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Foto: Antoninho Perri

Servidores e integrantes da COC durante a apuração dos votos da consulta para a escolha do novo reitor

Tadeu e Saad vão ao 2º- turno 3

Jornal daUnicamp www.unicamp.br/ju

Campinas, 11 a 17 de março de 2013 - ANO XXVII - Nº 553 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

IMPRESSO ESPECIAL

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CORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Foto: Divulgação

Estudo desvenda ação de proteína em tumores 5 Pesquisa inédita conduzida pela biomédica Karin Barcellos, no Hemocentro-Unicamp, revelou pela primeira vez o papel da proteína ARHGAP21 na adesão e migração celular. “Todas as células do corpo, para formar os tecidos e órgãos, precisam se aderir. Nos tumores, quando a adesão se desfaz, a célula pode sair e invadir outros tecidos, gerando o que chamamos de metástase”, explica a autora do trabalho. Orientado pela médica hematologista Sara Olalla Saad, o estudo foi capa da revista The Journal of Biological Chemistry.

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Legislação obsoleta trava bioprospecção

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Da sala de computação para a sala de justiça

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As endotoxinas e as infecções na polpa dentária

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Extrato da casca da jabuticaba turbina probióticos

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O diálogo entre a fotografia e a poesia de Hilda

Células de câncer de próstata soltando-se umas das outras; a proteína ARHGAP21 aparece em azul e a actina, em vermelho


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Quando as palavras viram remédio para os pequenos pacientes do HC Fotos: Antonio Scarpinetti

Secretária do Departamento de Informática do hospital sonha ser biblioterapeuta MARIA ALICE DA CRUZ halice@unicamp.br

laine guardou por um tempo a veste da Nani Encantadora, mas faz planos de usá-la daqui a dois anos, quando concluir o curso de filosofia na Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Enquanto o diploma não chega, Elaine Moraes fica com a imagem da personagem e de seus pequenos espectadores da enfermaria de Pediatria do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, que, por muitas vezes, ajudaram a contar o final da história. A história de seis anos diante de semblantes transformados a cada palavra de um texto conduziu a secretária do Departamento de Informática do HC a uma nova forma de ajudar as pessoas: a biblioterapia. Agora, aquela Nani da ONG Griots, grupo com compromisso de levar leitura a pacientes do HC, debruça sobre as palavras de velhos conhecidos de seus repertórios, os filósofos, para transformar palavras em remédio. Há indícios de que já no Antigo Egito, o Rei Rammsés mandou inscrever na fachada de sua biblioteca a frase: “Remédios para alma”. De acordo com dados adquiridos nas inúmeras leituras de Elaine, na Idade Média, na entrada da Biblioteca da Abadia de São Gall, estava escrito: “Tesouro dos remédios da alma”. “Eles faziam assim na Antiguidade. Tentavam amenizar os problemas das pessoas com as palavras, enquanto os médicos tratavam as doenças.” O aprofundamento em psicanálise dos contos de fadas também foi importante em sua decisão de se tornar uma biblioterapeuta, como os filósofos de outros tempos. “Os médicos cuidam do corpo e os filósofos, da alma.” Ela relata que antes da psiquiatria, a biblioterapia ficava a cargo desses pensadores, pois quando as pessoas tinham alguma doença os procuravam para se orientar sobre a melhor decisão. “E o que os filósofos receitavam? Palavras.” Certa de que a leitura e também a filosofia podem servir de remédio para seu público, Elaine decidiu voltar à sala de aula, 20 anos depois de precisar abandonar o curso de informática por problema de saúde, para aprofundar conhecimentos que, na verdade, ela aprimora desde a adolescência. “Sempre gostei de estudar psicanálise e filosofia. Aliás, sempre li muito”, confessa a dona de um acervo de quase 500 livros. Muitos dos quais já levaram afago a adultos e crianças em sua jornada de narradora de histórias. Elaine provou do próprio remédio quando se viu impossibilitada de exercer funções na área de informática, a qual havia escolhido desde que participou de uma seleção e formação oferecida a vários funcionários pela Unicamp, por meio de seu Centro de Computação. Por adquirir lesão por esforços repetitivos, Elaine, foi afastada e se viu sem rumo. “Não podia fazer o que mais gostava. E o afastamento por três anos me fez recorrer à leitura. As palavras me fizeram reagir e entender o que estava acontecendo. Lia principalmente autores da Psicanálise”, revela. Ao

ouvir um anúncio sobre contação de histórias, ela imediatamente se apaixonou pela ideia e decidiu que levando enredos às pessoas faria não somente o delas, mas o seu próprio remédio. As mesmas respostas se revelaram nos encontros com as crianças. “Eu percebia a necessidade de algumas me interromperem para contar sua própria vida. Isso me mostrou que a história facilita os diálogos, porque a criança capta o que a mensagem tenta produzir nela em termos de cura. Cura, para mim, é quando a pessoa está encontrando um sentido. Nem sempre a doença é somente física”, opina. Mas tudo depende da maneira como se lê para si ou para os outros. O narrador tem papel fundamental na mudança que a leitura pode provocar no semblante ou na vida de um ouvinte, ainda que narrador e ouvinte/leitor sejam a mesma pessoa. Daí a importância da leitura orientada oferecida pela biblioterapia. A secretária conta que ela mesma passou pela experiência de se emocionar com uma história depois de ouvi-la repetidamente, desde a infância. O enredo mostrou-se mais íntimo quando transmitido por uma contadora, num evento do qual participava. “Isso mostra que a narração faz sim a diferença”, acrescenta. Ela também argumenta que, muitas vezes, o leitor é resistente a situações parecidas com a sua, mas a emoção do contador pode desnudar este sentimento. “É naquela leitura que tem algo que você não está querendo encarar de frente que você se encontra.” Mesmo afastada dos Griots, Elaine não rejeita convites. Espalha palavras por cidades de todos os Estados, vai do sudeste ao sul e volta para o norte e até a Praça do Coco, ponto bem conhecido do distrito de Barão Geraldo. Ela sim pode dizer que “não mede palavras”. Mas, alto lá: prefere aquelas que afagam a alma. “Estamos num mundo em que tudo é para já, para ontem. Então, as pessoas consomem o que está à frente. Aceita a informação que chega. E às vezes informação traz desconforto em vez de conforto. A pessoa tem de se dedicar a uma leitura aprazível.” Apesar de já distribuir suas pílulas para a alma nos eventos para os quais é chamada a contar histórias ou proferir palestras, Elaine quer estar habilitada para orientar sobre a melhor leitura de acordo com a necessidade das pessoas. Ao abrir as pílulas (pequenos rolos de papel) ofertadas por Elaine, o espectador é brindado com passagens de filósofos. “Devemos acentuar que o tratamento convencional é importante, mas a leitura pode servir de apoio. A pessoa tem a possibilidade de trocar o medicamento por um tratamento mais duradouro.” Mas enfatiza que não é somente para pessoa doente, mas para todas as pessoas.

A secretária Elaine Moraes: “É uma busca que não acaba. Assim como a filosofia”

ceu certa vez quando lia um conto de fadas para uma criança que chorava muito. Mais tarde, Elaine descobriu que a história tinha muito a ver com a vida da criança. “Eu sou lacaniana. Para ele, a inconsciência é estruturada como uma linguagem. Então a história tem a estrutura que possibilita esse contato”, argumenta.

se deu conta, Nani a havia inspirado a beber da fonte da escrita. Em 2012, depois de encontrar seu nome em segundo lugar na lista de aprovados do Vestibular da PUC, a secretária foi notificada de que a narração criada por ela faria parte do Caderno de Redações do Vestibular 2012 da PUC Campinas, lançado em dezembro do ano passado.

Quanto mais atua, mais se convence da escolha. “É o encantamento do livro. Lindo, o poder de dar vida. Tirar a história do papel e dar vida para ela. Vejo nos olhos de quem está ouvindo que eles não estão me vendo, estão vendo outra coisa, personagem, imaginando. É o que o contador quer. Ser porta-voz desse diálogo. E o biblioterapeuta, além de fazer isso, irá comandar um diálogo em grupo. Vejo grande necessidade disso: resgatar o prazer da leitura. E uma pessoa sozinha para isso é pouco. Se eu tiver boa formação, poderei multiplicar essas pessoas, para poder passar à frente.”

Como na época do vestibular ela escrevia histórias sobre o Natal para presentear seus pequenos ouvintes, imaginou a realidade de um menino e entrelaçou-a com a fantasia do presépio, da manjedoura e dos três Reis Magos. “Já escrevi histórias, mas não publiquei nada até hoje. A inserção do meu texto neste caderno, a crítica que ele obteve e a repercussão neste tempo de Natal estão sendo muito importantes para mim, pois sempre defendi que as histórias e os contos não podem perder a fantasia, devem ser ricos em metáforas e simbologias.”

INSPIRAÇÃO

SEGREDOS “A história é uma forma lúdica de passar mistérios. As histórias guardam os segredos da vida.” Elaine acrescenta que, por meio da leitura, é possível nomear o que é sensível para o inteligível. Em sua opinião, muitas vezes, a criança consegue nomear o que sente a partir da leitura, como aconte-

Elaine sempre apreciou uma boa leitura. Ao longo do tempo, construiu seu acervo. A vontade de escrever para os outros, porém, surgiu como uma necessidade. As vezes que a Nani não tinha a história apropriada para o formato ou o público de determinado evento, Elaine começava a criar e, quando

A contadora, narradora, agente de leitura, palestrante, secretária e futura filósofa e biblioterapeuta é beneficiada pela curiosidade. A mesma que a levou a se dedicar a todo tipo de leitura na infância. Com tantas palavras a ler, e a dizer, aquela dor no braço, que se refletia para a alma, a qual tentava se encontrar, tornou-se um pingo no texto e deu lugar ao largo sorriso da Nani e aos olhos brilhantes de sua criadora. “É uma busca que não acaba. Assim como a filosofia.”

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor Fernando Ferreira Costa Coordenador-Geral Edgar Salvadori De Decca Pró-reitor de Desenvolvimento Universitário Roberto Rodrigues Paes Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitor de Pesquisa Ronaldo Aloise Pilli Pró-reitor de Pós-Graduação Euclides de Mesquita Neto Pró-reitor de Graduação Marcelo Knobel Chefe de Gabinete José Ranali

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju. E-mail leitorju@reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab (kassab@reitoria.unicamp. br) Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos (kel@unicamp.br) Reportagem Carmo Gallo Neto Isabel Gardenal, Maria Alice da Cruz e Manuel Alves Filho Editor de fotografia Antoninho Perri Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Silva Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Patrícia Lauretti Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon, Everaldo Silva Impressão Pigma Gráfica e Editora Ltda: (011) 4223-5911 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3327-0894. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju


Campinas, 11 a 17 de março de 2013

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Consulta para reitor terá 2º- turno

Disputa fica entre José Tadeu Jorge e Mario Saad; volta às urnas será nos dias 20 e 21 de março Fotos: Antoninho Perri

engenheiro de alimentos José Tadeu Jorge e o médico Mario José Abdalla Saad disputarão o segundo turno da consulta indicativa para a escolha do próximo reitor da Unicamp. Tadeu obteve 48,30% dos votos válidos ponderados contra 40,08% conquistados por Saad. O historiador Edgard Salvatori De Decca e o engenheiro elétrico José Claudio Geromel alcançaram, respectivamente, 4,93% e 6,70%, e estão fora da disputa. O segundo turno está marcado para os dias 20 e 21 de março. O próximo reitor tomará posse em abril para um mandato de quatro anos. A apuração dos votos terminou às 3h10 do último dia 8, no Ginásio da Faculdade de Educação Física (FEF). Tadeu e Saad obtiveram o mesmo número de votos entre os docentes (714). Entretanto, Tadeu predominou entre os funcionários, com 3.867 votos, enquanto Saad prevaleceu entre os estudantes, com 1.266. As abstenções chegaram a 13,30% entre docentes; 18,23% entre funcionários; e 90,65% entre estudantes. Tadeu considerou “excelente” o desempenho da chapa “Unicamp de Todos os Saberes”, encabeçada por ele e seu vice, Alvaro Crósta. “Tivemos uma expressiva votação entre os docentes, o que mostra a grande receptividade de nossas propostas por parte desse segmento, e um excepcional desempenho entre os funcionários, o que revela que essa categoria se sente totalmente representada no nosso programa de gestão. Além disso, obtivemos uma votação expressiva entre os estudantes, a despeito do alto índice de abstenção. Penso que o resultado final do primeiro turno foi bastante positivo. Conseguimos levar nosso conceito de universidade a toda comunidade. Agora, temos outro caminho a percorrer. Tenho absoluta confiança de que a comunidade irá consagrar nossa proposta no segundo turno”, afirmou.

LOCAIS E HORÁRIOS DE VOTAÇÃO UNICAMP ANFITEATRO “PAULISTÃO” - das 9h às 20h30min (no dia 20, apenas para servidores, a votação se iniciará às 6 horas da manhã). VOTAM NO “PAULISTÃO”: Docentes da FCM e da Faculdade de Enfermagem, incluindo os da carreira DEER; servidores da FCM, da Faculdade de Enfermagem, Cepre, Cecom, Gastrocentro, Hemocentro, HC, Caism, CEB, DEDIC; alunos de graduação e pós-graduação dos cursos de Medicina, Enfermagem, Fonoaudiologia, Farmácia, médicos residentes e aprimorandos.

UNICAMP GINÁSIO DA FEF - das 9h às 20h30min. VOTAM NO GINÁSIO: Docentes do Cotuca e das Faculdades e Institutos (exceto FCM, Faculdade de Enfermagem, FOP, FT, FCA e Cotil), inclusive das carreiras DEL e MA. Servidores das faculdades e institutos (exceto FCM, Faculdade de Enfermagem, FOP, FT, FCA, Cotil e Planta Física), de toda a administração central, Centros e Núcleos (inclusive CPQBA e exceto CEB), Cotuca e escritório de São Paulo, além dos pertencentes à carreira PQ; e alunos das faculdades e Institutos (exceto FCM, Faculdade de Enfermagem, FOP, FT, FCA e do curso de Farmácia). Alunos do Cotuca não integram o colégio eleitoral da Consulta.

PIRACICABA FACULDADE DE ODONTOLOGIA - das 9h às 17h. VOTAM NA FOP: Servidores, alunos (graduação e pós-graduação) e docentes da FOP, inclusive integrantes de carreiras especiais.

LIMEIRA CAMPUS I – FT - das 10h às 20h30min. VOTAM NA FT: Docentes e servidores do COTIL e FT, servidores da Planta Física e alunos de graduação e pós-graduação da FT. Alunos do COTIL não integram o colégio eleitoral da Consulta. LIMEIRA – CAMPUS II – FCA - das 10h às 20h30min. VOTAM NA FCA: Servidores, alunos (graduação e pós-graduação) e docentes da FCA DOCUMENTOS DE IDENTIFICAÇÃO Todos os votantes deverão ter em mãos um dos seguintes documentos: Docentes e servidores: carteira de identidade funcional ou documento oficial com foto Alunos: carteira estudantil ou documento oficial com foto.

Apuração realizada no último dia 8 no Ginásio de Esportes da Unicamp: novo reitor toma posse em abril

O professor Mario Saad também avaliou positivamente os números finais do primeiro turno da consulta. “Estamos muito satisfeitos com o resultado das urnas no primeiro turno, que nos deu mais de 40% dos votos da comunidade acadêmica”, disse. Segundo ele, o número de votos obtidos pela chapa “Unicamp no caminho certo” mostrou que suas propostas de gestão tiveram ampla aceitação e que podem avançar ainda mais. “Agradecemos a todos os professores, funcionários e estudantes que acreditaram em nossas ideias, o que nos dá forças para disputar o segundo turno com mais ânimo e confiança”, completou. A expectativa, segundo ele, é de uma virada na próxima etapa da consulta interna. O candidato retoma a campanha já nesta segunda-feira, juntamente com o seu vice, Marcelo Knobel. O resultado da consulta no segundo turno será encaminhado ao Conselho Universitário (Consu) da Unicamp, que se reúne em sessão extraordinária ainda em abril. A prerrogativa de escolher o próximo reitor é do governador do Estado, com base em lista tríplice elaborada pelo Consu. A consulta foi realizada nos campi de Campinas, Piracicaba e Limeira. Três debates, realizados nas três cidades e coordenados pela Comissão Organizadora da Consulta (COC), precederam a votação. O segundo turno ocorrerá nos mesmos locais do primeiro turno. Vinte e seis urnas estarão distribuídas em cinco pontos de votação: onze no Ginásio da FEF, seis no Setor Hospitalar (Anfiteatro “Paulistão”), três na FOP e outras três no Campus I da FT e três no Campus II da FCA. A apuração será feita por categoria, pelo conjunto das respectivas urnas, não havendo, portanto, identificação de resultados por urna ou por local de votação. Na Faculdade de Educação Física serão instalados três telões, sendo dois internos ao Ginásio e um externo, para divulgação dos re-

sultados. A ponderação dos votos seguirá o estabelecido na Deliberação CONSU-A-16/12. O processo é coordenado pela Comissão Organizadora da Consulta para Sucessão do Reitor (COC), nomeada pelo Conselho Universitário (Consu) e constituída por representantes de todos os segmentos da instituição e um representante da comunidade externa. Presidida pela professora Silvia Figueroa, atual diretora do Instituto de Geociências, a COC tem diversas atribuições, que vão desde a homologação das candidaturas até o estabelecimento de normas para a votação, passando pela escolha e inspeção dos locais onde ficarão as urnas e ocorrerá a apuração. “Tanto a votação quanto a apuração no primeiro turno transcorreram em clima de normalidade, sem nenhum incidente registrado”, disse a presidente da COC. Segundo ela, a Comissão segue agora nos preparativos para o segundo turno. Uma das providências a serem tomadas é definir, juntamente com as chapas que participarão da disputa, a data para a realização de um debate entre os dois candidatos. A consulta em segundo turno, marcada para os dias 20 e 21 de março, seguirá o mesmo esquema do primeiro turno, com a votação ocorrendo nos mesmos locais e horários. O próximo reitor será o 11º na linha de sucessão de Zeferino Vaz (1966-1978). Antes dele vieram o dentista Plínio Alves de Moraes (1978-1982), o ginecologista José Aristodemo Pinotti (1982-1986), o economista Paulo Renato Souza (1986-1990), o linguista Carlos Vogt (19901994), o pediatra José Martins Filho (1994-1998), o engenheiro de eletrônica Hermano Tavares (1998-2002), o físico e engenheiro de eletrônica Carlos Henrique de Brito Cruz (2002-2005), o engenheiro de alimentos José Tadeu Jorge (2005-2009) e o médico hematologista Fernando Ferreira Costa (2009-2013).

SOBRE OS CANDIDATOS JOSÉ TADEU JORGE - É professor titular na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp. Graduou-se em Engenharia de Alimentos na Unicamp (1975), onde também realizou mestrado em Tecnologia de Alimentos (1977) e doutorado em Ciências de Alimentos (1981), concentrando suas pesquisas na área de tecnologia pós-colheita, na qual estudou produtos minimamente processados, armazenamento de produtos agrícolas e propriedades físicas de materiais biológicos. Em 1992 titulou-se professor livre docente, professor adjunto em 1995 e professor titular em 1996. Foi diretor da Feagri de 1987 a 1991, diretor executivo da Funcamp de 1990 a 1992, chefe de gabinete da Reitoria de 1992 a 1994, pró-reitor de Desenvolvimento Universitário de 1994 a 1998, novamente diretor da Feagri de 1999 a 2002, vice-reitor da Unicamp de 2002 a 2005 e reitor da Unicamp de 2005 a 2009. Exerceu o cargo de secretário municipal da Educação de Campinas de 2009 a 2011. Foi membro do Conselho Superior da Fapesp de 2006 a 2012. Participou de vários conselhos/comitês, destacando-se: Memorial da América Latina, TV Cultura – Fundação Padre Anchieta, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Rede Universia Brasil, Companhia de Desenvolvimento do Pólo de Alta Tecnologia de Campinas (Ciatec), Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CREA/SP. Presidiu a Associação Brasileira de Engenheiros de Alimentos. É membro do Conselho Superior de Estudos Avançados da Fiesp desde 2008. MARIO JOSÉ ABDALLA SAAD - É diretor da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, em segundo mandato, desde julho de 2010. É professor titular do Departamento de Clínica Médica da FCM, onde atua desde 1986. Coordena o Laboratório de Pesquisa em Obesidade e Diabetes. Publicou cerca de 230 artigos em revistas internacionais, tendo sido citado mais de 6.900 vezes na literatura científica internacional. Já orientou 66 alunos de iniciação científica, 18 alunos de mestrado, 26 alunos de doutorado e supervisionou 10 pós-doutorados. Formado em Medicina pela Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro (1979), fez residência, mestrado e doutorado na Universidade de São Paulo, no campus de Ribeirão Preto. Realizou pósdoutoramento (1990-1992) na Harvard University, nos Estados Unidos. É coordenador adjunto da Área de Saúde da Fapesp desde 2005, e membro da Academia Brasileira de Ciências desde 2007. É pesquisador 1A do CNPq desde 1996. Foi coordenador do Comitê de Saúde do CNPq (2003 a 2005). Foi eleito como representante de São Paulo junto ao Conselho Federal de Medicina (1998 a 2004). Na Unicamp, foi coordenador da Subcomissão de Pós-Graduação em Clínica Médica (1994-1996) e coordenador da Comissão de Pós-Graduação da FCM (1996-1998). Foi Diretor da FCM (1998 a 2002), e representante docente no Conselho Universitário (2003 a 2005), eleito após expressiva votação. No período entre maio de 2009 e junho de 2010, foi diretor “pro-tempore” da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) em Limeira. Em 1992, recebeu o prêmio “New Investigator Award” da Sociedade Americana de Endocrinologia e obteve o reconhecimento acadêmico “Zeferino Vaz” da Unicamp por duas vezes, em 1997 e 2004. Em 2008, foi laureado Comendador da Ordem do Mérito Científico pela Presidência da República.


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Campinas, 11 a 17 de março de 2013

Sob o jugo e a trava

da legislação Estudo aponta as dificuldades impostas por leis obsoletas ao desenvolvimento da bioprospecção Fotos: Antoninho Perri

MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

legislação que regulamenta as atividades de bioprospecção no Brasil é draconiana, o que tolhe o desenvolvimento de produtos e processos a partir dos recursos oferecidos pela biodiversidade. A avaliação é da economista Andréia Mara Pereira, que acaba de defender tese de doutorado sobre o tema, no Instituto de Economia (IE) da Unicamp. No trabalho, que foi orientado pelo professor Bastiaan Philip Reydon, a autora faz uma profunda investigação acerca dos impedimentos criados pela Medida Provisória (MP) que rege a matéria, em vigor desde 2001. Como alternativa a esses entraves, a pesquisadora propõe, com base em diversos estudos de caso, a adoção de normas mais flexíveis e a criação de uma instituição para gerir o patrimônio genético e os conhecimentos tradicionais brasileiros, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente. De acordo com Andréia, o conceito de bioprospecção pode ser explicado como a utilização dos recursos (bioquímicos e biogenéticos) da fauna e da flora para o desenvolvimento de produtos com alto valor agregado, como fármacos, cosméticos, agrícolas, alimentos etc. Na prática, isso tem sido feito pelo homem desde tempos imemoriais, a partir do momento em que ele passou a explorar a natureza para obter recursos que lhe garantissem a sobrevivência. Somente há cerca de 40 anos, porém, é que essa relação ganhou novos contornos, graças principalmente ao avanço da biotecnologia moderna, que está fundamentalmente baseada na manipulação do DNA, o material genético dos seres vivos. Assim, a possibilidade da descoberta de moléculas e princípios ativos que permitam o desenvolvimento de produtos e processos comerciais despertou a atenção de inúmeros países, bem como das grandes corporações privadas. No Brasil, a questão foi regulamentada somente em 2001, com o advento da MP 2.186-16, formulada no governo Fernando Henrique Cardoso e que até hoje não foi votada pelo Congresso Nacional. “Como foi feita às pressas para atender às exigências da Convenção da Diversidade Biológica (CBD), criada em 1992, essa medida deixou de ser amplamente discutida com os segmentos interessados, entre eles a comunidade científica. A atitude resultou numa legislação complexa e cheia de entraves. Sob o argumento de proteger a biodiversidade brasileira, o governo estabeleceu critérios que passaram a dificultar até mesmo a coleta de amostras para a realização de pesquisas científicas. As exigências impostas foram tantas e tão despropositadas, que os cientistas foram colocados, a priori, na condição de potenciais biopiratas”, afirma a economista. Para ilustrar essa situação, a pesquisadora cita o caso hipotético de um pesquisador que esteja interessado em investigar as propriedades curativas de uma determinada planta, aproveitando para isso o conhecimento tradicional de uma comunidade indígena. Nessa circunstância, o cientista recorre aos índios para saber que tipo de espécie é utilizado para combater uma dada doença, de que forma a planta é aplicada e onde ela pode ser encontrada na natureza, entre outras informações. Isso faz com que etapas sejam queimadas,

bém para a necessidade de a legislação brasileira facilitar a adoção de contratos específicos, cujo teor variaria de acordo com as circunstâncias e interesses envolvidos. Como exemplo desse modelo, Andréia cita o caso do Taxol, um dos medicamentos contra câncer mais vendidos no mundo. Entre 1993 e 2002, o produto rendeu algo como US$ 9 bilhões ao laboratório Bristol. O princípio ativo do remédio foi isolado em 1971, a partir da casca de um arbusto sem valor econômico, o teixodo-pacífico (Taxus brevifolia). Até chegar ao mercado – foram precisos 30 anos -, a pesquisa passou por diversos estágios e exigiu o desenho de diferentes arranjos para conciliar todos os interesses em jogo. A pesquisa básica, por exemplo, foi financiada com recursos governamentais. O conhecimento tradicional foi utilizado, mas somente para se saber onde encontrar as plantas. Depois de dez anos, houve uma parceria entre diversas instituições de pesquisa. Estas recolheram 35 mil amostras, das quais apenas uma apresentou as propriedades desejadas. Quando o estudo finalmente terminou, o governo americano utilizou um sistema de mediação e gestão entre instituições públicas e empresas privadas, chamado CRADA.

A economista Andréia Mara Pereira, autora da tese: “O Brasil tem todas as condições de promover a bioprospecção. Falta, entretanto, destravar o sistema, o que depende de vontade política”

e a pesquisa acelerada. Entretanto, para coletar e transportar as amostras, ele tem que atender a incontáveis exigências burocráticas, entre elas obter a autorização do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN), instância subordinada ao Ministério do Meio Ambiente, e a anuência prévia da comunidade em questão. Ocorre que nem todas as comunidades indígenas contam com representações formais. Além disso, por serem tutelados pelo Estado, através da Fundação Nacional do Índio (Funai), os índios não têm autonomia para firmar contratos. “Ou seja, as normas impostas nem sempre podem ser cumpridas e, quando são, podem ser contestadas posteriormente. Nesse caso, restam duas saídas. Ou o pesquisador paralisa a investigação ou dá continuidade a ela, correndo o risco de ser acusado como usurpador da biodiversidade”, destaca Andréia. Assim como os índios, prossegue a autora da tese de doutorado, outras comunidades, como quilombolas, ribeirinhos, caiçaras, pantaneiros, seringueiros etc., também são detentoras de conhecimentos tradicionais, sendo que cada uma delas vive numa região específica, com bioma igualmente específico. “Ora, conciliar os interesses dessas comunidades com os dos cientistas e os da indústria não é uma tarefa trivial, principalmente quando isso é regido por uma regulamentação anacrônica. Entretanto, trata-se de uma tarefa que precisa ser executada, para que a bioprospecção seja impulsionada no Brasil”, adverte. A primeira iniciativa para superar esses empecilhos, conforme a economista, é reformular a legislação, tornando-a mais flexível. A MP em vigor, diz, tende a equiparar os bioprospectores, o que não é correto. Andréia lembra que existem os colecionadores, que colhem amostras para expandir a sua coleção ou para vender a terceiros. Existem, ainda, formadores do conhecimento (xamãs, pajés, acadêmicos,

cientistas etc). E, por fim, existem os empreendedores (empresários, agricultores, vendedores etc), que têm por objetivo desenvolver novos produtos e processos rentáveis. “É preciso separar esses atores e enquadrá-los de modo correto na legislação. A MP parte do princípio de que todos querem auferir lucro com a exploração da biodiversidade, de maneira ilegal. Isso não é verdadeiro”, insiste. Diante de tantos obstáculos às práticas de bioprospecção, as grandes empresas, notadamente as transnacionais das áreas farmacêuticas e de cosméticos, que movimentam bilhões de dólares ao ano, não têm demonstrado interesse em firmar acordos com o Brasil. “Essas corporações evitam a cooperação com o país porque sabem que a regulamentação é muito complicada. Na pesquisa que realizei para a tese, não encontrei nenhum acordo de bioprospecção em vigor com empresas internacionais”, revela Andréia. De maneira geral, ela defende uma mudança na legislação que permita que o sistema seja, enfim, destravado. Assim, a economista propõe que os cientistas sejam liberados para conduzir suas pesquisas, de modo a estimular a geração de novos conhecimentos. “Se alguém por acaso cometer alguma irregularidade, que responda por isso. O que não se pode é considerar o pesquisador culpado por antecipação”. Andreia também entende que as investigações nessa área poderiam ser aprovadas da mesma forma como as agências de fomento fazem. Ou seja, o interessado enviaria o projeto, três pareceristas especializados o avaliariam e o aprovariam ou não. “O pesquisador com projeto aprovado poderia prestar contas da evolução do trabalho através da apresentação de relatórios periódicos, como é feito junto às agências de fomento”, sugere. Com base em experiências aplicadas nos Estados Unidos, e que foram analisadas por ela na tese, a autora aponta tam-

Foi aberta, então, uma licitação para a escolha do laboratório que produziria o Taxol, com base na expertise dos concorrentes. “Definido a Bristol-Myers Squibb, ficou estabelecido que esta empresa tivesse direito à patente e à exploração comercial do remédio por cinco anos. Pelo acordo, parte dos lucros obtidos é destinada às universidades, instituições de pesquisa e governo. Ou seja, tudo foi acordado conforme os interesses específicos envolvidos naquele caso. Essa experiência traz algumas lições que podem ser aproveitadas, como a criação de uma ferramenta nos moldes do CRADA, assim como para o desenho da nova regulamentação para o uso da biodiversidade e dos conhecimentos tradicionais para os acordos de bioprospecção no Brasil”, defende a autora da tese de doutorado. Para facilitar esse tipo de entendimento, a pesquisadora sugere, por fim, que seja criada uma nova organização para gerir o patrimônio genético e os conhecimentos tradicionais no país. A proposta prevê que o órgão seja dotado de coordenadorias (Pesquisa & Inovação, Jurídica, Relações Internacionais e Extensão, entre outras), que cuidariam de facilitar a assinatura de acordos de cooperações e contratos, além de coibir eventuais irregularidades. “O Brasil tem todas as condições de promover a bioprospecção. Temos instituições de pesquisa fortes, recursos humanos qualificados, grande sociodiversidade e megabiodiversidade. Falta, entretanto, destravar o sistema, o que depende de vontade política. Feito isso, as vantagens para o país serão enormes, como o desenvolvimento de novos conhecimentos, a geração de emprego e renda, a ampliação de divisas e a formação de recursos humanos especializados”, elenca.

Publicações Tese: “Bioprospecção e conhecimentos tradicionais: uma proposta institucional para sua gestão no Brasil” Autora: Andréia Mara Pereira Orientação: Bastiaan Philip Reydon Unidade: Instituto de Economia (IE)


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Campinas, 11 a 17 de março de 2013

Nova proteína é chave para entender mecanismo do câncer Pesquisa, inédita, foi feita com células humanas saudáveis e cancerígenas Foto: Antoninho Perri

EDIMILSON MONTALTI Especial para o JU

esquisa realizada no Laboratório de Biologia Molecular do Hemocentro da Unicamp mostra pela primeira vez a participação de uma proteína específica na adesão e migração celular. O estudo, inédito, feito com células humanas saudáveis e cancerígenas, abre novas perspectivas para entender o mecanismo por meio do qual uma célula se adere ou não à outra e como se espalha pelo organismo. A pesquisa foi conduzida pela biomédica Karin Barcellos. A orientação foi da médica hematologista Sara Olalla Saad, responsável pelo sequenciamento e descrição da proteína denominada ARHGAP21 dentro do Projeto Genoma Humano do Câncer. O trabalho foi capa da edição de janeiro da revista The Journal of Biological Chemistry, da Sociedade Americana de Biologia Química e Molecular. “Todas as células do corpo, para formar os tecidos e órgãos, precisam se aderir. Nos tumores, quando a adesão se desfaz, a célula pode sair e invadir outros tecidos, gerando o que chamamos de metástase. Nesse processo de migração, a adesão é essencial. Se adesão é forte, a célula não se solta”, explica Karin. A pesquisa foi financiada pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do Sangue (INCT), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Fundação de Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e contou com a colaboração de pesquisadores do Departamento de Fisiologia e Desenvolvimento Biológico da Universidade Brigham Young, Estados Unidos. Para entender como acontece a adesão célula-célula é necessário entender um pouco de biologia celular. As imagens dos livros escolares que descrevem a estrutura da célula e os processos da divisão celular ajudam nessa compreensão. Os mais conhecidos e ensinados são mitose e meiose. Além disso, termos como Complexo de Golgi, membrana celular, citoplasma, citoesqueleto – responsável por manter a forma da célula – e microtúbulos – aquelas linhas bonitas dos desenhos da divisão celular que parecem fios puxando os cromossomos – merecem atenção. Segundo Karin, desde a década passada a equipe do Hemocentro vem estudando as funções da proteína ARHGAP21. Eles descobriram que a ARHGAP21 regula o citoesqueleto agindo nas proteínas RhoGTPases. Essas proteínas, por sua vez, regulam o movimento celular, migração, adesão celular e diferenciação. A ARHGAP21 regula negativamente as RhoGTPases e defeitos nesta regulação podem deixar as Rho-GTPases hiperativadas, causando crescimento celular descontrolado, inibição da morte da célula ou alterações na migração e diferenciação celular, resultando no desenvolvimento tumoral e metástases. O desafio de Karin foi descobrir em qual das diversas funções celulares das Rho-GTPases a ARHGAP21 agia. “Quando um tumor tem migração acelerada, quem está regulando essa função? Será que a ARHGAP21 é a chave que liga e desliga isso? A partir dessas indagações descobrimos três achados importantíssimos no processo de adesão célula-célula”, disse Karin. Para a pesquisa in vitro, a biomédica utilizou células saudáveis humanas e células tumorais de câncer de próstata. Ao cultivar as células, Karin adicionou cálcio para provocar a adesão celular. Após quatro horas, a pesquisadora observou que a ARHGAP21 estava presente nas junções da

A biomédica Karin Barcellos: “Quando a adesão se desfaz, a célula pode sair e invadir outros tecidos, gerando o que chamamos de metástase”

membrana celular. Após ajudar a construir a adesão celular, a proteína ia embora. Para provar esse processo, Karin inibiu a atuação da ARHGAP21. Ela observou que as células sem a proteína passaram a ter uma adesão mais fraca e logo se soltavam. Além disso, a pesquisadora fez outro achado importantíssimo: quem estava junto com a ARHGAP21 participando do alongamento e da polaridade da célula, como se fosse uma batalha, eram os microtúbulos, estruturas cilíndricas e ocas formadas por duas proteínas (alfa e beta) chamadas tubulinas. Os microtúbulos estão relacionados com o processo de migração celular. Durante esse processo, a pesquisadora observou que a ARHGAP21 afeta a acetilação da alfa-tubulina, processo químico que muda a função da proteína. “Descobrimos que a ARHGAP21 tem uma interação com a alfa-tubulina, que é uma das proteínas que formam os microtúbulos. É a primeira vez que alguém descreve essa interação”, disse Karin. Mas a pesquisadora não parou por aí.

METÁSTASE

E

TUMORES

O processo de adesão e migração é essencial para a formação do organismo. Quando o embrião está em formação, as células passam por um processo chamado de transição epitelial mesenquimal. Nesse estágio, as células que estão juntas, começam a se soltar e vão formar os tecidos e órgãos. Depois, este processo pára e cada célula passa a desempenhar a sua função específica. Entretanto, a transição epitelial mesenquimal está presente no mecanismo de migração e metástase do câncer. De alguma forma, as células cancerígenas que estavam grudadas se soltam e começam a se espalhar pelo organismo. Karin simulou em laboratório este mecanismo adicionando às células um fator de crescimento chamado de HGF. O HGF é um hormônio produzido, principalmente, pelo fígado. O HGF exibe atividades de duplicação genética, produção da forma e migração celular em uma ampla variedade de órgãos. Ao adicionar o HGF às células tumorais, elas entram em transição epitelial mesenquimal. Baseando-se nos resultados observados anteriormente sobre a atuação da ARHGAP21, a biomédica tinha certeza de que, adicionando o HGF e inibindo ao

mesmo tempo a proteína, a adesão celular seria mais fraca e a migração das células seria rápida. Não foi isso o que aconteceu. “Sabíamos que a ARHGAP21 era importante para fazer a adesão célula-célula, que interagia com os microtúbulos e que sem ela a migração era maior. Juntando tudo isso, tínhamos certeza que a dissociação e migração celular seriam muito maiores. Mas foi o contrário. Passamos duas semanas quebrando a cabeça, achando que estávamos esquecendo alguma coisa, até que, após repetir várias e várias vezes o experimento, vimos que era verdade: sem a ARHGAP21, não tinha transição epitelial mesenquimal”, revelou Karin. E como isso funciona? A célula tem um receptor para HGF na membrana. Esse HGF vai iniciar uma série de sinalização em cascata que vai culminar no núcleo e promover a perda da adesão da célula. Sem a ARHGAP21, o processo não se completa. Então, nesta via de sinalização celular, a presença da proteína regula a transição epitelial mesenquimal. Prova disso são dois marcadores séricos utilizados na bioquímica: o Twist 1 e a e-caderina. Quando se coloca o HGF nas células, o Twist 1 aumenta ao longo da transição epitelial mesenquimal. Inibindo a ARHGAP21, não aparece o Twist 1. A e-caderina, que funciona como uma cola para a adesão celular, diminui ao longo desse processo. Sem a ARHGAP21, a e-caderina não diminui e as adesões não se desfazem. Outros marcadores também foram testados para reforçar a importância da ARHGAP21 na via de sinalização do HGF. Segundo Karin, a pesquisa demonstra pela primeira vez a participação da ARHGAP21 no processo da formação da adesão célula-célula e que ela está na frente da migração da célula, interagindo com os microtúbulos que atuam na divisão celular. Verificou-se também que essa proteína é essencial para a transição epitelial mesenquimal e que esta transição é um fenômeno muito comum no processo de metástase tumoral. E sem ARHGAP21, não há essa transição. “Esta pesquisa abre um leque de coisas que podem ser afetadas pela ARHGAP21. Estudar este mecanismo é garantir que, ao retirar um tumor, ele não irá aparecer em outro lugar. Mas tudo isso é muito novo. Colocamos uma peça no quebra-cabeça de 200 mil peças”, disse Karin.

ARHGAP21 A proteína ARHGAP21 foi descrita em 2002 pela pesquisadora Daniela Basseres a partir dos estudos iniciados em 1999 pela médica hematologista Sara Olalla Saad dentro do Projeto Genoma Humano do Câncer. A ARHGAP21 está localizada no cromossomo 10 e possui 1957 aminoácidos. A ARHGAP21 apresenta três domínios principais: PDZ, PH e Rho GAP. O domínio PH está envolvido em mecanismos de transmissão de sinais e encontra-se presente em algumas proteínas de citoesqueleto. O domínio PDZ medeia interações entre proteínas, geralmente conectando componentes envolvidos na sinalização celular. Estes complexos proteicos auxiliam nas propriedades adesivas das células. As Rho-GAPs desempenham importante função na inibição de Rho-GTPases, regulando, desse modo, o crescimento e diferenciação celulares. “Na década de 1990, o Hemocentro se envolveu no projeto Genoma e eu procurava novas proteínas que tivessem relação com o esqueleto das células do sangue, conhecidas como hematopoéticas. Eu sabia que a ARHGAP tinha uma importância muito grande e resolvi investir nessa proteína, mas tive muitas críticas”, explicou Sara. De acordo com a médica hematologista, a equipe teve que aprender a construir os anticorpos para a identificação da proteína. Foram dois anos ampliando a sequência do gene e outros tantos sem nenhum resultado. Ao inativá-la, relembra a pesquisadora, as células do sangue morriam. Foi então que a pesquisadora passou a usar células do músculo cardíaco e do tecido neuronal. A partir daí, os pesquisadores passaram a ter respostas da ação da ARHGAP21 e publicaram vários artigos mostrando a importância dela em diferentes funções. “A ARHGAP tem papel importante na divisão e renovação celular. Ao entender a função dela, podemos determinar até que ponto uma célula saudável pode gerar outra igual ou caminhar para o desenvolvimento do câncer. Temos outras linhas de pesquisas dentro do Hemocentro com essa proteína e imagino que ela tenha alguma função na manutenção das células leucêmicas no microambiente da medula óssea. Se tivéssemos abandonado as pesquisas por causa das dificuldades, não teríamos conseguido obter resultados tão expressivos”, disse Sara.

Publicações Artigo: Barcellos KS, Bigarella CL, Wagner MV, Vieira KP, Lazarini M, Langford PR, Machado-Neto JA, Call SG, Staley DM, Chung JY, Hansen MD, Saad ST. ARHGAP21 protein, a new partner of alpha-tubulin involved in cell-cell adhesion formation and essential for epithelial-mesenchymal transition. The Journal of Biological Chemistry, January 25, 2013; 288 (4). Foto: Antoninho Perri

A médica hematologista Sara Olalla Saad, orientadora da pesquisa: “A ARHGAP tem papel importante na divisão e na renovação celular”


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Do computador para a ciência forense Tese propõe três métodos computacionais que podem ser úteis em procedimentos tradicionais CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

s gerações mais antigas se lembram de Sherlock Holmes, personagem criado pelo médico e escritor escocês Arthur Conan Doyle, precursor dos métodos científicos de pesquisa policial, muito lido no Brasil no século passado. Nos anos de 1970, foi sucesso na televisão a famosa série estrelada pelo ator Peter Falk, protagonista do tenente Columbo, que desvendava crimes utilizando um raciocínio dedutivo e aparecia sempre na cena do crime com um gabardine surrado e encardido, conduzindo um Peugeot velho. Em um futuro muito próximo, para deleite de futuras gerações, é provável que as investigações de Sherlock Holmes sejam mostradas no interior de um laboratório de informática e Columbo apareça na cena do crime acompanhado por um sofisticado e compacto sistema de computação, conduzido por um veículo de linhas espaciais. Fantasias à parte, é para essa direção que apontam as pesquisas realizadas por Fernanda Alcântara Andaló, bacharel em ciência da computação pela Universidade de Brasília (UnB) e mestre e doutora pelo Instituto de Computação (IC) da Unicamp, para onde veio para a pós-graduação atraída pelo renome da instituição e pelo fato de já conhecer e admirar o trabalho desenvolvido pelo professor Siome Klein Goldenstein, seu orientador no doutorado. Bolsista de doutorado sanduíche do CNPq, ela passou o ano de 2011 na Brown University, em Providence, RI, EUA, em que trabalhou com o professor Gabriel Taubin, da Escola de Engenharia, quando desenvolveu dois dos três métodos apresentados no seu trabalho. Atualmente é pesquisadora de pós-doutorado no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), no Rio de Janeiro, convite que recebeu do professor Luiz Velho logo depois do doutorado. A crescente criminalidade, com seus métodos cada vez mais sofisticados, determina a necessidade de aplicação de processos científicos que possam ser usados em sua prevenção e investigação. Essas tarefas movem governos e pesquisadores. A investigação forense de um crime envolve um processo complexo, que se inicia na sua ocorrência e continua no laboratório de forma que os tribunais sejam supridos de informações e argumentos necessários à materialização da ocorrência do delito e à identificação dos culpados. Para que os resultados alcançados sejam os mais eficientes e eficazes possíveis, os investigadores precisam de suporte técnico e de conhecimento.

Com vistas a essas necessidades, o foco da tese de doutorado de Fernanda concentrou-se na ciência forense, área multidisciplinar que, além de várias disciplinas, agrega conhecimentos da ciência da computação que permitem o uso de métodos computacionais e de computadores na investigação forense. A computação forense, resultante da junção da ciência forense e da computação, estuda métodos que auxiliam o investigador na análise mais acurada de vestígios, além de fornecer bases científicas para procedimentos forenses tradicionais, permitindo a representação digital do conhecimento e das habilidades do especialista, de forma a possibilitar-lhes o uso automatizado. Em vista disso, diz ela, “o objetivo geral da minha tese é propor métodos computacionais que possam auxiliar procedimentos tradicionais da ciência forense. Proponho, então, três métodos distintos, associados a três temas da ciência forense: fotogrametria, reconstrução tridimensional de vestígios e reconstrução de imagens fragmentadas”. Fernanda explica que no mestrado dedicou-se ao processamento de imagens, estudando e propondo descritores, que são funções utilizadas para extrair delas características de cor, forma e textura, o que torna possível compará-las para determinar o quanto são ou não semelhantes. Já no doutorado estudou inicialmente a reconstrução tridimensional (3D) a partir de imagens. Nessas reconstruções, o principal problema é a recuperação de informações de profundidade, perdidas na passagem do mundo 3D para o plano bidimensional da imagem. A partir disso, começou a estudar outros temas forenses que foram sendo agregados à tese.

Fotos: Divulgação

Primeiro método: a partir da altura de um objeto de referência (59 cm), a altura de uma pessoa foi calculada (171,5 cm) na imagem

MÉTODOS O primeiro método estudado por ela foi o da fotogrametria, que é o processo de fazer medições no plano da imagem para relacioná-las com a altura de objetos e pessoas. A obtenção de medidas de objetos em imagens é um requisito consuetudinário em computação forense, pois a altura estimada de uma pessoa pode ser usada como evidência corroborativa. Para tanto é necessário recuperar a profundidade dos pontos tridimensionais correspondentes a cada ponto da imagem. Isso é possível pela detecção na imagem dos pontos de fuga: pontos na imagem em que as linhas paralelas projetadas se encontram. O objetivo, neste caso, é o da detecção eficaz de tais pontos de fuga em uma única imagem. A pesquisadora esclarece que atualmente existem diversos métodos de fotogrametria que utilizam pontos de fuga, mas que o detector por ela proposto se mostrou mais eficaz comparativamente aos mais recentes propostos na literatura, permitindo a medição de alturas com erro de mais ou menos 0,41 cm, o que determinou a sua incorporação em conhecido método de fotogrametria, aumentando-lhe a acurácia. O segundo método atende às necessidades das investigações forenses que dependem da coleta e análise de vestígios encontrados na cena do crime. Neste caso, assume importância a impressão de calçado, particularmente sobre terra, areia ou neve. O desafio da perícia é a reconstrução tridimensional deste tipo de vestígio a partir de fotografia ao seu redor, de forma que possa gerar um modelo 3D digital da impressão do calçado a partir apenas de fotografias. Atualmente o método mais utilizado é o da modelagem em que um material como o gesso é derramado sobre a

Segundo método: modelos tridimensionais gerados por (a) digitalização 3D e (b) o método da pesquisadora; os resultados são comparáveis.

impressão da qual, uma vez seco o material utilizado, resulta um molde. Esse processo, além de destruir o vestígio, é lento e gera custos com o transporte do molde. Embora de emprego menor, outro método utilizado nesses casos envolve a digitalização por meio de scanners 3D. Apesar de bastante eficaz, rápido e não intrusivo, exige disponibilidade local do equipamento, o que nem sempre é possível devido ao custo e ao difícil manuseio. Além do método proposto por Fernanda exigir a utilização de apenas de uma câmera fotografia, oferece a vantagem da rapidez e da não intrusão , apresentando ainda acurácia comparável ao do modelo gerado pela digitalização. O terceiro método envolve a reconstrução de imagens a partir de fragmentos retangulares, a exemplo de um quebracabeça. É empregado quando há necessidade de reconstruir imagens fragmentadas, inclusive propositalmente a fim de ocultar informações. Através de uma formulação matemática que permite a atomização dos parâmetros envolvidos é possível descobrir a combinação dos fragmentos que levam à imagem original. A autora lembra que existem dois outros métodos recentes na literatura que tratam do mesmo problema, utilizando abordagens diferentes. Mas considera que atualmente “o nosso método é o estado da arte na reconstrução de imagens, por exigir menor tempo computacional e apresentar acurácia mais elevada”. Fernanda realizou experimentos práticos para os três métodos propostos, embora sem testá-los em situações reais como as das investigações forenses. Entretanto, segundo ela, os dados selecionados para esses experimentos foram cuidadosamente criados e devidamente utilizados para que a acurácia dos métodos propostos fosse passível de comparação com os descritos na literatura.

Fernanda Alcântara Andaló, autora da tese: dados selecionados para experimentos foram cuidadosamente testados

A pesquisadora se preocupou em explorar métodos computacionais aplicáveis à ciência forense. Para ela o trabalho se justifica pois, embora já exista um certo grau de automação em métodos forenses tradicionais, uma grande parte do que é utilizado hoje envolve habilidade e arte ao invés de ciência. Sobre a aplicação imediata dos métodos ela esclarece: “Nenhum método proposto para aplicações de alto risco pode ser utilizado sem que tenha sido extensivamente testado em situações reais e controladas. Os métodos propostos foram analisados e testados com embasamento científico e tiveram o desempenho comparado a outros existentes. Porém, para os seus empregos há necessidade que sejam testados com dados reais, obtidos por investigadores forenses. Estamos buscando parcerias para esse estudo”.

Publicações Tese: “Métodos de visão computacional aplicáveis à ciência forense” Autora: Fernanda Alcântara Andaló Orientador: Siome Klein Goldenstein Unidade: Instituto de Computação (IC) Terceiro método: reconstrução de imagem a partir de 3,3 mil fragmentos, com 100% de acurácia


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Navegando na rede de oferta e na demanda da música digital Tese desenvolvida na FEE descreve logística e transporte de ativos, identificando atores envolvidos no processo LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

professor Raul Arellano Caldeira Franco é autor de um estudo único em que descreve um sistema novo e complexo: a logística e especialmente o transporte de ativos digitais na rede de oferta e demanda de música via internet – a Digital Supply Chain (DSC). A tese de doutorado identificando os atores, estrutura, processos, relações, finalidades, fluxos e características econômicas e de serviço de transporte na DSC, orientada pelo professor Orlando Fontes Lima Júnior, foi defendida junto à Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp. “Na área de logística, a abordagem sempre foi predominantemente física: armazenagem, separação de pedidos, transporte, distribuição de produtos. A questão colocada para o doutorado era se existiria um sistema similar no mundo virtual”, explica Raul Arellano. “A grande lacuna na literatura acadêmica – que traz muito sobre tecnologias, marketing e pirataria – era a falta de uma descrição de como funciona o sistema de logística e de transporte de ativos digitais. Como na biologia, quando se encontra uma espécie nova, é preciso descrevê-la antes de evoluir para outros estudos”. Na opinião do autor, o principal mérito de sua pesquisa é de ajudar a entender este sistema de distribuição que tem grande impacto não somente na indústria da música, mas em todos os setores relacionados com ativos digitais, como de filmes, televisão, vídeos, player games, publicações, softwares e educação. “Para não ampliar demais o escopo da pesquisa, nos limitamos ao mais simples: a música. Focamos lojas virtuais como o iTunes da Apple e a Sonora do Portal Terra no Brasil, e também realizamos um estudo de caso de um e-tailer (loja virtual de CDs físicos).” Arellano afirma que, sob a ótica da logística e principalmente do transporte de ativos digitais, é possível desenvolver meios eficientes de alcançar um mercado potencial de mais de 2 bilhões de usuários da internet. “Estudando a estrutura e seus atores, observamos um sistema extremamente responsivo, que dá um atendimento imediato ao consumidor. Quando se pede um CD através da Americanas.com, o produto demora pelo menos um ou dois dias a chegar. Pela DSC, a música chega ao celular, tablet ou computador do comprador em questão de segundos, na forma mais personalizada possível.” O autor da tese faz uma breve descrição de como funciona a Digital Supply Chain, a partir do processo de criação dos artistas. “A cadeia começa quando a gravadora disponibiliza os ativos digitais máster de músicas (fonogramas) para varejistas virtuais, portais de música, redes sociais ou operadoras de telefonia celular. Estes entregam os fonogramas aos gestores de conteúdo (Content Management Systems), que se encarregam de adequar e proteger o ativo digital para distribuí-lo através dos Gestores de Distribuição na Rede de Entrega de Conteúdo (Content Delivery Network – CDN).” A maior ênfase dada por Raul Arellano ao aspecto do transporte se deve ao papel fundamental exercido pelos CDNs no apoio às vendas e distribuição pela internet. “Trata-se de uma rede de servidores localizados em datacenters espalhados por todo o mundo, que buscam os ativos digitais das gravadoras ou artistas nos servidores dos gestores de conteúdo (CMS), a fim de distribuí-los em alta velocidade de resposta aos consumidores. Os CDNs atuam como as transportadoras do mundo físico: levam a música aos acessos de rede mais próximos da pessoa que fez o pedido.”

TUDO COMEÇOU NO MIT

O pesquisador informa que a mais relevante dessas empresas de distribuição é a Akamai, detentora de 95 mil servidores localizados em quase 2.000 dos principais provedores de redes backbone e de serviços de internet no mundo, facilitando os downloads pelos clientes. “A Akamai nasceu no MIT [Massachusetts Institute of Technology], quando Tim Berners-Lee (a quem é creditada a criação da World Wide Web) fez uma advertência ao professor de matemática Tom Leighton: que o congestionamento logo se tornaria um grande problema, uma vez que a Web já era um sucesso absoluto.” Segundo Arellano, Leighton e um aluno de doutorado, Daniel Lewin, começaram a desenvolver um algoritmo inovador para otimizar o tráfego de dados e, em 1998, juntamente com uma equipe de 30 especialistas, fundaram a Akamai. A empresa hoje oferece serviços para sites de grande porte como Facebook, Twitter, MySpace, Yahoo, Apple e Amazon.com. “Os matemáticos do MIT criaram um sistema de monitoramento mundial da internet para roteirizar os ativos digitais desde os proprietários de conteúdos até os servidores próximos dos consumidores. Evitando vias com spam, outras sujeitas ao ataque de hackers ou aquelas que simplesmente caíram, eles fazem com que a Web se torne muito mais rápida.” A tese de doutorado traz um histórico lembrando que, no final dos anos 1990, iniciou-se o uso do padrão de música ISO Mp3, junto com o lançamento de reprodutores digitais portáteis de música como o Rio PMP 300 da Diamond Multimedia, que podia armazenar até 60 minutos de música. “Atualmente o iPod da Apple pode armazenar até 160 Gb [Gigabytes] ou 40 mil músicas para o consumidor ouvir onde e quando quiser. (...) Uma música no formato Mp3 pode ser baixada em 4 segundos através de uma conexão 4G, ou em 40 segundos com uma conexão de banda larga de 1 Mbps [Megabits/segundo]. Há dez anos isso levaria mais de 5 minutos com uma conexão discada”, escreve o autor.

NA

Outro achado de Steve Jobs O pesquisador Raul Arellano aponta o iTunes da Apple como um exemplo de sucesso devido à Akamai, que domina 70% do mercado de distribuição mundial de ativos digitais e 15% a 30% de todas as transações diárias da Web. “Antes, só era possível comprar o CD, pagando por dez ou doze músicas. Quebrando paradigmas, Steve Jobs teve a ideia da venda a la carte, com o consumidor pagando apenas pelas músicas que quer, a preços variando de 69 centavos a 1,29 dólar (na Sonora, chega a custar apenas 20 centavos de dólar). Foi uma forma bastante inteligente de usar a música para vender indiretamente os produtos de maior valor agregado, já que o cliente vai ouvi-la no iPod, iPad, iPhone ou iMac.” Informações colhidas por Arellano dão conta de que a indústria da música (no seu sentido mais abrangente) faturou em 2007 e 2008 a cifra global de US$ 160 bilhões. Entretanto, as vendas de música no varejo caíram de um pico de US$ 45 bilhões em 1997 para US$ 25,4 bilhões em 2009. “A indústria como um todo não reduziu o faturamento, que vem até crescendo. O que está ocorrendo é uma transferência, por exemplo, para os shows ao vivo e equipamentos de reprodução musical. Há inclusive um conflito entre os artistas quanto a buscar formas de cobrar pela música ou cedê-la gratuitamente para lucrar com shows e outras formas de merchandising.” A tese apresentada na FEC, segundo o autor, abordou a defesa dos direitos autorais – aspecto importante para o funcionamento da Digital Supply Chain – mas o processo paralelo de distribuição e obtenção ilegal de música ficou fora do escopo da pesquisa. Um dado preocupante, porém, diz respeito a 1,9 bilhão de faixas de músicas compartilhadas ilegalmente via internet em 2003, estimando-se que tenham chegado a 40 bilhões em 2008 – e que apenas 3,7 bilhões foram vendidas legalmente pela rede. “Mas a música digital já representa entre 20% e 30% do mercado, sendo que a adesão deve aumentar com o custo cada vez menor na compra a la carte.” Uma última informação obtida por Raul Arellano é que 25% das vendas feitas legalmente são atribuídas ao iTunes da Apple, que anunciou ter mais de 100 milhões de contas em 23 países, 8 milhões de faixas de músicas sem criptografia, 20 mil episódios de TV e 2.000 filmes. Em janeiro de 2009, a loja virtual declarou ter vendido, desde a sua fundação até aquela data, 6 bilhões de músicas. Atualmente, as vendas de ativos digitais através da internet representam 40% do maior mercado mundial de música no varejo, que é dos Estados Unidos. Foto: Reprodução

EDUCAÇÃO

Professor na Extensão da Unicamp pelo Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes (Lalt) da FEC, e também na Pós-Graduação da Fundação Vanzolini (Politécnica/USP), Arellano considera que a Digital Supply Chain possui grande aplicabilidade na educação. “A tese foca apenas a pontinha do iceberg, de uma revolução que está acontecendo em todas as áreas. Não se trata apenas de música, mas de vídeos, redes sociais, softwares de simulação, que vão demandar muita logística virtual para atender de forma adequada os consumidores de serviços educacionais sedentos por essas novas tecnologias.”

Steve Jobs: usando a música como isca

Publicações Tese: “Logística e transportes na digital supply chain: estudo de caso único sobre a rede de oferta e demanda de música digital” Autor: Raul Arellano Caldeira Franco Orientação: Orlando Fontes Lima Júnior Unidade: Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) Fotos: Antoninho Perri

O professor Raul Arellano Caldeira Franco, autor do estudo: “A tese foca apenas a pontinha do iceberg”

Internauta navega em página do iTunes: ajudando a entender o sistema de distribuição


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Nas bancas

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Adição de grão de soja na dieta de cordeiro deixa carne mais saudável Experimentos feitos na FEA resultaram em teores mais baixos de gorduras saturadas RAQUEL DO CARMO SANTOS kel@unicamp.br

adição de grãos de soja, na alimentação de cordeiros, pode melhorar a qualidade da carne quanto aos teores de ácidos graxos insaturados, como o ácido linoléico e o CLA (ácido linoléico conjugado), considerados a gordura “boa” para o organismo humano. É o que aponta uma pesquisa realizada na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA). Foram feitos testes com 24 cordeiros, incluindo na dieta deles sementes oleaginosas como caroço de algodão, grão de soja e girassol. O estudo, desenvolvido por Mariana Masson Guizzo, segue a tendência atual da demanda crescente por alimentos saudáveis, cujas características principais são os baixos teores de gorduras saturadas. A pesquisa foi orientada pelo professor Pedro Eduardo de Felício e a sua principal contribuição foi conhecer quais os efeitos da nutrição animal, principalmente, sobre as características da carcaça e da carne. “Um dos maiores desafios do setor produtivo da carne está relacionado com a alteração do perfil de ácidos graxos por meio da manipulação da dieta fornecida aos animais. Sabe-se que os animais ruminantes tendem a ter maior concentração de gordura saturada em sua composição”, argumenta a autora do estudo, a zootecnista Mariana Masson Guizzo. Os animais foram divididos em quatro grupos, sendo que cada um foi alimentado com um tipo de semente. Os testes com os

grãos de soja tiveram os melhores resultados e, por isso, constituem uma boa opção para o setor pecuário por proporcionar menor concentração de gordura saturada na carne. Além disso, não se observou influência nas características sensoriais, como o aroma e o sabor da mesma, pois teve maior aceitabilidade pelos consumidores de carne ovina e, ainda, apresentaram parâmetros da zootecnia favoráveis. Já no caso dos cordeiros alimentados com sementes de girassol, embora a qualidade da carne não tenha sido afetada, os animais não tiveram um bom desenvolvimento quando avaliados pela zootecnista. Os resultados obtidos, quanto à avaliação sensorial, apontaram que apenas o grupo alimentado com caroço de algodão teve uma menor aceitação por parte dos analisadores, em relação aos atributos aroma e sabor, considerados “estranhos”. “O caroço de algodão é muito usado pelos produtores, principalmente para dieta de bovinos, na época da seca, na qual há maior incidência de confinamentos”, explica Mariana. Por isso, muitos pesquisadores estão se dedicando a estudos para saber se seria a melhor opção para a produção animal em relação à qualidade da carne. Neste sentido, a autora do estudo espera em um projeto de doutorado investigar melhor esta questão, uma vez que a diferença na análise sensorial foi significativa, indicando que o sabor da carne pode ser diferente. A escolha da soja, algodão e girassol se deu pelo fato de serem fontes encontradas facilmente no país. O girassol e a soja, por

Foto: Antonio Scarpinetti

Mariana Guizzo , autora do estudo: “Os ruminantes tendem a ter maior concentração de gordura saturada”

exemplo, são produzidas em grandes quantidades, além de possuírem altos teores de gordura “boa”. Já a semente de algodão é um subproduto da indústria com baixo custo para o produtor e utilizada em larga escala por alguns produtores pela sua viabilidade econômica. “O teor de gordura e a composição de ácidos graxos da carne assumem, atualmente, um papel importante na cadeia produtiva sob influência das exigências do mercado consumidor”, destaca Mariana Guizzo.

Publicações Dissertação: “Efeitos de rações contendo oleaginosas (soja, girassol ou algodão) nas características da carne (M. Longissimus) de cordeiros” Autora: Mariana Masson Guizzo Orientador: Pedro Eduardo de Felício Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) Financiamento: CNPq

Morador despreza área de lazer de condomínios

Pesquisa mostra que, quanto maior o poder aquisitivo, menor o uso de espaços Piscinas com raia, salas de cinema, SPA com banheiras de ofurô, quadras de squash, áreas gourmet. Estes são apenas alguns dos itens de lazer coletivo oferecidos pelo mercado para os condomínios verticalizados voltados para a população de maior poder aquisitivo. Mas será que seus moradores usufruem de todos esses espaços e equipamentos? Uma pesquisa apresentada no Programa de Pós-Graduação de Arquitetura, Tecnologia e Cidade da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) revelou que a maioria das famílias não faz uso dos espaços comuns para lazer. O estudo de caso foi feito em três condomínios, localizados na área central de Guarulhos na Região Metropolitana de São Paulo, e seus resultados apontaram que, quanto maior a renda dos moradores, menor é o seu uso, embora seja exatamente onde os espaços livres de uso comum são amplos e diversificados. “Os espaços coletivos mais utilizados são piscina e salão de festas. No entanto, a tendência atual nos grandes centros urbanos é oferecer um número grande de espaços livres e equipamentos para uso coletivo, em detrimento da área útil dos apartamentos. Acredito que as decisões de projeto para esses ambientes devem contribuir para a qualidade de vida dos moradores em plenitude”, afirma a arquiteta Gislaine Cristina Villela Araújo, que apresentou dissertação de mestrado sob orientação do professor Francisco Borges Filho e da professora Silvia Mikami Pina. Para Gislaine Araújo, a falta de tempo e o envolvimento com várias atividades podem ser causas para que as famílias não façam uso frequente desstes espaços. “Há também a opção por menor número de filhos e o envolvimento grande com o trabalho”, acredita.

Foto: Antonio Scarpinetti

do Gislaine, as análises apontam ainda que as tendências de programas de necessidades e configurações espaciais de acordo com a intensidade, diversidade de público e da satisfação pelos moradores devem ser considerados em futuros projetos habitacionais com espaços livres comuns. (R.C.S.)

Região de condomínios de alto padrão em Campinas: áreas de lazer valorizam o imóvel

Ainda que não utilizem frequentemente e o custo para a manutenção destes ambientes seja alto, os moradores afirmaram que o fato de existir os espaços comuns valoriza o imóvel. “Eles têm consciência de que os valores e benefícios implicam diretamente no montante de venda ou locação do apartamento e, por isso, acreditam que vale a pena ter uma área comum, ainda que obsoleta”, esclarece Gislaine. Por outro lado, o estudo mostrou que as famílias estudadas de menor renda em que o número e metragem dos espaços coletivos eram mais reduzidos, fazem uso mais intenso e frequente das áreas comuns. Elas gostariam que o condomínio oferecesse um maior número de espaços livres e equipamentos de lazer por acreditarem ser importante para a qualidade de vida e facilitar o convívio com os

vizinhos. Infelizmente, são os locais de pior qualidade e de área e atividades reduzidas. A pesquisa realizada por Gislaine Araújo contemplou as respostas de um questionário de 64 famílias que residiam nos três condomínios estudados. A amostragem foi dividida em casos 1, 2 e 3, ou seja, de acordo com a faixa salarial dos moradores de cada condomínio. No caso 1 e 3, a renda correspondia entre R$ 3 mil e 6 mil e, no caso 2, a renda dos moradores, em sua maioria, era superior a R$ 6 mil. Além do questionário, a arquiteta também colheu depoimentos pessoais por meio de entrevistas e fez o levantamento e análise das plantas e documentação do condomínio. “Os resultados indicam que há programas e apropriações distintas dos ambientes comuns, de acordo com a faixa econômica dos moradores”, explica. Segun-

Gislaine Cristina Villela Araújo, autora da dissertação: questionário e análise de plantas

Publicação Dissertação: “Espaços livres e coletivos em condomínios habitacionais verticalizados: o caso de Guarulhos - SP” Autora: Gislaine Cristina Villela Araujo Orientador: Francisco Borges Filho Coorientadora: Silvia Mikami G. Pina Unidade: Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC)


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Tese desvenda ação de endotoxinas

em infecções na polpa dentária Estudo da FOP foi contemplado com o Prêmio Capes na área de odontologia

Fotos: Antonio Scarpinetti

A professora Brenda Paula Figueiredo de Almeida Gomes (à direita, em pé), orientadora da pesquisa, acompanha atendimento na FOP ao lado do cirurgião dentista Frederico Canato Martinho, autor da tese: quanto maior a carga de endotoxinas, maior a resposta inflamatória

CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

professora Brenda Paula Figueiredo de Almeida Gomes, da área de endodontia – especialidade da área de odontologia responsável pela prevenção, tratamento e eliminação da dor de origem pulpar (do nervo) e periapical (da extremidade da raiz do dente) – da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Unicamp, tem se sentido particularmente gratificada com os resultados obtidos por seus orientados. Com efeito, desde 2007 eles vêm sendo aquinhoados com os prêmios Capes de teses e recebendo menções honrosas. O Prêmio Capes de Teses e o Grande Prêmio Capes de Tese foram instituídos com o objetivo de outorgar distinção às melhores pesquisas de doutorado defendidas e aprovadas nos cursos reconhecidos pelo MEC, com base nos quesitos originalidade e qualidade. Na edição de 2012, o vencedor do Prêmio Capes de Teses na área de odontologia foi o cirurgião dentista Frederico Canato Martinho, que investigou o papel das endotoxinas nas infecções endodônticas – assim chamadas porque desenvolvidas na polpa dentária. A pesquisa envolveu o emprego de diferentes manobras endodônticas – tais como uso de técnicas e de substâncias específicas – utilizadas na redução ou eliminação dos micro-organismos e endotoxinas e também o monitoramento do potencial inflamatório dessas endotoxinas, que se manifesta através da produção de quimiocinas e citocinas pró-inflamatórias. Com efeito, as bactérias gram-negativas possuem em sua membrana externa as endotoxinas, as quais são capazes de estimular células a produzirem citocinas pró-inflamatórias envolvidas na destruição tecidual periapical. De acordo com a professora Brenda, diferentemente dos trabalhos apresentados na literatura endodôntica, a pesquisa teve como objetivos não só identificar o perfil infeccioso da doença endodôntica, mas avaliar simultaneamente a atividade endotóxica e o potencial inflamatório do conteúdo endodôntico frente a diferentes protocolos de tratamento preconizados por profissionais da área. Tratou-se de uma pesquisa clínica, portanto envolvendo pacientes, integrada à imunobiologia celular, que utilizou diversos métodos de identificação microbiana, de detecção e quantificação de endotoxinas e de monitoramento de citocinas pró-inflamatórias. Os dados obtidos permitiram estabelecer uma conexão entre os resultados laboratoriais e os aspectos clínicos dos pacientes: quanto maior a carga de endotoxinas, maior a resposta inflamatória, maior a dor e consequentemente a severidade da doença. Os resultados do trabalho apontam para a necessidade da adoção de uma terapia endodôntica contemporânea mais eficaz, baseada na erradicação da infecção, tanto dos micro-organismos, que envolve o aspecto microbiológico, como das endotoxinas deles provenientes. A professora esclarece que isso é necessário porque “o conteúdo infeccioso dos canais radiculares mostrou-se de grande complexidade e com alto potencial inflamatório, capaz de promover a destruição tecidual”. Encerrando um ano particularmente feliz, a professora Brenda acaba de receber também o Prêmio de Reconhecimento Acadêmico “Zeferino Vaz”, conferido anualmente pela Unicamp, como premiação ao desempenho acadêmi-

co excepcional, a professores que se tenham destacado nas funções de docência e pesquisa.

CAMINHADA

A docente considera que a conquista de seu orientado é uma premiação de sua caminhada. Nos dois últimos anos, Frederico publicou sete artigos no Journal of Endodontics em que comparou níveis de endotoxinas com as infecções; relacionou os níveis de endotoxinas e grau de destruição de tecidos via citocinas; investigou o potencial inflamatório em relação à presença de bactérias gram-negativas; validou testes de quantificação de endotoxinas; avaliou técnicas modernas de instrumentação de canais radiculares em conjunto com a utilização de substancias auxiliares; investigou endotoxinas em dentes infectados e a presença de bactérias gram-negativas e seu potencial inflamatório; comparou o uso do hipoclorito de sódio e da clorexidina, presente em certos enxaguatórios bucais, na eliminação de endotoxinas, assim como o uso de uma irrigação final com EDTA. Nesse mesmo período, ele recebeu dez prêmios acadêmicos, 70% deles como primeiro colocado. Para o desenvolvimento das pesquisas, Frederico se valeu de diversas parcerias nacionais e internacionais. Trabalhou em colaboração com Joni Augusto Cirelli, atualmente professor assistente da Unesp de Araraquara; com Fábio Renato Manzoli Leite, hoje professor adjunto da Universidade Federal de Pelotas; com Wanderson Miguel Maia Chiesa, especialista, mestre e doutor em endodontia. No exterior estagiou com o professor Richard Darveau, do Departamento de Periodontia, da Universidade de Washington em Seattle, WA, EUA, e com o professor Donald Sodora, do Departamento de “Global Health”, desta mesma universidade. A orientadora considera que os resultados obtidos por Frederico trouxeram respostas a vários questionamentos e geraram outros que deverão impulsionar futuras investigações dentro da linha de pesquisa desenvolvida. Ele mesmo, em programa de bolsa de pós-doutorado do CNPq, ainda orientado pela professora Brenda, se dedica à “Avaliação da antigenicidade do conteúdo endodôntico de canais radiculares com infecções endodônticas primárias e lesões periapicais”, estas últimas assim chamadas porque envolvem os tecidos que cercam a extremidade terminal da raiz do dente. Atuando hoje como professor assistente da Unesp de São José dos Campos (FOSJC), o pesquisador vê a premiação como incentivo e excelente oportunidade de dar sequência à sua linha de pesquisa – microbiologia aplicada à endodontia – junto aos programas de pós-graduação da Unicamp e da Unesp, contribuindo para a produção científica nacional.

TRATAMENTO

O dente, preso ao tecido ósseo através do ligamento periodontal, é composto por coroa e raiz, que na parte interna são constituídas pela polpa, um tecido orgânico altamente inervado e vascularizado. Esse tecido pode vir a ser infectado por bactérias que existem na cavidade oral, que podem chegar até ele principalmente através da cárie dental. O tratamento de endodôntico (de canal), além de remover a polpa deve eliminar também micro-organismos e endotoxinas presentes nas bactérias gram-negativas. Sem esse tratamento a infecção vai se disseminando até a parte terminal do dente, a região apical, manifestando-se de forma aguda nos

tecidos periapicais (fora do dente), que correspondem à parte de suporte do dente. Se não houver tratamento, há possibilidade de ocorrer uma disseminação sistêmica do processo infeccioso, que pode levar à morte, em consequência da proximidade do forame apical com os vasos sanguíneos. Em um canal infectado existem principalmente restos de polpa morta, micro-organismos e endotoxinas. Esse conjunto microbiano/endotóxico exerce uma ação nos tecidos periapicais gerando uma resposta imune/inflamatória provocada por um grupo de citocinas. Em decorrência, o conhecimento do conteúdo infeccioso/endotóxico dos canais radiculares e das citocinas inflamatórias na região periapical é importante para o estabelecimento de estratégias de tratamento. Para Frederico, a pesquisa mostrou que o tratamento endodôntico contemporâneo – que se vale de sistemas automatizados para instrumentação dos canais e do emprego de substâncias auxiliares – é eficaz na remoção deste conteúdo microbiológico/endotóxico com a utilização de uma única sessão, desde que observadas algumas condições prévias de caráter eminentemente técnico prescritas nos protocolos. A professora Brenda ressalta que foram comparados diferentes métodos de quantificação de endotoxinas, alguns de emprego inédito na endodontia, embora de uso corrente em outras áreas de saúde, o que permitiu validar os que melhor se aplicaram nas infecções endodônticas presentes nas amostras coletadas. Para ela, essa validação, que nunca tinha sido feita na área endodôntica e foi publicada no Journal of Endodontics, serve de diretriz para estudos futuros. Outra abordagem inédita realizada pelo pesquisador foi a avaliação de protocolos clínicos eficazes na redução/eliminação de endotoxinas dos canais radiculares que permitem um pós-operatório mais favorável, acelerando o reparo tecidual. Foram então comparadas as eficácias das técnicas manuais e rotatórias de instrumentação dos canais radiculares e também de diferentes substâncias químicas, de uso na clínica endodôntica, em relação às suas atividades antimicrobianas e endotóxicas. A professora Brenda destaca ainda no trabalho a avaliação da antigenicidade do conteúdo infeccioso, ou seja, o que está dentro do canal é capaz de estimular uma resposta inflamatória na região periapical do dente. A propósito, ela diz que não havia na literatura trabalhos que caracterizassem simultaneamente a infecção presente nos canais radiculares sob os aspectos microbiológicos, endotóxico e do potencial inflamatório. “Os resultados mostram que a antigenicidade do conteúdo endotóxico não está relacionada somente com o nível de endotoxinas, mas também com o número de diferentes espécies de bactérias gram-negativas envolvidas na infecção”, acrescenta.

Publicações Tese: “Estudo microbiológico e de endotoxinas de canais radiculares com infecções endodônticas primárias e avaliação da antigenicidade do conteúdo infeccioso contra macrófagos na produção de citocinas pró-inflamatórias” Autor: Frederico Canato Martinho Orientadora: Brenda Paula Figueiredo de Almeida Gomes Unidade: Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP)


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Campinas, 11 a 17 de março de 2013

Unicamp inaugura LaCTAD Unidade multiusuário vai reunir equipamentos de última geração Fotos: Antoninho Perri

MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

A proposta de criação do LaCTAD foi submetida ao edital do Programa de Equipamentos Multiusuários da Fapesp em 2009. Em 2010, ela foi aprovada e, no ano seguinte, foi iniciada a oferta de serviços, com as tecnologias instaladas provisoriamente nas unidades de ensino e pesquisa. Os equipamentos têm capacidade para realizar inúmeros procedimentos, tais como análise de sequenciamento de DNA e RNA, montagem de genomas, análise de microscopia confocal e purificação de proteínas, entre outros. O LaCTAD dispõe de um Conselho Científico de Administração formado por especialistas da Unicamp, que respondem pela supervisão geral das atividades do laboratório. São eles que estabelecem diretrizes e metas, por exemplo.

A Unicamp inaugurou no último dia1° o seu Laboratório Central de Tecnologias de Alto Desempenho (LaCTAD), unidade multiusuário que reúne equipamentos de última geração destinados a análises nas áreas de Genômica, Bioinformática, Proteômica e Biologia Celular. A cerimônia de entrega das instalações físicas do laboratório contou com a presença do reitor Fernando Ferreira Costa e do diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Carlos Henrique de Brito Cruz. Durante a inauguração, o pró-reitor de Pesquisa da Unicamp, Ronaldo Pilli, lembrou que antes mesmo da conclusão do prédio do laboratório os equipamentos já estavam em operação, descentralizados nas unidades de ensino e pesquisa. “Agora, vamos reuni-los aqui, onde ficarão à disposição dos pesquisadores da Universidade e de outras instituições do país”. O objetivo do LaCTAD, destacou Pilli, é apoiar as pesquisas em áreas estratégicas das ciências da vida, tendo por princípios a otimização do uso das tecnologias e a racionalização dos custos. “Isso ainda é relativamente novo no Brasil, mas comum na Europa e Estados Unidos”. O diretor científico da Fapesp, entidade que investiu cerca de R$ 5,5 milhões na compra dos equipamentos para o laboratório – a construção do prédio e a contratação dos funcionários ficaram a cargo da Unicamp -, manifestou a sua satisfação por participar da entrega do LaCTAD. “A Fapesp tem desafiado as instituições de pes-

Vida Teses da semana Painel da semana Teses da semana Livro da semana Destaques do Portal da Unicamp

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Painel da semana  Fórum de empreendedorismo e inovação - “Comportamento humano. afinal, quem é seu cliente?”. Este é o tema do Fórum a ser realizado no dia 11 de março, às 9 horas, no Centro de Convenções. A organização é do Núcleo das Empresas Juniores da Unicamp. Inscrições e outros detalhes podem ser obtidos no link http://foruns.bc.unicamp.br/foruns/ projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/evento45. html ou telefone 19-3521-4759.  Aulas internacionais em Agroecologia - De 11 a 15 de março serão realizadas na Unicamp Aulas Abertas em Agroecologia, dentro da programação da semana presencial do II Curso de Experto universitário en Soberania Alimentária y Agroecologia Emergente, parceria da Unicamp e outras instituições com a Universidad Internacional de Andalucia. Os interessados podem inscrever-se gratuitamente pelo site da Rede de Agroecologia da Unicamp http://www.cisguanabara.unicamp.br/rau. Organizador: Rede de Agroecologia da Unicamp e Programa de Extensão em Agroecologia da Unicamp Site do evento: www.cisguanabara.unicamp.br/rau. Mais detalhes: 19-3235-1566  Programa de Bolsas Cargill Global Scholars - A Coordenadoria de Relações Institucionais e Internacionais (Cori) organiza palestra informativa aos alunos de graduação sobre o Programa de Bolsas Cargill Global Scholars, na qual serão apresentados os requisitos de elegibilidade e benefícios das bolsas oferecidas para estudantes de graduação em diversas áreas do conhecimento. A palestra ocorre no dia 11 de março, às 12 horas, no Auditório da Biblioteca Central “Cesar Lattes” (BC-CL). Mais informações: 19-3521-7145.  Aula magna do curso de História - No dia 13 de março, às 10 horas, no Auditório do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), acontece a aula magna do Curso de História com o tema “História, Verdade e Ética “. Ela será ministrada pela historiadora Margareth Rago, professora titular do Departamento da História da Unicamp. Seu mais recente livro, “A aventura de contar-se: feminismos, escrita de si e invenções da subjetividade”, tem lançamento previsto para agosto deste ano pela Editora da Unicamp.  Brito Curz em aula inaugural do Nepam - A aula inaugural do Programa de Doutorado em Ambiente e Sociedade do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) será ministrada por Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp e ex-reitor da Unicamp. O evento acontece no dia 13 de março, às 14 horas, no auditório do Nepam. Brito Cruz fala sobre “Alguns

HISTÓRICO

Descerramento da placa durante a inauguração, no último dia 1º: pesquisas em áreas estratégicas

quisa a mudar o patamar de utilização dos seus equipamentos. Não faz sentido ter uma máquina em cada unidade ou órgão. É preciso aumentar a eficiência do uso dessas tecnologias. Nesse sentido, o modelo adotado pela Unicamp é exemplar”, afirmou. Em sua fala, Fernando Costa considerou que todo investimento em laboratório é importante. “Nós não estamos inventando nada com a criação do LaCTAD. Esse modelo existe no mundo todo, nas boas universidades. No Brasil, porém, ele ainda é pouco difundido”, lembrou. Apesar disso, continuou o reitor, a tendência é que esse modelo seja multiplicado pelo país, em razão das vantagens que ele proporciona. “Além

Desafios e Oportunidades em Pesquisa Ambiental Hoje”.  Fórum de ciência e tecnologia - Com o tema “Centros de Recursos Biológicos: Alicerces para a Bioeconomia Mundial”, o Fórum Permanente de Ciência e Tecnologia acontece no dia 14 de março, às 9 horas, no Auditório do Centro de Convenções da Unicamp. Programação, inscrições e outras informações no site http://foruns.bc.unicamp.br/foruns/ projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/tecno60.html  Histórias da literatura latina - O Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), através de sua Secretaria de Extensão, recebe, até 14 de março, as inscrições para o curso Histórias da Literatura Latina I. Com carga horária de 30 horas, ele será ministrado aos sábados, das 14 às 17 horas, na Rua Sérgio Buarque de Holanda 571, no campus da Unicamp. O objetivo do curso é proporcionar uma introdução à literatura antiga e uma reflexão como sua história é narrada, particularmente sob o ponto de vista de alguns autores antigos sobre obras anteriores, coevas e sobre sua futura recepção. Público-alvo: interessados em literatura e cultura antiga em geral, estudantes e professores de literatura. Pré-requisito para participação: ensino fundamental. Mais informações: 19-3521-1520.  Gestão estratégica da inovação tecnológica - O Instituto de Geociências (IG), através do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT), já está recebendo as inscrições para a 7ª turma do Curso de Especialização (modalidade extensão universitária) em Gestão Estratégica da Inovação Tecnológica. O curso está sob a coordenação do professor Ruy Quadros e compreende módulos sobre processos e ferramentas de gestão de tecnologia e inovação, incluindo a gestão da inovação aberta, sobre práticas organizacionais das empresas inovadoras, e sobre as políticas de inovação brasileira, incluindo os programas de incentivo a inovação no Brasil. Público-alvo: profissionais que atuam em posições de gerenciamento do processo de inovação tecnológica na empresa industrial ou de serviços, em especial nas áreas de P&D, Desenvolvimento de Produtos, Processos e Serviços, Desenvolvimento de Aplicações, Engenharia, Desenvolvimento de Novos Negócios, Marketing, Operações, Logística e Qualidade. Gestores de instituições de pesquisa, públicas ou privadas, voltadas para a inovação tecnológica, e profissionais que atuam na formulação, implementação e avaliação de políticas públicas e programas de financiamento da inovação tecnológica. O curso será realizado em 14 de março, no auditório da Agência para a Formação Profissional da Unicamp (AFPU). Programação, inscrições e outras informações na página eletrônica http:// www.extecamp.unicamp.br/gestaodainovacao  Implante coclear - Campinas sediará no dia 15 de março o evento Unicamp de Implante Coclear e Reabilitação Cirúrgica da Audição. Trata-se de uma oportunidade para entrar em contato com novas tecnologias, tratamentos e técnicas na área da Otorrinolaringologia. Focada na discussão de casos clínicos, a formatação do evento privilegiará as condutas que os otorrinolaringologistas e otologistas encontram no dia a dia da prática clínica. Os interessados podem se inscrever pelo site http://www.otorrinounicamp.org.br/eventos/cursos/ eventos_detalhes.asp?cod=16. O encontro está marcado para as 7h30, no Departamento de Otorrinolaringologia do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, seguindo até 17 horas. No dia seguinte, 16, programação médica acontece das 8 às 12 horas. Vagas limitadas. Mais informações pelo telefone 19-3521-7165 e pelo e-mail otorrino.unicamp.hc@gmail.com.  Tributo a James Hillman - Nos dias 15, 16 e 17 de março a Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp receberá, em seu maior auditório, profissionais de destaque em diferentes áreas como Filosofia, Educação, Psicologia e Literatura, que estudaram, ouviram, conviveram e trabalharam com James Hillman, celebrando a vida e sua obra. O Tributo a James Hillman começará com a realização de um ritual de abertura na sexta-feira à noite, às 19 horas, especialmente criado por Maren Hansen. Logo após, o fundador da Pacifica Graduate Institute, Stephen Aizenstat, fará a palestra inicial. No sábado, o Tributo contará com palestras o dia todo, abordando a Psicologia Arquetípica, fundada por Hillman, em diversas áreas de interesse. Ao final deste segundo dia, todos se reunirão numa homenagem mais íntima, emocionante, de duas horas de duração. Para esta homenagem, cada convidado contará um pouco de sua

de atender às necessidades dos pesquisadores, o laboratório multiusuário reduz custos com insumos, manutenção e pessoal especializado para operá-lo. É assim que se faz ciência de qualidade no mundo todo”. Ainda segundo o reitor, antes mesmo de ser inaugurado oficialmente, o LaCTAD já começa a trazer consequências positivas para a Unicamp. “A Universidade assinou dois convênios importantes por causa da existência do laboratório. Uma das parcerias foi firmada com a Embrapa e outra, com o Instituto Politécnico de Madrid. Tenho certeza de que esta unidade será muito útil para as pesquisas nas áreas contempladas e dará um importante impulso à ciência do país”, analisou.

relação com Hillman em textos mais pessoais. Em seguida, o filho de James Hillman, Laurence Hillman, apresentará uma palestra de uma hora sobre a vida de seu pai, sua ligação com ele e com a Astrologia Arquetípica. Programação: http://www. tributoahillman.com.br/programacao.htm  Canarinhos da Terra - O Instituto Cultural Canarinhos da Terra está recebendo inscrições de jovens e crianças de 6 a 14 anos. No dia 16 de março o Canarinhos realiza o evento “Venha fazer música com a gente”, no Espaço Cultural Casa do Lago, das 8 às 12hs, onde promoverá apresentações, jogos e brincadeiras musicais aos interessados em participar do projeto. Os inscritos poderão participar (gratuitamente) dos cursos e oficinas de repertório, técnica vocal, performance, percussão, preparação corporal e direção cênica. Mais informações: telefones: 3249-0583 / 3579-0583 ou e-mail canarinhos@hotmail.com  Zíper na Boca - O Coral Zíper na Boca abre inscrições para novos coralistas. Elas podem ser feitas nos dias 10, 11,14 e 15 de março, das 12 às 14 horas, no Espaço Cultural Casa do Lago (rua Érico Veríssimo 1011), no campus da Unicamp. Não é necessário ter conhecimento de teoria musical. No ato da inscrição, o interessado passará por um teste vocal para avaliação de sua musicalidade e condição vocal.  Arqueologia pública - A Revista de Arqueologia Pública (ISSN: 2237-8294), vinculada ao Laboratório de Arqueologia Pública Paulo Duarte (LAP/Nepam/Unicamp), está fazendo a chamada de trabalhos inéditos para o seu 7° número, julho de 2013. O periódico eletrônico tem como objetivo divulgar pesquisas que abordem temáticas da Arqueologia Pública, do Patrimônio e da Memória, constituindo-se como um espaço para diálogos de experiências teóricas e práticas. A submissão de trabalhos vai até 10 de março de 2013. As contribuições devem ser encaminhadas para: arqueologiapublica.revista@ gmail.com. Para mais informações, consulte o endereço eletrônico: http://www.nepam.unicamp.br/arqueologiapublica/ index.php?sessao=4

Teses da semana  Engenharia Elétrica e de Computação - “Maximização da potência característica de linhas de transmissão” (mestrado). Candidato: Renan de Paula Maciel. Orientadora: professora Maria Cristina Dias Tavares. Dia 11, às 10 horas, no prédio da Pós-graduação da FEEC. “Algoritmos de equalização autodidata concorrente pré- e pós-FFT aplicados a sistemas OFDM” (doutorado). Candidato: Estevan Marcelo Lopes. Orientador: professor Dalton Soares Arantes. Dia 12, às 14 horas, na FEEC.  Engenharia Química - “Produção de açúcar e etanol de primeira e segunda geração: simulação, integração energética e análise econômica” (doutorado). Candidata: Juliana Queiroz Albarelli. Orientadora: professora Maria Aparecida Silva. Dia 11, às 14 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ.  Odontologia - “Avaliação in vitro e in situ da técnica de microabrasão sobre a microdureza e morfologia do esmalte dental” (mestrado). Candidata: Núbia Inocencya Pavesi Pini. Orientador: professor José Roberto Lovadino. Dia 14, às 14 horas, na sala da Congregação da FOP. “Diagnóstico tomográfico de fenestração e deiscência periimplantar - estudo in vitro” (doutorado). Candidato: Sergio Lins de Azevedo Vaz. Orientador: professor Francisco Haiter Neto. Dia 14, às 14 horas, no anfiteatro 2 da FOP.  Biologia - “Avaliação da toxicidade do diflubenzuron e p-cloroanilina em indicadores bioquímicos de organismos não-alvo aquáticos” (mestrado). Candidata: Darlene Denise Dantzger. Orientador: professor Hiroshi Aoyama. Dia 13, às 9 horas, na sala de defesa de teses, prédio da CPG do IB. “Estudo do efeito do peróxido de hidrogênio nas atividades de duas fosfatases ácidas” (mestrado). Candidata: Camila Wielewski Leme. Orientador: professor Hiroshi Aoyama. Dia 14, às 9 horas, na sala de defesa de teses do prédio da CPG do IB. “Expressão ectópica de miR-34a em células de melanoma metastático humano: efeitos sobre vias de sinalização rela-

As informações sobre os serviços prestados pelo LaCTAD podem ser obtidas por meio do site do laboratório, neste endereço: http://www.lactad.unicamp.br. Pedidos de orçamento e agendamentos também podem ser feitos via web. Os custos das análises cobrirão somente as despesas correntes, como insumos e manutenção dos equipamentos. O instrumental do laboratório está à disposição de qualquer pesquisador do país, conforme determinam os critérios estabelecidos pela Fapesp. No próximo mês de maio, o laboratório promoverá, também com o apoio da Fapesp, um workshop internacional que trará renomados especialistas de vários países. Eles tratarão de diferentes temas relacionados com as áreas de atuação da unidade.

cionadas com sobrevivência, proliferação e morte celular” (doutorado). Candidata: Julia Laura Fernandes Abrantes. Orientadora: professora Carmen Veríssima Ferreira Halder. Dia 15, às 9h09, na sala IB-11 do prédio da CPG do IB. “O papel do receptor TRPA1 no desenvolvimento e manutenção da hiperalgesia induzida pela carragenia” (mestrado). Candidato: Ivan José Magayewski Bonet. Orientadora: professora Cláudia Herrera Tambeli. Dia 15, às 14 horas, na sala de defesa de teses, do prédio da CPG do IB.  Computação - “Management of integrity constraints for multi-scale geospatial data” (mestrado). Candidato: João Sávio Ceregatti Longo. Orientadora: professora Claudia Maria Bauzer Medeiros. Dia 13, às 8h30, no auditório IC 2.  Educação Física - “Futebol como projeto profissional de mulheres: interpretações da busca pela legitimidade” (doutorado). Candidato: Osmar Moreira de Souza Júnior. Orientadora: professora Heloisa Helena Baldy dos Reis. Dia 12, às 14 horas, no auditório da FEF.  Estudos da Linguagem - “’Dubliners” / “dublinenses”: retraduzir James Joyce” (mestrado). Candidato: Omar Rodovalho Fernandes Moreira. Orientador: professor Fabio Akcelrud Durão. Dia 13, às 14 horas, no anfiteatro do IEL. “A tradução original” (mestrado). Candidato: Luís Fernando Protásio. Orientadora: professora Maria Viviane do Amaral Veras. Dia 13, às 14 horas, na sala dos colegiados do IEL. “Caos controlado: a tensão entre controle técnico e liberdade criativa em Mistérios e Paixões e Cidade de Deus” (doutorado). Candidato: José Carlos Felix. Orientador: professor Fabio Akcelrud Durão. Dia 14, às 9 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “Educação pela máscara: literatura e ideologia burguesa no Brasil (1844-1856)” (doutorado). Candidato: Rodrigo Soares de Cerqueira. Orientador: professor Francisco Foot Hardman. Dia 15, às 10 horas, na sala de defesa de teses do IEL.  Filosofia e Ciências Humanas - “Lógicas abstratas e o primeiro teorema de Lindström” (mestrado). Candidato: Edgar Luis Bezerra de Almeida. Orientadora: professora Itala Maria Loffredo D’Ottaviano. Dia 11, às 14h30, na sala de defesa de teses da CPG do IFCH.  Física - “Estudo da adsorção de impurezas moleculares e caminhos de reação em nanofios de ouro” (doutorado). Candidata: Ana Paula Favaro Nascimento. Orientador: professor Edison Zacarias da Silva. Dia 15 de março de 2013, às 14 horas, no auditório do DFMC do IFGW. “Utilização da fMRS para o estudo da variação de N-acetilaspartato e N-Acetil-Aspartil-Glutamato durante a ativação cerebral” (mestrado). Candidato: Ricardo Cesar Giorgetti Landim. Orientador: professor Gabriela Castellano. Dia 15, às 14 horas, no auditório da Pós-graduação, prédio D do IFGW.  Química - “Estratégias quimiométricas aplicadas ao estudo de imagens químicas: novas possibilidades para caracterização de produtos e processos farmacêuticos” (doutorado). Candidato: Guilherme Post Sabin. Orientador: professor Ronei Jesus Poppi. Dia 11, às 14 oras, no miniauditório do IQ. “Ecologia química de percevejos da família Phloeidae e Oxirredutase de Bacillus safensis isolado do petróleo” (doutorado). Candidata: Francine Souza Alves da Fonseca. Orientadora: professora Anita Jocelyne Marsaioli. Dia 12, às 9h30, no miniauditório do IQ. “Mercúrio: validação de método para determinação em peixe e camarão e avaliação da sua distribuição em tecidos de caranguejos e efeito da presença de selênio” (doutorado). Candidata: Daiane Placido Torres. Orientadora: professora Solange Cadores. Dia 13, às 9 horas, no miniauditório do IQ. “Resíduos de antibióticos tetraciclínicos em músculo de peixe: Comparação de diversos métodos de extração e avaliação por HPLC” (mestrado). Candidato: Eduardo Adilson Orlando. Orientadora: professora Ana Valéria Colnaghi S. Cantú. Dia 15, ás 14 horas, no miniauditório do IQ. “Abordagens para a síntese de bases esfingóides e análogos da bulgecinina. Enecarbamatos endocíclicos como substratos na organocatálise” (doutorado). Candidato: Pablo David Grigol Martínez. Orientador: professor Carlos Raque Duarte Correia. Dia 8, às 14 horas, na sala IQ-14.

Livro

da semana Da África para o Atlântico

Sinopse: Tomando por referência mais de 150 línguas e famílias linguísticas africanas, e usando dados reunidos em mais de 800 fontes, este volume trata de africanismos potencialmente presentes em todos os níveis linguísticos nas línguas crioulas do Atlântico. A exaustividade, a constante preocupação em confirmar os achados da análise estrutural pelos dados da história externa das línguas e a extrema clareza na definição dos conceitoschave fazem deste trabalho uma referência necessária para todos os leitores interessados nas origens das línguas afro-americanas e afro-caribenhas. A solidez dos pontos de vista expressos sobre os propósitos da crioulística e a visão original sobre contato e influência linguística tornam esta obra uma leitura obrigatória para todos os linguistas interessados em situações de contato e para os estudiosos de crioulos das mais variadas tendências. Autor: Mikael Parkvall é professor no Departamento de Linguística da Universidade de Estocolmo. Como pesquisador, é internacionalmente conhecido por suas posições sobre os conceitos de crioulo e semicrioulo, sendo um dos principais expoentes da tese de que os crioulos podem ser reconhecidos, entre as línguas do mundo, pela presença de determinados traços estruturais. Escreve num estilo simples e cativante, alimentado por uma erudição fantástica, uma incessante interlocução com os principais autores do campo e uma convivência impressionante com a realidade local das sociedades crioulas. Atualmente, ele dirige o projeto Principia Creolica com o objetivo de demonstrar que os crioulos se originam em línguas pidgins e que essas línguas — contrariamente ao que tem se afirmado — representam um caso pouco usual de evolução linguística.

Autor: Mikael Parkvall Tradução: Rodolfo Ilari Ficha técnica: 1ª edição, 2012; 368 páginas Formato: 16 x 23 cm; ISBN Ed. Unicamp: 978-85-268-0986-4 Área de interesse: Linguística Preço: R$ 46,00


Campinas, 11 a 17 de março de 2013

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Extrato da casca da jabuticaba prolonga a vida de probióticos Composto com ação antioxidante foi empregado em produtos como queijos e iogurtes Foto: Antonio Scarpinetti

SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

Pesquisadores da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp obtiveram um extrato natural a partir da casca da jabuticaba, fruta nativa e abundante no país, bastante cultivada em pomares domésticos. O composto bioativo foi utilizado em alimentos com probióticos, como queijos petit suisse e iogurtes, desenvolvidos especificamente para o estudo. A utilização do extrato da jabuticaba nestes produtos possibilitou dois benefícios: aumento da sobrevida dos microrganismos probióticos e ação antioxidante natural, benéfica para a saúde. Alimentos com probióticos são aqueles que possuem organismos vivos capazes de ajudar a manter o equilíbrio intestinal quando consumidos adequadamente. Entre os principais produtos, também considerados funcionais, estão alguns tipos de queijos, iogurtes e bebidas lácteas. Já os alimentos com função antioxidante natural retardam a formação de radicais livres no organismo, que podem causar o envelhecimento precoce e doenças degenerativas. O estudo, de caráter interdisciplinar, foi desenvolvido pelos pesquisadores Rodrigo Nunes Cavalcanti e Adriano Gomes Cruz nos laboratórios de Separação Física (Lasefi) e de Embalagem e Estabilidade de Alimentos. A investigação foi orientada pelos docentes Maria Angela de Almeida Meireles, do Departamento de Engenharia de Alimentos, e José Assis Fonseca Faria, do Departamento de Tecnologia de Alimentos. A pesquisa foi financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). “Utilizamos uma tecnologia ecologicamente correta para obtermos este composto bioativo. Além disso, estamos apresentando um produto natural de alta qualidade e com duplo benefício à saúde por ter propriedade funcional e antioxidante”, destaca o engenheiro de alimentos Rodrigo Nunes Cavalcanti. Coube a ele a extração do composto a partir do resíduo da geleia da jabuticaba, processo que foi orientado pela professora Maria Angela Meireles. “O diferencial em relação aos produtos convencionais é que, utilizando um resíduo da indústria de alimentos, obtivemos um extrato que prolonga a vida do microrganismo. Adicionalmente, ele oferece o benefício de ser um agente antioxidante, propriedade da casca da jabuticaba. Todos os elementos bioativos importantes para a ação antioxidante ficam retidos na casca, que antes era descartada”, reforça a docente da Unicamp.

NATURAIS X SINTÉTICOS A indústria alimentícia faz largo uso de antioxidantes sintéticos para aumentar a vida útil dos seus produtos, explica Maria Angela Meireles. Só que, ao contrário dos naturais, eles podem estar associados a malefícios à saúde. O composto, ainda de acordo com ela, não interfere no sabor nem na cor original do iogurte ou do queijo petit suisse, características próprias de um bom antioxidante. “Se o extrato for adicionado no iogurte ou no queijo, eles não vão ficar com sabor de jabuticaba. Utilizamos uma quantidade bastante pequena justamente para não interferir nisso”, justifica a docente. Maria Angela Meireles explicou também que o pesquisador Adriano Cruz, sob a coordenação do docente José Fonseca Faria, produziu um lote de iogurte e queijo para testes. Eles conduziram toda a análise sobre a interação do extrato com os probióticos. Tanto no petit suisse como no iogurte foram utilizados dois tipos de microrganismos probióticos, o Lactobacillus acidophillus e o Bifidobacterium longum. Estes microrganismos atuam na restauração da flora intestinal e vêm sendo muito empregados em produtos funcionais. O engenheiro químico Adriano Cruz informa que é necessária uma determinada quantidade na porção do produto para que existam benefícios à saúde. O problema, no entanto, é que a presença de oxigênio se constitui em fator prejudicial à existência destes microrganismos, observa o pesquisador. “Eles possuem metabolismo anaeróbio ou microaerofílico. E o processo de fabricação do iogurte e queijo petit suisse envolve uma etapa de incorporação de ar. Este oxigênio que entra no produto pode, portanto, ser prejudicial à vida dos microrganismos. Ocorre o chamado estresse oxidativo”, esclarece. Ainda de acordo com Adriano Cruz, o extrato da jabuticaba foi adicionado nos dois produtos, sendo realizado um monitoramento das contagens de ambos os microrganismos ao longo de 28 dias.

A professora Maria Angela de Almeida Meireles, orientadora, e Rodrigo Nunes Cavalcanti, autor da pesquisa de doutorado

Amostra de extrato da casca de jabuticaba: ação antioxidante natural

Outras substâncias tradicionalmente utilizadas para minimizar o estresse oxidativo também foram utilizadas para comparar os resultados com o extrato da jabuticaba. Para esta verificação foram empregadas a cisteína, o ácido ascórbico e a glucose oxidase. “O extrato de jabuticaba apresentou desempenho superior a todas estas substâncias”, revela o engenheiro químico.

SITUAÇÕES Os resultados da interação dos probióticos com o queijo e o iogurte se mostraram mais favoráveis em duas situações: o extrato foi eficiente para prolongar a vida do Bifidobacterium no iogurte e do Lactobacillus no petit suisse. “O objetivo da utilização do bioativo foi manter os microrganismos vivos por mais tempo para que, quando o produto for ingerido, ele tenha a sua ação desejada”, complementa Maria Angela Meireles. Nestas duas situações o extrato manteve os microrganismos vivos durante 30 dias, tempo considerado apropriado para estes tipos de alimentos.

PROCESSOS LIMPOS A obtenção do composto da casca da jabuticaba foi realizada por meio de dois processos considerados ‘limpos’: a extração com fluido supercrítico e com líquido pressurizado. A técnica com fluido supercrítico consiste na utilização do dióxido de carbono (CO2) que em alta pressão se transforma em solvente. Em alta pressão, o CO2 atinge densidade próxima de um líquido, o que facilita a extração dos compostos bioativos da matriz vegetal, no caso o resíduo da jabuticaba. “A extração por fluido supercrítico é geralmente mais rápida que a extração líquida e quando se usa o dióxido de carbono como solvente, muito mais ecológica”, pontua o pesquisador Rodrigo Nunes Cavalcanti. Etanol e água também foram empregados em pequenas quantidades como solventes, em complemento à extração supercrítica. Este processo é conhecido como Extração com Líquido Pressurizado (PLE, do termo em inglês pressurized liquid extraction).

Além do benefício ecológico do uso do dióxido de carbono, os processos permitem que os compostos extraídos fiquem livres de resíduos e solventes tóxicos. Os métodos convencionais fazem a extração sob baixa pressão utilizando grandes quantidades de solventes, deixando possíveis toxinas nos alimentos. “O resíduo secundário da extração ainda é, posteriormente, tratado no laboratório por meio de um processo que nós chamamos de hidrólise ou hidrotermólise. Deste modo, o resíduo da casca da jabuticaba pode ser empregado como matéria-prima em várias outras aplicações, como por exemplo, na produção de etanol de segunda geração”, ilustra a docente da Unicamp. A matéria-prima utilizada no estudo foi obtida na centenária fazenda Santa Maria, localizada no distrito de Joaquim Egídio, em Campinas. A fazenda é conhecida pela tradicional colheita de jabuticabas e pela produção de geleias. A pesquisa utilizou resíduos da jabuticaba oriundos da produção do doce da fruta.

Publicações Doutorado: Extração de Antocianinas de Resíduo de Jabuticaba (Myrciaria cauliflora) utilizando líquido pressurizado e fluido Autor: Rodrigo Nunes Calvacanti Orientadora: Maria Angela de Almeida Meireles Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) Pós-doutorado: Aplicação da Análise de Sobrevida para minimização do estresse oxidativo em iogurte probiótico Autor: Adriano Gomes Cruz Orientador: José Assis Fonseca Faria Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA Financiamento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Científico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).


De corpo e alma

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Campinas, 11 a 17 de março de 2013

Foto: Antonio Scarpinetti

MARIA ALICE DA CRUZ halice@unicamp.br

“Avassalador.” Assim a educadora e fotógrafa Paula Cabral define o encontro com o texto da escritora e poetisa brasileira Hilda Hilst durante sua pesquisa de mestrado, intitulada “Imagens da Poesia Erótica de Hilda Hilst”. O diálogo com a poesia de Hilda, presente no livro Do Desejo (2004), resultou em produto poético-fotográfico construído a partir de divergências, convergências, fusões e confusões entre os motivos pertinentes da obra da escritora e os da leitora. “A intenção nunca foi ilustrar o trabalho de Hilda, mas sim conversar com o trabalho dela, aproximando-me de seus temas”. A produção experimental dialoga diretamente com fragmentos da poesia hilstiana e com as ideias e as construções sobre o desejo apresentadas por ela no livro.

A educadora e fotógrafa Paula Cabral e seus trabalhos distribuídos nesta página: “A intenção nunca foi ilustrar o trabalho de Hilda, mas sim conversar com o trabalho dela” Fotos: Paula Cabral

A paixão pela força das palavras da escritora fez com que Paula mudasse o foco da pesquisa, que inicialmente seria um estudo sobre a relação entre texto e fotografia, com base na obra de outra escritora brasileira. A sugestão do orientador, Joaquim Brasil Fontes, foi imprescindível para que o trabalho extrapolasse a análise e despertasse, a cada poema composto por Hilda, o desejo de produzir imagens fotográficas que dialogassem com elementos e fragmentos dessa poética. “A obra provocou um turbilhão de sentimentos.” E o envolvimento foi inevitável, segundo Paula. Ao longo do conteúdo até as reflexões finais sobre a relação entre autora e leitora, nota-se não somente o desejo de fazer poesia em fotos, mas o de fazer poesia em texto, como neste trecho da introdução: “Desejava-se o casamento entre fotos e palavras. Um casamento, entretanto, que fosse intenso, apaixonado, com direito a todos os binômios que a paixão carrega. Enfim, para que se pudesse estabelecer uma conversa entre fotografia e literatura de forma expressiva, criativa e honesta, era preciso movimento interno. Fazia-se necessário que a palavra escrita explodisse durante a leitura, no desejo de ser também imagem. O boom fazia-se necessário, o caos, a desestabilização. Ora, não se queria algo morno. Depois de conhecer o inferno, o morno torna-se muito pouco.” Paula esclarece que a pesquisa dialoga não somente com o livro, mas com a própria Hilda – seus amores, temores e dores –, porém, não é na organização poética hilstiana que a pesquisa se identifica para a produção de imagens, mas sim na desorganização. “Quando quebro seus poemas e sua lógica é que me encontro expressivamente.” Segundo a autora, ao partir de fragmentos do pensamento e de sentimentos próprios da poetisa, sua poética ganha força e se constrói. O olhar fragmentado encontrou fundamento na filosofia alemã do romantismo do primeiro período, já que os representantes dessa época defendem a fragmentação como forma de expressão poética, com foco no ser humano desorganizado diante do caos social, cultural e pessoal. Paula permitiu-se “profanar” a escritura de Hilda. Não no sentido de desrespeitar, mas sim de apresentar suas próprias questões ao dialogar com algo que pertence ao mundo sagrado dos grandes escritores. “Giorgio Agambem define a profanação como uma situação de restituição ao uso humano de algo que antes que só pertencia ao mundo dos deuses. É nesse sentido que me senti profanando a obra de Hilda”, explica Paula. O texto de George Bataille na obra “O erotismo” (1957) ajuda a compreender a lógica que perpassa os temas do livro e a poética do desejo de Hilda, segundo Paula. A pesquisadora percebe em sua poesia um conflito e uma complementaridade entre o “erotismo dos corpos” e o “erotismo sagrado”, categorias definidas pelo teórico. Essas categorias são pontos centrais na análise de Paula. O místico e o sagrado são enfatizados nos textos do livro, que, na opinião de Paula, pode ser explicado pelas experiências pessoais e religiosas de Hilda na infância e na adolescência, ou até mesmo pela personalidade questionadora. A poética hilstiana, segundo Paula, exprime o desejo de continuidade do ser humano com o sagrado, com o outro e com o universo. Versa sobre a degradação humana a partir da passagem do tempo e sobre a morte, clamando por tal continuidade. Coloca erotismo e sagrado no mesmo lugar e cria figuras e imagens para se referir ao Divino (Tempo, Nada, entre outros). “Por muitas vezes, em entrevistas, Hilda Hilst afirmou que nunca se conformara com o fato de a morte levar a um nada e tudo o que se sentiu, se experienciou e se viveu acabar em pó. Então, é fundamentalmente na percepção de degradação do corpo, da experiência e da vida que nasce a busca-embate da poetisa com e por um Deus que a livre dos males da ausência e dos males do fim. Um Deus que se funde e se confunde com a ideia do erotismo batailliano; uma referência clara na poética de Hilda Hilst”, afirma Paula. A fotógrafa acrescenta que em algum momento de seu texto, Bataille também afirma que a poesia seria uma substituta para a experiência erótica. “Ele dizia que a poesia leva à eternidade, à morte, à continuidade. Diante disso, pode-se concluir que o sujeito poético hilstiano conseguiu perpassar todas as formas do erotismo de Bataille”, explica Paula.

A maior evidência do sagrado é encontrada no último conjunto poético do livro, “Sobre sua grande face” (1986), em que ela encerra reafirmando o foco de sua poética: [Meu negócio é com Deus]. O desejo, porém, pode não ser interpretado como uma busca por Deus. Até porque Hilda nunca se assumiu em seu eu lírico. Ainda que fosse, Paula prefere deixar claro que a procura transcende qualquer religiosidade. A busca é mais de ordem filosófica e mítica, mas perpassa dores e prazeres carnais. Em alguns momentos, a escritora cai em outras categorias de Bataille, como o erotismo dos corações, em que o outro é tratado como parte de si mesmo. Quando parte para o erotismo sagrado nunca chega onde deseja, então se rebela e vai para o erotismo físico. Às vezes, assume o papel divino, outras, encontra o divino em seu amante humano, segundo a pesquisadora. Hilda chama de alma o que Bataille trataria de experiência interior, o mais profundo que há no ser humano. Hilda joga com ambivalências e dualidades. Seu delírio desejante, segundo Paula, consiste na mistura da carne e do espírito, do corpo e da alma, que não se opõem, e sim complementam-se e entrelaçam-se. As construções e as figuras poéticas, porém, obedecem ao repertório cultural erudito e vasto, sendo representadas pela subjetividade e criação simbólica. O encontro com Hilda foi capaz de mudar alguns valores de ordem literária, ao mesmo tempo em que despertou o interesse por novas linguagens. “Hilda mudou minha relação com a poesia”, reforça a fotógrafa, que confessa nunca ter tido contato com um texto tão forte, denso e provocador. A Casa do Sol, situada em Barão Geraldo, Campinas, São Paulo, perdeu sua única habitante humana em 4 de fevereiro de 2004. Por um tempo, os habitantes da chácara foram as dezenas de cães e gatos “responsáveis” por sua escolta. Local onde escreveu cerca de 40 livros, a chácara, na qual Hilda Almeida Prado Hilst viveu por 40 anos, hoje funciona como centro cultural. A Casa do Sol passou a ser seu endereço em 1966, quando vivia com o escultor Dante Casarini. A bela mulher que despertou muitas paixões era graduada em Direito, mas sempre se dedicou à literatura, decisão que lhe rendeu o Prêmio Moinho Santista de 2002, na categoria poesia, e o Grande Prêmio da Crítica da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Também foi agraciada com o Prêmio Pen Club São Paulo pelo livro “Sete cantos do poeta para anjo”, em 1962. “Cantares de perda e predileção” foi contemplado com os prêmios Jabuti e Casiano Ricardo. Hilda participou, em 1982, do Programa Artista Residente da Unicamp. Em 1994, seu arquivo pessoal foi adquirido pelo Centro de Documentação Alexandre Eulálio (Cedae) da Unicamp.

Publicação Dissertação: “Imagens da Poesia Erótica de Hilda Hilst” Autoria: Paula Cabral Orientação: Joaquim Brasil Fontes Unidade: Faculdade de Educação (FE)


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