UM BATE PAPO COM CLAUDIA MOTA, PRIMEIRA BAILARINA DO THEATRO MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO
A bailarina Claudia Mota
Claudia Mota é a primeira bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, iniciou seus estudos com Valéria Moreyra. É formada pela Escola Estadual de Danças Maria Olenewa, tendo como professores: Amélia Moreira, Regina Bertelli, Jacy Jambay e Pedro Kraszczuk. Frequentou aulas no Le Jeune Ballet de France, Ópera e Zurique, Bèjart Ballet Lausanne, San Francisco Ballet e merican Ballet Theatre. Trabalhou com Fernando Alonso, no Ballet de amagüey, Cuba. Aperfeiçoouse no Ballet Dalal Achcar com Miriam Guimarães, Maria Luíza Noronha e Sergio Lobato. No Ballet do Theatro Municipal trabalhou com nomes importantes, como: JeanYves Lormeau, Elizabeth Platel, Gustavo Mollajoli, Boris Storojkov, Slawa Muchamedov, Dennis Gray, Richard Cragun, Tatjana Thierback, Eugenia Feodorova, Tatiana Leskova, Márcia Haydée, J. Slavick, Dalal Achcar, Vladimir Vassiliev e Nathalia Makarova, entre os mais importantes. Confira o bate papo! Quando você começou a dançar e como você entrou para o mundo do ballet? R: Comecei a dançar aos 4 anos por influência das minhas amiguinhas do Jardim de Infância. Pedi pra minha mãe me colocar na mesma academia e foi aonde tudo começou, na Academia Valéria Moreyra, em Olaria. Qual a sensação de ser a primeira bailarina do TMRJ?
R: A primeira sensação que tive foi a de responsabilidade. Um pouco de "medo", porque sabia da cobrança e do que se esperava de uma bailarina com esse cargo, mas tudo fluiu naturalmente. O frio na barriga existe sempre, mas a maturidade e experiência fizeram eu saber controlar a ansiedade e a adrenalina que antecedem um espetáculo. Qual a bailarina que te inspira? R: Não posso ser injusta. São muitas. Mas sempre me pego vendo as russas... a dança, a magia, tudo... não sei explicar em palavras o que vejo e sinto. É mágico! Arte pura! Como foi trabalhar com um ballet de origem cubana? A técnica, o estilo, é tudo muito diferente? R: Foi uma das maiores experiências da minha vida, sem dúvida! O maestro Fernando Alonso, a quem tive a honra de conviver e trabalhar, era de uma generosidade sem tamanho! Um gênio no mundo da dança! A técnica cubana, conhecida como uma das mais fortes, tem seu tempero e sua arte... os cubanos são maravilhosos, um povo encantador! E os bailarinos fazem por amor a dança... vemos isso no dia a dia. Trabalham muito duro. Foi incrível! Nessa volta ao Brasil, o que ocorreu? Como você voltou aos palcos? R: Fui a Cuba logo depois que me formei na Escola Estadual de Danças Maria Olenewa. Antes já havia feito um intercâmbio pela Europa, aos 16 anos. Passei um tempo na Escola de Dança Alice Arja e também no Ballet Dalal Achcar, onde me preparei para a audição do Theatro Municipal. Fui a primeira colocada na prova para o corpo de baile, na direção artística de Jean Yves Lormeau. Com um ano de cia, já protagonizava algumas obras e logo fui nomeada Solista. Em 2007, recebi o Título de Primeira Bailarina, na gestão de Marcelo Misailidis.
Trabalhar com coreógrafos estrangeiros é algo muito importante. Como ficou o seu ego? R: Rsrs... meu ego? Não sei... sinceramente nunca me preocupei com isso. Claro que não tem como a gente não ficar feliz e lisonjeada de trabalhar com grandes nomes, não só estrangeiros. Acredito que isso faz parte de uma carreira profissional de bailarina. É um grande aprendizado. É uma carreira na qual aprendemos todos os dias. Quanto tempo de carreira você tem? R: Como profissional quase 20 anos... E desde que reabriu o TMRJ, quais montagens você já participou? R: Participei de todas as grandes montagens da Cia. Devido a compromissos internacionais, tive que abrir mão de algumas temporadas, mas sempre consigo remanejar as datas p que isso não aconteça. Mas sempre tive a sorte de não me arrepender. Na vida de um bailarino, quando se abrem as portas, temos que fazer algumas escolhas... e isso em algum momento passa a ser inevitável, mas o Theatro sempre foi e sempre será, a minha prioridade. E além do ballet clássico, o que você já dançou? R: Já trabalhei com grandes nomes da dança contemporânea, o que aprimorou mais ainda meu lado artístico. É muito importante que um bailarino seja versátil, que não se rotule em apenas uma ou duas modalidades... isso engrandece e amadurece. Como é a rotina aqui no TMRJ? R: Começamos a aula as 10:00. Depois de uma hora e meia temos uma pausa de meia hora e retomamos os ensaios até as 16:00.
Quando estamos em temporada esse horário passa de 17:00 até 23:00, depende do ballet... Você é garotapropaganda da Ballare. Como isso aconteceu? R: Em 2003, fui convidada pelo Festival de Dança de Joinville a assistir. Passeando pela Feira da Sapatilha me encantei com o stand da Ballare, na época em seu primeiro ano. Os produtos são de alta qualidade e isso me chamou atenção. Voltei todos os dias no stand e sempre saía com uma sacola... num desses dias fui tomar um café com a Vivi ( Viviane Feltrin, dona da marca) e foi quando surgiu o convite de fazer umas fotos para o catálogo. Lá se vão 12 anos... Quais as dicas você dá para as pessoas que estão querendo seguir carreira? R: Primeiro, ter a consciência que nada será fácil... por isso a entrega e o amor tem que ser totais! A disciplina é o "carro chefe" pra se chegar ao objetivo, com muito trabalho e perseverança. Tudo isso lá na frente, vai valer muito a pena. Como vocês não dançam? Há sempre espetáculos de vocês no TMRJ. R: Em relação às outras cias no mundo, o nosso número de espetáculo é muito reduzido. Temos somente quatro temporadas anuais com 10 espetáculos mais ou menos em cada uma... é muito pouco. Mas a atual direção do Theatro está empenhada a aumentar esse número e fazer voltar os domingos a R$ 1,00, com projetos futuros de viagens. Estamos confiantes! Como foi para você ser coreógrafa da Comissão de Frente da Estácio de Sá? E o que você sentiu ao saber do retorno da escola de samba ao Grupo Especial? R: Nossa!!! Foi incrível!!! Não tive férias, porque emendei com uma turnê internacional. Fui convidada em outubro pelo Julio Bocca para dançar La Bayadere, de Natalia Makarova, com o Ballet Nacional Sodre, em dezembro. Foi uma honra pra mim e
jamais poderia negar esse convite tão inesperado. Foi incrível e uma loucura ao mesmo tempo, porque me ausentei por um mês e trabalhava com a comissão via internet. Os ensaios de uma comissão começam 3, 4 meses antes do desfile. Isso porque eu voltaria e ainda dançaria os três últimos dias do Quebra Nozes no Theatro... No fim tudo deu certo. Trabalhei com o Julio, dancei La Bayadere, voltei a tempo de encerrar a temporada do Quebra Nozes, botei minha comissão de frente na Avenida, ganhei nota 10 de todos os jurados e ainda saí Campeã do Carnaval! E para o futuro? O que você pretende? Vai virar professora, vai ter uma companhia própria…? R: Não penso no futuro. Pra mim o futuro é hoje. Talvez, não sei, trabalhe como maitre em alguma cia profissional, monte minha confecção de tütüs, vire empresária de bailarinos, abra uma escola de dança... não sei. Idéias não me faltam. Por enquanto sigo nos palcos da vida… Maiores Informações Sites:
www.theatromunicipal.rj.gov.br/
www.dancer.com Por Flávia Almas Jornalista