Quem trabalha constrói sua história

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº1058 Agosto/2013

De início começou a vender o coentro. Mas não ficou só na produção desta verdura. Planta também alface, pimentão, couve, repolho, cebolinha e quiabo. Ainda tem as fruteiras como maracujá, mamão, goiaba e pinha. Além dessas, com o caráter produtivo da cisterna-calçadão, virão romã, manga e acerola. Para aguar os canteiros, enquanto não tem a água da cisterna, ele usa uma barragem, que fica no terreno de um de seus irmãos. Pega a água com o carro de boi de dois em dois dias, há quase 1 quilômetro de sua casa. Para ajudar na produção, usa um biofertilizante que conseguiu em um intercâmbio e o esterco de seu próprio gado. E assim ele vem melhorando cada dia mais a vida de sua família. Colhendo os frutos do seu trabalho, não pensa mais em deixar sua casa. Continua cuidando do gado, entregando o leite, mas não pensa em continuar por muito tempo. Diz que, com a cisterna, vai aumentar a produção. Vai ocupar as duas tarefas de terra que tem com o plantio das fruteiras e das hortaliças. Quer viver somente disto. “Com o gado é muito difícil, diz ele, tem que investir muito e o retorno é pouco”. Mas para ele, uma coisa é certa, nunca mais pretende deixar sua terra. E está encontrando sua maneira de não ter que fazer isso. Seu trabalho é sua autonomia. Sua produção é sua segurança. O bem- estar da família é o seu incentivo.

Realização

Apoio

Belo Monte

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Quem trabalha constrói sua história Cada família que resolveu conviver com o Semiárido, que decidiu viver no sertão onde nasceu e cresceu, acha um jeito de construir uma vida boa por aqui. Algumas percebem que precisa ter vários tipos de produção. Outras entendem que têm que aproveitar da melhor forma os recursos que a região oferece. Outras ainda aprendem a beneficiar o que produzem, a vender sua própria produção. Muitos são os jeitos, muitas são as alternativas. Muitas também são as tecnologias e inovações que os próprios agricultores e agricultoras têm construído. Mas, independente do jeito que essas famílias decidam viver e se relacionar com sua região, todas têm uma força em comum, todas têm um modo de ver que torna isso possível. Elas acreditam e têm a vontade de trabalhar. Enxergam no trabalho seu instrumento de libertação. Valdiram Sarafim da Silva, Maria Erivânia da Silva, José Tauan da Silva. Essa família nasceu no ano de 2006. Assim como muitas e muitas outras famílias, o jovem casal precisou ir para conhecer o caminho de volta e o desejo de voltar. Quando eles foram para a cidade de Santos, ainda eram somente Erivânia e Valdiram. Por lá, ficaram 4 anos e seis meses. Ele trabalhando em um lava-jato, ela em serviços domésticos.


Articulação Semiárido Brasileiro – Alagoas

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“Nunca investimos em nada por lá”, afirma o casal. “O que a gente ganhava lá, mandava para cá, para comprar a criação”, conta Valdiram sobre como conseguiu investir no que viria a ser, por muito tempo, a principal fonte de renda da família. A criação de que Valdiram fala, são as 8 cabeças de gado que conseguiu comprar na esperança de poder ter como voltar para o seu verdadeiro lar. Com o trabalho do casal, durante esse tempo, também foi possível terminar sua casa, que tinham deixado ainda em construção. Dedicando-se ao trabalho, tinham como único objetivo construir melhores condições para quando pudessem voltar. Nem mesmo pensavam em aumentar a família enquanto estivessem por lá. Quando voltaram, terminaram, ao mesmo tempo, a casa e a cisterna de placa, a primeira conquista do casal, após fazer o caminho de volta. Depois veio o pequeno José Tauan completando a família, que mais uma vez precisa demonstrar sua força no trabalho. Dessa vez a seca veio, mas a família não teve que partir. Foi muito trabalho conta Valdiram. “Tudo o que a gente conseguia, mal dava para alimentar o gado. Até pensei em vender, mas nem achava quem quisesse comprar. Graças a Deus não chegamos a perder nenhuma cabeça do gado, mas ficamos muito tempo no sufoco, pois só alimentava e não tinha retorno, sem se quer tirar um litro de leite.”

A comunidade onde moram, o sítio Boa Vista, tem pouco mais de 40 famílias e mantém a cultura leiteira da região. Valdiram faz parte de uma associação que comercializa o leite. Foi preciso muito trabalho e vontade para superar o período de estiagem que se estendeu por quase três anos. Ma se há uma coisa que esta família possui é a força e a vontade para o trabalho. Essa vontade foi fortalecida por mais uma conquista. Desta vez, eles conquistaram uma cisterna-calçadão. Uma oportunidade, que ajudou Valdiram a realizar mais um sonho. “Sempre pensei em trabalhar com plantação de verduras”, conta Valdiram.

Antes mesmo da cisterna-calçadão ser construída já trouxe muitos resultados para a vida dessa família. Durante o curso de Sistemas de Irrigação Simplificada e Manejo de Água para produção alimentos, o SISMA, foram construídos 2 canteiros na pequena propriedade de Valdiram. Um canteiro feito de tijolos e com a lona no fundo, o chamado canteiro econômico e o outro aproveitando garrafas plásticas. Valdiram ficou tão animado ao ver brotar os resultados daquele curso que nem esperou a construção da cisternacalçadão. Foi construindo mais um e mais um canteiro, até chegar aos 11 que já mantém. Depois de 2 meses da capacitação, ele já entrega sua produção em toda sua comunidade e nas comunidades vizinhas.


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