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Jornal daUnicamp www.unicamp.br/ju

Campinas, 24 a 30 de setembro de 2012 - ANO XXVI - Nº 539 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

IMPRESSO ESPECIAL 1.74.18.2252-9-DR/SPI Unicamp

CORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT

No olho dos tornados

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Estudo revela que Brasil está entre os países que mais registram fenômeno

A nova fronteira da microscopia fotônica

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“Two women looking at the Bedford Downs Massacre Burning Place” Paddy Bedford, 2002. Pigmento natural e tinta acrílica sobre tela

“Angry Bulukbun”. Ginger Riley Munduwalawala, 1990. Acrílico sobre tela “Papa Tjukurpa Pukara” (Mito do dingo, cachorro selvagem). Jimmy Donegan, 2010. Acrílico sobre tela

Plataforma integrada desenvolvida no IFGW permite estudo simultâneo do desenvolvimento e da reprodução de células

5 Ae oobesidade câncer de cólon

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Divino, o jardineiro fiel

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Soro de queijo rende bebida

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Dissecando a Shigella

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Sistema tira fenol de esgoto

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A língua como ‘bem de mercado’

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Um livro para a engenharia química

“Lappi Lappi Jukurrpa”. Mary Anne Nampinjinpa Michaels, 2008. Acrílico sobre tela

“Milmilngkan site”. John Mawurndjul, 1997. Pigmentos naturais sobre entrecasca de árvore

“Earth´s creation” (Criação da Terra). Emily Kame Kngwarreye, 1994. Acrílico sobre tela

“Dibirdibi Country” Sally Gabori, 2010

“Sem título”. Emily Kame Kngwarreye, 1995. Acrílico sobre tela

“Ngapa Jukurrpa” (Sonho da água). Shorty Jangala Robertson, 2008. Acrílico sobre tela

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“My country” Sally Gabori, 2010

“Yiyapuyapu“ (desenho na areia para cerimônia funerária). Maymirri, sem data. Pigmentos naturais sobre entrecasca de árvore

“Carpet Snake and Kangaroo Dreaming at Mt Denison” (Evento mítico envolvendo a serpente e o canguru no Monte Denison). Clifford Possum Tjapaltjarri, 1993. Acrílico sobre tela

“Yankirri Jukurrpa” (Mito do pássaro Emu). Ormay Nangala Gallagher, 2009. Acrílico sobre tela

Arte aborígine Tese da antropóloga Ilana Seltzer

Goldstein investiga a produção de pintores indígenas da Austrália.


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Campinas, 24 a 30 de setembro de 2012 Fotos: Antoninho Perri

‘Trato as plantas como se fossem gente’ A trajetória do funcionário Divino Manuel Elias, que é jardineiro na Unicamp desde 1983 Divino Manuel Elias cuida de canteiro (à direita) e ao lado de flores tratadas por ele: “Quando aguada, a planta tem felicidade”

MARIA ALICE DA CRUZ halice@unicamp.br

em de ter amor naquilo que faz. Tem de ter amor nas pessoas. Tem de ter amor na natureza”. Se o vocabulário de um cientista na maioria das vezes é repleto de termos de sua área de interesse, o vocabulário de um jardineiro deve ser movido pelo amor. Apesar do sol e da chuva e dos calos provocados pela enxada, a mata está verde, o ipê, amarelo e o jatobá, em pé. Essas são as conquistas de um homem que se descobriu jardineiro no momento em que orava para a primeira semente virar raiz, galhos e copa. “Agora, olhe a mata da Marcenaria e da Escola Sérgio Porto. Fomos nós, do Parque Ecológico (hoje Divisão de Meio Ambiente), que plantamos”, observa Divino Manuel Elias, hoje jardineiro da Reitoria da Unicamp. Como disse certa vez o professor e matemático Luiz Barco em uma palestra, “prefiro um jardineiro feliz a um engenheiro frustrado”. Essas palavras traduzem muito bem a história de Divino, que um dia se recusou a trocar o campo pelo trabalho burocrático. “Queriam que eu ficasse atendendo telefone e tomando conta de ferramentas, mas disse que prefiro as plantas. Além do mais, não sirvo para ficar parado.” Apesar de manter sempre o olhar voltado às plantas, o que sugere um certo grau de timidez, Divino não se incomoda de falar o que sente em relação a passado, presente e futuro. Acredita que toda experiência foi aprendizado, ainda que se refira ao início, em 1983, quando eram conduzidos aos setores onde iriam trabalhar em uma camionete velha e pequena. Para garantir sombra, paisagem visual e qualidade de vida aos demais profissionais e alunos do campus, tiveram de superar muitas situações adversas. Nada, porém, para Divino, lhe tirou o prazer de trabalhar em contato com a natureza. “Não era fácil andar naquela carroceria pequenininha e chegar ao local em que

iria trabalhar e o encarregado reclamar que não podia perder tempo, que estava atrasado. Mas não me queixo.” Divino também recorda de sua surpresa ao ver cinco mulheres na equipe que deveria roçar a grama, entre elas Magali e Antonia, oriundas de um renomado colégio técnico de agricultura. “Elas foram fortes demais. Naquela época tinham cinco mulheres na equipe e serviço de enxada era pesado para elas. As outras três mulheres não aguentaram, mas as duas hoje são reconhecidas, estão em outra área. Tenho orgulho dessas meninas”, declara.

PERSISTÊNCIA

Mas tudo muda, e o final da história pode ser repleto de conquistas. É preciso paciência e persistência. Foi da jardinagem que Divino tirou o sustento da família, a educação do filho Cristiano Manuel Elias, que hoje está em busca de seu segundo diploma de graduação. “Foi uma luta, mas deu tudo certo para mim e para meus amigos.” Hoje, cuidando dos jardins da Reitoria, ele assume que é gratificante ter as plantas como companheiras de trabalho. “Termino o dia em paz.” Mas isso não impede um discurso saudoso sobre mais de 30 amigos que morreram, “como o Eduardinho da Pró-Reitoria de Extensão e o ‘Osvaldão’ (Osvaldo Pereira), um batalhador pelos direitos dos funcionários do Parque Ecológico”, segundo Divino. “Osvaldo era estudioso. Era querido por todos. Passou na primeira fase do vestibular da Unicamp, mas morreu cedo, quando tinha 18 anos de Universidade. Fui visitá-lo em seus últimos dias de vida. Foi muito triste”, recorda. A persistência e a paixão pela natureza deram força para ele e seus amigos aprimorarem a paisagem do campus de Barão Geraldo, dentro dos projetos propostos por profissionais da Divisão de Meio Ambiente, como o biólogo Adriano Grandinetti Amarante. “Muitas vezes quem está aqui não enxerga o quanto o campus é belo, mas todos que visitam o

olham com admiração”, alerta. De olho na aposentadoria que se aproxima, Divino ressalta o prazer em trabalhar, mas revela que daqui a um ano quer pescar, viajar e descansar. “Muitos amigos aposentaram e morreram. Eu quero aposentar e viver. Pretendo curtir a vida que ainda tenho, passear, pescar, fazer bastante caminhada”. As condições para aposentar com saúde ele já busca na Unicamp, em sessões de ginástica laboral, o que ele entende como um dos principais benefícios que a Universidade lhe proporcionou. “É muito importante fazer ginástica laboral. A atividade física garante saúde pra gente”, reforça o jardineiro, que pedala 12 quilômetros até a Unicamp diariamente. Tão logo deixou o trabalho na roça, iniciado aos 10 anos de idade em Congonhal, Minas Gerais, Divino começou a atuar como jardineiro. Convidado pelo proprietário de uma chácara para fazer jardinagem, logo tomou gosto, comprou uma máquina para aparar grama e passou a trabalhar quatro anos por conta, até que abrisse o concurso para a Unicamp. “Trato as plantas como se fossem gente. Quando a gente adoece, não toma remédio? Então, com elas é a mesma coisa. Quando aguada, a planta tem felicidade. Se não está bem hoje, com a água, amanhã está renovada. Se for plantada com carinho e ficar um dia sem água, não morre.” Divino e seus amigos encontravam quatro, cinco cobras por dia no campo quando chegaram à Unicamp. A Praça da Paz era um mato só, mas aos poucos viu o projeto paisagístico sendo colocado em prática. Conhece a história da maior parte da flora do campus. Viu brotar do chão também alguns edifícios, como o Ginásio de Esportes, a Biblioteca Central, mas também viu descer algumas árvores e garante: “Não sou a favor. O espaço é tão grande que não precisa derrubar árvore para erguer prédio”, diz. Ele recorda o abraço ao Jatobá da Reitoria num momento que a paisagem seria modificada. “Várias mulheres abraçaram

a árvore e impediram que fosse derrubada. Ela permanece lá até hoje e não incomoda ninguém”, diz Divino, aos risos. Uma trepadeira de cada cor, árvores frutíferas e um espaço para o cachorro fiel. É essa a paisagem que Divino mantém em seu quintal, em Barão Geraldo. A felicidade explícita na entonação ao falar de seu fiel escudeiro mostra a paixão também pelos animais. Divino não precisou passar da quinta série (hoje sexto ano) do ensino fundamental para escrever uma história fundamentada na sabedoria da vida. Quando a Unicamp colocou em prática um projeto de Alfabetização 100%, ele foi um dos funcionários que não desperdiçaram a oportunidade de se tornar um cidadão letrado, autônomo. “Foi mais um projeto maravilhoso. Graças a Deus a Unicamp alfabetizou a gente e hoje não dependemos de ninguém para entender o que está escrito. Pena que algumas pessoas não valorizaram. As pessoas têm que aproveitar o que a Unicamp oferece, como a ginástica laboral. Está ali, de graça, é para a saúde”, salienta. Na sua infância, as pessoas não entendiam a importância de estudar e não havia debate sobre trabalho infantil. Então, os pais levavam a família toda ao campo. Hoje, ele vibra ao falar das conquistas do filho e do desejo de Cristiano de cuidar dos pais, como retribuição ao que Divino e a esposa, Jordita dos Santos Elias, fizeram por ele. Da vida na roça, o mineiro quer falar pouco. “A gente trabalhava na colheita de arroz e sofria com o ataque de um bicho chamado sanguessuga. Não podíamos parar de colher e ele grudava na perna e ia queimando.” “Minha vida inteira é isso aí: trabalho. E quero continuar trabalhando alguns dias da semana depois da aposentadoria. Mas somente alguns dias. Quero aproveitar a vida que Deus me deu.” O jardineiro não se vê fazendo outras coisas, nem mesmo por hobby. A segunda coisa que adora fazer depois de alimentar seus jardins é ler a Bíblia. “A gente tem de buscar sabedoria em Deus”.

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor Fernando Ferreira Costa Coordenador-Geral Edgar Salvadori De Decca Pró-reitor de Desenvolvimento Universitário Roberto Rodrigues Paes Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitor de Pesquisa Ronaldo Aloise Pilli Pró-reitor de Pós-Graduação Euclides de Mesquita Neto Pró-reitor de Graduação Marcelo Knobel Chefe de Gabinete José Ranali

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju. E-mail leitorju@reitoria.unicamp.br. Twitter http:// twitter.com/jornaldaunicamp Coordenador de imprensa Eustáquio Gomes Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab (kassab@reitoria.unicamp.br) Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos (kel@unicamp.br) Reportagem Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Maria Alice da Cruz, Manuel Alves Filho, Patricia Lauretti e Silvio Anunciação Editor de fotografia Antoninho Perri Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Coordenador de Arte Luis Paulo Silva Editoração Joaquim Daldin Miguel Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Patrícia Lauretti e Jaqueline Lopes Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon e Everaldo Silva Impressão Pigma Gráfica e Editora Ltda: (011) 4223-5911 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3327-0894. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju


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Campinas, 24 a 30 de setembro de 2012 Fotos: Antonio Scarpinetti

Daniel Henrique Candido, autor da tese, mostra imagem de tornado e no destaque: pesquisador desenvolveu modelo que confirma a existência de um padrão espacial e temporal de ocorrência de tornados no Brasil

Na rota dos

tornados MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

ocorrência de tornados no Brasil é mais frequente do que se pensava. Entre 1990 e 2011 foram registrados ao menos 205 desses fenômenos meteorológicos em território nacional, número que coloca o país entre aqueles que mais anotam eventos do tipo no mundo. São Paulo foi o Estado mais atingido pelos episódios nesse período, seguido pelo Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Os dados estão revelados na tese de doutoramento do geógrafo Daniel Henrique Candido, defendida recentemente no Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, sob a orientação da professora Lucí Hidalgo Nunes. Em seu trabalho, o pesquisador desenvolveu, com base nas informações reunidas, um modelo que confirma a existência de um padrão espacial e temporal desses acontecimentos em solo brasileiro. Ele também criou uma escala para medição dos danos causados pelos tornados, compatível com as estruturas existentes no Brasil. O levantamento realizado por Daniel se baseou em uma série de fontes, entre elas pesquisas científicas, relatos, fotos, vídeos e notícias de jornais. “Ou seja, foram considerados somente os tornados efetivamente registrados. É possível que outros tenham ocorrido no período, mas que não foram vistos ou não causaram danos significativos, o que pode ter feito com que fossem confundidos, por exemplo, com uma simples ventania”, observa o geógrafo. Com base nos dados obtidos, o pesquisador empregou uma técnica de interpolação com o auxílio de ferramentas de geoprocessamento para promover a distribuição dos episódios pelo território nacional. Ao proceder dessa forma, ele identificou a existência de um padrão espacial e temporal para a ocorrência dos fenômenos. Segundo Daniel, o resultado foi surpreendente. “Inicialmente, nós imaginávamos que Santa Catarina ou Rio Grande do Sul seriam os estados onde a incidência de tornados é mais frequente, devido às suas condições atmosféricas e de relevo. Entretanto, descobrimos que o líder nesse ranking é São Paulo”, diz. Baseado no mapeamento, o pesquisador estabeleceu um modelo do risco anual de ocorrência de tornados no país, cuja escala vai de abaixo de 1% a acima de 25%. Em São Paulo, as cidades de Campinas, Indaiatuba e Itu, além da faixa litorânea, apresentam maior possibilidade de registrar novos tornados. Não por acaso, lembra a professora Lucí, os três municípios paulistas têm histórico relacionado a ocorrências de fortes tornados. O que atingiu Itu, em 30 se setembro de 1991, por exemplo, é apontado

como um dos mais violentos já registrados no país. Na ocasião, o fenômeno causou 15 mortes e destruiu casas, plantações e torres de transmissão de energia. “Até a ocorrência desse tornado, a ciência não considerava que esse tipo de episódio pudesse ocorrer no Brasil. Foi a partir dele que foram iniciadas as pesquisas sobre o assunto”, informa Daniel. Em 28 de novembro de 1995, um episódio foi registrado entre Paulínia e Jaguariúna. Dez anos depois, em maio de 2005, foi a vez de Indaiatuba ser atingida por um tornado. Fábricas, prédios municipais e pelo menos 400 casas foram destruídos por ventos que atingiram cerca de 250 km/h. A prefeitura da cidade foi obrigada a declarar estado de calamidade pública por causa da devastação deixada pelo temporal. O fenômeno foi filmado por uma das câmeras de uma concessionária de rodovia, o que fez com que as imagens virassem hit no YouTube. No Rio Grande do Sul, conforme o modelo proposto pelo autor da tese, as áreas mais suscetíveis à ocorrência de tornados são a faixa litorânea e as imediações do lago Guaíba, com probabilidade em torno dos 25% ao ano. Em Santa Catarina, as regiões mais propensas à formação do fenômeno estão localizadas também no litoral e no extremo sul do Estado, mais ou menos nos mesmos patamares. Daniel esclarece que o modelo levou em conta somente os estados localizados na porção meridional do território brasileiro, por estes disporem de maior número de informações, maior concentração de eventos e reunir condições atmosféricas e de relevo que concorrem para o surgimento dos fenômenos. “Não consideramos os estados das regiões Norte e Nordeste no estudo justamente porque eles não reúnem essas características”, esclarece o autor da tese. Além de estabelecer um padrão espacial e temporal e de desenvolver um modelo de risco para a ocorrência de tornados no Brasil, Daniel também criou uma tabela para a medição de ventos, voltada às características do país. O pesquisador explica que existem outras escalas do gênero, como a Fujita, muito utilizada em todo o mundo, que em termos práticos vai de 0 a 5. A intensidade dos ventos é estimada com base nos estragos que eles causam. “Esta escala é eficiente, mas ela leva em conta as estruturas e construções presentes nos Estados Unidos. Assim, ela determina que os ventos de um tornado alcançaram dada intensidade se destruíram, por exemplo, trailers. Ora, aqui no Brasil nós não temos parques de trailers como lá. Aqui, temos favelas e barracos, que apresentam uma vulnerabilidade diferente”, esclarece. O mesmo ocorre, conforme o geógrafo, com uma escala europeia denominada Tor-

Pesquisa do IG aponta que Brasil está entre os países que mais registram fenômeno meteorológico no mundo ro, que vai de 0 a 11. “A Europa também tem construções diferentes das nossas. Lá, são levadas em conta casas de pedras que sofrem danos por causa dos tornados. Aqui, esse tipo de edificação é raro. Por isso, nós resolvemos criar uma ferramenta voltada às especificidades brasileiras, que batizamos de Escala Brasileira de Ventos (Ebrav). Ela vai de 0 a 7. O primeiro estágio (zero) da escala equivale a ventos de até 50 km/h, intensidade que não apresenta potencial de danos. O último (sete) classifica ventos acima de 260 km/h, capazes de provocar destruição generalizada de instalações urbanas”, detalha Daniel. A escala proposta pode ser utilizada na avaliação de qualquer ocorrência relacionada a ação de ventos, independente de ter se tratado ou não de um tornado.

PREVENÇÃO

De acordo com a professora Lucí, o trabalho realizado pelo seu orientado se reveste de duas importâncias fundamentais. Primeiro, traz novos dados acerca da ocorrência de tornados no país, o que contribui para que a ciência nacional conheça mais sobre esses fenômenos. Segundo, os dados podem servir para ajudar na tomada de decisão tanto no que toca à formulação de políticas públicas quanto no estabelecimento de planos de contingência voltados à preservação de vidas humanas. “Sabendo, por exemplo, que uma determinada área é mais suscetível à ocorrência de tornados, os planos diretores dos municípios podem determinar que tipos de ocupação e de construção são mais recomendáveis para o local. Essa informação ainda não é levada em conta no país, mas seria desejável que fosse, pois agora sabemos que existe um padrão espacial e temporal para a ocorrência desse fenômeno”, pondera. A docente do IG lembra, ainda, que uma atitude importante em relação aos tornados é avisar a população para que ela deixe a área em vias de ser atingida. Aqui, porém, ela faz uma observação preocupante. De acordo com ela, esses fenômenos são diferentes dos furacões, que têm duração prolongada e que percorrem extensas áreas do planeta. “Isso faz com que as pessoas possam ser informadas e orientadas a se proteger até com um ou dois dias de antecedência. Em relação aos tornados, que duram poucos minutos e percorrem alguns poucos quilômetros, esse alerta normalmente é dado com até 30 minutos de antecedência. Portanto, é preciso que a ação seja rápida e eficiente. Outro fator complicador em relação aos alertas é a carência de radares do tipo Doppler no país, os únicos capazes de identificar os tornados. Sem eles, ficamos à mercê da natureza e limi-

tados em relação à adoção de medidas que podem salvar vidas”, lamenta.

FUNIL

Tanto a população quanto veículos de comunicação e até mesmo instituições que não atuam na área das ciências atmosféricas costumam cometer equívocos em relação os tornados. De acordo com Daniel, tanto os tornados quanto ciclones, furações e tufões apresentam ventos rotacionais. A diferença entre eles está basicamente na escala. Enquanto o primeiro tem atuação mais restrita, os demais podem apresentar raios de milhares de quilômetros. Para a formação do tornado, detalha o pesquisador, é preciso que haja uma nuvem específica [cumulonimbus], de origem convectiva vinculada ao aquecimento do solo. Quando essa nuvem fica muito desenvolvida, começa a ocorrer grande turbulência no seu interior. Há, portanto, uma movimentação mais intensa do ar. Como essa nuvem atinge altitudes de até 20 km, onde a temperatura alcança 80 graus negativos, há um resfriamento da sua parte superior. “Esse resfriamento irregular pode aumentar a convecção, possibilitando a formação de núcleos de baixa pressão dentro da nuvem. Nessas condições, o ar pode começar a girar em torno desse núcleo de baixa pressão, formando o funil que desce até o solo. Vale destacar que o tornado só pode ser classificado como tal se tocar o solo. Normalmente, os ventos atingem até 250 km/h, mas os ventos gerados por tornados mais intensos podem superar 300 km/h. Trata-se de um fenômeno que concentra grande energia em pouco tempo e que afeta uma área reduzida. As trombas d’água são fenômenos parecidos, que ocorrem, como o nome sugere, sobre corpos d’água, como represas ou oceanos”, define.

Publicação Tese: “Tornados e trombas d’água no Brasil: uma análise com uso de ferramentas de geoprocessamento” Autor: Daniel Henrique Candido Orientação: Lucí Hidalgo Nunes Unidade: Instituto de Geociências

A professora Lucí Hidalgo Nunes, orientadora do trabalho: dados podem contribuir para a formulação de políticas públicas e definição de planos de contingência


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Campinas, 24 a 30 de setembro de 2012

Plataforma integrada de microscopia desencadeia avanços na análise celular SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

Ferramenta desenvolvida no IFGW permitirá saltos significativos para o controle da biologia

esquisadores do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) da Unicamp conseguiram reunir num único microscópio cerca de dez técnicas poderosas para análise dos processos celulares. Trata-se de uma plataforma integrada de microscopia fotônica que permite a cientistas, sobretudo das áreas médica e biológica, o estudo simultâneo do desenvolvimento e da reprodução das células. Campo moderno da ótica, a fotônica é uma ciência baseada na geração, detecção e manipulação de fótons, ou seja, de luz – como nas fibras ópticas e na microscopia a laser. A ferramenta desenvolvida no IFGW está inserida no contexto promissor da biologia celular, área com forte impacto nos últimos anos. A plataforma permitirá avanços significativos para o controle biológico no seu estado mais profundo, revela o professor Carlos Lenz Cesar, coordenador da linha de pesquisa que culminou no desenvolvimento do sistema. De acordo com ele, as possibilidades abertas por esta área incluem a modificação de bactérias e protozoários, que poderiam ser usados para destruir cé- O professor Carlos Lenz Cesar, coordenador da linha de pesquisa: “O nosso sistema, lulas de câncer; a produção em relação à integração de técnicas, está entre pouquíssimos no mundo” de etanol a partir de algas; e a regeneração de órgãos humanos. “O nosso sistema, em relação à integração de técnicas, está entre pouquíssimos no mundo. É comum haver várias técnicas e microscópios diferentes para cada uma delas. Mas na biologia os fenômenos acontecem localizados no espaço e no tempo. Portanto, torna-se inviável observar um fenômeno por meio de uma técnica num microscópio e, depois, ter que analisá-lo por outra técnica em um aparelho diferente. Isso porque outro processo teria de ser disparado, garantindo que ele fosse igual ao primeiro. Mas isso não é possível na biologia. É um grande avanço, deste modo, poder observar todos os fenômenos e tirar o máximo de informação simultaneamente”, explica o docente, que atua no Departamento de Eletrônica Quântica do IFGW. Além disso, salienta Lenz, para o entendimento da biologia em seu estado mais Vitor Pelegati, autor de dissertação: primeiro pesquisador do país profundo se faz necessária a desenvolver técnicas envolvendo o terceiro harmônico a utilização de ferramentas de observação Carlos Lenz vem desenvolvendo pesquinão destrutivas, permitindo analisar os prosas visando à integração de técnicas para a cessos celulares durante seu tempo de vida. microscopia de ótica. Ele é responsável no “Nossas ferramentas permitem olhar o que Instituto de Física pelo grupo de biofotôniestá acontecendo nas células sem destruíca, área dedicada a explorar a microscopia las ao longo do tempo. Trabalhamos no senem sistemas biológicos usando raios lasers. tido de usar tudo o que a física oferece para Atuam com o docente os doutorandos Anmanipular e chegar até o nível molecular”, dré Alexandre de Thomaz e Vitor Bianchin garante. Pelegati. Já fazem uso da plataforma desenvolviVitor Pelegati defendeu em dezembro da no Instituto de Física pesquisadores da do ano passado dissertação de mestrado Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e do sobre os aspectos teóricos e experimentais Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, além de um sistema de microscopias de óptica de cientistas do Laboratório Nacional de não linear, com atenção especial para a geLuz Síncrotron (LNLS) e do Centro de Esturação de terceiro harmônico. Ao contrário dos do Genoma Humano, da Universidade da ótica linear, a não linear envolve mais de São Paulo (USP). “E, mais recentemente, de um fóton por vez. Já os harmônicos, no depois de um seminário nos Estados Unicampo da microscopia, são componentes dos sobre nossos estudos, recebemos solida onda da luz, análogos aos harmônicos citações de pesquisadores da Universidade do som. O primeiro, segundo e terceiro da Califórnia, em Berkeley, para utilizar a harmônicos possuem, respectivamente, plataforma”, revela o físico. uma vez, o dobro e o triplo da frequência incidente de luz. Há mais de uma década o professor

colágeno que normalmente o corpo produz para englobar o foco canceroso. Com a espectroscopia com segundo harmônico, é possível, por exemplo, observar diretamente uma célula atravessando as fibras de colágeno”, demonstra. Os estudos foram financiados pela Coordenação de AperfeiçoamenFoto: Antoninho Perri to de Pessoal de Nível Superior (Capes); e a compra de equipamentos foi custeada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT), do governo federal.

CONTROLE

DA BIOLOGIA Está claro para o professor Carlos Lenz que a primeira revolução científica e tecnológica do século 21 virá do que ele chama de “controle da biologia”. “Se começarmos a aprender a manipular DNA para criarmos organismos sintéticos, abrimos o caminho para combustíveis praticamente de graça. E estaremos em equilíbrio ecológico. Não é necessário ocupar a terra, esperar seis meses para a cana-deaçúcar ser colhida, muito menos destruir tudo que a cana-de-açúcar destrói. Com o controle da biologia pode-se começar a fazer biodispositivos para as mais variadas funções, desde que se aprenda como é o funcionamento celular e molecular”, exemplifica. De acordo com o físico da Unicamp, o controle da biologia seria a sexta onda de inovação, responsável pela nova revolução científica. “Uma nova onda de inovação vem, normalmente, acompanhada por uma crise financeira e a crise já está aí. Isso marca o fim de uma era, que seria a era da informação. A revolução da informação, que estamos vivenciando neste momento, é a quinta onda. E está ficando cada vez mais claro que a nova onda, que deve ser capaz de mudar a forma como a humanidade se organiza, virá do controle da biologia. Há muita gente apostando que esta próxima onda começa a ficar transparente para a sociedade em 2015. Os governos estão se posicionando, estão investindo dinheiro neste ramo”, afirma. Pelegati foi o primeiro pesquisador do Brasil a desenvolver técnicas envolvendo o terceiro harmônico. “Em geral, o que se observa é o primeiro harmônico da luz; porém, informações importantes podem estar contidas nos outros. Deste modo, a microscopia com harmônicos maiores pode enriquecer a investigação com novos dados”, justifica o doutorando. Coube a André Alexandre de Thomaz, por sua vez, o desenvolvimento de processos envolvendo o segundo harmônico, também pela primeira vez no país. De acordo com o docente Carlos Lenz, os colágenos – proteínas fundamentais na constituição do tecido conjuntivo – são notórios produtores de segundos harmônicos. “O estudo dos colágenos é importante para se investigar, por exemplo, como se dá o processo de metástase do câncer. Para a célula cancerosa sair do foco principal do câncer e atingir outras regiões do corpo, causando assim a metástase, ela tem que atravessar fibras de

Publicações Dissertação: “Ferramenta biofotônica integrada para manipulações e microscopias confocais” Autor: André Alexandre de Thomaz Orientador: Carlos Lenz Cesar Unidade: Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) ............... Dissertação: “Microscopias de óptica não linear: fluorescência excitada por absorção de dois fótons, geração de segundo harmônico e geração de terceiro harmônico” Autor: Vitor Bianchin Pelegati Orientador: Carlos Lenz Cesar Unidade: Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW)


Campinas, 24 a 30 de setembro de 2012

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Pesquisa detalha mecanismos que ligam obesidade ao câncer de cólon

Trabalho correlaciona inflamação crônica com o desenvolvimento de tumores colorretais Fotos: Antonio Scarpinetti

LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

revista Gastroenterology de setembro traz um artigo assinado pelo professor José Barreto Campello Carvalheira e pelo pesquisador Marcelo Benedito da Silva Flores, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, descrevendo de maneira inédita um importante mecanismo que associa a obesidade ao desenvolvimento do câncer de cólon. O trabalho intitulado ObesityInduced Increase in Tumor Necrosis Factor-α Leads to Development of Colon Cancer in Mice, além de merecer publicação em uma das revistas mais respeitadas no campo das doenças do aparelho digestivo, foi vencedor do Prêmio Octavio Frias de Oliveira 2012, na modalidade Pesquisa em Oncologia. A premiação é uma iniciativa do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo em parceria com o Grupo Folha. Segundo José Carvalheira, a relação entre a obesidade e o câncer de cólon encontra-se bem estabelecida através de vários estudos epidemiológicos, mas a preocupação nesta pesquisa foi entender os mecanismos moleculares que sustentam tal fato. “No trabalho iniciado há cinco anos, elencamos como possíveis mediadores desta relação as elevadas concentrações de insulina, verificadas nos nossos modelos de obesidade, assim como a inflamação crônica imposta pelas alterações do tecido adiposo frente à obesidade dos animais”. O docente da FCM lembra que, na fase experimental, a inflamação foi o fator que se sobressaiu, passando a ter papel mais relevante para a elucidação dos mecanismos moleculares investigados no trabalho. “A ligação entre a obesidade e os vários tipos de câncer é muito recente. As pessoas obesas estão predispostas a quase todos os tipos da doença e, particularmente em relação ao câncer colorretal, apenas no ano de 2012, foram reportados pelo The American Cancer Society aproximadamente 103 mil novos casos da doença, com 51 mil mortes a ela relacionadas nos EUA. A obesidade aumenta a incidência do câncer colorretal, assim como leva à sua recorrência e à maior mortalidade devido à doença. O pioneirismo do nosso trabalho está em correlacionar a inflamação crônica, que ocorre na obesidade, com o desenvolvimento dos tumores colorretais: este é o principal avanço”. Marcelo Flores, primeiro autor do artigo e autor da tese de doutorado, foi responsável pela elaboração e execução dos experimentos com animais na bancada do Laboratório de Investigação Molecular do Câncer da FCM. “Foram cinco anos de pesquisas por causa das dificuldades de se chegar aos modelos experimentais para esse tipo de câncer. Depois dessa fase, os resultados foram surpreendentes. Nossos dados são muito importantes porque provam as ligações fisiológicas e moleculares entre a obesidade e o câncer de cólon, através da investigação em três modelos distintos de obesidade animal e de indução da doença através do agente carcinogênico Azoximetano.” O pesquisador acrescenta que, tanto nos modelos com obesidade induzida através de dieta rica em lipídeos, quanto nos modelos de obesidade determinada por mutação genética, observaram-se padrões de número e tamanho tumorais muito mais exacerbados, quando comparados aos controles magros. “Nosso terceiro modelo foi determinante para estabelecermos tal associação. Usamos animais com baixa resistência imune e que foram submetidos à dieta rica em lipídeos. Nesses animais foram implantadas células de linhagem de câncer de cólon humano (HT-29) e constatamos que os padrões de

O professor José Barreto Campello Carvalheira, orientador das pesquisas: “O bloqueio da via inflamatória abre caminho para novas drogas”

PREMIAÇÃO

O pesquisador Marcelo Benedito da Silva Flores, autor da tese: “Os resultados foram surpreendentes”

Dieta e estilo de vida Em sua tese de doutorado, Marcelo Flores reuniu dados da literatura indicando que em 2008 havia aproximadamente 1,5 bilhão de pessoas em estado de sobrepeso no mundo, sendo que 500 milhões desse contingente foram considerados obesos – a Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que serão 800 milhões de adultos com esta doença nutricional em 2015. As evidências epidemiológicas das ligações entre obesidade e câncer foram oficialmente

crescimento dos tumores foram surpreendentemente altos, fato que não foi observado nos animais controles magros”. Neste ponto das investigações, explica o autor da tese, procurou-se avaliar quais eram os moduladores moleculares que poderiam de fato responder pelo crescimento e desenvolvimento exacerbado dos tumores de cólon nos animais obesos. “Sabe-se que nas condições de obesidade o tecido adiposo tem suas funções alteradas no que se refere à produção de citoquinas inflamatórias como o Fator de Necrose Tumoral-α (TNF-α). Além disso, um número crescente de evidências sugere que o meio inflamatório causado pela obesidade está intimamente associado ao desenvolvimento do câncer através de vários mecanismos. Um exemplo dessa ligação se verifica na infecção crônica e subsequente inflamação causada pelas hepatites virais B e C, levando ao maior risco para o desenvolvimento do carcinoma hepatocelular”. Em sua tese de doutorado, Marcelo Flores descreve como a molécula do TNF-α, que originalmente foi pensada como um agente antitumoral, atualmente possui um papel preponderante no desenvolvimento do câncer. “O TNF-α tem sido associado ao desenvolvimento de vários cânceres através de mecanismos que favorecem a sobrevivência tumoral, como a angiogênese e a metástase. A investigação mais direcionada para essa molécula inflamatória veio de estudos que demonstraram as altas concentrações do TNF-α em humanos obesos e em modelos de obesidade em roedores.” Flores acrescenta que, partindo destas evidências, pensou-se num mecanismo que pudesse bloquear a ação do TNF-α nos modelos experimentais de obesidade e câncer. “Nesse sentido, optamos pelo anticorpo Infliximab, já usado amplamente no tratamento de doenças inflamatórias em humanos, como a artrite reumatóide. A administração crônica do anticorpo nos animais obesos e que se submeteram à indução química do câncer de cólon resultou em dados muito significativos: foi capaz de reduzir os padrões de número, tamanho e crescimento dos tumores de cólon em todos os modelos, e de forma contundente”. De acordo com o professor José Carvalheira, os resultados permitiram descrever uma via importante de desenvolvimento do câncer de cólon associada à obesidade. “O bloqueio da via inflamatória pelo Infliximab abre caminho para a pesquisa de novas drogas anti-inflamatórias, tendo como alvo o TNF-U– digo novas drogas porque o Infliximab provoca uma toxicidade alta em humanos. Nossos dados envolvendo a participação da via inflamatória no câncer colorretal não deixam dúvidas sobre tal mecanismo. Isso porque também usamos bloqueadores específicos da insulina, como o Octreotídeo e a Pioglitazona, mas o bloqueio da hiperinsulimemia não conseguiu barrar os padrões de número, tamanho e crescimento dos tumores nos modelos animais investigados”.

endossadas pelo World Cancer Research Fund e pelo American Institute for Cancer Research. Os dois órgãos, em conjunto, estabeleceram as bases que associaram a relação causal entre dieta e estilo de vida ao risco para o desenvolvimento de vários cânceres. E sugeriram que a manutenção do peso corporal em padrões adequados, a adesão às práticas de atividade física e a redução da ingestão de alimentos com altos teores calóricos são

Esta é a segunda vez consecutiva que o docente da Unicamp conquista o Prêmio Octavio Frias de Oliveira. Na edição de 2011, o José Barreto Carvalheira recebeu a mesma distinção graças a um estudo associando a Metformina, principal medicamento utilizado para diabetes tipo 2, ao quimioterápico Paclitaxel, ministrado em cânceres de mama e de pulmão. A associação foi testada em modelos animais com sucesso e descreveu-se uma nova via bioquímica alvo de tratamento, que foi capaz de inibir o crescimento das células tumorais in vitro e dos tumores em cobaias. Este trabalho também ganhou destaque no Jornal da Unicamp (edição 498).

comportamentos que diminuem o risco para vários cânceres. Atente-se que essas três recomendações estão associadas também às medidas profiláticas com relação ao desenvolvimento da obesidade. Mais recentemente, as mesmas instituições confirmaram as associações entre os efeitos da dieta e do estilo de vida, como a adiposidade corporal e abdominal, ao aumento do risco para o câncer colorretal. Segundo Flores, há forte correlação entre obesidade e mudanças nas funções fisiológicas do tecido adiposo. “De fato, o tecido adiposo disfuncional pode ter uma função essencial nas doenças associadas à obesidade como inflamação, resistência insulínica e alguns cânceres. Muitos desses fatores, como a resistência insulínica, a inflamação crônica, as concentrações reduzidas de adiponectina, as

elevadas concentrações dos esteróides sexuais e da leptina, podem estar associados na carcinogênese e à progressão tumoral”. Atualmente, o paradigma de que 90% dos cânceres estão associados ao estilo de vida e ao meio ambiente é atualmente bem compreendido. Por exemplo, quase 30% de todos os cânceres são atribuídos ao fumo do tabaco, 35% à dieta, 14-20% à obesidade, 18% às infecções e 7% às radiações e aos poluentes ambientais. O pesquisador explica que um processo muito importante e comum entre todos esses fatores de risco é a inflamação crônica, que age como um fator de regulação da promoção e progressão tumoral através de vários mecanismos, a saber: aceleração da proliferação celular, evasão da apoptose e aumento da angiogênese e da metástase.


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Pesquisador desenvolve bebida probiótica com soro de queijo Autor do estudo desenvolvido na FEA usou métodos sensoriais para avaliar o produto Foto: Divulgação

ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

ma bebida láctea fermentada com a maior concentração de soro de queijo possível, suplementada com Lactobacillus acidophilus – um microrganismo probiótico que traz benefícios à saúde de quem o ingere. Esse produto foi desenvolvido pelo pesquisador Wellington de Freitas Castro em sua tese de doutorado, defendida na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA). Mas, além da bebida, o autor do estudo testou um aspecto inovador: usou ineditamente métodos sensoriais (Análise Descritiva Quantitativa - ADQ e o Perfil Livre) para avaliar a bebida que ele obteve misturando leite e soro de queijo. O produto, que conseguiu atingir uma vida de prateleira de 35 dias, tempo semelhante à do iogurte, não empregou aditivos sintéticos, apenas um preparado de fruta que confere cor, aroma e sabor de morango. A iniciativa mostrou ser uma alternativa à indústria de laticínios pois, de acordo com Wellington, existem poucas bebidas lácteas probióticas hoje no mercado nacional. O preparado de fruta foi cedido pela Industrial Duas Rodas, de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, e pela Döhler, da região de Campinas. Já as culturas de microrganismos foram cedidas pela Danisco-DuPont. Na verdade, o probiótico já é empregado pelo setor industrial para a elaboração de vários alimentos. Entretanto, nesse trabalho o que o engenheiro de alimentos fez foi introduzir o uso desse microrganismo em presença de soro de queijo, que também atua como um agente prebiótico, contribuindo para ativar o metabolismo de bactérias proativas do trato intestinal. Assim, alguns peptídeos isolados da fração proteica do soro de leite beneficiam o metabolismo e o crescimento de microrganismos. Os modelos matemáticos praticados nos experimentos demonstraram ser eficientes na seleção da concentração ideal de soro de queijo, sendo 49% pela Análise de Sobrevida (distribuição de Weibull) e 65% de soro pelo modelo de Aceitação Global Média, como resposta de uma boa aceitação sensorial. O pesquisador utilizou o método de Análise de Sobrevida (Survival Analysis), com grande aplicação nas áreas médicas e de sociologia, pela possibilidade de interagir com dados intervalares e de estimar a concentração ideal, julgada pelo consumidor. “Deste modo, os dados de análise sensorial são tratados com vistas a chegar às formulações com melhor aceitação”, conta. Já os métodos afetivos, escolhidos pelo autor, consistiram da aceitação por consumidores e do Mapa Projetivo, esse também pioneiro para avaliação de bebidas lácteas.

PRODUTO

O soro, acentua o pesquisador, é um subproduto da indústria de queijo, cuja produção pode variar de 6 a 9 litros para cada quilograma de queijo produzido. Tal subproduto, explica ele, não pode ser destinado ao descarte direto em leitos d’água, por ter uma alta demanda bioquímica de oxigênio. Do contrário, os microrganismos presentes na água usariam os componentes do soro e diminuiriam o teor de oxigênio dissolvido nos rios. A consequência seria drástica: levaria à morte da fauna aquática, em razão do elevado impacto ambiental de despejar o soro de leite sem o devido tratamento de efluente. Logo, para um produto que seria deletério, Wellington trouxe mais uma alternativa à utilização do soro – o desenvolvimento da bebida. “O nosso trabalho resultou na disponibilização de dados sensoriais que podem contribuir para o aprimoramento de produtos disponíveis no mercado”, garante. Para o desenvolvimento da bebida, o doutorando contou com a orientação dos docentes José de Assis Fonseca Faria, da FEA, e Adriano Gomes da Cruz, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ).

Provadores experimentam a bebida: produto atingiu vida de prateleira de 35 dias Foto: Antonio Scarpinetti

O pesquisador Wellington de Freitas Castro, autor da tese: mistura de leite e soro passou pelo processo de pasteurização

Uma das primeiras medidas do autor foi comparar o método de Perfil Livre à metodologia de ADQ. Conforme o engenheiro de alimentos, a ADQ parte do treinamento de assessores sensoriais, ou provadores, etapa que demanda um tempo considerável para ser executada e que busca um consenso entre assessores em termos de linguagem (por exemplo, se a descrição é cor vermelha de morango ou aroma fermentado, todos precisam estar inteirados das mesmas expressões). No Perfil Livre, cada assessor põe em prática a sua própria linguagem para descrever o produto, fazendo apontamentos em uma ficha de análise sensorial e levantando atributos para caracterizar a amostra, o que torna mais simples o processo, diferencia Wellington. Segundo ele, os resultados do pareamento das duas metodologias foram muito próximos. Mas o Perfil Livre trouxe a vantagem de reduzir o tempo de análise pois a ADQ demanda muito tempo para o treinamento dos assessores até chegar a um consenso da equipe sensorial, constata. O produto, relata o engenheiro de alimentos, segue a legislação, a qual enfatiza que a bebida láctea deve ser produzida a partir da mistura do leite com soro e é necessário ter 51% de base láctea (massa-massa), o que equivale a dizer que, para chamar de bebida láctea, pode-se ter uma mistura de soro e leite ou leite e água (não necessariamente soro e leite). “A nossa legislação para bebida láctea não é específica nesse ponto”, realça.

A bebida láctea fermentada é um produto genuinamente brasileiro, porém apresenta variações em outros países, sob a forma de bebida carbonatada ou adicionada de suco de frutas. “No nosso país ele é tido como um produto semelhante ao iogurte, entretanto com um custo mais reduzido, por não utilizar o leite em sua totalidade”, expõe Wellington.

POTÊNCIA Para a produção da bebida, a mistura de leite e soro passou pelo processo de pasteurização. Foram adicionados os probióticos e também as culturas do iogurte (o Streptococcus thermophilus e Lactobacillus bulgaricus). Em seguida, houve fermentação por cerca de quatro horas e estocagem refrigerada. O produto apresentou-se com textura próxima à do iogurte batido. O seu benefício é que, além da pessoa ingerir uma proteína de qualidade, já que as proteínas do soro de leite aparecem na fabricação de ricota e suplementos alimentares para atletas, sob a forma de concentrados e isolados proteicos, como o Whey Protein (rapidamente absorvido pelo organismo), por exemplo, vão estar ali presentes, ainda que em menor quantidade. Os microrganismos adotados por Wellington auxiliam na ativação do sistema imunológico, exclusão competitiva de bactérias patogênicas e melhoria do trânsito intestinal. Contudo, o pesquisador faz uma ressalva:

é preciso ter uma contagem mínima de 106 microrganismos por mL, para uma ingestão diária de 100 ml do produto. “As nossas contagens superaram as preconizadas pela legislação e se mostraram satisfatórias em todas as formulações”, revela o autor. Ele ainda salienta que essa bebida láctea demanda tecnologia simples, da qual é possível se servir para alcançar produtos de alto valor agregado com baixo investimento em equipamentos, tornandose acessível às indústrias de laticínios de pequeno porte. Apurou-se ainda na pesquisa que sensorialmente, a partir de experimentos com bebidas lácteas comerciais (fermentadas, não probióticas), elas não apresentaram uma padronização. “Os assessores notaram não somente variações nos tipos de embalagens, mas ainda de formulações e atributos sensoriais como cor, aroma, sabor e textura”, lembra Wellington, docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, campus Barretos.

Publicações Wellington de F. Castro, Adriano G. Cruz, Mariana S. Bisinotto, Lizielle M. R. Guerreiro, José de Assis F. Faria, Helena M. A. Bolini, Rosiane L. Cunha e Rosires Deliza. Development of probiotic dairy beverages: Rheological properties and application of mathematical models in sensory evaluation. Aceito para publicação no Journal of Dairy Science. Wellington de F. Castro, Adriano G. Cruz, Daniele Rodrigues, Gislaine Ghiselli, Carlos Augusto F. Oliveira, José de Assis F. Faria e Helena T. Godoy. Effects of different whey concentrations on physico-chemical characteristics and viable counts of starter bacteria in dairy beverage supplemented with probiotics. Aceito para publicação no Journal of Dairy Science. Tese: “Efeito da concentração de soro de queijo na produção e qualidade sensorial de bebidas lácteas probióticas” Autor: Wellington de Freitas Castro Orientador: José de Assis Fonseca Faria Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) Financiamento: Capes e Faepex-Unicamp


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Estudo mapeia

ação de bactéria Docente do IB integrou trabalho multicêntrico que envolveu 132 linhagens da Shigella Fotos: Antonio Scarpinetti

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Shigella sonnei é uma bactéria que é um importante agente de doenças infecciosas diarreicas que em geral acometem crianças com idade até cinco anos, além de idosos e pacientes imunocomprometidos. O tema acaba de gerar um artigo na prestigiosa revista Nature Genetics, que tem um dos mais altos fatores de impacto na área de Biologia. A publicação, primeiramente em sua versão on-line (http://www.nature.com/ng/journal/vaop/ ncurrent/full/ng.2369.html), foi postada no último dia 5 de agosto sob o título Shigella sonnei genome sequencing and phylogenetic analysis indicate recent global dissemination from Europe. O professor Wanderley Dias da Silveira, docente que atua no Departamento de Genética e Evolução e Bioagentes do Instituto de Biologia (IB), integrou o grupo que realizou este estudo multicêntrico colaborativamente com pesquisadores de vários países, entre os quais do Reino Unido e da Austrália. O trabalho envolveu ao todo 132 linhagens da bactéria Shigella, vindas dos quatro continentes, com o objetivo de estabelecer a sua origem, já que desencadeia surtos de diarreia infecciosa não somente em países subdesenvolvidos, mas também em países em desenvolvimento e desenvolvidos. O estudo apontou que as condições sanitárias básicas dos países mudam o perfil das bactérias que promovem os diferentes processos infecciosos e que, para isso, é essencial que elas sejam de fato adotadas pois, no geral, a qualidade de vida da população melhora drasticamente, garante Wanderley. Os clones dessas bactérias são muito parecidos porque tendem a ser selecionados, ainda que existam medidas governamentais de controle atualmente, demonstrou a pesquisa. E por que eles são selecionados, apesar das medidas de controle? Por conta de serem altamente resistentes aos antibióticos, responde o docente. Por outro lado, ele sugeriu que, a despeito da melhora das condições de higiene e de saúde pública dos países, essas bactérias ainda levam a processos infecciosos e com o agravante de que às vezes uma espécie é substituída por outra. “Nos países desenvolvidos, anteriormente a Shigella flexneri, que era a espécie mais prevalente, foi aos poucos substituída pela Shigella sonnei”, sublinha. Diversas espécies de Shigella, comenta ele, são conhecidas. A sonnei é uma das mais importantes. Além de ter maior incidência e maior prevalência, dependendo do país no qual é feita a pesquisa, normalmente reflete as condições básicas de higiene e saúde da população. A inobservância das precauções universais é muito comum, como a falta de higienização das mãos e de água tratada, entre outros fatores intervenientes. Particularmente, essa bactéria causa processos infecciosos em crianças por uma série de motivos, sendo o principal a idade, uma vez que até cinco anos o seu sistema imunológico está em construção, tornando-a suscetível a várias doenças infecciosas, a priori as bacterianas e as virais. Conforme melhoram as condições sanitárias, a incidência de doenças infecciosas diminui. Mas essas condições já foram piores no Brasil, recorda Wanderley, isso porque o país está hoje situado entre as nações em desenvolvimento, cumprindo uma série de quesitos que vêm melhorando a qualidade de vida da população. Mesmo assim, persistem alguns casos de diarreia por Shigella, e não somente da espécie sonnei. Também da Shigella flexneri e da Shigella dysenteriae) e, com menor frequência, da Shigella boydii. Essas bactérias têm como característica o fato de possuir uma ação efetiva com baixa dose infectante, tanto que, consoante à linhagem, de 100 a 1.000 bactérias ingeridas de uma única vez são suficientes para conduzir

O professor Wanderley Dias da Silveira: “Os pacientes mais acometidos são as crianças e os idosos”

a um processo infeccioso. E o seu poder patogênico é muito grande, com um grau de virulência elevado em comparação a outros tipos de bactéria que causam diarreia.

Placa com cultura de Shigella

AÇÃO

Normalmente, esse desarranjo vem seguido de febre, e o seu principal mecanismo de transmissão é a ingestão via fecal oral. “Ingerem-se fezes de pessoas contaminadas com este tipo de bactéria, que irão desenvolver o processo infeccioso no intestino”, realça Wanderley. “Os pacientes mais acometidos são as crianças, muitas das quais em creches, e idosos, cujo sistema imunológico está em declínio e que mostram deficiências nutricionais capazes de levar a um processo infeccioso por este tipo de bactéria”, conta o docente. Também atinge pacientes institucionalizados, menciona ele, como aqueles que vivem em sistemas prisionais, em instituições dirigidas ao tratamento de transtornos mentais (que têm por hábito levar as mãos contaminadas à boca) ou que estão internados em lugares em que as condições de higiene são precárias e em casas de repouso. Há ocorrências dessa bactéria na região de Campinas e nas regiões tidas como as mais desenvolvidas do país que, a despeito de não ter uma alta incidência, traz danos significativos por conta da faixa etária que atinge e pelo processo que desencadeia a diarreia severa, denominada disenteria. Com isso, os acometidos evacuam várias vezes ao dia. O processo, afirma o professor, começa com diarreia e tende a evoluir para disenteria. Tal bactéria penetra o sistema digestório e, ao adentrar o organismo, pode ocasionar doença sistêmica e, nesse caso, ser fatal, dependendo do paciente. Na maioria dos casos, contudo, a diarreia é autolimitada, com duração de dois a cinco dias, às vezes nem requerendo tratamento medicamentoso. Já em pessoas com o sistema imunológico comprometido, se não houver pronta intervenção, poderá encontrar pela frente um desfecho irreversível. O tratamento, expõe o docente, é conservador, consistindo da reposição de eletrólitos, ou seja, dos líquidos perdidos durante a evacuação. Além do mais, a pessoa deve

permanecer em observação e, em casos mais graves, após avaliação de um infectologista, submeter-se à terapia antibiótica.

FLUXOS MIGRATÓRIOS As perguntas do grupo de Wanderley passaram pelo conhecimento sobre o genoma dessas bactérias, que vieram da Europa e, ao longo dos anos, foram transmitidas a outros países e continentes. Observou-se que, na Ásia, essa transmissão foi recente, ocorrendo na década de 1970. Porém a origem dessas bactérias na Europa foi em princípios do século 19, de uma bactéria ancestral do século 16. A partir de então disseminou-se para vários países, inclusive da América do Sul. Muito dessa transmissão, revela Wanderley, acontece como resultado dos fluxos migratórios. E quanto maior, diz, é de se esperar que haja uma maior difusão de bactérias, justamente porque hoje em dia os meios de transporte são muito rápidos, encurtando o tempo de disseminação. O período de incubação começa a ser contado após a ingestão do alimento. Os sinais e sintomas incluem diarreia intensa, dores abdominais, tenesmo (dor no baixo ventre) e febre. Essa diarreia pode vir acompanhada de sangue e muco nas fezes, aqui denominada disenteria, que indica um processo invasivo na parede do trato digestório. Wanderley sublinha que existe uma determinada bactéria que, ao ser ingerida, induz a uma imunização cruzada com a bactéria estudada pelo seu grupo. A presença da primeira bactéria no ambiente, neste caso, pode ajudar a diminuir a incidência da segunda por causa da imunização cruzada. O conselho do docente é manter os princípios básicos de higiene, cozinhando os alimentos, higienizando as mãos e to-

mando os devidos cuidados ao entrar em contato com pacientes ou pessoas suscetíveis a infecções. Esta é a primeira investigação comparada com tantas amostras ao mesmo tempo, sinaliza Wanderley. “O nosso texto final demonstrou a resistência aos antibióticos na quase totalidade dos isolados responsáveis por este tipo de infecção e deve lançar luzes sobre os mecanismos de transmissão”, destaca. O estudo teve financiamento da Comunidade Europeia, sobretudo da Wellcome Trust Foundation, e dos laboratórios que contribuíram para esse esforço internacional. As amostras foram analisadas em laboratórios do Reino Unido, Austrália e China. A parte que coube ao Laboratório de Wanderley foi o desenho da experimentação, a cessão de amostras isoladas do Brasil (que compõem a coleção do seu laboratório), bem como a discussão da metodologia e colaborações no desenvolvimento do trabalho. Wanderley é biomédico e médico de formação, e trabalha com mecanismos de patogenicidade bacteriana.

Publicação Kathryn E Holt, Stephen Baker, François-Xavier Weill, Edward C Holmes, Andrew Kitchen, Jun Yu, Vartul Sangal, Derek J Brown, John E Coia, Dong Wook Kim, Seon Young Choi, Su Hee Kim, Wanderley D da Silveira, Derek J Pickard, Jeremy J Farrar, Julian Parkhill, Gordon Dougan & Nicholas R Thomson. Shigella sonnei genome sequencing and phylogenetic analysis indicate recent global dissemination from Europe. Nature Genetics, on line, publicado em 5 de agosto em http://www.nature.com/ng/journal/ vaop/ncurrent/full/ng.2369.html.


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Sistema elimina fenol de esgoto Nas Tóxico e cancerígeno, poluente ainda é lançado nos rios por muitas indústrias Fotos: Antoninho Perri

SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

tecnóloga em saneamento Luciana Vechi de Carvalho desenvolveu um sistema para tratamento biológico de custo reduzido que permite eliminar em até 99,7% a concentração de fenol presente em águas de esgotos sanitários. O fenol é altamente tóxico ao meio ambiente e possui elevado potencial cancerígeno. O poluente está presente em efluentes lançados por muitas indústrias, sobretudo, das áreas de química, petroquímica e de destilarias de álcool. Luciana de Carvalho concebeu o sistema para o seu mestrado defendido em agosto último junto à Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp. A pesquisa foi orientada pelo professor do Departamento de Saneamento e Meio Ambiente da FEC Edson Aparecido Abdul Nour no âmbito da linha de pesquisa “Sistemas combinados de tratamento de efluentes”. De acordo com o docente, o estudo simulou uma contaminação na rede municipal com 170 miligramas de fenol por litro (mg/l) de esgoto. Edson Nour ainda explicou que o tratamento biológico fez uso de sistema combinado anaeróbio e aeróbio. Neste processo, microrganismos presentes em unidades de tratamento separadas e sequenciais degradam os materiais orgânicos, reduzindo a toxicidade do esgoto. Na unidade anaeróbia, ocorre a primeira biodegradação dos compostos orgânicos na ausência de oxigênio, enquanto na unidade aeróbica acontece a biodegradação complementar, utilizando o oxigênio dissolvido no meio líquido. “A combinação destes dois tipos de processos tornou o sistema mais robusto e com um custo operacional menor do que os convencionais, que são somente aerados. Quanto maior a concentração do fenol na água, mais difícil será a sua remoção porque os sistemas de tratamento nem sempre são configurados para removê-lo. E não usamos nenhum reagente químico pra fazer isso. Foi somente atividade biológica”, confirma o docente. Além disso, em todos os momentos, o sistema sempre foi eficiente a ponto de atender à legislação e de também se antecipar a ela, completa. “É que, recentemente, desde o ano passado, o Conama [Conselho Nacional de

Luciana Vechi de Carvalho, autora da dissertação, e o professor Edson Aparecido Abdul Nour, orientador: custo operacional menor

Meio Ambiente] passou a exigir testes com bioindicadores, ou seja, com organismos vivos que podem ou não sobreviver àquela situação. E o nosso sistema já previu isso”, revela Edson Nour. Os testes com os organismos vivos, tecnicamente denominados de ecotoxicológicos ou bioensaios, envolveram, no sistema proposto, uma espécie de microcrustáceo (Daphnia similis), de mosquito (Chironomus xanthus) e de minhoca (Eisenia fetida). “Nós fizemos ensaios ecotoxicológicos com os três organismos, atendendo à resolução número 430 do Conama, instituída em 2011. E o resultado final, após ter colocado o fenol na dosagem de 170 mg/l de esgoto indicou que os três bioindicadores não foram afetados”, garante a pesquisadora Luciana de Carvalho. A resolução referida pela tecnóloga estabelece que o efluente não deverá causar efeitos tóxicos aos organismos de pelo menos dois níveis tróficos diferentes. O nível trófico é a posição ocupada por um organismo na cadeia alimentar. “Dentro dos estudos que temos conduzido, buscamos três níveis tróficos importantes: o Chironomus é oriundo, normalmente, dos sedimentos dos rios. O lodo de um rio não poluído é bem cheio da fase larval deste organismo. Utilizando-o como bioindicador nós saberemos, por exemplo, o impacto da po-

luição no sedimento. Já com a minhoca saberemos, por sua vez, o efeito do fenol no solo. E com a Daphnia, a contaminação na água”, esclarece a cientista. Os estudos foram conduzidos durante um ano e meio, desde a montagem do sistema até as últimas avaliações de toxicidade. Neste período houve o monitoramento de mais de 400 pontos de amostragem. “Além dos testes ecotoxicológicos, fizemos análises físicas e químicas durante os ensaios. Dividimos a pesquisa em três fases. A primeira foi de adaptação do sistema, preparando-o para receber a carga tóxica de fenol. Depois, nós adicionamos 50 miligramas de fenol por litro de esgoto e os resultados indicaram que o sistema poderia suportar mais carga tóxica porque ele conseguia remover 99,9% do ácido que era inserido no esgoto bruto. Foi quando chegamos a 170 mg/l e o excelente resultado de 99,7% de eliminação média”, mensura a tecnóloga, que é formada pela Faculdade de Tecnologia (FT) da Unicamp, com campus em Limeira.

MOTIVAÇÃO

A poluição na Região Metropolitana de Campinas (RMC), principalmente entre as cidades de Paulínia e Sumaré, despertou o interesse inicial para a pesquisa, revelou Luciana de Carvalho. “Há nos efluentes desta região uma

bas n ca

quantidade importante de fenol. E Sumaré, que capta a água do Rio Atibaia, sofre bastante com isso. E quanto maior a quantidade de fenol que é lançada nos rios, maior será a concentração acumulada nos sedimentos. Essa acumulação pode fazer com que o fenol seja transmitido na cadeia alimentar”, alerta. Apesar da poluição em muitos rios da região, Edson Nour considera que as políticas públicas direcionadas à construção de redes para a coleta e o tratamento de esgoto vêm avançando no país, em especial na RMC. “Um bom indicador é a cidade de Campinas, que é o maior município desta região metropolitana. Há 10 anos Campinas não tratava 10% do esgoto coletado. E hoje a cidade já trata aproximadamente 85%. A Sanasa [Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento] tem um corpo técnico muito bom. Mas, por outro lado, estamos sempre correndo atrás do prejuízo, principalmente quanto à utilização de adequados indicadores de qualidade ambiental”, pondera.

COLABORAÇÃO

A pesquisa obteve recursos parciais junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Houve a colaboração também das bolsistas de iniciação científica da FEC Lidiane Cristina Soares Ambrósio (bolsa SAE) e Dayane de Oliveira (CNPq); e o suporte de técnicos do Laboratório de Saneamento da Unidade.

Publicação Dissertação: “Redução da concentração de fenol presente em águas residuais utilizando sistema anaeróbio/aeróbio; desempenho e toxidade residual” Autora: Luciana Vechi de Carvalho Orientador: Edson Aparecido Abdul Nour Unidade: Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC)

Câncer bucal: estudo mostra importância de campanhas Autor de dissertação avaliou prontuários de um período de dez anos RAQUEL DO CARMO SANTOS kel@unicamp.br

Estudo conduzido pelo cirurgião-dentista José Ribamar Sabino revelou que as campanhas para detecção precoce de câncer bucal são fundamentais para prevenção do mal, responsável por elevados índices de morbidade e mortalidade no país. Estimativas apontam que o Brasil é um dos países com maior incidência de câncer bucal no mundo, sendo este o sexto tipo de tumor mais prevalente no país. Segundo o autor da pesquisa de mestrado apresentada na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), apesar dos avanços científicos, não houve melhora na sobrevida destes pacientes. “A não realização do diagnóstico em estágios iniciais é o principal fator que limita o tratamento e consequentemente o prognóstico”, destaca. Sabino, orientado pelo professor Márcio Ajudarte Lopes, da Área de Semiologia, comparou a campanha realizada pelo Ministério da Saúde, denominada Campanha de Prevenção e Detecção Precoce do Câncer Bucal – desenvolvida em conjunto com a Campanha Nacional de Vacinação contra Gripe – com um programa desenvolvido pela FOP intitulado Busca Ativa de Lesões Bucais, Lesões Malignas e Potencialmente Malignas da Cavidade Bucal. Ainda que o programa da FOP tenha sido mais eficiente na detecção do câncer bucal, as duas campanhas mostraram resultados importantes para o diagnóstico de inúmeras lesões benignas, sendo que ambas contribuíram para a promoção da saúde bucal na região. O pesquisador avaliou os prontuários de um período de dez anos (2001-2010) dos pa-

O cirurgião-dentista José Ribamar Sabino: “As duas estratégias foram capazes de diagnosticar inúmeras outras lesões”

cientes que foram encaminhados ao Orocentro da FOP, um serviço especializado em diagnóstico e tratamento de lesões bucais. Os pacientes apresentavam lesões detectadas nas campanhas de prevenção e detecção do câncer bucal do Ministério da Saúde, realizadas em Piracicaba e cidades da região. Os prontuários dos pacientes atendidos por meio do projeto desenvolvido pela FOP num período de dois anos (20092011) também foram analisados. O número de pacientes com confirmação do diagnóstico de lesões malignas foi maior na campanha Busca Ativa, na qual os pacientes com maior risco de desenvolver câncer bucal foram recrutados para exame. “Mas é importante frisar que as duas estratégias foram capazes de diagnosticar inúmeras outras lesões, principal-

mente, as lesões traumáticas relacionadas ao uso de próteses”, revela. José Sabino lembra que o câncer bucal ocorre mais frequentemente em homens, principalmente com mais de 40 anos de idade. O fumo, combinado com o excesso de bebida alcoólica, são os principais fatores de risco. Afeta mais comumente língua e assoalho bucal. Câncer de lábio inferior é considerado separadamente e exposição solar é a causa principal. Neste sentido, a Organização Mundial de Saúde reconhece que a prevenção e detecção precoce são os principais objetivos para melhorar o controle do câncer bucal. Assim, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado são a chave para reduzir a mortalidade pela doença. O professor Márcio Lopes explica que o pro-

jeto de rastreamento, denominado Busca Ativa de Lesões Bucais, Lesões Malignas e Potencialmente Malignas, realiza um monitoramento mensal em quatro Postos de Saúde da Família de Piracicaba, nos bairros Paineiras, Jardim Itapuã, Santa Rosa e Vila Industrial. Trata-se de um projeto-piloto e tem como objetivo detectar lesões bucais em pacientes com idade acima dos 40 anos e com o hábito de fumar e/ou consumir bebidas alcoólicas, ou seja, justamente o grupo de risco da doença. O professor esclarece que um programa com estas características surgiu depois da experiência com a campanha de prevenção, organizada pelo Ministério da Saúde. De acordo com Márcio Lopes, o diferencial do programa está em alcançar a população de maior risco que não estaria sendo contemplada. Em geral, nestas campanhas são examinadas principalmente mulheres com mais de 60 anos de idade e que não têm hábito de fumar ou consumir bebidas alcoólicas. “Por isso, a campanha da FOP apresenta resultados mais eficientes, pois examina pessoas acima de 40 anos com os hábitos nocivos”, define.

Publicação Dissertação: “Análise comparativa entre os resultados de campanhas de prevenção e busca ativa de câncer bucal” Autor: José Ribamar Sabino Orientador: Márcio Ajudarte Lopes Unidade: Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP)


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Campinas, 24 a 30 de setembro de 2012 Foto: Divulgação

Um novo lugar para o português? Estudo analisa ações que fomentam a difusão internacional da língua

Leandro Rodrigues Alves Diniz, autor da tese: “A promoção de uma língua no exterior não pode ser dissociada de interesses políticos, econômicos e simbólicos”

CARMO GALLO NETTO carmo@reitoriaunicamp.br

uais as principais ações do Estado brasileiro para a divulgação do português no exterior? De que maneira funciona essa política? Tese de doutorado defendida no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp analisa as ações do Ministério das Relações Exteriores (MRE), o Itamaraty, para a promoção internacional do português. O autor, Leandro Rodrigues Alves Diniz, é professor visitante na Universidade Federal da Integração LatinoAmericana (Unila), em Foz do Iguaçu, onde ministra disciplinas de linguística e de português para falantes de outras línguas. Sua tese focalizou, especificamente, as iniciativas da Divisão de Promoção da Língua Portuguesa (DPLP), que, subordinada ao Itamaraty, atua em mais de 40 países por intermédio da Rede Brasileira de Ensino no Exterior (RBEx), de que fazem parte os Centros Culturais Brasileiros, os Institutos Culturais Bilaterais e os leitorados. Os dois primeiros são instituições encarregadas do ensino do português e da difusão da literatura e de outras expressões artísticas no exterior, enquanto os leitorados são um programa por meio do qual se enviam professores brasileiros para ministrar aulas de português, cultura e literatura brasileiras em universidades estrangeiras. O estudo teve como referencial teórico-metodológico um campo de conhecimento interdisciplinar, fundado na França na década de 80, e que se consolidou no Brasil com o nome de História das Ideias Linguísticas. Os estudos brasileiros nesse campo, que estabelecem um forte diálogo com a análise do discurso materialista, concebem a história da produção e circulação de um saber metalinguístico como indissociável da história da construção da língua nacional brasileira. Nessa perspectiva, afirma Leandro, “o político é estruturante do funcionamento de toda língua, assim como das formas que assumem os saberes metalinguísticos produzidos ao longo da história”. A pesquisa, que contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), foi orientada pela professora Mónica Graciela Zoppi-Fontana e coorientada pela professora Matilde Virginia Ricardi Scaramucci. Parte dela foi realizada na Université Sorbonne Nouvelle, por meio de bolsa sanduíche concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O estudo se inscreve no espaço aberto por dois projetos apoiados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e coordenados pela professora Mónica: “A língua brasileira no Mercosul: Instrumentalização da língua nacional brasileira em espaços de enunciação ampliados” (2004/2008) e “O dis-

curso político sobre a língua no Brasil a partir dos anos 90” (2008/2011). A tese de doutorado em questão dá continuidade à pesquisa de mestrado do autor, defendida na Unicamp em 2008, intitulada “Mercado de línguas: a instrumentalização brasileira do português como língua estrangeira”, e publicada em livro pela editora RG, com apoio da Fapesp. Para realizar sua pesquisa, Leandro Diniz analisou textos jurídicos e jornalísticos, documentos do arquivo do MRE em Brasília e entrevistas que realizou com profissionais envolvidos na política em questão. O autor observa um notável recrudescimento da política linguística exterior brasileira nos últimos anos, o que se deve, em partes, ao fortalecimento de processos discursivos por meio dos quais algumas línguas passam a ser significadas como “bens de mercado”, em que valeria a pena “investir” para ter sucesso no “mundo globalizado”. Para o autor, o português, especificamente, o brasileiro, tem sido representado, muitas vezes, como uma “língua do mundo da comunicação”, “da troca comercial”, na esteira de mudanças no imaginário do Brasil no exterior, o que impulsiona sua aprendizagem por falantes de outras línguas e a política do Itamaraty para atender a essa demanda. Mas o fortalecimento das ações do Estado brasileiro para a promoção do português no exterior também é consequência, segundo o pesquisador, de um reposicionamento do Brasil no cenário geopolítico internacional. “É possível observar a formulação de um novo lugar para o português, que passa a ser encarado como um instrumento de penetração estratégica do Estado brasileiro para além de suas fronteiras”, afirma o autor.

“MERCANTILIZAÇÃO” Leandro ressalta, porém, que, apesar do fortalecimento da política linguística exterior brasileira, as iniciativas para a promoção internacional do português são, em geral, qualificadas como parte de uma mera política cultural. Além de ser um elemento-chave no processo discursivo de “mercantilização” do português, esse “apelo” à cultura apaga interesses do Estado brasileiro. Apesar desse silenciamento, é possível identificar vestígios das relações entre a política linguística exterior brasileira e a política do MRE. “Partindo da hipótese de que a política linguística exterior estaria subordinada à politica externa do Estado, conforme propõe a pesquisadora argentina Lía Varela, averiguamos se mudanças na configuração da Rede Brasileira de Ensino no Exterior (RBEx) derivariam, em certo grau, de modificações na política exterior do país. E, de fato, encontramos várias evidências dessa relação”. Uma delas, segundo o autor, é a ex-

pansão dessa rede na África nos últimos anos: em um único ano – o de 2008 -, foram fundados Centros Culturais Brasileiros em quatro países africanos. Trata-se, na perspectiva do autor, de um reflexo do maior investimento nas relações do Brasil com a África, a partir do governo Lula. Leandro também constatou uma recente expansão da RBEx na América Central e na Ásia. “É interessante, por exemplo, que, em 2008, num momento em que o Brasil reforçava sua presença militar no Haiti, tenha sido aberto um Centro Cultural em Porto Príncipe, ou que leitorados tenham sido recentemente criados na China, país com o qual o Brasil vem fortalecendo intercâmbios comerciais”. Analisando fatos como esse, Diniz conclui: “A promoção de uma língua no exterior por meio de iniciativas estatais não pode ser dissociada de interesses políticos, econômicos e simbólicos. Nesse sentido, é esperado que as políticas linguísticas exteriores tragam à tona litígios entre diferentes Estados”. Conforme entrevistas realizadas durante a pesquisa, o Itamaraty enfrenta, por vezes, dificuldades para criar leitorados em universidades onde o Instituto Camões, principal órgão responsável pela política linguística portuguesa, está presente. “Por vezes, quando se fala de ‘culturas lusófonas’ em departamentos onde atuam professores portugueses, abrangem-se aspectos linguísticos, literários e culturais de países como Angola e Moçambique, mas se exclui o Brasil. ‘Lusófono’ seria, portanto, aquilo que se considera à margem, de forma que o Brasil, país que disputa com Portugal o centro da chamada ‘lusofonia’, não é, segundo alguns relatos a que tivemos acesso, contemplado nas atividades desenvolvidas em alguns leitorados portugueses”, afirma Leandro. Por outro lado, o autor ressalta: “Não se trata de pensar o Brasil como uma ‘vítima’ de uma política linguística em que ainda ressoam discursos que significam Portugal como o país que, legitimamente, ocupa o centro da chamada ‘lusofonia’”. Leandro exemplifica: alguns autores brasileiros argumentam que Portugal age com prepotência colonial, mas, por outro, reproduzem discursos segundo os quais cabe ao Brasil gerir a promoção dessa língua no exterior, não restando a Portugal outra opção senão seguir-lhe os passos. Nesse sentido, “a institucionalização brasileira do português como língua estrangeira evidencia não apenas de um movimento de descolonização linguística, mas inclusive de uma colonização linguística às avessas”, argumenta Leandro, retomando conceitos desenvolvidos por Eni Orlandi e Mónica Zoppi-Fontana. Outro indício desse processo discursivo, conforme o autor, é o fato de que o português brasileiro, historicamente estigmatizado enquanto língua “desviante” e “errada”, em oposição à língua “pura” de Portugal,

torna-se motivo de “orgulho”. “Em nosso corpus de pesquisa, o português brasileiro aparece caracterizado como mais bem pronunciado do que o europeu, sendo essa, supostamente, uma das razões pelas quais aquele seria mais adequado à internacionalização do que este”, prossegue Leandro. O autor finaliza sua tese discutindo a proposta de criação do Instituto Machado de Assis (IMA), lançada em 2005, mas ainda não implementada. A missão desse instituto, em linhas gerais, seria a de formular e coordenar as políticas de promoção da língua portuguesa no Brasil e no mundo. Na perspectiva do autor, a dificuldade de se criar efetivamente o IMA diz respeito não apenas a entraves institucionais, mas também a equívocos constitutivos da política linguística exterior brasileira. Nesse sentido, o autor se questiona: “Como criar uma estrutura brasileira centralizadora das ações para a promoção do português, se as políticas linguísticas exteriores fazem ressoar discursos (neo) colonizadores, e se a fundação do IMA poderia ser interpretada como uma evidência de pretensões imperialistas por parte do Brasil? De que forma promover a língua portuguesa em certos espaços, como em países africanos marcados por políticas colonialistas de Portugal até meados do século XX? A fundação do IMA não representaria uma opção por uma política unilateral de difusão da língua portuguesa, num momento em que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa começa a levar a cabo suas primeiras ações de política linguística?” Em resumo, afirma Leandro Diniz: “Analisar a política do Estado brasileiro para a promoção internacional do português implica adentrar para a complexa trama discursiva que, sustentada em processos históricos-ideológicos contraditórios de colonização e descolonização linguística, intervém na relação entre a língua (trans)nacional brasileira e as outras línguas presentes em espaços em constante reconfiguração pelos movimentos de ‘globalização’ contemporâneos”.

Publicação Tese: “Política linguística do Estado brasileiro na contemporaneidade: a institucionalização de mecanismos de promoção da língua nacional no exterior” Autor: Leandro Rodrigues Alves Diniz Orientadora: Mónica Graciela Zoppi-Fontana Coorientadora: Matilde Virginia Ricardi Scaramucci Unidade: Instituto de Estudos da Linguagem (IEL)


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Campinas, 24 a 30 de setembro de 2012

Painel da semana  Exposição de Sandro Levy Casotti – Quando o médico veterinário Sandro Levy Casotti resolve pegar um pincel e utilizar tintas multicoloridas em uma tela, ele chama a atenção pelo caráter ecológico das obras que constrói. Em pouco tempo, o “pano”, que em princípio se apresenta na cor branca, ganha cores e tonalidades vibrantes e intensas. Este é o lado artista do médico-veterinário que adora os animais. E é com o vai e vem do pincel que ele se concentra na imagem a ser construída. Sua obra ganha evidência quando ele utiliza as cores verde, azul e vermelha. Em pouco tempo, o médico-artista está diante de sua criação: um tucano. Ave da família Ramphastidae, que vive nas florestas das Américas Central e do Sul. Alguns exemplares da espécie costumam ser avistados nas árvores frutíferas do campus da Unicamp. O Tucano e outras aves estão retratados pelo artista Casotti em sua exposição “Avis Brasilis”, mostra de aves tropicais brasileiras, que poderá ser visitada pelo público, de 24 de setembro até 5 de outubro, na Galeria do Espaço Cultural Casa do Lago. A entrada é franca.  Aulas abertas em agroecologia – No dia 24 de setembro, a Rede de Agroecologia da Unicamp (RAU) realiza mais uma edição do projeto “Aulas Abertas em Agroecologia”. Na ocasião, a professora Emma Siliprandi, do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação (Nepa), aborda o tema “Mulheres construindo experiências agroecológicas”. O evento ocorre às 9 horas, na Sala de Congregação do Instituto de Biologia (IB) e é aberto ao público. A próxima aula do Projeto ocorre em 25 de setembro com o professor Fernando Lourenço, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Aborda: “Expropriação e Dominação Simbólica do Campesinato”. A palestra será às 14 horas, no Auditório do IFCH. O projeto “Aulas Abertas em Agroecologia” é realizado por meio de parceria entre a Rede de Agroecologia da Unicamp e o Programa de Extensão em Agroecologia da Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac). Site do evento:www.cisguanabara. unicamp.br/rededeagroecologiadaunicamp  Festival do Instituto de Artes – O Festival do Instituto de Artes (Feia) tem mais uma edição no dia 24 de setembro, às 9 horas, no Instituto de Artes (IA) da Unicamp. O evento traz o que já virou tradição em treze anos de festival: oficinas, palestras, apresentações, mostras e shows integrando todos os campos artísticos - literatura, artes plásticas, audiovisual, música e artes cênicas e dança. Será uma semana de atividades gratuitas e abertas a todos. A programação completa pode ser acessada no site www.feia.art.br. A oganização é dos alunos do Instituto de Artes (IA) e do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). Mais detalhes com Bruna Scorsatto. Telefone: 9385-8067 ou e-mail bscorsatto@feia.art.br  Conferência com Marko Monteiro – O Laboratório de Estudos (Labeurb) organiza uma conferência com o professor Marko Monteiro (IG/MDCC-Labjor) no dia 24 de setembro, às 14 horas. Ele aborda o tema “Corpo e (bio)tecnologia: apontamentos sócioantropológicos”. O evento ocorre no auditório do Labeurb (Rua Caio Graco, 70), no campus da Unicamp em Campinas. Mais informações: evenlabe@unicamp.br  Semana de Geografia – A oitava edição da Semana de Geografia da Unicamp aborda o instigante tema “Brasil, sexta economia do mundo: aonde queremos chegar?”. A programação que inclui mesas-redondas, apresentação de trabalhos, minicursos e trabalhos e campo terá início com a conferência “A nova morfologia do trabalho: crise e alternativas”, do professor Ricardo Antunes (IFCH). O evento ocorre no dia 24 de setembro, às 19 horas, no auditório da Faculdade de Engenharia Civil, Arquiteura e Urbanismo (FEC). Organizador: Centro Acadêmico de Geografia e Ciências da Terra (CACT). Mais informações no site do evento www.ige.unicamp. br/cact/semana ou telefone 19-9198-3302.

 Fórum Permanente de Esporte e Saúde – Com o tema “Processo de Enfermagem na Atenção Básica e na Urgência e Emergência”, no dia 25 de setembro, às 9 horas, no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), acontece mais uma edição do Fórum Permanente de Esporte e Saúde. Mais informações na página eletrônica http://www.unicamp. br/unicamp/eventos/2012/09/10/forum-permanente-de-esporte-e-saude ou telefone 19-3521-4759.  Qualidade da água na produção orgânica – Encontro sobre qualidade da água na produção orgânica será realizado no dia 26 de setembro, a partir da 12h30, no Cis-Guanabara, com inscrições gratuitas. O CIS-Guanabara fica na rua Mário Siqueira 829, no bairro do Botafogo, em Campinas. A organização é da Rede de Agroecologia da Unicamp (RAU).  De Saussure à neurociência da linguagem – O Núcleo de Estudos em Gramática Formal, Mudança e Aquisição (ForMA) organiza no dia 26 de setembro, às 13 horas, na sala CL-14 do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), uma palestra com o professor Marcelo Modesto (USP). Aborda: “De Saussure à neurociência da linguagem”. Mais informações: 19-3521-1520.  GGBS e AFPU homenageiam secretários – O Grupo Gestor de Benefícios Sociais (GGBS) e a Agência de Formação Profissional da Unicamp (AFPU) realizam uma homenagem especial a todos os funcionários que exercem atividades secretariais na universidade. O evento ocorre no dia 27 de setembro, às 9 horas, no auditório 5 da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.  Palestras da Cori – A Coordenadoria de Relações Institucionais e Internacionais (Cori) organiza no dia 27 de setembro, das 15 às 20 horas, no Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (Imecc), uma série de palestras com o tema “Ciência sem Fronteiras: estudar e pesquisar na Alemanha”. Os próreitores de Graduação e de Pós-graduação da Unicamp participam do evento. Mais informações: 19-3521-6739.  Implante Coclear – O I Workshop Advanced Bionics Unicamp de Implante Coclear ocorre no dia 28 de setembro, às 8 horas, no Hospital das Clínicas (HC) da Unicamp. O evento contará com a participação internacional de Peter S. Ronald, professor da Universidade do Texas, entre outros especialistas brasileiros sobre o assunto. Público-alvo: médicos otorrinolaringologistas com interesse em implante coclear. Mais detalhes: 19-3521-7523.  Novas mídias e o ensino superior – Com o tema “Novas mídias e o ensino superior”, no dia 28 de setembro, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp, acontece mais uma edição do Fórum Permanente de Ensino Superior. A organização é da Pró-reitoria de Pós-graduação (PRPG). Inscrições, programação e outras informações no link http://foruns.bc.unicamp.br/ foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/ superior06.html ou telefone 19-3521-4759  Novas epistemologias, ensino de língua e tecnologia – A I Jelt, Jornada de Ensino de Língua e Tecnologia, será realizada no dia 28 de setembro, das 9h30 às 17h30, no auditório do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). Tem como tema Novas Epistemologias, Ensino de Lingua e Tecnologia. Inscrições no site www.cel.unicamp.br. A jornada é organizada pelo Departamento de Linguística Aplicada do IEL. Mais informações com Carmem Lucia, teledone 19-35211520, e-mail eventos@iel.unicamp.br.  Pós-graduação em Demografia – O Núcleo de Estudos de População (Nepo) e o Departamento Demografia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) recebem as inscrições para o Programa de Pós-graduação em Demografia da Unicamp (mestrado e doutorado). Elas podem ser feitas até 28 de setembro. Mais detalhes no link - http://www. ifch.unicamp.br/pos/dm/selecao/2012/edital_2013.pdf  Materiais metaestáveis e nanoestruturados – A Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp realiza o “Nanomat 2012”, quinta conferência latino-americana sobre materiais metaestáveis e nanoestruturados, entre os dias 30 de setembro e 2 de outubro, na cidade de São Carlos-SP. Seguindo a tradição dos eventos anteriores (a última edição foi realizada na Cidade do México em 2009), será uma conferência internacional de alto nível que reunirá renomados especialistas mundiais, interessados nos desenvolvimentos recentes, experimentais e teóricos, na área de materiais metaestáveis e nanoestruturados. Prevê-se a participação de grande número de pesquisadores de instituições nacionais e internacionais, visando o intercâmbio científico e tecnológico entre a comunidade de cientistas, estudantes, engenheiros e técnicos do Brasil e exterior, que trabalham nesta área de conhecimento. O evento é realizado em parceria com a Universidade Federal de São Carlos (UFScar).  Simpósio de Inovação Tecnológica na Educação – Gestores, diretores, coordenadores da rede de ensino, pesquisadores e profissionais que trabalham com tecnologias digitais aplicadas na Educação têm até o dia 30 de setembro para submeterem trabalhos a serem apresentados no I Simpósio de Inovação Tecnológica na Educação. Promovido pelo Laboratório de Inovação Tecnológica Aplicada na Educação (Lantec) da Faculdade de Educação (FE), o evento ocorre nos dias

8 e 9 de novembro, na FE. Abertura será às 9 horas. O simpósio objetiva discutir, disseminar, trocar informações e apresentar soluções de inovação tecnológica visando aplicações na área da Educação. Objetiva também sistematizar a fundamentação teórica e metodológica em busca de novos rumos para aplicações da tecnologia digital móvel interativa, nas escolas, sobretudo a multimídia interativa. Mais informações podem ser obtidas na página eletrônica do evento: http://lantec. fae.unicamp.br/inova2012/  Revista PROA – A PROA, revista virtual vinculada ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, e pioneira no país em abrigar diálogos entre as artes e as ciências sociais, está recebendo contribuições para seu quarto número, com publicação prevista para o final de 2012/início de 2013. Serão recebidos artigos inéditos, resenhas, propostas de tradução, relatos de experiências e entrevistas pertinentes às seguintes áreas e temáticas: antropologia da arte, etnomusicologia, antropologia visual, sociologia da cultura, políticas culturais, patrimônio cultural material e imaterial, ritual, performance e suas dimensões estéticas, história social e cultural da arte, práticas artísticas contemporâneas. Aceitam-se contribuições em português, espanhol, francês e inglês. Textos e propostas devem ser encaminhados para contato@ revistaproa.com.br, até o dia 30 de setembro de 2012, no formato indicado em http://www.revistaproa.com. br/03/?page_id=491.  Música no Campus-O projeto “Música no Campus” apresenta, no dia 29, a partir das 16 horas, no gramado do Instituto de Biologia, “Homenagem a Chiquinha Gonzaga”, com a Berra Banda e os convidados Tatiana Ubinha, Chris Cardoso, Paulo Dalgarrondo, Rilk Roger e Joel da Tuba.

Teses Dia 17  Educação - “Avaliação Institucional no Ensino Fundamental: a participação dos estudantes” (doutorado). Candidata: Maria Simone Ferraz Pereira. Orientadora: professora Mara Regina Lemes de Sordi. Dia 17 de setembro de 2012, às 14 horas, na Faculdade de Educação.  Engenharia Elétrica e de Computação “Escalonamento dinâmico de tensão e frequência em multiprocessadores para aplicações com especificação de qualidade por taxa mínima de processamento de entradas” (mestrado). Candidato: Pedro Carlos Fazolino Pepe. Orientadora: professora Alice Maria Bastos H. Tokarnia. Dia 17 de setembro de 2012, às 9 horas, na Pós-graduação da FEEC.  Engenharia Mecânica - “Estudos experimentais de uma bomba de sangue centrífuga implantável ápice ventricular para assistência cardíaca” (mestrado). Candidato: Bruno Utiyama da Silva. Orientador: professor Carlos Kenichi Suzuki. Dia 17 de setembro de 2012, às 10 horas, na sala de seminários ID02 da FEM.  Química - “Identificação de processos e controle preditivo com modelo utilizando técnicas de inteligência artificial aplicadas à produção de bioetanol” (doutorado). Candidato: Edwin Guido Boza Condorena. Orientadora: professora Aline Carvalho da Costa. Dia 17 de setembro de 2012, às 14 horas, na sala de defesa de tese do Bloco “D” da FEQ.  Estudos da Linguagem - “Lalangue, erro e lapso: o falante entre a língua materna e as línguas outras” (doutorado). Candidata: Maria Victória Guinle Vivacqua. Orientador: professor Maria Fausta Cajahyba Pereira de Castro. Dia 17 de setembro de 2012, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. Dia 18  Engenharia Elétrica e de Computação - “Análise de estabilidade e estruturas lagrangianas coerentes em sistemas dinâmicos não suaves: aspectos teóricos e práticos” (doutorado). Candidato: Filipe Ieda Fazanaro. Orientador: professor José Raimundo de Oliveira. Dia 18 de setembro de 2012, às 14 horas, na FEEC.  Engenharia Mecânica - “Propostas para a construção da matriz de energia elétrica brasileira com foco na sustentabilidade do processo de expansão da oferta e segurança no suprimento da carga” (doutorado). Candidato: Mauricio Dester. Orientador: professor Sérgio Valdir Bajay. Dia 18 de setembro de 2012, às 14 horas, na sala de seminários ID2 da FEM.  Química - “Combinação de técnicas para a determinação de espécies de selênio” (doutorado). Candidata: Elidiane Gomes da Silva. Orientador: professor Marco Aurélio Zezzi Arruda. Dia 18 de setembro de 2012, às 14 horas, na sala IQ-14. - “Quitosana modificada quimicamente como agente na remoção de metais e corantes e liberação controlada de fármacos” (doutorado). Candidata: Adriana Pires Vieira. Orientador: professor Claudio Airoldi. Dia 18 de setembro 2012, às 14 horas, no miniauditório do IQ. Dia 19  Ciências Médicas - “Amplitude de movimento do ombro, complicações pós-operatórias e qualidade de vida de mulheres submetidas a mastectomia e reconstrução mamária imediata” (doutorado). Candidata: Riza Rute de Oliveira. Orientador: professor Luis Otávio Zanatta Sarian. Dia 19 de setembro de

2012, às 14 horas, no anfiteatro da CPG da FCM. DIA 20  Ciências Médicas - “Investigação do papel do óxido nítrico e de Rho-GTPases na adesão de neutrófilos sob condições inflamatórias” (mestrado). Candidata: Angélica Aparecida Antoniellis Silveira. Orientador: professor Nicola Amanda Conran Zorzetto. Dia 20 de setembro de 2012, às 9 horas, no anfiteatro do Hemocentro.  Matemática, Estatística e Computação Científica - “A propriedade de aproximação em espaços de funções holomorfas em domínios de Riemann” (doutorado). Candidato: Nelson Dantas Louza Júnior. Orientador: professor Jorge Tulio Mujica Ascui. Dia 20 de setembro de 2012, às 10 horas, na sala 253 do IMECC. DIA 21  Engenharia Elétrica e de Computação - “Geração de dados de teste orientada à diversidade com o uso de meta-heurísticas” (doutorado). Candidato: Paulo Marcos Siqueira Bueno. Orientador: professor Mario Jino. Dia 21 de setembro de 2012, às 9 horas, na sala de defesa de teses da FEEC.  Estudos da Linguagem - “O prompting e suas funções linguístico-interacionais nas afasias” (doutorado). Candidata: Júlia da Silva Marinho. Orientadora: professora Edwiges Maria Morato. Dia 21 de setembro de 2012, às 9 horas, na sala de defesa de teses do IEL. DIA 22  Ciências Médicas - “Estudo comparativo entre cloridrato de oxibutinina e onabotulinumtoxina em pacientes portadores de lesão medular com hiperatividade do detrusor: avaliação urodinâmica e qualidade de vida” (doutorado). Candidato: Rúiter Silva Ferreira. Orientador: professor Carlos D’Ancona. Dia 22 de setembro de 2012, às 9h30, no anfiteatro da Comissão de Pós-graduação da FCM. DIA 24  Engenharia Elétrica e de Computação - “Sistema de transcrição da língua brasileira de sinais voltado à produção de conteúdo sinalizado por avatares 3D” (doutorado). Candidato: Wanessa Machado do Amaral. Orientador: professor José Mario de Martino. Dia 24 de setembro de 2012, às 9 horas, na FEEC. DIA 25  Estudos da Linguagem - “Aspectos tipológicos na formação de palavras em um grupo de línguas da família pano” (mestrado). Candidato: Raphael Augusto Oliveira Barbosa. Orientador: professor Angel Humberto Corbera Mori. Dia 25 de setembro de 2012, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL.  Química - “Estudo da hidrólise alcalina de poliacrilonitrila e seu emprego na preparação de membranas” (mestrado). Candidato: Pedro Martins de Almeida Rollo. Orientador: professor André Luiz Barboza Formiga. Dia 25 de setembro de 2012, às 14 horas, no miniauditório do IQ. DIA 26  Engenharia Elétrica e de Computação - “Contribuições para segmentação e análise de características de imagens de alta resolução da retina humana” (mestrado). Candidata: Angélica Moises Arthur. Orientador: professor Yuzo Iano. Dia 26 de setembro de 2012, às 10 horas, na sala de defesa do prédio da CPG da FEEC.  Computação - “Protocolos criptográficos de identificação baseados em reticulados” (mestrado). Candidata: Izumi Oniki Chiquito. Orientador: professor Ricardo Dahab. Dia 26 de setembro de 2012, às 14 horas, na sala 85 do Prédio IC 02. DIA 26  Filosofia e Ciências Humanas - “Enfrentando o inimigo com as suas próprias armas: a presença e a importância das Escrituras na argumentação de Thomas Hobbes” (doutorado). Candidato: Isaar Soares de Carvalho. Orientador: professor João Carlos Kfouri Quartim de Moraes. Dia 26 de setembro de 2012, às 14 horas, no IFCH. DIA 27  Química - “Simulação trifásica por técnicas de CFD da combustão de carvão mineral em leito fluidizado circulante” (doutorado). Candidato: Maximilian Joachim Hodapp. Orientador: professor Milton Mori. Dia 27 de setembro de 2012, às 14 horas, na sala de extensão 7 do Bloco “E” da FEQ.  Computação - “Escalonamento de workflows para provedores de SaaS/PaaS considerando dois níveis de SLA” (mestrado). Candidato: Thiago Augusto Lopes Genez. Orientador: professor Edmundo Roberto Mauro Madeira. Dia 27 de setembro de 2012, às 13h30, no auditório IC 2, Sala 85.  Estudos da Linguagem -“Considerações sobre Malone Meurt no contexto do romance francês” (mestrado). Candidato: Renan Salmistraro. Orientador: professor Eric Mitchell Sabinson. Dia 27 de setembro de 2012, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. DIA 28  Engenharia Elétrica e de Computação - “Aspectos da implementação de espectros de velocidade de alta resolução baseados em decomposição espectral” (mestrado). Candidato: Tiago Tavares Leite Barros. Orientador: professor Renato da Rocha Lopes. Dia 28 de setembro de 2012, às 10 horas, na sala PE12 do prédio da PG da FEEC, andar térreo.

Livro

da semana

Um saber necessário: os estudos rurais no Brasil Autora: Maria de Nazareth Baudel Wanderley Ficha técnica: 1a edição, 2011; 152 páginas; formato 14 x 21 cm; ISBN: 978-85-268-0957-4 Área de interesse: Sociologia Preço: R$ 32,00 Sinopse: Trata-se de uma obra de balanço bibliográfico da produção acadêmica dos temas rurais brasileiros nas últimas décadas. Nesse percurso, a autora descreve o ambiente intelectual em que as principais reflexões ocorreram, como centros de pesquisa, estudos, associações e encontros acadêmicos existentes em vários momentos dos períodos históricos tratados. Ao privilegiar o recorte temático e não o cronológico, a obra adquire uma relevância específica, posto que os temas não surgem abstratamente, mas estão inseridos nos contextos históricos da acumulação do capital e da estruturação das relações sociais no campo. A forma didática e clara da exposição alia-se aos rigores do conteúdo analítico. Sem sombra de dúvida, um saber necessário aos estudiosos do campo e da cidade, aos integrantes de movimentos sociais e aos que almejam um mundo sem injustiças sociais. (Maria Aparecida de Moraes Silva) Autora: Maria de Nazareth Baudel Wanderley é doutora em sociologia pela Universidade de Paris X–Nanterre, França. Foi professora da Unicamp até 1997, quando se aposentou. É coordenadora do Laboratório de Estudos Rurais do Nordeste, grupo de pesquisa vinculado ao Programa de PósGraduação em Sociologia, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e inscrito no Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq. Publicou, entre outros, O mundo rural como um espaço de vida (Editora da UFRGS, 2009). Em 2011, recebeu o prêmio Florestan Fernandes, concedido pela Sociedade Brasileira de Sociologia.  Computação - “Interfaces autoajustáveis em websites: contribuições em direção ao design para todos” (doutorado). Candidato: Vagner Figueredo de Santana. Orientadora: professora Maria Cecília Calani Baranauskas. Dia 28 de setembro de 2012, às 10 horas, na sala 85 do Prédio IC-02.  Matemática, Estatística e Computação Científica - “Modelagem matemática da resposta imunológica na co-infecção com Tripanossoma cruzi e HIV” (mestrado). Candidato: Luiz Fernando de Souza Freitas. Orientador: professor Hyun Mo Yang. Dia 28 de setembro de 2012, às 10 horas, na sala 253 do IMECC.  Química - “Avaliação do efeito de agentes antimicrobianos na inibição da agregação do peptídeo β-amilóide” (mestrado). Candidata: Paula Cristina Huber. Orientadora: professora Wanda Pereira Almeida. Dia 28 de setembro de 2012, às 9 horas, no miniauditório do IQ.

DESTAQUES do Portal da Unicamp

Vestibular tem número recorde de inscrições A Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (Comvest) recebeu um número recorde de inscrições para o Vestibular Unicamp 2013 e ultrapassou a marca de 67 mil candidatos, tendo registrado 67.403 inscritos. É o quarto ano consecutivo que a Unicamp registra crescimento do número de candidatos. Nos dois últimos processos (2011 e 2012), o Vestibular Unicamp havia registrado recorde de inscritos, com 55.484 e 61.509 candidatos, respectivamente. No Vestibular Unicamp 2013, os mais de 67 mil candidatos disputarão 3.444 vagas distribuídas em 68 cursos da Unicamp e dois cursos da Famerp – Faculdade pública de Medicina e Enfermagem de São José do Rio Preto. A relação candidatos por vaga (c/v) geral subiu de 17,9 no vestibular passado para 19,6 nesta edição. A tabela completa está na página eletrônica da Comvest, assim como o total de inscritos por cidade de prova. Os locais de prova da primeira fase serão divulgados pela Comvest no dia 1 de novembro, também em sua página na internet. A primeira fase será realizada no dia 11 de novembro. Subiu em 17,9% o número de candidatos no Vestibular

Unicamp que fizeram todo o ensino médio na rede pública de ensino em comparação com o ano passado. Este ano, estão inscritos 19.868 candidatos da rede pública, o que representa 29,5% do total de inscritos no vestibular. No ano anterior, o índice foi de 27,4%. O Vestibular Unicamp dispõe do Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social da Unicamp (PAAIS), o primeiro programa de ação afirmativa sem uso de cotas para ingresso em uma universidade brasileira. Implantado a partir de 2004, o PAAIS prevê a concessão de 30 pontos adicionais à nota final para candidatos que fizeram todo o ensino médio em escolas da rede pública e outros 10 pontos a mais para aqueles que além de terem feito o ensino médio em escolas públicas, se autodeclararem pretos, pardos ou indígenas. Concorrência Entre os dez cursos mais concorridos, Medicina ocupa a primeira colocação, como ocorre desde que a Unicamp desenvolveu seu vestibular próprio, com 13.998 candidatos, resultando em 127,3 candidatos por vaga. Em seguida,

vêm as carreiras de Arquitetura e Urbanismo (97,1 c/v), Medicina na Famerp (72,0 c/v), Engenharia Civil (51,9 c/v), Engenharia Química – Integral (44,7 c/v), Comunicação Social e Midialogia (44,6 c/v), Ciências Biológicas – Integral (36,0 c/v), Engenharia de Produção 34,3 c/v), Geologia (31,1 c/v) e Engenharia Mecânica – Integral (26,1 c/v). A Comvest aplicará as provas do Vestibular Unicamp 2013 em 20 cidades do país: Bauru, Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Fortaleza, Jundiaí, Limeira, Mogi Guaçu, Piracicaba, Ribeirão Preto, Salvador, Santo André, Santos, São Bernardo do Campo, São Carlos, São José do Rio Preto, São José dos Campos, São Paulo, Sorocaba e Sumaré. Datas A primeira fase será realizada em 11 de novembro de 2012. Dia 21 de dezembro a Comvest divulgará a lista dos que passaram para a segunda fase e os locais de prova. A segunda fase será realizada nos dias 13, 14 e 15 de janeiro de 2013. As provas de habilidades específicas, para os cursos de Arquitetura e Urbanismo, Artes Cêni-

cas, Artes Visuais, Dança e Música vão ser realizadas em Campinas entre os dias 21 e 24 de janeiro de 2013. A Chamada para Matrícula Virtual será divulgada dia 4 de fevereiro e os convocados nesta chamada deverão efetivar a Matrícula Virtual nos dia 5 ou 6 de fevereiro, exclusivamente na página eletrônica da Comvest, em formulário específico. O Vestibular Nacional Unicamp 2013 é composto de duas fases: na primeira fase, a prova tem duas partes, a Redação, em que o candidato será solicitado a produzir dois textos de gêneros diversos, todos de execução obrigatória, e a parte de Conhecimentos Gerais, com 48 questões de múltipla escolha, baseadas nos conteúdos das diversas áreas do conhecimento desenvolvidas no ensino médio. Na segunda fase, realizada em três dias consecutivos, todas as provas são de natureza discursiva, sendo: 1º dia – prova de Língua Portuguesa e de Literaturas da Língua Portuguesa e prova de Matemática; 2º dia – Prova de Ciências Humanas e Artes e prova de Língua Inglesa; 3º dia – prova de Ciências da Natureza. (Ricardo Adorno)


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Cremasco lança

livro didático Operações unitárias envolvendo sistemas particulados são tema da obra

O professor Marco Aurélio Cremasco: “Temos que mostrar aos nossos alunos que o Brasil tem condições de gerar ciência e tecnologia”

CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

ode parecer curioso que um engenheiro químico e professor universitário envolvido com o ensino de disciplinas técnicas dedique-se também com sucesso à literatura, publicando poemas, contos e romance e tenha até trabalhos premiados. Atuando no Departamento de Engenharia de Processos da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp, o docente Marco Aurélio Cremasco acaba de publicar pela Editora Blucher mais um livro didático. A obra, “Operações unitárias em sistemas particulados e fluidomecânicos”, cobre boa parte das ementas normalmente propostas para disciplinas dos cursos de engenharia química no Brasil que utilizam operações unitárias envolvendo sistemas particulados. Destinada tanto a cursos de graduação como de pós-graduação, pode ser utilizada ainda como material de apoio por profissionais das engenharias química, agrícola, de alimentos, de produção, mecânica, entre outros em variadas atividades. O trabalho resulta do amadurecimento adquirido pelo autor em 26 anos de docência e da sua experiência com textos de apostilas por ele elaboradas com o objetivo de subsidiar seus alunos na disciplina Operações Unitárias I, do curso de Engenharia Química da Unicamp. O texto incorpora também trocas de experiências com outros professores que lecionam a disciplina ou assemelhadas no Brasil e, além disso, menciona resultados decorrentes de trabalhos desenvolvidos por seus orientados na iniciação científica e na pós-graduação. Cremasco enfatiza a sua particular

preocupação e envolvimento com o ensino ao longo de sua atuação na Universidade: “Acredito que uma instituição de ensino superior é, antes de tudo, uma formadora de recursos humanos de qualidade. O livro foi elaborado com essa preocupação e nele procuro delinear um olhar para essa formação.” Essa filosofia, cultivada ao longo de quase três décadas, o leva a manifestar muita satisfação com o lançamento da publicação. Simultaneamente, ele procurou incorporar ao texto trabalhos desenvolvidos por seus colegas da mesma área de atuação no Brasil. “Temos que mostrar aos nossos alunos que o Brasil tem condições de gerar ciência e tecnologia”, diz. Em relação aos livros tradicionalmente utilizados pelas universidades brasileiras no ensino de disciplinas relacionadas a Operações Unitárias, o docente considera que hoje é necessário desenvolver não apenas a abordagem tecnológica, mas também apresentar os fundamentos científicos aplicados em tecnologia para, depois então, caminhar para os projetos. Instado a analisar as diferenças entre a obra ora lançada e suas duas outras anteriores, “Fundamentos de transferência de massa” (Editora da Unicamp, 1998) e “Vale a pena estudar engenharia química” (Editora Blucher, 2005), ele diz que estas duas vieram preencher uma lacuna, pois não existiam livros de autores brasileiros sobre os temas. Em relação ao tema abordado na obra agora lançada, Cremasco procurou estruturar o trabalho preocupado em estabelecer vínculos com a contemporaneidade, atrelando a ciência à tecnologia. Para o autor, as contribuições mais significativas do texto são a linguagem

conceitual mais próxima de todos os seus públicos, que envolve de certa forma uma padronização; o atendimento em geral das ementas das escolas de engenharia química do Brasil; e o resgate do que é estudado e desenvolvido na área no país. A obra se dedica a apresentar um conhecimento já sedimentado. O seu diferencial está na concepção e estrutura didática, na abordagem que adota, nas aplicações em grande parte ligadas à realidade nacional.

CONCEITOS O titulo do livro faz referência a três conceitos: operações unitárias, sistemas particulados e sistemas fluidomecânicos. Eles podem mais facilmente serem entendidos através da exposição do processo de tratamento da água destinada ao consumo. De forma bem simplificada, pode-se descrever esse tratamento de água por meio de algumas etapas principais: 1) sucção, através de bombas, da água bruta do rio ou represa para um reservatório, quando parte dos sólidos em suspensão já são previamente retidos por um dispositivo de contenção; 2) bombeamento da água bruta para um reservatório em que, sob agitação intensa, se adicionam agentes floculantes; 3) transporte da água para um floculador, que são tanques em que uma agitação suave facilita a aglutinação das partículas com vistas à posterior decantação; 4) transporte da água floculada para um decantador, em que ocorre a deposição dos aglomerados de partículas; 5) transporte da água clarificada através de um filtro capaz de reter as partículas menores ainda em suspensão; 6) transporte da água filtrada para um tanque para cloração e fluoração, que atuam como agentes antipatogênicos; e 7) sucção da água tratada

para um tanque de distribuição e bombeamento para a rede de distribuição. Este conjunto de atividades realizadas em sequência lógica, com o objetivo de produzir um bem de consumo, constitui um processo. Cada uma das etapas desse processo constitui uma operação unitária. No exemplo tomado podem ser identificadas etapas que caracterizam sistemas fluidomecânicos e particulados. São chamados de sistemas fluidomecânicos os formados por máquinas e dispositivos que têm a função de adicionar ou extrair energia que, no exemplo mencionado, são representados pelas bombas, sistemas de agitação. Já nos sistemas particulados procura-se entender a interação entre sólido-fluido e entre sólido-sólido, estando presentes ou não dispositivos fluidomecânicos. O livro estuda operações unitárias que envolvem o transporte de fluido (gás, vapor, líquido ou mistura deles), de sólidos, das misturas sólido e fluido e se atém também à interação física entre as partículas sólidas presentes. Apresenta os conceitos utilizados em cada tipo de operação unitária estudada e indica suas aplicações. Está dividido em duas partes: sistemas fluidomecânicos, abordados do segundo ao quinto capítulo, e sistemas particulados, tratados do sexto ao décimo quarto capítulo. Para Cremasco, “a proposta do livro é a de apresentar, de forma simultânea, a formulação básica dos fenômenos que aparecem nas operações unitárias relativas ao transporte de quantidade de movimento, como também a sua imediata aplicação tecnológica”. Para complementação do estudo, são apresentados, ao longo dos capítulos, exemplos resolvidos e ao final um conjunto de exercícios acompanhados dos resultados.

Da engenharia química à literatura Na área técnica, além de “Operações unitárias em sistemas particulados e fluidomecânicos”, o professor Marco Aurélio Cremasco tem duas obras publicadas. A primeira foi “Fundamentos de transferência de massa” (Editora Unicamp, Campinas, 1998), que resultou de notas de aulas acumuladas do longo de doze anos de experiência didática. Foi o primeiro livro publicado no Brasil dedicado ao tema e tornou-se obra de referência na área. A outra é “Vale a pena estudar engenharia química” (Blucher, São Paulo, 2005), que procura mostrar o alcance da engenharia química e como ela é importante no cotidiano

das pessoas. Obra também referenciada, desperta a atenção de estudantes do ensino médio interessados em engenharia química e daqueles que recém-ingressos nesse curso almejam adquirir uma visão geral do alcance da profissão. Da atividade literária do docente resultaram poemas, contos e romances. De poemas são os livros “Vampisales” (Editora da Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 1984), “Viola Caipira” (Edição do autor, Campinas, 1995), “A criação” (Cone Sul, São Paulo, 1997; Prêmio Xerox – Livro Aberto) e “fromIndiana” (Edição do autor, West Lafayete, EUA, 2000). No conto, ele teve publi-

cado “Histórias Prováveis” (Editora Record, Rio de Janeiro, 2007) e, no romance, “Santo Reis da Luz Divina” (Editora Record, Rio de Janeiro, 2004), vencedor do I Prêmio Sesc de Literatura e um dos finalistas do Prêmio Jabuti de 2005. Em 2010, Cremasco recebeu a Bolsa Funarte de Criação Literária para escrever o romance “Evangelho do Guayrá”, uma ficção histórica baseada na fundação das reduções jesuíticas da então Província Jesuítica do Paraguai. Embora não publicada, a obra concluída foi entregue à Funarte em julho de 2011, como parte de Relatório de Conclusão de Projeto.

Serviço Título: “Operações unitárias em sistemas particulados e fluidomecânicos” Autor: Marco Aurélio Cremasco Páginas: 424 Preço: R$ 109,00 Editora: Blucher


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Campinas, 24 a 30 de setembro de 2012

ARTISTAS DE FATO

composta por aborígines, também há funcionários brancos para o dia-a-dia administrativo, que inclui a contabilidade, a manutenção das mídias museu parisiense Musée du Quai e a organização de exposições. “Os centros de arte são um dos segredos do Branly, inaugurado em 2006 ao lado da Torre Eiffel, reúne obje- sucesso do sistema de arte aborígine australiatos de sociedades tradicionais na”, destaca a autora da tese. Eles estão implande todas as partes do mundo e tados em cerca de cem comunidades e recebem reserva um lugar de destaque à pintura aborí- trabalhos dos artistas que moram num raio de gine australiana. Além das peças que integram até 200 km, conforme apurou Ilana. As exportaa exposição permanente, várias partes do edifí- ções que chegam a diversos países também são cio – como o teto da livraria e uma das fachadas administradas pelos centros. Ilana visitou seis, – sofreram intervenções permanentes de oito mas dedicou mais tempo a dois deles, o Bukuartistas indígenas da Austrália. É assim que os Larrngay Mulka Centre, no povoado de Yirrkala, pintores aborígines são reconhecidos em seu extremo norte da Austrália, e o Warlukurlanpaís e fora dele: como artistas de fato. A obser- gu Artists Aboriginal Corporation, no Deserto vação é da antropóloga Ilana Seltzer Goldstein, Central, perto de Alice Springs. autora da tese de doutorado “Do ‘tempo dos so“O tipo de produção artística é muito difenhos’ à galeria: arte aborígine australiana como rente em cada um dos centros. Em Yirrkala se espaço de diálogos e tensões interculturais”. pinta com pigmentos naturais sobre entrecasCom o objetivo inicial de estudar o museu ca de árvore, numa gama de cores reduzida ao Branly, Ilana percebeu que a produção indígena preto, branco, ocre e vermelho, ao passo que, no Deserto Central, usa-se australiana contemporânea tinta acrílica sobre tela de se diferenciava pelo modo tecido, com uma paleta de como era concebida como mais de 200 cores”, explica arte e recebida pelo mercado. a antropóloga. Em ambos A curiosidade fez com que os casos, o faturamento dos mudasse o foco da pesquisa, centros gira em torno de 3 e fosse a campo investigar o milhões de dólares ao ano. chamado Sistema de Arte InNa pesquisa de campo, Ilana dígena da Austrália. também foi a museus públi“No período de quatro cos e galerias comerciais, fez meses em que fiquei na Ausentrevistas com curadores, trália, descobri um universo diretores de galerias e com inacreditável, ainda mais os próprios artistas. O levanpara alguém que, no Bratamento mostra que hoje há sil, está acostumado a ver cerca de 7 mil artistas aboobjetos indígenas vendidos rígines, de etnias e estilos como ‘artesanato’ e feitos diferentes. A antropóloga Ilana Seltzer Goldstein, em série, sem assinatura que ficou quatro meses na Austrália: No entanto, há uma cados artistas”, diz. Na tese, “Descobri um universo inacreditável” racterística comum: a origem Ilana desenvolve a ideia de que os australianos encontraram uma maneira de cada gesto do artista está em uma espécie de interessante de lidar com a questão indígena: tempo mítico comum: o “tempo dos sonhos” fomentando a sua produção artística de manei- ou, em inglês, “dreaming” a que a autora se refera organizada e autogerida, de forma a garan- re logo no título da tese. “A arte para eles é uma tir, a um só tempo, geração de renda para as atividade espiritual. Pintam histórias dos seus comunidades aborígines, transmissão de co- ancestrais e trechos de seus mitos. Cada grunhecimentos tradicionais e visibilidade junto à po, clã ou família tem suas próprias narrativas sobre como surgiu o homem, como foi criada a sociedade nacional. De acordo com Ilana, na Austrália a maioria paisagem, regras de comportamento e moral”, das galerias de arte vende pinturas aborígines ressalta. Por essa razão, os melhores artistas são junto com as obras de artistas contemporâneos também os mais velhos. brancos. Os mais importantes museus de arte exibem arte aborígine. Existem prêmios, bienais TRADIÇÃO IMPRESSA e editais específicos para arte indígena. Telas Transferir essas histórias para uma superaborígines são arrematadas em importantes ca- fície duradoura significa fixar a tradição oral, sas de leilão mundiais. “Houve uma tela que foi que estava se perdendo após o contato trauvendida por dois milhões de dólares, feita por mático com os brancos. “Isso é muito posium artista do deserto chamado Clifford Possum tivo. Eles estão registrando sua memória, de Tjapaltjarri. E a classe média australiana compra modo que as próximas gerações e os jovens arte indígena australiana. As pessoas gostam, brancos possam conhecer as culturas aborícolecionam.”, afirma. gines”. Antigamente, as pinturas eram feitas A consolidação desse mercado deve muito somente sobre o corpo, o chão ou as rochas. às políticas públicas. A partir dos anos 1970 o Agora, diz Ilana, as histórias aborígines pogoverno australiano começou a financiar a construção e o equipamento de centros de arte indígenas em todo país. Funcionando de forma autogerida, no formato de cooperativas, os centros de arte disponibilizam aos artistas locais material para pintura, revendem as obras no mercado externo, oferecem cursos e assessoria jurídica. Normalmente, além da diretoria

Fotos: Reprocução

PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br

Telas de Emily Kane Kngwarreye, artista já falecida e que começou a pintar aos 80 anos: obras no MoMa

Obras de Jimmy Donnegan, que ganhou o último Telstra Award, prêmio anual de arte indígena da Austrália

dem rodar o mundo. Mas o mundo só as reconhece, de acordo com Ilana, em razão de determinados fatores. “Por um lado, essas pinturas carregam ensinamentos milenares que lhes conferem força. Por outro lado, o estilo de muitas obras coincide com o nosso gosto moderno. Tem aborígine que, por puro acaso, pinta como Jackson Pollok, Paul Klee ou Mark Rothko. Além disso, os artistas conseguem perceber o que os colecionadores querem, o que os museus esperam – normalmente, sem abrir mão da coerência com sua própria cultura”. Embora o certificado de autenticidade que acompanha as obras costume apontar apenas um autor, várias gerações podem pintar juntas um mesmo quadro. A noção de autoria é flexível, pois os aborígines consideram que os mitos pertencem à coletividade. Da mesma forma, o dinheiro que conseguem com a venda das telas é dividido entre familiares, assim como a caça. A autora avalia que o aspecto de geração de renda é fundamental, uma vez que os povos indígenas da Austrália não vivem isolados, precisando de roupas e remédios. “Sem contar a importância de se ocuparem com atividades culturalmente significativas. Estudos de colegas australianos sugerem que o alcoolismo e o consumo de drogas entre aborígines se deve ao ócio e à perda de sentido nas atividades cotidianas”, observa. Os centros de arte assumem funções que vão muito além da arte. Sediam reuniões políticas, emprestam dinheiro, realizam campanhas de saúde pública. Há mesmo comunidades que estão construindo postos de hemodiálise com o dinheiro da venda da arte, pois um grande número de aborígines sofre

de problemas renais, de acordo com a antropóloga.

MEA CULPA

A história dos aborígines australianos é de resistência. Trata-se de um povo massacrado pelos colonizadores ingleses e discriminado pela população branca, reduzido a 2,5% da população do país. O governo australiano busca uma maneira de inclusão dos povos nativos, fomentando a sua produção artística, mas, assinala Ilana, não se pode apagar as mazelas do passado colonial, nem as enormes diferenças nas condições de vida de brancos e indígenas que ainda persistem. Para Ilana, é possível explicar o grande fomento à arte aborígine australiana como “uma maneira de expiar a culpa que a Austrália branca tem por uma colonização extremamente violenta e que é muito recente”. Até a década de 1970, crianças aborígines eram arrancadas de suas famílias. “As meninas se transformavam em empregadas domésticas e hoje se sabe que 30% delas sofreram violência sexual”. As tensões continuariam ainda hoje, quando marchands revendem o trabalho de aborígines por um valor dez vezes maior do que o que pagaram ao artista. “Isso levou o governo a criar, recentemente, uma taxa sobre a revenda das obras”, diz. Ou quando há apropriação indevida – sem autorização, nem remuneração – das imagens por empresas que fazem souvenirs da Austrália, acarretando processos judiciais. À parte as tensões descritas por Ilana, ela conclui que a produção artística é uma plataforma de comunicação privilegiada entre culturas e sociedades diferentes, que poderia ser melhor explorada. “O caso australiano ensina a países como o nosso que talvez a produção artística indígena mereça mais destaque e apoio da sociedade envolvente. Não apenas porque a arte pode ser capaz de seduzir e causar admiração pelo outro. Nem somente porque se trata de uma forma de geração de renda. Mas também porque, quando gerida pelos próprios povos indígenas, representa uma possibilidade de as sociedades tradicionais continuarem com práticas que, ao menos em parte, fazem sentido para elas, de registrarem e difundirem seus símbolos e valores”.

Publicação Tese: “Do ‘tempo dos sonhos’ à galeria: arte aborígine australiana como espaço de diálogos e tensões interculturais”. Autora: Ilana Seltzer Goldstein Orientação: Vanessa Rosemary Lea Unidade: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) Para saber mais www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v27n79/a06.pdf Leia a tese http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/ document/?code=000856261&opt=4


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