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Campinas, 11 a 24 de novembro de 2013 - ANO XXVII - Nº 583 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
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CORREIOS
FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Imagem: Divulgação/ Reprodução
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O engenheiro eletricista Manuel Moreira Baptista desenvolveu animações em 3D destinadas ao ensino de Química, mas que podem ser adaptadas a outras disciplinas. Os vídeos, que foram produzidos no âmbito de tese de doutorado defendida no Instituto de Química, já geraram mais de 1 milhão de visualizações no YouTube, oriundas de 148 países. O trabalho foi orientado pelo professor Pedro Faria dos Santos Filho.
Interação – Dissertação de mestrado de Melina Aparecida Custódio
demonstra que alunos ficam mais participativos quando utilizam conhecimentos e novas tecnologias em trabalhos escolares.
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Apneia em crianças e malformação dentária Pesquisadores fazem guia sobre Libras para dentistas
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Frame de vídeo que mostra a representação do retículo cristalino da esfarelita
Arquiteto propõe uso de madeira na construção civil Método torna mais rápida detecção de chumbo no solo
Foto: Museu Histórico Visconde de São Leopoldo
Nos mares do Sul – Banhistas em Tramandaí, Rio Grande
do Sul, em registro de 1918. Livro de Joana Carolina Schossler, doutoranda do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), revela detalhes da formação da cultura balneária no litoral norte gaúcho na primeira metade do século 20.
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Campinas, 11 a 24 de novembro de 2013
Investigação associa apneia em criança à malformação dentária SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br
cirurgião dentista e pesquisador Almiro José Machado Júnior, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, vem dedicando-se ao esclarecimento de uma doença comum em adultos, mas pouco investigada em crianças: a síndrome da apneia obstrutiva do sono. Em seu pós-doutoramento, o pesquisador está avaliando em crianças de 7 a 11 anos possíveis alterações na estrutura óssea dentária, que podem fornecer indícios sobre a existência da doença. As prováveis alterações serão analisadas por meio de um exame de telerradiografia cefalométrica. A avaliação indicará variações ósseas na face dos pacientes. A má oclusão dentária pode ser um dos fatores que esteja predispondo à apneia do sono, assinala Almiro Machado. “Vamos propor e avaliar o uso de um dispositivo maxilomandibular. Acreditamos que um tratamento odontológico que promova alterações na estrutura óssea dentária possa ser eficaz na intervenção da doença”, calcula o pesquisador. A terapêutica proposta após o diagnóstico da síndrome baseia-se na ortopedia funcional dos maxilares. O uso do aparelho removível permitirá um avanço mandibular e afastamento de lábio com alteração na postura da língua, explica o dentista. “Algumas crianças que participam do estudo já estão usando este dispositivo. A ideia é avaliar se ele possui eficiência no tratamento da doença”, acrescenta. A pesquisa, em andamento, objetiva investigar os sintomas, causas e consequências da apneia do sono no público infantil. A finalidade é diagnosticar e tratar o problema precocemente, confirma o estudioso, que vem sendo supervisionado pelo docente da FCM Agrício Nubiato Crespo. “Em adultos esta síndrome é muito conhecida. Os problemas do estresse, dormir no trabalho e acidentes de automóveis por sonolência já têm sido relacionados com a apneia do sono. Nas crianças o diagnóstico precoce é fundamental, uma vez que a doença leva a um comprometimento físico e neuropsicomotor”, alerta.
CARACTERÍSTICAS E SINTOMATOLOGIA Ronco, sono agitado, problemas comportamentais, hiperatividade, dificuldade de aprendizagem e irritabilidade podem dar pistas aos pais sobre os sintomas da enfermidade. “A prevalência é de 1% a 5% em crianças, mas pesquisas recentes apontam que esta síndrome na população infantil está sendo subestimada pelo difícil diagnóstico. No Brasil não existe um estudo de prevalência do número de crianças com a doença. Mesmo no plano internacional existem poucas pesquisas sobre este tema em crianças. Há pouco conhecimento sobre o assunto, sobretudo pelos pais e familiares”, reconhece Almiro Machado.
Doença é objeto de estudo de pós-doutorado de dentista na FCM Foto: Antonio Scarpinetti
O dentista Almiro José Machado Júnior: “Acreditamos que um tratamento odontológico possa ser eficaz na intervenção da doença”
Ele esclarece que a apneia do sono trata-se de uma doença descoberta recentemente. Crônica e evolutiva, a síndrome possui alta taxa de morbidade e mortalidade, apresentando um conjunto sintomático variado, que vai desde o ronco até a sonolência excessiva diurna, com graves repercussões cardíacas, circulatórias, neurológicas e comportamentais. “O diagnóstico positivo ocorre quando a passagem do ar é inibida por pelo menos 10 segundos, tanto em crianças como em adultos. Só que no adulto, essa pausa respiratória deve suceder, no mínimo, cinco vezes por hora, enquanto que nas crianças isso pode ocorrer apenas uma vez”, exemplifica.
REVISÃO
CIENTÍFICA
Pela novidade do assunto, Almiro Machado realizou uma revisão sistemática dos métodos de tratamento junto à literatura científica internacional. Ele também vem integrando à sua pesquisa alguns resultados de outras investigações num estudo de metanálise. A revisão e o estudo de metanálise já foram apresentados este ano em três eventos internacionais: na 101ª edição do Congresso Mundial de Odontologia (World Dental Congress), em Istambul, Turquia; na 42ª convenção anual da Associação Internacional de Motricidade Orofacial (International Association of Orofacial Myology), em Washington, Estados Unidos; e no congresso da Associação Mundial de Medicina do Sono (World Association of Sleep Medicine). As investigações são
financiadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
POLISSONOGRAFIA
Antes de avaliar as possíveis alterações ósseas, os pacientes são submetidos a outro exame para diagnosticar a existência da síndrome. Trata-se da polissonografia, diagnose considerada parâmetro para este tipo de doença. “A polissonografia é o exame ‘padrão ouro’ para se identificar a apneia. Ainda estamos na fase de seleção de voluntários para a realização das investigações. Apesar de não ser invasivo, é um exame difícil de ser feito, muito trabalhoso, principalmente em crianças”, admite o dentista. Algumas avaliações vêm sendo realizadas nas residências dos pacientes, com um aparelho portátil; e outra parte no Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp. Segundo Almiro Machado é cada vez mais forte a tendência da monitorização domiciliar do sono, tema que integra, inclusive, projeto multicêntrico de pesquisa do qual fazem parte os docentes da FCM Edilson Zancanella e Agrício Crespo. Por meio de sensores, o exame registra, durante o sono, a atividade elétrica cerebral, os movimentos dos olhos, o tônus de músculos faciais, a frequência cardíaca, o fluxo e esforço respiratório, a oxigenação do sangue, o ronco e a posição corpórea. No HC, as avaliações estão sendo feitas no Ambulatório de Distúrbios do Sono, Ronco e Apneia da disciplina de Otorrinolaringologia, sob a coordenação do médico e professor Edilson Zancanella.
Publicações Machado Júnior AJ, Zancanella E, Crespo A. Orthodontic Treatment in Children with Obstructive Sleep Apnea Syndrome (OSAS): a systematic review. International Journal of Orofacial Myology. Washington outubro de 2013.
Machado Júnior AJ, Zancanella E, Crespo A. Maxillary expansion in children with obstructive sleep apnea syndrome(OSAS): meta-analysis. Sleep Medicine. Valência - setembro/outubro 2013.
Machado Júnior AJ, Zancanella E, Crespo A. Obstructive sleep apnea syndrome and maxillary orthopedics. In: fdi 2013, 2013, Istambul. International Dental Journal, 2013. v. 63. p. 1-98.
Machado Júnior AJ, Zancanella E, Crespo A. Rapid Maxillary expansion in children with obstructive sleep apnea syndrome: meta-analysis. Brazilian Journal of Otorhinolaryngology. São Paulo - novembro 2013.
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Campinas, 11 a 24 de novembro de 2013 SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br
linguagem de sinais não é mímica. A sentença que ecoa entre o grupo multidisciplinar de pesquisadores da Unicamp sustenta a relevância do anúncio: um guia, em vídeo, para dentistas em formação aprenderem a Língua Brasileira de Sinais (Libras), além de uma disciplina já no início de 2014 para orientar futuros profissionais da odontologia. A iniciativa – pioneira e inovadora, conforme o grupo envolvido – é fruto de uma parceria entre a Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) e o Centro de Estudos e Pesquisas em Reabilitação (Cepre) “Prof. Dr. Gabriel Porto” da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). O objetivo é humanizar um tipo de atendimento que mesmo em pessoas com facilidade de comunicação já gera receio e medo. “Por mais que a odontologia tenha evoluído, o atendimento ainda causa ansiedade. Existem procedimentos invasivos e que acarretam dor, ainda que em grau reduzido. Para a pessoa que tem um déficit de comunicação, essa ansiedade é muito maior. Esperamos que a iniciativa seja replicada em outras universidades, expandindo o universo de profissionais com capacidade de dialogar com os pacientes surdos”, enseja o cirurgião dentista Jacks Jorge Júnior, diretor da FOP. Cerca de 10 milhões de brasileiros possuem algum tipo de deficiência auditiva, segundo censo realizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Atualmente, o número já passa dos 15 milhões, de acordo com a Sociedade Brasileira de Otologia (SOB). Já a deficiência auditiva severa, que caracteriza a surdez, atinge mais de dois milhões de pessoas, demonstra o levantamento do IBGE. Os números dão a dimensão do problema no país, afirma a linguista Ivani Rodrigues Silva, que coordenará a disciplina de Libras na FOP. “Se levarmos em conta o total de brasileiros, a surdez atinge 1% de toda a população”, calcula a docente do curso de fonoaudiologia da FCM e pesquisadora do Cepre. Ivani Silva ressalta que a Libras não é a sinalização do idioma português, mas outra língua, com estrutura fonológica, morfológica e semântica própria. Ela possui suas especificidades em vários países, ou seja, cada grupo de surdos conta com uma Língua de Sinais própria, exemplifica. “Por isso, a importância não apenas do reconhecimento da surdez como diferença, mas da adoção, na prática, da Libras no Brasil. A Unicamp tem tradição neste tipo de ensino. Realizamos um dos primeiros cursos entre 1984 e 1985 no Cepre, voltado para os pais de surdos e profissionais interessados. Antes, essa língua era conhecida apenas como mímica, muito por conta do surdo ser visto na perspectiva da patologia e da deficiência”, situa. A professora Ivani Silva lembra que a grande mudança, que considerou os surdos como parte de uma minoria, começou após a primeira descrição realizada pela linguista Lucinda Ferreira Brito na década de 1980. “Esta descrição possibilitou mais informações acerca da Língua de Sinais utilizada pela população surda nos centros urbanos brasileiros. O vídeo e a disciplina da FOP contribuirão nesta vertente, que é a de estimular o conhecimento de Libras num determinado grupo de profissionais”, associa. Produzido em formato DVD (Digital Versatile Disc), o filme simula diálogos mais comuns em consultórios odontológicos. Com uma tiragem inicial de mil cópias, a produção foi totalmente realizada na Unicamp. Houve a colaboração da pesquisadora surda Daniele Silva Rocha; da doutoranda do IEL Aryane Santos Nogueira; da aluna do Instituto de Artes (IA) Ravena Maia; do aluno de graduação em letras Eric Silva; e do técnico em produção de vídeo da FOP, Paulo Roberto Rizzo do Amaral. O material deverá ser utilizado como apoio na disciplina de graduação da Unidade, implementada inicialmente como atividade extracurricular, em 2014; e curricular, a partir de 2015.
Em outra
língua Pesquisa multidisciplinar resulta em guia e disciplina sobre Libras para dentistas em formação “A explicação sobre os principais passos do tratamento é a forma mais básica para reduzir a ansiedade. E isso ainda é uma coisa pouco comum em odontologia. Quantos dentistas têm uma preparação para fazer um atendimento mais humanizado? O que se dirá, então, do atendimento voltado a pacientes surdos?”, expõe. Além disso, acentua o diretor, existem procedimentos na odontologia que devem ser estabelecidos por meio do diálogo entre o usuário e o profissional. “O caso de uma prótese para substituir um dente, por exemplo: não existe um perfil universal de dente. Isso é decidido junto com a pessoa que está fazendo o tratamento. Até para situações mais simples, em que o dente pode ser tratado ou removido, quem vai decidir com o profissional é o paciente”, ilustra.
SENSIBILIZAÇÃO O professor Pablo Augustin Vargas, coordenador de Graduação da FOP, foi um dos idealizadores da proposta do vídeo e da disciplina para o curso. Ele se sensibilizou com esta problemática após a participação no workshop “Sentidos no silêncio: experiências e práticas em Libras”. Esse workshop teve duas edições, e após participar da primeira, realizada no campus de Campinas, o professor Pablo se empenhou para que ele também ocorresse na Faculdade de Odontologia. “Fiquei bastante comovido com as experiências e dificuldades de vida dos surdos. E logo depois do workshop transpus esta situação para a minha área profissional, que é a odontologia. Percebi, então, que não estávamos fazendo quase nada. Tive então a ideia que foi prontamente recebida pela colega Ivani e pelo nosso diretor”, recorda Pablo Vargas. A iniciativa da realização dos workshops e posteriormente do material audiovisual, teve também o apoio da docente do IEL
Carmen Zink Bolognini, que à época foi assessora da PRG e, depois, da Coordenadoria Geral da Unicamp (CGU). Ela afirma que o trabalho com toda a equipe envolvida aponta para o sucesso dos projetos interdisciplinares na Unicamp. Segundo Pablo Vargas, será o primeiro curso de graduação do país a contar com uma disciplina direcionada para o ensino de Libras em atendimento odontológico. “Vamos começar a formar uma geração de dentistas que terão contato com esta língua. A proposta é que estes profissionais se sensibilizem de modo a poderem realizar um atendimento mais humano aos pacientes com diferentes níveis de surdez”, projeta. A ação certamente culminará em outras que devem ser desenvolvidas na Unicamp, complementa Ivani Silva. Ela cita a possibilidade da disciplina de Libras integrar os demais cursos da área da saúde, como medicina e enfermagem. “No atendimento de saúde em geral sempre alguma pessoa, familiar ou amigo, acaba falando pelo surdo. E isso causa constrangimento ao paciente, podendo até mesmo prejudicar o tratamento”, justifica.
PESQUISAS
RECENTES
O vídeo e a inclusão da disciplina de graduação na FOP inserem-se no âmbito de pesquisas desenvolvidas na Unicamp por um grupo multidisciplinar que atua na FCM e no Centro de Formação Continuada de Professores do Instituto de Estudos da Linguagem (Cefiel). Os pesquisadores realizam diagnósticos e propõem novos materiais pedagógicos para o ensino de surdos. Ivani Silva, que coordena a equipe, salienta que as investigações procuram elaborar materiais mais críticos e adequados, além de inserir o próprio surdo no grupo. “O objetivo é que as pesquisas deem voz a este grupo minoritário”, delineia.
A coordenadora menciona o caso da pesquisadora surda Daniele Silva Rocha, graduada em pedagogia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e especializada no desenvolvimento e inclusão de surdez pelo Cepre. Daniele, uma das ‘atrizes’ do vídeo, é instrutora de Libras em várias iniciativas promovidas aos funcionários pela Unicamp. Também participam do grupo outra “atriz” do filme, a fonoaudióloga Aryane Santos Nogueira. Ela finaliza doutorado sobre a produção de imagens e a busca por estratégias no processo de letramento de estudantes surdos. Aryane é orientada pela docente Marilda do Couto Cavalcanti, do Departamento de Linguística Aplicada do IEL. Marilda Cavalcanti realizou a interlocução do pós-doutorado da professora Ivani, cujo resultado permitiu a reflexão sobre materiais didáticos para a área da surdez. Outro trabalho vem sendo desenvolvido por Juliana Mello. Ela investiga em seu mestrado a questão das legendas de filmes nacionais para os surdos. Ivani Silva, orientadora da dissertação, explica que, ao contrário dos filmes estrangeiros, as produções nacionais não recebem qualquer tipo de legenda, tornando-se inacessíveis aos surdos. “Além destas pesquisas, há uma investigação que analisa como os cursos de graduação do país estão se organizando para cumprir o decreto de Libras. A pesquisadora Julia Luiza, aluna do mestrado interdisciplinar da FCM e orientada por mim, está fazendo um mapeamento de como as universidades públicas estão se estruturando para responder a este decreto”, acrescenta. A docente da Unicamp refere-se ao Decreto nº 5.626 publicado em 2005 pelo Governo Federal. A legislação determina que a Língua de Sinais deva constar na grade curricular das universidades e nas licenciaturas de ensino superior. Ivani Silva considera, no entanto, que apenas leis são insuficientes para avançar à acessibilidade de minorias no país, especialmente dos surdos.
EMPODERAMENTO
E CONSCIENTIZAÇÃO
Além das leis, a linguista da Unicamp aponta outras duas ações para a evolução deste cenário: o empoderamento dos sujeitos e a conscientização do entorno. Os conceitos, assinala a pesquisadora, foram emprestados de uma colega do IEL, a professora Terezinha de Jesus Machado Maher, que desenvolve estudos sobre língua, cultura e identidade. “No Brasil, as leis já existem. A outra questão é o empoderamento deste grupo minoritário. Temos que dar voz a estas pessoas, de modo que os professores surdos participem da vida da universidade e das pesquisas”, reconhece Ivani Silva. Outra ação fundamental, mais complexa ainda, é a conscientização da população do entorno. “Tem sempre alguém falando que o surdo é ‘coitadinho’, que ele não precisa ir à escola, pois ‘não aprende mesmo’. Por isso, a importância desta iniciativa na FOP. Os alunos de odontologia vão perceber o surdo de outra forma e entender que eles são pessoas normais que apenas se expressam por uma língua diferente.” Foto: Antoninho Perri
DESPREPARO O diretor da FOP admite que a falta de preparo de alguns profissionais da odontologia pode causar sofrimentos desnecessários e excessivos aos pacientes. Jacks Jorge assegura que condutas simples poderiam amenizar o medo e a dor dos usuários.
Daniele Silva Rocha, Aryane Santos Nogueira, Ivani Rodrigues Silva, Pablo Augustin Vargas e Jacks Jorge Júnior, integrantes do grupo de pesquisa, na FOP: esforço conjunto
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Campinas, 11 a 24 de novembro de 2013
Arquiteto defende uso de
madeira em construções Para autor de estudo desenvolvido na FEC, material é ecologicamente correto ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br
e o Brasil pretende mudar sua cultura de edificações, de alvenaria, ou utilizar um pouco mais a madeira, restrita praticamente à etapa inicial das obras, ele precisa desmitificar o seu uso. É necessário mostrar ao consumidor final que esse material é ecologicamente correto e que pode e deve ser priorizado na construção civil. Foi o que concluiu o arquiteto Fabio João Paulo Di Mauro em seu estudo de mestrado apresentado à Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC). Com orientação do professor Mauro Augusto Demarzo, o pesquisador buscou saber o porquê da madeira ser subutilizada no país, a partir de uma visão sistêmica a seu respeito, desde a extração até o seu consumo final em obras da construção civil. Também procurou orientar as pessoas quanto ao significado da madeira ilegal, uma prática comum e, ao mesmo tempo, criminosa. “Quem extrai ilegalmente tem documento frio e por isso não mostra a extração de origem. Para transportar o produto, exige-se o documento de origem florestal (DOF)”, afirma. Essa madeira não tem plano de manejo e nem foi inventariada. Os tratoristas simplesmente vão ao local, os motosserristas cortam as árvores, colocam-nas num pátio, os caminhões as carregam e partem para diferentes destinos. “A falta de políticas públicas sólidas transforma leis e normas relativas à preservação das florestas ideais em suas escritas, porém inócuas quando de sua aplicação e fiscalização, fomentando a ilegalidade”, conta. Também algumas espécies, apesar de não terem interesse, são derrubadas e lá ficam apodrecendo, esquecidas na floresta. “Isso também é madeira ilegal”, define Di Mauro, que por um instante deixou o seu olhar de arquiteto para desvendar a rota da madeira. Segundo ele, alguns madeireiros ilegais tiram proveito da situação: conseguem uma licença concedida para uma área que não tem tanta madeira disponível, a fim de justificar a retirada em outra área, sem liberação. Mas essa extração indiscriminada, apura, é pretérita. Iniciou na Colônia porque os portugueses precisavam de madeira, não apenas para obter o corante para tingir tecidos com a extração do pau-brasil e sim principalmente para a fabricação de embarcações, devastando a mata nativa. Por esse tempo, surgiu um conjunto de normas, leis e diretrizes que regulava o funcionamento dos setores nos quais agentes privados prestavam serviços de utilidade pública – denominados ‘marcos regulatórios’, tentando controlar a extração de madeira. Essa preocupação remonta ao século 16, depois de 1530. A Coroa Portuguesa, apreensiva com a questão ambiental brasileira, criou as ordenações manuelinas, que perduraram até o início do século 17. Envolviam diferentes sistemas de preceitos jurídicos que compilavam a legislação portuguesa. Em 1605, regulamentou-se o pau-brasil. “Foi a primeira espécie de concessão florestal”, realça. Passados 400 anos de exploração do pau-brasil, ele chegou à beira da extinção no século 20, mais precisamente no final da década de 1950. Deste modo, a produção de madeira nativa se voltou para o sul, a priori o pinheiro do Paraná, até o seu quase aniquilamento. A seguir vieram outras espécies como a peroba. Elas foram usadas à exaustão, enquanto não havia proibição. O que se verifica agora são madeiras de outras espécies que são chamadas pinheirinho, pinheiro e peroba rosa-donorte, no sentido de ser uma madeira alternativa à original. Então muitas dessas espécies são vendidas com esses nomes, porém se referem a uma única espécie. A peroba rosa, no caso, está proibida de extração. Se alguém a quiser, terá dois motivos para desconfiar: ou ela é ilegal ou o que essa pessoa está comprando não é peroba rosa. Uma iniciativa em prol das espécies em extinção vem sendo tomada por meio de estudos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) desde a década de 1960, que em breve ficarão disponíveis ao consumidor. A intenção é distribuílos sob a forma de manuais para substituir madeiras mais tradicionais por outras que cumprem as mesmas funções mecânicas e estéticas.
SÃO PAULO
Uma das tarefas de Di Mauro foi entender como a madeira chega ao Estado de São Paulo e o que está sendo feito para banir a ilegalidade em toda cadeia produtiva. De acordo com o estudioso, ela chega por meio da falsificação de documentos. As fiscalizações são feitas por policiais rodoviários que atuam em postos afastados nas fronteiras do Estado e também no Amazonas, pelo Ibama. Quando recebem uma carga de madeira, se pairam dúvidas quanto à sua legitimidade, retiram uma amostra, colocam-na sob o olhar de um microscópio e mandam o resultado via internet para o Instituto Florestal.
Fotos: Pedro Bernardo Neto/ Marlei M. Nogueira/ Divulgação
É o caso do Programa Madeira é Legal, que conta com mais de 20 signatários e que acaba de promover seu 3º Encontro, onde foram lançadas mais duas publicações: Comércio de Madeira – Caminhos para o Uso Responsável (WWF/Sindimasp) e Catálogo de Madeiras Brasileiras para a Construção Civil (IPT). Também empresas há que estão buscando certificação hoje por causa do mercado externo que tinha se fechado para a madeira ilegal. Em 2009, apenas 22% da madeira produzida na Amazônia era exportada. Atualmente, o número saltou para 68%. A certificação é feita por organizações de terceira parte, ou seja, sem fins lucrativos. No Brasil têm os selos FSC (Forest Stewardship Council – em português Conselho de Manejo Florestal) internacional; e o Cerflor (Programa Brasileiro de Certificação Florestal). Essas organizações acreditam as certificadoras que são contratadas para certificar a extração da madeira, ou manejo na floresta, ou até mesmo toda cadeia de custódia, processo que permite rastrear todo o trajeto: da extração ao consumo final, garantindo sua origem.
ACENOS
De cima para baixo, vista de pátio de estocagem, pacote de peças mistas (esq.) e montagem de pacote misto (dir.) e aspecto de xiloteca
Nessa etapa, forma-se uma junta na qual especialistas identificam macro e microscopicamente aquela espécie e, em cerca de uma hora, retornam o resultado ao posto policial certificando se esta madeira pode, ou não, ter sido extraída e comercializada. A iniciativa é louvável, porém, ao mesmo tempo, verifica-se um gargalo sobre o que é feito da carga após ela ser apreendida. Apesar de fazer esta abordagem na dissertação, o pesquisador não chegou à conclusão sobre a destinação e o processo de ‘esquentar’ a madeira para de novo retornar ao mercado. “Os entrevistados, ligados à fiscalização e à identificação de espécies, conhecem apenas fragmentos do assunto, já que se trata de algo fora da esfera legal.” Mas uma coisa é fato: essa madeira já chega ilegal. A carga fica sob tutela de um órgão público, como por exemplo do Instituto Florestal, ligado ao Estado. Como não há meios rápidos de lhes dar um destino, um ‘laranja’ ou o dono da carga acabam sendo seus signatários. Pagam as multas e retiram a mercadoria. A esse ponto, ela é ‘esquentada’ e retorna ao mercado. Por outro lado, existem protocolos de cooperação envolvendo empresas, ONGs e o próprio governo, no sentido de formar um leque de publicações e de normas que orientam o consumidor a não comprarem madeira que não seja legal ou certificada.
As casas brasileiras não são construídas com madeira. Predominam as construídas em alvenaria em função da cultura herdada dos portugueses. Apenas nos Estados do sul do Brasil é possível observar a construção em madeira, fruto da colonização alemã e mesmo italiana. Essa construção teria vantagens, contudo tornou-se um mito em função do fundamento de que não se pode tocar a floresta e de que é preciso preservá-la. Na realidade, critica o mestrando, a floresta é para ser usada. “O que é preciso é conservá-la”, sustenta. E isso envolve extrair a madeira com critério, empregando planos de manejo, uma vez que a madeira é um bem renovável. Além de não poluir, a construção em madeira é um processo menos impactante que o concreto, o tijolo, que exigem muita fonte de energia e de calor. A madeira sozinha absorve o carbono da atmosfera e da terra. Com pouco processamento, é possível fazer uma casa. Outro mito a ser derrubado, a seu ver, é o de que a madeira precisa de outras soluções, por ser um material suscetível a ataque de pragas e fungos. Ocorre que há tratamentos eficientes para isso e espécies que resistem naturalmente. Muitas casas com 100 anos de uso têm o madeiramento perfeito. Seu tempo de vida útil é de no mínimo 50 anos, a mesma média de uma casa em alvenaria. A madeira no país, relata Di Mauro, é subutilizada para fazer tapume, pontalete, fôrma de concreto. Infinitas vezes é descartada em caçambas. Para ficar definitiva na obra, ela deve ser uma esquadria de madeira, uma janela, uma porta ou até mesmo uma estrutura do telhado. Só que esses usos ficam restritos ou escondidos, representando uma parcela ínfima da construção no Brasil (5% a 10% no máximo), que conta com a exuberância das florestas nativas e poderia explorar a madeira como recurso renovável. Di Mauro propôs dois acenos para trabalhos futuros. Um deles é o de explorar e incentivar mais o emprego da madeira dentro das certificações de edifícios, como os selos Leed e Aqua. O outro é investigar mais a “caixa preta” das destinações da madeira ilegal apreendida. Todos os entrevistados, recorda ele, disseram saber que a madeira tem sido adotada em construções de caráter social, mas há poucas evidências documentadas. Então o que de fato é feito com a madeira apreendida? É a dúvida que fica. Foto: Antoninho Perri
Publicação Dissertação: “Madeira na construção civil: da ilegalidade à certificação” Autor: Fabio João Paulo Di Mauro Orientador: Mauro Augusto Demarzo Unidade: Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC)
O arquiteto Fabio João Paulo Di Mauro, autor do estudo: “Quem extrai ilegalmente tem documento frio e por isso não mostra a extração de origem”
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Campinas, 11 a 24 de novembro de 2013
Método barateia e simplifica detecção de chumbo no solo Técnica desenvolvida no IQ dispensa o uso de equipamentos sofisticados LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br
m método rápido e simples de análise química para detectar chumbo em amostras como de solo e água, mesmo em baixas concentrações, é o resultado da tese de doutorado de Patrícia de Pádua Castro, que foi orientada pela professora Adriana Vitorino Rossi, no Instituto de Química (IQ). “Spot test quantitativo para chumbo com análise de imagens, aplicado a solos” é o título da tese. Segundo a autora, o método permite detectar níveis de contaminação que impliquem riscos à saúde e ao meio ambiente e dispensa o uso de equipamentos sofisticados, podendo ser adaptado para aplicação direta no campo. Patrícia Castro já trabalhava com Adriana Rossi quando a orientadora era diretora educacional do Museu Exploratório de Ciências (MC) da Unicamp. Segundo a professora do IQ, a ideia inicial era levar um procedimento de química analítica para fora dos laboratórios, aproveitando também ambientes de educação não formal. “A ideia integra-se com o foco do nosso trabalho, que está em projetos envolvendo métodos simples e acessíveis, os chamados spot tests, em que se usam quantidades muito pequenas de amostras e reagentes, alcançando-se resultados de concentrações que podem ser muito baixas. Queríamos instigar nas pessoas a curiosidade sobre como se faz para descobrir como um solo, por exemplo, tem alguma contaminação.” Porém, no decorrer da pesquisa, como recorda a professora, a parte analítica foi ganhando corpo e demandando mais trabalho, não sobrando tempo hábil para que a doutoranda testasse o método em espaços educacionais. “Decidimos, então, nos ater ao spot test para determinação de chumbo, um composto altamente tóxico que pode estar presente no solo e em produtos como tintas de parede e de brinquedos. E, na época, Patrícia estava inspirada por sua gravidez: crianças são mais suscetíveis aos efeitos toxicológicos.” A autora da tese explica que o chumbo é um contaminante que ocupa a segunda posição no ranking da Agência para Registro de Sustâncias Tóxicas e Doenças (2011). A exposição ocorre geralmente por ingestão ou inalação, em áreas próximas a atividades como de mineração, reciclagem de baterias e uso de aditivos em combustíveis, tintas e pesticidas. “As crianças estão mais suscetíveis por brincarem no chão, levanto objetos e mãos à boca; e, como elas estão em fase de desenvolvimento físico e neurológico, o acúmulo e os danos do chumbo são maiores.” A maior vantagem do método desenvolvido na pesquisa em comparação aos usuais, de acordo com Patrícia Castro, está na pequena quantidade de reagentes e amostras, com a necessidade de apenas 10 microlitros para promover a reação analítica. “É um teste colorimétrico, rápido, em que se mistura uma gota do reagente e outra da solução contendo a amostra, o que também gera pouquíssimo resíduo e vai ao encontro da preocupação ambiental. Além disso, estamos propondo a quantificação de chumbo através da análise de imagens.”
Nesse sentido, Adriana Rossi destaca a escolha do dispositivo microfluídico (um cartão de papel que apresenta uma série de círculos desenhados com cera), impregnado com o reagente rodizonato. “Os círculos são como pequenos vasos de reação. De acordo com o gotejamento das soluções, aparecem diferentes intensidades de cor vermelha; quanto mais colorido, maior a quantidade de chumbo presente. A rigor, trata-se de uma aplicação semiquantitativa do método, uma comparação visual.” A professora observa que a análise da foto digital do cartão reagente, por meio de programas computacionais, possibilita transformar as cores em números, que podem servir para quantificar o chumbo na amostra, em concentrações mais baixas que a observação visual permitiria. “Comparando os resultados obtidos por nosso procedimento barato e pelo método instrumental espectrometria de emissão ótica com plasma indutivamente acoplado (ICP OES), obtivemos concordância entre os dois métodos. Outra vantagem é que os cartões coloridos podem ser arquivados para que os resultados sejam conferidos posteriormente, ao passo que a amostra analisada num equipamento nem sempre pode ser armazenada.” Uma questão colocada por Patrícia Castro, referente ao uso de reagentes como o rodizonato, é que eles não reagem somente com chumbo, mas também com outros elementos como bário e estrôncio, formando, igualmente, compostos coloridos. “Como há possibilidade de interferências, nosso método pode ser usado como uma pré-análise, antes de um teste sofisticado. Numa situação de solo contaminado, não sabemos a dimensão da área atingida, o que exige coletas em vários pontos e em várias quantidades. O custo de uma análise instrumental é alto, havendo centros de pesquisa que não possuem o equipamento, tendo que contratar terceiros para o trabalho.” Adriana Rossi reitera que este processo é muito trabalhoso, sendo necessário definir o volume de amostra a ser coletado, em que pontos da área e em qual profundidade, seguindo os devidos protocolos. “Para a análise sofisticada, todo esse material deve ser transportado para o laboratório. Ainda que o nível de precisão em termos de quantificação do chumbo não seja o mesmo, é muito mais prático usar nosso método para detectar, ainda no campo, onde existe muito ou pouco chumbo, delimitando a faixa de exposição.
Foto: Antonio Scarpinetti
A professora Adriana Vitorino Rossi, orientadora: “Os cartões coloridos podem ser arquivados para que os resultados sejam conferidos posteriormente”
Ao invés de mil amostras, podemos transportar somente trezentas, diminuindo bastante o tempo e o custo da análise, por exemplo.” Patrícia Castro informa que os testes para detecção de chumbo são frequentes, pois além das usinas de reciclagem de baterias, há lugares abandonados que também são fontes de contaminação, a exemplo de aterros e postos de combustível desativados (até a década de 1980, adicionava-se chumbo à gasolina). “Poluição é responsabilidade das empresas, que devem coletar amostras para monitoramento ambiental. O Conama [Conselho Nacional do Meio Ambiente] estabelece limites para a concentração de chumbo e outras substâncias tóxicas nos solos e águas subterrâneas com base em três cenários: agrícola, urbano e industrial, sendo o cenário agrícola o que permite as menores concentrações, devido à produção de alimentos”. A autora acredita na disseminação do método desenvolvido na pesquisa, diante da crescente demanda por spot tests para tomada de decisões rápidas em campo. “Esse tipo de teste já é bastante comum em análises clínicas, como do nível de glicose para detectar diabetes. Outro exemplo é de populações de regiões remotas que precisam de exames clínicos, mas não contam com médicos e hospitais. O mais enriquecedor nessa pesquisa foi o resgate de uma técnica antiga, que remonta à década de 1950, para adotá-la com toda a tecnologia de que dispomos hoje. Até para mostrar que conhecimento não se perde, vai se aprimorando.”
Foto: Divulgação
Publicação
Patrícia de Pádua Castro, autora da tese: “Como há possibilidade de interferências, nosso método pode ser usado como uma pré-análise”
Tese: “Spot test quantitativo para chumbo com análise de imagens, aplicado a solos” Autora: Patrícia de Pádua Castro Orientadora: Adriana Vitorino Rossi Unidade: Instituto de Química (IQ)
O metal e a saúde humana Artigo publicado na página do Conselho Regional de Química (IV Região) dá conta de que as propriedades tóxicas do chumbo e de seus compostos continuam causando danos à saúde humana e ao meio ambiente, ainda que encanamentos, taças e garrafas de bebida fabricadas com o metal sejam coisas da Roma antiga. E mesmo que, em período recente, o chumbo tenha sido eliminado das tintas e substituído pelo etanol como agente antidetonante na gasolina. O mesmo artigo, entretanto, alerta que o chumbo continua presente, por exemplo, nas nuvens de poeira em demolições de construções antigas, sendo inalados pelos trabalhadores em elevada quantidade. Antonio Carlos Massabni, Pedro Paulo Corbi e Maurício Cavicchioli, autores do texto no site do CRQ, explicam que a absorção de chumbo ocorre geralmente através do estômago, do intestino e do sistema respiratório. O metal atinge primeiramente os tecidos dos rins e do fígado, através do sangue, e, depois de expelido em parte pela urina, é redistribuído no organismo. Os autores atentam que mais de 90% do chumbo fica depositado no organismo e uma pequena quantidade pode se acumular no cérebro. Os problemas neurológicos são mais comuns em crianças, e os problemas gastrointestinais em adultos. Ainda conforme o artigo, a encefalopatia, doença neurológica decorrente do acúmulo de chumbo no cérebro, é a mais séria das enfermidades causadas por este metal, com sintomas iniciais como vertigens, dores de cabeça, insônia e irritabilidade, que dificultam o diagnóstico. Se a exposição ao chumbo perdurar, o paciente vai apresentar sintomas semelhantes aos de tumores cerebrais, o que também dificulta o diagnóstico. Convulsões e delírios, que são os sintomas subsequentes, podem levar a pessoa ao coma.
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Campinas, 11 a 24 de Foto obtida a partir da animação em 3D para a molécula de monóxido de carbono, utilizando o software Blender ®
Animações e
de Química m
Peças produzidas por engenheiro já gerar MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br
Ilustrações: Divulgação
m dada altura da aula, o professor pede para que os alunos imaginem como se dá uma determinada reação química, oferecendo como suporte uma figura estática extraída de um livro. Por mais que ele domine e saiba explicar o conteúdo e que os estudantes sejam criativos, o docente jamais conseguirá que todos criem uma mesma imagem mental acerca do tema proposto. Um problema e tanto, não? Pois essa dificuldade no campo pedagógico tem uma excelente chance de ser superada, graças a um estudo desenvolvido para a tese de doutorado do engenheiro eletricista Manuel Moreira Baptista, defendida recentemente no Instituto de Química (IQ) da Unicamp. O pesquisador criou animações em 3D para serem usadas no ensino de Química, mas que podem ser adaptadas a outras disciplinas. A proposta está sendo tão bem aceita, que as 70 animações já produzidas por ele geraram cerca de 1 milhão de visualizações no canal do YouTube (www.youtube.com/ user/m770596), originárias de 148 países. Além disso, foram efetuados mais de 360 mil downloads das animações a partir do site www.quimica3d.com. O trabalho de Baptista é permeado pelo ineditismo, como faz questão de observar o seu orientador, o professor Pedro Faria dos Santos Filho. “Não temos notícia de que exista outro estudo do gênero no mundo”, afirma o docente. Justamente por causa da originalidade, a pesquisa cumpriu uma espécie de trajetória épica até ser concluída. Antes de falar sobre os obstáculos enfrentados pelo autor e seu mentor, entretanto, convém falar primeiramente das animações e de como elas podem contribuir para tornar o aprendizado de Química mais efetivo e prazeroso. O professor Pedro Faria explica que os estudantes de hoje não são os mesmos das gerações passadas. A chamada geração Y é mais imediatista que as anteriores, tem o domínio de uma série de tecnologias e demonstra interesse por temas que possam estar diretamente relacionados à sua realidade e visão de mundo. “Ou seja, não dá mais para continuar ensinando como fazíamos no século passado. Se fizermos isso, o aluno sairá da sala ou dormirá na carteira”, adverte o docente. Ocorre, porém, que os modernos recursos pedagógicos disponíveis para tentar seduzir essa juventude são, com muita frequência, inadequados. Na maioria das vezes, eles carecem de conceito.
Um exemplo citado por Pedro Faria são os conteúdos disponíveis na internet, como vídeos ou animações. Grande parte, segundo ele, transmite informações imprecisas ou completamente equivocadas, justamente por causa da deficiência conceitual. “Às vezes, o vídeo e a animação são muito bem feitos. Artisticamente, dão um show. No entanto, quando você vai analisar o que está sendo transmitido, fica com os cabelos em pé”. Quanto aos materiais pedagógicos convencionais, como os livros, eles podem ser conceitualmente corretos, mas tendem a não conquistar os estudantes. “Se você sugerir que um aluno leia uma obra de 200 páginas para discuti-la uma semana depois, muito provavelmente ele sequer passará da capa”. Foi pensando nessas barreiras que Baptista criou as animações em 3D para serem usadas no ensino de Química. Para concebê-las, ele contou não apenas com os profundos conhecimentos do seu orientador, mas também com uma exaustiva pesquisa em diferentes fontes, além de diversas experiências em salas de aula, que tiveram a participação de estudantes de pós-graduação do IQ. “Ao mesmo tempo em que aperfeiçoamos os conceitos que têm sido difundidos, criamos uma série de códigos e símbolos e estabelecemos uma convenção de cores para átomos e orbitais, de modo a tornar o aprendizado de Química menos dúbio e mais prazeroso. Em última análise, o que fizemos foi criar, por meio das animações em 3D, uma nova linguagem com o objetivo de fazer com que o estudante se sinta estimulado e desafiado”, detalha o autor da tese. Os temas abordados nas animações são Teoria do Orbital Atômico, distribuição eletrônica, hibridização, Teoria do Orbital Molecular, Teoria de Ligação de Valência, Teoria VSEPR, estruturas de Lewis, estruturas cristalinas dos compostos iônicos e metais (cela unitária, empacotamento e retículo cristalino), transformações químicas e polímeros. Nas imagens animadas, a parte microscópica da Química ganha outra dinâmica. “Com esse tipo de recurso pedagógico o professor não precisa mais pedir para que o aluno imagine a reação química, pois ele está vendo em detalhes como ela acontece dinamicamente”, diz o professor Pedro Faria. O docente reforça, porém, que antes de as imagens serem produzidas é preciso discutir muito os conceitos envolvidos e planejar mais ainda, para evitar erros conceituais. “O cuidado precisa ser grande, pois a imagem fixa mais que a palavra. Ou seja, se houver algum erro conceitual, ele será mais difícil de ser apagado posteriormente”. Pedro Faria considera que, embora haja espaço para novas reflexões e aperfeiçoamentos, esse tipo de recurso pedagógico veio para ficar. “Evidentemente, os professores terão que se preparar para lidar com esse novo recurso pedagógico e aprender a explorar toda a sua potencialidade. Além disso, também têm que estar
Fragmento da animação que ilustra a reatividade da molécula de monóxido de carbono frente a metais de transição e seu correspondente risco para a saúde humana
preparados para os novos questionamentos por parte dos alunos, que tenderão a se tornar mais críticos e participativos”, entende. Tanto orientador quanto orientado revelam que por mais que acreditassem no estudo, eles não poderiam imaginar que ele teria tamanha repercussão, principalmente no plano internacional. Desde que as animações começaram a ser disponibilizadas na Internet, o interesse pela ferramenta só fez crescer. O conteúdo armazenado no YouTube, em somente dois anos e meio, já ultrapassou 1 milhão de visualizações. Os acessos partem desde países mais desenvolvidos, como Estados Unidos, Canadá e Alemanha, até nações pouco desenvolvidas como Bangladesh, Moçambique e Haiti, dentre outras. “As animações só não foram visualizadas ou baixadas em países onde a Internet é controlada, como China e Coréia do Norte. Isso significa que os problemas relacionados ao ensino de Química que encontramos aqui também existem em todos esses lugares”, pondera Baptista, que também tem licenciatura em Química e Física. Outro dado interessante relacionado aos acessos é que 70% das pessoas visualizam as animações do início ao fim. “Isso demonstra que a maioria está, de fato, interessada no conteúdo oferecido, ou seja, não se trata somente de curiosidade. Além disso, a ferramenta que registra os acessos mostra que eles aumentam nos períodos letivos e nos dias do meio da semana e caem aos sábados e domingos e nas épocas de férias. Este comporFoto: Divulgação
O cientista da computação Ton Roosendaal, que concebeu o programa: manual enviado por navio
Os efeitos eletrônicos envolvidos nas reações químicas ficam muito mais evidentes quando são explicados através de animações em 3D
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e novembro de 2013
em 3D tornam ensino
mais efetivo e prazeroso
ram cerca de 1 milhão de visualizações na internet, originárias de 148 países Fotos: Antonio Scarpinetti
tamento é típico de um público formado por professores e alunos e é uma clara evidência de que o conteúdo tem auxiliado nos estudos desses internautas”, acrescenta o autor da tese. No ranking de países que mais visualizam as animações, aparecem os Estados Unidos em primeiro lugar, seguidos de Índia e Brasil. “Um aspecto curioso diz respeito à faixa etária dos usuários. No Brasil, 43% das visualizações são de pessoas acima de 55 anos, faixa etária que corresponde a professores em estágio adiantado de suas carreiras. Na Índia e Paquistão, cerca de 20% têm entre 13 e 17 anos, faixa etária que corresponde a alunos dos ensinos fundamental e médio. Ainda que esses números mereçam uma melhor avaliação, eles podem estar indicando que tanto professores quanto estudantes estão recorrendo à ferramenta”, arrisca Baptista. Segundo ele, todas essas informações foram obtidas a partir das estatísticas do YouTube e do formulário que o usuário precisa preencher antes de fazer o download das animações no site química3d.
DE
NAVIO
Quem toma conhecimento das animações em 3D desenvolvidas na Unicamp sequer pode imaginar que caminhos e descaminhos orientador e orientado tiveram que trilhar para poder viabilizá-las. Antes de conhecer o professor Pedro Faria, o autor da tese procurou outros docentes da Universidade, fora do IQ, mas nenhum se interessou pelo projeto. “Os professores achavam a proposta muito inovadora e arriscada”, conta. Quando Pedro Faria aceitou orientar o estudo, outros obstáculos surgiram, principalmente por causa do ineditismo da abordagem. No Instituto, ninguém tinha muito claro como lidar e avaliar um tema tão original. Outro obstáculo transposto foi em relação ao software usado para gerar as animações, de nome Blender. O programa, que pode ser baixado gratuitamente pela Internet, foi concebido pelo cientista da computação Ton Roosendaal, originalmente para a produção de desenhos animados. “Quando eu fiz o download do programa, achei que seria fácil trabalhar com ele. Entretanto, descobri que o software era extremamente complexo e que sem a ajuda do manual eu não iria muito longe. Acontece que busquei o documento na web e na literatura, mas não encontrei nenhuma referência. A saída foi escrever para Roosendaal e solicitar uma cópia do manual”, lembra Baptista. Generosamente, Roosendaal, que preside a Blender Foundation, respondeu que enviaria o manual para a Unicamp. “Fiquei muito ansioso, pois queria aprender a lidar com o software o mais rápido possível. Esperei umas três semanas, e nada de a encomenda chegar. Com todo o cuidado do mundo, escrevi novamente para ele, perguntando se havia ocorrido algum problema. Roosendaal então me respondeu que já havia enviado o manual, mas por navio, pois era o meio mais barato, visto que a sua fundação não dispunha de grandes recursos financeiros. Resultado: o manual levou três meses para chegar, mas chegou”, diverte-se Baptista. O próximo desafio a ser superado era conseguir transformar as recomendações do manual em imagens tridimensionais animadas. “Foi um sufoco. Levei uns três meses para fazer com que um cubo se movimentasse na tela do computador. De modo geral, cada minuto de animação exige 80 horas de trabalho!”, pormenoriza Baptista. Com o decorrer do tempo, entretanto, ele conseguiu dominar a ferramenta e passou a desenvolver as animações baseadas nas recomendações do professor Pedro Faria e nas pesquisas complementares já mencionadas. Em seguida, as animações foram avaliadas no próprio IQ por meio de questionários respondidos por alunos de graduação e pós-graduação. A iniciativa procurou apurar dois aspectos principalmente: que tipo de planejamento o professor deveria fazer para inserir o recurso em uma aula tradicional e que contribuição as animações poderiam dar para o ensino-aprendizado de Química em aulas presenciais. “As respostas dos questionários aplicados nos permitiram concluir que as animações facilitaram a visualização tridimensional e estimularam o desenvolvimento da capaci-
Manuel Moreira Baptista, autor da tese: “O que fizemos foi criar, por meio das animações em 3D, uma nova linguagem com o objetivo de fazer com que o estudante se sinta estimulado e desafiado”
Pedro Faria, orientador do trabalho: “Com esse recurso pedagógico o professor não precisa mais pedir para que o aluno imagine a reação química, pois ele está vendo em detalhes como ela acontece dinamicamente”
dade de abstração dos alunos”, assegura o professor Pedro Faria. De acordo com ele, embora a ferramenta tenha sido criada para auxiliar no ensino de Química, ela pode ser adaptada para outras disciplinas. “Tomemos como exemplo um professor de geografia. Ao falar sobre vegetação, ele não precisará mais exibir uma fotografia ou um filme mostrando o Cerrado, pois poderá colocar o aluno, por assim dizer, dentro daquele ambiente com as animações em 3D”, aventa o docente do IQ, demonstrando uma indisfarçável empolgação.
Publicação Tese: “Desenvolvimento e utilização de animações em 3D no ensino de química” Autor: Manuel Moreira Baptista Orientador: Pedro Faria Unidade: Instituto de Química (IQ)
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Campinas, 11 a 24 de novembro de 2013
A trajetória de Márcia Cristina Quaiatti Antonelli, técnica do Instituto de Química MARIA ALICE DA CRUZ halice@unicamp.br
ode ser que a escolha profissional tenha o toque dos “palpiteiros”, mas a profissão que faz bater o coração e marejar os olhos, a ponto de querer se alimentar dela todos os dias, pode se acuar com as apostas de terceiros. Trabalho tem de ter sinonímia com vida e não com dinheiro, ainda que este garanta sustento. Muitas vezes, para ter alegria em plenitude (ou quase isso), é preciso unir duas ou três áreas numa só vida. Daí a importância de o currículo escolar passear por todas as áreas do conhecimento desde a infância, inclusive a arte, esta que, de um cantinho no projeto pedagógico, pode se tornar profissão. Não só a profissão que dá sustento, mas também a que torna o ser humano mais sensível, criativo e crítico. “Quando se fala em currículo escolar, as pessoas, até mesmo as famílias, não pensam no benefício que a vivência artística tem na vida do indivíduo. Por meio dessa manifestação, a pessoa pode ter criatividade até mesmo para gerenciar as surpresas da vida e sensibilidade para conviver, saber se relacionar com as pessoas no mundo do trabalho ou na academia”, defende Márcia Cristina Quaiatti Antonelli, artista plástica e técnica em química do Instituto de Química (IQ) da Unicamp. Nem sempre as habilidades para a arte se manifestam na infância. Na vida de Márcia, o desejo de viver de arte teve início no meio da formação técnica em Química, quando a Escola Técnica Conselheiro Antônio Prado (Etecap) ainda se chamava Coticap. “Comecei a fazer um curso de óleo sobre tela e me apaixonei. Decidi estudar artes plásticas. Fui orientada por meus pais a buscar formação técnica para sair profissional do ensino médio, mas, no meio do caminho, encontrei a pintura e me inscrevi no vestibular da PUC-Campinas.” Mesmo trabalhando na sala de aparelhos – infravermelho –, no Instituto de Química, Márcia encontrou outro meio de se dedicar à arte: a transmissão de conhecimento. Com o projeto pessoal de resgatar a dedicação à pintura, interrompida pela decisão de priorizar a educação dos filhos, surgiu o convite da psicóloga da unidade, Maria Helena Santos Almeida, em 2009, para ministrar as oficinas de pintura em tela do Programa de Integração do Instituto de Química (PIQ). A atividade avivou mais ainda em sua cabeça as cores das tintas, a textura das telas e ela passou a escrever seus próprios projetos, submetidos a diferentes órgãos da Universidade. Márcia Cristina Quaiatti Antonelli com seus alunos durante oficina e pintando (destaque), no Instituto de Química: transmitindo conhecimento
Entre a arte e
o infravermelho Já que na infância esta vivência nem sempre é proporcionada, Márcia procura oferecêla a outras pessoas na fase adulta, por acreditar que a pintura leva o indivíduo a exercitar a arte como um todo, ajudando-o a expor suas ideias e sentimentos, além de expandir sua visão de mundo e torná-lo mais feliz. A jornada como responsável pela sala de infravermelho do Laboratório de Aparelhos do IQ é dividida com oficinas de pintura dedicadas a quase 90 funcionários da Universidade. “Essas oficinas são semanais e trabalham com a pintura acadêmica, sendo abertas a funcionários e professores de toda a comunidade da Unicamp.” A experiência com os alunos do PIQ motivou Márcia a criar mais grupos de servidores com interesse em pintura. Em 2011, colocou as tintas na mesa, e ofereceu seus méritos ao Grupo Gestor de Benefícios (GGBS), apresentando o projeto ao coordenador, Edison Lins, o qual rapidamente abraçou a proposta. Desde então, não tem um segundo de seu tempo vago na Unicamp. As oficinas geralmente acontecem no horário de almoço, final de tarde ou aos sábados em unidades como Hospital da Mulher José Aristodemo Pinotti (Caism), Hospital de Clínicas e Diretoria Geral de Recursos Humanos (DGA). Em cinco anos de ensino de arte, a artista plástica já pode relacionar resultados positivos alcançados pelos alunos, não somente do ponto de vista estético, mas também pessoal. “Eles relatam melhoria na qualidade de vida, realização pessoal, diminuição do índice de estresse, melhoria no relacionamento interpessoal, na concentração, na atenção ao trabalho e da autoestima, autovalorização e alívio nas angústias psíquicas.” Pintura abstrata, para trabalhar a criatividade; casarios, para exercitar sombra, luz e perspectiva; paisagens e lápis de cor. É assim, por meio de programas temáticos, que Márcia consegue melhorar a qualidade técnica e estética das pessoas, mas também estabelecer-se como professora. “Descobri que gosto de ensinar. Esse foi meu grande presente. Até porque as atividades acabam se configurando em qualidade de vida para mim, a partir do momento em que contribuo para esse desenvolvimento pessoal e ao mesmo tempo em que passo a interagir com outras pessoas. Estudamos, pintamos, conversamos, enquanto nos divertimos muito também.” Críticas? Sempre no sentido de melhorar a performance sem perder a mão do projeto de qualidade de vida. “Há pessoas que necessitam de mais ajuda que outras. É preciso respeitar essas diferenças. Tenho de saber
lidar com a autoestima. Avalio, aconselho a melhorar a sombra, oriento sobre o uso das cores e nuances que não tornem a imagem ‘sem vida’, e alguns até retornam com observações críticas sobre obras que observaram em espaços públicos. Sinal que os encontros aguçam o senso crítico deles. Isso é muito gratificante para quem ensina.” Entre os aprendizes, alguns já estão em fase de lapidação. “Neste grupo que estou há mais tempo, alguns alunos pintam em casa e me trazem somente para avaliar. Um deles, Flávio Cezar Geraldo, do Recursos Humanos do IQ, diz que acorda de madrugada, perde o sono e começa a pintar. Quando chega à aula, somente oriento-o sobre o que pode estar faltando em seu trabalho.” Flávio está tão envolvido com a pintura que, a cada viagem, fotografa inúmeras imagens e as reproduz em suas telas, segundo Márcia. Por mais que aprecie muitas cores e movimentos expansivos, Márcia não interfere na escolha de alunos de nível avançado. “Alguns usam pouca tinta e abusam da transparência; outros preferem usar pincéis bem finos, e eu respeito, pois cada um tem seu próprio estilo dentro da pintura.” Izabel Filippi, Nilza Silva Marin, Iris Duarte, Angela Custodio, Marlene e Adriana Rossi também são destaque na pintura por terem habilidades desenvolvidas a ponto de escolherem suas fotos e pintarem em casa. Em outras unidades, Márcia também tem alunos nesta fase de desenvolvimento em relação à pintura. Entre eles estão Ana Cristina Ramos, Maria José Frungillo, Elza Biffon , Vânia Santos, Sueli Lopes, Rosana Sartori e Eliane Scarim, participantes dos grupos da DGA e HC. Apesar de todo apoio que tem recebido, Márcia acredita que as unidades têm de apostar mais em atividades que ofereçam mais qualidade de vida a seus funcionários. “Gostaria de poder me dedicar a esta atividade em tempo integral, para poder melhorar a vida de mais pessoas, além dessas com as quais tenho essa troca. Há unidades que são carentes em relação a programas voltados à melhoria da qualidade de vida de seus funcionários. Estas precisam pensar mais nos servidores, porque, motivados, passam a trabalhar melhor.” O empenho levará as telas para o Espaço Cultural Casa do Lago, onde alunos do curso de pintura acadêmica e de abstrato apresentarão suas produções em exposição a ser realizada em 2 de dezembro. O grupo do Instituto de Química fará a Exposição no Espaço da DGA em 11 de dezembro.
Em 2014, o projeto será ampliado com oficinas de lápis de cor para outras unidades da Unicamp. “É importante para nós a abertura de espaços como este, com foco na arte abstrata. São oficinas rápidas, com duração de dois dias, realizadas nas unidades. Esta atividade educa, especialmente, para o aguçamento dos sentidos e elaboração do pensamento numa maneira singular de visualizar a própria arte, mais ampla, já que os reconhecimentos da realidade são inexistentes e não essenciais”. Segundo Márcia, o resultado das oficinas de abstrato apresenta telas ímpares, com traços, linhas e movimentos distintos, com respeito ao estilo próprio de criação e expressão artística de cada autor.
QUÍMICA
A química, área que assumiu em 1987 na Unicamp, é outro lado seu, conforme diz a artista. A história na sala de infravermelho é marcada pela boa relação com os amigos de trabalho e pelo entrosamento com os alunos, que passam por treinamento na sala de infravermelho. “Sou responsável pela sala de infravermelho há muitos anos. Sempre trabalhei com treinamento de alunos. Foi com eles que descobri o quanto gostava de ensinar. Acabei sendo selecionada no concurso em 1987 por ter trabalhado durante três anos em uma indústria química. Lá dificilmente seria liberada para fazer arte.” A volta aos pincéis revelou não somente uma educadora artística, mas também uma aluna aplicada, com direito a ver suas obras percorrendo países distantes por meio do Circuito Internacional de Arte Brasileira. No final deste ano, seu trabalho irá para a Turquia. Até porque um professor de arte não deve parar de estudar nunca. Hoje, Márcia é aluna-artista em uma escola de Amparo e Jaguariúna, por meio da qual submete suas obras à avaliação de um comitê julgador que tem selecionado seus trabalhos pelo menos nas últimas quatro edições do catálogo. “Enviamos duas obras, de acordo com o tema proposta a cada edição, e eles escolhem uma obra de cada artista selecionado. É um intercâmbio muito importante.” O Circuito tem como objetivo promover o reconhecimento e a independência profissional e enriquecer o currículo do artista brasileiro. No foco da organização da publicação estão também a abertura de mercado externo de forma direta; intercâmbios de movimentos culturais entre os estados participantes; a participação do artista, como voluntário, em ações sociais de cultura em se município, valorizar a diversidade de divulgação do artista e do evento para a imprensa local, democratizar acesso a bens de cultura e favorecer o diálogo com outras culturas e a criação artística emergente. Fotos: Antoninho Perri
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Campinas, 11 a 24 de novembro de 2013
Livro retrata formação da cultura balneária gaúcha Fotos: Divulgação
Prática dos banhos de mar terapêuticos teve início na segunda metade do século 19 LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br
História do veraneio no Rio Grande do Sul” é um livro de Joana Carolina Schossler, doutoranda do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), que mostra a formação da cultura balneária no litoral norte gaúcho na primeira metade do século 20. Para a obra lançada em outubro pela Paco Editorial, a autora estudou os balneários de Cidreira, Tramandaí, Capão da Canoa e Torres, tecendo a história da vida junto ao mar em um território lembrado quase que exclusivamente pela imensidão de seu pampa. O foco nos banhos de mar terapêuticos, conhecidos naquele período como talassoterapia, rendeu à pesquisa o prêmio Rubens Maciel de História da Medicina (2010), oferecido pela Associação Médica do Rio Grande do Sul. “A visão paradisíaca de águas claras, quentes, coqueiros e céu azul é um ideal de litoral que a indústria turística passou a vender depois de descobrir as belezas das praias mediterrânicas. Porém, muito antes das águas claras e quentes se tonarem desejo social, eram as praias frias de Dieppe, Trouville, Ostende e Scheveningen que atraíam curistas e banhistas para a prática dos banhos terapêuticos”, conta Joana Schossler. “O litoral gaúcho muito se assemelha com algumas praias europeias e suas águas frias também tiveram finalidades terapêuticas a partir do final do século 19.” Segundo a autora do livro, as águas oceânicas do Rio Grande do Sul possuem baixas temperaturas devido às correntes provenientes das Malvinas; e essas águas nunca serão transparentes, por causa da formação geológica, dos ventos fortes e das algas que influenciam na sua coloração. “Não é um litoral muito atrativo em termos turísticos, mas é o destino de muitos gaúchos, que todos os anos repetem a prática de passar um tempo junto ao mar. Existe até uma piadinha contando que Deus vinha desenhando o litoral brasileiro com todo o capricho, até a praia de Torres, onde interrompeu o trabalho para um descanso – foi sugestão do diabo, que aproveitou para surrupiar a caneta e traçar um retão no resto da costa.” A doutoranda da Unicamp explica que os gaúchos começaram a prática dos banhos de mar na segunda metade do século 19, para a cura de diversas doenças, sobretudo as respiratórias, por recomendação de médicos europeus imigrantes ou brasileiros formados na Europa. “Geralmente, a família acompanhava o doente nas viagens, que podiam durar dias ou meses, e eram agenciadas em Porto Alegre pelos próprios empreendedores instalados no litoral. Naqueles primórdios, o transporte era feito em carroças de boi, pois não havia estradas ou mesmo caminhos formados, muito menos a constituição de balneário como conhecemos hoje.” Ocorre que a demanda, conforme Joana Schossler, foi levando ao aprimoramento dos serviços, como de carretas que transportavam as pessoas até as praias, e também à construção de hotéis. “O primeiro hotel do litoral norte, em Tramandaí, veio a se chamar Hotel da Saúde, justamente pela prática dos banhos terapêuticos nessa praia. Os hoteleiros tiveram intensa participação na formação dos balneários e de seus melhoramentos, ajudando na construção de estradas e criando atrativos para os banhistas – a linha entre a terapia e o prazer de estar junto ao mar ainda era tênue.”
A CULTURA BALNEÁRIA
A pesquisadora lembra que a partir da década de 1920 iniciou-se uma transformação (intensificada nos anos 30 e 40), com o surgimento de uma cultura balneária ligada à apreciação do mar. “Os gaúchos passaram a ir à praia também para se divertir. Já era
Banhistas em Tramandaí (acima), em 1918, na mesma cidade, em 1929 (à direita), em Torres (abaixo, à esquerda), em 1922, e grupo de mulheres, também em Tramandaí, em 1948
A doutoranda Joana Carolina Schossler, autora do livro: “Assim como a vilegiatura marítima se firmou no imaginário burguês, ela também foi almejada por outros grupos sociais”
oferecido o transporte combinado – parte de trem e parte de serviço a cavalo – e os empreendedores instalavam trilhos de madeira nos caminhos entre as dunas para que os carros não atolassem; encontrei até mesmo a notícia de um hidroavião da Varig acidentado.” De acordo com Joana Schossler, os hotéis eram então responsáveis não apenas por assegurar a terapia, mas também a diversão, promovendo almoços, jantares, saraus e bailes em seus salões. “Houve uma mudança de comportamento à beira-mar. No princípio ia-se à praia somente antes do nascer ou no pôr do sol, por período breve, e muitas vezes sem imersão na água, apenas para respirar o ar salino; usavam-se roupas grossas e compridas para esconder o corpo e não bronzeá-lo. Com o tempo já se percebe uma evolução nas vestimentas: maiôs e biquínis para os banhos e trajes apropriados para o footing à beira-mar.” Uma mudança subsequente apontada pela pesquisadora, decorrente da urbanização do litoral pelos órgãos públicos, foi a substituição desta dinâmica hoteleira por uma dinâmica comunitária constituída pelos próprios veranistas. “Eles compraram residências no litoral e passaram a gerir o seu tempo e espaço, permanecendo o quanto desejassem na praia. Formaram-se núcleos comunitários de pessoas vindas tanto de Porto Alegre como do interior do Rio Grande do Sul, criando-se uma linguagem comum durante o período de veraneio.” A doutoranda acrescenta que a conquista das férias trabalhistas pagas – em concomitância com as férias escolares nos meses de
dezembro, janeiro e fevereiro – contribuiu para popularizar ainda mais as praias e dar sentido a uma expressão adotada provavelmente nessa época, a vilegiatura: temporada de descanso que as pessoas passam no campo ou em estações balneárias. “Assim como a vilegiatura marítima se firmou no imaginário burguês, ela também foi almejada por outros grupos sociais, que a adaptaram à sua cultura e aos seus recursos.” Na avaliação de Joana Schossler, as praias gaúchas logo se tornaram espaços de distinção social, com a elitização de alguns balneários e a estigmatização de outros, conforme a origem social dos seus veranistas. “A elite frequentava a praia de Torres, por exemplo, que possuía atributos naturais semelhantes às de praias europeias e se caracterizava por ser a mais distante de Porto Alegre, o que dificultava o acesso popular. Os trabalhadores, por sua vez, passaram a contar com as colônias de férias construídas pelas empresas.”
ENCANTO ANULADO
Dentre as fontes utilizadas para a composição do livro, constam romances literários, relatórios de viajantes, anúncios e matérias de jornais e revistas, além de fotografias e cartões postais. “Cabe destacar que grande parte da documentação impressa e das imagens foi produzida pelos próprios veranistas de outrora, como fotografias e reminiscências publicadas em revistas ou jornais da capital. Fotorreportagens e cartões postais também permitiram acompanhar os primórdios dos banhos de mar, a moda balnear e a urbanização dos balneários, entre outros aspectos.”
Na opinião da pesquisadora, o urbanismo das décadas de 30 e 40 fez, também, com que se vislumbrasse o litoral em seus projetos utópicos, operando-se uma série de mudanças até oferecer aos veranistas o que pode ser considerado o suprassumo da condição moderna: viver com conforto. “Mas o conforto só foi possível por um processo de homogeneização, que tornou tudo, mesmo as vivendas e o cotidiano nas praias de mar, como algo familiar. O estranhamento que se tinha ao rumar para as praias, e do qual deriva em grande parte o sentimento de encantamento, foi sendo anulado pela modernização.” Agora no doutorado, Joana Schossler, orientada pela professora Maria Stella Martins Bresciani, está pesquisando justamente os balneários enquanto refúgios da modernidade, uma utopia marítima. “A poluição e o estresse da vida urbana acabam por fomentar o desejo de sair do ritmo frenético da cidade. No balneário é possível estar junto à natureza, num ritmo diferente, ainda que seja somente pelo curto período de veraneio. E permanece a ideia de que o verão acaba, mas pode-se voltar no próximo ano para experimentar essa vida melhor.” A pesquisa da doutoranda está sendo ampliada para a América Latina, incluindo saberes sobre as políticas balneárias de países vizinhos como o Uruguai, buscando compreender a circulação de ideias sobre a prática da cultura balneária no Cone Sul. “No momento em que a iniciativa privada não pode mais dar conta da infraestrutura dos balneários, devido ao grande número de banhistas, cabe ao poder público assegurar os projetos de urbanização. E tanto os balneários como os banhistas vão sofrendo um processo de perda, com os redutos naturais se aproximando cada vez mais do que são os grandes centros urbanos.”
Serviço Título: História do veraneio no Rio Grande do Sul Autora: Joana Carolina Schossler Editora: Paco Editorial Páginas: 244 Preço: R$ 43,00
10 Vida Painel da semana Teses da semana Livro da semana Destaques do Portal da Unicamp
Campinas, 11 a 24 de novembro de 2013
aa c dêi m ca
Painel da semana Aplicabilidade da gestão do conhecimento - Fórum Permanente de Empreendedorismo e Inovação debaterá o tema, dia 11 de novembro, às 9 horas, na Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) em Limeira (salas UL12 e UL14). O evento será transmitido pela TV Unicamp. Inscrições, programação e mais informações, na página eletrônica http://foruns.bc.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/emp49.html Estudos do canto e da canção popular - Encontro reunirá, de 11 a 15 de novembro, no Instituto de Artes (IA), no Espaço Cultural Casa do Lago, no Instituto de Economia e na Concha Acústica do Parque Portugal (Taquaral), em Campinas, artistas, pensadores, pesquisadores, produtores e jornalistas para tratar o tema do canto e da canção popular no Brasil. A abertura do evento ocorre às 10 horas, no auditório do IA. O evento é aberto a interessados e está sob a responsabilidade da professora Regina Machado. Mais informações: telefone 19-3521-7570. Semana de Geografia da Unicamp - IX edição do evento ocorre entre 11 e 14 de novembro com o tema “Os desafios do fazer geográfico: entre teoria e prática”. A conferência de abertura será feita pelo professor Antonio Carlos Robert Moraes (FFLCH/USP), às 19 horas, na sala PB16 do Ciclo Básico II. A programação prevê a realização de conferências e mesas-redondas, minicursos, trabalhos de campo e apresentação de trabalhos. A organização é do Centro Acadêmico de Geografia e Ciências da Terra (CACT). Mas detalhes no link http://www. ige.unicamp.br/cact/semana2013/ Ambiência de precisão na avicultura - Workshop acontece de 12 a 14 de novembro, na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri). Único no Brasil e com duração de 32 horas, objetiva habilitar profissionais para a avaliação do bem estar de aves de produção com técnicas de zootecnia de precisão, modelagem do ambiente de produção, simulação de sistemas de ventilação, novos projetos de sistemas de climatização. O workshop destina-se principalmente a zootecnistas, veterinários, engenheiros agrícolas, agrônomos e afins. Conceitos sobre o isolamento dos aviários, funcionamento de Inlets (entradas de ar) e escolha e avaliação da eficiência de exaustores também serão abordados no evento. Mais detalhes pelo site avicultura.workshop@gmail.com ou e-mail daniella. moura@feagri.unicamp.br Estude na Suécia - A Vice-Reitoria Executiva de Relações Internacionais (Vreri) organiza uma turnê de palestras suecas, na qual serão fornecidas orientações, informações e esclarecimento de dúvidas acerca das universidades e de seus programas de intercâmbio, principalmente do Ciência sem Fronteiras. Será no dia 12 de novembro, das 10 às 16 horas, no saguão e auditório do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (Imecc). Mais informações: 19-3521-7145. Projeto Rondon - Equipes terão até 12 de julho para fazer inscrição no site (http://www.preac.unicamp.br/rondon/?p=347) da PróReitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac) Novos avanços em metodologia laboratorial e impacto clínico - Tema será tratado durante a realização do Fórum Permanente de Esporte e Saúde. O evento acontece no dia 13 de novembro, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. Inscrições, programação e outras informações no link http://foruns.bc.unicamp.br/ foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/saude69.html ou telefone 19-3521-5039.
Seminário com Ibis Pereira - O seminário “Depois de junho – o modelo policial brasileiro e suas críticas, depois das intervenções policiais recentes” acontece no dia 13 de novembro, às 16 horas, no auditório II do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). O expositor será o coronel Ibis Pereira, subdiretor de ensino da Polícia Militar e excomandante da Academia de Polícia Militar D. João VI do Rio de Janeiro. Como debatedores participam os professores João Quartim de Moraes, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), Suzeley Kalil (Unesp – Franca) e Susana Durão (IFCH). O seminário é organizado pelo professor Jorge Coli com promoção do IFCH e apoio técnico da Secretaria de Eventos da unidade. Mais informações: 19-3521-1601. O (des) financiamento da saúde - No dia 14 de novembro acontece mais uma edição do Fórum Permanente de Esporte e Saúde. Com o tema “O (des) financiamento da saúde: entre a saúde das finanças e as finanças da saúde”, o evento será realizado às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. O Fórum é organizado pela Coordenadoria Geral da Unicamp (CGU) e está sob a responsabilidade do professor Edison Bueno, chefe do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). Inscrições, programação e outras informações no link http://foruns.bc.unicamp.br/foruns/projetocotuca/ forum/htmls_descricoes_eventos/saude71.html. . O Fórum será transmitido pela TV Unicamp. Mais detalhes: 19-3521-5039. Propostas para Fóruns de 2014 - A Coordenadoria Geral da Universidade (CGU) recebe, até 18 de novembro, propostas de temas para as edições de 2014 dos Fóruns Permanentes. Docentes e Pesquisadores interessados devem preencher o formulário, que está disponível em formato Word. Após o preenchimento, ele deve ser encaminhado para o e-mail forunspermanentes.cgu@reitoria.unicamp.br. Todas as propostas recebidas serão avaliadas por uma comissão formada por professores e pesquisadores de várias áreas do conhecimento. O resultado final será divulgado no dia 29 de novembro e os contemplados serão notificados por e-mail. Criados em 2003, os Fóruns Permanentes têm se configurado como um importante instrumento não apenas para instaurar o debate e a difusão de ideias sobre os avanços científicos nas mais diferentes áreas do conhecimento, como também para permitir à Unicamp desempenhar um papel fundamental de interação com a sociedade. Outras informações sobre os Fóruns Permanentes podem ser obtidas pelo e-mail forunspermanentes.cgu@reitoria.unicamp.br. Revolta das agulhas - Um grupo formado por alunos do Instituto de Artes (IA) da Unicamp e idosas do distrito de Barão Geraldo promoverá no próximo dia 20 de novembro, a partir das 14 horas, a sua ‘revolta das agulhas’. A intervenção artística prevê a montagem de trabalhos artesanais em árvores localizadas na área externa do Espaço Cultural Casa do Lago, no campus da Universidade, em Campinas. A instalação ficará no local por 10 dias. Mais: http://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2013/11/01/revolta-das-agulhas-acontece-no-proximo-dia20-na-area-externa-da-casa-do-lago Uso de drogas lícitas e ilícitas na adolescência - Tema será debatido por especialistas no Fórum Permanente de Esporte e Saúde. O evento acontece no dia 21 de novembro, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. O Fórum é organizado pela Coordenadoria Geral da Unicamp (CGU) e está sob a responsabilidade das professoras Renata Cruz Soares de Azevedo e Lilia Freire Rodrigues de Souza Li. O Fórum será transmitido, ao vivo, pela TV Unicamp. Inscrições, programação e outras informações podem ser obtidas na página eletrônica http://foruns.bc.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/saude73.html ou telefone 19-3521-5039. 7ª turnê de universidades alemãs - A Vice-Reitoria Executiva de Relações Internacionais (vreri) organiza a 7ª turnê de universidades alemãs, na qual serão fornecidas orientações, informações e esclarecimento de dúvidas acerca das universidades e de seus programas de intercâmbio, principalmente o Ciência sem Fronteiras. Será no dia 21 de novembro, das 11 às 16 horas, no saguão e no auditório do Instituto de matemática, Estatística e Computação Científica (Imecc). Mais informações: 19-3521-7145. Medicalização da vida de crianças e adolescentes - No dia 22 de novembro, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp, acontece mais uma edição do Fórum Permanente de Esporte e Saúde com a temática Medicalização da vida de crianças e adolescentes. O evento é organizado pela Coordenadoria Geral da Unicamp (CGU) e está sob a responsabilidade da professora Maria Aparecida Affonso Moysés, do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. O Fórum será transmitido pela TV Unicamp. Inscrições, programação e outras informações, no link http://foruns. bc.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/ saude72.html ou telefone 19-3521-5039.
Teses da semana Computação - “Biologia integrada - de fenótipos a árvores filogenéticas” (mestrado). Candidata: Eduardo de Paula Miranda. Orientador: professor Dr. André Santanchè. Dia 22 de novembro, às 14 horas, na sala 53 do IC.
Corpo e pensamento
Livro
da semana
Alianças conceituais entre Deleuze e Espinosa Sinopse: Na filosofia deleuziana, a relação entre corpo e pensamento se estabelece nos termos de uma igualdade que busca no corpo a gênese do pensamento. Ao mesmo tempo, trata-se de uma concepção do pensar e da corporeidade que os coloca em pressuposição recíproca: não há pensamento desencarnado, assim como não há corpo que não coloque problemas ao pensamento. Privilegiando a aliança com Espinosa, este livro procura mostrar como a filosofia de Deleuze se constrói por meio de conexões com outros pensadores em arte, ciência ou filosofia. Esses encontros ensejam a produção de uma concepção do pensar como atividade que não se limita à representação, e, correspondente a ela, um conceito de corpo que ultrapassa os limites do orgânico. A importância de outros aliados deleuzianos não é negligenciada, ressaltando-se o papel de Nietzsche, Bergson, Artaud e alguns cineastas. Autora: Cíntia Vieira da Silva Ficha técnica: 1a edição, 2013; 336 páginas; formato: 14 x 21 cm ISBN: 978-85-268-1015-0 Área de interesse: Filosofia Preço: R$ 56,00
“Análise e estudo de desempenho e consumo de energia de memórias transacionais em software” (mestrado). Candidato: Leonardo Augusto Guimarães Garcia. Orientador: professor Rodolfo Jardim de Azevedo. Dia 22 de novembro, às 14 horas, no auditório do IC. Educação - “Na bagagem de Dona Zezé: uma proposta de investigação e intervenção sobre a imagem da professora a partir de fotografias do curso de formação continuada Teia do Saber” (doutorado). Candidata: Gabriela Fiorin Rigotti. Orientadora: professora Lilian Lopes Martin da Silva. Dia 22 de novembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses da FE. Engenharia Elétrica e de Computação - “Estimador de desvio de frequência para receptores ópticos coerentes digitais” (mestrado). Candidato: Júlio César Medeiros Diniz. Orientador: professor Aldário Chrestani Bordonalli. Dia 22 de novembro, às 14: horas, na sala de defesa de teses da CPG da FEEC. “Análise de clusters na avaliação de bancos” (doutorado). Candidato: José Leite da Silva Júnior. Orientador: professor Takaaki Ohishi. Dia 22 de novembro, às 14h30, na CPG da FEEC. Engenharia Química - “Pré-purificação cromatográfica de DNA plasmidial por cromatografia de pseudoafinidade e tiofílica aromática” (mestrado). Candidata: Vanessa Soraia Cortez de Oliveira Radke. Orientadora: professora Sonia Maria Alves Bueno. Dia 22 de novembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses, bloco D da FEQ. Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - “Aprimoramento de um instrumento de gestão para operação de reservatórios hidrelétricos com usos múltiplos sob condições de mudanças climáticas: estudo de caso UHE de Furnas” (doutorado). Candidato: Leopoldo Uberto Ribeiro Júnior. Orientador: professor Antonio Carlos Zuffo. Dia 18 de novembro, às 9 horas, na sala de defesa de teses da CPG da FEC. Engenharia Mecânica - “Estudo da biocompatibilidade in-vitro e in-vivo de cimento de [alfa]- fosfato tricálcico: diferentes tempos e processos de moagem” (mestrado). Candidata: Lia Saito. Orientadora: professora Cecilia Amelia de Carvalho Zavaglia. Dia 13 de novembro, às 14 horas, no auditório do DEMA da FEM. Física - “Obtenção de temperaturas e densidades de elétrons em plasmas de Tokamaks através de espectroscopia no visível de emissões de impurezas” (doutorado). Candidato: Fellype do Nascimento. Orientador: professor Munemasa Machida. Dia 21 de novembro, às 14 horas, no auditório da Pós-graduação do IFGW.
“Estruturas fotônicas compatíveis com tecnologia de silício” (doutorado). Candidato: David da Silva Leocadio Figueira. Orientador: professor Newton Cesário Frateschi. Dia 22 de novembro, às 14 horas, no auditório da Pós-graduação do IFGW. “Comunicação quântica e implementação de portas lógicas no sistema de cavidades acopladas” (doutorado). Candidato: Bruno Ferreira de Camargo Yabu-uti. Orientador: professor José Antonio Roversi. Dia 11 de novembro, às 9 horas, no auditório da Pós-graduação do IFGW. “Propriedades mecânicas, estruturais e eletrônicas de nanoestruturas de Carbono e Nitreto de Boro” (doutorado). Candidato: Samir Silva Coutinho. Orientador: professor Douglas Soares Galvão. Dia 11 de novembro, às 14 horas, no auditório da Pós-graduação do IFGW. “Oscilação em cavidades optomecânicas” (mestrado). Candidato: Gustavo de Oliveira Luiz. Orientador: professor Gustavo Silva Wiederhecker. Dia 14 de novembro, às 10 horas, na sala de seminários do DFA do IFGW. “Estudo da nanoestruturação de superfícies metálicas pelo bombardeamento iônico com gases nobres” (mestrado). Candidata: Silvia Azevedo dos Santos Cucatti. Orientador: professor Fernando Alvarez. Dia 14 de novembro, às 10 horas, no auditório da Pós-graduação do IFGW. Humanas - “Au revoir, Brésil: um estudo sobre a imigração brasileira na França após 1980” (doutorado). Candidata: Gisele Maria Ribeiro de Almeida. Orientadora: professora Rosana Baeninger. Dia 19 de novembro, às 14 horas, na sala da congregação, prédio da Pós-graduação do IFCH. Linguagem - “Alector, narrativa fabulosa (1560). Tradução da narrativa fabulosa de Barthélemy Aneau e estudo crítico sobre a cidade imaginária de Orbe” (doutorado). Candidata: Yvone Soares dos Santos Greis. Orientador: professor Carlos Eduardo Ornelas Berriel. Dia 21 de novembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. Química - “Estudo da composição química e avaliação da atividade antiproliferativa in vitro de Aldama arenaria Baker (Sin.: Viguiera arenaria)” (mestrado). Candidata: Adriana da Silva Santos de Oliveira. Orientador: professor Paulo Mitsuo Imamura. Dia 22 de novembro, às 9 horas, no miniauditório do IQ. “Fotofísica e eletroluminescência de dispositivos poliméricos emissores de luz branca: uma nova estratégia para a produção de luz branca” (doutorado). Candidato: Fernando Júnior Quites. Orientadora: professora Teresa Dib Zambon Atvars. Dia 22 de novembro, às 13h30, no miniauditório do IQ.
Destaque do Portal cerimônia oficial de abertura do 10º Simpósio Latino-Americano de Ciência de Alimentos (Slaca), ocorrida na noite do último o dia 4 no espaço Via Appia Festas e Eventos, em Valinhos, reuniu organizadores, palestrantes, participantes, autoridades e convidados para celebrar a “maioridade” do evento científico, que completa 18 anos. Nesse período, destacou a professora Gláucia Pastore, coordenadora do Slaca e pró-reitora de Pesquisa da Unicamp, o simpósio tem contribuído de forma efetiva para o desenvolvimento científico e tecnológico dessa área do conhecimento tanto no Brasil quanto no continente latino-americano. O evento, que prosseguiu até o dia 6, contou com cerca 1,8 mil inscritos e 2 mil trabalhos. A mesa de honra da abertura do 10º Slaca foi presidida pelo coordenador-geral da Unicamp, professor Alvaro Crósta, que representou o reitor José Tadeu Jorge. Crósta destacou que a escolha do tema da atual edição do simpósio, “Alimentos, Nutrição e Saúde”, não poderia ter sido mais feliz e pertinente, sobretudo em um país que é um dos mais importantes produtores mundiais de alimentos. “O Slaca tem sido ao longo das suas edições motivo de orgulho para a Unicamp, principalmente por causa da relevância da programação e dos trabalhos científicos que apresenta”, afirmou. O grande número de participantes e de trabalhos inscritos na atual edição, acrescentou o coordenador-geral da Unicamp, é reflexo da importância e da dimensão que o simpósio ganhou ao longo do tempo. A professora Gláucia Pastore lembrou em sua fala que a primeira edição do Slaca ocorreu em 1995 justamente com a proposta de fortalecer a área de alimentos no Brasil e na América Latina. O caminho, segundo ela, não foi fácil
10º Slaca reúne 1,8 mil inscritos e 2 mil trabalhos Foto: Antoninho Perri
Abertura do 10º Simpósio Latino-Americano de Ciência de Alimentos
de ser trilhado, mas os resultados têm sido muito significativos. “Em conversas que tive nestes dias, identifiquei pelo menos nove novas instituições de ensino com cursos nessa área, o que nos deixa muito satisfeitos e nos fornece evidências de que estamos no caminho certo”, considerou.
Ainda segundo a coordenadora do simpósio e pró-reitora de Pesquisa, um dos objetivos dos pesquisadores que atuam na área é transmitir à população o conceito de que os alimentos não servem somente para nutrir, mas também para prevenir doenças. “É justamente este tema que está na base desta
10ª edição do Slaca”, enfatizou. Gláucia Pastore fez questão de fazer referência a cada um dos integrantes da mesa de honra e de agradecer a toda a equipe que tem trabalhado para a realização do simpósio. Carlos Alberto Aragão de Carvalho Filho, diretor-geral do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), também ressaltou a importância do Slaca e lembrou que o tema alimentos está na ordem do dia. “Quando discutimos os alimentos, estamos discutindo três dimensões: a social, a ambiental e a econômica. A busca do equilíbrio entre elas é que vai garantir que o processo seja sustentável. E para que a sustentabilidade seja alcançada, vamos precisar de muita ciência, muita tecnologia e muita inovação. Nesse sentido, o Slaca tem muito a contribuir com o Brasil e a América Latina”, disse. Logo após a abertura oficial do simpósio, os presentes puderam assistir à apresentação da Banda da Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx) e do Coral Zíper na Boca, que cantou uma série de canções em homenagem aos Beatles. O show emocionou o público, que aplaudiu a performance de pé. Em seguida, foi servido um coquetel e houve a apresentação da Banda Sexto Sentido. (Manuel Alves Filho)
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Campinas, 11 a 24 de novembro de 2013
Novas tecnologias rendem textos e interação em escola
Dissertação demonstra que mundo virtual torna jovem mais participativo em sala de aula CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br
ão há, certamente, ninguém, com mínimo espírito crítico, que a partir de certo momento da vida escolar não se tenha perguntado: “Para que estou aprendendo isso? O que isso tem a ver comigo?” As novas tecnologias e seus apelos cada vez maiores tornam esses questionamentos recorrentes, agravados hoje pela inquietação e impaciência dos jovens. Talvez, associem a escola a uma diligência que perdeu os cavalos e segue por áridos descaminhos impulsionada pela inércia, carregando giz e quadro negro. Depois de licenciada em Letras, Melina Aparecida Custodio foi à sala de aula dedicando-se ao ensino de gramática e produção de textos em várias escolas privadas que adotam sistemas de ensino. Passou a incomodá-la a postura de espectador dos alunos que simplesmente recebiam o conhecimento, o registravam e não sabiam o que fazer com ele. A vaga promessa de que no futuro serviria para alguma coisa, que cairia no vestibular, soava distante. Resulta daí um grande contingente de alunos desinteressados, mesmo porque grande parte das informações passadas em sala e abordadas nas diversas apostilas é facilmente encontrada na internet. São circunstâncias que geram em sala tédio, conversas, indisciplinas e tentativas de uso do celular, mesmo proibido por lei, como fuga do que se tornou enfadonho. Preocupada e disposta a mudar esse quadro, Melina voltou ao Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp para cursar pós-graduação no Departamento de Linguística Aplicada, em que atuam professores especializados no ensino de língua materna. Lá se discutiam, entre outras, questões relacionadas às culturas da juventude, ao uso de novas tecnologias no ensino de línguas, embora os caminhos a serem percorridos não estivessem ainda totalmente pavimentados.
Orientada pela professora Roxane Rojo, ela se propôs a estabelecer os possíveis diálogos entre produção escrita na escola, novas tecnologias e culturas da juventude, em investigação que culminou em sua dissertação de mestrado. Ao constatar que a cultura dos jovens provinha essencialmente do mundo virtual, Melina teve a ideia de pesquisar possibilidades e implicações de sua utilização na escola. Partiu, então, para um trabalho diagnóstico. Procurou verificar o que os alunos realizavam com grande motivação no mundo virtual e a que situações a escola os submetia para tentar motivá-los a aprender o conteúdo que se propunha a ensinar. Essencialmente, ela pretendia descobrir o que os motivava a produzir na internet e por que não o faziam em sala de aula, em que angustiados, descambavam para a indisciplina, fenômeno recorrente na escola de hoje. Ela partia da crença de que era preciso fazer os alunos se apaixonarem pelo conteúdo de modo a se mostrarem motivados a perceberem o significado do que estavam aprendendo. “Para que isso ocorra não se pode tratar o aluno como mero espectador, despejando conhecimento e informações a que ele já tem acesso através da internet. Claro que estou considerando a realidade de uma região em que a maioria dos alunos tanto das escolas privadas quanto públicas dispõem da web”, pondera.
CAMINHOS Depois de ter diagnosticado as atividades de seus alunos na internet, Melina se propôs a determinar como essas vivências poderiam ser aproveitadas na sala de aula. Portanto, seu trabalho teve como principal objetivo compreender possíveis relações entre as práticas letradas de jovens no espaço virtual e a influência desse repertório na produção colaborativa de texto escrito e, assim, inferir quais ganhos a exploração dessas relações podem trazer ao ensinoaprendizado da escrita na escola. Foto: Antoninho Perri
Melina Aparecida Custodio, cuja dissertação foi desenvolvida no IEL: despertando o interesse do aluno
Em seu estudo de caso, baseado em um grupo de alunos do oitavo ano do segundo ciclo do ensino fundamental, em escola privada da cidade de Campinas, SP, utilizou uma proposta de produção colaborativa digital, do gênero tragédia. A atividade foi estruturada de forma a lhe permitir analisar durante o seu desenvolvimento os registros gerados e decorrentes – através da ferramenta digital Google Docs, conectada à internet –, de práticas colaborativas de escrita de grupos de cinco alunos. A colaboratividade estava garantida através de uma atividade conjunta, para a produção de um texto, utilizando uma ferramenta virtual que não exige que os participantes precisem trabalhar ao mesmo tempo e no mesmo lugar. Basta que um dos componentes do grupo inicie o processo para que todos os demais participantes entrem e comentem, modifiquem, sugiram alterações e melhoras. Resulta um trabalho conjunto à distância, em que as várias etapas do procedimento, do início à conclusão, possam ser acompanhadas pelo professor. A tarefa proposta assentou-se sobre uma abordagem prevista no planejamento da escola, baseada na leitura de texto que faz parte da cultura valorizada, a tragédia de Hamlet, em Rei Lear, de Shakespeare, sobre o qual rotineiramente deveria ser produzido um texto em sala. Procedida a apresentação e discussão de trechos dessa tragédia, a professora propôs que cada grupo produzisse livremente outra tragédia, mas ligada às suas vidas, às realidades que estavam vivendo, mobilizando para tanto elementos provenientes de suas culturas. Com efeito, nas orientações impressas entregues aos alunos lê-se: “A tragédia a ser produzida deverá abordar um tema de interesse do seu grupo, explorar recursos e assuntos com os quais nem os gregos (referência à tragédia grega também estudada) nem Shakespeare sonharam”. Portanto, os alunos podiam produzir a tragédia não só a partir dos conhecimentos adquiridos na escola, mas foram instigados a utilizar repertórios, não valorizados pela escola, mas que fazem parte dos seus universos: letras de música, videogames, histórias em quadrinhos de estilo japonês, os mangás, animações produzidas no Japão, os animês. Ao final de um bimestre, resultou um trabalho muito rico, com participações e envolvimentos dos alunos, como se pode depreender da leitura dos textos reproduzidos nos anexos da dissertação. O resultado obtido não encontra paralelo nos trabalhos realizados rotineira e individualmente na sala de aula, em que o aluno dispõe de tempo limitado para elaborar um texto em que suas vivências culturais não são solicitadas.
CONSEQUÊNCIAS Ao serem motivados a utilizarem textos das várias mídias que frequentam e abordam temas relacionados às suas vidas, os alunos sentem resgatadas e valorizadas suas vivências fora da escola e sua essência humana. Nesse processo, a literatura valorizada e o conteúdo programático continuam utilizados, mas de forma diferente. “Ao fazer o aluno compreender a importância dos seus conhecimentos e vivências e como eles podem ser utilizados na escola, propicia-se o despertar de uma paixão. A partir desse sentimento, ele se sente motivado a ir à escola, a trabalhar, a mostrar o que sabe e revela-se produtivo e criativo. É o que se quer desenvolver no jovem hoje: participação na sociedade, no mundo do trabalho com atitudes éticas, cívicas e proativas”, diz a pesquisadora, com entusiasmo. As mudanças de atitudes emergem quando os próprios alunos assumem o papel do professor manifestando irritação por erros
dos colegas, como os relacionados à norma culta da língua. E manifestam cuidados mútuos em relação às suas escritas, retomando regras que pareciam ter sido ensinadas em vão na sala de aula para justificar correções no texto. À medida que ocorre a produção do texto, links remetem ao material consultado e que serviu de base para sua elaboração, o que permitia que a professora se inteirasse dos gêneros textuais que os interessavam. A partir deles, ela explorou relações com os conteúdos a serem ensinados em sala de aula para que, partindo daquilo que fazia sentido a eles, pudesse conduzi-los ao aprendizado esperado. Valendo-se então da motivação despertada, Melina estabeleceu um diálogo entre os interesses dos alunos e os objetivos da escola que, no seu caso, eram os conteúdos gramaticais e o trabalho com gêneros valorizados da literatura. Concretizado esse diálogo, a professora observou o aumento da autoestima e grande melhora na disciplina, reações que ela atribui ao fato de os alunos não se sentirem mais apenas espectadores, mas também produtores que tinham encontrado a oportunidade de utilizar seus conhecimentos. E mais, a disciplina de redação não se reduziu à apresentação de textos de livros ou jornais, em cuja qualidade deveriam se espelhar. Fato que muitas vezes contribuía para lhes rebaixar a autoestima, pois criavam expectativas absurdas: elaborar individualmente em folha avulsa, em 50 minutos, textos semelhantes àqueles que foram produzidos por profissionais em maior intervalo de tempo e revisados por colaboradores, tal como ocorre na rotina de jornais e editoras. A conclusão da pesquisadora é a de que o conhecimento individualizado, hierarquizado, não motiva o aluno, não desperta paixão, não leva a uma postura proativa, não atrai e em boa parte dos casos gera indisciplina. Diante da percepção de que os jovens lidam na internet, no seu dia a dia, de forma muito interativa, com gêneros que têm muito a ver com o gênero narrativo trabalhado na escola, que envolve igualmente ficção cientifica e o fantástico, ela decidiu-se por utilizar colaborativamente habilidades e conhecimentos que fazem parte de seus universos para a produção de textos que remetem aos conteúdos valorizados na escola. Em sua dissertação, Melina chama a atenção para a extrema importância da valorização das coleções dos alunos na garantia do aprendizado efetivo, sem escamotear as questões sociais e culturais imbricadas nos mais diversos usos da linguagem. Considera essa abordagem bastante diferente daquelas sedimentadas na escola que ensinam os gêneros pelos gêneros, sem que os alunos saibam os contextos em que ocorrem e com quais propósitos. Para ela “vem bem a propósito a discussão do papel do professor, que frente a esse panorama, não pode mais ter sua função reduzida à transmissão de informações. A ele são lançados os desafios de conhecer as vivências culturais de seus alunos, construir projetos de trabalho que os insiram em práticas autênticas de produção de conhecimento, preparando-os para práticas bem-sucedidas de participação nas múltiplas maneiras de ser humano”.
Publicação Dissertação: “Produção escrita na escola, novas tecnologias e culturas da juventude: diálogos possíveis” Autora: Melina Aparecida Custodio Orientadora: Roxane Helena Rodrigues Rojo Unidade: Instituto de Estudos da Linguagem (IEL)
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Campinas, 11 a 24 de novembro de 2013
PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br
a história da Bienal Internacional de Arte de São Paulo, há um período pouco lembrado pelos intelectuais e artistas. Não por coincidência, são os anos subsequentes ao Ato Institucional número 5 (AI-5), decretado em 1968. Depois do boicote “Não à Bienal”, em 1969, as exposições da mostra perderam a importância que os principais críticos lhe atribuíam. O período de crise da Fundação Bienal, como responsável pelo maior evento de arte contemporânea do Brasil, só cessou a partir da consolidação da abertura política, registrada nos anos 80. O boicote resultou a criação de quatro mostras paralelas, de abrangência nacional, que ocorreram entre as bienais internacionais. São as pré-bienais, ou bienais nacionais, organizadas, também em São Paulo, dentro da proposta de uma “política cultural” pelo Estado, no âmbito do governo militar. Quando foi pesquisadora, por três anos, do Arquivo Histórico Wanda Svevo, da Fundação Bienal, Renata Cristina de Oliveira Maia Zago viu-se diante de farta documentação a respeito desses eventos e decidiu pesquisar o assunto em sua tese de doutorado. Uma das descobertas do estudo foi que as bienais nacionais promoveram uma varredura de artistas emergentes em várias regiões do país. Outra foi a tremenda dificuldade de recuperar dados de um período que muita gente prefere esquecer. Algumas polêmicas não foram compreendidas, outras questões ficaram no ar, perguntas não foram ou serão respondidas. O embate de Renata com a documentação foi a tentativa de organizar e dar sentido àquilo que, algumas vezes, já se perdeu. Documentos não se complementam, ou estão marcados pela destruição do tempo. “Houve uma inundação no arquivo e há marcas de água em alguns documentos. Alguns papéis podem ter se perdido também quando o arquivo, que ficava no porão, foi levado para o segundo andar”. A história que Renata conseguiu recuperar sugeria a existência de um “pacote” de eventos que ela decidiu chamar de “bienais nacionais”. Trata-se, na realidade, de um conjunto de quatro exposições que ocorreram na década de 1970, e que, em alguns casos, receberam outros nomes. A primeira “pré-bienal” surgiu no ano seguinte ao boicote de 1969 com a proposta de escolher a representação brasileira da Bienal Internacional de 1971. Já em 1972, a mostra leva o nome “Brasil Plástica 72” ou “Mostra do Sesquicentenário da Independência”. Houve mais duas, em 1974 e 1976. “Eu apostava que as exposições formavam esse ‘pacote’, mas acabei reavaliando, pois a natureza de cada edição vai se modificando. Além disso, a primeira pré-bienal não foi criada com a obrigatoriedade de continuar. Ela poderia ser uma única edição. Por várias razões, houve uma segunda edição, que não teve a mesma intenção da primeira e assim sucessivamente, e se chegou até a quarta, que foi uma grande mostra sem critérios estéticos e artísticos”, explica. A documentação das mostras nacionais estava separada da documentação histórica das bienais internacionais. Renata apenas chegou aos registros porque encontrou, nos papéis da Bienal de 1971, a menção à pré-bienal de 1970. Segundo ela, não existe bibliografia sobre o tema.
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Outras bienais Foto: Divulgação
PENUMBRA O crítico de arte Mário Pedrosa, que comandou o boicote: resistência à ditadura militar
“A ideia de uma pré-bienal já era anterior. Em 1962 encontrei, na documentação do Arquivo da Bienal, registros de que já havia essa intenção porque os artistas brasileiros reclamavam muito por mais espaço”, diz Renata. As pré-bienais de 1970 e 1974 funcionam mesmo como uma pré-seleção para a Bienal Internacional. Com exceção da última mostra, em 1976, os artistas passavam por um júri formado por críticos de arte. “Foram feitas seleções regionais e o objetivo, expresso em todos os documentos, inclusive do presidente Ciccillo Matarazzo, era mostrar um panorama das obras de artes, desde aquelas produzidas em Manaus, por exemplo, e no Amazonas, que tem uma ligação maior com o primitivismo e com a arte naif, até a produção mais contemporânea”. A exposição de 1972 não tem relação com a Bienal Internacional no sentido de escolher a representação brasileira, mas está ligada às comemorações do Sesquicentenário da Independência. “Podemos verificar aí uma questão política que en-
volve a Fundação Bienal, uma instituição mista, que recebe cada vez mais verbas do estado. É uma forma de o governo militar promover a arte, estreitando relações com uma instituição que é uma das mais importantes nas artes plásticas”. A mostra de 72 é organizada, em parte, pelo Exército. “Tive uma dificuldade muito grande de encontrar as obras e falar com os artistas que participaram”, afirma a pesquisadora. Em 1974 a pré-bienal volta a ter a função de escolher a representação para a próxima edição internacional. “Nesta exposição há uma mostra de gravuras brasileiras desde os primórdios, com a curadoria só de gravadores. E também houve ateliês livres de gravura com a participação do público. Pareceu-me que foi a mostra mais consistente, desde a preparação do seu regulamento pelos organizadores, até a seleção de artistas que figurariam na próxima edição da Bienal Internacional, levando-se em conta a preocupação dos organizadores de construir uma mostra paralela (de gravura) que privilegiasse a participação do público”. Foto: Antoninho Perri
O BOICOTE
O boicote de 1969 foi o que acabou impulsionando a realização das exposições nacionais e teve repercussão em vários países, sob o comando do crítico de arte Mário Pedrosa, no Brasil, e Pierre Restany, na França. Artistas convidados para salas especiais como Hélio Oiticica, Lygia Clark, Amilcar de Castro e Rubem Valentim, se recusaram a participar das internacionais. Renata teve acesso aos convites, enviados ainda em 1968, antes do AI-5, e as respostas dos artistas, pós-Ato, que alegavam compromissos já assumidos no período. Por causa do movimento, avalia a autora da tese, os organizadores da Fundação tiveram receio de que não acontecesse a mostra internacional e, por isso, resolveram realizar a nacional, assegurando a representação brasileira da Bienal Internacional seguinte.
Quando Renata começou a pesquisar a pré-bienal de 1976 imaginando que o evento seguiria a mesma linha da edição anterior, teve uma surpresa e a certeza de não se tratar de uma história linear. Todos os artistas que se inscrevem foram aceitos. A autora da tese supõe que a decisão da Fundação foi motivada pela ideia corrente de que as mostras regionais estavam chegando ao fim, em função da realização de uma edição latino-americana de 1978. A proposta de panorama regional das pré-bienais repercutiu nas bienais internacionais. A representação brasileira não estaria refletindo apenas o cenário da arte contemporânea do eixo Rio-São Paulo?
Como parte do “sistema”, as bienais, mesmo as internacionais, acabam marginalizadas no período, segundo Renata. “O circuito alternativo se fortalece”. Em 1970 há uma mostra em Belo Horizonte, “Do corpo à terra”, na qual Cildo Meirelles queima galinhas vivas e Artur Barrio espalha as “trouxas ensanguentadas” pelo córrego Arrudas em Belo Horizonte, uma alusão à tortura e morte pelos militares. “A vanguarda aproveita para sair desse circuito já pré-estabelecido e ocorrem mostras e experimentações não convencionais como as propostas por Frederico Morais – ‘Do Corpo à Terra’ e ‘Domingos de Criação’ – e por Hélio Oiticica, por exemplo a ‘Apocalipopótese’”. Ainda assim as bienais resistem. A representação internacional, feita via embaixadas, era garantida pela relação diplomática entre os países que enviaram outros artistas, quando os convidados se recusavam a participar. Outra saída encontrada para assegurar a importância da exposição, foi a montagem de salas didáticas, com algumas obras de grandes artistas como Van Gogh, por exemplo. “O que me incomodava era essa penumbra, não conhecer a história. Eu queria estudar o assunto porque, depois do boicote de 1969, a bibliografia especializada não fala mais das bienais. O tema é recorrentemente retomado a partir do início dos anos 1980, certamente com a Bienal de 1981, que teve curadoria de Walter Zanini. Meu enfoque são as nacionais porque considero importante estudar o acervo documental que temos”. Renata fez várias entrevistas e nem sempre conseguiu levantar as informações que precisava. “Entrevistei o crítico Olívio Tavares de Araújo e, como ele, muitos falam que não se lembram destas exposições”. A ideia inicial da pesquisadora seria escolher um conjunto de obras a analisar, mas também faltou iconografia. “Praticamente não há registro fotográfico das pré-bienais. Encontrei apenas 12 fotos em papel e fotos de jornal. As fotos são panorâmicas, sem a identificação de obras, sem a identificação de artistas”. No final do trabalho, Renata sugere várias questões: o que é o arquivo da Bienal de São Paulo? Será que o que foi guardado foi pré-selecionado? Como a Fundação se comportava de fato neste período? “Minha tese é um recorte, uma análise sobre o discurso construído nos catálogos, nas publicações e como é de fato nos documentos, uma construção que também é do pesquisador, como eu conto essa história”. Para Renata é importante ressaltar que, neste período obscuro, artistas apareceram com suas obras, e a Fundação Bienal encontrou alternativas para não deixar a exposição morrer.
Publicação Tese: “As Bienais Nacionais de São Paulo: 1970 – 1976” Autora: Renata Cristina de Oliveira Maia Zago Orientadora: Maria de Fátima Morethy Couto Unidade: Instituto de Artes (IA) Renata Cristina de Oliveira Maia Zago, autora do estudo: “A penumbra me incomodava”