Ju579

Page 1

Foto: Clarissa Lambert

3 4 6

O robô doméstico que ‘planeja’ suas tarefas Micose incapacitante tem efeitos investigados O fardo pesado dos trabalhadores da Ceasa

8 9 11

A soja e a quinoa são boas? Em 4 minutos, a resposta Desigualdades marcam entorno de reservatório A história do Departamento Estadual do Trabalho de SP

Passo a passo – Roseli Conz (foto) refez sua trajetória de bailarina em solo que integra estudo desenvolvido no Instituto de Artes.

12

Jornal daUnicamp www.unicamp.br/ju

Paulo Leminski em rua de São Paulo, em 1983

Campinas, 14 a 20 de outubro de 2013 - ANO XXVII - Nº 579 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

IMPRESSO ESPECIAL

9.91.22.9744-6-DR/SPI Unicamp/DGA

CORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Foto: Ovidio Vieira/Folhapress

O livro “Toda Poesia”, que reúne a obra poética completa de Paulo Leminski, figura na lista dos mais vendidos desde março deste ano. Ricardo Gessner, autor de dissertação que analisa o livro “Distraídos Venceremos”, lembra que o sucesso comercial não é inédito na trajetória do poeta paranaense, citando como exemplo “Caprichos e Relaxos”, que vendeu 20 mil exemplares em 1983. Para Gessner, “a simplicidade de Leminski esconde um labor formal bastante sofisticado”.

5

distraídos venderemos


2

Campinas, 14 a 20 de outubro de 2013

Para além do ‘céu grande’ Foto: Antoninho Perri

A diretora-geral de Recursos Humanos da Unicamp, Maria Aparecida Quina de Souza: comemorando os 20 anos do ProSeres

MARIA ALICE DA CRUZ halice@unicamp.br

aruaçu, vilarejo pertencente ao distrito de São João Nepomuceno, na Zona da Mata de Minas Gerais, conta com aproximadamente 400 habitantes atualmente. Década de 1970, o destaque do lugar é a Igreja Nossa Senhora das Dores, frequentada até os 11 anos pela pequena sonhadora deste perfil. Em torno daquelas imagens sacras, acontecem todos os eventos sociais de Taruaçu. O nome, que significa céu grande, pode não ser familiar a muitas pessoas, mas a menina garante: “Está no mapa. No google world”. Para chegar à escolinha municipal, feita de zinco, ela e as outras crianças da zona rural têm apenas duas opções: a pé ou a cavalo. A escola tem até estacionamento para cavalos, mas não tem o ginásio (segundo ciclo do fundamental). Sob o zinco, é possível ser feliz, brincar, socializar-se e sonhar, garante a menina, mas, para continuar a estudar, talvez lhe caiba alguma ousadia, como se imaginar em Juiz de Fora, com aquela sua cara de cidade grande e um leque generoso de ofertas de trabalho para tecelões, costureiras, contabilistas, secretárias... Esta sim, com 525 mil habitantes e congregando a maior parte da Zona da Mata Mineira, poderia lhe garantir progresso acadêmico. Pelo menos até o segundo grau (hoje ensino médio). Taruaçu, lembrada pelas rezas do terço seguidas imediatamente pelo jantar, deixa de ser um espaço privilegiado nos sonhos da garota, que decide buscar algo além dos possíveis afazeres debaixo de chuva ou sol a pino na fazenda. Sempre sob a recomendação dos pais de que “estudar e fazer tudo direitinho é importante, para ter uma vida melhor”. Os avós, religiosos, fazem questão da presença de todas as pessoas da fazenda no terço, às 18 horas. E a menina, sempre atenta às exigências e à cultura familiar, nem ousa desobedecer, mas as orações, a partir de então, serão feitas na “metrópole”, lá onde tem a catedral, a pastoral universitária e a influência da moda Rio. Sim, por ser muito próxima da sociedade carioca, Juiz de Fora produz loucamente para a moda Rio. Ao mesmo tempo em que se matricula na quinta série, entrega sua carteira para ser assinada por um empresário do setor têxtil em

Juiz de Fora. É a vida da família desapercebida de recursos para custear a formação acadêmica de sua prole, no final dos anos 1970. Nessa época, é possível trabalhar durante o dia e estudar à noite a partir dos 14 anos. Coisa que grande parte dos funcionários da Unicamp conhece bem. São muitas as condições que podem, adiante, mudar a essência da menina, mas ela garante que seu desenvolvimento pessoal se dá a partir da cultura local da infância: escola de zinco, igreja, avô, avó, pai e mãe. Ouro de mina, como escreveu o compositor? Ou de Minas? Ouro das Minas Gerais? De Taruaçu? O trajeto até Campinas é longo e marcado pela participação na Pastoral da Juventude e na Operária de Juiz de Fora. Os sonhos? Frutificam e são alimentados pela compreensão de que os jovens da Pastoral Universitária cantam na catedral e os da Operária, na igreja de bairro. Queria cantar na catedral e um dia, formada, dar condições a outros sonhadores. Chega a juventude, em meados da década de 1980, e com ela a ousadia necessária aos jovens sonhadores que querem se transportar de sua condição para outra mais próxima. O antídoto para tal ascensão tem nome: universidade. Com um grupo de amigos da pastoral, decide se corresponder com pessoas de diferentes lugares para decidir sobre o melhor lugar para ser universitário. Depois de uma “boa alma” de Campinas responder para oferecer informações sobre Campinas e São Paulo, o grupo escolhe a Universidade de São Paulo (USP), por oferecer moradia e bolsa trabalho, já que os pais não têm condições de mantêlos na Universidade Federal de Juiz de Fora, sem curso noturno. A resposta do missivista leva um amigo, funcionário do Banco do Brasil, a pedir transferência para São Paulo, a fim de facilitar a mudança dos amigos para o novo Estado. É chamado para assumir uma vaga em Campinas e aceita. Tempos depois, envia aos amigos um telegrama com o seguinte recado: “Tem concurso público para a Unicamp. Por favor, mandem documentos e procuração para eu fazer inscrições”. Em 1987, a jovem sonhadora assume a vaga na Tesouraria da Diretoria Geral de Administração, mas certa de que seria um trabalho passageiro, por meio do qual pagava o curso pré-vestibular para estudar psicologia clínica na USP. Depois de muitas tentativas, decide fixar residência em Campinas e assu-

mir o encantamento pela Unicamp. Fica e começa a cursar psicologia na PUC-Campinas. Sonhos concretizados? Nem tanto, pois, com a decisão de ser uma trabalhadora estudante, muitos enfrentamentos se impunham diante de sua vontade e seu direito aos estudos. Se a necessidade trouxe a jovem sonhadora para a Unicamp, o amor e a dedicação a fizeram permanecer e lutar contra a mentalidade de que o jovem ou trabalha, ou estuda. E aí entra a justa aplicação da frase do compositor: “Quando vim de Minas, trouxe ouro em pó”. A experiência a partir da cultura local, como ela diz, motiva uma reinvindicação coletiva em seu novo ambiente cultural, a Unicamp: um inédito e humanizado tratamento a todos os funcionários estudantes da instituição. Entre alguns leves choques culturais, depara com a realidade do jovem trabalhador no terceiro ano de psicologia, em 1993, ao precisar pedir flexibilização da jornada de trabalho na Tesouraria da Diretoria de Geral de Administração, e obtém como resposta de sua superiora: “Ou trabalha, ou estuda”. Precisava cursar disciplinas ministradas em período integral, mas a negativa, a frustrou. Nada que o jeitinho mineiro não resolva. Convence a “chefe”, mas tem de trabalhar das 7 às 12, ir para a faculdade e voltar para completar a jornada das 19 às 22 horas. Detalhe: vários dias, às 21h55, a superiora liga em seu ramal para saber se não saiu mais cedo do trabalho. Ao perceber a desconfiança com a qual o funcionário estudante é encarado, na década de 1990, e ver vários colegas percorrendo uma trilha estreita para chegar à PUC-Campinas para estudar, à noite, outros utilizando fretados para estudar nas cidades vizinhas, inquieta-se. Relembra as experiências com os padres dominicanos da pastoral de juventude e operária, o compartilhamento de ideais com o grupo de amigos sonhadores e decide dividir o ouro em pó de Taruaçu com os jovens da Unicamp. Dos olhos perspicazes da jovem, chamam atenção a reforma administrativa, em 1989, iniciada pelo processo de informatização da Universidade; o movimento para mudança das rotinas administrativas; a implantação recente da carreira e a criação do Serviço de Apoio ao Servidor (SAS). Momento propício para os funcionários estudantes revelarem suas dificuldades e necessidades. E a menina de Taruaçu é uma das

A trajetória da psicóloga Maria Aparecida Quina de Souza, da Zona da Mata mineira à Unicamp mentoras da pauta a ser ouvida pelo então chefe de Gabinete da gestão do reitor Carlos Vogt, José Tadeu Jorge. Atento às ideias originais da funcionária, ele pede para que reúna outras pessoas para organizar a pauta. Assim, a cultura local de rezar juntos, ensinada pelo avô, lá na roça, é posta em prática na Unicamp. Ao pisar pela primeira vez o chão da Reitoria, pediram uma sequência de direitos para que jovens trabalhadores não precisassem mais desistir do sonho de ter uma graduação e, com ela, ter perspectiva profissional, dentro de sua área, na carreira da Unicamp. Sonho de menina que vira realidade na vida de muitos servidores. Sonho do qual os dominicanos e seu ouro de mina se orgulhariam, pois com ela, outras pessoas se envolvem na busca da merecida ascensão. Hoje, o quadro da Unicamp tem 54% de seus servidores graduados. Experiente em reunir mais de 300 jovens, para falar sobre suas condições sociais, em Juiz de Fora, relaciona as reivindicações, entre elas, bolsa de estudos; direito a estágio; perspectiva profissional dentro da Universidade na área de formação; asfaltamento da estrada que liga Unicamp à PUC-Campinas (muitos colegas iam a pé); ajuda de custo para cópias em xerox, vale estudante e vale-transporte. A pauta conduz a uma discussão aprofundada por parte da Reitoria e de conselheiros da Universidade que leva ao lançamento do Programa Institucional de Apoio ao Servidor Estudante (ProSeres), em 10 de agosto de 1993, numa mesa extensa, na qual a menina de Taruaçu jamais se imaginaria sentada, ao lado dos apoiadores do programa, José Tadeu Jorge, Carlos Vogt e Edison Cardoso Lins. Ao ouvir as palavras saírem com suavidade e saudades do discurso da “menina”, o interlocutor pensa que, para onde vai, ela carrega mesmo ouro em pó de Minas para compartilhar. Nesta edição, quem conta a história é ela: a menina da Zona da Mata, a funcionária da Tesouraria, a psicóloga, ou melhor – ao bem da atualidade –, a diretorageral de Recursos Humanos da Unicamp, que assina Maria Aparecida Quina de Souza, mas atende, na maioria das vezes, como Cidinha Quina. Continua a lidar com pessoas e comemora os 20 anos do ProSeres, programa que tornou psicóloga também a diretora de Desenvolvimento da Diretoria Geral de Recursos Humanos (DGRH), Luciene Rodrigues de Oliveira Borges, sua companheira na comissão de trabalho na implementação do programa, em 1993. Assim como permitiu a Osmar Almeida – coordenador de Finanças na Diretoria Geral de Administração – e muitos outros profissionais ocupar cargos gerenciais na Universidade. Até porque ninguém muda uma mentalidade e um sistema sozinho. O material do ProSeres, incluindo a pauta de discussões e o primeiro manual, é guardado pela psicóloga até hoje para lembrar um tempo em que a Universidade começava a sorrir para seus funcionários estudantes. Um tempo em que a juventude, também na Unicamp, ousou sonhar com dias melhores. Lá, na Zona da Mata mineira, onde ficava a escola de zinco, com estacionamento para cavalos, seu “ouro de mina” recebeu o primeiro manual com a filosofia do ProSeres. Para quê? – Para eles saberem o que faço por aqui, uai.

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador-Geral Alvaro Penteado Crósta Pró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon Atvars Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria Pastore Pró-reitora de Pós-Graduação Ítala Maria Loffredo D’Ottaviano Pró-reitor de Graduação Luís Alberto Magna Chefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail leitorju@ reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Alessandro Silva, Carlos Orsi, Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Maria Alice da Cruz, Manuel Alves Filho, Patrícia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Editoração André da Silva Vieira Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Patrícia Lauretti, Gabriela Villen e Valerio Freire Paiva Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon e Diana Melo Impressão Triunfal Gráfica e Editora: (018) 3322-5775 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3383-2918. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju


3

Campinas, 14 a 20 de outubro de 2013

Inteligência ampliada Sistema confere a robô de limpeza a capacidade de “saber” onde está e de “planejar” tarefas MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

obôs utilizados para a limpeza de residências e escritórios são comuns nos Estados Unidos, onde podem ser comprados por preços acessíveis (entre 300 e 600 dólares) até em supermercados. Embora facilitem a vida dos consumidores, esses equipamentos poderiam ser ainda mais eficientes, caso tivessem a capacidade de se localizar em ambientes internos sem nenhuma ajuda extra e executar, de forma planejada, tanto o seu deslocamento quanto o cumprimento das tarefas para as quais foram projetados. Sistema desenvolvido para a tese de doutorado do cientista da computação Paulo Gurgel Pinheiro, defendida no Instituto de Computação (IC) da Unicamp, incorpora tais funções a esses objetos de desejo de muitos brasileiros. A tecnologia está sendo analisada pela norte-americana iRobot, uma das maiores do setor no mundo, e pode ser adotada já na próxima série de robôs a ser lançada pela empresa no mercado. Pinheiro começou a pesquisar na área da robótica ainda no mestrado. Na ocasião, ele já havia escolhido como tema de investigação a questão da localização de robôs móveis, uma das mais exploradas pela ciência por causa da sua importância para a resolução de outros problemas. “A localização é fundamental porque constitui pré-condição para estabelecer a melhor trajetória para que o robô cumpra a sua missão”, explica. De acordo com o pesquisador, resolver o problema da localização autônoma em ambientes internos não é uma tarefa trivial, como pode parecer. Tanto é assim que os robôs comerciais ainda não dispõem desse atributo. Estes, ao serem ligados, aspiram a sujeira (poeira, cabelo, migalhas de pão etc) do chão do cômodo onde estão. Como não são capazes de se localizar, passam automaticamente para outro ambiente, sem planejar a missão. Desse modo, se forem eventualmente transportados para outro ponto da casa ou escritório durante a limpeza, eles não perceberão a mudança e continuarão trabalhando como se continuassem no espaço original. Ou seja, não são capazes de fazer inferência sobre onde estão. Graças ao sistema de localização concebido por Pinheiro, essa limitação foi superada. Ao incorporar a tecnologia aos robôs comerciais, por meio de um prosaico pen drive, Pinheiro conseguiu fazer com que eles se tornassem muito mais eficientes, pois passaram a identificar rapidamente em que ponto da casa ou escritório estão. Nos testes que fez, durante temporada de estudo que cumpriu nos Estados Unidos, na Universidade de Minnesota, no contexto de um doutorado sanduíche, o pesquisador constatou que o sistema tornou a inteligência artificial presente nos robôs, digamos, ainda mais inteligente. O sistema funciona mais ou menos assim. Imagine-se que a tecnologia concebida por Pinheiro já tenha sido incorporada aos equipamentos comerciais. Ao comprar uma unidade no supermercado, o consumidor baixará um programa para poder transferir o mapa da casa (planta baixa) para a memória do robô.

Publicação Tese: “Planning for Mobile Robot Localization Using Architectural Design Features on a Hierarchical POMDP Approach” Autor: Paulo Gurgel Pinheiro Orientador: Jacques Wainer Coorientador: Stergios Roumeliotis (Universidade de Minnesota) Unidade: Instituto de Computação (IC) Financiamento: Capes

Ao ser ligado, este levará dois dias para “aprender” qual é o padrão da residência: número de cômodos, número de moradores, qual espaço é mais sujo e qual pessoa suja mais. “Depois de cruzar todas as informações, ele planejará o melhor traçado e a melhor forma de limpar. Além disso, o robô estará sempre reconhecendo novos padrões e se adaptando a eles”, garante Pinheiro. Na prática, isso significa que o robô terá a capacidade de identificar onde está e traçar o melhor caminho para cumprir sua missão, sem ficar andando aleatoriamente pela casa. Ademais, se for carregado por uma pessoa ou animal de estimação para outro espaço, ele perceberá a mudança e voltará ao ponto de origem para dar continuidade à tarefa. Esse aspecto é importante porque otimiza o trabalho e reduz o consumo de energia. O robô também decidirá, com base no padrão identificado, qual cômodo limpar primeiro e qual deixar por último. “Esse é um aspecto fundamental. Numa residência onde vivem pai, mãe e um adolescente, é muito provável que os adultos acordem mais cedo. Então, é o quarto dos pais que o robô limpará primeiro, deixando o do filho para depois. Baseado nesse mesmo modelo de decisão, o equipamento poderá deixar para limpar a cozinha à noite, visto que

nesse horário não é conveniente estar nos quartos, pois os moradores estarão dormindo”, exemplifica o autor da tese. As vantagens não param por aí, garante Pinheiro. Caso a rotina da casa seja alterada, o robô também perceberá a mudança e se adaptará a ela. “Um exemplo é a chegada de mais um morador. O sistema reconhecerá essa presença e adotará um novo padrão de limpeza, visto que passará a considerála nas suas tarefas”, enfatiza o cientista da computação. Os equipamentos convencionais conseguem subir um pequeno degrau e não se detêm quando encontram um tapete pela frente. Além disso, se estão no topo de uma escada, param para evitar acidentes. Com o sistema de localização desenvolvido pelo pesquisador da Unicamp, esses aspiradores de pó robotizados vão ainda mais longe. O pesquisador explica que o software confere aos equipamentos a propriedade de não confundir pessoas e objetos com uma parede, por exemplo. “Nós criamos um modelo ao qual demos o nome de mundo mágico probabilístico. Ele utiliza padrões arquiteturais e de design, que levam em consideração dados como quantidade de portas e paredes e área total do ambiente, de modo a condensar informações que possam ser redundantes, comprimindo o mapa

original do ambiente em um mapa menor e mais otimizado. A partir da representação da casa ou escritório, o robô entende e aprende os padrões arquitetônicos de cada cômodo separadamente. Esse mesmo mundo mágico também faz com que ele diferencie pessoas e objetos dentro de um modelo probabilístico”, pormenoriza. Explicando de maneira simples, o equipamento enxerga tudo como uma nuvem cinzenta de probabilidades. O robô então se aproxima para checar se o que está identificando é uma pessoa, uma mesa ou uma parede. “Se a pessoa ou animal de estimação se movimenta, ele desconsidera e desvia. Se o objeto fica fixo, ele desvia, mas registra na memória como um obstáculo que estará presente nas próximas vezes em que passar por aquele ponto”, diz Pinheiro. Uma das vantagens desse sistema, conforme o pesquisador, é que ele pode ser adaptado a diversos tipos de robôs, que trabalham com diferentes modelos de sensores, dos mais simples aos mais sofisticados. O trabalho desenvolvido por Pinheiro foi orientado pelo professor Jacques Wainer, do IC da Unicamp, e coorientado pelo professor Stergios Roumeliotis, da Universidade de Minnesota. Pinheiro contou com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Foto: Antoninho Perri

Paulo Gurgel Pinheiro, autor da tese: sistema está sendo testado pela empresa norte-americana iRobot e poderá ser brevemente incorporado a cadeiras de rodas

Sistema de localização está sendo adaptado para cadeiras de rodas O software de localização desenvolvido pelo pesquisador da Unicamp não se aplica somente a robôs de limpeza, como já dito. Ele também pode ser utilizado em outros equipamentos robotizados, para o cumprimento de tarefas que podem ser consideradas mais nobres. É o que Paulo Gurgel Pinheiro está testando no momento, no contexto do pós-doutorado que realiza na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Universidade, sob a orientação do professor Eleri Cardozo. Os pesquisadores estão adaptando o sistema a cadeiras de rodas que serão destinadas a pacientes com traumas neurológicos que tenham provocado perda total ou parcial das habilidades motoras. “Como o programa consegue fazer um robô se localizar autonomamente em qualquer ambiente da casa, o paciente só precisará se preocupar para onde deseja ir, e a cadeira robótica descobrirá onde ela está e como chegar até o ponto desejado, fazendo o melhor trajeto pos-

sível. A escolha dos pontos de destino pode ser feita por pacientes com graves limitações físicas, mesmo por aqueles que consigam movimentar apenas os olhos para acionar os comandos, que poderão estar disponíveis num menu, na tela de um tablet”, antecipa o pesquisador. Nesse caso, o procedimento será o mesmo em relação aos robôs de limpeza. Bastará que o usuário conecte o pen drive com o sistema na cadeira para que ela receba os dados do programa. “Como o sistema é capaz de se localizar sem ajuda externa, mesmo que o paciente seja levado involuntariamente para outro ambiente, a cadeira reconhecerá a nova localização e voltará ao ponto de origem sozinha. Ou, então, seguirá dali até o destino final. Ademais, a cadeira também poderá funcionar como um robô convencional. Nesse caso, imaginemos que a pessoa está na cama e quer receber o café da manhã. Bastará que ela acione o comando para que o veículo vá até a cozinha. Lá, outra pessoa colocará a refeição em um suporte e a cadeira tratará de levá-la ao quarto, a

despeito do surgimento ou não de um novo obstáculo”, antevê Pinheiro. Conforme o cientista da computação, embora as pesquisas em robótica ainda estejam em fase inicial no Brasil, já há ótimos profissionais trabalhando na área no país. “O que mais diferencia o trabalho daqui com o que é feito nos Estados Unidos, por exemplo, é o nível de financiamento, que lá é muito maior. Desse modo, os resultados surgem muito mais rapidamente por lá. Em termos comerciais, a diferença é gritante. Enquanto os norteamericanos podem comprar robôs, como os de limpeza, em supermercados a preços acessíveis, aqui eles são raros e muito caros. Um dos meus objetivos em trabalhar com robótica no Brasil é contribuir para despertar o interesse dos estudantes de graduação para esse ramo da ciência, de modo a fazer com que as facilidades geradas por ele possam ser futuramente incorporadas ao nosso dia a dia”, pondera.


4

Campinas, 14 a 20 de outubro de 2013

Tese avalia ação de micose no organismo de pacientes Causada por fungo, paracoccidioidomicose é comum no país e tem potencial incapacitante Fotos: Antonio Scarpinetti

ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

aracoccidioidomicose. O nome ainda é pouco conhecido, bem como o que ele representa. Trata-se de uma micose sistêmica muito importante nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Paraná. Ela tem alto potencial incapacitante, quando não diagnosticada precocemente. Consta como a oitava causa de morte por doenças infecciosas em indivíduos imunocompetentes (sãos). Mas, apesar de sua magnitude, ela ainda é negligenciada, constituindo um relevante problema de saúde pública. Fala-se até que é uma “doença brasileira”, já que o país responde hoje por cerca de 80% de suas ocorrências. O restante está distribuído em outros países da América Latina. A bióloga Maria Carolina Ferreira interessou-se pelo assunto para investigar no seu estudo de doutorado. A sua missão foi avaliar a resposta imunológica da paracoccidioidomicose. Embora exista uma estimativa de que entre oito e dez milhões de pessoas estarão infectadas pelo fungo neste ano, nem todas acabarão desenvolvendo a enfermidade, graças à paracoccidioidomicose infecção. Já, para os indivíduos que de fato contraíram a micose, ela pode se manifestar a partir de duas formas clínicas. Em uma delas, a pessoa manifesta os sintomas muito rapidamente. Essa é a forma aguda ou juvenil e afeta indivíduos jovens de ambos os sexos. Ela é responsável por 3% a 5% dos casos da doença. Há ainda uma forma crônica e adulta, em que o indivíduo às vezes demora anos para vivenciar os primeiros sintomas. Habitualmente, aparece em homens com idade em torno de 30 anos. É mais branda, porém, crônica e deletéria. O trabalho da bióloga desvendou como o indivíduo responde após o contato com o fungo, as diferenças nas formas de resistência e de suscetibilidade à infecção, e o que leva os indivíduos a terem respostas diferentes. Na tese, defendida na Faculdade de Ciências Médicas (FCM), a doutoranda descobriu que os pacientes com a forma adulta da doença têm um predomínio da resposta T-helper 17 e que os pacientes com a forma juvenil têm predomínio da resposta T-helper 2. Muitos trabalhos em Imunologia têm mostrado que a principal explicação para essas duas manifestações tão distintas da mesma doença, causada pelo mesmo fungo, está no tipo de resposta imunológica que os indivíduos desenvolvem. Foi o que a pesquisadora apurou, mas fez ainda mais. Procurou compreender por que algumas pessoas manifestavam a doença rapidamente e outras demoravam mais. A autora da tese percebeu que são as células dendríticas que reconhecem o fungo e que vão direcionar se a resposta será T-helper 2 (associada à suscetibilidade) ou será T-helper 17 (que confere certa resistência à infecção), que são subtipos de linfócitos T (células responsáveis pelo controle de todo o sistema imunológico). Também são elas que ajudam a identificar agentes agressores como vírus e bactérias, sendo portanto valiosas no combate às doenças. A bióloga também verificou como as células dendríticas faziam o reconhecimento desse fungo, pois essas são as principais células, as que fazem a apresentação dos antígenos e que portanto são responsáveis por iniciar a resposta imunológica contra qualquer agente patogênico. Conforme Maria Carolina, como na forma juvenil o que se vê é uma resposta de T-helper 2 que leva a uma suscetibilidade da doença, talvez por esse motivo o quadro seja mais grave e ocorra mais rapidamente. Também os indivíduos, nesse caso, necessitam de uma intervenção muito pontual para chegarem à cura.

A bióloga Maria Carolina Ferreira, autora da tese, na bancada (à esq.) e durante investigação (acima): desvendando a resposta imunológica

Os indivíduos com a forma adulta, que tendem a ter uma resposta T-helper 17, a qual leva a uma certa resistência, possivelmente demoram alguns anos para desenvolver os sintomas clínicos da doença, por conta de uma “semirresistência”. “Mas ao mesmo tempo que essa resposta traz resistência, pode desencadear a fibrose de pulmão, uma das sequelas mais significativas”, comenta o professor Ronei Luciano Mamoni, orientador da tese. Nesse caso, os pacientes atingem a cura, mas podem contrair insuficiência respiratória porque o tecido pulmonar foi substituído por um tecido fibroso, mais ou menos como acontece com a tuberculose. Esses pacientes poderão encontrar então algumas limitações no seu dia a dia, como trabalhar por exemplo. A investigação foi realizada a partir da avaliação de exames de pacientes do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp no período de 2009 a 2013. O trabalho integra a linha de pesquisa “Resposta imunológica aos fungos” do Departamento de Patologia Clínica.

ALCANCE Em sua forma mais grave, as leveduras do fungo afetam particularmente o sistema fagocítico mononuclear humano, chegando aos linfonodos, medula óssea, fígado e baço. Os indivíduos atingidos desenvolvem rapidamente a doença, tendo seu estado clínico agravado e submetendo-se ao tratamento hospitalizados.

Felizmente vários tratamentos medicamentosos despontam hoje como uma esperança para os portadores da enfermidade. Porém a fase inicial da terapêutica para os casos mais graves é a mais agressiva. Por isso em geral utiliza-se a anfotericina B, por exemplo, um antifúngico que demonstra um certo grau de toxicidade e que deve ter acompanhamento adequado. Por essa razão, o medicamento deve ser mudado logo após haver uma boa resposta, sendo prescrito, em seu lugar, um novo antifúngico. A escolha mormente recai sobre um derivado azólico, como o itraconazol, o mais utilizado nos dias atuais. Mas há que se considerar ainda o seu uso com bactrim – uma combinação de sulfa com trimetropina, administrada por via oral. Normalmente, funciona bem para os dois tipos da micose. A forma juvenil se constitui a mais complexa. Por outro lado, a forma crônica pode afetar os pulmões e mucosas. O mais comum é se observar lesão de pulmão causando fibrose e insuficiência respiratória, que às vezes pode ser grave, e lesões de mucosa oral, nasais e de pele. “As lesões causadas pelo fungo podem ser muito extensas, e algumas vezes, devido às suas características, podem ser confundidas com câncer (ou tumores)”, alerta Ronei. Alguns pacientes chegam ao consultório com essa suspeita e, quando fazem a biópsia, descobrem que na verdade estão infectados pelo fungo. Essas lesões são capazes de alcançar quaisquer tecidos do organismo.

A doença também comumente se manifesta por meio de tosses que não cessam, dificuldade de respirar, além de secreção no pulmão, que mais adiante pode até conduzir à morte, se não for tratada. O problema é que o tratamento normalmente se prolonga por no mínimo dois anos para alcançar o status de cura. Na forma mais juvenil, explica Ronei, as lesões podem ser confundidas com linfoma (câncer no sistema linfático), acometendo os linfonodos e, em alguns casos, a pele. Entretanto, os principais sintomas são certamente os inchaços, que acabam acometendo os linfonodos. A paracoccidioidomicose geralmente tem entrada quando os indivíduos inalam os conídeos, uma forma reprodutiva dos fungos. Os trabalhadores que lidam em seu cotidiano com a terra ou crianças que vivem na zona rural são os alvos principais dessa doença. A forma de contrair o fungo é mediante a aspiração desses conídeos, que se instalam nos pulmões. O diagnóstico, além de ser clínico, também é efetuado laboratorialmente. O padrão ouro para esse diagnóstico está na identificação do fungo pelo exame micológico, sendo o exame histopatológico também de grande valia, não apenas para a visualização das formas fúngicas como também para situações em que a amostra não permitiu visualizar o fungo. Além disso, as provas sorológicas são igualmente auxiliares e permitem uma avaliação da resposta do hospedeiro ao tratamento específico. De acordo com a pesquisadora, o seu estudo colabora para compreender a resposta imunológica nas duas formas clínicas da doença. “Verificamos que essa resposta pode ser diferente sim devido a essa forma de reconhecimento inicial que as dendríticas fazem do fungo”, expõe. Isso no futuro deve propiciar que os médicos avaliem melhor o estado dos pacientes e façam um tratamento mais direcionado à resposta imune que foi identificada. Mas ela avisa: ainda há muito a ser estudado, pois esta se trata de uma pesquisa básica.

Publicação Tese: “Avaliação da capacidade de indução de diferenciação de células TH17 por células dendríticas estimuladas com células leveduriformes de Paracoccidioides brasiliensis e mecanismos de sinalização intracelular envolvidos” Autora: Maria Carolina Ferreira Orientador: Ronei Luciano Mamoni Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM) Financiamento: Fapesp O professor Ronei Luciano Mamoni, orientador do estudo: “As lesões causadas pelo fungo podem ser muito extensas”


Campinas, 14 a 20 de outubro de 2013

Leminski

5

e a poética da distração Dissertação de mestrado desenvolvida no IEL analisa obra do poeta paranaense Foto: Reprodução

mas que mantivesse uma relação direta com a realidade. Daí, argumenta Gessner, vem a ligação crucial do título do livro, “Distraídos Venceremos” com o projeto poético de “abolição da referência pela rarefação da realidade”. O Leminski não era inocente. Ele sabia o que esDiz a dissertação: “Distraído é aquele que mantém uma tava fazendo”. É assim que Ricardo Gessner, autor percepção (ou perspectiva) não-direta em relação a realidada dissertação de mestrado “Paulo Leminski e uma de – pode estar voltado a si mesmo ou para além da reapoética da distração”, defendida no Instituto de Estudos da lidade imediata; em outras palavras, mantém uma relação Linguagem (IEL) da Unicamp, define seu olhar sobre a obra rarefeita em relação a realidade, daí a rarefação. Por outro do poeta paranaense, morto em 1989 e cuja obra voltou a lado, manter uma relação rarefeita não é excluir-se da realichamar atenção no primeiro semestre deste ano, quando dade, não é romper com ela, mas implica num outro modo o volume “Toda Poesia” galgou as listas de mais vendidos, de relação”. Assim, além de ser um trocadilho com o slogan nas quais se manteve por várias semanas de março a maio, político “unidos venceremos”, o título também sugere que a ficando à frente dos romances da série “Cinquenta Tons de distração seria um meio de acesso direto à realidade, contorCinza”. De acordo com o site especializado Publishnews, a nando as abstrações da linguagem. coleção da obra poética completa de Leminski era, no fim de setembro, o 12º livro de ficção mais vendido no Brasil, “O distraído, na leitura que fiz, rompe com a intermediaem 2013. ção da linguagem. Ele rompe com esse conhecimento convencional. Ele deixa o pensamento solto, não tenta racioci“O livro derrubar ‘Cinquenta Tons de Cinza’ me surprenar, racionalizar. Nesse movimento, ele caminha em direção endeu”, disse Gessner ao Jornal da Unicamp. Ele ressalva, a essa libertação do conhecimento convencional”, disse o no entanto, que sucesso comercial não é algo inédito na traautor. “Não é que o distraído tenha uma compreensão mejetória da poesia de Paulo Leminski. “Quando ele publicou lhor da realidade: ao desistir de compreender, ele deixa de ‘Caprichos e Relaxos’, em 1983, também teve um êxito edientender para se integrar a ela plenamente”. torial. Ele vendeu 20 mil exemplares, o que para a época era bastante. E também há muito tempo que os livros de poesia Gessner diz que a brincadeira com o slogan “unidos vendele estão esgotados nas editoras. E se você encontra em ceremos”, em pleno período de transição da ditadura militar sebo é muito caro. Então, quando teve essa edição, que traz de 1964-1985 para a democracia, não deve ser vista como todos os livros e num preço relativamente acessível, acho um sinal de alienação política do poeta. “Tem um ensaio em que o sucesso comercial não é tão surpreendente, embora que ele diz que, num poema, não falar da realidade pode ser bater ‘Cinquenta Tons’ certamente seja”. uma forma de resistência, porque você pode utilizar a poesia sem que ela seja produto de mercado, de modo que ela não A dissertação de Gessner debruça-se sobre um livro esse insira no contexto mercadológico. Então, de certa forma, pecífico de Leminski, “Distraídos Venceremos”, de 1987, e ele ironiza o ‘unidos venceremos’ nesse sentido”. busca abrir a obra do poeta a interpretações que vão além do consenso crítico atual, que vê em Leminski um autor Ao mesmo tempo em que busca estimular uma leitura de poemas irônicos, humorísticos, um escritor da sacada mais cuidadosa e sofisticada da obra de Leminski, o pesquirápida, do insight imediato, prazeroso mas sem grande apusador reconhece que muito da popularidade do poeta vem O poeta Paulo Leminski: página em branco como analogia da condição humana ro ou significado. Essa posição aparece, por exemplo, num das características mais superficiais de sua obra. “Tem tanensaio, hoje clássico, de Wilson Martins, “O Culto Delita gente interessada em ler Leminski pela própria maneira rante em Torno de Leminski”, publicado no como a poesia se articula: ela é sintética, jornal O Globo em 1998, e foi retomada em em sua maioria são poemas pequenos, que vários comentários publicados a respeito do primam pelo humor, numa primeira leitura sucesso de “Toda Poesia”. é uma coisa leve que você lê, tem aquele insight, você dá risada, você se sente bem “As críticas que tratam Leminski como como leitor, é uma leitura prazerosa”, reum poeta menor, um criador de piadas e de conhece. “E é uma linguagem que se aprofrases de efeito, funcionam, mas ele não é xima da maneira como o jovem se comunisó isso. Essa é uma leitura possível, mas há ca, também, ainda hoje. É uma linguagem outras. Existe essa jogada do insight, daquele bastante coloquial, simples, não tem uma momento em que você tem a ideia, mas por articulação muito pesada, que explore a trás dessa simplicidade se esconde a sofistisintaxe elaborada. A maior parte da obra cação, e é por esse caminho que procuro ver poética dele prima pela simplicidade, num e entender a poesia dele”, disse Gessner. primeiro momento. Mas é uma simpliciNo caso de diversos poemas de “Distraídade relativa, apesar de parecer simples, dos Venceremos”, o pesquisador vê uma coé uma simplicidade que esconde um labor “Toda Poesia”: nexão entre o propósito manifestado no preformal bastante sofisticado”. fenômeno editorial do ano fácio do livro – no qual Leminski declara ter Gessner, que conheceu a obra de Leobtido “a abolição (não da realidade, evidenminski num cursinho pré-vestibular e que temente) da referência, através da rarefação” “Caprichos e Relaxos”: “Distraídos Venceremos”, foi, num primeiro momento, atraído por es– e as filosofias do taoísmo e do zen-budissucesso nos anos 80 a obra analisada sas características mais leves de sua poesia, mo. O poeta paranaense tinha uma ligação pretende agora seguir adiante com o aproforte com o pensamento oriental, tendo sido fundamento da leitura do poeta. um cultor da forma poética japonesa do haicai e, também, chegado à faixa preta no judô. “Quero continuar no doutorado, expandir essa leitura página em branco e seu preenchimento, com um texto, um que comecei no mestrado, agora tentando verificar, na popoema. E nessas análises, pude perceber que esse jogo funesia dele, a relação com o misticismo, com a religião e até ciona como se fosse uma analogia com a atribuição de senPÁGINA EM BRANCO com um pouco do ocultismo. Não que ele fizesse práticas tido para a vida”, disse Gessner. “A página em branco seria Gessner explica que a “abolição da referência” costuma ocultistas, mas o Leminski foi seminarista, depois teve uma a vida que a princípio, a priori, não tem sentido algum, mas ser interpretada como a abolição da relação entre a linguarelação muito forte com a filosofia oriental, e ele frequentaa partir do momento que a página em branco é preenchida gem e os objetos externos a ela – um mergulho, portanto, va o Templo Neo-Pitagórico em Curitiba, que também tem por um poema, ela adquire um sentido, um poema ali que no uso da linguagem para falar de si mesma, de fazer poesia uma doutrina mística. Ninguém até agora, em estudo crítipode ser lido. Da mesma forma a vida, conforme a gente sobre poesia. E, de fato, dois dos principais poemas de “Disco, abordou essa faceta na obra dele”. vai vivendo, vai acumulando experiências, vivências, vai adtraídos Venceremos”, “Aviso aos Náufragos” e “Plena Pauquirindo um sentido, também. Foi para essa direção que Foto: Antonio Scarpinetti sa”, tratam da página em branco e de seu preenchimento; procurei encaminhar”. já “Iceberg” fala das aspirações do poeta para com sua obra. “O que parece ser uma reflexão sobre a prática poética, A dissertação, no entanto, abre caminho para outra leitudo autor preenchendo o branco da página com um poema ra: a da página em branco como a vida, e seu “preenchimensentindo a angústia de não conseguir ser original, pode funto”, como o acúmulo de experiências que lhe dá sentido, ascionar como analogia da própria condição humana”, diz o sim como o ato de escrever cria sentido no branco da página. autor no texto da dissertação, que articula essa leitura com “Ao longo das análises que fiz de alguns poemas que sea filosofia do taoísmo. lecionei do livro, pude perceber que essa imagem da página “A principal coisa que caracteriza o pensamento taoísta em branco nos poemas é muito recorrente, que sempre que é ser um caminho de libertação. E o que isso quer dizer? ele trata da página em branco, ele fala desse jogo entre a Um caminho de libertação do conhecimento que os taoístas chamam de conhecimento convencional, o conhecimento que é pautado pela linguagem verbal”, disse o pesquisador. “Quando a gente pensa, ou tenta pensar, sobre a realidade, o Publicação que a gente faz? A gente usa a linguagem, elaboramos esse pensamento na forma de linguagem. Então, no fundo, quanDissertação: “Paulo Leminski e uma poética da do a gente elabora um pensamento, um sistema lógico, esdistração” tamos lidando diretamente com a linguagem e a linguagem, Autor: Ricardo Gessner sendo uma abstração, não tem nenhuma relação direta com Orientador: Marcos Aparecido Lopes a realidade”. Unidade: Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) O pensamento taoísta e o zen-budista, por sua vez, busCARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

caria um conhecimento não pautado pela linguagem verbal,

Ricardo Gessner, autor da dissertação: “A simplicidade de Leminski esconde um labor formal bastante sofisticado”


6

Campinas, 14 a 20 d

Unicamp faz da Ceasa ‘labora

Pesquisadores diagnosticam e propõem intervenções para problemas que a SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

onolência, má alimentação, cansaço, estresse e sedentarismo estão entre os principais problemas que afetam os trabalhadores da Ceasa (Centrais de Abastecimento S.A) de Campinas (SP), entreposto hortifrutigranjeiro que conta com a atuação de 5,3 mil funcionários diretos e perto de 20 mil indiretos. O diagnóstico faz parte de uma série de estudos recentes desenvolvidos no local por pesquisadores da Faculdade de Enfermagem da Unicamp. Inéditas, as investigações coordenadas pela docente Maria Inês Monteiro prosseguiram com intervenções visando à promoção de saúde no local, após o diagnóstico dos problemas que afetam a capacidade para o trabalho e a qualidade de vida dessas pessoas. O objetivo foi conscientizar os trabalhadores sobre a adoção de hábitos e estilos de vida mais saudáveis. Após a intervenção, que se baseou em programas de educação em saúde, houve relatos de melhoras qualitativas no grupo pesquisado, como diminuição do uso de bebidas alcoólicas e tabagismo, emagrecimento e reeducação alimentar. As principais estratégias de intervenção empregadas foram orientações sobre higiene do sono, alimentação saudável, técnicas de relaxamento, de cuidados com o corpo e exercícios físicos, entre os quais alongamentos. “Do ponto de vista quantitativo, a intervenção não apresentou efetividade. Mas, qualitativamente, colhemos os frutos até hoje. Estou conduzindo uma coleta de dados sobre sono e tendo acesso, novamente, a esse público. Uma mulher, por exemplo, chegou até nós com 24 quilos a menos. Outro funcionário, um senhor, parou de fumar e está deixando as bebidas alcoólicas. Há também relatos de diminuição das dores”, conta a enfermeira Valéria Aparecida Masson, que concluiu recentemente doutorado sobre o tema. Ela e a colega Tatiana Giovanelli Vedovato permaneceram cerca de dois anos na Ceasa coletando informações e orientando os trabalhadores do local. As ações foram realizadas em parceria com o ambulatório médico do entreposto. Tatiana Vedovato também finalizou tese de doutorado sobre as condições de vida dos funcionários da central de abastecimento. Os estudos, orientados por Inês Monteiro, contaram com financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). “Desenvolvemos nossos trabalhos a partir das necessidades da realidade brasileira. Esse é o grande destaque das nossas investigações. Temos dado conta de identificar quais são os grupos de trabalhadores mais vulneráveis,

Vista de um dos galpões da Ceasa-Campinas (acima) e trabalhadores em ação (fotos à direita): entreposto hortifrutigranjeiro emprega 5,3 mil funcionários

geralmente aqueles de micro e pequenas empresas e os de menor grau de escolaridade”, situou a orientadora, que coordena há mais de 10 anos linha de pesquisa e projeto de extensão na Ceasa com a participação de graduandos, mestrandos e doutorandos da Unicamp. “Atualmente, os estudos na União Europeia, principalmente na área de saúde do trabalho, são baseados em intervenções. E é isso que estamos tentando fazer aqui, atuando muito próximos das necessidades dos trabalhadores. Eu diria que é um embrião daquilo que já está aperfeiçoado em países como Finlândia, Holanda, Dinamarca e Estados Unidos”, completa Inês Monteiro, que tem experiência na área de saúde coletiva e pós-doutorado pelo Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional. Ela explica que as condições de trabalho são fortes determinantes de situações inadequadas de saúde. Neste ponto, a pesquisadora Tatiana Vedovato exemplifica, citando as principais ocorrências constatadas durante o estudo de campo na central de abastecimento. “Muitos trabalhadores se deslocam de outras cidades, perdendo noites de sono para chegar de madrugada no entreposto. Eles

ainda têm uma jornada inteira de trabalho pela frente”, relata. A alimentação é outro ponto preocupante de acordo com ela. “É até um paradoxo porque lá são comercializados verduras, legumes e frutas. Muitos empregados, e mesmo os patrões, têm acesso a tudo isso, mas eles acabam comendo frituras e ingerindo refrigerantes, que é basicamente o que oferecem as lanchonetes do local. Eles comem também muito lanche. Outras questões importantes foram o sedentarismo e o estresse”, aponta. Estes males afetam o índice de capacidade para o trabalho, indicador instituído na década de 1980 pelo Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional. Fatores associados à gestão, ergonomia e estilos de vida explicam tanto o declínio como a melhoria da disposição para o trabalho durante o envelhecimento. Conforme estudos internacionais sobre o tema, as causas mais associadas à diminuição deste índice são: ausência de lazer e atividades físicas, presença de dor musculoesquelética, idade avançada, obesidade, alta demanda do trabalho mental, falta de autonomia, local de trabalho físico inadequado e elevada carga de trabalho.

Outro conceito empregado no estudo desenvolvido na Ceasa é o de fadiga. O termo, do latim faticare, denota cansaço por motivo de trabalho intenso. Conforme Valéria Masson, a fadiga apresenta uma característica multifatorial, ou seja, é influenciada pelas características do trabalho, estilo de vida e condições de saúde do indivíduo. “Tanto a fadiga como o conceito de capacidade para o trabalho são fatores que devem servir como base na elaboração de estratégias de promoção da saúde”, relaciona.

JOVENS E MULHERES Em seu estudo de doutorado, Valéria Masson analisou a promoção da saúde e capacidade para o trabalho de jovens, enquanto que Tatiana Vedovato estudou as mulheres do local. Ao todo, 90 trabalhadores participaram das pesquisas, sendo 48 mulheres e 42 jovens. As estudiosas explicam, porém, que a intervenção oferecida beneficiou cerca de 500 trabalhadores, uma vez que a iniciativa foi aberta a todos os interessados. “As mulheres são minoria na Ceasa. Talvez por isso elas sejam poupadas dos serviços mais pesados. Entretanto, a dupla jornada de trabalho está presente para a maioria delas. Muitas são fumantes, têm sobrepeso e baixa frequência de atividade física. O aspecto que mais interferiu na diminuição da capacidade para o trabalho foi o relato de ‘sentir dor em algum local do corpo’”, especifica Tatiana Vedovato. Em relação aos jovens, Valéria Masson informa que parcela considerável é sedentária e faz uso de bebidas alcoólicas. “Trabalhar e estudar simultaneamente, carregar peso, executar atividades em movimentos repetitivos, pressão para terminar a tarefa, dor e uso de medicamentos foram os principais fatores associados à redução da capacidade para o trabalho nestes sujeitos”, descreve a pesquisadora.

PARCERIA

Tatiana Giovanelli Vedovato: dois anos coletando informações e orientando os trabalhadores da central de abastecimento

A enfermeira Valéria Aparecida Masson, autora de tese: “Qualitativamente, colhemos os frutos até hoje”

Desde 1984, a Ceasa Campinas possui um ambulatório médico que atua pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, o serviço oferece atendimento exclusivo aos trabalhadores do local nas áreas médicas, odontológicas e de enfermagem, incluindo vacinação e distribuição de medicamentos. São três médicos, três enfermeiras, uma dentista e nutricionista, além de técnicos de enfermagem. A coordenadora do ambulatório, Maria Cristina Siqueira Menechino Prini, avalia que a parceria com a Unicamp tem possibilitado o estabelecimento de diretrizes mais claras, permitindo o desenvolvimento de


7

de outubro de 2013

ratório’ de saúde ocupacional

afetam a qualidade de vida de funcionários da central de abastecimento Fotos: Antoninho Perri

Alcides carrega 8 toneladas por dia

ações educativas e preventivas para os trabalhadores do entreposto. “Não damos conta de desenvolver atividades de coleta de informações juntos aos funcionários. Em qualquer ação educativa que vamos fazer, a Unicamp está sempre presente. Isso é muito rico. Antigamente, nós agíamos em cima do que víamos e achávamos. Hoje, não. Temos a informação, e, a partir daí, nós trazemos os trabalhadores para dentro do ambulatório. É possível, portanto, estabelecer um planejamento com diretrizes mais claras para esse público”, admite. Ainda de acordo com ela, há um reconhecimento por parte dos trabalhadores de que as ações da Universidade têm contribuído efetivamente para melhorar suas condições de saúde. “Eles já entenderam que não estão apenas participando de uma pesquisa, que irá coletar dados e ser encerrada nesta atividade. Os trabalhadores sabem e percebem que esses estudos contribuirão para o ambulatório aumentar a assistência para eles mesmos”, salienta. O ambulatório da Ceasa é mantido pela Prefeitura de Campinas, que detém desde 1989 o controle acionário do armazém. Empresa de capital misto, a Centrais de Abastecimento de Campinas está entre os quatros maiores entrepostos do Brasil. No local, situado às margens da Rodovia Dom Pedro I, funciona também o maior mercado permanente de flores e plantas ornamentais da América Latina.

Batata doce, inhame, cará, gengibre, mandioquinha… O jovem Alcides Palogi trabalha desde os 13 anos com o carregamento e venda de vegetais e tubérculos na Ceasa Campinas. Chega às 3 horas da manhã e só sai 10 horas depois, muitas vezes sem almoço. Carrega, em média, 20 carrinhos de 400 quilos por dia. Hoje, aos 30 anos, sente no corpo os males do ofício, apesar de estar satisfeito com a atividade. “Eu trabalhava escondido dos fiscais, quando entrei aqui. Na minha idade não era permitido. Tenho muita dor nas costas e problemas na coluna. Já fui ao médico e não adiantou. Mas acho divertido, o tempo passa e você não percebe. Pronto. Agora senta aí, senta aí vai… [no carrinho], me ajuda aqui [com as caixas]”, pede, brincando com o jornalista. A coordenadora do ambulatório Maria Cristina Prini avalia que a população jovem do armazém tem adoecido muito rápido. “Eles estão deixando de estudar porque é um trabalho muito pesado e cansativo. Por conta disso também há muitos casos de doenças osteomusculares. E esses trabalhadores não têm uma preocupação com a sua saúde; eles só vêm ao ambulatório em situações muito críticas. Temos observado muitos jovens com diabetes e hipertensão arterial”, expõe. Maria Zilda Souza de Moraes, de 48 anos, tem um espaço comercial junto com a família no mercado livre central da Ceasa. Ela viaja cerca de 60 quilômetros todos os dias, percorrendo de caminhão o trajeto de Jarinu (SP) a Campinas. Acorda por volta de 1h30 da manhã e só retorna após as 13h. Quando chega em sua casa, faz ginástica, mas dorme mal. “Eu pretendo parar de trabalhar. Já gostei muito, mas hoje estou cansada. Eu nem carrego tanto peso, mas a correria e a agitação aqui é muito grande. É muito corrido, fico exausta. Ando muito estressada, outro dia mesmo tive que ir ao médico. Estou tomando relaxante para dormir”, confessa.

Alcides Palogi, que trabalha desde os 13 anos: “Tenho muita dor nas costas e problemas na coluna”

Maria Zilda Souza de Moraes na banca da família: “Estou tomando relaxante para dormir”

Foto: Antonio Scarpinetti

Publicações Tese: “Promoção da saúde e capacidade para o trabalho de mulheres trabalhadoras de uma central de abastecimento” Autora: Tatiana Giovanelli Vedovato Orientadora: Maria Inês Monteiro Unidade: Faculdade de Enfermagem Financiamento: Capes

Tese: “Promoção da saúde entre jovens trabalhadores de micro e pequenas empresas da Central de Abastecimento de Campinas, SP” Autora: Valéria Aparecida Mason Orientadora: Maria Inês Monteiro Unidade: Faculdade de Enfermagem Financiamento: Capes

A coordenadora do ambulatório, Maria Cristina Siqueira Menechino Prini: parceria rende ações educativas e preventivas para os trabalhadores do entreposto

A professora Maria Inês Monteiro, coordenadora das investigações: “Atuamos muito próximos das necessidades dos trabalhadores”


8

Campinas, 14 a 20 de outubro de 2013

Metodologia determina qualidade da soja e da quinoa em 4 minutos Fotos: Antonio Scarpinetti

Técnica, que utiliza espectroscopia no infravermelho, reduz o tempo de análise

Economia de tempo e dinheiro

CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

análise da composição centesimal visa garantir a qualidade dos produtos, atender exigências de órgãos oficiais de fiscalização e regulamentação, além de contribuir para a proteção da saúde do consumidor. Paralelamente, observa-se uma maior preocupação de determinados segmentos da população brasileira com a alimentação, o que aumenta o interesse por alimentos funcionais, assim chamados aqueles que trazem algum beneficio à saúde. Apesar disso, em geral o consumidor brasileiro não se detém no exame do conteúdo dos alimentos explicitado nas rotulagens que atestam suas qualidades nutricionais. Estas são mostradas através da presença dos seus principais componentes: umidade, proteínas, cinzas, lipídios, carboidratos e fibras. Os métodos de análises tradicionalmente empregados para a determinação da composição centesimal dos alimentos esbarram em dificuldades. Para contornar os problemas mais comumente enfrentados pelos laboratórios de análise de alimentos – gasto de tempo, preparo da amostra a ser analisada, utilização de solventes, cuidados em relação à saúde dos analistas e ao seu treinamento, equipamentos que ocupam espaço, tratamento de resíduos –, a engenheira de alimentos Daniela Souza Ferreira, desenvolveu metodologia que, utilizando espectroscopia no infravermelho e análise multivariada, permite reduzir drasticamente o tempo de investigação, de semanas para poucos minutos, e que, além de tudo, não exige o preparo prévio da amostra. Trata-se de técnica que utiliza a espectroscopia na região do infravermelho que, embora empregada desde a década de 1960, não se encontra disseminada no Brasil, onde poucos laboratórios dispõem do espectrofotômetro na região do infravermelho para o controle de qualidade de alimentos. As pesquisas que deram origem à tese de doutorado foram orientadas pela professora Juliana Azevedo Lima Pallone, do Departamento de Ciência de Alimentos, da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp, e coorientadas pelo professor Ronei Jesus Poppi, do Departamento de Química Analítica do Instituto de Química (IQ) da Universidade, onde o equipamento tem utilização rotineira.

CAMINHOS E ESCOLHAS

A pesquisadora esclarece que para a avaliação simultânea dos diversos parâmetros de qualidade dos alimentos devem ser empregados métodos de calibração multivariada para a geração de modelos matemáticos que permitem a quantificação de espécies químicas a partir dos espectros no infravermelho próximo ou médio. Os métodos de calibração multivariada, que são do domínio da quimiometria e que envolvem o desenvolvimento de um modelo matemático, exigem o emprego de grande número de resultados provenientes de ensaios analíticos e obtenção de espectros, ou seja, dependem do exame prévio de um significativo número de amostras. Além do que, uma vez construído, o modelo matemático-estatístico necessita ser validado com um conjunto de dados não utilizados na calibração. Estas circunstâncias levaram a pesquisadora a trabalhar com soja e quinoa face à facilidade de acesso a grande variedade de amostras e espécies. Além do fato de a soja ocupar um lugar importantíssimo na agricultura do Brasil, segundo maior produtor mundial, atrás apenas dos EUA, e a quinoa se distinguir pela riqueza proteica.

Amostras analisadas: grãos são classificados de acordo com suas composições centesimais

Influenciou ainda essa decisão a facilidade de conseguir amostras produzidas pela Embrapa, que pesquisa muitas variedades de soja e desenvolve propostas para a produção de quinoa na entressafra da soja. No caso desta, pesou ainda a facilidade de aquisição na rede de supermercados do produto importado e a circunstância de conseguir amostras trazidas diretamente do Peru e da Bolívia, grandes produtores do grão. Acrescente-se também que em geral os grãos, conhecidos desde a antiguidade, situam-se entre os alimentos funcionais que, além de constituírem fontes de calorias, assumem particular importância na prevenção de doenças cardiovasculares e degenerativas. Nestes aspectos, destacam-se a soja e a quinoa. A soja, leguminosa rica em proteínas e óleo, tem significativo peso na balança comercial brasileira. A quinoa, um pseudocereal, é superior aos cereais em qualidade e proporção de proteínas, lipídios, vitaminas e minerais. Estes grãos estão sendo progressivamente incluídos na dieta humana, principalmente nas formulações de pães, massas, barras de cereais, cereais matinais, com a vantagem de não conterem glúten. Daniela realizou as análises convencionais no Laboratório de Análise de Alimentos da FEA e desenvolveu os estudos relativos à quimiometria no IQ, onde utilizou o espectrofotômetro na região do infravermelho. Ela explica: “O equipamento fornece os dados referentes à amostra em dois minutos, mas para poder comparar suas respostas com os resultados obtidos em laboratório pelos processos convencionais, emprega-se um tratamento estatístico que é a quimiometria e, com isso, chega-se ao resultado final, expresso através da concentração das espécies pretendidas”. A realização de todo esse trabalho, partiu das análises convencionais de quase 100 espécies de soja e de cerca de 90 de quinoa.

Para uma indústria de alimentos, o emprego dessa técnica permitirá realizar o controle da qualidade de uma variedade de grãos, ou de outra matéria-prima, desde que disponha de uma biblioteca adequada dentro do seu equipamento. Ou seja, o desenvolvimento prévio dos modelos matemáticos a serem utilizados possibilitará então a essa indústria, em dois minutos, chegar aos resultados analíticos e, em outros dois, obter a composição centesimal, substituindo assim métodos laboriosos e geradores de resíduos químicos. E sem destruição da amostra, pois os grãos beneficiados são colocados diretamente no equipamento, o que possibilita inclusive que as amostras analisadas sigam junto ao respectivo lote. A biblioteca, montada com base nas necessidades de cada empresa, possibilita que as beneficiadoras de grãos se encarreguem de suas análises para que cada produção seja encaminhada para a utilização mais adequada aos produtores de alimentos, pois os grãos são classificados em função de suas composições centesimais e, dependendo delas, se destinam a diferentes processamentos. As composições diferentes resultam do clima, da condição do solo e da variedade da espécie. O conteúdo de proteínas e de óleos é importante para os destinos que são dados à soja. No caso da quinoa, por exemplo, deve ser garantido o alto conteúdo de proteínas para seu emprego em produtos que substituem a carne. A metodologia permite substituir um laboratório de análises convencionais por um equipamento e um operador. Simples, rápido e fácil. Desde que construída a biblioteca necessária. No caso estudado por Daniela, o processo consumiu quatro anos de trabalho utilizando recursos do CNPq, Capes e Fapesp.

OBJETIVOS E APLICAÇÃO

Os objetivos do estudo centraram-se principalmente em avaliar os parâmetros de qualidade de grãos funcionais como soja e quinoa, que apresentam importância econômica e nutricional e o teor de fibras dietéticas de soja; obter espectros no infravermelho próximo e médio de soja e quinoa; e desenvolver modelos de calibração multivariada para os dois cereais, referenciados aos métodos analíticos.

Publicação Tese: “Aplicação de espectroscopia no infravermelho e análise multivariada para previsão de parâmetros de qualidade em soja e quinoa” Autora: Daniela Souza Pereira Orientadora: Juliana Azevedo Lima Pallone Coorientador: Ronei Jesus Poppi Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) Financiamento: CNPq, Capes e Fapesp

A engenheira de alimentos Daniela Souza Ferreira, autora da tese: resultados bem próximos dos obtidos em laboratório

Pelos processos convencionais de laboratório, a determinação do teor de umidade leva um dia e das proteínas, dois. O teor de cinzas, que constituem o material inorgânico e que resultam da queima da matéria orgânica, consomem 16 horas de trabalho e o conteúdo de fibras alimentares demanda uma semana. Pelo processo proposto, o resultado no infravermelho é obtido em dois minutos e outros dois são requeridos para o tratamento matemático que leva à composição centesimal. Daniela atribui à dificuldade do uso de infravermelho para prever os parâmetros de qualidade em alimentos, à falta de um quimiometrista, pois a técnica já é empregada em indústrias de ração e trigo. “Frequentei o curso de quimiometria no IQ para aprender a técnica, utilizar o software e desenvolver os modelos matemáticos. Essa é a maior dificuldade, pois se deve construir um modelo para cada amostra. Tentei construir modelos que não existiam para as amostras brasileiras. E esta é a novidade, já que a técnica é aplicada desde a década de 60”, esclarece ela. Ao final do trabalho, a pesquisadora constatou em que grau o modelo matemático se aproxima dos resultados das análises realizadas em laboratório e que demandaram três anos de trabalho. Ao fazer a validação do modelo através do emprego de ferramentas estatísticas, ela constatou que o emprego da técnica lhe permitia prever resultados bem próximos dos obtidos em laboratório, alcançando índices que chegam de 70% a 90%, considerados excelentes. Daniela destaca particularmente a aplicação da técnica na determinação de fibras alimentares, cujas análises convencionais demandam mais de uma semana e geram muitos erros. Particularmente neste caso, ela considera os resultados fantásticos. Para a pesquisadora, a empresa que se dispuser a investir em equipamentos e na construção dos modelos matemáticos com vistas ao controle de qualidade terá um retorno financeiro em dois anos, em decorrência da economia com outros equipamentos, emprego de reagentes, utilização de espaços e pessoal.


Campinas, 14 a 20 de outubro de 2013

Desigualdades rondam entorno de reservatório

9

Pesquisador usa técnicas de geoprocessamento para mapear condições socioambientais de região de represa Fotos: Divulgação

CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

m um país em que a população urbana se adensa cada vez mais, talvez pouca gente tenha vivenciado o que diz Fernando Pessoa em “O rio da minha aldeia”, através do heterônimo Alberto Caeiro: “O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia”. Mesmo sem essa intensidade poética e evocativa, deve existir ainda muita gente que desfrutou dos rios que correm pelas suas cidades, cujas águas claras e inodoras acabaram adensadas pela poluição e até passaram a espumar odores inviáveis. Outros viram esses rios diluídos em represas e reservatórios cuja ocupação antrópica trouxe transformação e deterioração aos seus entornos, aprofundando contradições e desigualdades socioespaciais. Que transformações são essas, como se deram e que prejuízos causam? A que gerenciamentos precisam ser submetidos reservatórios para evitar esses problemas e garantir usos múltiplos das águas e do seu entorno? A essas perguntas se propõe responder Marcelo Fernando Fonseca na tese em que realizou um diagnóstico das condições socioambientais do entorno do Reservatório de Salto Grande, localizado nos municípios de Americana, Nova Odessa e Paulínia, Estado de São Paulo, utilizando técnicas de geoprocessamento. Para tanto ele se vale de uma ampla base de dados georreferenciados sobre a área. O pesquisador mostra que a falta de um planejamento adequado para o reservatório e seu entorno tem contribuído decisivamente para o aprofundamento de contradições e desigualdades. Avaliando as especificidades e potencialidades da área sob o enfoque geográfico, o estudo procura fornecer contribuições para a tomada de decisões no processo de planejamento e de gestão territorial com vistas aos usos múltiplos da água como estratégia para a mudança do cenário atual. Enfatiza particularmente a importância das relações e da participação de todos os agentes sociais envolvidos com a problemática que ali se desenvolve. O autor considera que o planejamento e a gestão de áreas urbanas, conduzidos de forma desarticulada e equivocada, tem contribuído decididamente para o aprofundamento dos problemas e originado conflitos que devem ser objeto de reflexão. A área estudada está afeta a processos correntes de urbanização, acompanhados de impactos relacionados à qualidade da água e da sua área de entorno. O trabalho realiza uma análise das variáveis e dos aspectos geográficos envolvidos no planejamento e na gestão territorial da área. Busca compreender as relações socioespaciais existentes nas temáticas apresentadas e enfatiza a necessidade de considerar os usos múltiplos da água como fator contribuinte para as mudanças e transformações na dinâmica local. As constatações sugerem que as atuais práticas de desenvolvimentos socioterritoriais vigentes são contraditórias, e por vezes conflitantes, acarretando equívocos no planejamento e inibindo os processos que motivariam usos do reservatório e do entorno. Ocasionam ainda significativas perdas sociais às comunidades locais, muitas vezes beneficiando apenas alguns segmentos da sociedade ou priorizando aspirações econômicas de determinados agentes sociais.

Marcelo Fernando Fonseca (à esq.), autor da tese, e o orientador, professor Lindon Fonseca Matias, em trabalho de campo: disparidades

Aguapés (acima) e placa sinalizando problemas na qualidade da água da represa (à dir.): pesquisadores pregam o envolvimento da comunidade

Fonseca tece considerações sobre os usos da água e relata como se apresenta na atualidade o espaço geográfico analisado. Mostra o histórico de ocupação e apresenta aspectos geográficos peculiares ao entorno do reservatório. O pesquisador analisa ainda os pressupostos para o planejamento e gestão de usos da água e ao fazer prognósticos da área de estudo delineia algumas considerações sobre possíveis encaminhamentos a partir do conteúdo produzido ao longo da pesquisa. Marcelo destaca que o acesso a imagens de satélites e a fotografias aéreas de boa qualidade constituíram importantes suportes para a geração de mapas temáticos. Considera também que a aplicação de formulários na forma de entrevista estruturada, com abrangência significativa em relação à população local, mostra detalhes da relação intrínseca desta com a área. O Reservatório de Salto Grande foi criado a partir da construção da usina hidroelétrica e da barragem que se localizam em Americana, município da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Logo nos primeiros anos, após a inauguração da usina, em 1949, o entorno era procurado para atividades de lazer pela população da região. Mas seu uso foi progressivamente diminuindo com a intensificação dos processos de urbanização, deficiências na infraestrutura e ausências de programas de valorização do reservatório. Algumas áreas passaram inclusive a abrigar a prostituição e hoje se observa a subutilização de um espaço importantíssimo tanto para Americana quanto para os municípios vizinhos.

MOTIVAÇÕES E DELINEAMENTOS

A definição da área de estudo decorreu principalmente da preocupação com a qualidade ambiental do Reservatório de Salto Grande e com o uso de seu entorno, tanto no contexto das populações dos municípios mais diretamente envolvidas quanto da perspectiva regional. “Muito frequentada antigamente pela população, a área hoje enfrenta relativo abandono verificando-se nela apenas ações de algumas organizações não governamentais”, esclarece Marcelo. Ele destaca o importante papel da ONG Barco Escola da Natureza que, através de embarcação própria, desenvolve atividades de educação ambiental junto a alunos de várias escolas da região para mostrar problemas envolvendo a qualidade da água e do entorno. Para uma análise territorial da área, Fonseca usou recursos associados ao geoprocessamento, como softwares de análise espacial e imagens de satélite, que permitiram o estudo do uso e ocupação da terra e geração de mapas temáticos atualizados. O levantamento de dados e registros fotográficos envolveram trabalhos de campo. Segundo o pesquisador, uma gestão adequada do reservatório deve incluir a opção pelos usos múltiplos da água e as escolhas das melhores opções que precisam ser orientadas por parâmetros técnicos. Ele credita à consideração e adoção do critério de usos múltiplos a possibilidade de modificação do quadro atual, pois possibilitaria a atração de infraestrutura adequada a cada caso. A revitalização levaria inclusive a população a utilizar o local, seja para atividades econômicas – pesca, irrigação etc., ou mesmo sociais – lazer, frequência a áreas públicas recuperadas, entre outras. A restauração da qualidade ambiental do reservatório impõe a avaliação do contexto em que está inserido. O rio Atibaia, que lhe dá origem e passa por vários municípios, exigiria medidas dos Comitês de Bacia no sentido de coibir práticas que deterioram a qualidade da água. Além disso, na grande área ao norte do reservatório, o “pós-represa”, a ocupação predominante atualmente é a cana-de-açúcar. Trata-se de uma área que deve abrigar no futuro residências, indústrias e serviços e que por isso exige planejamento para a ocupação. Nela não podem ser esquecidos os espaços de preservação permanente e de reserva legal, além da necessidade de recuperação das matas ciliares, necessárias para a proteção e ressurgimento da flora e fauna locais.

A pesquisa revelou alguns aspectos interessantes como a intensificação do processo de urbanização da área, através da expansão de condomínios fechados que atendem várias faixas de renda. Em consequência, a decorrente demanda por infraestrutura deve impactar o reservatório e seu entorno. Entrevistas realizadas com residentes mais próximos do reservatório revelaram que a grande maioria não frequenta sua orla e evidenciou problemas como poluição da água, excesso de aguapés, maus odores. O conjunto de mapas gerados mostra que, principalmente nas margens do reservatório, as Áreas de Preservação Permanente (APP) precisam ser preservadas e recuperadas.

PRESSUPOSTOS E PROGNÓSTICOS

Marcelo considera que medidas devem ser tomadas em relação ao reservatório, várias delas de suma importância, envolvendo o planejamento no conjunto dos municípios que possuem áreas no seu entorno. Também é necessário estabelecer um diálogo com os municípios da sub-bacia do Atibaia, cujas águas contribuem para a formação da represa. Além de tudo, faz-se necessário conscientizar e estimular as populações a participar de atividades voltadas para sua recuperação, envolver nas discussões o meio político e exercer pressão sobre as autoridades. Ao realizar um prognóstico sobre a área, o trabalho teve como objetivo estimular a busca por mudanças através do aproveitamento das potencialidades do reservatório. “É necessário aproveitar esse potencial para que tenhamos no futuro mudanças, quem sabe conseguindo utilizar a área para múltiplas atividades como a pesca esportiva, locais de convivência, entre outras, além da geração de energia elétrica”, diz Marcelo. O pesquisador reconhece que a questão da balneabilidade é mais complexa, pois a despoluição da água requer mais investimentos, mas a julga perfeitamente viável se houver vontade política e envolvimento da população. Certamente não será mais possível recuperar “o rio da minha aldeia”, nem o “rio da cidade”. Mas são tributos pagos ao progresso e às necessidades urbanas.

Publicação Tese: “Análise territorial do entorno do reservatório de Salto Grande (SP) com o uso de geoprocessamento: contribuições para usos múltiplos da água” Autor: Marcelo Fernando Fonseca Orientador: Lindon Fonseca Matias Unidade: Instituto de Geociências (IG)


10 Vida Painel da semana Teses da semana Livro da semana Destaques do Portal da Unicamp

Campinas, 14 a 20 de outubro de 2013

aa c dêi m ca

Painel da semana  VI Workshop de Petróleo da Unicamp - A Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM), por meio do “SPE Student Chapter”, organiza, de 14 a 17 de outubro, no auditório da Faculdade de Engenharia Química (FEQ), o VI Workshop de Petróleo da Unicamp. A abertura do evento ocorre às 8 horas. O workshop terá palestras e mesas-redondas com a participação de diversos especialistas da área. Sua primeira edição ocorreu em 2008. Mais informações podem ser obtidas com Daniel Braga pelo e-mail danielcbraga@gmail.com ou telefone 11-99221-1284.  Lean Healthcare - O serviço de saúde deveria ser seguro, eficaz, centrado no paciente, oportuno, eficiente e equitativo. O Lean Healthcare (saúde enxuta) é uma alternativa de gestão focada no paciente e na cooperação entre seus participantes com o intuito de eliminar os desperdícios e buscar a melhoria contínua. Para debater o assunto, especialistas se reunirão no Fórum de Empreendedorismo e Inovação, dia 14 de outubro, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. A organização é do professor Li Li Min. Outras informações: telefone 193521-7292, e-mail alice_sarantopoulos@hotmail.com ou site http://gigsunicamp.wix.com/lean-healthcare  Palestra com José Teixeira - No dia 14 de outubro, às 14 horas, no auditório IB11 do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, acontece a palestra “Introdução à difusão de nêutrons a baixos ângulos e suas aplicações no estudo da estrutura da matéria em escala nanométrica”. Será ministrada pelo professor José Teixeira, diretor de pesquisa do CNRS-Centre National de la Recherche Scientifique, Laboratoire Léon Brillouin, Saclay, França. A organização é da professora Eneida de Paula. Mais informações telefone 19-3521-6143.  Tecnologia em foco - A Faculdade de Tecnologia (FT) da Unicamp promove, dia 14 de outubro, às 19 horas, a 4ª edição de Tecnologia em Foco. Palestras, minicursos, seminários, workshops, exposições e atividades culturais e de cidadania oferecidas por especialistas das áreas de Informática, Telecomunicações, Ambiental e Construção Civil estão no programa. Mais detalhes no site do evento http://www.ft.unicamp.br/ IVtecnologiaemfoco/ ou e-mail: tf@ft.unicamp.br  Reunião Científica do Laboratório de Cultura de Células da Pele - Evento acontece no dia 15 de outubro, às 8h30, no Auditório do Ciped. No encontro serão abordados os temas “Dermatologia regenerativa e bioengenharia da pele” e “Avanços na terapia celular para o tratamento de feridas”. A Reunião é organizada pelas professoras Maria Beatriz Puzzi e Talita Stessuk. Outras informações pelo telefone 3521-8988 ou e-mail beatrizpuzzi@gmail.com  Representação discente da Pós-graduação junto ao Consu e CCPG - A Secretaria Geral da Unicamp recebe, até 15 de outubro, as inscrições dos estudantes de pós-graduação para composição de sua representação junto ao Conselho Universitário (Consu) e Comissão Central de Pós-Graduação (CCPG). Poderão se candidatar à representação todos os alunos regularmente matriculados na pós-graduação que não estejam com a matrícula trancada e não sejam servidores públicos da Unicamp. Mais: http://www.unicamp.br/unicamp/ noticias/2013/10/01/eleicoes-para-representacao-discente-da-pos-graduacao-junto-ao-consu-e-ccpg  Resíduos sólidos - No dia 15 de outubro, às 9 horas, na Faculdade de Tecnologia da Unicamp (FT), em Limeira, acontece mais uma edição do Fórum Permanente de Meio Ambiente e Sociedade. O Fórum discutirá “Avanços e Desafios da Política Nacional de Resíduos Sólidos” Inscrições, programação e outras informações no link: http://foruns.bc.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/mas03.html

 Doutorado em Bioenergia - O Programa Integrado de Doutorado em Bioenergia recebe, até 15 de outubro, as inscrições para o processo seletivo para ingresso nos cursos de doutorado e doutorado direto no primeiro semestre de 2014. As inscrições devem ser feitas pela internet. O programa é desenvolvido pela Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Estadual Paulista (Unesp) e conta com cinco linhas de pesquisas, as mesmas do Programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN): biomassa, tecnologia, motores, biorrefinaria e sustentabilidade. Mais detalhes no link http://agencia.fapesp.br/17828  Encontro de Pós-graduandos do Imecc - Em 15 de outubro acontece o VIII Encontro Científico dos Pós-Graduandos do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (Imecc), que contará com palestras, mesas-redondas, oficinas e apresentação de trabalhos de alunos. O encontro será realizado das 9 às 18 horas no Imecc. Informações e inscrições: encpos@ime.unicamp.br  Festa do livro - Nos dias 16 e 17 de outubro, das 10 às 21 horas, acontece a 19a Festa do Livro da Editora da Unicamp, no pátio do Ciclo Básico II. Como já vem sendo feito desde 2002, a Editora da Unicamp oferece duas vezes por ano a oportunidade para que alunos, docentes e funcionários da Universidade, bem como o público em geral, possam adquirir livros a preços diferenciados, com o objetivo de estimular a leitura e a formação de bibliotecas pessoais. O evento trará mais de 450 títulos com descontos de 50% e 70%. No site da Editora (http://www.editora.unicamp.br/) é possível obter informações mais completas sobre os livros, como sinopses, formato, número de páginas, capa etc.  Metodologias de ensino e criatividade - Com o tema Metodologias de ensino e criatividade, próxima edição do Fórum Permanente de Desafios do Magistério ocorre em 16 de outubro, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. Programação, inscrições e outras informações, na página eletrônica do evento http://foruns.bc.unicamp.br/ foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/magis44.html  Educação do Campo - No dia 16 de outubro, o professor Dermeval Saviani debate o tema “A Pedagogia Histórico- Crítica na educação do campo”. Será durante a realização do II Seminário Nacional de Estudos e Pesquisas sobre Educação do Campo e da IV Jornada de Educação Especial no Campo. Os eventos ocorrem entre 15 e 18 de outubro, em São Carlos- SP. No dia 18, o professor Luiz Carlos de Freitas ministra uma conferência sobre a contribuição de Pistrak para a educação do campo. Informações e inscrições no link http://www.semgepec.ufscar.br/  Nepa comemora Dia Mundial da Alimentação - O Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação (Nepa) da Unicamp e o Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) organizam, dia 16 de outubro, às 14 horas, no auditório da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), uma mesa-redonda para comemorar o Dia Mundial da Alimentação. Segundo dados que acabam de ser divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU), 13,6 milhões de pessoas ainda passam fome no Brasil. Temas como segurança alimentar e nutricional nos assentamentos e a criação da Promotoria de Segurança Alimentar e Questões Fundiárias, entre outros assuntos, serão abordados no evento. O Dia Mundial da Alimentação é comemorado oficialmente em 16 de outubro, em mais de 150 países. As comemorações foram iniciadas em 1981 como forma de conscientizar a opinião pública sobre questões que envolvem nutrição e alimentação. Mais detalhes pelo telefone 19-35214022 ou e-mail luciana.rosario@reitoria.unicamp.br  Fórum de filosofia discute a origem do universo - Tentativas para desvendar os mistérios que envolvem a origem do universo sempre foram uma preocupação da humanidade. Diante disso, a Unicamp, através da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac), Grupo Gestor de Benefícios Sociais (GGBS) e a Agência para a Formação Profissional da Unicamp (AFPU), promove, no dia 17 de outubro, das 9 às 17 horas, no Centro de Convenções da Universidade, o 1ª Fórum de Filosofia e Ciência das Origens. Vai reunir estudiosos do tema como o geólogo Nahor Neves de Souza Jr., o físico Russell Humphreys, o escritor Michelson Borges e o químico Marcos Eberlin. As inscrições para o simpósio, gratuitas, podem ser feitas no site http://www.forumdasorigens.com.br/pre-inscricao/  Prêmio Jabuti - A Editora da Unicamp tem quatro finalistas em três das 27 categorias do Prêmio Jabuti 2013. Na categoria Arquitetura e Urbanismo, está classificado em quinto lugar o livro “Paisagismo brasileiro na virada do século: 1990-2010”, de Silvio Soares Macedo, publicado em coedição com a Editora da Universidade de São Paulo (Edusp). Na categoria Psicologia e Psicanálise, ocupando a quarta posição na relação dos dez finalistas, está o livro “Obsessão e Psicanálise depois de Freud”, de Gustavo Adolfo Ramos. Na categoria Tradução, dos 10 finalistas, dois foram editados pela Editora da Unicamp. Ocupando a quinta posição está “Ser e tempo”, de Martin Heidegger, traduzido por Fausto Castilho (coedição com a Editora Vozes), e em décimo o livro “Das coisas do campo”, de Varrão, traduzido por Matheus Trevizam. A obra vencedora em primeiro lugar de cada categoria (de 1 a 27) receberá, além do troféu Jabuti, um prêmio no valor bruto de R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos reais), sendo deduzidos os encargos legais. No caso de obras em coautoria, o prêmio em dinheiro será dividido em partes iguais. Os segundos e terceiros colocados de cada categoria receberão o troféus do Prêmio Jabuti. O Livro do Ano Ficção e o Livro do Ano Não Ficção receberão, cada um, o troféu

Do tirar pelo natural

Livro

da semana

Sinopse: “Do tirar pelo natural” é um texto escrito pelo artista e humanista português Francisco de Holanda, finalizado em 1549. Trata-se, segundo diversos historiadores da arte, da primeira fonte textual a lidar exclusivamente com o retrato como gênero artístico. Através de um diálogo dividido em 11 capítulos entre o próprio autor e um amigo artista (Brás Pereira), Holanda mostra ao leitor o processo de criação de um retrato, além de deixar claro quais pessoas são merecedoras dele. Além disso, o texto aponta para algumas preferências do autor, como quando cita o nome de Michelangelo e, posteriormente, afirma que Tiziano Vecellio, pintor italiano, seria o melhor retratista vivo. Este escrito foi publicado apenas no final do século XIX e, posteriormente, no final do século XX, em Portugal e na Espanha. Esta publicação da Editora da Unicamp, portanto, se configura como a primeira edição no Brasil de um dos textos desse importante humanista, contribuindo para a compreensão da reflexão artística em Portugal durante o Renascimento. Autor: Francisco de Holanda Organização, apresentação e comentário: Raphael Fonseca Ficha técnica: 1a edição, 2013; 168 páginas; formato: 10,5 x 18 cm ISBN: 978-85-268-1009-9 Área de interesse: História da arte Preço: R$ 32,00

Jabuti dourado e o valor bruto de R$ 35.000,00 (trinta e cinco mil reais), sendo deduzidos os encargos legais. A divulgação dos vencedores em cada categoria será no dia 17 de outubro e a entrega dos prêmios em 13 de novembro. Mais informações: ricardo@editora.unicamp.br  Comissão da Verdade e Memória “Octávio Ianni” Seminário que marca o início dos trabalhos da Comissão da Verdade e Memória “Octávio Ianni” da Unicamp ocorre no dia 17 de outubro, às 9h30, no auditório da Biblioteca Central Cesar Lattes (BC-CL).  Teoria Queer e Educação - O I seminário sobre Teoria Queer e Educação acontece no dia 18 de outubro, das 8 às 19 horas, no Salão Nobre da Faculdade de Educação (FE). O evento é organizado pelo Grupo de Estudos Interdisciplinar em Sexualidade Humana e objetiva reunir pensadores brasileiros de diversas áreas do saber para um debate acerca do papel ocupado pelas diferenças no campo da Educação brasileira.  Fórum de Arte, Cultura e Educação - No dia 18 de outubro, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp, acontece mais uma edição do Fórum Permanente de Arte Cultura e Educação. Com o tema “Educação e juventude: novas possibilidades para o Ensino Médio”, o objetivo do evento é discutir o Ensino Médio no Brasil por se tratar de um elemento fundamental para a formação de capital humano, sobretudo para a faixa etária marcada pela transição entre a adolescência e a juventude. A realização é da Coordenadoria Geral da Unicamp (CGU) com organização da professora Stella Maria Silva Telles, pesquisadora do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP). O evento será transmitido (ao vivo) pela TV Unicamp. Inscrições, programação e outras informações na página eletrônica http://foruns.bc.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/ htmls_descricoes_eventos/arte58.html ou telefone 19- 3521-5039.

Teses da semana  Alimentos - “Conversão de sacarose em isomaltose e trealulose utilizando-se de células de Serratia plymuthica ATCC 15928 livres e imobilizadas em diferentes matrizes com adição de transglutaminase”(doutorado). Candidata: Priscila Hoffmann Carvalho. Orientadora: professora Helia Harumi Sato. Dia 18 de outubro, às 10 horas, no anfiteatro do FCA da FEA.  Computação - “Uma infraestrutura autoadaptativa baseada em linhas de produtos de software para composições de serviços tolerantes a falhas” (doutorado). Candidato: Amanda Sávio Nascimento e Silva. Orientadora: professora Cecília Mary Fischer Rubira. Dia 15 de outubro, às 8h30, no auditório do IC-2, sala 85 do IC. “Abordagem multiescala para detecção de textura” (mestrado). Candidato: Fernando Roberti de Siqueira. Orientador: professor Hélio Pedrini.

Dia 15 de outubro, às 14 horas, no auditório do IC-2, sala 85 do IC.  Educação Física - “O jogo e o desenvolvimento moral nas aulas de educação física” (mestrado). Candidata: Alessandra Caetano. Orientadora: professora Elaine Prodócimo. Dia 18 de outubro, às 15 horas, no auditório da FEF.  Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - “Procedimentos de análise de projetos para a arquitetura escolar do Estado de São Paulo” (doutorado). Candidata: Paula Roberta Pizarro Pereira. Orientador: professor Doris Kowaltowski. Dia 14 de outubro, às 14 horas, na sala de defesa de teses da CPG da FEC.  Engenharia Elétrica e de Computação - “Modelos computacionais para o ritmo e aplicações em interatividade homem-máquina” (doutorado). Candidato: Tiago Fernandes Tavares. Orientador: professor Romis Ribeiro de Faissol Attux. Dia 17 de outubro, às 9 horas, no prédio da CPG da FEEC. “Abordagem híbrida para alocação de máquinas virtuais em nuvens computacionais” (doutorado). Candidato: Lucio Agostinho Rocha. Orientador: professor Eleri Cardozo. Dia 18 de outubro, às 9h30, na sala PE-12 do prédio da CPG da FEEC.  Humanas - “Demonstrações na algibeira: polinômios como um método universal de prova” (doutorado). Candidata: Mariana Matulovic da Silva. Orientador: professor Walter Alexandre Carnielli. Dia 14 de outubro, às 8h30, na sala de teses do IFCH. “A modificação de sentido do sumo bem na filosofia tardia de Kant” (doutorado). Candidato: Claudio Sipert. Orientador: professor Zeljko Loparic. Dia 15 de outubro, às 16h15, na sala de teses do IFCH.  Física - “Estudos do modelo de Hubbard desordenado em duas dimensões” (doutorado). Candidata: Martha Yolima Suárez Villagrán. Orientador: professor Eduardo Miranda. Dia 18 de outubro, às 14 horas, no auditório da Pós-graduação IFGW.  Matemática, Estatística e Computação Científica “Mineração de dados para modelagem de risco de metástase em tumor de próstata” (mestrado). Candidata: Gabriel Jorge Chahine. Orientador: professor Laércio Luis Vendite. Dia 15 de outubro, às 11 horas, na sala 253 do Imecc.  Odontologia - “Relação entre a presença de periodontopatógenos e os níveis de biomarcadores plasmáticos no desenvolvimento da doença periodontal em crianças portadoras de diabetes tipo I” (mestrado). Candidata: Mariana Ferreira Dib João. Orientadora: professora Cristiane Duque. Dia 18 de outubro, às 14 horas, no anfiteatro 1 da FOP.  Química - “Modificação de acetato de celulose com organossilano e preparação de blendas com PDMS” (doutorado). Candidata: Larissa Reis Brandão. Orientadora: professora Maria do Carmo Gonçalves. Dia 14 de outubro de 2013, às 14 horas, no miniauditório do IQ.

Destaque do Portal Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), do MCTI, escolheu a Unicamp como sede do seminário “Brasil em Perspectiva”, marcando o início das atividades do Centro de Altos Estudos Brasil Século XXI. Institucionalizado no último dia 3, o novo centro é uma parceria envolvendo, além do próprio MCTI e o MEC, os Institutos de Economia da Unicamp, da UFRJ e outras universidades brasileiras. O Centro de Altos Estudos foi concebido para servir de ponte entre academia e governo, por meio da reflexão e sugestão de políticas sobre questões que marcarão o futuro do país. O seminário realizado na sexta-feira contou com palestras de Aloizio Mercadante, ministro da Educação, Luciano Coutinho, presidente do BNDES, e Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Unicamp. O professor Mariano Laplane, que se licenciou da Universidade para presidir o CGEE, disse que o órgão do MCTI vem trabalhando em ritmo intenso e está prestes a concluir, por exemplo, um amplo estudo sobre o futuro da produção e consumo de alimentos no mundo, no horizonte até 2030. “É um tema importante para o Brasil, grande exportador de alimentos. Esse setor vem passando por grandes transformações, numa miríade de novidades que vão fazer diferença tanto na produção como nos padrões de consumo de alimentos nas próximas décadas. Estamos dando um passo à frente com a institucionalização do Centro de Altos Estudos Brasil Século XXI, que ganha vida própria, reunindo intelectuais e pesquisadores numa ágora de reflexão sobre a cultura do país, dentro de um mundo que também se transforma.”

Unicamp sedia 1ª atividade do Centro Brasil Século XXI Segundo Laplane, no esforço coletivo de construir cenários futuros para apontar os melhores caminhos, o Centro Brasil Século XXI pretende atuar em três dimensões, que em sua opinião se complementam. “A primeira dimensão é a realização de estudos, sendo que já temos um programa focando questões bastante relevantes. O segundo eixo é propriamente da divulgação desses resultados, fazendo com que cheguem à sociedade, promovendo o debate público. E o terceiro eixo é utilizar esse conhecimento também para a formação de recursos humanos: o Brasil precisa de uma nova geração (talvez várias) de gestores com visão pública e alta capacitação técnica para levar adiante os projetos de desenvolvimento no país.” O ministro Aloizio Mercadante, que participou da mesa sobre “Desafios estratégicos do Estado brasileiro: construindo um desenvolvimento inovador e soberano”, afirmou que o novo centro cria um campo de discussão para promover uma relação mais próxima entre quem está executando as políticas públicas e quem está na academia ajudando a pensá-las e a formulá-las, com o devido rigor e distância crítica. “Precisamos daqueles que possuem uma visão desenvolvimentista da história do Brasil e que hoje estão em

centros dispersos. Já temos a FAO, uma presença internacional, e queremos trazer também a área empresarial. Além disso, precisamos formar gestores de Estado; temos grandes quadros operando políticas na linha de frente, mas que precisam retornar à academia para uma pós-graduação, passando por um ciclo de discussão.” O economista Luiz Gonzaga Belluzzo foi um dos debatedores da primeira mesa, sobre “Desafios para a construção do desenvolvimento de longo prazo”, juntamente com Luciano Coutinho, do BNDES, e Ricardo Bielschowisky, da UFRJ. Para Belluzzo, o Centro Brasil Século XXI é um canal para que a Universidade comece a se manifestar. “A academia está muito ausente do debate econômico. Há uma concentração muito grande de economistas e sociólogos que estão no mercado. É preciso que a academia participe com mais intensidade e que sua voz seja ouvida de maneira mais clara; e que tenha, sim, essa interação com o mundo prático, pensando o emprego, a renda e políticas que favoreçam o avanço das camadas inferiores.” Saudando os presentes em nome do reitor José Tadeu Jorge, o professor Alvaro Crósta, coordenador-geral da Universidade, considerou a criação do centro uma

Foto: Antoninho Perri

Abertura do seminário “Brasil em Perspectiva”: debate de ideias e sugestão de políticas sobre questões cruciais

iniciativa louvável. “A universidade, nesse momento peculiar da nossa história, tem se voltado muito para temas internos ou para a produção científica e tecnológica, que são de enorme importância. Mas isso não pode excluir o que a universidade já fez com muito mais vigor e que precisa continuar fazendo, que são os debates sobre grandes temas nacionais e internacionais. E a Unicamp vê nessa iniciativa um passo de retorno ao debate de ideias, com a universidade cumprindo seu papel de usina geradora de ideias.” (Luiz Sugimoto)


11

Campinas, 14 a 20 de outubro de 2013

Uma história pouco conhecida Foto: Antoninho Perri

Tese de doutorado sobre Departamento Estadual do Trabalho origina livro CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

Estado liberal se estabelece no Brasil a partir de 1889 com a proclamação daquela que seria chamada Primeira República, que se estende até 1930, quando dá lugar ao governo liderado por Getúlio Vargas. É ainda hoje difundida a tese de que o getulismo inaugurou a intervenção estatal das relações de trabalho assalariado no Brasil com as leis trabalhistas. Entretanto, há décadas diversos pesquisadores vêm chamando a atenção para a existência de importantes precedentes legais e institucionais que relativizam a contraposição entre a República Velha e o Estado varguista. Para o professor do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Alexandre Fortes, “são, contudo, os trabalhos mais recentes, boa parte deles gerados no Programa de PósGraduação em História da Unicamp, que estão lançando as bases para o desenvolvimento de uma abordagem radicalmente distinta no estudo das origens do sistema corporativista de relações do trabalho no Brasil”. É o que se lê nas orelhas do recém-lançado livro de Marcelo Antonio Chaves, que resultou da tese de doutorado orientada pelo professor Fernando Teixeira da Silva, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, sobre a trajetória do Departamento Estadual do Trabalho (DET) de São Paulo, que para Fortes ocupa sem dúvida um lugar de destaque no resgate desse processo. Fortes observa ainda que, entre outras coisas, a obra revela que o DET, criado em 1911, pelo governo do Estado de São Paulo – considerado o pilar da ortodoxia liberal durante a Primeira República – já possuía algumas funções atribuídas posteriormente às Delegacias Regionais do Trabalho, afetas ao Ministério do Trabalho, criado ainda no primeiro ano do novo governo republicano. A publicação foi viabilizada por verba concedida pela Fapesp, também financiadora da pesquisa. O autor conta que o seu interesse em realizar uma pesquisa focada no DET nasceu, em 2001, a partir do seu contato com fontes primárias, da década de 1930, de um sindicato de trabalhadores da primeira fábrica de cimento com produção em grande escala no Brasil, localizada em Perus, na periferia de São Paulo, cuja documentação histórica encontrava-se razoavelmente organizada. Correspondências do sindicato dirigidas a empresas e ao DET despertaram sua atenção para esse órgão que até então desconhecia, mas cuja força de controle ficava evidenciada pelo carimbo nas fichas dos trabalhadores da fábrica. Pensando inicialmente tratar-se de uma repartição ministerial, ele se deu conta da importância do órgão ao deparar com correspondências do sindicato dirigidas ao Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (MTIC) tecendo críticas e fazendo cobranças à atuação do DET em relação ao sindicato. Na expectativa de descobrir a relação desse Departamento com sindicatos mais centrais, como dos gráficos, metalúrgicos, têxteis e outros, procurou o acervo do órgão e se surpreendeu com seu desaparecimento, apesar dos seus 40 anos de existência. Não localizou mais do que alguns boletins por ele produzidos com alguma regularidade. Sua maior surpresa foi, entretanto, perceber o quase completo ostracismo a que fora submetido esse Departamento que atuou no Estado de São Paulo até 1952. Surpresa que aumentava à medida que se ampliava o seu contato com a documentação primária de sindicatos pós 1930. “Foi quando me dei conta do papel-chave desempenhado pelo DET e passei então a pesquisá-lo, depois do mestrado, procurando entender a sua relação com o Ministério do Trabalho”, diz o autor. Uma questão central orientou o pesquisador: como explicar a existência de um organismo estadual voltado para a mediação das relações de trabalho, mesmo após a criação do poderoso Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio? Com efeito, desde a posse do novo governo, no final de 1930, tivera início um processo de centralização dos poderes na esfera federal, que atribuía a essa instância máxima a competência de legislar sobre questões trabalhistas. No entanto, o

DET não fora extinto, como se poderia supor e, ao contrário, se fortaleceu. Para Chaves, a explicação só pode ser delineada com o entendimento do contexto histórico em que se insere São Paulo no conflito federativo. Foi o que moveu o pesquisador. Acredita que o exemplo do DET pode levar a compreender com mais minúcias os padrões de gestão da força de trabalho e da intervenção estatal em um período crucial da política brasileira. A pesquisa baseou-se, principalmente, em análise dos boletins do Departamento e de processo de sindicância de 1933. Buscou também os enfoques de organizações de trabalhadores, de empresários e de outros órgãos governamentais. Inédito, o trabalho procura entender também porque os historiadores brasileiros não se deram conta da importância desse órgão que existiu durante 40 anos (1911-1952). Certamente, a razão maior está no fato de suas documentações nunca terem sido localizadas. O DET foi criado com a atribuição principal de gerenciar todo o fluxo migratório para o Estado de São Paulo. Já existia a Hospedaria dos Imigrantes, que passou a ser subordinada ao Departamento que, por sua vez, se vinculava à Secretaria da Agricultura do Estado. Criado concomitante com o DET, o Patronato Agrícola tinha a função mais específica de intermediar relações de trabalho no campo. O DET gerenciava esse fluxo, alocava os imigrantes nas fazendas com base nas necessidades de força de trabalho dos fazendeiros e também do nascente parque industrial. A província mostrava então a preocupação em consolidar a legislação pertinente à imigração, com vistas às melhoras das condições de trabalho dos imigrantes, porque os governos de países de que eram originários reclamavam dos maus tratos a que estes eram submetidos. A historiografia considera que na Primeira República ocorreu o predomínio do pensamento liberal no Brasil, em que o Estado não se imiscuía na regulamentação da organização social, particularmente, a relacionada ao trabalho. Entretanto, o autor mostra que o DET, curiosamente, tinha um discurso fortemente antiliberal propondo a intervenção nas relações de trabalho, a fim de se evitar no Brasil ocorrências semelhantes às de outros países como greves e revoluções, creditadas às más condições de trabalho. O autor considera que assim o DET ensaia uma intervenção do Estado nas relações de trabalho e se coloca no rastro da formação do ramo do direito de trabalho no Brasil, consolidando progressivamente esse discurso intervencionista e regulamentador. Analisando os boletins trimestrais do DET antes de 1930, Chaves constatou que eram dedicados ao relato das condições de traba-

O historiador Marcelo Antonio Chaves: nuances das relações trabalhistas na primeira metade do século 20

lho, verificadas através de visitas a fábricas, e que descreviam situações, principalmente relacionadas a acidentes de trabalho. Essa atuação é consubstanciada pela promulgação da Lei de Acidentes de Trabalho, editada em 1919, gestada no DET, considerada a primeira lei do trabalho no Brasil. Ele mostra ainda que o órgão serve de modelo para a criação do MTIC no primeiro ano do governo Vargas. Com a centralização do poder no âmbito federal, os Estados perdem a prerrogativa de legislar essas questões. Entretanto, os documentos dos sindicatos paulistas mostram que em São Paulo o DET continua atuante e fortalecido. O cerne do livro é explicar porque o Estado de São Paulo não abdicou da prerrogativa de gerenciar o processo das relações de trabalho. O autor revela a existência de um Convênio entre o governo federal e o Estado de São Paulo, que delega ao DET a responsabilidade de aplicação das leis do trabalho no Estado, fato singular no Brasil. A trajetória do DET revela aspectos interessantes do conflito entre São Paulo e o governo federal no episódio conhecido como Revolução de 1932. Para o autor, mais interessante foi a descoberta de que o DET criou instrumentos reguladores antes do MTIC, como a Carteira Profissional, a lei de oito horas, a intervenção nos sindicatos, antecipando-se à legislação que viria depois. O livro mostra a atuação direta do DET no processo de oficialização dos sindicatos, intervindo, destituindo diretorias, cooptando lideranças operárias no âmbito sindical. A pesquisa revela a estreita relação do DET com a Fiesp e também com o Deops, que gerou ações conjuntas no mapeamento de trabalhadores comunistas, japoneses, alemães e opositores do regime na época que antecedeu a Segunda Guerra. Mostra também como, na década de 30, o DET acaba assumindo funções típicas de Justiça do Trabalho, a que os operários re-

Caminhos difíceis De origem humilde, com parcos recursos, o ex-metalúrgico Marcelo Antonio Chaves, chegou a doutor em história, percorrendo uma trajetória extremamente difícil. Inspetor de qualidade, com o Plano Collor e a chamada reestruturação produtiva, a sua função na indústria entrou em obsolescência quase que abruptamente. Então com 34 anos, não conseguia emprego, pois já era considerado ultrapassado quando comparado à nova geração que chegava às fabricas apta a manusear máquinas operadas eletronicamente. Acabou vítima desse processo que apontava para outro perfil de operário. Com o apoio da esposa e incentivo de amigos, voltou a estudar. Ao ingressar no curso de História da Unicamp aos 37 anos, teve a vida mudada radicalmente. Já com duas filhas, a família mantinha-se com o trabalho da mulher, professora da rede municipal da cidade de São Paulo, e com os bicos que ele fazia na Universidade. Mudou-se então para Várzea Paulista, a meio caminho entre São Paulo e Campinas, e mesmo viajando cerca de cinco a seis horas diárias, conseguiu um dos mais altos coeficientes de rendimento (CR) de sua turma. Credita o feito, e classificação já

na primeira lista do vestibular, à experiência e maturidade adquiridas e ao fato de nunca ter parado de ler, mesmo longe dos estudos regulares por cerca de 12 anos. Acredita que o seu ingresso no mestrado deveu-se à sorte de ter achado a documentação do antigo Sindicato dos Cimenteiros em Perus. Com base nela, fez então um projeto de que os professores gostaram e conseguiu ser admitido também graças ao CR. Acha que, não fossem essas circunstâncias, teria dificuldade em concorrer com colegas com melhor perfil acadêmico porque desde cedo envolvidos com pesquisa e publicações. Com família e duas filhas já moças não dispunha de tempo para tanto. Conseguiu uma bolsa do CNPq e essas circunstâncias o ajudaram muito. Depois desse trabalho e em decorrência dele, ingressou imediatamente no doutorado com bolsa da Fapesp. Lembra com orgulho que enquanto fazia o doutorado suas filhas ingressaram na Unicamp e sua esposa, bióloga, no mestrado em pedagogia na USP. Atualmente reside em São Paulo, onde é funcionário concursado do Arquivo Público do Estado, mas pensa em ingressar na carreira universitária.

corriam para as reclamações trabalhistas, num momento de fechamento político. Ele considera que o Departamento se constituiu fonte material do ramo do direito do trabalho no Brasil.

DESTAQUES

O desenvolvimento do trabalho leva o autor a tecer várias reflexões. Até que ponto o Estado era efetivamente liberal e como deve ser visto esse liberalismo durante a chamada Primeira República? A própria intervenção do Estado, no processo de transferência e alocação da força de trabalho, acabava interferindo na formação do salário, revelando a relação decisiva em benefício dos fazendeiros e industriais. Para ele, os fatos mostram divergências na elite paulista em relação à intervenção do Estado nas relações de trabalho. Ele analisa discurso de um grande cafeicultor e parlamentar que tenta mostrar a seus pares a necessidade de antecipar mudanças sociais para evitar o que ocorria nos países centrais. Mas a interferência nas relações de trabalho não constitui uma ideia hegemônica e gera divisão e conflito no Estado e na burguesia cafeeira. A intervenção proposta pelo DET não estava atrelada a um pensamento revolucionário, mas pretendia atenuar a luta de classes. O pesquisador considera que o DET abrigou funcionários sensíveis à realidade operária e social e que propunham medidas para evitar a rebeldia dos trabalhadores, o que não era bem assimilado pelos governantes, que chegaram a intervir no Departamento, em 1922. Em suma, o autor afirma que até 1930 a atuação do DET está voltada principalmente para regular e disciplinar o fluxo migratório na então província de São Paulo. Com base nos documentos, o autor se permite afirmar que secundariamente ele intervém nas relações de trabalho nesse período, ainda que de forma incipiente. A partir de 1930 o DET vai nitidamente assumindo o papel de órgão de intervenção, de mediação das relações de trabalho e disciplinador da formação dos sindicatos oficiais. Embora inconstitucional, ele resiste ao período do Estado Novo, revelando-se caso único no País e constituindo uma experiência paulista de repercussão nacional.

Serviço Livro: “A trajetória do Departamento Estadual do Trabalho e Mediações das Relações de Trabalho (1911-1937)” Autor: Marcelo Antonio Chaves Editora: Editora LTr


12

Campinas, 14 a 20 de outubro de 2013 Fotos: Clarissa Lambert

Voando com os pés no chão

Rosely Conz no solo de dança contemporânea: a criação como meio e objetivo da pesquisa

PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br

empre esguia, feminina, cor-derosa. A bailarina que aparece nos quadros expostos nas escolas de dança é alguém que muitas vezes não somos nós. Rosely Conz, quando criança, não se reconhecia naquela imagem, embora fosse ela, também, uma bailarina. Com o passar dos anos, os movimentos do balé e até mesmo a ideia do belo, presente nessa dança, foram plenamente assimilados, tanto que seria um desafio se desfazer do padrão. Talvez ela conseguisse, no máximo, negociar. Foi o que Rosely fez. Sua dissertação de mestrado “Resquícios e rosas: as memórias na criação em dança contemporânea” é um caminho de volta. A pesquisadora procurava entender como suas memórias apreendidas no balé influenciavam as dinâmicas de improvisação em dança. Não apenas os movimentos estavam condicionados, mas também as sensações, pensamentos e emoções, quando o que ela precisava, era criar. “Eu percebi que a toda tentativa de criação de algo novo, o corpo respondia de uma forma já conhecida, como se houvesse uma incapacidade de reação diferente. O corpo respondia obedecendo a um condicionamento”. Segundo ela, diversos autores reconhecem a existência de um tipo específico de memória relacionado ao aprendizado em dança. É o que eles chamam de memória implícita, não declarativa ou memória de procedimento e que também pode ser observada no andar de bicicleta, no escrever ou dirigindo um carro. Ou seja, são memórias de movimentos adquiridos de forma gradativa e que, por repetição, são aprendidos e ficam registrados nos nossos sistemas corporais, prontos para entrarem em atividade quando queremos realizar determinada ação. Tornam-se, portanto, as memórias que podemos resgatar e são difíceis de falhar. Diante do desafio, a bailarina decidiu que criaria um solo em dança contemporânea. No processo, ela seria observadora e observada. Foi através da prática que a pesquisa se desdobrou em escrita. “Todos os questionamentos partiram da prática e a criação constituiu, portanto, um dos meios e também os objetivos da pesquisa”, afirma.

Publicação Dissertação: “Resquícios e rosas: as memórias na criação em dança contemporânea” Autora: Rosely Conz Orientadora: Júlia Ziviani Vitiello Unidade: Instituto de Artes (IA)

De acordo com a orientadora do trabalho, Júlia Ziviani Vitiello, o vocabulário corporal apreendido em anos só poderia ser repensado por meio de ações realizadas pelo próprio corpo, da compreensão de como aquele padrão de movimento instaurado poderia ser modificado. A realização do solo foi essencial no desenvolvimento do projeto e a parte central do trabalho. “Somente por meio da experiência e reflexão sobre a pesquisa realizada nos laboratórios de criação foi possível escrever a dissertação. O solo é parte da metodologia e dos objetivos da pesquisa”, diz a docente.

IDEOKINESIS Para compreender as ações do corpo, Rosely utilizou um método somático chamado de Ideokinesis. “Como um dos mais antigos métodos somáticos, que surgiu no início do século 20, este oferece procedimentos claros e flexíveis para que se possa observar o movimento, compreender seu início, percurso e finalização, associando-o a imagens específicas, quase metáforas da ação realizada, e que objetivam facilitar a compreensão e organização da mesma”. De acordo com a pesquisadora, a Ideokinesis representa a possibilidade de mudanças de padrões de movimento e, portanto, de pensamento e comportamento. Os métodos somáticos permitem, segundo seus criadores, a integração de corpo, movimento, mente e sensações. É uma linha de trabalho seguida pela docente Júlia Ziviani Vitiello, com a qual a mestranda teve os primeiros contatos ainda na graduação em Dança, no próprio Instituto de Artes. “Durante a prática da Ideokinesis, a sugestão inicialmente é de não pensar em mais nada e apenas focar a atenção na imagem que está sendo proposta. O praticante precisa aprender a abrir mão do controle consciente, criando espaço para que diferentes respostas de organização dos movimentos possam aparecer a partir da imaginação”, explica Rosely. O solo de dança foi apresentado no dia da defesa. Rosely tentou fazer diferente, questionar. Em vez da verticalidade do balé, a horizontalidade, o chão em vez do alto. Trabalhou a cara feia, as caretas, a voz e a fala. “Como, em geral, não é ensinado, ao bailarino, a falar muito durante as aulas, utilizei a voz como um modo de explorar outras formas de expressão”. Rosely citava trechos de “A descoberta do mundo” de Clarice Lispector. “Busquei a leveza, o humor e a intensidade com que esta importante escritora conta suas lembranças no livro de crônicas”. A bailarina cor-de-rosa foi transfigurada, dela só os resquícios, como diz o título da dissertação.

A transfiguração da bailarina cor-de-rosa

BALÉ A origem na Renascença italiana e a consolidação como espetáculo na França e na Rússia consagraram o balé como uma dança aristocrática. No século XIX, o Romantismo inaugurou um novo estilo e, com ele, o balé de repertório com grandes peças como o “Quebra-Nozes” e “O Lago dos Cisnes”. A autora da pesquisa ressalta que o balé clássico é uma das técnicas mais importantes da dança ocidental, uma maneira eficiente e uma das mais utilizadas na formação de bailarinos. “Entendendo-se os princípios e fundamentos desta técnica e utilizando-a de acordo com o corpo de cada aluno, ela pode ser um instrumento valioso na aquisição de habilidades importantes para dançar”. No balé, quando criança, Rosely tentou corresponder ao modelo proposto. “Decorei movimentos, formas, nomes, posições, enfim, um código inteiro que data do fim do século XVI”. Cercada de espelhos, a pequena bailarina era incentivada a olhar e a julgar o próprio corpo duramente. “Olhando para o espelho, desaprendi a olhar para dentro. Todas as referências passaram a ser externas”, complementa. Os quadros de bailarinas nas paredes são, no ponto de vista da autora, o retrato do modo como o ensino de dança foi pensado. O que remete a uma questão pedagógica. Rosely afirma na dissertação que “havia uma uniformização de técnicas e propostas, que não permitia espaço para a

subjetividade através da observação, pelos professores, de cada corpo singular presente na sala de aula”. Estas premissas foram enfrentadas por meio do suporte oferecido pela experiência da Ideokinesis. “Nesse caso, a melhor forma de ensinar é a que reconhece o corpo e as experiências como individuais”, reitera. No ensino de balé existe, em alguns casos, a utilização de uma metodologia antiquada, “em que professor e aluno dificilmente se encontram em relação de compartilhamento”. Assim a autora defende a abordagem da troca de experiências entre professor e aluno, uma quebra na hierarquia em favor do desenvolvimento do aluno através da criação de um diálogo. Rosely ressalta que, especialmente na universidade, esta reflexão se faz constante e a abordagem somática também está presente nas salas de aulas de muitos professores do curso de dança da Unicamp. A autora aposta que os métodos abordados na pesquisa podem contribuir para a disseminação de maneiras diferentes de prática e ensino da dança. Falando diretamente ao leitor da dissertação e aos professores de dança e coreógrafos, diz ela: “Que sejamos os responsáveis por dar corpo e voz às flores que surgirem em nossas mãos, proporcionando um ensino que instrumentalize, seja criativo e potencialize as habilidades individuais. Que alimentemos sonhos criando raízes para que os futuros artistas da dança sejam capazes de, com os pés firmes no chão, voar”.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.