Foto: Felipe Amorim
As ‘jardineiras’ que salvam espécies
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Pesquisa desenvolvida por Felipe Amorim, do Instituto de Biologia, revela a dependência entre os diferentes ambientes de vegetação e clima na Serra do Mar, onde mariposas realizam trabalho de “jardineiras”, ajudando a semear, por meio da polinização (foto), plantas que adquiriram, ao longo da evolução, uma dependência em relação a esses insetos em seu processo de reprodução.
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Campinas, 24 a 30 de junho de 2013 - ANO XXVII - Nº 566 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
IMPRESSO ESPECIAL
9.91.22.9744-6-DR/SPI Unicamp/DGA
CORREIOS
FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Fotos: Antonio Scarpinetti
Sentidos do mundo real 6 e7
Projeto de extensão, concebido por pesquisadores do Laboratório de Estudos Urbanos (Labeurb), promove oficinas de fotografia, informática e contação de histórias, entre outras iniciativas com foco em atividades educacionais, para a comunidade do Núcleo Residencial Eldorado dos Carajás, na periferia de Campinas.
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Artistas ficam a reboque das regras do mercado
Ana Luisa Zanardo Cassiano, frequentadora das oficinas, em rua do Núcleo Eldorado dos Carajás: bairro não tem asfalto e coleta regular de lixo
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Tubulação é monitorada em poços de petróleo Para que o chocolate ao leite não fique branco
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Etanol no diesel barateia custo da cana-de-açúcar Os fósseis de árvores de 270 milhões de anos
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Campinas, 24 a 30 de junho de 2013
SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br
engenheiro de computação da Unicamp Rafael Guimarães Ramos desenvolveu um simulador que pode auxiliar no aperfeiçoamento dos risers, nome técnico dado a tubulações empregadas para a extração de petróleo. Estes equipamentos fazem a ligação entre os poços de petróleo, no fundo do mar, e as plataformas ou navios, na superfície. Os risers também são utilizados para o transporte de gás natural. A investigação combinou recursos de computação gráfica e técnicas de simulação para avaliar, em ambiente de laboratório, o comportamento destas tubulações. A ferramenta é constituída por um software que oferece um ambiente virtual tridimensional. O simulador permite prever, em tempo real, os possíveis riscos sofridos pelos risers devido aos efeitos do ambiente. Rafael Ramos explica que, além do desgaste natural, as tubulações sofrem com forças de correnteza, ondas marítimas e diferença de pressão entre a água do mar e o fluido interno. Há também o próprio movimento induzido no topo do equipamento pela plataforma de petróleo. Os riscos aumentam, conforme o estudioso, porque os risers atingem, muitas vezes, profundidades de mais de mil metros. “Esses tubos sofrem muitos esforços e isso pode levar a danos e ruptura no material. Pode ocorrer, por exemplo, um desastre ambiental, além da perda de recursos econômicos e humanos investidos numa operação do porte como é a de extração de petróleo e gás”, dimensiona o pesquisador da Unicamp. Ramos informa que, em geral, o uso de um simulador é importante para prever possíveis falhas no projeto de construção do riser. Outra situação seria auxiliar no diagnóstico de eventuais problemas desses equipamentos durante uma operação de extração de petróleo. O trabalho de Rafael Ramos integrou dissertação de mestrado defendida recentemente junto ao programa de Pós-Graduação da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp. O orientador do mestrado, José Mario De Martino, conta que a investigação envolveu a parceria da Petrobras, além de outras unidades e centros de pesquisa da Unicamp, como as faculdades de Engenharia Mecânica (FEM); Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC), e o Centro de Estudos de Petróleo (Cepetro). O trabalho obteve financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). “A pesquisa foi desenvolvida no contexto da visualização científica, campo de estudo no qual estamos trabalhando aqui na Universidade. Constitui-se na interpretação de volumes de dados científicos de modo a produzir imagens, muitas vezes com apelo realístico, para possibilitar um melhor entendimento do problema em questão”, situa o orientador. A visualização científica, acrescenta o docente, permite que os dados da simulação possam ser representados de modo mais intuitivo ao usuário. Este é um dos diferenciais do trabalho em relação às ferramentas convencionais, aponta. “As simulações normalmente produzem muitos dados numéricos, o que dificulta a análise mais intuitiva. A diferença é que, pelo ambiente de visualização proposto por nós, é possível perceber e anali-
Simulador analisa funcionamento de
tubulação
de poços de petróleo Fotos: Antonio Scarpinetti
Ferramenta monitora equipamento em tempo real, prevendo possíveis riscos sar de modo mais rápido e fácil o comportamento de um riser”, especifica o engenheiro da computação. Ainda de acordo com ele, a interatividade do sistema é outra vantagem. “Percebemos que é importante neste tipo de ambiente o fato de o usuário conseguir mudar, por exemplo, os diversos parâmetros da simulação, como a força da correnteza, a profundidade e a resistência do material do tubo. Assim, ele pode analisar como este comportamento se verifica. Nas ferramentas convencionais existentes é possível fazer isso, mas a interação é um pouco limitada”, avalia. No simulador proposto, a interação é mais fluida por conta da simultaneidade do processo, considera Rafael Ramos. “Nos sistemas relatados na literatura toda a vez que o usuário muda os parâmetros, é preciso parar a visualização e reiniciar toda a simulação. E somente depois de um tempo, necessário ao processamento dos dados, é que os resultados estão prontos e a visualização é gerada. No nosso sistema a simulação e a visualização ocorrem simultaneamente”, garante. Estas características tornam o simulador desenvolvido na Unicamp capaz de ser empregado num riser em operação, sinaliza José Mario De Martino, que atua em diversas pesquisas na área de computação gráfica. O orientador esclarece que seria necessária a utilização de sensores específicos para tal situação. “Desenvolvemos uma ferramenta para análise de projeto, mas nada impede que ela possa ser utilizada durante a extração de petróleo. Neste caso, com a instalação de sensores apropriados, o objetivo seria prevenir O professor José Mario De Martino, orientador do trabalho: parcerias viabilizaram investigação
O engenheiro Rafael Guimarães Ramos: software com ambiente virtual tridimensional
possíveis rupturas ou problemas no riser. No momento, o ambiente foi projetado apenas para fazer simulações”, delimita.
VISUALIZAÇÃO
O simulador reproduz, visualmente, o riser em seu cenário de operação. O tubo, o mar e a embarcação são representados com o auxílio de técnicas de computação gráfica tridimensionais, também empregadas para as correntezas, forças e outras pressões sobre o riser. Estes efeitos do ambiente são visualizados por meio de setas ou cores no ambiente virtual. “Os parâmetros da simulação e ajustes no sistema podem ser alterados através de um painel de controle visualizado à direta da tela. Além de desenvolver o ambiente de simulação e visualização, realizamos avaliações de desempenho e usabilidade do sistema. Neste último caso, conduzimos testes com voluntários”, conta Rafael Ramos. Os testes foram realizados por nove usuários com experiência em risers. A opinião da maioria dos voluntários atestou a boa qualidade do ambiente desenvolvido. A avaliação indicou, no entanto, que melhorias futuras podem aprimorar o simulador. Uma delas seria aumentar o número de elementos do modelo matemático, para conferir mais precisão à simulação. “O sistema suporta interação em tempo real com uma taxa de animação de 30 quadros por segundo para até 170 elementos. Conforme as avaliações realizadas pelos usuários, seria importante aumentar o número destes elementos para chegar a uma simulação de alta precisão. Para isso, precisamos promover otimizações visando melhorias na performance do sistema”, reconhece o engenheiro da computação.
LABORATÓRIO
No futuro, as pesquisas no campo da visualização científica devem ganhar novo fôlego com a conclusão das obras de um
novo laboratório na Unicamp, revela o docente da FEEC. Conforme José Mario De Martino, o complexo de pesquisa será voltado à computação de alto desempenho e ambiente 3D de visualização científica para a produção de petróleo. O objetivo do projeto, financiado pela Petrobras, é prover infraestrutura para pesquisa e desenvolvimento de soluções voltadas aos problemas relacionados à exploração de petróleo e gás. Participam da iniciativa, docentes da engenharia mecânica, engenharia civil, arquitetura e urbanismo e engenharia elétrica e de computação. O prédio deverá ser construído nas proximidades da avenida Antônio da Costa Santos, no campus da Unicamp em Barão Geraldo, Campinas.
Publicações RAMOS, R. G.; DE MARTINO, J. M.. Ambiente Interativo em Tempo Real para Visualização de Risers Rígidos. In: Quinto Encontro dos Alunos e Docentes do Departamento de Engenharia de Computação e Automação Industrial - EADCA 2012, 2012, Campinas. Anais do Quinto Encontro dos Alunos e Docentes do Departamento de Engenharia de Computação e Automação Industrial - EADCA 2012, 2012. p. 86-89.
Dissertação: “Ambiente virtual de simulação e visualização do comportamento de risers” Autor: Rafael Guimarães Ramos Orientador: José Mario De Martino Unidade: Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) Financiamento: CNPq
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Campinas, 24 a 30 de junho de 2013
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Mariposa ajuda a preservar espécies da Serra do Mar “Jardineiros da floresta” polinizam plantas que dependem desse trabalho para se reproduzir
Entenda a ação das polinizadoras Fotos: Divulgação
ALESSANDRO SILVA alessandro.silva@reitoria.unicamp.br
eu nome comum é mariposa. Também a chamam de “bruxa”. Crianças, com medo, fogem dela. Existem muitos tipos desse inseto, pequenos e grandes, mas apenas sua estranha aparência costuma ser observada. Poucos sabem que a mariposa é uma das “engrenagens” de uma complexa “máquina” da natureza capaz de produzir a vida ou a extinção nas florestas. De flor em flor para consumir o néctar que as atrai, elas levam grãos minúsculos de um pó chamado “pólen”, onde estão as células sexuais masculinas, para o órgão feminino das flores que visitam. Do sucesso dessa polinização, quando ocorre a fecundação, nascem os frutos e as sementes, o que assegura o futuro da espécie. Mas elas próprias, as mariposas, dependem de outras plantas, cujas folhas alimentam suas lagartas até a fase adulta, quando então passam a dedicar-se à tarefa de espalhar a vida pela floresta. Tire uma peça dessa “máquina” e comprometerá um ciclo de vida. Esse é o cenário do estudo de doutorado do biólogo Felipe Amorim, realizado no Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, sob a orientação da professora Marlies Sazima, e que chegou a uma constatação inédita sobre polinização por mariposas na Serra do Mar: elas se deslocam pelas distintas áreas de vegetação da Mata Atlântica, saindo de áreas de restinga e de floresta de terras baixas (próximas do nível do mar) para o alto da serra na floresta montana (acima de 800 metros de altitude), onde existem espécies de plantas que dependem exclusivamente do serviço desses insetos para a reprodução. “Ou seja, é necessário que haja conectividade entre as diferentes fisionomias florestais que formam a Mata Atlântica para possibilitar o deslocamento de polinizadores, e consequentemente, a reprodução de espécies de plantas altamente especializadas. Nesse sentido, a fragmentação florestal ocasiona, não apenas a perda de espécies de maneira isolada, mas a perda de interações ecológicas importantes”, explica. É uma constatação importante no atual contexto da Serra do Mar e da vegetação de Mata Atlântica, que já cobriu, no passado, toda a costa brasileira e parte do interior do país. Hoje, restam menos de 8% desse tipo de vegetação em “fragmentos” que, em sua maioria, não são superiores a 100 hectares – imagine um quadrado com 1 km em cada lado –, distribuídos com pouca ou nenhuma conexão entre eles pelo Brasil. “Esses animais dependem de áreas contínuas de floresta para a manutenção de interações biológicas importantes”, explica o biólogo. O trabalho foi desenvolvido na maior área contínua de Mata Atlântica ainda preservada no Brasil, o Parque Estadual de Serra do Mar (SP), que tem 315 mil hectares e se estende desde a divisa do Estado de São Paulo com o Rio de Janeiro até Itariri, perto do Paraná. A mesma constatação obtida com os estudos sobre as mariposas, segundo o pesquisador, possivelmente pode ser ampliada para outros grupos de polinizadores da natureza, como beija-flores, morcegos e abelhas, por exemplo.
PESQUISA
O objetivo do trabalho era entender como as plantas se reproduzem na região mais elevada da Serra do Mar, particularmente as plantas que dependem da ação de mariposas no processo de polinização, ou seja, que abrem suas flores, em geral à noite, exalam um odor adocicado e produzem um líquido, o néctar, para despertar a atenção desse tipo de visitante floral. De fato, os insetos atraídos colaboram porque, ao visitarem as flores para se alimentarem do néctar, tocam os Foto: Antoninho Perri
O biólogo Felipe Amorim, autor da tese: cerca de 600 mariposas foram capturadas para análise
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1) Orquídea Paulistana (Habenaria paulistana), uma espécie descoberta há pouco mais de sete anos e que só existe na Mata Atlântica de São Paulo, cuja polinização depende exclusivamente da ação de mariposas com “línguas” muito alongadas; 2) O tubo floral da Orquídea Paulistana é superior a 12 centímetros, mas a pesquisa encontrou, ao longo de dois anos, um número reduzido de mariposas com línguas longas o suficiente para alcançar o néctar da orquídea e polinizar essa espécie; 3) Uma mariposa com sua longa língua (probóscide) estendida visitando a flor de uma espécie de ingá (Inga Sessilis) estudada na Serra do Mar.
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órgãos reprodutores e, consequentemente, transportam pólen dos órgãos masculinos para os femininos das plantas, o que dará origem ao fruto. Mas por que isso é importante? De forma resumida, outro animal – geralmente espécies de aves ou de mamíferos – come o fruto e carrega as sementes para outros cantos da floresta, permitindo que as sementes caiam cheguem ao solo e que nasça uma nova planta. O estudo para a tese de doutorado apresentada na Unicamp foi realizado em um dos projetos temáticos (Gradiente Funcional) do Programa Biota/Fapesp, coordenado pelos professores Carlos Joly (Unicamp) e Luiz Martinelli (Universidade de São Paulo) e que articula diversos tipos de trabalhos em diferentes universidades, como a Unicamp. “A Mata Atlântica é um dos biomas mais ricos, diversos e ameaçados do planeta”, escreveu o pesquisador. De 2008 a 2012, o biólogo Felipe Amorim percorreu uma área de cerca de 60 km de floresta (montana) no Núcleo Santa Virgínia do Parque Estadual da Serra do Mar, localizado entre as cidades de São Luiz do Paraitinga e Ubatuba, no litoral de São Paulo, onde identificou 24 espécies de plantas associadas à polinização por mariposas, especialmente pela dimensão alongada do tubo floral (veja foto nesta página), e estudou cerca de 50 espécies de uma família de mariposas chamada “Sphingidae”, um grupo de invertebrados que no mundo reúne cerca de 1.400 espécies diferentes. Essas mariposas, também chamadas de “esfingídeos”, possuem aparelhos bucais longos, conhecidas como “língua” ou “probóscide”, que servem para buscar o néctar dos tubos florais. Quase 600 mariposas foram capturadas para análise em um trabalho que tinha que ser realizado particularmente à noite, com o apoio de lanternas especialmente preparadas para não afastar os polinizadores e até com o emprego de óculos de visão noturna. Para se ter uma ideia das dificuldades, determinada espécie de orquídea foi observada por 110 horas durante a noite (o equivalente a quatro dias e meio) para que fossem registrados apenas três contatos com os insetos polinizadores estudados. A confirmação de que as mariposas migram entre os diferentes tipos de vegetações da Serra do Mar aconteceu a partir de pistas deixadas pelas flores. Ao se alimentarem do néctar, passando de flor em flor, elas vão se “sujando” com o pólen de várias espécies de plantas. Segundo o biólogo, foram encontrados polinizadores na parte mais elevada da Mata Atlântica (floresta montana) carregando pólen de uma planta que somente existe na vegetação de restinga, localizada próxima ao nível do mar, distante dali. Para o biólogo, as mariposas migram dentro da floresta principalmente para se reproduzirem e, como precisam recuperar a energia gasta com esse deslocamento, dependem do alimento, no caso o néctar, fornecido pelas flores. Enquanto se alimentam, realizam serviços de polinização, que são de grande importância para a reprodução das plantas nesse ambiente. Para saber mais sobre o Biota/Fapesp, veja: www.biota.org.br .
Forma de orquídea levou Darwin a predizer espécie Na segunda metade do século XIX, o naturalista britânico Charles Darwin (1809-1882), ao observar o tubo floral extremamente longo (cerca de 30 centímetros) de uma espécie de orquídea de Madagascar, predisse a existência de uma mariposa com uma “língua” (probóscide) longa o suficiente para alcançar o néctar escondido na flor dessa planta. O próprio Darwin escreveu em seus relatos que teria sido ridicularizado pela previsão. De fato, a “Mariposa de Darwin” só foi descoberta 41 anos mais tarde, no começo do século XX, e a nova espécie de mariposa de “língua longa” recebeu o nome de “Xanthopan morgani praedicta”, exatamente por sua existência ter sido predita. Pelo mesmo princípio, já era esperada a ocorrência de mariposas com línguas muito longas na Serra do Mar de São Paulo, encontradas em uma proporção muito reduzida na pesquisa de Felipe Amorim, capazes de polinizar a “Orquídea Paulistana” (Habenaria paulistana) – presente apenas nessa região do país e que depende de polinizadores especiais em razão do tamanho de seu tubo floral (podendo alcançar até 16 centímetros). Segundo Amorim, menos de 10% das espécies de esfingídeos coletas em sua área de estudos na Serra do Mar tinham probóscide (“língua”) com medidas superiores a 5 centímetros, insuficientes para alcançar o néctar desse tipo de orquídea.
Publicação Tese: “A flora esfingófila de uma floresta ombrófila densa montana no sudeste brasileiro e relações mutualísticas com a fauna de Sphingidae” Autor: Felipe Wanderley Amorim Orientadora: Marlies Sazima Unidade: Instituto de Biologia (IB) Financiamento: Fapesp
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Campinas, 24 a 30 de junho de 2013
Mistura em diesel reduz
custo de produção da cana Engenheiro mecânico obtém bons resultados ao adicionar etanol anidro ao combustível Fotos: Antoninho Perri
CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br
diesel comercializado no Brasil, e utilizado em motores de ignição por compressão, resulta de uma mistura que contém 95% de óleo diesel e 5% de biodiesel, constituídos estes respectiva e essencialmente por misturas de hidrocarbonetos e ésteres. Os motores de ciclo diesel comercial são comumente utilizados em caminhões, máquinas e equipamentos agrícolas. É o que acontece em toda a cadeia de produção de cana-de-açúcar, em que o consumo maior do combustível se dá no processo de colheita e no transporte da cana do campo para a usina. Com o objetivo de reduzir o custo do combustível utilizado nessa cadeia produtiva, o engenheiro mecânico Ricardo Roquetto Moretti pesquisou a possibilidade de adicionar etanol anidro à mistura de diesel disponibilizado no mercado de forma a, utilizando os mesmos motores de compressão, manter-lhes consumo, rendimento e torque. Ele conseguiu o intento a partir de uma mistura do diesel constituída de 3% de álcool anidro e 97% do diesel comercializado. Na verdade, a composição da mistura resultante passou a ter 92,15% de óleo diesel, 4,85% de biodiesel e 3% de etanol anidro. A economia estimada, em torno de 1,5% a 2,0% do custo, passa a ser significativa quando considerado o volume de combustível envolvido, diz o pesquisador, que se prepara para estudar, em nível de doutorado, as implicações da utilização da mistura, ao longo do tempo, no desgaste dos motores convencionais. O pesquisador explica que a primeira parte do trabalho envolveu os testes de miscibilidade do álcool no diesel, em uma determinada gama de temperaturas, face à baixa proporcionalidade de mistura entre eles devido às diferenças estruturais das moléculas dos compostos envolvidos. A segunda preocupação foi garantir que a nova mistura mantivesse a mesma capacidade de explosão do combustível original, determinada através do índice de cetano, que é regulado por normas legais estabelecidas, a exemplo do que acontece com o índice de octanagem exigido na gasolina. A verificação tem pertinência porque o etanol altera o comportamento do diesel por não se tratar de combustível destinado a motores que utilizam vela de ignição, situação diversa da que ocorre no motor diesel, de ignição por compressão. Portanto, os testes de cetanagem visam garantir uma mistura que esteja de acordo com a norma brasileira. Os testes de bancada foram realizados em um motor mecânico típico e grande, com 136 cavalos de potência, de emprego generalizado em caminhões, máquinas e equipamentos em usinas de açúcar e álcool. Os resultados obtidos mostraram que o consumo da mistura se manteve equivalente ao diesel disponível no mercado, mantidos torque e potência do motor, sem necessidade de alterações em sua arquitetura. A mistura mostrou-se efetivamente mais volátil que o diesel e, portanto, mais inflamável que ele, o que exige no manuseio os mesmos cuidados dispensados ao álcool. O professor Waldir Antonio Bizzo, orientador do trabalho, esclarece que o próximo passo envolve testes de campo que possam apontar níveis de desgastes, períodos de manutenção e durabilidade do motor quando submetido em longo prazo ao uso da nova mistura. Trata-se de uma nova etapa da pesquisa que tem custos e demanda tempo. Se os resultados forem favoráveis, acrescenta ele, “a mistura proposta pode vir a se tornar padrão, referendado pela Agência Nacional do Petróleo, desde que a conjugação de outros fatores, como a relação de preços entre álcool e diesel, a viabilizem”.
MOTIVAÇÕES
Ricardo Moretti conta que, já atuando como engenheiro mecânico em uma empresa privada, procurou a Unicamp para o curso de mestrado com a preocupação de aprimorar seu conhecimento teórico, o que considerava importante para seu desenvolvimento técnico. Preocupou-se também em realizar um estudo que envolvesse aplicação em sua área de atuação e que lhe permitisse simultaneamente aprender e desenvolver os elementos que caracterizam uma pesquisa básica.
O professor Waldir Antonio Bizzo (à esq.), orientador, e Ricardo Roquetto Moretti, autor da dissertação: economia significativa
Caminhão e máquina agrícola em canavial: consumo maior de combustível se dá no transporte e no processo de colheita
Ao procurar o professor Bizzo, com quem pretendia realizar a pós-graduação, recebeu orientação sobre as disciplinas que deveria inicialmente cursar como aluno especial, que exigiria inicialmente sua presença na Universidade apenas para as aulas. Esse recurso possibilita que profissionais ligados à indústria possam realizar pós-graduação com mais liberdade e em tempo maior, do que o convencionalmente estabelecido para alunos que recebem bolsa de agências de fomento à pesquisa, e sem prejuízos de suas atividades profissionais. Iniciou então as disciplinas do mestrado em 2008, interrompeu-as em 2009 para trabalhar no interior da floresta amazônica, e retomou-as em 2010, dando sequência à pesquisa em que aliava os interesses acadêmicos aos da nova empresa em que estava trabalhando, fato que seu orientador considera comum em quem está na área de engenharia. O docente esclarece que, quando procurado por profissionais interessados na pós-graduação, sugere um tema que seja de interesse da indústria, mesmo porque os engenheiros se destinam a ela. Por essa razão, afirma, “temos que ter compromisso aqui na Universidade com o desenvolvimento de tecnologias, porque se a indústria não tiver interesse na pesquisa, ela se constituirá no maior obstáculo ao envolvimento acadêmico do seu colaborador. Neste caso, a agenda é determinada pelo chefe, pelo diretor”. Com efeito, Moretti é desde 2002 o primeiro aluno especial orientado pelo professor a concluir a dissertação. Há dez anos ele tenta conseguir que alunos especiais cheguem ao final do trabalho, mas a própria indústria em que esses profissionais atuam revela-se o maior obstáculo. As desistências ocorrem ou porque durante a pesquisa muda a chefia, ou o foco da indústria, ou o local de trabalho, ou o emprego, entre outras razões. Ele constata que a velocidade com que se alteram as necessidades da indústria é muito maior do que o tempo exigido na pesquisa e no desenvolvimento praticados na academia.
UNIVERSIDADE &
INDÚSTRIA
Quanto à inovação e desenvolvimento, o professor Bizzo tem sérias criticas à postura adotada pela indústria brasileira. Para ele, a indústria nacional não possui tradição em pesquisa e seus capitães não têm consciência da contribuição que a universidade pode oferecer-lhes. Mesmo os poucos segmentos industriais que alardeiam a manutenção de pessoal de P&D raramente os praticam, e o que possuem de fato são eficientes departamentos de engenharia. “A maioria das indústrias nacionais nem engenharia boa pratica, pois se atém aos problemas do dia a dia. A indústria nacional não passa de reprodutora de processos. É a minha visão e constitui uma crítica generalizada”, afirma. O docente lembra que pesquisa e desenvolvimento são de fato realizados por multinacionais em suas respectivas matrizes, embora reconheça que elas já comecem a sediar alguma coisa no Brasil. Para Bizzo, o desenvolvimento de produtos e processos deve ser atribuição da indústria, a quem está afeita a produção, que pode e deve contar com a cooperação da Universidade. É o que ocorre nos países de tradição industrial nos quais em torno de 90% das pesquisas e
desenvolvimentos se realizam nas próprias indústrias. Muito poucas empresas brasileiras fazem isso. Defende que as empresas mantenham departamentos de P&D e contratem doutores para que se capacitem a resultados eficazes. Lembra que o ex-reitor da Unicamp e atual diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), professor Carlos Henrique de Brito Cruz, em relação à politica de inovação tecnológica, defende que cabe ao Estado criar condições adequadas para que a inovação se torne possível, intensificando, entre outras medidas, o financiamento da pesquisa. Para ele, é à empresa, lugar privilegiado de inovação, que cabe o desafio de envolver-se decisivamente com as atividades de pesquisa e desenvolvimento. A universidade deve servir de elemento de apoio a essas atividades.
ORIGENS
O engenheiro mecânico Ricardo Moretti trabalha no departamento de Tecnologia da Raízen Energia S.A., uma joint venture envolvida com produção de etanol e açúcar, distribuição de combustível e cogeração de energia. O grupo tem interesse em um balizamento sobre a possibilidade de juntar ao diesel o próprio álcool anidro que produz, com vistas à redução dos custos de produção do setor sucroalcooleiro brasileiro, tornando-o mais competitivo e menos dependente do diesel utilizado na manutenção de sua frota. A possibilidade de adoção dessa nova mistura passa a existir desde que o álcool anidro seja ofertado com preço menor do que o diesel. As expectativas do orientador e do pesquisador – que já esta cursando disciplinas com vistas a um doutorado – são de que o trabalho tenha continuidade. Eles consideram que o estudo se desenvolveu uniformemente do começo ao fim, atingiu seus objetivos e seguiu uma metodologia científica, circunstância que o professor Bisso julga importante porque, para ele, as empresas em geral não dão sequência às suas pesquisas por falta de metodologia. Moretti acrescenta otimista: “Minha empresa soube esperar o tempo necessário ao desenvolvimento acadêmico do trabalho, que espero tenha surtido o efeito por ela desejado, tanto que estou aqui me preparando para o doutorado”. Para ele, a experiência foi altamente positiva em termos do conhecimento adquirido e por ter conseguido chegar ao final da pesquisa com método desenvolvido e análises realizadas. Credita o sucesso ao seu orientador que antes da carreira acadêmica teve experiências na indústria, o que o credencia a um entendimento maior da realidade vivida pelas empresas.
Publicação Dissertação: “Mistura diesel, biodiesel e etanol anidro, uma possibilidade para reduzir o custo da cadeia de produção da cana-de-açúcar” Autor: Ricardo Roquetto Moretti Orientador: Waldir Antonio Bizzo Unidade: Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM)
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Campinas, 24 a 30 de junho de 2013
Pesquisa identifica diversidade de árvores presentes há 270 milhões de anos no atual Estado de SP MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br
á 270 milhões de anos, quando os continentes sul-americano e africano ainda estavam conectados, no contexto do supercontinente denominado Gondwana, no período geológico designado de Permiano, a vegetação presente no atual Estado de São Paulo era constituída por uma significativa variedade de coníferas, árvores que são as ancestrais dos atuais pinheiros, araucárias e sequóias. Entre estas, havia tanto espécies decíduas [que perdem as folhas numa dada época do ano] quanto perenes [que conservam as folhas]. As conclusões fazem parte da tese de doutoramento do biólogo Rafael Souza de Faria, defendida no Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, sob a orientação da professora Frésia Soledad Ricardi Torres Branco. A pesquisa realizada por Faria está ligada à Paleobotânica, subárea da Paleontologia que lida com fósseis de plantas. Na investigação em questão, o pesquisador utilizou lenhos petrificados [tecnicamente chamados de permineralizados] coletados em sete localidades do Estado: Piracicaba, Saltinho, Rio Claro, Santa Rosa de Viterbo, Angatuba, Conchas e Laras. Lenho é o tecido que sustenta a planta. De acordo com o autor da tese, ele promoveu inicialmente um estudo botânico clássico, que compreendeu a identificação das espécies e da consequente diversidade de árvores que compunham a floresta que existiu no local. Faria analisou a anatomia vegetal das madeiras fossilizadas em busca de informações que pudessem lhe indicar a que espécies elas pertenciam. A despeito do ferramental tecnológico disponível no IG, o pesquisador conta que enfrentou dificuldades para conseguir visualizar as células dos fósseis, por meio do corte e polimento das amostras. “Nós levamos os materiais até algumas marmorarias de Campinas, mas elas se recusaram a cortá-los porque o trabalho poderia danificar as lâminas das serras. Apenas uma delas concordou em fazer, mas exigiu que levássemos pedaços menores. A saída foi comprar uma serra, que tem uma lâmina de um metro de diâmetro, para fazer o trabalho preliminar”, relata. O desafio seguinte foi colocar o equipamento em operação, o que levou aproximadamente um ano. “Como a Unicamp é muito criteriosa com a questão da segurança, nós tivemos que cumprir uma série de exigências. Isso foi necessário porque os fósseis são compostos basicamente de sílica. Ao cortá-los, podemos gerar estilhaços, que representam um risco ao operador”, assinala. Superada essa etapa, Faria analisou as seções polidas em um estereomicroscópio. As peças eram molhadas com água, para criar uma espécie de contraste que facilitava a observação das células. Como em algumas amostras essas células não estavam bem preservadas, o que é compreensível, pois somam cerca de 270 milhões de anos, o pesquisador teve que recorrer também à técnica da microscopia eletrônica de varredura para estudá-las. “Essas células
Muito antes dos
dinossauros têm a forma de tubos, cuja função é levar a água das raízes até as folhas. São as características anatômicas destas células, os traqueídes, que fornecem as principais informações para a identificação das espécies”, explica o autor da tese. Durante a tarefa, Faria fez uma descoberta inédita no Brasil: ele identificou a presença de fungos fossilizados junto da madeira de um dos fósseis. “Inicialmente, eu pensei que se tratava de sujeira. Entretanto, a mãe da minha orientadora, que é professora aposentada da área de anatomia vegetal, me alertou para a possibilidade de serem fungos. Isso ficou comprovado depois que enviei as imagens para uma especialista do Instituto Botânico, em São Paulo”, recorda. Segundo o biólogo, não foi possível identificar as espécies dos micro-organismos, pois eles estavam muito deteriorados. Todavia, continua o autor da tese, a presença dos fungos na madeira é um indicador de que o período Permiano pode não ter oferecido boas condições ao desenvolvimento das coníferas. “A presença de fungos em madeiras fósseis é rara, mas, nos casos em que isso é observado, em geral se aventa a hipótese de um colapso dos ecossistemas”, esclarece. Faria também investigou os anéis de crescimento das árvores. Cada anel representa normalmente um ano na vida da planta. Além disso, os anéis apresentam duas regiões distintas, uma relacionada ao crescimento durante a primavera-verão e outra, ao longo do outono. No inverno, as plantas param de crescer. Os anéis, informa Faria, podem ser estreitos ou largos. “O anel estreito fornece indícios de que a planta contou com poucos recursos para crescer. Já o anel mais largo indica o oposto: que os recursos necessários ao desenvolvimento foram favoráveis. Como há outras características anatômicas nos lenhos que apontam déficit hídrico, a hipótese que levantamos é de que os anéis estreitos estão ligados principalmente à ocorrência de seca”, pormenoriza. Também a partir da análise dos anéis de crescimento, o biólogo procedeu a uma investigação sobre a fenologia foliar das plantas, que vem a ser, em linguagem simplificada, o tempo de duração das folhas. “A partir dos anéis de crescimento, eu tenho como inferir se as folhas dessas árvores que foram fossilizadas eram decíduas ou perenes. Essa dedução é feita através de um método que tem como princípio a medição do diâmetro de cada célula. Feita a medição, o passo seguinte foi construir curvas que permitem o cálculo de determinados parâmetros dos anéis. Assim, quanto mais marcado o lenho, maior a tendência de que as folhas tenham permanecido pouco tempo na árvore”, detalha. Comparando esses parâmetros obtidos dos fósseis ao das árvores atuais, Faria também teve como inferir sobre quanto tempo as folhas duravam nas árvores. O biólogo verificou que uma das amostras possuía anéis que se assemelhavam aos dos atuais Pinus, cujas folhas duram três anos. Outra amostra tinha anéis próximos aos de Araucaria, que tem folhas perenes. “Ou seja, chegamos à conclusão que essa floresta pretérita tinha uma ve-
Foto: Divulgação
Lenhos petrificados usados no estudo foram coletados em sete localidades do Estado de São Paulo
getação composta tanto por plantas decíduas quanto perenes”, resume o pesquisador. Conforme Faria, com base nos dados colhidos, foi possível analisar, ainda, como se caracterizava parte da vegetação presente na Bacia Sedimentar do Paraná, durante o tempo da deposição das formações Irati e Teresina, há 270 milhões de anos, quando os dinossauros sequer existiam. “A fenologia foliar das coníferas retratadas pelos lenhos descritos aponta que a Formação Irati possuía uma comunidade vegetal majoritariamente composta de coníferas perenes, mas com alguns elementos decíduos, enquanto na Formação Teresina os dados sugerem uma comunidade quase estritamente composta de árvores perenes, com menos elementos decíduos”.
PERÍODO PERMIANO
Segundo a professora Frésia Soledad Ricardi Torres Branco, o Permiano é um período interessante porque testemunhou, entre outros acontecimentos, a diversificação dos amniotas [vertebrados] basais e até de grupos ancestrais dos mamíferos, tartarugas, lepidossauros e arcossauros. “No final do Permiano, ocorreu uma extinção em massa, que aniquilou cerca de 90% dos seres vivos do planeta. Depois de algum tempo, os ecossistemas se recobraram. Essa extinção foi importante porque, sem ela, nós humanos não estaríamos aqui”, comenta. Os estudos paleobotânicos, prossegue a docente do IG, são importantes não somente para reconstruir o cenário das formações vegetais pretéritas, mas também para resgatar informações, por exemplo, sobre o clima e
a característica do continente há milhões de anos. “Ao observarmos a presença de espécies de plantas na Bacia do Paraná correlatas às da Bacia do Karoo, na África do Sul, nós corroboramos com a tese de que muitas das espécies estudadas tinham uma enorme distribuição pelo Gondwana”, diz. Ainda que fora do escopo da sua tese de doutoramento, Faria estudou recentemente um grupo de algas carófitas, igualmente fossilizadas, que viviam em água doce, também no período Permiano. Esses organismos são importantes porque são considerados os precursores das plantas terrestres. As amostras foram coletadas no Estado do Paraná. O trabalho resultou em artigo publicado no periódico científico inglês Paleontology. Para a elaboração da tese de doutorado, o pesquisador contou com bolsa do Conselho nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e auxílio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Publicação Tese: “Lenhos fósseis das formações Irati e Teresina no Estado de São Paulo: novos dados” Autor: Rafael Souza de Faria Orientadora: Frésia Soledad Ricardi Torres Branco Unidade: Instituto de Geociências (IG) Financiamento: CNPq e Fapesp Fotos: Antoninho Perri
A professora Frésia Torres Branco: “Muitas das espécies estudadas tinham uma enorme distribuição pelo Gondwana”
Rafael Faria, autor da tese: floresta pretérita tinha vegetação composta tanto por plantas decíduas quanto perenes
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Campinas, 24 a 30
Da universidade à periferia,
Pesquisadores do Labeurb desenvolvem projeto que leva arte, cultura e lazer a moradore Fotos: Antonio Scarpinetti
MARIA MARTA AVANCINI Especial para o JU
odas as semanas, um grupo de pesquisadores e alunos ligados ao Laboratório de Estudos Urbanos (Labeurb) viaja 32 quilômetros entre o campus de Barão Geraldo e o Núcleo Residencial Eldorado dos Carajás, na região do Ouro Verde, em Campinas, a fim de ministrar oficinas de informática, contação de histórias, fotografia, realização de sessões de cinema, entre outras atividades, para a comunidade local. Esta é uma rotina que se repete desde fevereiro de 2010, quando teve início o projeto de extensão “Barracão: Eldorado dos Carajás”, desenvolvido pelo laboratório. O projeto, que conta com financiamento do Ministério da Educação e apoio da PróReitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac) da Unicamp, foi concebido com o objetivo de articular as três linhas de atuação fundamentais da Universidade – pesquisa, ensino e extensão – por meio de oficinas, com foco em atividades educativas. “Inicialmente, as oficinas foram pensadas como espaço de elaboração de materiais artísticos sobre a história dos sujeitos que vivem no núcleo”, explica a coordenadora do projeto, Cristiane Pereira Dias, que também é vice-coordenadora do Labeurb, que integra o Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade (Nudecri). “Trabalhamos com linguagem, então nossa intenção era colocar o sujeito em confronto com sua realidade, a fim de mostrar que o sentido do espaço que ele habita pode ser diferente do que se costuma acreditar”, defende Cristiane. O desafio que se colocava, continua a linguista, era dar sentido para o conhecimento produzido por moradores de um bairro de periferia, já significado como um lugar de pessoas excluídas e destituídas de saber. Para o professor Eduardo Guimarães, coordenador do Labeurb, a importância do projeto reside em estabelecer uma relação entre a Universidade e a sociedade numa perspectiva de uma relação de trabalho real, e não somente como construção de um corpus de pesquisa. “É essa relação dinâmica que é muito própria de um projeto como o Barracão que dá a riqueza dele nos dois lados, da Universidade e da sociedade”. Assim, do objetivo inicial até o presente, os pesquisadores percorreram um caminho de mão dupla em que tanto as oficinas quanto a pesquisa foram se remodelando no contato entre os pesquisadores e a comunidade. Como analisa a linguista e professora Eni Orlandi, integrante do Labeurb, “poder compreender o efeito da prática da pesquisa na sociedade atinge essa população na vida dela”. De um lado, as oficinas foram assumindo formatos, se adaptando às condições existentes no bairro e às expectativas de seus moradores. De outro, o projeto acabou dando origem a artigos científicos e a duas pesquisas de mestrado. O jornalista Vinícius Wagner Oliveira Santos defendeu sua dissertação em 2012, no Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor). Seu trabalho enfoca, a partir de sua experiência no projeto, as contradições inerentes ao discurso da inclusão digital. A também jornalista Andrea Klaczko, mestranda do Labjor, está realizando uma pesquisa sobre o processo de produção de um jornal comunitário com base em sua atuação na oficina Fotografias do Cotidiano, que desenvolve com adolescentes.
Crianças participam da oficina “Era uma vez...”, de contação de histórias: contato com o universo dos livros
Esta história inspirou as famílias que ocuparam a área na região do Ouro Verde, numa trajetória marcada, desde então, pelas tensões entre exclusão e inclusão: dos barracos de tábua construídos no primeiro momento, às casas de alvenaria, muitas ainda sem acabamento, ocupadas pelas cerca de 900 famílias que hoje vivem no núcleo residencial, foi um longo processo de negociação com o proprietário da terra, intermediado pela Companhia de Habitação Popular de Campinas (Cohab-Campinas). Atualmente, a Associação dos Moradores do Parque Eldorado dos Carajás detém a escritura da área ocupada pelo bairro, mas a escritura individual dos terrenos ainda está em negociação com o poder público. Por isso, os moradores do bairro sofrem com a precariedade da infraestrutura urbana: as ruas não são asfaltadas, o que impossibilita que os caminhões da limpeza pública entrem no bairro, por exemplo. “Esta é nossa principal necessidade hoje. Quando chove, as ruas ficam enlameadas. Quando está seco, a poeira é insuportável. Muitas pessoas têm asma, bronquite”, conta Maria Elisângela Frutuoso, presidente da associação. Luz elétrica, água tratada e esgoto, serviço de correio e linha de ônibus até o terminal Ouro Verde já fazem parte do cotidiano dos moradores do Eldorado dos Carajás.
A VOZ DA COMUNIDADE
Além de melhorias na infraestrutura urbana, as ações sociais e culturais sempre foram outra forte demanda da população local. “Antes, tinha uma escolinha de futebol, mas
A coordenadora do projeto, Cristiane Pereira Dias: “Nossa intenção era colocar o sujeito em confronto com sua realidade”
acabou”, lamenta Elisângela. É justamente nesse contexto que o projeto Barracão se insere. Uma demanda que marcou, no ano de 2008, o início da aproximação entre a comunidade Eldorado dos Carajás e a Unicamp, por meio do Labeurb. Lideranças do bairro participaram de um evento periodicamente organizado pelo Labeurb, o Conversa de Rua, que traz para a universidade pessoas, grupos e atividades desenvolvidas nas ruas da cidade com a finalidade de estabelecer um diálogo. Na ocasião, foi apresentada a reivindicação para
que fosse coberto um barracão que começou a ser construído pelos moradores do Núcleo. A ideia era criar um espaço para atividades de lazer e cultura, especialmente para as crianças. Graças às gestões do Labeurb com o poder público, o barracão foi coberto, materializando um espaço desejado. “Quando o projeto foi montado, a ideia era realizar as oficinas neste barracão, daí o nome do projeto. Mas nos desdobramentos das negociações com a comunidade, o espaço viabilizado foi o da associação de moradores”, relembra Cristiane.
MARCAS DE UMA HISTÓRIA
A história do Eldorado dos Carajás ajuda a compreender a proposta que norteia o projeto Barracão e seus desdobramentos. O núcleo, localizado em uma das áreas mais empobrecidas do município, surgiu de uma ocupação no ano de 1996. É, então, um lugar carregado de sentidos de exclusão. A começar pelo próprio nome do bairro, que remete ao massacre do Eldorado dos Carajás, ocorrido no sul do Pará, naquele ano, durante uma passeata em protesto contra a demora da desapropriação de fazendas que haviam sido ocupadas pelos manifestantes. Durante a manifestação, um confronto com policiais militares resultou na morte de 19 sem-terra.
Núcleo Residencial Eldorado dos Carajás: moradores não têm escritura individual dos terrenos e caminhões de coleta de lixo não conseguem entrar nas ruas esburacadas e sem asfalto
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0 de junho de 2013
os sentidos do mundo real
es de bairro com problemas de infraestrutura Dessa forma, atualmente, as únicas atividades de lazer e cultura a que crianças, adolescentes e mulheres têm acesso na comunidade são as oficinas do projeto, na casa da Associação de Moradores. Em 2012, as atividades também passaram a ser realizadas no Centro de Políticas Sociais (Ceps) Nelson Mandela e na unidade do programa “Jovem.com”, no terminal Ouro Verde. “O ideal seria ter uma atividade por dia, a semana toda”, reivindica a presidente da associação de moradores. “As oficinas são uma oportunidade para aprender coisas novas e as mães gostam porque as crianças não ficam na rua”. Quem participa, aprova. Júlia Inácio, de 5 anos, diz que participa da oficina “Era uma vez...”, de contação de histórias, porque gosta de “desenhar, estudar e de livros”. Guilherme Rian da Cruz Alvez, de 11 anos, relata que passou a ler livros desde que começou a participar da oficina. E Ana Luisa Zanardo Cassiano, de 9 anos, é frequentadora assídua desde 2011. “Gosto das histórias. Fico esperando o dia chegar”, diz. Mais que propiciar contato com o mundo dos livros, a oficina, que funciona desde 2010, quando o projeto teve início, criou um espaço diferenciado de relacionamento entre as próprias crianças, bem como uma interface com a comunidade, abrindo possibilidades de interação com materiais pouco comuns naquele universo: no início deste ano, foi montada, com recursos do projeto (Programa de Extensão Comunitária 2011 da Unicamp e MEC), uma biblioteca infantil com livros e brinquedos educativos, à qual as crianças que participam da atividade têm acesso. Além de propiciar contato com o mundo dos livros, a oficina tem o objetivo de conduzir as crianças a vislumbrarem novos sentidos para o local onde vivem por meio da criação de uma maquete do bairro no futuro, utilizando materiais recicláveis. “Dessa forma, elas podem enxergar o espaço onde vivem não apenas como um lugar de exclusão, pobreza, precariedade, mas como um lugar de criação. A construção da maquete é uma construção de sentidos para cada rua do bairro, para cada casa, para o comércio”, analisa Cristiane Dias. “O que tem no meu bairro? O que não tem? O que eu gostaria que tivesse? É uma forma de fazer com que as crianças olhem para o bairro, reflitam, se sintam parte dele/nele e não apenas ouçam o que dizem dele”.
AMPLIANDO HORIZONTES Todas as oficinas do projeto caminham na mesma direção: buscam colocar os participantes em confronto com a realidade em que vivem, trazendo a eles elementos – por meio da arte, da cultura e do lazer – que possibilitem a construção de uma percepção mostrando que o espaço que habita não é, necessariamente, o da exclusão. “É neste sentido movente que queremos trabalhar, interferindo, afetando a realidade social da comunidade”, complementa. Assim como as crianças que participam da oficina “Era uma vez...”, que teve como responsável, até o final de 2012, Débora Massmann, despertaram para a leitura, o prazer de desenhar e de imaginar que seu bairro pode, no futuro, se constituir como um espaço com ruas asfaltadas, praças e parques, os participantes das demais oficinas estão tomando contato com conhecimentos, tecnologias, arte e cultura, e possibilidades de construir novas relações com o espaço onde vivem. Um exemplo são as sessões de cinema, coordenadas por Greciely Costa, que o projeto realiza periodicamente nos bairros da região dos DICs. “Cada pesquisador tem uma questão que norteia seu trabalho. O pano de fundo é pensar o papel da universidade na sociedade”, afirma a coordenadora do projeto. Nesse sentido, Eni Orlandi afirma que “uma prática de pesquisa desse tipo faz com que a gente tenha um contato muito real, forte e exigente, do ponto de vista teórico e metodológico, com a sociedade, o grupo social, com o que a gente está trabalhando”. A autora e inspiradora do projeto diz ainda que, muitas vezes, a denominação “projeto de extensão” parece definir no que ele consiste. “Mas acho que é só trabalhando num projeto como esse que me faz compreender um pouco melhor quantos sentidos podem ser colocados no que seja um projeto de extensão”.
Afinal, continua a linguista, um projeto dessa natureza pode assumir um caráter utilitário, de produzir algumas coisas a serem deixadas para um grupo social específico. Pode ainda ser “de extensão” no sentido de ser alguma coisa que está sendo produzida na universidade e que ela estende, então, para um grupo social ou para alguma instituição. “Mas, aqui, nesse trabalho, não é só uma extensão para fora da universidade. A universidade é atingida também no seu modo de trabalho, o que é muito importante. A extensão, justamente, não tem o aspecto linear. Há muito de inesperado e há muito de provocador, para nós mesmos, que estamos envolvidos no projeto”, diz. Eni Orlandi participa do Barracão realizando um trabalho com as mulheres do Eldorado dos Carajás, com o objetivo de produzir um documentário sobre essas mulheres e suas vivências. Já a oficina Fotografias do Cotidiano, conduzida por Andrea Klaczko e da qual participam oito adolescentes, tem como objetivo produzir um jornal comunitário, e é o tema de sua pesquisa de mestrado, ainda em andamento. Para chegar ao produto final, Andréa percorreu algumas etapas, começando pela sensibilização das fases de produção de um jornal – diagramação, produção de textos e de fotografias, edição etc. O formato do jornal já foi definido pelos próprios adolescentes: serão criados um blog e um jornal impresso, sob o comando deles próprios. “O jornal será baseado em perfis dos moradores da comunidade”, explica Andrea. A intenção é relatar histórias que envolvem as fotos, apresentando a realidade em que vivem a partir da perspectiva dos personagens dessas histórias. O trabalho com fotografia abrangeu desde o exercício de fotografar, até uma reflexão sobre a identidade dos moradores dos bairros daquela região. Andrea conta que, embora a maior parte dos participantes da oficina seja negra, estes não se identificavam como tal. Daí a ideia de levá-los ao museu Afro Brasil, em São Paulo, para praticarem fotografia e para um trabalho de resgate da própria identidade. Os exercícios dos alunos também resultaram em uma exposição no Ceps Nelson Mandela, no início de junho. Vinícius Santos, por sua vez, está envolvido no Barracão desde a concepção do
Ana Luisa Zanardo Cassiano, frequentadora das oficinas: “Gosto das histórias. Fico esperando o dia chegar”
projeto. Já conduziu diversas oficinas: de imagem, de informática básica, de produção de blogs e, atualmente, está à frente, pela segunda vez, de uma oficina sobre edição de áudio. A intenção é trabalhar com as crianças e os adolescentes que participam da atividade é transmitir conhecimentos básicos, que possam ser aplicados num programa de rádio criado por eles para ser divulgado na internet ou por meio de outro meio.
MÚLTIPLAS DIREÇÕES
As oficinas não se constituem, então, como um espaço no qual os pesquisadores transmitem à comunidade seu conhecimento ou o saber acadêmico e científico, promovendo o contato com um mundo da qual ela estaria excluída. Diferentemente, o processo é complexo e comporta, muitas vezes, o inesperado, levando-os a replanejarem as atividades e a ajustarem os objetivos. Cristiane Dias conta, por exemplo, que foram necessários cerca de seis meses para adequar a estrutura física para dar início às oficinas de informática: a sala disponível tinha apenas uma tomada, com capacidade insuficiente para conectar os computadores. Além disso, durante muito tempo, o grupo contava com apenas três máquinas, que não atendiam à demanda. “Foram muitas as dificuldades, muitas das quais inesperadas. Mas isso faz
Maria Elisângela Frutuoso, presidente da Associação de Moradores: aproximação entre comunidade e Unicamp teve início em 2008
O jornalista Vinícius Wagner Oliveira Santos: analisando as contradições da inclusão digital
parte do projeto e enriqueceu nossa proposta de trabalho”, relembra. Ao mesmo tempo, o contato com a comunidade remodela e direciona a pesquisa daqueles que estão envolvidos nas atividades. A mestranda Andrea tinha a intenção de pesquisar jornais comunitários enquanto ferramenta de reflexão para moradores de periferia. “Acreditava que as técnicas jornalísticas poderiam ser apropriadas por esses adolescentes e, a partir delas, eles poderiam criar novas relações com o mundo onde vivem”. Mas a participação no Barracão deslocou seu foco: “Com o desenrolar do projeto, fui vendo que um projeto de extensão é a própria ferramenta de reflexão social, pois quando duas realidades tão distintas se encontram, necessariamente, se chocam”, analisa a pesquisadora, referindo-se a seu trabalho na oficina de fotografia. “São esses choques os responsáveis por produzir novos pensamentos e uma reflexão sincera sobre a realidade”. Da mesma forma, quando iniciou seu mestrado, Vinícius Santos tinha a intenção de trabalhar o conceito de inclusão digital, acompanhando as atividades de um telecentro. O envolvimento com o Barracão e, em particular, com as oficinas, possibilitou a ele uma reflexão sobre as contradições inerentes ao conceito, que muitas vezes assume os contornos de instrumentalização, ou seja, ensinar pessoas que não dominam os códigos e comandos do mundo da informática. A vivência nas oficinas trouxe a ele outras perspectivas e, consequentemente, uma mudança de rumos da dissertação: na medida em que as crianças e adolescentes tomavam contato com as ferramentas e possibilidades dos softwares e dos computadores, descolavam-se do lugar “daquele que nada sabe”, do excluído. Alguns porque demonstravam ter algum conhecimento prévio do mundo da informática –mesmo que tenham se declarado “iniciantes” ao se inscreverem na oficina, outros porque, ao aprenderem a usar as ferramentas, assumiam uma posição de autonomia, construindo imagens e músicas. Nesse sentido, uma das conclusões de Santos, em sua dissertação, remete ao questionamento do formato, muitas vezes excessivamente instrumental, dos programas de inclusão. “Nosso questionamento vai na direção de que o investimento em inclusão deveria ser destinado a projetos diversos, que estimulem uma produção própria de conhecimentos e saberes”, reitera.
Andrea Klaczko, mestranda do Labjor: pesquisa sobre a produção de um jornal comunitário
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Campinas, 24 a 30 de junho de 2013
Da nutrição à comunicação visual A trajetória do funcionário Geraldo Camargo, da cozinha do Hospital de Clínicas à Casa do Lago Foto: Antoninho Perri
MARIA ALICE DA CRUZ halice@unicamp.br
espaço na cozinha da Nutrição do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, apesar de sua importância, parecia pequeno para as aspirações do jovem Geraldo José Camargo, em 1986. O investimento em educação acompanhava a jornada de trabalho do auxiliar de cozinha e serviços gerais e, mais tarde, contribuiu para que não tivesse uma trajetória estática na Universidade. Como havia trabalhado em cozinha industrial, Geraldo não teve grandes dificuldades em ser aprovado no concurso para a função de auxiliar. Mas esta foi somente sua entrada na Unicamp. Hoje, com formação em técnico de meio ambiente e bacharel em comunicação visual, com foco em design gráfico, ele atua no Espaço Cultural Casa do Lago, principalmente na sala de cinema. “Ainda na cozinha, enquanto carregava uma caixa de alface, um colega se dirigiu a mim de forma grosseira para dizer que estava na área administrativa porque havia estudado. Minha luta e minha conquista são respostas para tal provocação, mas não tenho ressentimentos”, relembra. Por adquirir Lesão por Esforços Repetitivos (LER), logo trocou a nutrição por um aparelho de eletrocárdio e, em seguida, pela farmácia ambulatorial. Anos depois, foi trabalhar como técnico de audiovisual no Gastrocentro, mas aprendeu por esforço próprio já que não dominava a área de informática. Diante das dificuldades, procurou formação complementar em cursos de hardware, power point, entre outros. Uma coincidência importante no curso foi o encontro com o professor Luís Dadalt, que acabou solicitando seus préstimos para o power point de sua tese. “Fiz sem jamais ter operado o programa.” Mas a certeza de que havia deixado somente no coração o período ao lado dos amigos da nutrição veio ao ser transferido para a Faculdade de Educação (FE), onde deparou com um “arsenal tecnológico” para lidar com “eventos pequenos e grandes, pessoas calmas e bravas”, que o ajudaram a crescer profissionalmente. A convivência com o companheiro Humberto Prado, hoje funcionário da RTV Unicamp – onde Geraldo também atuou nas gravações de programas –, ampliou a bagagem na área de comunicação visual. Por ser contra a detenção do conhecimento, Geraldo, ao tomar contato com textos de filosofia, decidiu criar, em 2009, um café filosófico para funcionários da Faculdade de Educação, sempre no horário de almoço, uma vez por mês. A iniciativa, na gestão do diretor Sérgio Leite e da diretora associada Marcia Strazzacappa, teve apoio dos professores Silvio Gamboa, Sônia Guibelei, César Nunes e todos os grupos de trabalho da unidade. A iniciativa lhe rendeu título de professor convidado da FE. O mesmo projeto foi apresentado no Simtec. Durante os cafés, Geraldo também fazia a coleta de pilhas usadas para dar-lhes o destino certo. Hoje, este projeto é mantido pelos colegas Pitágoras, Romão e Lairce. Contente por ter propagado a cultura do café filosófico na FE, o que o deixou completamente feliz foi a oportunidade de levar a iniciativa ao bairro onde morava, o Jardim Novo Campos Elíseos. “Montei a estrutura para que eles deem continuidade”, explica. Proposta a ser idealizada em associações e não só em espaço cultural. Lá, ele e sua equipe organizaram várias atividades culturais, como festas infantis e saraus. A ideia, segundo Geraldo, era convidar comerciantes que falassem sobre sua área, garis que quisessem falar sobre a melhor separação do lixo, por exemplo. “O objetivo era permitir que as pessoas da comunidade falassem”, reafirma. Hoje, diante de softwares, imagens, vídeos, fotografias, Geraldo viu que, apesar de permanecer em espaço especial da memória, a imagem do jovem de 21 anos na nutrição do HC foi substituída pela imagem atual do técnico de audiovisual que, na FE colaborou para constituir a memória de bancas de teses, eventos e reuniões importantes. Muitas pessoas da Unicamp participaram de sua formação na educação básica.
Geraldo Camargo na sala de cinema da Casa do Lago: familiaridade com o “arsenal tecnológico”
Uma delas é o diretor do Grupo Gestor de Benefícios Sociais (GGBS) da Unicamp, Edison Lins, professor de língua portuguesa na Escola Estadual Vitor Meirelles. Uma das lembranças boas de Geraldo é o empenho da atual pró-reitora de Pesquisa da Unicamp, Gláucia Pastore, em amenizar seus débitos com as mensalidades do Colégio Atheneu, onde ela era tesoureira quando ele frequentou o ensino médio. Com o amigo e doutor em química Celso Ribeiro de Almeida, hoje funcionário da Secretaria de Extensão da Pró-Reitoria de Extensão, ele pode realizar estágio na área de ambiente. Terceiro de uma família de oito irmãos, o ex-aluno da Escola Sofia Velter Salgado, na Vila Teixeira, orgulha-se por ter crescido num lar em que os estudos eram cobrados pelos pais, Sofia Helena de Paula e Geraldo Apparecido Camargo. Isso fez com que retomasse os estudos em algumas escolas particulares de Campinas e, mais tarde, na instituição Universidades Paulistas (Unip). Enquanto muitos pais se desdobram para realizar o desejo dos filhos e adquirirem tecnologias caríssimas, como celulares de última geração, Geraldo, na adolescência, adquiriu sua primeira bicicleta sem preocupar seus progenitores. A aquisição foi feita com parte do dinheiro que recebia em uma oficina de conserto de rádio e tevê e numa banca de jornal onde trabalhava para participar do orçamento familiar. Sem se preocupar, Geraldo sempre se preparou para as voltas da vida. Tem consci-
ência de que se ontem o pai e a mãe, falecida em 1986, lhe ofereciam ferramentas para construir sua história e a oficina lhe oferecia recursos para a primeira bicicleta, hoje sua dedicação aos estudos e ao trabalho na Unicamp são instrumentos para muitas realizações. Mas espera mais. Ainda há muitos sonhos a realizar. Um deles está no Caminho de Santiago da Compostela.
CAMINHO DO SOL
Mas não são apenas os cafés filosóficos que atraem Geraldo fora da Unicamp. O técnico marcou presença em várias corridas e maratonas. Em 2010, sem saber o que faria sozinho em suas férias, foi incentivado pela esposa a traçar o Caminho do Sol, um trajeto pelo interior de São Paulo inspirado no Caminho de Santiago da Compostela, na Espanha. Na verdade, o trajeto paulista é uma preparação para o europeu, que Geraldo ainda planeja cumprir. “Sempre tive vontade de fazer um percurso longo e este caminho chamava minha atenção, mas não tinha informações sobre segurança, mas quando decidi, fui informado sobre a contratação de seguro de vida. Foi uma realização para mim.” No caminho para Santana do Parnaíba, onde os 241 quilômetros começam a ser percorridos, encontrou 12 pessoas, entre elas o funcionário da Unicamp Rodolfo Bonamino. Ao chegar à pousada onde todos os peregrinos se encontram, observou os cajados nomeados encostados em uma parede Foto: Divulgação
No percurso do Caminho do Sol: preocupação com a devastação ambiental
da casa de arquitetura rústica. “Eles não nos entregaram. O dono da pousada nos disse que o cajado escolhia o dono, sendo assim, fui escolhido por um cajado chamado ‘Ver’. Até hoje o guardo em casa.” No primeiro dia, depois de algumas horas de sono num casarão chamado de armário, no qual se escondiam ouro e mulheres quando havia ataques de forasteiros e bandidos saqueadores da época, os peregrinos saíam para os primeiros 25 quilômetros diários. Na bolsa, muito carboidrato e água até chegar a um lugar que servisse almoço. “Alguns bons, outros ruins”, brinca Geraldo. “Tivemos ajuda do amigo Fabio Martins. Suas dicas e orientações foram fundamentais até mesmo no que diz respeito a alimentação, calçados, vestimentas, postura corporal, preparo físico para ontem. Quando olho tudo que passei, pode ter certeza que me lembro de todas as dicas do Fabio que Bonamigo e eu pudemos apreciar, não esquecendo todos os cuidados de minha esposa Dilva de Carvalho, de minha família, da família de Bonamigo, que me acolheu em sua casa.” Sem guia – apenas com roteiro e credencial –, os peregrinos tinham de carimbar os lugares por onde passavam. “Somente uma pessoa conseguiu carimbar todas as cidades. O que chamou a atenção de Geraldo foi a presença de um livro sobre Santiago da Compostela em cada solo pisado pelos caminhantes. A obra, em sua opinião, é “instigante”, e os adeptos acabam fazendo reflexões sobre a viagem. O cansaço era amenizado pelo contato com a natureza, a não ser em trechos em que o peregrino especializado em meio ambiente foi obrigado a fazer algumas observações críticas. “É muito bonito, mas a degradação é evidente. Em Pirapora, por exemplo, é possível ver espumas escuras de uma hidrelétrica. “A curva do rio cheia de garrafas pet também causa má impressão”, pontua. Geraldo também aponta as queimadas, que acabam matando muitos animais. Segundo o técnico, os grandes proprietários começaram a perceber que o plantio de cana-de-açúcar era uma atividade rentável, mas deixam a cidade depois da produção. Os trabalhadores acabam tendo de ir à procura de emprego nas cidades, mas as respostas quase sempre negativas levam muitas pessoas às ruas em busca de sustento. “A situação do empregado não é levada em conta. Os filhos vão pedir dinheiro e muitos pais não oferecem educação formal aos filhos por morarem em bairros afastados. Ficamos impotentes. Vemos, comentamos, mas não podemos fazer nada. E isso bem perto de nós, na região de Campinas”, pontua.
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Tese esquadrinha fatores que agravam câncer
de esôfago Foto: Antoninho Perri
Estudo demonstra que recidiva, metástase e broncopneumonia pioram o prognóstico ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br
câncer de esôfago é o oitavo tumor mais incidente na população mundial e está aumentando muito nos últimos anos, já respondendo anualmente por 10% das suas ocorrências. Tem a obesidade como um dos fatores de risco, a esofagite e o estilo inadequado de vida, como uso do tabagismo, etilismo e alimentação rica em gorduras. O tratamento de escolha é, por excelência, cirúrgico. Um estudo de doutorado, defendido na Faculdade de Ciências Médicas (FCM), demonstrou mais: que a recidiva tumoral (quando a doença volta), a metástase (difusão para outros órgãos) e a broncopneumonia pioram o prognóstico do paciente no período pós-operatório e contribuem para elevar a morbimortalidade, além de diminuir a sobrevida. Essas conclusões foram repercutidas há pouco na revista Arquivo Brasileiro de Cirurgia Digestiva (ABCD), com indexação PubMed, conferida pelo Instituto Nacional de Saúde Americano. O artigo é intitulado “Adenocarcinoma da transição esofagogástrica: análise multivariada da morbimortalidade cirúrgica e terapia adjuvante”. O assunto agora ganhará destaque na mesma publicação, desta vez em um editorial, escrito por Valdir Tercioti-Júnior, autor da tese e do artigo, que sairá no volume 2 deste ano. O trabalho fez jus a um prêmio do Congresso Pan-Americano de Câncer Gástrico, em Porto Alegre, RS, cabendo-lhe o primeiro lugar na sessão de temas livres. Médico assistente da Disciplina de Moléstias do Aparelho Digestivo do Departamento de Cirurgia da FCM, o pesquisador avaliou a doença em 103 pacientes atendidos no Hospital de Clínicas (HC) de 1989 a 2006, que tinham câncer do tipo adenocarcinoma numa região específica – de transição esofagogástrica. Tercioti-Júnior comparou, em 2000, os pacientes que fizeram tratamento cirúrgico com um segundo grupo, que também efetuou esse tratamento mais quimioterapia e radioterapia adjuvantes no pós-operatório. O adenocarcinoma, explica ele, é um tumor maligno agressivo e que tem um rápido crescimento. O principal sintoma produzido é a disfagia (dificuldade de deglutição), que ocorre de forma progressiva. O paciente acaba engasgando constantemente com os alimentos e passa a ingerir uma dieta mais líquida, até não conseguir mais. O alimento parece ficar “entalado”, obstruindo a passagem. Aí vem o engasgo e a necessidade de tomar líquido junto com as refeições. Essa pessoa deve procurar auxílio médico, se submeter a uma endoscopia digestiva, que é a primeira abordagem, e não postergar o diagnóstico. Segundo o docente da FCM, experiente gastrocirurgião e orientador do estudo, Nelson Adami Andreollo, a cirurgia é de grande porte, demorada (leva em torno de seis a sete horas) e procedida só em grandes centros como o HC, por terem recursos de terapia intensiva, equipe multidisciplinar e tratamento complementar. Quando diagnosticado em fase inicial, o paciente pode ter uma sobrevida em torno de 60%-70% em cinco anos. Na contramão, se for tardio, com tumor invadindo estruturas vizinhas, a sobrevida chega a 30% no máximo. Esse câncer é mais comum depois dos 60 anos e seu diagnóstico é feito em fase avançada, visto que as pessoas acabam não valorizando os sinais do organismo, e muitos confundem os sintomas com gastrite, por exemplo.
Valdir Tercioti-Júnior, autor da tese, durante procedimento cirúrgico no HC da Unicamp: artigo e prêmio em congresso
PROCEDIMENTO
Uma questão incomodou Tercioti-Júnior: deve-se fazer a químio e a radioterapia nesse tipo de tumor, não apenas a cirurgia recomendada no protocolo? A resposta é sim. Um motivo é a agressividade do tumor. Outro é o diagnóstico tardio. Ele teve a ideia de agregar a terapêutica à abordagem desses pacientes. Isso já vinha sendo feito em outros centros para outros tipos de câncer. “Tivemos o mérito de selecionar um tipo muito específico de adenocarcinoma”, relata Tercioti-Júnior. Notou que a associação desse tumor com a obesidade e os hábitos de vida está largamente difundida através do consumo de alimentos em conserva e enlatados, que se opõem a uma alimentação saudável. Estimular a alimentação feita no dia e a ingestão de frutas in natura (sem conservantes ou agrotóxicos) e mais vegetais frescos devem ser encorajadas, de acordo com o autor do estudo. A literatura aponta que tais fatores relacionam-se a esse câncer e também à doença do refluxo gastroesofágico, “a popular esofagite de refluxo” (quando o músculo no final do esôfago se abre no momento errado e permite que o conteúdo do estômago penetre o esôfago). No caso, os pacientes referem azia e sensação de queimação atrás do peito. O docente admite que a esofagite pode inclusive evoluir para câncer. Os pacientes que não a tratam adequadamente podem ter transformação do epitélio esofágico para um epitélio de Barrett, condição neoplásica consequente ao refluxo gastroesofágico. Esse refluxo é potencializado com o consumo de alimentos antes de dormir, uma
prática prejudicial na opinião de Andreollo. “É que nesse período a digestão é mais lenta, por não haver deambulação.” As pessoas precisam fazer pequenas refeições ao longo do dia, pobres em gorduras, incentiva ele, e à noite não ingerir quase líquido. “É prudente esperar cerca de uma hora antes de dormir”, ensina Tercioti-Júnior.
RESULTADOS
O pesquisador não conseguiu demonstrar benefício estatístico na análise da sobrevida nos grupos avaliados. Por outro lado, mesmo em se tratando de cirurgias de grande porte, com uma casuística expressiva, houve um índice de mortalidade reduzido. Isso comprovou que tanto a equipe do Gastrocentro como o HC gozam de plenas condições de atender bem seus pacientes. E a mortalidade relacionou-se mais às infecções respiratórias, como as broncopneumonias, em pacientes que fumam há anos. A despeito dos cuidados com a cirurgia, esses pacientes já lidam por si com uma alteração da função respiratória. Em consequência, isso será um fator de risco maior para as complicações e para haver infecção no pós-cirúrgico. “Quanto maior o número de linfonodos, a sobrevida tardia será pior: com mais chances de ter linfonodos”, menciona o pesquisador. Ele conta que a doença nasce numa célula da mucosa do esôfago e fica restrita às camadas mais internas. Conforme crescem, invadem o órgão como um todo, caem nas redes de drenagem sanguínea e linfática, parando nos primeiros linfonodos próximos, que são extraídos na cirurgia. Foto: Antonio Scarpinetti
A simples descrição desse processo expõe o nascimento da célula e o seu desenvolvimento até pingar nos linfonodos adjacentes. Logo, existe uma questão temporal envolvida, atenta o pesquisador. Quando o paciente é operado em razão de uma tumoração já avançada, que tem linfonodos adjacentes, eles também estão doentes. Então um fator determinante na sobrevida foi o quanto estavam invadidos. Os pacientes que comparecem ao hospital em fases mais precoces não passam por quimioterapia e radioterapia. São apenas candidatos os que comparecem em fase avançada, por implicar uma sobrevida tardia num prognóstico reservado. Para melhorar essa expectativa, é que se faz um tratamento a mais. “O paciente se recupera da cirurgia pelo período de um mês, para depois passar pela radioterapia e quimioterapia adjuvantes”, revela Andreollo. O gastrocirurgião enfatiza a vantagem do diagnóstico precoce e das pessoas se preocuparem com seu estilo de vida: cuidar do seu peso e da sua alimentação, no sentido de ter a esofagite tratada a contento e a tempo. Como nos dois grupos não houve diferença na sobrevida, a cirurgia acaba sendo o melhor tratamento para esse tipo de tumor, mas desde que feita em hospitais de referência, de nível terciário, para evitar a mortalidade e propiciar um bom atendimento. “Esperamos que esse tipo de atendimento amplie na rede, oferecendo ao paciente acesso ao exame diagnóstico, que é indolor e feito sob sedação. Procurar auxílio médico e ser atendido a tempo na rede pública, desde a realização de exames até o diagnóstico, são obstáculos a serem enfrentados. Nossa população está engordando, comendo pior e envelhecendo”, lamenta Tercioti-Júnior.
Publicações Tercioti-Júnior, V.; Lopes, L.R.; Coelho-neto, J.S.; Carvalheira, J.B.C.; Andreollo, N.A. Adenocarcinoma da transição esofagogástrica: análise multivariada da morbimortalidade cirúrgica e terapia adjuvante. Arq. Bras. Cir. Dig., 25(4):229-34, 2012.
O professor e gastrocirurgião Nelson Adami Andreollo, orientador do estudo: diagnóstico precoce e estilo de vida são importantes
Tese: “Sobrevida e fatores que influenciam a morbi-mortalidade na terapêutica cirúrgica e adjuvante do adenocarcinoma da junção esôfago-gástrica.” Autor: Valdir Tercioti-Junior Orientador: Nelson Adami Andreollo Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)
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Vida Painel da semana Teses da semana Livro da semana Destaques do Portal da Unicamp
aa c dêi m ca
Painel da semana Férias no Museu - O Museu Exploratório de Ciências da Unicamp recebe, de 24 de junho a 5 de julho, as inscrições para a 10ª edição do Férias no Museu. Podem se inscrever crianças, a partir de oito anos de idade, filhos de alunos, funcionários e professores da Unicamp. O evento ocorre de 15 a 26 de julho, das 9 às 17h30, com a Oficina Desafio, a sessão Nano Aventura, visitas à Praça Tempo Espaço e a realização de atividades lúdico-pedagógicas que exploram, de forma criativa e prazerosa, temas referentes à ciência, tecnologia, cultura, qualidade de vida, meio ambiente e responsabilidade social. Vagas limitadas. O Férias no Museu é apoiado pelo Grupo Gestor de Benefícios Sociais (GGBS). Inscrições e outras informações pelo telefone 19-3521 1729 ou site www.mc.unicamp.br/ Seminário aberto - O Laboratório de Estudos Urbanos (Labeurb) organiza o seminário aberto “Geografias (in)visibilizadas das identidades afroplatinas: música popular, território e suas cidades” com Lucas Panitz e Julia Andrade. O evento acontece no dia 24 de junho, às 9h30, no auditório do Labeurb (rua Caio Graco Prado 70, no campus da Unicamp). Inscrições para a participação podem ser feitas no link http://www.labeurb.unicamp.br/inscricao/ Saúde mental e direitos humanos - No dia 25 de junho, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp, acontece mais uma edição do Fórum Permanente de Esporte e Saúde com o tema Saúde Mental e Direitos Humanos. O evento é organizado pelo Grupo Interfaces do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). Inscrições, programação e outras informações no link http://foruns.bc.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/saude64.html. O Fórum será transmitido (ao vivo) pela RTV-Unicamp. Linguagens e letramentos - Tema será debatido durante a realização do Fórum Permanente de Desafios do Magistério, dia 26 de junho, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp,. Programação e inscrições no link http://foruns.bc.unicamp.br/foruns/ index.php?idArea=7. No Fórum haverá o lançamento de publicações com transmissão (ao vivo) pela RTV Unicamp. Combate às drogas - O Centro de Saúde da Comunidade da Unicamp (Cecom) e a Coordenação do Programa de Prevenção ao Uso de Substâncias Psicoativas Lícitas e Ilícitas “Viva Mais” organizam, dia 26 de junho, evento relativo ao Dia Internacional de Combate às Drogas. Na ocasião, a professora Renata Azevedo, da Facul-
dade de Ciências Médicas (FCM), profere palestra sobre o assunto. Pessoas que tiveram problemas com drogas darão depoimentos, às 12 horas, no Auditório I da Agência para a Formação Profissional da Unicamp. Folders de conscientização também serão distribuídos às unidades/orgãos da Unicamp. Mais informações: 19-3521-9001. Acesso ao Ensino Superior no Brasil - No dia 27 de junho, às 9 horas, acontece mais uma edição do Fórum Permanente de Ensino Superior. “Acesso ao ensino superior no Brasil: equidade e desigualdade social” é o tema a ser tratado, no auditório do Centro de Convenções da Unicamp. O Fórum, que será transmitido (ao vivo) pela RTV Unicamp, é organizado pelo professor Renato Pedrosa. Inscrições, programação e outras informações no http://foruns. bc.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/superior11.html ou telefone 19-3521-5039. Palestra com Ortwin Renn - O Programa de Doutorado em Ambiente e Sociedade do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) e o Projeto Crescimento, vulnerabilidade e adaptação urbana: dimensões sociais e ecológicas das mudanças climáticas no litoral de São Paulo organizam, dia 27 de junho, às 14h30, no auditório do Nepam, a palestra “Complexidade, incerteza e ambiguidade em governança de risco: aplicação às mudanças climáticas”. Ela será proferida pelo professor Ortwin Renn, do Stuttgart Research Center for Interdisciplinary Risk and Innovation Studies da Stuttgart University (Alemanha). Renn é especialista em Governança do Risco. Mais informações pelo e-mail gabrieladigiulio@yahoo.com.br China & Brasil - Livro será lançado no dia 27 de junho, no andar térreo da Livraria Martins Fontes Paulista, às 18h30, em São Paulo-SP. Este é o primeiro livro publicado por um centro de estudos acadêmico sobre as relações Brasil-China, um testemunho do alto desempenho alcançado, em poucos anos, pelo Centro de Estudos Avançados da Unicamp (CEAv). Inteiramente resultante de pesquisas acadêmicas, “China & Brasil, desafios e oportunidades” reúne pesquisadores de três continentes, abordando temas atuais numa perspectiva multidisciplinar e academicamente rigorosa. Entre eles destacam-se as relações políticas e comerciais bilaterais, os temas socioambientais e o desafio das reformas do ensino superior na China. É também o testemunho da vocação internacional da Unicamp. Sem a experiência internacional de seus membros, sua inserção em redes de estudo e pesquisa que se destacam globalmente por sua excelência, sem a presença frequente de estudiosos de outros países nos Grupos de Estudo que são a marca do modelo institucional do Centro de Estudos Avançados, este livro, e os projetos que o tornaram possível não passariam de boas intenções. Exposições do Cis-Guanabara - O Centro Cultural de Inclusão e Integração Social (Cis-Guanabara), órgão da Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac), sedia, até 27 de junho, as exposições “Ação e Reação”, de David Milne Watson; “Em nome do Pai”, de Tácito Carvalho e Silva, e “Ide” – Escola de Arte. Elas podem ser visitadas de segunda a sexta-feira, das 9 às 17 horas, na rua Mário Siqueira 829, no bairro do Botafogo, em Campinas. Entrada livre com estacionamento gratuito. Mais informações: 19-3233-7801. Inclusão e diversidade - Com o tema “Inclusão e diversidade: políticas atuais e desafios para o futuro” o Fórum Permanente de Ensino Superior pretende contribuir para o debate entre acadêmicos, movimentos sociais e autoridades governamentais, sobre as experiências e políticas de inclusão implementadas nas universidades públicas brasileiras. O evento será realizado no dia 28 de junho, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. A organização é dos professores José Maurício Arruti, do Departamento de Antropologia (IFCH) e de Lucilene Reginaldo e Silvia H. Lara, do Departamento de História (IFCH). O evento será transmitido (ao vivo) pela RTVUnicamp. Inscrições, programação e outras informações no site http://foruns.bc.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/superior10.html Automação e controle de processos industriais e agroindustriais - A Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) recebe, até 28 de junho, as inscrições para o curso de especialização “Automação e Controle de Processos Industriais e Agroindustriais”. Seu início está previsto para 17 de agosto, às 19 horas, na Feagri. O curso destina-se principalmente aos profissionais de nível superior formados em engenharia e tecnologia nas áreas agrícola, elétrica, computação, mecânica, mecatrônica e afins. É o décimo oferecimento do curso em questão, que tem por objetivo a capacitação multidisciplinar, teórica e
prática de profissionais para atuar no desenvolvimento de soluções para análise e projeto de sistemas de automação e controle de processos industriais e agroindustriais. O grande diferencial do curso é que trata-se de um projeto integrado às reais necessidades do mercado. Este novo conceito, com grande conteúdo prático, propiciará ao aluno uma formação profissional em consonância com os requisitos do mercado, permitindo ao egresso acompanhar as constantes evoluções da área de automação e controle de processo. Durante o curso o aluno utilizará laboratórios didáticos equipados com equipamentos modernos, desenvolvidos especialmente para o seu aperfeiçoamento. Inscrições e mais Informações no link http://acp.feagri.unicamp.br Gestão da cadeia de suprimentos e logística - O Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes (Lalt) recebe, até 28 de junho, as inscrições para o curso de especialização Gestão da Cadeia de Suprimentos e Logística. Vagas limitadas. Outras informações no hotsite http://www.extecamp.unicamp.br/dados. asp?sigla=FEC-0600&of=014 Professor Emérito - O professor Ataliba Teixeira de Castilho recebe da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCHUSP), o título de Professor Emérito. A solenidade de entrega ocorre no dia 28 de junho, às 14h30, no Salão Nobre da FFLCH-USP (Rua do Lago 717), na Cidade Universitária, em São Paulo-SP. Castilho é professor colaborador voluntário na Unicamp e professor sênior na USP. Ricardo Goldenberg comenta “Um Corpo que Cai” - Desde o dia 4 de junho, o Centro Cultural do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) está exibindo, gratuitamente, às terças e quintasfeiras, às 17h30, um ciclo de filmes do mestre do suspense, Alfred Hitchcock. No dia 28, às 17h30, o psicanalista Ricardo Goldenberg, comentará a obra “Um Corpo que cai”. A organização é do professor Paulo Vasconcellos. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail odoricano@ig.com.br
Teses da semana Artes - “As influências de Bill Stewart na bateria” (mestrado). Candidato: Raphael Marcondes da Silva Gonçalves. Orientador: professor Fernando Augusto de Almeida Hashimoto. Dia 27 de junho, às 10 horas, na sala 35 do IA. Computação - “Web metalaboratory” (mestrado). Candidata: Alessandra da Silva Gomes. Orientador: professor André Santanchè. Dia 28 de junho, às 14 horas, no auditório do IC-2. Economia - “A sustentabilidade ambiental no setor financeiro: da autorregulação à regulação” (doutorado). Candidata: Maria de Fátima Cavalcante Tosini. Orientador: professor Bastiaan Philip Reydon. Dia 28 de junho, às 10 horas, na sala 23 do Pavilhão da Pós-graduação do IE. “Poder de Estado e o capital: uma apreciação crítica da transição para o Estado capitalista contemporâneo e da relação entre o político e o econômico em Bob Jessop” (mestrado). Candidato: Pedro Mendes Loureiro. Orientador: professor Maurício Chalfin Coutinho. Dia 28 de junho, às 11 horas, no Pavilhão de aulas da Pós-graduação do IE. Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - “Influência acústica de concha orquestral na área da plateia de teatro de múltiplo uso” (mestrado). Candidato: Alexandre Virginelli Maiorino. Orientadora: professora Stelamaris Rolla Bertoli. Dia 24 de junho, às 10 horas, na sala CA-22 da CPG/FEC. “Avaliação de geotêxteis não-tecidos utilizados em cercas-silte para remoção de turbidez” (mestrado). Candidato: Caio Pompeu Cavalhieri. Orientador: professor José Euclides Stipp Paterniani. Dia 28 de junho, às 9 horas, na sala CA22 da CPG/FEC. “Influência da incorporação de Lodo de tanque séptico na dinâmica do fósforo e do sódio no solo” (mestrado). Candidato: Thiago Luiz Etto. Orientador: professor Bruno Coraucci Filho. Dia 28 de junho, às 13h30, na sala CA-22 da CPG/FEC. Engenharia Elétrica e de Computação - “Uma arquitetura baseada em um modelo gerente-agente para análise integrada e automação da coleta dos dados de métricas de segurança” (mestrado). Candidato: Liniquer Kavrokov Vieira. Orientador: professor Leonardo de Souza Mendes. Dia 28 de junho, às 9 horas, na sala da congregação da FEEC.
“Um estudo sobre métricas e quantificação em segurança da informação” (doutorado). Candidato: Rodrigo Sanches Miani. Orientador: professor Leonardo de Souza Mendes. Dia 28 de junho, às 14 horas, na FEEC. “Plataforma de controle e análise em tempo real para dispositivos de aquisição e estimulação de sistemas biológicos” (mestrado). Candidato: Leard de Oliveira Fernandes. Orientador: professor Sérgio Santos Muhlen. Dia 30 de junho, às 10 horas, na sala de defesa de teses da FEEC. Engenharia Mecânica - “Proposta de sistema automatizado para medição de tensão utilizando o efeito acustoelástico” (doutorado). Candidata: Cleudiane Soares Santos. Orientador: professor Auteliano Antunes dos Santos Junior. Dia 28 de junho, às 9h30, no auditório do DPM/FEM. Engenharia Química - “Simulação dinâmica, otimização e análise de estratégias de controle da torre de vácuo da unidade de destilação de processos de refino de petróleo” (doutorado). Candidato: Julio Pereira Maia. Orientador: professor Rubens Maciel Filho. Dia 26 de junho, às 14 horas, na sala de defesa de teses (bloco D) da FEQ. Física - “Desenvolvimento de nanocatalisadores ativos na gaseificação de bio-óleos” (mestrado). Candidato: Alexandre Rodrigues Filizola. Orientador: professor Carlos Alberto Luengo. Dia: 27 de junho de 2013, às 10 horas, np DFA do IFGW. “Matrizes de massa e violação CP” (mestrado). Candidata: Larissa Gaydutschenko. Orientador: professor Orlando Luis Goulart Peres. Dia 27 de junho de 2013, às 14 horas, no auditório da Pós-graduação IFGW. Humanas - “Direito e política na filosofia de Hannah Arendt” (doutorado). Candidata: Renata Romolo Brito. Orientadora: professora Yara Adario Frateschi. Dia 26 de junho, às 14 horas, na sala de defesa de teses do prédio da Pós-graduação do IFCH. “Da renda mínima à renda básica de cidadania” (mestrado). Candidato: Fábio Luiz Lopes Cardoso. Orientador: professor Josué Pereira da Silva. Dia 27 de junho, às 10h15, na sala multiuso do IFCH. Linguagem - “Argumentação e cidadania na escolarização em área de fronteira” (doutorado). Candidata: Marilda Fatima Dias Pereira. Orientadora: professora Maria Fausta Cajahyba Pereira de Castro. Dia 25 de junho, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “Sujeitos, histórias e rótulos: a leitura e a escrita de crianças e jovens diagnosticados com dislexia” (mestrado). Candidata: Laura Maria Mingotti Müller. Orientadora: professora Maria Irma Hadler Coudry. Dia 26 de junho, às 15 horas, na sala de defesa de teses do IEL. Matemática, Estatística e Computação Científica “Mapas momento em teoria de calibre” (mestrado). Candidato: Lucas Magalhães Pereira Castello Branco. Orientador: professor Marcos Benevenuto Jardim. Dia 27 de junho, às 10 horas, na sala 253 do Imecc. “Teoria de calibre em variedades de holonomia especial” (mestrado). Candidato: Rodrigo de Menezes Barbosa. Orientador: professor Marcos Benevenuto Jardim. Dia 27 de junho às 14 horas, na sala 253 do Imecc. Odontologia - “Células Hodgkin/Reed-Sternberg-like em linfoma difuso de grandes células b de boca: estudo histopatológico, imunohistoquímico e de hibridização IN SITU” (doutorado). Candidato: Victor Hugo Toral Rizo. Orientador: professor Oslei Paes de Almeida. Dia 27 de junho, às 13h30, na sala da congregação da FOP. Química - “Síntese e caracterização de material cerâmico condutor SIO2/C modificado com ftalocianina de níquel (II) e do compósito cerâmico SIO2-NIO: Aplicação na construção de sensores eletroquímicos” (doutorado). Candidato: Sergio Bitencourt Araújo Barros. Orientador: professor Yoshitaka Gushikem. Dia 26 de junho, às 14 horas, no miniauditório do IQ. “Desenvolvimento de biossensores para determinação da razão glutationa reduzida/oxidada utilizando plataformas à base de nanotubos de carbono dispersos em quitosana” (doutorado). Candidata: Cátia Crispilho Corrêa. Orientador: professor Lauro Tatsuo Kubota. Dia 27 de junho, às 9 horas, no miniauditório do IQ. “Uso de teores de gordura em chocolate determinados por estudantes de ensino médio na universidade para elaboração de um método rápido, simples e verde: proposta com aspectos didáticos e analíticos” (mestrado). Candidata: Débora de Andrade Penteado Forchetti. Orientadora: professora Maria Izabel Maretti Silveira Bueno. Dia 27 de junho, às 9 horas, na sala IQ-14.
Destaque do Portal
Coordenador-geral detalha
como será a UPA
edição de 2013 do Unicamp de Portas Abertas (UPA), que ocorrerá no dia 31 de agosto (sábado), contará com uma programação ampliada em relação aos eventos anteriores. O objetivo é oferecer ao público [são esperados cerca de 40 mil estudantes de ensino médio de todo o país] um painel abrangente das ações desenvolvidas pela Universidade nas áreas de ensino, pesquisa e extensão e também no âmbito da cultura e das artes. Além da oportunidade de conhecer os laboratórios das faculdades e institutos, os visitantes também poderão participar de atividades que estarão concentradas no Centro de Convenções e no espaço do estacionamento situado ao lado. De acordo com o coordenador-geral da Unicamp, Alvaro Crósta, ao apresentar a Universidade de uma forma mais ampla aos “upeiros”, principalmente os estudantes das escolas públicas, a instituição pretende estimulá-los a concorrer às vagas oferecidas pela instituição nos seus cursos de graduação. Nesse sentido, a Unicamp mensurará a participação desses estabelecimentos no evento, o que não foi feito nas edições anteriores. “No momento da chegada dos ônibus ao campus, nós teremos monitores que identificarão a origem dessas escolas. A ideia é apurar se estamos atingindo o objetivo de atrair as escolas públicas em número significativo”, adianta. O coordenador-geral informa que as faculdades e institutos estarão com seus laboratórios abertos à visitação dos upeiros. Nesses locais, os secundaristas serão recebidos por docentes e alunos de graduação e pós-gra-
Foto: Antoninho Perri
O professor Álvaro Crósta, coordenador-geral da Unicamp: “A ideia é apurar se estamos atingindo o objetivo de atrair as escolas públicas em número significativo”
duação, que lhes apresentarão o ferramental tecnológico, falarão sobre aspectos do ensino e da pesquisa e, em alguns casos, realizarão experimentos científicos. “As unidades que têm campi em outras cidades contarão com espaços próximos ao Centro de Convenções e à Biblioteca Central”, diz Crósta. Durante a UPA, conforme o coordenador-geral, a Unicamp estará especialmente empenhada em esclarecer o público sobre iniciativas relacionadas ao acesso de estudantes à Universidade, como o Vestibular da
Unicamp, o Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social (PAAIS) e o Programa de Formação Interdisciplinar Superior (ProFIS), bem como acerca dos novos cursos oferecidos nas áreas de administração e engenharia pela Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) e Faculdade de Tecnologia (FT), ambas localizadas em Limeira (SP). “Nós também queremos falar a esses jovens sobre a oferta de programas de estímulo à permanência estudantil, como a Moradia Estudantil e as bolsas alimentação, transpor-
te e moradia, administradas pelo SAE [Serviço de Apoio ao Estudante]”, salienta Crósta. Ao longo da UPA, os participantes terão, ainda, a oportunidade de conhecer o Museu Exploratório de Ciências, as bibliotecas e os acervos históricos mantidos pela Unicamp. “Além disso, vamos apresentar para esse público dados sobre os prêmios recebidos pelos nossos estudantes, informações acerca dos programas de intercâmbio que a Universidade mantém com instituições internacionais e brasileiras, o ensino de línguas estrangeiras oferecido pelo CEL [Centro de Ensino de Línguas] e também abordar questões ambientais, mostrando, por exemplo como a Universidade lida com os resíduos que gera”, acrescenta o coordenador-geral. Segundo o dirigente da Unicamp, as atividades artísticas e culturais serão ampliadas nesta edição da UPA. Elas ocorrerão no estacionamento próximo à Biblioteca Central, local que se transformou em ponto de concentração natural dos upeiros após as visitas às unidades de ensino e pesquisa. “Como os visitantes sempre têm um tempo livre, queremos proporcionar a eles apresentações de grupos musicais, de dança e de teatro, todos ligados à Unicamp. É, por assim dizer, uma maneira lúdica de exibirmos mais algumas facetas das atividades desenvolvidas na Universidade”. Crósta destaca que a organização de um evento com a envergadura da UPA exige a participação de uma ampla equipe, formada por funcionários, estudantes e professores. “Sem esse esforço coletivo, não seria possível realizar um evento como este, que está entre os mais importantes do calendário da instituição”, encerra o coordenador-geral.
Campinas, 24 a 30 de junho de 2013
Fórmula retarda embranquecimento
11 Fotos: Antonio Scarpinetti
do chocolate ao leite Pesquisadora da FEM substitui gordura do leite por estearina PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br
chocolate ao leite pode ficar esbranquiçado, sem brilho, com a aparência envelhecida e nada apetitoso. Muitos acreditam que o produto nestas condições está estragado ou com fungos, mas, na verdade, trata-se de um fenômeno ainda não muito esclarecido e que os especialistas na área de alimentos chamam de fat bloom. O problema ocorre quando a gordura migra do interior do chocolate e cristaliza-se novamente na superfície, dando outro aspecto ao produto e interferindo na sua qualidade. Evitar ou retardar o fat bloom é do maior interesse da indústria, sobretudo em um país como o Brasil. O clima tropical e o imenso território resultam em condições adversas de transporte e armazenamento que, por sua vez, desencadeiam o fenômeno, já que o chocolate precisa ser mantido a uma temperatura estável de 20 graus centígrados. Uma pesquisa de doutorado realizada na Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp alcançou bons resultados no que diz respeito ao fat bloom, com a substituição da gordura do leite, na formulação do chocolate, por estearina, que é a porção da gordura com alto ponto de fusão. Esta fração precisa de temperaturas mais altas para derreter e como deixa o chocolate mais resistente, retarda o fat bloom. “Os chocolates foram submetidos a variações de temperatura, no período de 24 horas, de 20 para 32 graus, durante cinco meses. As amostras com estearina demoraram mais 13 dias a apresentar o fat bloom, que começou nas outras amostras depois de 37 dias de condições adversas. Depois que iniciase o fenômeno, a velocidade de recristalização da gordura na superfície é a mesma em ambas as amostras”, explica Élida Castilho Bonomi, a autora da tese. Élida quis realizar, com a gordura do leite brasileira, o estudo que já havia sido feito em outros países. De acordo com os dados da Associação Brasileira das Indústrias de Chocolate, Cacau, Balas e Derivados (Abicab), apontados na pesquisa, o Brasil é o terceiro país do mundo na produção e consumo do produto, superado apenas por Estados Unidos e Alemanha,
Chocolate com e sem fat bloom: gordura migra do interior do produto e cristaliza-se na superfície
sendo que o chocolate ao leite é preferência nacional. As projeções da entidade indicam que o Brasil deve assumir, até 2016, a vice-liderança entre os dez maiores mercados de chocolate, balas e amendoim do mundo. Para chegar à estearina, Élida desenvolveu outras etapas da pesquisa. “A gordura de leite é considerada a mais complexa da natureza, sendo muito difícil trabalhar com ela. Portanto, industrialmente, torna-se inviável devido à sua inadequada plasticidade, baixa resistência térmica e pouca consistência”, observa. A pesquisadora acrescenta que normalmente a indústria de alimentos utiliza a gordura do leite in natura. “Alguns estudos sobre fracionamento térmico de gordura de leite são encontrados na forma de patentes e, muitas vezes, o processo exige equipamentos mais sofisticados e, consequentemente, mais caros. Ademais, o crescimento e a maturação dos cristais são lentos e o processo de fracionamento térmico requer um tempo muito longo”, justifica. Com os experimentos, Élida conseguiu acelerar a obtenção da estearina em até 37%.
INOVAÇÃO
A utilização do chocolate ao leite foi uma forma de demonstrar a aplicação da estearina. O objetivo anterior da pesquisa de Élida foi o de obter a fração por meio de um processo de fracionamento térmico baseado em um planejamento experimental, com a intenção de identificar quais as condições de processo adequadas para obter a fração mais dura. A estearina, que seria esta parte mais “dura” da gordura, se separa da oleína, que é a parte mais mole, ou macia. “Para obter a estearina, eu demorava três horas e precisava acelerar este processo. Utilizei, então, dois modos diferentes do fracionamento tradicional que não são utilizados para a gordura de leite”, argumenta. No método tradicional, Élida utilizou um reator para o fracionamento térmico da gordura. O que influencia no processo, além da temperatura de cristalização, é a agitação e a taxa de resfriamento. A gordura foi aquecida a 60 graus e resfriada a uma taxa constante. A temperatura reduzida foi mantida por três horas, antes da filtragem. A estearina de melhor qualidade neste caso foi obtida a 27 graus. Para o ensaio foram utilizados diferentes porcentagens de estearina, 1%, 5% e 10% em relação à massa total de gordura de leite anidra. No primeiro método desenvolvido experimentalmente, a melhor estearina obtida no fracionamento convencional foi adicionada à gordura de leite logo no início do processo, aquecida a 60 graus celsius e resfriada. “A estearina é caracterizada por ter triacilgliceróis de alto ponto de fusão, que começam a se cristalizar mais rápido. Os primeiros núcleos de cristais vão atraindo outros cristais que vão se juntando e crescendo, constituindo a estearina mais rapidamente”. Neste método, que foi denominado “formulação”, adicionou-se 1% de estearina e a fração foi obtida 22% mais rapidamente que do modo tradicional. O segundo método, que já é conhecido como “semeadura”, acelerou o processo em 37%, quando adicionou-se 1% de estearina cristalizada. A estearina foi acrescida ao pro-
No laboratório: chocolates foram submetidos a variações de temperatura
cesso quando a gordura de leite já estava resfriada a 27 ºC. A pesquisadora então retirou uma quantidade de gordura de leite do sistema para servir de veículo para misturar a estearina de forma homogênea. Logo em seguida, a mistura retornou ao restante no reator. “O mais interessante foi ter conseguido obter uma estearina mais dura e de melhor qualidade que no fracionamento convencional e em um processo mais rápido. Para a viabilidade industrial seria preciso fazer um cálculo entre o rendimento e a qualidade, mas já é um avanço”, assinala. Outra expectativa da pesquisadora era de que a estearina no chocolate ao leite pudesse também aumentar a resistência térmica do produto em relação ao chamado snap, ou a “quebra” do chocolate. Mas, neste caso, o trabalho não teve sucesso. Enquanto as análises da pesquisa de Élida foram feitas na Unicamp, os experimentos foram desenvolvidos no Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital). A pesquisa ainda integra o projeto temático “Modificação, controle e estabilização do comportamento de cristalização e polimorfismo em gorduras, com ênfase na manteiga de cacau e no óleo de palma”, mantido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), sob a responsabilidade do professor Theo Guenter Kieckbusch.
Publicação Tese: “Aplicações da fração estearina como modulador de cristalização no fracionamento térmico de gordura de leite anidra e na fabricação de chocolate”. Autora: Élida Castilho Bonomi Orientador: Theo Guenter Kieckbusch Coorientador: Valdecir Luccas (Ital) Unidade: Faculdade de Engenharia Química (FEQ) Financiamento: Fapesp
Pesquisas serão tema de workshop O trabalho de Élida integra o sub-projeto sobre aplicações, no temático da Fapesp, cujo objetivo é estudar óleos e gorduras em relação a sua modificação, comportamento de cristalização e polimorfismo, com especial atenção na manteiga de cacau e no óleo de palma. Em grande parte dos alimentos, a cristalização de gorduras é um parâmetro crítico que influencia na estabilidade de produtos processados. O projeto propõe métodos para modificação, controle e estabilização da cristalização e das transições polimórficas destas matérias-primas. A investigação de alternativas envolve um grupo de pesquisa multidisciplinar formado por pesquisadores da Faculdade de Engenharia Química (FEQ), da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) e do Instituto de Física (IFGW), da Unicamp, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP – SP, do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) e da Universidade de Guelf, do Canadá. As pesquisas do grupo vão ser discutidas no 3º Workshop “Avanços Tecnológicos na Qualidade e Estabilidade de Chocolates e de outros Sistemas Lipídicos”, que está previsto para ocorrer nos dias 2 e 3 de setembro no Centro de Convenções da Unicamp.
Élida Castilho Bonomi, autora da tese: “A gordura de leite é considerada a mais complexa da natureza”
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Re �rat� d � �r�ist� �u �nd� �r�b� �had�� Campinas, 24 a 30 de junho de 2013
Coordenadora Liliana Segnini
Pós- doutores
Juliana Maria Coli Fábio Fernandez Villela
Doutores
Dilma Fabri Marão Pichoneri Maria Aparecida Alves Maria Mercedes Potenze José Humberto da Silva Cármen Lúcia Rodrigues Arruda Cacilda Ferreira dos Reis
Mestres
Katiuska Scuciato de Riz Ricardo Normanha Ribeiro de Almeida
Trabalhos de conclusão de curso
O crescimento das formas intermitentes de financiamento por meio de editais com verbas públicas sob o controle de gestão privada (renúncia fiscal, mecenato); A relevância do papel do Estado na desconstrução dos direitos sociais vinculados ao trabalho artístico, mesmo considerando os nomeados corpos estáveis em teatros públicos. A vulnerabilidade dos artistas submetidos a constante trabalho intermitente. O reduzido número de artistas inscritos nas formas protegidas legalmente de trabalho. O elevado índice de escolaridade desse grupo e o permanente processo de formação, que não se encerra. Desde a década de 1990, é observado o crescimento do número de cursos e vagas em arte, sobretudo nas universidades públicas, contrariando o crescimento do ensino superior privado em outras áreas. O trabalho artístico constitui um universo predominantemente masculino. É ainda reduzido o número de mulheres no campo artístico, sobretudo em música, quando comparado com o do mercado de trabalho no Brasil (PNAD, 2006). Esta situação é reiterada na França. As mulheres representam 56% da população economicamente ativa brasileira; 42% da população ocupada. No trabalho no campo profissional do “espetáculo e das artes”, elas representam 33% do grupo; considerando somente o trabalho em música, elas são 18%. As mulheres musicistas, tal como na população ocupada brasileira, são mais escolarizadas que os homens, mas essa situação positiva não se traduz no mercado de trabalho. Elas precisam mostrar que são ainda mais capazes que os músicos para transpor as barreiras que as impedem de participar, como intérpretes instrumentistas, tanto na música erudita (com maior possibilidade) como na música popular. Elas predominam como intérpretes cantoras, trabalho nem sempre reconhecido como tão qualificado quanto dos instrumentistas. No campo da dança essa situação se inverte numericamente, mas os homens continuam a ter maiores possibilidades de trabalho, justificada pela competição pouco expressiva; ao contrário, há o estímulo das escolas e companhias à participação dos homens na dança, sob a forma da remuneração ou possibilidades de participar de espetáculos.
A professora Liliana Rolfsen Petrilli Segnini, coordenadora do grupo de pesquisa: “É possível evidenciar a frágil condição do artista brasileiro”
Em todos os grupos, as trajetórias narradas informam barreiras complexas a serem transpostas pelas mulheres, sobretudo na articulação com a maternidade.
Fábio
O crescimento da incerteza dos estatutos do trabalho por meio da criação de múltiplas formas institucionais de transferência do papel do Estado para o mercado: fundações, organizações sociais, Organizações da Sociedade civil de Interesse Público (Oscips), cooperativas.
Mercedes Cidinha Dilma
O intenso crescimento da população ocupada no campo das artes, muito além do crescimento do número de ocupados no mercado de trabalho, tanto no Brasil como na França.
José
PRINCIPAIS RESULTADOS DAS PESQUISAS
Juliana
Driely Gomes Patricia Amorim de Paula
Malu
Bailarinos em ação: segundo a coordenadora, “as dificuldades vividas no mundo da arte são intensificadas quando analisamos as trajetórias de mulheres artistas, inclusive na dança, único campo onde são predominantes”
Cacilda
Foto: Divulgação
Trabalho artístico, múltiplos olhares
Marina
Esta constatação levou a docente a coordenar um projeto temático Fapesp – “Trabalho e profissão no campo da cultura: professores, músicos e bailarinos” – abordando duas profissões, música e dança, em dois países, Brasil e França. “O projeto considerou que no contexto da mundialização, no qual o mercado e sua lógica comercial assumem importância jamais observada anteriormente, o setor cultural das artes e dos espetáculos está submetido, também, a mudanças econômicas e sociais. A arte como objeto de marketing e
Foto: Antonio Scarpinetti
Kati
FRANÇA
Outra contribuição para maturar o projeto sobre trabalho artístico veio das análises do grupo no âmbito do primeiro Acordo Capes-Cofecub (Comitê Francês de Avaliação da Cooperação Universitária com o Brasil), intitulado “Mudanças nas relações do trabalho, relações profissionais e formação” (2000-2003). O acordo implicou na formação de uma equipe com dois pós-doutores, seis doutores, três mestres e em três trabalhos de conclusão de curso em educação. À produção deste grupo é possível somar o campo da pesquisa de Marina Segnini, L’artiste du spectacle vivant au temps de l’intermittence: plaisir et souffrance au travai, realizada a partir de dez entrevistas com artistas que vivenciam o estatuto “intermitentes do espetáculo”, na França. Já o acordo Fapesp-CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique), “Qual é o sentido social da modernização no trabalho?” (2006-2009), possibilitou a continuidade e aprofundamento das discussões teóricas e metodológicas em torno do objeto trabalho artístico. O grupo avançou mais um passo com o projeto Capes-Cofecub “Organização e condições do trabalho moderno: emprego, desemprego e precarização do trabalho” (2010-2014), coordenado por Daniéle Linhart, na França, e Aparecida Neri de Souza(FE), no Brasil.
Ricardo
E
CONTRIBUIÇÕES
Driely
BRASIL
OUTRAS
Pati
O trabalho artístico é constantemente idealizado, mas sua realização concreta inscreve o artista no mundo do trabalho e dos seus constrangimentos. Ele é um trabalhador”, afirma a professora Liliana Rolfsen Petrilli Segnini, coordenadora de um grupo que tem o trabalho artístico como objeto de pesquisa, formado há dez anos na Faculdade de Educação (FE) e no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). A proposta institui um campo de pesquisa na história recente da sociologia do trabalho no Brasil, com a seguinte justificativa: se a sociologia e a história, sobretudo da arte e da cultura, já elaboraram relevantes contribuições analíticas, a especificidade do enfoque deste grupo está em compreender o trabalho artístico a partir das relações e condições de trabalho e da sua vivência profissional. Em relação aos desafios colocados aos trabalhadores das artes nos dias de hoje, Liliana Segnini destaca dois aspectos. “É certo que o trabalho artístico é feito de incertezas, observadas em diferentes períodos históricos, quer seja na Corte – tal como descrito por Norbert Elias ao analisar a vida de Mozart – ou submetido às regras do mercado capitalista e do Estado. No entanto, comparando em nossas pesquisas as relações de trabalho no campo artístico no Brasil e na França, é possível evidenciar a frágil condição do artista brasileiro, submetido à aguda competição das políticas de curta duração, no mundo dos editais e dos cachês, das regras das leis de isenção fiscal.” Na opinião da professora da Unicamp, buscar políticas de Estado (não de governo) que possibilitem trabalhos de longa duração é um dos desafios a ser apontado para os trabalhadores da arte no presente. “Uma segunda dimensão refere-se às desigualdades observadas nas relações de gênero. As dificuldades vividas no mundo da arte são intensificadas quando analisamos as trajetórias de mulheres artistas, inclusive na dança, único campo onde são predominantes.” Liliana Segnini afirma que seu grupo já produziu resultados sob a forma de relatórios, artigos, trabalhos de conclusão de curso, dissertações de mestrado, teses de doutorado e pósdoutorados. A partir de 2006 foi criada uma disciplina tanto no programa de pós-graduação da FE como no doutorado do IFCH. Segundo ela, este objeto de pesquisa nasceu de uma demanda do Ministério do Trabalho e Emprego: redescrever, depois de duas décadas, a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) de 2002, atendendo exigência da Organização Internacional do Trabalho (OIT). A docente da FE ficou responsável pelas áreas de Ciências e de Artes na pesquisa nacional, contando com uma equipe de doze professores e doutorandos. “As discussões realizadas nos diferentes grupos profissionais, durante três dias, foi traduzida em uma planilha descritiva necessária para informar políticas públicas e estatísticas nacionais. A CBO 2002 nos possibilitou compreender que o artista é um trabalhador”, atesta Liliana Segnini, ressaltando que a linha de pesquisa iniciada há dez anos possui outra natureza e objetivos. “A pesquisa sociológica acadêmica é muito mais ampla e permite analisar a história do trabalho artístico no Brasil: mudanças nas relações e condições de trabalho, nos processos de formação profissional, nas formas de financiamento, nas políticas públicas, nas estatísticas do mercado de trabalho e na vivência do fazer artístico. São dois universos diferenciados.”
o seu financiamento pelas empresas indicam a influência do mercado na definição das expressões e objetivos artísticos.” Liliana Segnini informa que o projeto Fapesp procurou analisar as mudanças traduzidas no mercado de trabalho, nas relações de trabalho e na formação profissional no mundo das artes e dos espetáculos, notadamente em música e dança, clássica e contemporânea, comparando Brasil e França. “A pesquisa privilegiou, nos dois primeiros anos, as orquestras e companhias de dança vinculadas a teatros subvencionados pelo Estado: Teatro Municipal de São Paulo e Ópera Nacional de Paris. Em seguida, analisou as múltiplas formas de trabalhar (e sobreviver) no campo artístico, sobretudo o trabalho intermitente, realizado de cachê em cachê. Neste projeto foram entrevistados 68 artistas no Brasil e 24 na França.” O projeto Fapesp teria duração até 2007, mas surgiu a oportunidade de somar mais três pesquisas realizadas no período de 2008 a 2010, tendo por objeto o processo de formação e trabalho nas narrativas de artistas selecionados nos Programas Rumos Itaú Cultural, incorporando as artes visuais. “Estas pesquisas recorreram ao cruzamento de várias fontes e métodos: dados institucionais (estatísticas, classificação ocupacional, políticas públicas), entrevistas de longa duração, cadernos de campo para captar o não dito nas entrevistas, análise de fotografias. Foram entrevistados 36 artistas da dança, 39 músicos e 44 artistas visuais.”
Liliana
LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br