Ano 7 • nº 1438 Setembro/2013 Pedra Lavrada - PB
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Determinação e trabalho garantem acesso a terra e bem estar familiar Dalvanice Oliveira dos Santos, conhecida por Nena e Aldo José dos Santos, casados há 29 anos, têm uma bonita e curiosa história de relação com a terra e o bem estar da família. O casal de agricultores mora na Comunidade Flechas, em Pedra Lavrada, no Seridó paraibano e tem dois filhos: Lílian Cristiane e Hugo Farias, que já são casados Durante 25 anos, o casal morou na cidade e precisava trabalhar como diarista ou arrendar terras para fazer suas plantações. “A gente arrendava terra um tempo aqui, outro ali. E pagava 10 por cento da produção ao proprietário. Às Aldo e Dona Nena com semente de coentro na horta vezes, as despesas eram maiores que o lucro.” Diz Nena . Aldo conta que arrendavam as terras que tinham água para fazer plantações de tomate, e toda família passava a morar nas áreas arrendadas, onde tinham que usar fertilizantes e muitos venenos para combater pragas. Ele conta também que essa prática já era feitas por seu pai que teve sérios problemas de saúde por manter contato constante com venenos. O casal sempre quis ter sua própria terra e queria deixar de usar veneno. A oportunidade de conquistar a terra veio em 2008, quando o casal, com os dois filhos, acessou o Crédito Fundiário e adquiriu uma propriedade de 135 hectares. A área já tinha um poço artesiano e com recursos do Pronaf compraram 15 vacas e 3 bois. Ao chegar em sua propriedade, a primeira iniciativa da família, segundo Nena, foi fazer hortas. “Chegamos aqui num dia, no outro já fizemos uma horta, pegamos sementes de coentro e jerimum com minha irmã.” Nestes cinco anos que a família está na terra chegou a criar umas oitenta galinhas e 48 bovinos e plantou muitas fruteiras e hortaliças. Além de produzir alimentos para seu consumo, chegou a vender leite, queijos e ovos, gerando uma renda de cerca de R$ 700,00 por mês. Tudo pra família, na nova terra, foi muito diferente do que já Nena e Aldo na horta fazia antes. A experiência com a criação de animais era pouca e as hortas e fruteiras passaram a ser produzidas sem nenhum tipo de agrotóxico. Em 2012, com a seca prolongada, a família começou a vender os animais, pois, precisavam comprar milho e farelos por não ter a prática de produzir nem armazenar forragem. Só ficou na terra uma vaca e umas 20 galinhas. A plantação prevaleceu neste momento, compraram uma bomba elétrica e colocaram no poço para irrigar a horta. Já chegaram a produzir até 1000 molhos de coentro e 500 pés de alface por semana, além de muitos outros produtos.
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Articulação Semiárido Brasileiro – Paraíba
Nena e Aldo aprenderam a plantar desde crianças com seus pais. Na horta deles hoje, ao redor de casa, tem coentro, alface, cebolinha, couve, maxixe, tomate, batata doce e jerimum. Também tem plantas medicinais, como hortelã e erva cidreira, além de pés de mamão, laranja, banana, graviola, pinha, acerola, goiaba, ciriguela e jaca. Nas plantações da família a prática de usar venenos é totalmente rejeitada: “Antes as crianças iam para o campo e a gente precisava lavar várias vezes a tomate para comerem sabendo que não era saudável. Hoje, Sementes guardadas pela família qualquer pessoa pode comer nossos tomates tirando do pé que não tem problema nenhum” diz Nena, bem orgulhosa de suas experiências. Em 2013, mesmo sendo um ano seco, a maioria dos alimentos da família é tirado da própria terra e ainda vendem boa parte da produção nas feiras dos municípios de Pedra Lavrada, Nova Palmeira e Picuí. Em média, por semana, são vendidos 150 molhos de coentro, 120 pés de alface, 30 quilos de tomate e 50 de maxixe. A produção de alimentos para o consumo e a comercialização só tem sido possível graças à prática constante de adaptação do trabalho aos períodos de seca e chuva e a preocupação com a sustentabilidade da experiência. É costume da família produzir e guardar as próprias sementes, como alface, coentro, tomate e jerimum, preservando a cultura do plantio em consorcio e diversificado. Outro exemplo é o combate a insetos no período chuvoso, que pra Aldo é tarefa simples. Ele ensina colocar lâmpadas nos canteiros a cada 6 metros e uma vasilha com água e óleo queimado abaixo de cada lâmpada. A noite as luzes acessas atraem os insetos e, encandeados, eles caiem nas vasilhas e morrem. Nena diz que também é bom esperar o período de chuvas acabar para plantar tomates, assim, adotam a estratégia de fugir da infestação de insetos, que diminuem no período de estiagem. Produção de tomates prontos para comercialização
Dessa forma, a família agricultora quer aumentar a produção de alimentos, sobretudo de frutas e planeja vender a casa da cidade para permanecer no Sítio. Assim, com esperança e crença, realizando experiências para dias melhores, crescem a força e a sabedoria da família de Nena e Aldo, com seus filhos, nora, genro e netos, agricultores que persistem no campo, e dizem que nada paga a tranquilidade de ter e morar na própria terra. Pra Nena: “a alegria começa nas madrugadas, quando a gente ouve o galo cantar no terreiro. Saber que estamos nos alimentando do que é saudável nada paga”. Ao falar das mudanças em suas vidas e da venda dos animais, Aldo ensina que “o covarde não é o que perde a batalha e sim o que desiste. Então, nós nunca devemos desistir”.
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