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Campinas, 2 a 8 de dezembro de 2013 - ANO XXVII - Nº 585 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
IMPRESSO ESPECIAL
9.91.22.9744-6-DR/SPI Unicamp/DGA
CORREIOS
FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Foto: Antoninho Perri
Verso e reverso em
Antonio Candido
Tese do antropólogo Rodrigo Martins Ramassote revela as intersecções entre literatura e ciências sociais no conjunto da obra do crítico, sociólogo e professor Antonio Candido de Mello e Souza. O trabalho foi orientado pela professora Heloisa André Pontes.
Foto: Sven Lidstrom, IceCube/NSF/Divulgação
Antonio Candido em 2006, nas comemorações dos 30 anos do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, unidade que foi fundada e dirigida por ele
Laboratório IceCube, no Polo Sul, tido como o maior detector de neutrinos do mundo
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Laboratório captura
neutrinos ‘forasteiros’
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As novas propriedades do ‘whey proteins’
Usinas solares reduzem emissão de gases nocivos
Da prancheta para a Fabricação Digital
‘Bico-de-papagaio’ reflete na audição
Razão e sensibilidade nas obras de Humboldt
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Campinas, 2 a 8 de dezembro de 2013
TELESCÓPIO
CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br
Reação instintiva prevê felicidade no casamento Você pode não ser capaz de prever, conscientemente, se o futuro de seu casamento vai ser feliz ou miserável, mas seus instintos mais profundos são, sugere estudo publicado na revista Science da semana passada. Um grupo de psicólogos de três universidades americanas acompanhou 135 casais – todos recém-casados no início da pesquisa – por quatro anos, pedindo, a cada seis meses, que avaliassem conscientemente o relacionamento e, também, submetendo-os a testes criados para determinar qual a visão automática, instintiva, que tinham do parceiro. A pesquisa revelou que não havia correlação alguma entre a avaliação consciente, feita por meio de questionários, e a instintiva, e que a atitude consciente inicial não permitiu prever como os casais estariam ao final dos quatro anos do estudo. No entanto, a avaliação instintiva permitiu fazer essa previsão: os cônjuges que mostraram atitudes instintivas positivas no início do casamento também foram os que se mostraram mais felizes ao final da pesquisa. Para determinar a atitude instintiva, os pesquisadores avaliaram o tempo de reação dos participantes a palavras positivas ou negativas, após uma breve exposição a uma foto do cônjuge. Os voluntários tinham de indicar, o mais rápido possível, se palavras como “maravilhoso” ou “horrível” eram positivas ou negativas, depois de serem expostos, por 300 milissegundos, a uma foto do cônjuge. Pesquisas anteriores já haviam mostrado que pessoas com atitude automática positiva respondem mais rapidamente a palavras positivas do que a negativas. De acordo com nota distribuída pela revista, “os autores reconhecem que é difícil saber se as pessoas estavam realmente inconscientes de suas atitudes instintivas, ou se estavam sem vontade de informar seus sentimentos reais”, mas que “os resultados sugerem que pensamentos automáticos que frequentemente ocorrem fora da consciência podem moldar resultados futuros”.
Os 28 neutrinos extrassolares detectados pelo IceCube, entre 2010 e 2012, são os primeiros identificados na Terra desde que a explosão de uma supernova, em 1987, enviou uma chuva de partículas em nossa direção. No entanto, de acordo com os pesquisadores da colaboração responsável pelo detector no Polo Sul – que envolve 11 países – as partículas captadas agora são milhões de vezes mais energéticas que as geradas pela supernova do século passado.
Supermemória também pode ser manipulada Mesmo os possuidores de memórias superprecisas podem ter suas lembranças corrompidas por truques psicológicos, mostra estudo publicado no periódico PNAS. Há tempos que psicólogos sabem que a memória humana pode ser distorcida, seja por acaso ou de modo deliberado – há até experimentos em que voluntários são induzidos a “lembrar-se”, vividamente, de eventos que na verdade nunca ocorreram: memórias não são gravações fiéis de fatos vividos, mas reconstruções produzidas pelo cérebro cada vez que buscamos nos lembrar de alguma coisa, num processo aberto a falhas e distorções. No entanto, algumas pessoas com hipertimesia, ou Síndrome da Supermemória, são capazes de recordar datas e eventos com altíssima precisão, lembrando-se de detalhes verificáveis de eventos ocorridos décadas atrás com precisão de até 97%. Essas pessoas têm lembranças de dez anos que são mais vívidas do que as lembranças de um mês atrás de uma pessoa comum. Mas uma pesquisa realizada por cientistas da Universidade da Califórnia, Irvine, mostrou que a supermemória não protege contra as distorções produzidas por manipulação. Os cientistas conseguiram até mesmo fazer com que portadores de hipertimesia “se lembrassem” de assistir ao vídeo de um acidente que, na verdade, não havia sido filmado.
“As descobertas sugerem que os mecanismos de reconstrução da memória que produzem distorções são fundamentais e disseminados nos seres humanos, e é improvável que alguém seja imune”, concluem os autores.
Europa prepara sonda para mapear a galáxia A Agência Espacial Europeia (ESA) deve lançar, no fim de dezembro, a sonda Gaia, equipada com uma gigantesca câmera que irá fotografar mais de um bilhão de estrelas, com o objetivo de produzir um mapa 3D de altíssima precisão de nossa galáxia, a Via-Láctea. A missão é fruto de um investimento de 2 bilhões de libras (cerca de R$ 8 bilhões). Pesquisadores britânicos ouvidos pelo jornal The Observer esperam que os dados levantados pela sonda ajudem a entender como a Via-Láctea se formou, e a prever os rumos de sua evolução pelos próximos bilhões de anos. “Vamos reescrever todos os mapas estelares e todos os livros de astronomia”, disse ao jornal inglês o principal assessor científico da ESA, Mark McCaughrean. A sonda também está capacitada para detectar asteroides dentro do sistema solar. “Ela nos dará um sistema de alerta para asteroides em rota de colisão com a Terra”, acrescentou. A varredura completa da galáxia pela sonda levará cinco anos, período no qual ela registrará a posição, o brilho e a temperatura de todos os corpos celestes que entrarem em seu campo visual.
A evolução do conto ‘Chapeuzinho Vermelho’
Reino Unido, apresenta o resultado da aplicação de técnicas, adaptadas das normalmente usadas por biólogos na reconstituição das relações de parentesco entre diferentes espécies, para tentar traçar a evolução do conto infantil Chapeuzinho Vermelho. “De acordo com a escola ‘históricogeográfica’, é possível classificar contos semelhantes em tipos internacionais, e rastreá-los de volta aos arquétipos originais”, escreve Tehrani em seu trabalho. Ele nota, no entanto, que essa abordagem é alvo de críticas por parte de estudiosos que consideram o folclore fluido demais para suportar esse tipo de classificação, e também dos que veem risco de etnocentrismo na empreitada. Tehrani se propôs a usar os mecanismos emprestados da biologia para testar a validade da classificação de contos populares em “tipos” aparentados entre si, que seriam análogos aos dos ramos da árvore da evolução das espécies. No lugar das características físicas e genéticas usadas pelos biólogos, o pesquisador se valeu de 72 variáveis de enredo de 58 histórias normalmente classificadas como variantes de Chapeuzinho Vermelho ou de outro conto muito semelhante, conhecido como O Lobo e as Crianças. Entre as variáveis estudadas estiveram características de protagonista (criança sozinha ou grupo de crianças; menino ou menina), características do vilão (lobo, ogro, tigre, etc.), truques do vilão (disfarce do corpo, da voz) e desfecho (se a vítima escapa, é devorada, é resgatada por terceiros). O resultado, diz o autor, prova que é possível confirmar a hipótese de que Chapeuzinho Vermelho e O Lobo e as Crianças são de fato tipos de histórias diferentes. Além disso, o trabalho conclui que a maioria das versões africanas analisadas deriva da família de O Lobo e as Crianças, enquanto que as versões asiáticas parecem ser híbridos dos dois contos-base.
Em artigo publicado no periódico online PLoS ONE, o pesquisador Jamshid Tehrani, da Universidade Durham, no Sven Lidstrom, IceCube/NSF/Divulgação
28 neutrinos de fora do sistema solar O laboratório IceCube, localizado no Polo Sul, capturou 28 neutrinos altamente energéticos, que provavelmente tiveram origem fora do sistema solar, diz artigo publicado na edição de 22 de novembro da revista Science. Esta é a primeira vez, desde 1987, que partículas desse tipo, originadas no espaço além do sistema solar, são identificadas na Terra. É extremamente difícil detectar neutrinos, já que são partículas desprovidas de carga elétrica e interagem muito pouco com a matéria. Além disso, a atmosfera terrestre é constantemente banhada por neutrinos produzidos no Sol, o que torna a detecção dos neutrinos gerados por outras fontes ainda mais complicada, já que é preciso separá-los da variedade local. As mesmas características que tornam os neutrinos tão difíceis de achar também fazem com que sejam valiosos para a astronomia: eles são capazes de atravessar obstáculos, como nuvens de poeira e campos magnéticos, que detêm ou desviam outros tipos de partícula, como prótons ou mesmo luz. O desenvolvimento de uma “astronomia de neutrinos”, em que essas partículas desempenhem um papel semelhante ao que a luz, as ondas de rádio e outras formas de radiação têm na astronomia atual, é um sonho antigo.
O Laboratório IceCube, localizado na Base Amundsen-Scoot no Polo Sul, é o maior detector de neutrinos do mundo
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Campinas, 2 a 8 de dezembro de 2013
Foto: Divulgação
Estudo aponta que usinas solares podem gerar empregos e reduzir as emissões de gases de efeito estufa
O Sol como aliado
MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br
aso já estivessem em operação, os 13 projetos contemplados pela Chamada Estratégica Nº 13 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que objetiva fomentar a instalação de Usinas Solares Fotovoltaicas (USFs) no Brasil, teriam evitado a emissão de 6.285 toneladas de carbono equivalente (tCO2eq) em 2011 e de 11.229 (tCO2eq) no ano posterior, considerando a capacidade máxima de geração de energia elétrica das plantas. Além disso, a iniciativa também teria gerado 454 empregos diretos com a instalação das USFs. As projeções fazem parte da tese de doutorado do engenheiro agrônomo Davi Gabriel Lopes, defendida recentemente na Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp, sob a orientação da professora Carla Kazue Nakao Cavaliero. De acordo com Lopes, os resultados obtidos pelo estudo, o primeiro realizado sobre a Chamada 13, indicam que a maior participação da geração fotovoltaica na matriz elétrica brasileira pode trazer importantes benefícios socioambientais para o país. “Além de não emitir gases de efeito estufa [GEEs] depois de instalada, a usina solar pode colaborar para a criação de empregos e a geração de renda, fatores mais que desejáveis para um país em desenvolvimento como o Brasil”, destaca o pesquisador, que contou com bolsa de estudo concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC). O autor da tese explica que antes do lançamento da Chamada 13, em 2011, o Brasil contava, praticamente, com painéis fotovoltaicos operando somente em sistemas isolados. Ou seja, os equipamentos, instalados em residências, por exemplo, não estavam interligados à rede de distribuição. A ação da Aneel pretendeu justamente estimular tanto as empresas públicas quanto privadas que atuam na geração, distribuição e transmissão de energia a investir na construção de USFs que pudessem ser conectadas à rede. Os recursos têm origem no montante que essas empresas são obrigadas a aplicar em programas de eficiência energética e em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Conforme Lopes, cerca de 100 projetos foram apresentados para participar da Chamada 13, mas somente 18 foram aprovados pela Aneel. Desses, entretanto, cinco desistiram de dar sequência às propostas. Dos 13 que sobraram, somente a CPFL Energia colocou a sua usina em operação. Inaugurada no final de dezembro de 2012, a unidade instalada na Subestação Tanquinho, em Campinas, exigiu investimentos da ordem de R$ 13 milhões, para produzir 1.090 MW. Participam do empreendimento, além da empresa proponente, pesquisadores da Unicamp – Lopes entre eles – e três empresas colaboradoras: Hytron, Eudora Solar e Instituto Aqua Genesis. Os demais projetos aprovados ainda estão em fase de planejamento ou os seus responsáveis estão providenciando licitações para a aquisição de equipamentos e contratação de serviços.
Publicação Tese: “Análise de sistemas fotovoltaicos conectados à rede no âmbito do mecanismo de desenvolvimento limpo: estudo de caso dos projetos da Chamada Estratégica Nº13 da Aneel” Autor: Davi Lopes Orientadora: Carla Kazue Nakao Cavaliero Unidade: Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) Financiamento: Capes
Planta colocada em operação pela CPFL: unidade serviu de referência para a pesquisa inédita em torno da Chamada Estratégica Nº 13 da Aneel
Para desenvolver a pesquisa, o engenheiro agrônomo baseou-se nas normas estipuladas pela Aneel e também nas informações obtidas por meio de um questionário que ele enviou às responsáveis pelos 13 projetos contemplados. Nem todas, porém, enviaram respostas. “Apenas a CPFL (já em operação) e a CESP, que deu início ao processo de licitação para a instalação da sua planta, responderam ao questionário. Para suprir a falta de dados das outras usinas, eu recorri às informações disponibilizadas pela Aneel, que promove reuniões periódicas com as empresas para acompanhar a evolução dos projetos. Mesmo assim, ainda ficaram faltando alguns elementos importantes para fazer as projeções acerca da não emissão de gases de efeito estufa. Para contornar essa deficiência, usei os indicadores da planta da CPFL, que serviu de referência para todo o trabalho”, esclarece Lopes. Assim, para estipular a quantidade de toneladas de carbono que teriam deixado de ser lançadas na atmosfera pela operação dos projetos participantes da Chamada 13, o pesquisador partiu inicialmente da capacidade de energia gerada pelas usinas, que é de 25.619 MWh/ano, suficientes para abastecer algo como 125 mil residências por 12 meses. Depois, ele se baseou na metodologia adotada pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCC, na sigla em inglês) da Organização das Nações Unidas (ONU). Os parâmetros obtidos serviram para alimentar o software PVsyst (versão 6.1.0) que simula a energia elétrica gerada de Sistemas Fotovoltaicos Conectados à Rede (SFCR).
sustentável, criação de emprego, geração de renda e transferência de tecnologia”, diz Lopes. Ao todo, segundo o autor da tese de doutorado, a Chamada 13 deverá envolver investimento da ordem de R$ 300 milhões. Ocorre, no entanto, que praticamente dois terços desse valor serão destinados à compra de equipamentos importados. Ainda assim, cerca de R$ 90 milhões deverão ficar no país, referentes aos custos para instalação, operação e manutenção das usinas fotovoltaicas. “Isso evidencia que, ao serem multiplicadas, as plantas podem contribuir para incrementar diversos setores industriais que fazem parte da cadeia de geração de energia solar fotovoltaica. Nesse sentido, é recomendável que o Brasil adote políticas públicas consistentes que possam fomentar esse setor”, entende o autor da tese, que acrescenta: todos os equipamentos usados na geração fotovoltaica são passíveis de reciclagem.
ÓTIMAS
CONDIÇÕES
O Brasil é um país privilegiado em termos de insolação. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), que considera os dados do relatório “Um Banho de Sol para o Brasil”, elaborado pelo Instituto Vitae Civilis, o país recebe energia solar da ordem de 1.013 MW/h anuais, o que corresponde a cerca de 50 mil vezes o seu consumo anual de eletricidade. Os Estados brasileiros recebem, em média, entre 3 e 8 horas por dia de insolação. O Nordeste é a região de maior radiação solar, com média anual comparável às me-
lhores regiões do mundo, como a cidade de Dongola, no deserto do Sudão (África), e a região de Dagget, no Deserto de Mojave, na Califórnia (EUA). Apesar de todo esse potencial, reconhece Lopes, o país tem um número praticamente inexpressivo de equipamentos que convertem energia solar em elétrica quando comparado ao que ocorre, por exemplo, em alguns países da Europa. Isso é decorrência, entre outros fatores, dos altos custos dos equipamentos. “Como a nossa matriz elétrica está fortemente baseada na hidroeletricidade, que é barata e renovável, o país nunca chegou a investir fortemente em outras fontes igualmente renováveis, como a fotovoltaica. Na Europa, essa lógica se inverte. Como a produção de eletricidade a partir das usinas térmica e nuclear é muito cara e acarreta sérios impactos ambientais, a alternativa da energia fotovoltaica tornase economicamente viável”, esclarece o autor da tese. Com a crescente cobrança por parte da sociedade brasileira, que tem exigido cada vez mais a incorporação de fontes “limpas” na matriz energética nacional, essa tendência começa a mudar no país. “E é importante que mude mesmo. Nos períodos de estiagem, o Brasil tem usado cada vez mais as termelétricas para suprir o consumo da população. Isso tem feito com que as emissões de gases causadores de efeito estufa dobrem de um ano para outro em relação ao MWh gerado, o que já nos obrigando a acionar um sinal de alerta”, analisa Lopes. Foto: Antonio Scarpinetti
MDL As usinas fotovoltaicas, acrescenta Lopes, podem ser incluídas no conceito de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), instituído pelo Protocolo de Quioto para auxiliar as iniciativas voltadas à redução das emissões de gases de efeito estufa em países em desenvolvimento. Cada tonelada de CO2 equivalente deixada de ser emitida ou retirada da atmosfera se transforma em uma unidade de crédito de carbono, chamada Redução Certificada de Emissão (RCE), que tanto pode ser negociada no mercado mundial, como se fosse uma ação, como também diretamente vinculada a um país desenvolvido que investiu em projetos de MDL em países como o Brasil, China e Índia. Os principais compradores desses papéis são os países desenvolvidos, que desejam reduzir as emissões de GEEs de uma maneira mais barata que investir em projetos em seu próprio território. Entretanto, observa o pesquisador, a redução das emissões constitui apenas um fator que a ONU exige para classificar um projeto como MDL. “Além disso, ele também precisa atender a outras exigências, como contribuir para o desenvolvimento
Davi Lopes, autor da tese: geração fotovoltaica pode trazer importantes benefícios socioambientais para o país
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‘Bico-de-papagaio’ é associado a distúrbios auditivos em estudo Tese da FCM demonstra que espondilose cervical promove diminuição do fluxo da artéria vertebral
Segundo a pesquisadora, exercícios de alongamento têm se mostrado eficazes para atenuar os problemas causados pelo bico-de-papagaio
ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br
Foto: Divulgação
DOR O bico-de-papagaio é facilmente diagnosticado pelo médico quando ocorrem calcificações nas cartilagens que envolvem as vértebras e os ligamentos. Elas são capazes de determinar um estado de desequilíbrio, sinalizando que os raciocínios otoneurológico e reumatológico são de suma importância tanto para a conclusão diagnóstica quanto para o tratamento a ser estipulado. “Também enfatizamos a necessidade de apurar melhor os graus mais severos da doença, levando em conta sinais ou sintomas que possam ir além dos quadros de dor e de limitação da mobilidade”, afirmou Elizângela dos Santos. É que na verdade são muito recorrentes queixas de dor na anamnese dos portadores de espondilose cervical. Foram inclusive desvendadas na casuística anormalidades objetivas em 52% deles. Observou-se que o medo passa a limitar mais a vida desses pacientes, com repercussões negativas nas atividades domésticas, conforme a fisioterapeuta, cuja pesquisa foi orientada pela docente e reumatologista da FCM Simone Appenzeller. “Geralmente desanimados após buscarem vários tratamentos e fármacos, sem ter alívio para esse mal e sem saber o que está havendo, eles vão se tornando cada vez mais deprimidos e isolados socialmente”, dimensiona a estudiosa. Esses pacientes sofrem dores que agem produzindo um certo formigamento nos membros superiores. A doutoranda percebeu essa situação e começou a observar que os pacientes que atendia em clínica privada vinham sempre com queixas de coluna e que isso não se tratava de um fato isolado. Tais queixas apareciam associadas grande parte das vezes aos problemas auditivos. Mas essa suspeita não tinha sido comprovada e poucos artigos científicos relacionavam os dois aspectos na literatura. Desde a sua pesquisa de mestrado, no entanto, ela já tinha notado essa relação e, no doutorado, deu um passo maior nessa direção: buscou compreender por que essa problemática estaria ocorrendo. Os pacientes avaliados tinham idade acima de 30 anos, visto que normalmente a deformação aparece em indivíduos indistintamente de sexo por volta dos 50 anos. Ocorre que ela também pode se manifestar em pessoas mais jovens, quando expostas a alguns dos fatores de risco, que são, além da idade (que é o principal fator), hereditariedade, má postura, obesidade, sedentarismo e fraturas, os quais contribuem para desgastar as articulações e levar à calcificação das vértebras. Elizângela dos Santos comentou que, normalmente, quando se formulam as impressões diagnósticas, as primeiras suspeitas recaem sobre a síndrome vertebrobasilar ou sobre a síndrome de Barré-Lieou, síndromes da coluna cervical que causam sintomas auditivos. “Os pacientes com espondilose mostraram sintomas semelhantes a esses casos”, mencionou a doutoranda.
DEGENERAÇÃO
A fisioterapeuta Elizângela dos Santos, autora da tese: hipóteses confirmadas
As doenças degenerativas na região cervical, como por exemplo a espondilose, são muito comuns mundialmente e sua prevalência aumenta com a idade. Quase metade da população apresenta cervicalgia em algum momento da vida, que se trata de uma contratura muscular no pescoço, habitualmente assimétrica, desviando a posição da cabeça para o lado mais acometido.
A dor cervical também é a segunda causa mais incidente de consulta nos serviços primários de saúde do mundo inteiro, ficando atrás unicamente das dores lombares. “Aproximadamente 70% a 80% da população sofre de alguma dor incapacitante na coluna ao longo da vida”, recordou Elizângela dos Santos. Elas acontecem sobretudo no disco vertebral e, gradualmente, aparecem neoformações ósseas nestas áreas, chamadas osteófitos (crescimento anormal do osso), podendo resultar em um estreitamento do forâmen neural (abertura por onde as raízes saem da coluna e se dirigem ao restante do corpo). É uma estratégia de defesa do organismo para absorver a sobrecarga das articulações e estabilizar a coluna vertebral, pois deformações ao longo da margem dos corpos vertebrais e do ligamento longitudinal posterior podem causar compressão da medula espinhal. A prescrição de procedimento cirúrgico deve ser feita como último recurso. Segundo a autora da tese, a decisão precisa ser bastante ponderada, dado que estruturas da coluna cervical demandam uma intervenção bastante meticulosa. Por outro lado, fisioterapia e exercícios de alongamento têm se mostrado eficazes em diminuir a dor e a compressão pelo bico-de-papagaio. Muitos pacientes atualmente lançam mão da técnica de pilates, que se mostra bastante responsiva. “Entretanto, somente tomam essa decisão quando a dor aumenta. Já atendi muitos casos com dor absurda e com múltiplos bicos-de-papagaio em toda coluna vertebral”, relembrou ela. Mas além do desgaste natural dos discos intervertebrais próprio da idade e da predisposição genética, da má postura, da obesidade e do sedentarismo, traumas anteriores sofridos na coluna podem igualmente estar associados ao aparecimento da lesão. “Os homens são mais atingidos com artrose de coluna e as mulheres com artrose na região cervical”, destacou a pesquisadora.
Foto: Antoninho Perri
oença: espondilose; o que envolve: alterações degenerativas inespecíficas da coluna vertebral; onde aparece: são mais comuns nas porções móveis, como as regiões cervical e lombar, e menos nas porções rígidas, como a região dorsal. A espondilose é a doença reumática mais comum nos dias de hoje, apelidada com o nome popular de “bico-de-papagaio”. Mundialmente 60% da população com mais de 45 anos de idade é atingida pela enfermidade e 86% é acometida entre os 70 e 79 anos. Ela é compreendida pela comunidade científica como um desgaste natural da vértebra, que diminui o disco articular e, desta forma, permite que um osso fique atritando literalmente com o outro. Aos poucos se forma – na parte posterior das vértebras – uma protuberância semelhante a um bico recurvado dessa ave. Daí o motivo dessa denominação. Em pesquisa de doutorado realizada na Faculdade de Ciências Médicas (FCM), a fisioterapeuta Elizângela dos Santos concluiu que a espondilose cervical especificamente promove uma diminuição significativa do fluxo da artéria vertebral, desencadeando distúrbios auditivos em seus portadores. O trabalho mostrou uma íntima relação entre espondilose cervical e frequência de sinais e sintomas auditivos para 81,4% dos casos avaliados, de uma amostra de 102 indivíduos que faziam parte de um grupo da terceira idade da Universidade Federal de Alfenas (Unifal), em Minas Gerais. Eles relatavam hipoacusia (surdez), vertigens e zumbidos em consequência da interrupção da circulação sanguínea na coluna, a qual se responsabiliza por irrigar o sistema auditivo. Não obstante esse achado, a autora da tese sugeriu novas investigações que abordem em maior profundidade ainda a provável etiologia da doença que é, ainda hoje, entendida como predominantemente vascular – seja por estimulação do sistema simpático, seja pela presença de ateromas (placas) nas artérias, por compressão das mesmas pelo bico-de-papagaio. Assim, as células sensoriais de órgãos como a cóclea e o vestíbulo padecem de isquemia. A hipótese da doutoranda era de que, quanto maior o bico-de-papagaio, maior seria a interrupção do fluxo sanguíneo. E tal hipótese se confirmou principalmente do lado direito da vértebra, coincidentemente o lado em que a artéria vertebral é mais calibrosa em termos anatômicos. Ela ainda averiguou que o fluxo arterial vertebral direito foi menor em todos os casos estudados, sendo essa diminuição de 15,76% em pacientes com a situação auditiva considerada deficitária contra 7,5% do lado esquerdo. Em pacientes com zumbidos, essa diminuição do lado direito foi de 2,65% contra 0,72% do lado esquerdo. Em indivíduos com tontura, a diminuição do lado direito foi de 8,4% contra 5,86% do lado esquerdo. Apesar dessas alterações não terem sido significativas, salientou a pesquisadora, indicaram uma redução do fluxo arterial vertebral principalmente do lado direito de portadores de espondilose, mesmo não tendo sido estabelecida definitivamente uma relação dessa diminuição com possíveis sinais e sintomas otológicos. O estudo também apontou uma correlação mais frequente de tontura em pacientes com zumbido. Nessa amostra, eles eram mais jovens, o que diferiu de achados encontrados em outras publicações.
Publicação Tese: “Espondilose cervical: manifestações clínicas e achados na ultrassonografia das artérias vertebrais” Autora: Elizângela dos Santos Orientadora: Simone Appenzeller Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)
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Pesquisas detectam novas propriedades em suplemento Foram constatadas maior proteção celular e melhora do estado hiperglicêmico Foto: Antoninho Perri
PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br
s proteínas do soro do leite encontradas nos produtos conhecidos como whey proteins, bastante consumidos por esportistas, não contribuem apenas, como muitos acreditam, no ganho de massa muscular. Pelo menos duas novas propriedades foram comprovadas pelo grupo de pesquisadores do Laboratório de Fontes Proteicas (Lafop) da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp: a proteção celular, quando o organismo é submetido ao estresse, e a melhora do estado hiperglicêmico em animais cujo nível de açúcar no sangue está acima do recomendado. Os estudos são coordenados pelo docente Jaime Amaya Farfan e, segundo ele, apontam para a importância dos peptídeos ou compostos resultantes da ligação dos aminoácidos presentes nas proteínas. “A ênfase que se dava antigamente ao valor ‘biológico’ das proteínas pelos aminoácidos que elas contêm já é ultrapassada”, afirma. Nas duas últimas décadas, acrescenta Farfan, as proteínas em processo inicial de digestão, ou quebra, ganharam destaque nas pesquisas. “Quando a proteína é digerida, os peptídeos formados terão efeito nutricional, metabólico e fisiológico. Estamos tentando é focar agora no valor dos produtos da hidrólise para a saúde, ou seja, no impacto do seu consumo no longo prazo”. A proteína utilizada no laboratório é hidrolisada por um sistema enzimático e já é ingerida “quebrada”. “Nosso interesse está no hidrolisado total e em alguns pequenos peptídeos” ressalta a pesquisadora Priscila Neder Morato, atualmente desenvolvendo pós-doutorado no Laboratório. Priscila foi responsável pelo estudo relacionado à glicemia. Para que ocorra a entrada de glicose do sangue para dentro da célula é necessária a ação da insulina. Em indivíduos diabéticos isso é prejudicado, uma vez que eles não produzem quantidade suficiente de insulina, ou ela não age como deveria, resultando no aumento do açúcar no sangue. Os testes mostraram que o consumo do whey hidrolisado promoveu a maior entrada de glicose na célula, independentemente da insulina, o que seria muito interessante para o diabético. O efeito produzido pela proteína da dieta somou-se a resultados já conhecidos, obtidos com a atividade física. O principal transportador da glicose é o GLUT-4 que, em situações basais, é encontrado no interior da unidade celular. “Quando aumenta a glicemia, o transportador é promovido para a membrana da célula, e a glicose se liga a ele para ser transportada para o citoplasma. Os indivíduos que consumiam a proteína hidrolisada tinham mais GLUT-4 na membrana, ou seja, apresentaram maior capacidade para levar a glicose do sangue pra dentro da célula”, detalha Priscila. A pesquisa quantificou o aumento no teor de glicogênio, que é a forma química em que se armazena a glicose no músculo, inclusive no miocárdio, músculo que reveste o coração. “No caso do miocárdio, este foi um achado bastante interessante porque esse estoque reforçado de energia pode ser útil no caso de uma grande e súbita demanda de energia”, diz Farfan. O professor destaca que o efeito foi marcante no indivíduo sedentário. A forma hidrolisada das fontes proteicas também incrementou o sistema de proteção celular endógeno na forma heat shock proteins, ou HSPs. São proteínas que protegem as células contra vários tipos de estresse, como aumento de temperatura, estresse oxidativo e a lesão muscular. A doutoranda Carolina Soares de Moura, autora da dissertação de mestrado sobre
O professor Jaime Amaya Farfan, coordenador dos estudos, e as pesquisadoras Carolina Soares de Moura e Priscila Neder Morato: grau de confiabilidade dos produtos é importante
o assunto, explica que o consumo da proteína hidrolisada aumenta a expressão das HSPs. “Elas são divididas em várias famílias, de acordo com seu peso molecular: HSP 70, 90, 60 e 25 e podem trabalhar em conjunto ou separadamente. Mostramos nesse trabalho que o hidrolisado aumenta a HSP 70 em diversos tecidos, entre eles o do pulmão, gastrocnêmio e sóleo, na região da panturrilha, entretanto não vimos efeito em baço ou em coração”. O aumento nos níveis de HSP melhora a resistência e tolerância celular, deixando o corpo mais protegido e resistente a diversos agentes danosos que estamos expostos diariamente. Os mesmos indivíduos que tiveram as HSPs aumentadas reduziram os danos oxidativos dos radicais livres. Carolina salienta que foi feito um marcador que foram as proteínas carboniladas. “O aumento dessas proteínas endógenas significa que o dano causado pelos radicais livres foi menor”. Outro estudo desenvolvido no Laboratório diz respeito ao aminoácido leucina, popularmente conhecido por aumentar a massa muscular. O uso do whey, rico em leucina, estimulou a síntese proteica do diafragma. “Num indivíduo saudável, houve aumento dos biomarcadores envolvidos na sinalização para aumento na síntese muscular, mas o aumento na quantidade proteica ou em massa muscular foi pequeno. É possível que, nesse caso, o consumo da proteína do soro do leite tenha utilidade em pessoas que, por exemplo, necessitem de um respirador artificial quando sejam submetidas a uma cirurgia torácica”, ressalta Farfan, que também foi orientador deste trabalho conduzido por Pablo Christiano Barboza Lollo.
WHEY Acredita-se que o consumo da proteína do soro do leite, por seu alto teor de aminoácidos indispensáveis, e especialmente os de cadeia ramificada BCAAs (branchedchain amino acids), promova o crescimento de massa muscular. Os aminoácidos indispensáveis são aqueles que os seres
humanos não conseguem sintetizar, e que somente podem ser obtidos por meio da dieta. Daí a utilização sistemática do whey como complemento nutricional ou suplemento alimentar. Esses produtos são encontrados no mercado em três formas: a proteína isolada, concentrada ou hidrolisada. “O que varia entre um produto e outro, além do preço, é a concentração proteica e o fato de que o hidrolisado provém de um concentrado que foi tratado com enzimas. O que tem maior valor agregado é o hidrolisado”, afirma Carolina. De acordo com o professor Jaime Amaya-Farfan, as várias alegações quanto ao whey geralmente se referem à proteína que não foi previamente hidrolisada. “Essas alegações incluem o aumento da massa muscular associado à prática de atividade física, mas isto ainda é passível de debate porque, embora se estimulem todas as reações bioquímicas do organismo para produzir mais massa muscular e proteína, nem sempre vemos resultado na pessoa que ingere grandes quantidades desses produtos”. Outra questão, segundo o professor, é a qualidade e grau de confiabilidade dos produtos. “Tem no mercado muito whey adulterado que não alcança o teor de proteína que alega. A confiabilidade dos produtos para o consumidor dependerá muito da marca, não sendo raro encontrar produto em que houve a substituição do whey por proteínas mais baratas”.
ALIMENTOS
Voltando à importância dos peptídeos gerados durante a digestão, o professor Farfan diz: “É uma visão que a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) demoraram a reconhecer, pois até dez anos atrás, se falava apenas do ‘valor nutritivo’ das proteínas e dos aminoácidos”. Farfan considera importante frisar que as propriedades reveladas pelos estudos atuais podem também ser obtidas mediante o exercício físico. “Nós estamos acrescentando o conceito de que algumas proteínas, entre elas estas específicas do soro do leite, têm uma função aparentemente equivalente ao exercício físico. Portanto, não é só o exercício que pode levar a esse tipo de proteção celular ou diminuição da glicose sanguínea, senão também alguns nutrientes, como essas proteínas do soro do leite”. É mais uma constatação de que a nutrição moderna está sendo complementada com os novos conceitos dos alimentos funcionais.
Publicações Whey protein hydrolysate enhances the exercise-induced heat shock protein (HSP70) response. (http://www. sciencedirect.com/science/article/ pii/S0308814612014744)
FUNCIONAIS
Os estudos desenvolvidos no Lafop seguem a premissa de que os alimentos não servem apenas para nutrir o corpo, ou seja: produzir energia e promover o crescimento, mas ser funcionais. “No conceito clássico da nutrição, as proteínas servem para construir tecidos e, em casos excepcionais, como reserva energética. Elas são conhecidas como os ‘nutrientes plásticos’. Além disso, as proteínas de origem animal e vegetal são igualmente importantes porque, na natureza, nenhum evento tem apenas uma consequência, senão um conjunto orquestrado de consequências”.
A dipeptide and an amino acid present in whey protein hydrolysate increase translocation of GLUT-4 to the plasma membrane. (http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/ S030881461300054X)
Morato PN, Lollo PCB, Moura CS, Batista TM, Carneiro EM, AmayaFarfan J. PLoS ONE 8(8): e71134. doi:10.1371/journal.pone.0071134, 2013.
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Campinas, 2 a 8 de d
Tese aponta convergên ciências sociais na obr
Estudo desenvolvido no IFCH confronta as duas áreas, investigando as articulações e as afinidades entre elas no âmbito do pensamento e da trajetória do intelectual PAULO CESAR NASCIMENTO pcncom@bol.com.br
s intersecções entre crítica literária e ciências sociais no conjunto da produção intelectual do sociólogo, literato e professor universitário Antonio Candido de Mello e Souza constituem o objeto da tese de doutorado defendida pelo cientista social e antropólogo Rodrigo Martins Ramassote no programa de pós-graduação em Antropologia Social do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp. Na investigação orientada pela professora Heloisa André Pontes, o autor demonstra que a parte mais significativa dos estudos literários do eminente acadêmico deve ser lida a partir do fecundo amálgama dos papéis que ele soube encarnar de maneira engenhosa e indissolúvel: o do analista literário refinado e o do não menos sensível cientista social. Segundo Rodrigo, a extensa e multifacetada obra de Antonio Candido ainda não havia sido submetida a uma investigação sistemática envolvendo a discussão que ele se propôs a avançar em seu trabalho – em que pese o considerável crescimento nos últimos anos da fortuna crítica voltada para o exame do legado intelectual daquele que é aclamado como um dos principais expoentes da crítica literária brasileira contemporânea. Conforme observa, os poucos estudos que abordaram o assunto não deixaram de subscrever uma espécie de “grande divisor” que separa a produção intelectual do autor em duas áreas disciplinares radicalmente apartadas, com tão-somente algumas obras articulando de maneira mais estreita a intersecção enfocada em sua tese “A vida social das formas literárias: crítica literária e ciências sociais no pensamento de Antonio Candido”. O mérito do estudo está justamente no empenho de seu autor em confrontar as duas áreas, buscando entender as articulações, as afinidades e os pontos de convergência entre elas – enfoque considerado de suma importância para a compreensão do método crítico do intelectual. “A recepção crítica de Antonio Candido, com raras exceções, acaba reproduzindo essa segmentação, decretando uma separação radical e intransponível entre os estudos sociológicos e literários no conjunto de sua obra: os sociólogos investigam a produção sociológica e os críticos literários a produção literária dele”, aponta Rodrigo. “Em vez de acatar a imagem de conjuntos isolados, o que eu procurei fazer foi mostrar as relações existentes entre esses dois campos de atuação, propondo uma leitura voltada para a sondagem de convergências e imbricações, uma vez que não me parece mais apropriado examinar as duas frentes separadamente, como áreas estanques, mas sim como atividades que se alimentam reciprocamente e se complementaram na trajetória do crítico e do sociólogo, evitando incorrer em uma dissecação que levaria a perder de vista a unidade central que as reúne e anima”, argumenta o pesquisador. Não se trata, no entanto, de concebê-lo como um sociólogo travestido de crítico literário ou vice-versa, ressalva Rodrigo. Nesse caso, a análise reduziria a literatura à mera ilustração de teses sociológicas pré-existentes, caminho pelo qual o autor, como cientista social e antropólogo, poderia ter enveredado confortavelmente. Entretanto, desde a dissertação de
mestrado, ele busca evidenciar na obra de Candido, especialmente a partir da análise dos ensaios Dialética da malandragem (1971) e De Cortiço a cortiço (1993) os princípios gerais das correlações posteriormente aprofundadas no doutorado, convencido que certas diretrizes analíticas e pressupostos interpretativos acionados pelo intelectual para refletir seja sobre nossa produção literária seja sobre nossa formação social dialogavam, em boa medida, entre si.
“CRÍTICO
SOCIOLÓGICO ”
Embora reconheça a extrema pertinência e relevância das contribuições de outros estudiosos da produção do ensaísta – distinguem-se nessa vertente os poucos porém significativos estudos de Roberto Schwarz, Marisa Peirano, Heloisa Pontes e Luiz Carlos Jackson –, Rodrigo observa que, em razão dos recortes cronológicos, propósitos analíticos ou preocupações de fundo, sua abordagem delas se distancia em alguns pontos. “Apesar das indicações certeiras sobre as afinidades entre crítica literária e sociologia em parte da produção intelectual de Candido, nenhum dos estudos indicados preocupou-se em averiguar as implicações, efeitos e repercussões dessa estreita convivência no cerne de sua obra”, sublinha na tese. Ainda de acordo com o autor, tais estudos passam ao largo, de um lado, das circunstâncias institucionais e intelectuais subjacentes à produção dos textos de Antonio Candido e, de outro, da natureza transdisciplinar que caracteriza sua obra – não obstante sejam constantes e quase sempre com intuito desqualificador as referências ao perfil sociológico de crítica adotado pelo acadêmico. “De modo geral, a discussão fica restrita à mera enunciação do lugar comum ‘crítico sociológico’, sem que se aprofundem questões decisivas que merecem destaque. Quais as matrizes ou as formulações sociológicas subjacentes às análises literárias realizadas por Candido? Com quais vertentes das ciências sociais ele dialoga em seus ensaios?”, pondera Rodrigo. Para ele, a originalidade do projeto intelectual de Antonio Candido se manifesta pelo cruzamento inovador e altamente criativo de influências intelectuais distintas, de elementos provindos de sua experiência social e familiar, de princí-
pios e formulações derivados de suas atividades de docência e pesquisa e, por fim, de suas convicções e posturas políticas de esquerda. A propósito: outro ponto importante que diferencia o trabalho de Rodrigo é a ênfase que ele confere aos compromissos e às inclinações político-ideológicas de Antonio Candido. Embora bastante comentada, não há, salvo engano, observa ele, nenhum estudo aprofundado sobre a repercussão das atividades e discussões políticas empreendidas pelo crítico no âmbito de sua produção intelectual. Inicialmente conduzida em pequenos grupos clandestinos de oposição à ditadura de Vargas, durante os anos finais do Estado Novo, a militância passou, em seguida, ao interior dos quadros da Esquerda Democrática (ED) e, pouco depois, ao Partido Socialista Brasileiro (PSB). A partir do começo da década de 1950, ele se afasta das reuniões e atividades da agremiação, sem contudo deixar de perpetrar atos de solidariedade pessoal e profissional e manifestar-se contra a opressão e arbitrariedade nos anos de chumbo do regime militar. Conforme salienta Rodrigo, essa trajetória militante de Candido, de modo explícito ou sublimado, encontra-se incrustrada em boa parte de seus escritos, definindo posturas, alianças e compromissos.
SECTARISMO A pesquisa foi conduzida por Rodrigo em duas frentes. Na primeira, sua atenção se voltou para o exame da crítica literária desenvolvida por Candido e dos seguintes livros dela derivados ou associados: a coletânea Brigada Ligeira (1945), a tese Introdução ao método crítico de Sílvio Romero – com a qual ele participou do concurso para provimento da Cadeira de Literatura Brasileira na FFCL-USP, em 1945 – e O Observador Literário (1959). Para chegar a eles, apoiou-se na aquisição, transcrição, leitura e análise de 157 rodapés literários assinados por Candido na grande imprensa paulista ao longo de boa parte da década de 1940 e em fins da década de 1950. Como lembra Rodrigo, foi o prestígio amealhado pela participação na seção de crítica literária da revista Clima, quando ainda era estudante no curso de Ciências Sociais (1939-1941) da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Foto: Divulgação
O antropólogo Rodrigo Martins Ramassote, autor da tese: “A recepção crítica de Antonio Candido, com raras exceções, acaba decretando uma separação radical e intransponível entre os estudos sociológicos e literários no conjunto de sua obra”
O professor, ensaísta e crítico Antonio Candido de Mello e Souza durante
de São Paulo (FFCL-USP), que viabilizou seu ingresso nas redações. Entre janeiro de 1943 e janeiro de 1945 e setembro de 1945 e fevereiro de 1947, ele ficou responsável pela coluna “Notas de crítica literária” respectivamente nos jornais Folha da Manhã e Diário de S. Paulo. Após um longo período ausente das páginas da grande imprensa, tornou-se, entre outubro de 1956 e junho de 1960, colaborador frequente das páginas do Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo. “Por meio da leitura dos rodapés, pude aprofundar minha compreensão do método e atitudes críticas defendidas por Candido nos períodos indicados, identificar os seus principais interlocutores, alvos privilegiados e preferências literárias do autor nessa altura e qualificar de maneira mais concreta os contornos do sectarismo que lhe afetava os juízos avaliativos em início de carreira, aspecto várias vezes por ele reafirmado, mas pouco explorado”, detalha. Redigidos no calor dos últimos anos do Estado Novo, numa linguagem muitas vezes inflamada e não poupando sequer figuras renomadas no cenário intelectual, os rodapés assinados por Antonio Candido, então com 26 anos e ativo militante político de oposição ao regime autoritário, revelam um método crítico caracterizado por uma análise literária politicamente orientada, na qual o juízo de valor de um autor se subordinava à sua contribuição ao esclarecimento das ideias de seu tempo, ressalta o estudo. O próprio literato, lembra Rodrigo, reconheceu em entrevistas essa postura mais sectária de um crítico que preconizava uma teoria pragmática, segundo a qual o artista e o escritor deviam produzir obras adequadas às causas sociais. “Havia um interesse maior por esse tipo de contribuição do que propriamente uma discussão da qualidade técnica das obras que examinava”, observa o pesquisador. Candido, contudo, nunca foi dogmático na avaliação dos autores, demonstrando sensibilidade e rigor analítico na
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dezembro de 2013
ncia entre literatura e ra de Antonio Candido Foto: Antoninho Perri
as comemorações, em 2006, dos 30 anos do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp: sensibilidade e rigor analítico
apreciação de novos escritores ainda desconhecidos, no contexto brasileiro, como nos casos do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto e da romancista Clarice Lispector. Apesar de relacionados na obra Bibliografia de Antonio Candido, organizada pelo crítico literário Vinicius Dantas, os rodapés estavam praticamente inexplorados e não haviam merecido qualquer exame anterior, ainda que parte deles tenha sido republicada. A análise do rico material foi ao mesmo tempo desafiadora, devido ao caráter inédito desse trabalho; importante para descortinar um outro Candido, ainda bastante jovem e que não se furta a expor de forma contundente suas convicções socialistas; e reveladora de uma série de questões por ele ali tratadas e que se prolongaram pelo restante de sua obra, mas já num registro menos acentuado do viés político, comenta Rodrigo.
INFLUÊNCIAS
RURAIS
Na segunda parte, Rodrigo retoma e aprofunda as considerações do ensaio A sociologia clandestina de Antonio Candido, elaborado em 2008 a partir de sua pesquisa de mestrado e dedicado ao exame dos referenciais sociológicos que, segundo ele, ancoram as reflexões do professor em dois de seus principais ensaios: Dialética da malandragem – em que apresenta uma leitura inovadora do romance Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antonio de Almeida – e De Cortiço a cortiço – estudo sobre O Cortiço, de Aluísio Azevedo. A nova incursão a esses dois estudos literários é justificada pela sua insatisfação com a primeira investida e pelo desejo de ampliar o escopo da análise com a articulação de maior número de informações. Além disso, Rodrigo chegara à conclusão que os ensaios mencionados evidenciavam de forma muito clara a estreita relação entre estudos literários e ciências sociais no conjunto da obra de Candido.
“Talvez a segunda parte da tese seja a que melhor responda à proposta de pensar esses dois campos de atuação de Antonio Candido e as confluências entre eles”, afirma. O ponto de partida, dessa feita, conta o antropólogo, é o exame atento de parte substantiva da produção sociológica do autor – sobretudo aquela dedicada ao mundo rural paulista ou a ela associada – registrada nos ensaios The Brazilian Family (1951) e A vida familiar do caipira (1954), bem como na tese Os parceiros do Rio Bonito (1964).
Nessa análise, Rodrigo buscou extrair as linhas de força (padrões explicativos, eixos temáticos, repertório de questões) que costuram os escritos sociológicos mencionados, cotejando-os com informações relacionadas à experiência familiar e pessoal do ensaísta em Cássia (MG), à interlocução com clássicos do pensamento social brasileiro e aos cursos oferecidos por ele à frente da Cadeira de Sociologia II. Também averiguou as convergências e ressonâncias entre e a abordagem empregada por Candido na leitura das relações humanas dos universos ficcionais de Memórias de um sargento de milícias (1855) e de O Cortiço (1890). Descendente de fazendeiros do sudoeste de Minas Gerais, Candido, descreve Rodrigo, não seguiu o destino traçado por boa parte de seus parentes, muitos dos quais enveredaram pela medicina, advocacia e política, sem dúvida por influência do ambiente familiar no qual cresceu, onde recebeu um intenso estímulo para a leitura e o estudo. De acordo com o relato da tese, a trajetória dos bisavôs paternos de Candido, negociantes e fornecedores de gado para os mercados consumidores regionais e interprovinciais, se confunde com a evolução social e prosperidade dos municípios de Passos e Cássia. À semelhança das principais famílias tradicionais da região, sua fortuna e projeção foram amealhadas pela conjugação estreita de atividades agropastoris, comerciais e ocupação de cargos públicos. Embora a incidência de casamentos endogâmicos ou alianças com outras famílias de posses tenham garantido a manutenção do patrimônio material conquistado, o fracionamento das terras entre a extensa prole de herdeiros e a concorrência mercantil com regiões adjacentes foram responsáveis pela dilapidação do patrimônio financeiro e, também, pela reconversão de parte de seus membros às carreiras liberais, em especial a advocacia e a medicina. “Com base no material apurado em Cássia e em publicações dispersas e de difícil acesso, foi possível espreitar o significado profundo das práticas, das relações e dos valores do universo rural nos interesses temáticos e na maneira como Candido os abordou em seus trabalhos sociológicos”, explica Rodrigo. A importância desse resgate histórico da infância
Crítico fundou e dirigiu o IEL Foi Antonio Candido quem sugeriu ao então reitor e fundador da Unicamp, Zeferino Vaz, a criação de um instituto que se diferenciasse das demais faculdades de letras do país. Nasceu desse modo, em 1977, o Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), do qual Candido foi fundador, primeiro diretor e professor durante dois anos e meio. O Instituto traduzia o propósito de abarcar na pesquisa e no ensino o mais amplo leque possível de disciplinas que têm a língua natural como objeto de estudo, promovendo a reflexão crítica sobre todas as manifestações das linguagens. A escolha do nome da instituição proporcionava, nas palavras do ensaísta, “um toque humanístico, mais flexível, e permitia afastar as concepções eventualmente um pouco pedantes do estudo das humanidades”. Sobre esse comentário, é necessário lembrar que, na Unicamp, os estudos linguísticos se constituíram por meio do Departamento de
Linguística, criado no âmbito do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), em 1968, do qual se desmembrou posteriormente. “Um grupo de linguística já havia sido formado pelo professor Fausto Castilho. Formei o grupo de teoria literária com especialistas que já haviam sido meus alunos. Eu quis apenas mestres e doutores que fossem especializados em teoria literária, de maneira que eu estava trabalhando em casa”, lembrou Candido em entrevista ao Jornal da Unicamp quando da comemoração dos 30 anos de existência da unidade. Doutor honoris causa da Unicamp, Candido, em 1961, vivenciara experiência semelhante ao assumir a direção do curso de Teoria Literária e Literatura Comparada (TLLC), criado por iniciativa de um grupo de professores da FFCL-USP para abrigá-lo em sua nova área de atuação profissional, conseguindo promover a montagem e manutenção de uma infraestrutura acadêmica muito bem-sucedida.
do crítico no sudeste de Minas Gerais está no fato de, segundo ele afiança, nunca esse passado em Cássia ter sido explorado por parte daqueles que até então se debruçaram sobre a obra de Candido. Em que pese a influência dessa dimensão familiar rural, não se pode deixar de considerar, pondera o pesquisador, que as teses sociológicas defendidas por Candido foram refratadas pela leitura dos principais estudos dos chamados intérpretes sociais do país que surgiram nas décadas de 1920 e 1930. Prova disso são as ementas do curso “Organização Social” oferecido por Candido aos alunos de Ciências Sociais da FFCL-USP entre os anos de 1952 a 1958: o conteúdo das discussões girou em torno dos fundamentos da organização social do país, apoiando-se na leitura dos principais clássicos do pensamento social brasileiro. Mas por que razão intérpretes anteriores da produção de Candido dispensaram tão escassa atenção à avaliação das confluências examinadas em “A vida social das formas literárias: crítica literária e ciências sociais no pensamento de Antonio Candido”? De acordo com Rodrigo, é possível especular que declarações do próprio Antonio Candido, minimizando a importância da coexistência dessas áreas disciplinares no conjunto de sua produção intelectual, respondam em boa parte por essa lacuna na análise dos ensaios e estudos literários produzidos pelo consagrado autor de Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. Não obstante ao seu engajamento profissional e intelectual como primeiro professor-assistente junto à Cadeira de Sociologia II do curso de Ciências Sociais da FFCL-USP, participando de eventos e congressos científicos, publicando artigos e balanços bibliográficos e lecionando disciplinas na graduação, transparece, da parte de Candido, um forte empenho em reduzir, na maior parte das vezes, a pertinência e o alcance das quase duas décadas de sua condição de sociólogo. Para que se possam apreciar os termos em que o acadêmico coloca essa questão, basta a seguinte afirmação do próprio Candido, transcrita na tese:
Aliás, eu não me considero sociólogo. Assim como o professor de matemática não é necessariamente matemático, fui professor de sociologia, dei conta do recado, mas nunca me considerei sociólogo. Na opinião de Rodrigo, no entanto, se, de fato, não houvesse afinidades eletivas e pontos de contato entre a sociologia e a crítica literária por Candido, seria o caso de congratulá-lo pela flexibilidade de espírito e pela personalidade múltipla fora do comum, posto ter ele suportado conviver, durante quase 20 anos, com duas atividades cognitivas e intelectivas completamente desligadas e distantes, sem que isso lhe tenha custado qualquer transtorno dissociativo. “Na verdade, para usar uma imagem gasta porém expressiva, são o verso e reverso de uma mesma moeda, que se nutriram mutuamente e – estou cada vez mais convicto – responderam pelo próprio dinamismo de sua produção intelectual.”
Publicação Tese: “A vida social das formas literárias: crítica literária e ciências sociais no pensamento de Antonio Candido” Autor: Rodrigo Martins Ramassote Orientadora: Heloisa André Pontes Unidade: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH)
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Campinas, 2 a 8 de dezembro de 2013
As ‘trocas milagrosas’ de Tereza A história de Terezinha Barreto Costa, cujos pais deixaram a Bahia com a família, fugindo da seca
MARIA ALICE DA CRUZ halice@unicamp.br
que lhe propiciou o apreço por chuvas foi o infortúnio da seca numa terra que pouco conheceu, mas ouviu falar muito. A prosódia baiana do casal retirante da seca, rumo a Japurá, no Paraná, talvez lhe soasse como alívio ao anunciar, ainda no ventre da mãe, que seria uma sobrevivente da seca. – Papai e mamãe haviam perdido quatro filhos entre mim e meu irmão mais velho, então decidiram que queriam ter uma filha sobrevivente da seca. Venderam o pedaço de terra que tinham e foram para o Paraná, para que eu nascesse. Por isso que gosto da chuva. Para quem teve uma realidade de seca, a água é muito importante. Mas esse passado “não vivido” somente serve para agradecer as colheitas e a vontade quase obrigatória de produzir muito. Em nada ele combina com o riso espontâneo da funcionária da Coordenadoria de Assuntos Comunitários (CAC) da Unicamp durante a entrevista. Prefere produzir ações em benefício do todo. Assim escolheu encarar as propiciações que lhe surgem a todo tempo. Sem a seca dos olhos e com o brilho do fardo. Já que para quem é propiciado o fardo, este deve ser transformado em pequenos retalhos coloridos a se constituírem em uma grande colcha para alegrar os apreciadores e hidratar a retina seca, conforme sonha Terezinha Barreto Costa, conhecida como Tereza Barreto. Moça de nome chique, que até soa como marca registrada. – Marca? Não. Batizei meu projeto de “Vida e motivação”. Vivo e motivo. Gosto de motivar, respondo a quem me pergunta se Tereza Barreto é uma marca. Mas, toda trabalhada no bordado, é com esta marca que uma peça customizada por Tereza é conhecida: Tereza Barreto. Este é o nome da blusa, da bolsa, do cachecol seja no bairro Cambuí, na Unicamp, ou em alguns países do mundo. Assim mostram os comentários nacionais e internacionais em sua página eletrônica. Em meio a mil palavras sopradas em 30 segundos, ouve-se a expressão “trocas milagrosas”. É sua forma de recepcionar as propiciações e transformá-las para doá-las a outrem. – Acredito em trocas milagrosas. O que chamam de marca registrada é uma grande rede de pessoas com linha e agulha na mão, transformando esses instrumentos em um produto ao mesmo tempo belo e útil. Enquanto vestem ou são usados como acessórios por alguém, o bordado e a costura reduzem o nível de depressão de meus colaboradores. E não há um local; cada qual produz em seu próprio sofá. O ateliê, hoje, está em vários lugares do mundo. Apesar da característica empreendedora, Tereza só consegue pensar em uma coisa: – Quero ser empreendedora da felicidade. Assim respondo também. Na busca de construir essa troca milagrosa de produções artesanais, produzimos sustentabilidade. A maior empreitada no âmbito de artesanato teve de contar com esses negociadores de felicidade. A troca foi produzir em 2012, mais de 2 mil bolsas para notebooks para professores de todo o Brasil inscritos no Congresso de Leitura da Associação de Leitura do Brasil (ALB), a pedido do presidente Antônio Carlos Amorim, professor da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp. – Fiz rapidamente a consulta. Até porque é difícil segurar linha em agulha num nível 3 de depressão. Mas minha grande resposta a mais esta oportunidade foi sair de minha área para realizar um trabalho de rotina administrativa na Unicamp e observar que, a qualquer direção que mirasse no campus, havia um professor brasileiro com uma sacola customizada pela rede Tereza Barreto a tiracolo. Há coisas milagrosas para minha vida. Como conseguimos cumprir esta missão? Não sei. Só sei que a vida tem sido extremamente generosa comigo. Se eu não tivesse coragem de celebrar e compartilhar com as pessoas, seria muito mesquinha, porque são milagres. Não tenho outra palavra pra dizer. Quando a vida começa a ficar comum, prefiro pensar que estou descansando. – Sempre fui feliz na Unicamp, mas em fase conclusiva quero fazer algo que me faça muito feliz, disse para minha coordenadora. Em seu plano de interpretar as propiciações, Tereza se prontificou a sempre segurar com orgulho uma caneta e fazer desse objeto a ferramenta para retribuir o grande amor entre os dois seres que a desejaram viva e feliz. Aos 66 anos de casamento, Seu José Maria e dona Rosália podem ter certeza que sua reverência aos seres que seguram uma caneta foi atendida. Para amenizar a autopunição por terem trocado suas terras na Bahia para recomeçar uma nova realidade de pobreza no Sul, decidiu estudar o quando bastasse para ser uma boa aluna e uma grande profissional. – Primeira coisa que fiz com primeiro salário da Unicamp foi procurar fazer um cursinho para prestar vestibular em letras, porque papai já tinha uma crença de que a pessoa precisava ter uma caneta para ser valorizada. Até hoje, aos 93 anos de idade, tira o chapéu em sinal de reverência a uma pessoa que usa uma caneta. Ele vê uma pessoa que sabe ler e escrever como uma autoridade. Leva penca de banana da roça, melancia para o escriturário, o bancário, o farmacêutico.
Mesmo depois de uma decepção? Sim, Seu José valoriza as propiciações alheias, conforme Tereza. – Houve uma época, no Paraná, que começaram a sumir as frutas maduras do quintal de meus pais, e mamãe pediu para ele ver quem pegava as frutas. Ao ver que era uma dessas pessoas sempre presenteadas, ele descobriu que às vezes o sujeito é obrigado a perder sua inocência, seu encantamento com o outro. Quando mamãe disse para ele falar que não se tira as coisas dos outros, ele disse: “Eu me escondi atrás do pé de café, porque eles estavam pegando as coisas, mas quem ficou com vergonha fui eu, porque uma pessoa que pega uma caneta não deveria fazer isso”. – Mas se não fosse a costura da mamãe, nem lápis teríamos para escrever no Paraná. Seis cores. Era este o conteúdo de sua primeira caixa de lápis de cor. Da segunda, da terceira, da quarta, até o dia em que as sobras das tecelagens multiplicassem os tons das cores. – E sempre era difícil comprar caderno. E olhávamos com tristeza para aquela dificuldade toda, mas à medida que amadurecemos, descobrimos outras formas de conhecimento que compõem tão grandemente um ser humano quanto um título de professor doutor. A pureza da alma, a inocência, essa candura. Mas confessa que o entrelace de vivência, inteligência e teoria lhe propiciou a amenização de infortúnios. Foi trocando as cargas aos poucos. Chegou a Campinas logo depois de dispensar o hábito de freira, missão para a qual já havia feito seu voto temporário. Trabalhou no projeto de padre Haroldo voltado a adolescentes e jovens dependentes de drogas e na área de promoção social no CRT da Prefeitura de Campinas. Mas, disposta a encontrar um trabalho estável, perguntou a uma senhora, passageira de um mesmo ônibus urbano, sobre uma empresa interessante para a qual poderia prestar concurso público. – Ela me olhou e disse: “Minha filha, não conhece a Unicamp? Passar no concurso para trabalhar lá é a mesma coisa que ganhar na loteria”. Como as propiciações sempre lhe ocorrem, na distribuição de cargos, encontrou uma psicóloga que se lembrou de seu trabalho com os “meninos” do padre Haroldo. Foi orientada a preencher uma vaga na Capelania do Hospital de Clínicas, onde encontrou o padre Wilson Denadai em plena produção de sua dissertação de mestrado. – Isso me fez escolher letras. Lembrei as vezes que eu acomodava uma lasca de madeira nas pernas e dizia que seria uma escritora. Hoje sou formada em letras pela PUC-Campinas, desenvolvi projeto de mestrado na área de análise do discurso e estou, de fato, escrevendo um livro, no prelo.
LEGADO O que pode surpreender muitas pessoas que cruzaram seu caminho, mas hoje recorda com sorriso nos olhos. – O curso de letras era muito exigente, e eu cheguei a passar vergonha diante de colegas de turma ao ler algum trecho em inglês. Certa vez, comentei com uma senhora no hospital sobre essa dificuldade e, como eu havia sido atenciosa com
sua família, sua filha me ofereceu aulas de inglês. Elas moravam perto do antigo restaurante Sancho Pança, hoje Aulus, e eu passei a vir a pé de Barão Geraldo até a casa delas, aos sábados, pela manhã. Até que um dia, elas me sondaram sobre a possibilidade de passar um ano na Califórnia, como baby sitter do filho de uma prima delas, e realizando curso de inglês. Aceitei prontamente. Tereza entende a vida como um legado. – Tem de dar certo. Tem de acontecer. A cada graça, promete fazer o bem a alguém. Quando tinha 10 anos, afastou-se da escola para cuidar da irmã Leila, que nasceu justamente quando a mãe ficou muito doente e teve de se tratar em São Paulo. – Se não tivéssemos vindo para cá, teríamos perdido a mamãe. Já era minha missão. E quando vim trabalhar em Campinas, trouxe Leila e Luci comigo. De onde vem tanta motivação? Das chances de ajudar, garante a funcionária. – Sempre perguntam isso. Gosto de admitir que somos felizes agora. Temos de nos encher de coragem porque lembranças de ontem se desmancham na gente, mas o agora é pura manifestação divina de estar aqui, acordar e fazer parte dessa história toda. Ela inclui nessa colcha, desafios que julgava não dar conta. – Em 1996, diagnosticaram um tumor em meu fígado e enfrentei cirurgia sob a hipótese de estar com câncer, mas deu benigno. Essa experiência suficiente para experimentar minha fé. Eu dizia à equipe que eu não sabia qual era a técnica deles, mas meu Deus me tiraria daquela mesa viva, dona de minha vida de novo. Algumas propiciações talvez não se expliquem, mas Tereza faz questão de contar. – Minha vida mudou depois dessa experiência. Lembro que nessa noite da UTI, uma enfermeira punha gazes úmidas em minha boca seca, e eu falava para minha mãe que um anjo que socorreu. Ela dizia que era por conta da medicação. Comprei um vaso de violetas para presentear a enfermeira, mas me responderam que eu não tive alguém só para cuidar de mim com tanta delicadeza. Em 9 de setembro de 1996, quando tomou o ônibus para a Unicamp, para retomar ao trabalho, pensou: – Era tudo bonito assim, ou ficou bonito para mim? Foi então que percebi que era a vida e esse milagre de estar viva. Tinha passado dez anos na Unicamp e pude perceber o valor dos amigos. Encontrei as pessoas que estavam na fila do banco, do restaurante. Eram as pessoas que estavam tirando as placas do Raio X, as enfermeiras. Ali era a hora da troca. Da gratidão. Tempo de colheita. Quando trabalhava no CRT, prévia para a Febem, voltava chorando por ver a situação daquelas famílias. Quando aquela senhora, desconhecida, falou sobre a Universidade, olhei para o céu e disse: Vou trabalhar na Unicamp. Aqui, na Unicamp, consigo ajudar as pessoas. Tudo depende de estar atento às propiciações. – As abelhas, quando saem da colmeia, acordam como nós, mas saem diretamente em busca de sustento; não se perdem em folhagens, pétalas deformadas, vão ao néctar para trazer pólen para que o ciclo da vida se alimente. Foto: Antonio Scarpinetti
Terezinha Barreto Costa, funcionária da Coordenadoria de Assuntos Comunitários: “O que chamam de marca registrada é uma grande rede de pessoas com linha e agulha na mão”
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Arquiteto difunde técnicas
de Fabricação Digital no país Fotos: Antonio Scarpinetti
Prática aproxima e estabelece conexão entre o “projetar” e o “produzir” CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br
ecnologias auxiliares computacionais têm sido usadas para a elaboração de projetos arquitetônicos desde há muito. É o caso da tecnologia CAD – Computer-aided Design – que possibilita trabalhar em computador informações bi e tridimensionais de projetos, geradas digitalmente em programas específicos. Já com a tecnologia CAM – Computer-aided Manufacturing – essas informações digitais de projeto podem ser interpretadas em maquinários de controle numérico computacional (CNC), capazes de materializar o objeto projetado, utilizando diferentes técnicas e materiais. Portanto, o processo de utilização desses equipamentos é conhecido como Fabricação Digital e constitui a fase final da etapa de criação através da qual as informações virtuais de um projeto são utilizadas para produzir um determinado objeto, seja uma peça de design ou um elemento do projeto arquitetônico, em equipamentos controlados por computador. As já conhecidas impressoras 3D constituem exemplos dessas possibilidades. Desde o seu emprego na indústria automotiva, aeroespacial e marítima, o aperfeiçoamento da técnica de Fabricação Digital tem sido acompanhado pelo aumento da disponibilidade de equipamentos CNC no mercado, abrindo novas oportunidades para a construção civil e para a produção arquitetônica. Os recursos digitais CAD/CAM têm permitido a arquitetos e projetistas a busca de diferentes abordagens na solução de problemas arquitetônicos. Essa prática digital assume particular importância no encurtamento das distâncias entre a fase de elaboração do projeto e sua execução, permitindo o estabelecimento de uma conexão muito próxima entre o “projetar” e o “produzir”. Em relação a outros países, no Brasil ainda é bastante restrita a aplicação das técnicas de Fabricação Digital CAD/CAM em equipamentos CNC na indústria de arquitetura e construção civil, os chamados processos fileto-factory, ou seja, do arquivo para a fábrica. A demora na expansão desta técnica na arquitetura brasileira é associada à desinformação de profissionais muito mais que à indisponibilidade tecnológica. A partir deste pressuposto e da consequente ausência de repertório dos profissionais da arquitetura e construção no Brasil, bem como da carência de mão de obra especializada, o arquiteto Wilson Barbosa Neto realizou trabalho em que estuda a aplicação da Fabricação Digital no processo de produção arquitetônica com vista às condições brasileiras. Na pesquisa e na dissertação de mestrado, orientadas pela professora Gabriela Celani, da Faculdade de Engenharia Civil e Arquitetura (FEC) da Unicamp, ele parte também da constatação de que a alegada indisponibilidade de recursos para a exploração da técnica não se sustenta em vista das disponibilidades ferramentais no mercado do país. O objetivo principal do trabalho foi o de demonstrar como se dá o processo de Fabricação Digital ao longo das etapas de projeto e produção desses espaços, descrevendo a metodologia do processo completo, desde a concepção até a fabricação por sistema file-to-factory das montagens das peças de um edifício. O trabalho baseou-se em dois estudos de caso, envolvendo projetos desenvolvidos por escritórios de arquitetura no exterior, que usam a Fabricação Digital e processos file-tofactory na produção da arquitetura por meio de sistemas CAD/CAM. Completou-o um exercício, com duração de seis meses, de aplicação da técnica em uma indústria de corte a plasma que envolveu a concepção e fabricação de uma peça mobiliária, realizada em metal, em uma empresa de Campinas com a aplicação do conceito file-to-factory.
O arquiteto Wilson Barbosa Neto, autor do estudo, com a maquete de um dos projetos e, no destaque, outra amostra de sua autoria: trabalho detalha todas as etapas da produção
Em razão do tempo e das verbas disponíveis a aplicação prática focou-se na construção de um balcão de atendimento, mas os resultados da experiência podem ser estendidos a outras escalas, como a composição de uma fachada ou a concepção estrutural de uma construção através da modelagem 3D, de maneira a obter a manufatura auxiliada por computador em escala 1:1, ou seja, em tamanho natural.
CONTRIBUIÇÕES
A execução do projeto foi documentada detalhadamente e analisada com vistas à sistematização dos procedimentos, de forma a servir de referência para futuras aplicações no campo da arquitetura. Com o trabalho, o autor espera contribuir para a divulgação e ampliação do uso dessa tecnologia na produção arquitetônica brasileira, seguindo uma tendência mundial. O trabalho apresenta acervos de informações e conhecimentos de forma a permitir aos profissionais interessados a descoberta dos caminhos a serem percorridos para adquiri-los e as dificuldades a serem superadas. Wilson afirma com segurança: “Não tenho dúvidas de que o jovem arquiteto que pretende enveredar pelo conhecimento dessa técnica pode usufruir do trabalho, em que problemas e possibilidades estão muito mastigados. Procurei mostrar o caminho das pedras”. Todo o processo foi documentado através de fotografias e vídeos postados na internet (www.youtube.com/lapacfec) e divulgado em trabalhos apresentados em congressos nacionais e internacionais. Ele se surpreendeu com a repercussão do trabalho. Face ao tema e em decorrência da divulgação nas redes sociais, a apresentação da dissertação atraiu públicos de outras cidades como São Paulo e Vitória, onde nasceu. O estudo o leva a afirmar que existem equipamentos disponíveis no mercado produtivo brasileiro que tornam exequível o emprego dessa tecnologia no país. Constata, entretanto, que a maior dificuldade está em encontrar arquitetos com conhecimento das potencialidades desses recursos e capazes de projetar para os equipamentos disponíveis com vistas a soluções industrialmente factíveis, economicamente viáveis e que efetivamente tragam contribuições tanto na resolução de problemas funcionais requisitados pelo usuário como para o arquiteto encarregado do projeto. Essa perspectiva, consolidada em outros países, pode chegar ao Brasil. “Basta investir agora na formação profissional”, enfatiza
o pesquisador, que em face de experiências anteriormente vividas no exterior e dos estudos de mestrado, desenvolveu de tal forma os conhecimentos na área que hoje presta consultoria para vários escritórios em São Paulo, além de fazer palestras em universidades. Wilson faz questão de frisar que o estudo pode ser viabilizado devido à infraestrutura que a Unicamp possui: “Somos pioneiros nessa linha de pesquisa, trazida pela professora Gabriela Celani, depois do seu doutorado no MIT (Massachusetts Institute of Technology), e nos tornamos referência no Brasil e na América Latina. O Laboratório de Automação e Prototipagem para Arquitetura e Construção (Lapac) em que se investigam essas tecnologias na Unicamp foi montado em 2007, enquanto os de outras universidades surgiram recentemente. Além dos modernos recursos de que dispomos, temos quem nos oriente”.
MOTIVAÇÕES E CASOS
Depois de graduado e de uma breve experiência profissional no Brasil, Wilson teve oportunidade de trabalhar dois anos em um importante escritório de arquitetura em Sydney, na Austrália. Nesse período envolveu-se em projetos e teve contato com outros grupos de arquitetura que lhe ensejaram observar e investigar as tecnologias e equipamentos mais contemporâneos utilizados na elaboração de projetos. Foi quando se deu conta de que no exterior, em arquitetura, a tecnologia CAD/CAM encontrava-se bem mais consolidada do que no Brasil, para onde pretendia retornar. Passou então a investigar em que grupo poderia se inserir, ao voltar ao país, para estudar e pesquisar mais a fundo o emprego dessa tecnologia no processo de projeto arquitetônico. Dessa forma chegou à professora Gabriela Celani e ao Lapac. Foi o que passou a fazer ao ser admitido na pós-graduação da FEC da Unicamp, investigando como essas tecnologias podem auxiliar o arquiteto nos projetos, através de respostas a problemas e fornecimento de subsídios às tomadas de decisões. Com efeito, sem esses recursos seria inviável produzir geometrias mais complexas, soluções mais eficazes e utilizar métodos construtivos de fabricação mais eficientes, capazes de reduzir o custo da fabricação na escala industrial. Focou-se em investigar a utilização dos equipamentos no processo de projeto e execução. Para tanto ele concentrou-se em dois estudos de casos bem sucedidos no exterior, desenvolvidos por escritórios de arquitetura com obras já consolidadas através dessa técnica. O primeiro caso estudado foi o de um
projeto coordenado pelo professor e arquiteto Nader Tehrani, chefe do Departamento de Arquitetura do MIT (Massachusetts Institute of Technology), realizado pelo seu escritório em Boston, envolvendo a criação de postos de gasolina. No segundo caso, concentrou-se em um projeto desenvolvido para a construção de uma estação modular de recarga de veículos movidos a energia elétrica, em Stuttgart, na Alemanha. A complexidade envolvida no estudo desses projetos só pode ser superada com a utilização dessas tecnologias. Nos estudos desses dois casos, Wilson se detém na fundamentação do emprego desses processos, porque e como foram utilizados, explicitando seus benefícios. A investigação concentrou-se na forma de fazer, nas dificuldades encontradas e no que efetivamente o arquiteto precisa saber para ter o domínio do processo. Consolidados os conhecimentos, o pesquisador partiu para a etapa de Pesquisa Ação, que envolveu a criação de uma peça de mobiliário. Os protótipos foram desenvolvidos no Lapac e a fabricação 1:1 em metal foi realizada no equipamento chamado cortador a plasma em uma indústria de Campinas. Ao final do processo, Wilson conclui: “O mercado está preparado para absorver a tecnologia, embora esbarre na falta de informação e de hábitos e na questão cultural, pois a indústria não está habituada a receber pedidos de peças customizadas e os arquitetos não estão preparados para solicitá-las. O arquiteto precisa aprender a projetar de maneira compatível com a possibilidade industrial, assumindo as limitações do processo produtivo. Cabe a ele propor soluções criativas exequíveis para a indústria. Claro que ele não vai fazer nada sozinho, ele precisa da contribuição de engenheiros e técnicos”.
Publicação Dissertação: “Do projeto à fabricação: um estudo de aplicação da Fabricação Digital no processo de produção arquitetônica” Autor: Wilson Barbosa Neto Orientadora: Maria Gabriela Caffarena Celani Unidade: Faculdade de Engenharia Civil e Arquitetura (FEC) Vídeo do Estudo: www.youtybe. com/lapacfec - LAPAC FEC
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Vida a ca dêi m ca Painel da semana
Teses da semana Livro da semana Destaques do Portal da Unicamp
Painel da semana Atividade física e saúde - O Programa Mexa-se da Unicamp lança no dia 2 de dezembro, o livro “Atividade Física e Saúde: experiências bem sucedidas nas empresas, organizações e setor público”. A publicação traz experiências de atividades físicas, dança e ginástica laboral, bem como estratégias de projetos e programas ao longo dos nove anos de existência do Mexa-se. O lançamento ocorre às 9 horas, no Espaço Cultural Casa do Lago (Rua Érico Veríssimo 1011), no campus da Unicamp. A organização é de Carlos Zamai. Mais detalhes: 19-3521-8999. Palestra com Jean Pech - A Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) recebe no dia 3 de dezembro, o professor Jean Claude Pech, da Ecole Nationale Polytchnique, de Toulouse, França. Na ocasião, ele profere palestra, às 9 horas, no Anfiteatro da unidade. Pech atua nas áreas de Bioquímica Molecular e Biotecnologia Aplicada à Tecnologia de Pós-colheita de produtos hortícolas. Mas detalhes da palestra no site http://www.feagri. unicamp.br/portal/component/k2/item/368-signalling-quality-offruit-and-vegetables-to-the-consumers-denominations-of-origintrademarks-and-other-indications. Outras informações: telefone 19-3521-1082. TEDxUnicamp - No dia 3 de dezembro, das 9 às 17 horas, no Centro de Convenções da Unicamp, acontece a terceira edição do TEDxUnicamp. O evento contará com a participação de professores e pesquisadores dos centros e núcleos da Coordenadoria de Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa (Cocen) da Unicamp. No encontro serão apresentados os resultados das pesqui-
sas em Ciências e Artes de pesquisadores dos C&Ns. As prévias das apresentações estão disponíveis no link http://www.nics.unicamp.br/tedxunicamp/. A organização é do professor José Eduardo Fornari Novo Junior (Nics). Mais informações: 19-3521-7923. O aflorar das emoções - O Grupo Gestor de Benefícios Sociais (GGBS) promove a exposição “O aflorar das emoções”, de 44 servidores da Unicamp. A mostra pode ser visitada até 13 de dezembro, de segunda a sexta-feira, das 9 às 21 horas, no Espaço Cultural Casa do Lago (rua Érico Veríssimo 1011). A exposição é composta por pinturas em tela acadêmicas e abstratas. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone 19-3521-3074. Redação científica internacional - O Espaço da Escrita, projeto estratégico da Coordenadoria Geral da Universidade (CGU), organiza o workshop “Redação científica internacional”, dias 5 e 6 de dezembro, das 8 às 18 horas, na Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM). O evento corresponde a um treinamento avançado de 20 horas/aula para acadêmicos que já participaram dos workshops de “Método lógico para redação científica”, ministrados pelo professor Gilson Luiz Volpato (Unesp/ Botucatu), em outubro de 2012 e junho de 2013 na Unicamp. Todos os participantes devem apresentar um manuscrito completo e inédito com resultados de pesquisa empírica. Mais informações: telefone 19-3521-6649 ou e-mail escrita@reitoria.unicamp.br Programa Campus Tranquilo - A Coordenadoria Geral da Universidade (CGU) realiza no dia 5 de dezembro, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp, o I Seminário de Construção do Plano de Segurança da Unicamp. O objetivo do evento é iniciar as discussões com a comunidade visando construir, de forma participativa, o que está sendo chamado de “Programa Campus Tranquilo”. Em um primeiro momento, o seminário trará contribuições de profissionais e acadêmicos, que têm participado do debate da questão da segurança no Brasil. Em um segundo momento, o evento objetiva debater experiências vivenciadas por diferentes universidades brasileiras. No seminário também serão colhidas as contribuições das entidades representativas dos três segmentos que compõem a comunidade (Adunicamp, STU e DCE). No evento, o professor Alvaro Crósta, vice-reitor e coordenador geral da Unicamp, apresentará a metodologia que orientará os trabalhos de formulação do “Programa Campus Tranquilo”. Amazonas e Vulgo e inculto - O Centro de Inclusão e Integração Social (Cis-Guanabara) sedia, até 7 de dezembro, a exposição Amazonas, de artistas do Centro Campineiro de Artes Folclóricas. As visitas podem ser feitas de segunda a sexta-feira, das 9 às 17 horas. A mostra é coordenada por Marly Stracieri. A mostra Vulgo e Inculto, de Bruno Trochmann, Marcus Braga e Manuela Romeiro, também estará até 7 de dezembro, no CISGuanabara. Visitação: de segunda a sexta-feira, das 9 às 17 horas. O CIS-Guanabara fica na rua Mário Siqueira 829, no bairro do Botafogo, em Campinas-SP. Entrada franca. Mais informações sobre as exposições podem ser obtidas pelo telefone 19-32337801 ou e-mail guanabara@reitoria.unicamp.br BrMASS - O 5º Congresso da Sociedade Brasileira de Espectrometria de Massas (BrMASS) acontece de 7 a 11 de dezembro, no Hotel The Royal Palm Plaza, em Campinas-SP. O BrMASS é uma oportunidade única, no Brasil, de intercâmbio entre os especialistas e usuários da técnica. O evento, que é organizado pelo professor Marcos Eberlin, do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, contará com a participação de pesquisadores e profissionais mundiais, além de brasileiros que atuam na área, no exterior. Cinco dos grandes nomes mundiais em MS já confirmaram presença: Robert B. Cody, um dos pioneiros da MS Ambiental e inventor da técnica DART; Renato Zenobi, renomado pesquisador em proteômica e
MS ambiental e editor-associado do Analytical Chemistry; K.W. Michael Siu, pesquisador em proteômica e biomarcadores de câncer; Facundo Fernandez, célebre no desenvolvimento de pesquisas relacionadas a diversas áreas da bioanalítica; e Raymond March, renomado espectrometristas de massas, pioneiro de técnicas variadas e autor de diversos livros de MS. No 5º BrMASS heverão vários Keynote speakers e apresentações orais e em pôsteres. A organização estima a participação de 1.200 pessoas. Inscrições e outras informações: www.brmass.com.br/congresso
Eventos futuros Oficina do Nepo - O Núcleo de Estudos de População (Nepo) e o Centro de Estudos da Metróple (CEM) organizam, dias 9 e 10 de dezembro, a oficina “Mobilidade Populacional e Segregação Socioespacial na América Latina e Brasil: avanços, lacunas e nexos”. A oficina acontece às 9 horas, no auditório I do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e contará com a participação de pesquisadores do Nepo e de renomados especialistas do Brasil e da América Latina. Inscrições gratuitas podem ser feitas pelo e-mail myrcia@nepo.unicamp.br. Consulte o programa completo no link http://www.nepo.unicamp.br/eventos/2013/programa_mobilidade_populacional.pdf Prêmio Capes de Tese - A Unicamp foi reconhecida no Prêmio Capes de Tese 2013, com a seleção de oito teses de doutorado e outras nove menções honrosas. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) outorga o prêmio às melhores teses de doutorado selecionadas em cada uma das 48 áreas do conhecimento reconhecidas pela Capes nos cursos de pós-graduação regulares e reconhecidos no Sistema Nacional de Pós-Graduação. A premiação é constituída pelo Prêmio Capes de Tese e também o Grande Prêmio Capes de Tese, em parceria com a Fundação Conrado Wessel. A cerimônia de entrega dos prêmios ocorrerá na sede da Capes, em Brasília, no dia 10 de dezembro. Leia mais http://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2013/10/07/posgraduacao-tem-oito-teses-selecionadas-no-premio-capes
Teses da semana Computação - “Jogos educacionais tipo RPG: design e desenvolvimento contextualizados no laptop XO” (mestrado). Candidata: Vanessa Regina Margareth Lima Maike. Orientadora: professora Maria Cecília Calani Baranauskas. Dia 2 de dezembro, às 13h30, no auditório do IC. “Escalonamento e controle de admissão cross-layer para redes IEEE 802.16” (mestrado). Candidato: Flávio Adalberto Kubota. Orientador: professor Nelson Luis Saldanha da Fonseca. Dia 6 de dezembro, às 14 horas, no auditório do IC.
Engenharia Química - “Utilização de SO2 recuperado a partir de fosfogesso em plantas de ácido sulfúrico” (mestrado). Candidato: Kurts Campos. Orientador: professor Gustavo Paim Valença. Dia 3 de dezembro, às 10 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ. “Avaliação de lecitinas modificadas na cristalização de manteiga de cacau e de chocolate amargo” (mestrado). Candidato: Eriksen Koji Miyasaki. Orientador: professor Theo Guenter Kieckbusch. Dia 6 de dezembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ. “Influência das variáveis operacionais de secagem na extração da pectina da casca da laranja-pera (Citrus Sinensis L. Osbeck)” (mestrado). Candidata: Karine Zanella. Orientador: professor Osvaldir Pereira Taranto. Dia 6 de dezembro, às 14 horas, na sala de aula PG-04 do bloco D da FEQ. Física - “Osciladores nanoeletromecânicos no regime quântico” (doutorado). Candidato: Olimpio Pereira de Sá Neto. Orientador: professor Marcos César de Oliveira. Dia 6 de dezembro, às 14 horas, no auditório da Pós-graduação do IFGW. Geociências - “Conjuntos habitacionais e segregação socioespacial: o Distrito Industrial de Campinas/sp (DIC)” (mestrado). Candidato: Ivan Oliveira Lima. Orientador: professora Regina Célia Bega dos Santos. Dia 5 de dezembro, às 9 horas, na sala A do DGRN no IG. “Brechas hidrotermais da mina do cercado e das ocorrências olho d´água, mata II e pamplona: implicações metalogenéticas e prospectivas para zinco na região de vazante - mg”(mestrado). Candidato: Fernando Henrique Baia. Orientador: professora Lena Viriginia Soraes Monteiro. Dia 6 de dezembro, às 14 horas, no auditório do IG. Linguagem - “Desenhos da memória: autobiografia e trauma nas histórias em quadrinhos” (doutorado). Candidato: Fabiano Andrade Curi. Orientador: professor Fabio Akcelrud Durão. Dia 4 de dezembro, às 10 horas, na sala de defesa de teses do IEL. Matemática, Estatística e Computação Científica “Estimação robusta em modelos de variáveis Latentes para dados censurados” (doutorado). Candidata: Denise Reis Costa. Orientador: professor Victor Hugo Lachos Dávila. Dia 2 de dezembro, às 14 horas, no auditório do Imecc. “Controle dinâmico de infactibilidade para programação não linear” (doutorado). Candidato: Abel Soares Siqueira. Orientador: professor Francisco de Assis Magalhães Gomes Neto. Dia 2 de dezembro, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. Medicina - “Efeito do exercício físico crônico de intensidade moderada em alguns parâmetros cardiorrespiratórios e metabólicos de indivíduos obesos” (mestrado). Candidata: Michele Bianca Zanini. Orientador: professora Sarah Monte Alegre. Dia 2 de dezembro, às 14 horas, no anfiteatro da Comissão de PósGraduação da FCM.
“Uma abordagem baseada em realimentação de relevância para o problema da desambiguação de nome de autores” (mestrado). Candidato: Thiago Anzolin de Godoi. Orientadora: professora Ariadne Maria Brito Rizzoni Carvalho. Dia 6 de dezembro, às 14 horas, na sala 316 do prédio IC-3.
“Avaliação da Prevalência de Sintomas de Incontinência Urinária em Adolescentes Mulheres Praticantes de Futebol e do Impacto na Qualidade de Vida” (doutorado). Candidato: Eduardo Filoni. Orientador: professor José Martins Filho. Dia 4 de dezembro, às 09h30, no auditório do Ciped.
Educação Física - “Estado ácido-base sanguíneo em corredores de 10 km submetidos a corridas em diferentes cargas constantes” (doutorado). Candidato: Thiago Fernando Lourenço. Orientador: professor Denise Vaz Macedo. Dia 5 de dezembro, às 14 horas, no auditório da FEF.
Química - “Preparação e caracterização de nanopartículas de prata e de nanocompósitos poliméricos” (doutorado). Candidata: Patricia Fernanda Andrade. Orientadora: professora Maria do Carmo Gonçalves. Dia 3 de dezembro, às 13h30, no miniauditório do IQ.
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Jornal da Unicamp vence
Prêmio Yara de Comunicação reportagem escrita pelo jornalista da Assessoria de Comunicação e Imprensa (Ascom) da Unicamp, Manuel Alves Filho, “Potável, porém contaminada”, foi a vencedora da terceira edição do Prêmio Yara de Comunicação 2013, na categoria “Jornalismo Institucional”. O texto, publicado no Jornal da Unicamp em maio do ano passado, tem fotos de Antonio Scarpinetti. Em segundo lugar ficou a matéria “O Novo Verde da Vila”, escrita por Andréa Palhardi Bombonatti, e em terceiro lugar a reportagem escrita por Ana Paula Buzolin, da TV Opinião de Araras, com o Programa Eco Opinião – Rio Piracicaba. Os vencedores foram divulgados na noite do último dia 22, no Espaço Beira Rio, em Piracicaba, durante o evento comemorativo aos 20 anos dos Comitês das Bacias Hidrográfica dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (CBH-PCJ); os 10 anos do PCJ Federal e cinco anos do CBH-PJ. Noventa e cinco trabalhos foram inscritos, distribuídos em três categorias: Jornalismo Impresso e Jornalismo Impresso (Revista), Jornalismo Institucional e Trabalho Universitário. Os materiais foram avaliados por sete especialistas em meio ambiente, água e comunicação. “É o reconhecimento do nosso trabalho. Também tem uma importância grande pelo fato de pertencermos a um veículo institucional. Compartilho esse momento com toda a equipe. Jornalismo é uma atividade coletiva”, disse Manuel. A reportagem do Jornal da Unicamp trata de uma pesquisa que identificou que a água fornecida em 16 capitais do Brasil, embora potável e passe por uma série de tratamentos, ainda assim tem contaminan-
Foto: César Maia
tes, que eventualmente podem fazer mal à saúde, porque tem algumas substâncias que não são legisladas. Por esse motivo, a empresa que trata a água não é obrigada a remover tais substâncias. “É um alerta para que a gente fique interessado em discutir o assunto e leve as autoridades, para que estabeleçam legislações que possam remover da água esse tipo de substância”, avalia Manuel. Concorreram ao prêmio na categoria Jornalismo Impresso– Jornal André Luís Cia, da Gazeta de Piracicaba, com o texto “Reflexos de vida no Rio Piracicaba/Histórias cruzadas no Véu da Noiva”; Claudete Campos, do Jornal de Piracicaba, com a matéria “Eficiência das ETEs”; e Simone Cristina Lisboa de Oliveira, do Jornal de Jundiaí, com os textos “Reuso de água é estratégia das indústrias para evitar a escassez” e “Lodo de O repórter Manuel Alves Filho recebe o prêmio do prefeito de Piracicaba, Gabriel Ferrato esgoto se transforma em fertilizante orgânico na agricultura”. de Saneamento” e Sonia Maria Araripe de Já na categoria Jornalismo Impresso– OUTROS PRÊMIOS Oliveira Meyohas, da Revista Plurale, com Revista, os finalistas foram Leandro MariaO Jornal da Unicamp foi finalista em dois o “Especial Água”. ni Mittmann, da Revista A Granja, de Porto outros prêmios recentemente. Sílvio AnunAlegre (RS), com a matéria “Agricultura Os finalistas da categoria Trabalho Uniciação ficou na terceira colocação do Prêmio praticada com respeito à água”; Mônica da versitário são três alunos da FAAT – Faculde Reportagem sobre a Mata Atlântica, com Costa e Teresa Maria Barbosa Rezende, de dades Atibaia: Fernanda Domingues, com um texto sobre o trabalho de extensão reaTaubaté (SP), da Revista Pelas Águas do o trabalho “Assoreamento é o principal lizado pela Universidade em Paraty. Na seParaíba, com a cobertura “RIO+20: Local problema do Rio Atibaia”; Lucas Gabriel mana passada foi divulgado que a matéria é global e global é local – Governança das Santiago Rangel, com o trabalho “Água “Da universidade à periferia, os sentidos do Águas e Comitês de Bacias são destaques de qualidade não garante contrapartidas a mundo real”, da jornalista Marta Avancini, é municípios”; e Maria Cleidiane Ribeiro Sode evento paralelo”; Raquel Silveira Bazzo, finalista do 16º Prêmio FEAC de Jornalismo ares, com “Canalização do Rio Cachoeira da Revista Tae, com a matéria “Versatilidana categoria “House Organ”. (César Maia) gera polêmica em Piracaia”. de torna formas plásticas ideais para obras
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Campinas, 2 a 8 de dezembro de 2013
Unicamp inaugura Laboratório de Caracterização de Biomassa Espaço prestará serviços de análises para docentes, pesquisadores e clientes externos Fotos: Antonio Scarpinetti
MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br
nicamp inaugurou no último dia 25 o Laboratório de Caracterização de Biomassa, que foi construído e parcialmente equipado com recursos da Shell Brasil Petróleo Ltda. Ao todo, a companhia investiu R$ 7,9 milhões. A unidade abrigará também o Laboratório de Recursos Analíticos e de Calibração (LRAC), que funcionava anteriormente nas dependências da Faculdade de Engenharia Química (FEQ). O novo laboratório prestará serviços de análises para docentes e pesquisadores da Universidade e para clientes externos, mediante agendamento. “Vamos oferecer uma infraestrutura única de pesquisa”, afirmou a professora Maria Aparecida Silva, uma das idealizadoras do espaço. Emocionada, a docente lembrou o longo caminho percorrido até a inauguração do laboratório, que tem 1.300 m2 de área construída. Segundo Maria Aparecida, as conversações com a Shell tiveram início em 2007. Em 2008, o projeto foi apresentado à Agência Nacional de Petróleo e Gás Natural (ANP), a quem cabe fiscalizar esse tipo de proposta. Em setembro do mesmo ano o convênio para a construção do laboratório foi finalmente assinado pelas duas partes. As obras físicas tiveram início em abril de 2010. “Este laboratório dará um valioso suporte às pesquisas da FEQ e de outras unidades, principalmente na área de caracterização de sólidos”, acrescentou Maria Aparecida. De acordo com o reitor José Tadeu Jorge, o esforço da FEQ para a construção do Laboratório de Caracterização de Biomassa é representativo do envolvimento de docentes, estudantes e funcionários no projeto que levou a Unicamp a ser o que ela é atualmente, uma das melhores escolas de nível superior do mundo. Ele des-
A professora Maria Aparecida Silva mostra dependências do laboratório a representantes da Shell (acima) e equipamento ao reitor José Tadeu Jorge (à dir.)
tacou a importância do estreitamento das relações da Universidade com a sociedade, inclusive o setor produtivo. “Essa parceria com a Shell é um exemplo importante dos frutos que essa aproximação com a sociedade pode proporcionar. Este laboratório certamente trará impactos positivos para a qualificação das nossas pesquisas e também para a formação de recursos humanos, que é a nossa principal missão”. O diretor de produção e exploração da Shell, Carlos Montagna, destacou igualmente a importância da parceira com a Unicamp, lembrando que é uma decisão estratégica da empresa investir em pesquisa e desenvolvimento no Brasil, país que está na linha de frente quando o assunto é biocombustível. “A Unicamp já é uma instituição de excelência. Tenho certeza de que as pesquisas desenvolvidas neste laboratório contribuirão para que o país continue exercendo a liderança na área de biocombustíveis”, previu. Também participaram da mesa de autoridades a diretora da FEQ, professora Liliane Maria Ferrareso Lona, e a especialista em regulação da ANP, Luciana Mesquita. Embora o laboratório tenha uma vocação natural para dar suporte à pesquisa sobre a biomassa (leia-se biocombustíveis, principalmente etanol de segunda geração), ele pode servir a pesquisadores de diversas áreas, como de alimentos, biologia e química, para ficar em somente três exemplos. A construção da unidade compõe um orçamento anual de mais de US$ 1 bilhão investidos pela Shell em pesquisa e desenvolvimento ao redor do mundo, o que coloca a empresa em uma posição de liderança entre as companhias internacionais de energia. Em dezembro, a companhia espera inaugurar o maior tanque estratigráfico (destinado ao estudo das camadas de rochas) da América Latina, em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Universidade obtém mais R$ 5,8 mi junto à Finep SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br
Unicamp obteve recursos da ordem de R$ 5,8 milhões para investimento na implantação e modernização da infraestrutura de pesquisa da Universidade. O montante foi liberado junto ao Proinfra, programa de infraestrutura da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), agência brasileira de fomento vinculada ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Metade dos recursos resulta de contrapartida da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A compensação da Unicamp, correspondente a 10% do total do valor, será destinada ao pagamento de despesas com recursos humanos – pesquisadores e funcionários da Universidade. “Tivemos a aprovação integral dos nossos projetos. É a primeira vez que isso ocorre na Unicamp. Com isto, neste ano de 2013 temos um recurso Finep que é recorde em nosso histórico”, comemorou o coordenador-geral da Universidade, Alvaro Penteado Crósta. Em setembro último ele havia anunciado a aprovação de outros R$ 7 milhões junto ao Proinfra, também voltados para a ampliação da infraestrutura de pesquisa da Unicamp. “O nosso recorde num único ano estava abaixo dos R$ 10 milhões. E este ano nós já ultrapassamos os 12,5 milhões”, calculou.
Foto: Antoninho Perri
Recursos serão destinados à implantação e modernização de infraestrutura de pesquisa PROJETO Os recursos serão destinados, conforme o projeto, à implantação e modernização de infraestrutura de pesquisa nas áreas das ciências biológicas e ciências tecnológicas para projetos multiusuários. Três subprojetos foram contemplados: “implantação e aperfeiçoamento da infraestrutura multiusuária de sistemas de comunicação na Unicamp”; “laboratório de pesquisa multiusuário sediado no Instituto de Biologia”; “equipamentos para sistemas de informação e comunicação, ciência dos materiais e monitoramento ambiental”. O primeiro subprojeto permitirá a implantação de auditórios multiusuários e aquisição de equipamentos para a realização de videoconferências e transmissão de palestras e seminários. O segundo será destinado para a aquisição de equipamento de imagem para o Laboratório de Pesquisa Multiusuário sediado no Instituto de Biologia. O terceiro subprojeto obteve recursos para a aquisição de equipamento para pesquisa aplicada a ser desenvolvida na pós-graduação da Faculdade de Tecnologia (FT) e no Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri).
O coordenador da Universidade, Alvaro Crósta: “Tivemos a aprovação integral dos nossos projetos”
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MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br
ese de doutorado do geógrafo Roberison Wittgenstein Dias da Silveira, defendida recentemente no Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, joga luzes sobre a obra do geógrafo, filósofo, historiador, explorador e naturalista alemão Alexander von Humboldt. No trabalho, orientado pelo professor Antonio Carlos Vitte, o autor oferece novos elementos para a compreensão da aparente contradição entre método e sistemática presente nos trabalhos de Humboldt. De acordo com a hipótese levantada por Silveira, o cientista alemão teceu um significado metodológico próprio e original, por meio do qual promoveu a associação entre razão e sensibilidade, ciência e estética, descrição e explicação causal e mecanicismo e teleologia [estudo filosófico dos fins]. O estudo contou com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O trabalho de doutorado, explica Silveira, é em boa medida uma extensão da sua dissertação de mestrado, por meio da qual fez uma primeira aproximação dos conceitos trabalhados por Humboldt, especialmente na área da Geografia. “Durante a realização da dissertação, pude perceber inúmeras dificuldades e um universo amplo de pesquisa que renderia muitos anos mais de trabalho. Compreender o significado metodológico de Humboldt me pareceu uma das empreitadas mais espinhosas, isso porque o autor a quem sempre se referiam como um dos sistematizadores da Geografia Moderna parecia bastante ambíguo e contraditório no seu discurso”, diz. Muito do que o cientista alemão defendia do ponto de vista metodológico, conforme Silveira, implicava uma contradição sistemática importante. “Era como se ele fosse tributário de uma corrente de pensamento e, no mesmo trabalho, se posicionasse numa via contrária, sem nunca atingir uma síntese entre estas contradições, não só no que diz respeito ao conteúdo, mas principalmente na perspectiva do método”. Diante dessa incongruência, o pesquisador da Unicamp tratou de buscar respostas para uma pergunta inescapável: afinal, qual era o método utilizado por Humboldt? Para fundamentar suas conclusões a respeito, o autor da tese recorreu a uma vasta bibliografia e mergulhou numa profunda investigação filosófica e conceitual. O objetivo do esforço, destaca Silveira, era entender as reais condições da produção intelectual de Humboldt. “Um aspecto importante revelado pela pesquisa é que havia um processo intenso de transformações ocorrendo na virada do século XVIII para o XIX, e que Humboldt era um dos principais expoentes desse movimento. Naquele momento, as certezas sobre as verdades da razão estavam sendo questionadas. Havia uma contestação geral se a razão realmente poderia compreender tudo. É quando toma forma uma via aberta pela sensibilidade. Esta propugnava outras questões, tais como sentir antes de explicar o que era sentido e ser antes de discursivamente compreender o que se era”, pormenoriza o autor da tese, acrescentando que o romantismo alemão era parte desse processo. Naquele contexto, prossegue o autor da tese, a arte, especialmente a discussão estética e sua ligação entre razão e sensibilidade, assumiu uma posição central. Assim, a representação artística poderia superar as limitações do discurso meramente racional e mostrar como o mundo era muito mais amplo do que aquele defendido pelo iluminismo. A razão era importante e revelava uma perspectiva da realidade, mas, no entender dos integrantes dessa nova corrente de pensamento, ela carecia de uma dimensão experimentada, vivida. A arte, segundo esse entendimento, é que ofereceria elementos para a superação desses limites, levando ao efetivo conhecimento da realidade.
Publicação Tese: “Filosofia, arte e ciência: a paisagem na geografia de Alexander von Humboldt” Autor: Roberison Wittgenstein Dias da Silveira Orientador: Antonio Carlos Vitte Unidade: Instituto de Geociências (IG) Financiamento: Fapesp
Razão e sensibilidade Foto: Divulgação/ Reprodução
O geógrafo, filósofo, historiador, explorador e naturalista alemão Alexander von Humboldt: projeto científico original visto como ambíguo
Humboldt, reforça Silveira, incorporou muitos aspectos dessa perspectiva romântica no seu processo de sistematização científica. “Entretanto, essa constatação não era suficiente para explicar a metodologia criada por Humboldt. Apesar de se adequar de muitas maneiras ao romantismo, ele também ia contra as principais concepções românticas, alinhando-se em muitas passagens à ideia de uma lei universal mecânica – como as leis universais de Newton – na explicação dos fenômenos naturais. Como cientista, Humboldt utilizava-se de um conjunto de conceitos e métodos que eram aparentemente incompatíveis com a fundamentação geral romântica”, esclarece. Apesar de registrar avanços com a investigação, Silveira ainda não havia alcançado, até então, uma resposta definitiva para o problema que havia se imposto. Esta veio somente a partir de um estudo mais detido do idealismo alemão, notadamente das proposições do filósofo Friedrich Schelling. Conforme o autor da tese, Humboldt fazia referência à forma como Schelling interpretava o mundo e a natureza. “Observando as proposições de Schelling, principalmente a recuperação que ele faz das ideias de Leibniz [Gottfried, filósofo e matemático alemão, a quem é atribuído, juntamente com Newton, o desenvolvimento do cálculo moderno], pude perceber que havia ali uma forma de sustentação coerente daquele método aparentemente contraditório”, relata. Na sua construção filosófica, informa Silveira, Leibniz promoveu a aproximação entre as causas finais e as eficientes, da mesma forma como Schelling pôde conformar causas teleológicas e mecânicas na construção do seu sistema de idealismo transcendental. Dito de outra maneira, para esses filósofos as causas mecânicas (ou eficientes) não implicavam uma contradição com as causas teleológicas (finais), na medida em que as primeiras eram apenas uma percepção e uma consideração limitada que não explicavam a realidade nela mesma, mas que deveriam ser consideradas em seu limite e associação com as causas teleológicas. “Assim, o mundo era compreendido como um grande organismo vivo, que se
dirigia e agia por finalidade, mas que poderia limitadamente ser considerado, do ponto de vista mecânico (causa e efeito), sem incompatibilidade metodológica”, pontua o pesquisador. Humboldt, continua Silveira, deixa claro em muitas passagens de sua vasta obra que esta é a sua via e concepção. O imbróglio criado em torno do seu método, conforme o autor da tese, passa pela incompreensão da herança sistemática de Leibniz e Schelling. “Avançando nessa compreensão, puder perceber o papel da racionalidade e a inclusão da arte no projeto científico de Humboldt. Este era, de uma só vez, mecânico e teleológico, sensível e racional. Na obra desse filósofo e cientista, a paisagem aparece como elemento de integração sistemática geral. Ela enfrenta, de uma maneira científica singular, o problema central da filosofia: a discussão entre idealismo e materialismo (realismo)”, sustenta. Segundo Silveira, na perspectiva humboldtiana de paisagem, que é tributária da ciência do idealismo alemão, a resposta estava dada no sentido de uma síntese integradora, em que a essência era objetiva e subjetiva simultaneamente. “Desse modo, a partir do conceito de paisagem é que a Geografia toma a forma sistemática
moderna. Ela enfrenta o problema metafísico de base e se coloca como uma ciência filosófica”. A reflexão que se seguiu a esta descoberta, informa o autor da tese, foi como essa área do conhecimento se consolidou como ciência moderna. “A Geografia que aprendemos na escola e aquela praticada na Academia não têm nada a ver com as proposições unitárias de seus fundadores. A minha hipótese é a de que nos autocondenamos quando cumprimos a cartilha da modernidade e nos distanciamos de nossa gênese científica integradora. A Geografia, no curso de sua institucionalização, passou por um processo de perda da unidade”, considera. Nesse sentido, prossegue, o discurso se tornou meramente racional, a dimensão de análise passou a ser puramente objetiva e os aportes sistemáticos tiveram que optar por uma via mecânica ou teleológica. “Isso decretou teoricamente a desgraça da Geografia na modernidade, ainda que tenhamos desempenhado um papel institucional do ponto de vista do interesse do Estado, bem como um papel importante do ponto de vista corporativo científico. O pacote institucional da fragmentação departamental, de método e de propósito fez da Geografia um saber em vias de extinção, uma vez que seu sentido sempre foi a unidade. Em vista disso, nós que atuamos na área experimentamos, ao longo de toda a modernidade científica, uma posição secundária, seja do ponto de vista das ciências naturais, seja do ponto de vista das ciências humanas”. De acordo com Silveira, novas vias metodológicas da Geografia tentam enfrentar este problema, embora esbarrem em outros tantos, principalmente no interesse de afirmação institucional dos departamentos e do sentido exclusivo do conhecimento geográfico. “Entendo que o desvio central surgido com a perda de unidade do saber seja o ponto de inflexão da ciência geográfica e, nesse sentido, a tese defendida não é simplesmente a mostra de uma gênese perdida no tempo, mas a demonstração de que houve um abandono das vias sistemáticas que ainda permitiam algum sentido à Geografia. Somente essa recomposição, evidentemente reconsiderada e repensada à luz de nosso tempo, poderá recolocar a Geografia na trilha de um saber legítimo e menos preocupado com os domínios político-institucionais de um ou outro método, de um ou outro discurso, de um ou outro interesse”. Sobre a conquista do Prêmio Capes de Teses, Silveira diz que ficou contente e surpreso ao mesmo tempo. “A alegria, evidentemente, foi em função do reconhecimento do trabalho envolvido na realização da obra e dos inúmeros desafios interpretativos contidos na execução do projeto. A porção de surpresa foi justamente pelo tema proposto na tese e pelas provocações que ela carrega. Um trabalho de História do Pensamento Geográfico que avança no domínio espinhoso das proposições epistêmicas da Geografia não parece muito elegível, sobretudo porque entra em conflito com uma série de interpretações correntes sobre Humboldt e sobre a forma de construção científica contemporânea. Os geógrafos avaliadores demonstraram que ainda há espaço para novas discussões e proposições na Geografia, e que nossa gênese e as questões de método são centrais na construção de uma ciência geográfica unificada”, avalia. Foto: Divulgação
Roberison Silveira, autor da tese: “Com a pesquisa, pude perceber o papel da racionalidade e a inclusão da arte no projeto científico de Humboldt”