A família de João e Edi envolvida na construção de um novo Semiárido

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Ano 7 • nº1105 Dezembro/2013 Anagé

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

A família de João e Edi envolvida na construção de um novo Semiárido A família de João Silva Soares e Edi Lima Soares está envolvida com o trabalho da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), desde o início, em 1999. Vivendo na comunidade Bom Sucesso, no município de Anagé, eles conhecem bem a trajetória do trabalho de convivência com o Semiárido na região. Seu João é pedreiro. Antes de construir cisternas, ele conheceu a realidade de trabalhar em São Paulo, longe da esposa, e dos filhos pequenos. Graças ao Padre Gérson, que trabalhava na ASA recém-fundada, foi convidado para uma capacitação de pedreiros. Seu João lembra: “Os primeiros pedreiros na região foram eu e o Zé Amaral. Lembro que da primeira vez, só veio 15 cisternas pro município todo, e aí as pessoas muito necessitadas mesmo que receberam. Com o tempo veio mais curso (de pedreiros), e mais cisternas pra fazer”. Enquanto João construía meios de colher e guardar a água da chuva pelos municípios da região, dona Edi cuidava dos filhos e da saúde do pessoal da comunidade. “Eu trabalho como agente comunitária de saúde há 13 anos, comecei acompanhando 51 famílias e hoje são 80. 271 pessoas pra cuidar, é uma responsabilidade muito grande”, conta Edi. O trabalho com as cisternas de João, e as obrigações de Edi como agente de saúde, aliadas com a pouca oferta de água, fizeram com que a família passasse alguns anos sem cultivar de forma constante a terra. De vez em quando, ainda se encontrava um pouco de feijão, milho, mamona, e melancia, que nunca faltou. Mas o quadro se transformou quando a cisterna-calçadão, do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), chegou à propriedade. As crianças também possuem seu canteirinho


Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia

Ao longo de 2013, Edi e suas vizinhas Silvana e Cremilda puderam montar e manter canteiros com hortaliças e verduras, o que era muito difícil antes de ter a cisterna. Depois de construída, Seu João puxou água de um tanque próximo para enchê-la, para possibilitar o trabalho nas hortas enquanto a chuva não vinha. E assim elas vão cultivando em consórcio alface, cenoura, beterraba, coentro e cebolinha, esperando as chuvas renovarem a reserva de água para o ano que vem. “Eu sempre tive meus pezinhos de cebola e coentro plantados num carrinho de mão. Era o sonho da gente ter uma horta, uma cisterna de produção pra gente poder plantar”, resume dona Edi que, apesar do trabalho como agente comunitária, se organiza para dedicar um tempo diário aos seus canteiros. “Não sobra muito tempo, então eu chego à tarde do trabalho, mal tomo um banho e já corro pra cuidar das minhas hortas!” Graças ao mutirão de Edi e suas companheiras Cremilda e Silvana, várias famílias da localidade consomem hoje verduras e hortaliças frescas. Ir para outros lugares comprar na feira é coisa do passado. “Antes a gente tinha que ir a Anagé (40 km de distância), pra trazer alguma coisa fresca da feira, debaixo de sol quente. Hoje não, a gente pega a nossa verdura limpa, da hora, verdinha, sem produto químico nenhum”. Elas não vendem, preferem sempre dar um pouco para as famílias que ainda não possuem meios de manter suas próprias hortas. Seu João continua construindo as tecnologias sociais da ASA, e nos últimos anos ganhou a companhia de seus filhos Edilson, Rafael e Edmilson. Rafael foi além, e passou a trabalhar como animador social no Centro de Convivência e Desenvolvimento Agroecológico do Sudoeste da Bahia (Cedasb). Para ele, ajudar a transformar realidades no Semiárido é motivo de orgulho: “A questão da formação é muito importante no trabalho, além da parte material, das cisternas. É gratificante ser acolhido nas comunidades, se sentir parte da família deles, sentir que a gente faz diferença” A família de dona Edi e seu João, assim como milhares de outras famílias, contribuem significativamente na trajetória de transformação social que o Semiárido brasileiro passa. Uma história de protagonismo, luta, organização comunitária e fortalecimento do saber popular. Seu João resume: “Muito do que temos veio através desse trabalho. Agradeço primeiramente a Deus, e depois a ASA”.

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