu, berinjela e outros. Também possui uma área de plantas medicinais como boldo, água de melissa, erva cidreira, arruda e outras que utiliza para fazer remédios caseiros.Dona Rosimari possui uma pequena criação de galinha caipira que possibilita à sua família o consumo dos ovos e da carne. As galinhas são alimentadas com restos de culturas da horta e milho produzido no quintal e a água da cisterna é utilizada para o consumo dos animais. Na horta ela realiza atividades com plantio de novas mudas, irrigação, adubação, capinas e outras. Com a cisterna de produção, a família recebeu 04 canteiros econômicos para produzir hortaliças. Esses canteiros, feitos com paredes de tijolos, revestidos por dentro com uma lona plástica e um cano de PVC com furos, é responsável pela distribuição da água na terra já preparada com adubo. Dona Rosimari fala que os canteiros feitos dessa forma economizam bastante água, então, resolveu improvisar: para aumentar o número de canteiros a baixo custo ela pega os sacos vazios de ração para cachorro e reveste os canteiros; as bordas são feitas com garrafa pet ou adobo evitando assim o desmoronamento das bordas. Quando a terra dos canteiros está rachando é sinal que precisa colocar novo adubo. Também realiza uma cobertura suspensa feita com palha de ouricuri para proteger as plantas da ação do sol; é necessário trocar todo ano essa cobertura. Dona Rosimari deixa algumas plantas para a retirada das sementes e dessa forma não há necessidade de comprar. Ela conta que possui guardadas sementes de quase todas as plantas da horta. Quando aparece alguma praga, dona Rosimari utiliza defensivos naturais à base de cebola e fumo que aprendeu nas capacitações do projeto. Ela relata com um sorriso: “Nesse intervalo de tempo de aproximadamente 03 anos, a cisterna nunca secou. Sempre teve água e agora em 2014 já está cheia”. Pra completar ela fala: “Esse projeto é muito importante, pois ajuda a desenvolver a vida das famílias. A pessoa viver no Semiárido sem a cisterna é difícil. Se todas as famílias daqui tivessem a cisterna de produção com certeza a situação seria melhor”.
Realização
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