O PAPEL DAS MOLÉCULAS FOTÔNICAS COMUNIDADE PLANEJA O SEU FUTURO PESQUISA ‘REDESCOBRE’ CATEDRAL Foto: Antonio Scarpinetti
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Foto: Josué Thiago dos Santos
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Pesquisador no Centro de Componentes Semicondutores
Foto: Antoninho Perri
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Vista parcial da vila de Marujá, na Ilha do Cardoso
Interior da Catedral Metropolitana de Campinas
Jornal daUnicamp www.unicamp.br/ju
Campinas, 24 a 30 de março de 2014 - ANO XXVIII - Nº 591 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
MALA DIRETA POSTAL BÁSICA 9912297446/12-DR/SPI UNICAMP-DGA
CORREIOS
FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Foto: Antonio Scarpinetti
Amostra analisada em laboratório do Instituto de Química: riscos à saúde
Chumbo grosso 5
Método “limpo” e de baixo custo, desenvolvido pelo químico José Augusto da Col, é capaz de detectar, em apenas cinco segundos, concentrações de metais tóxicos em joias, bijuterias e piercings. Em testes feitos para fundamentar sua tese de doutorado, Col constatou concentrações de níquel e chumbo nas amostras analisadas. O estudo foi orientado pela professora Maria Izabel Maretti Silveira Bueno.
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Controlando a cristalização de gorduras em alimentos Literatura infantil: afeto, cognição e aprendizado
Linguista encontra registro raro de idioma falado em SP Aumenta número de alunos oriundos de escolas públicas
Impressões digitais da inflação cósmica Bebês de três dias já têm noção de número
TELESCÓPIO
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Campinas, 24 a 30 de março de 2014
TELESCÓPIO
CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br
Ondas da inflação cósmica A maioria das pessoas provavelmente já conhece a teoria do Big Bang, segundo a qual o Universo, ou ao menos a parte do Universo onde vivemos, passou a existir há cerca de 14 bilhões de anos, numa explosão que deu origem a espaço, tempo e matéria. O que poucas pessoas sabem é que a teoria do Big Bang tem um complemento, a teoria da inflação cósmica, segundo a qual o Universo passou por uma fase violentíssima de expansão logo após a explosão inicial, um crescimento fantástico que terminou quando o espaço-tempo tinha menos de um segundo de vida e que definiu características do cosmo que vemos até hoje. O Big Bang já havia sido confirmado pela detecção do fundo cósmico de micro-ondas, em 1964, mas a inflação ainda carecia de evidência direta – até agora. Pesquisadores da colaboração Bicep2, que controla um observatório de micro-ondas instalado no Polo Sul, informaram na última segundafeira, 17, ter encontrado as impressões digitais da inflação no fundo cósmico, sob a forma de ondas gravitacionais. Se confirmados, os resultados do Bicep2 serão a primeira evidência concreta de que a inflação cósmica ocorreu como previsto na teoria. O físico Sean Carroll, do Instituto de Tecnologia da Califórnia e autor de vários livros de divulgação científica, escreveu em seu blog que “com exceção da descoberta de vida em outros planetas e da detecção direta de matéria escura, não consigo imaginar nenhuma descoberta astrofísica que possa ser feita no curto prazo que seja mais importante que esta”.
Surfe espacial nos oceanos de Titã Cientistas ligados à sonda Cassini, da Nasa, que vem investigando o planeta Saturno desde 2004, disseram, numa conferência internacional realizada na semana passada, que acreditam ter observado ondas nos oceanos de Titã, uma das luas do gigante gasoso. Se confirmado, esse será o primeiro registro de ondas marítimas fora da Terra. Os mares de Titã não contêm água salgada, no entanto, mas hidrocarbonetos. E também não são ondas onde astronautas humanos poderiam surfar: os pesquisadores estimam que elas não tenham mais de 2 centímetros de altura.
Musgo ressuscita após 1.500 anos Cientistas britânicos anunciam, em artigo publicado no periódico Current Biology, que um musgo congelado na Antártida por mais de 1.500 anos pode voltar à vida. Os autores do estudo relatam ter observado a regeneração do organismo após pelo menos 1.530 anos aprisionado em solo congelado, o chamado permafrost ou pergelissolo. Anteriormente, esse tipo de capacidade de recuperação, após tanto tempo, só havia sido constatado em bactérias. Um dos autores do estudo, Peter Convey, explicou, por meio de nota, que musgos são parte importante da ecologia das regiões polares. “Entender como eles crescem e se distribuem, principalmente numa parte do mundo que está mudando tão depressa quanto a Península Antártica, tem um grande significado”, disse.
Ele acredita que o resultado levanta, ainda, a possibilidade de formas de vida mais complexas também serem capazes de sobreviver por longos períodos no gelo ou no permafrost.
Sonda Messenger detecta encolhimento de Mercúrio Mercúrio, o menor planeta do Sistema Solar e o mais próximo do Sol, contraiu-se muito mais que o estimado pelos cientistas durante seu processo de resfriamento, diz artigo publicado no periódico Nature Geoscience. Dados enviados pela sonda Messenger, da Nasa, mostram que o planeta perdeu cerca de 7 quilômetros de raio ao longo dos últimos 3,8 bilhões de anos, ante modelos teóricos antigos que previam uma contração de, no máximo, 3 quilômetros. Diferentemente da Terra, cuja superfície repousa sobre uma série de placas tectônicas, Mercúrio tem uma camada rochosa única. Imagens da sonda Messenger revelaram as deformações sofridas por essa carapaça ao longo da história do planeta. “Nossas descobertas lembram alguns modelos, hoje obsoletos, de como a Terra teria sofrido deformações geológicas em larga escala, da época em que a comunidade científica acreditava que a Terra tinha apenas uma placa tectônica”, disse, por meio de nota, o principal autor do estudo, o geólogo Paul Byrne. “Esses modelos surgiram no século 19 para explicar a origem das montanhas e a atividade tectônica, antes de a teoria das placas ser formulada”.
O parasita amigável Um corvo que é alvo de cucos – pássaros parasitas que põem ovos no ninho de outras aves – pode, em certas circunstâncias, beneficiar-se da invasão, com a relação entre as espécies passando de parasitismo para mutualismo. De acordo com estudo publicado na revista Science, os cucos da espécie Clamator glandarius repelem predadores que atacam os ninhos do corvo Corvus corone corone, o que pode aumentar o sucesso reprodutivo dos hospedeiros. De acordo com a equipe de cientistas espanhóis responsável pelo trabalho, embora os ninhos infestados por cucos tenham menos filhotes de corvo que chegam à idade adulta, o equilíbrio entre o afastamento de predadores e a perda de filhotes por causa do parasita pode, em alguns casos, ser benéfico para os corvos. “O resultado desses efeitos opostos flutua entre parasitismo e mutualismo a cada temporada, dependendo da intensidade da pressão predatória”, diz o artigo. Os filhotes de cucos produzem uma secreção que afasta os inimigos do corvo. “Análise química das secreções dos cucos revelou uma mistura de componentes cáusticos e repulsivos”, escrevem os autores. “Oito de nove gatos comeram todos os dez pedaços de carne oferecidos como controle, mas apenas um de oito gatos chegou a morder a carne tratada” com a substância.
carbono. O metano que existe na atmosfera da Terra é, em sua maior parte, produzido por processos biológicos, e uma análise publicada na revista Nature indica que essa geração tende a aumentar com a elevação da temperatura ambiente, criando um ciclo onde mais metano produz mais calor, que por sua vez estimula a geração de ainda mais metano. “Nossa análise demonstra que, em média, as emissões de CH4 para uma ampla gama de ecossistemas mostra uma dependência de temperatura (...) Além disso, a dependência média de temperatura é muito maior que a da respiração ou da fotossíntese, resultando numa contribuição relativa maior do CH4 nas emissões de carbono a altas temperaturas”, escrevem os autores, ligados a instituições dos EUA, Reino Unido, Austrália, Alemanha, Suécia e Canadá. Como o CH4 é um gás do efeito estufa mais potente que o CO2, os autores alertam para o risco do aumento da participação do metano no total de carbono presente na atmosfera.
Noção de número em bebês recém-nascidos Bebês de até três dias de idade já são capazes de criar expectativas de correspondência sobre tamanho, duração e número, diz estudo publicado no periódico PNAS. De acordo com os autores, o trabalho mostra que “representações de espaço, tempo e número estão sistematicamente inter-relacionadas no início da vida pós-natal, antes da aquisição de linguagem, metáforas culturais e antes da experiência ampla com as correlações naturais dessas dimensões”. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores, da França e do Reino Unido, expuseram 96 bebês de até três dias a variações de tamanho (por meio da exibição de linhas coloridas curtas ou longas); tempo (duração de um sinal sonoro) e número (com linhas sonoras contendo um número variável de sílabas). Depois, as crianças fo-
ram expostas a combinações desses estímulos – por exemplo, uma linha colorida que se alongava ou se contraía à medida que o sinal sonoro se estendia, ou à medida que o número de sílabas aumentava ou diminuía. Os bebês reagiram quando os estímulos variavam na mesma direção – com número e espaço crescendo juntos, por exemplo – mas não quando as variações se deram em direções opostas. “Demonstramos que os recém-nascidos relacionam número e duração ao comprimento no espaço quando essas dimensões variam na mesma direção”, escrevem os autores. “Ao nascer, seres humanos já são sensíveis à estrutura comum dessas magnitudes fundamentais”.
Fumantes de maconha forte recebem mais THC O cultivo da Cannabis sativa, a planta da maconha, em ambientes fechados e por meio de técnicas intensivas, vem produzindo plantas com maior concentração do ingrediente ativo da droga, o THC. Há alguma discussão sobre os efeitos dessa “maconha de alta potência”, com alguns estudiosos alertando para os riscos das doses mais elevadas de THC e outros levantando a possibilidade de a planta mais forte acabar levando a uma redução no consumo. Um estudo recente, realizado na Holanda e publicado no periódico Addiction, concluiu que os consumidores de cannabis de alta potência realmente reduzem a quantidade de maconha consumida, mas mesmo assim acabam recebendo doses mais elevadas de THC. Os autores acompanharam 98 consumidores de maconha, descritos como “experientes”, e viram que os que faziam cigarros mais fortes inalavam volumes menores de fumaça – mas, mesmo assim, acabavam recebendo mais do princípio ativo.
Foto: Vittorio Baglione/Divulgação
Aquecimento libera mais metano O metano é um importante gás causador do efeito estufa, com 25 vezes o potencial de aquecimento global do dióxido de
Cuco “invasor” disputa alimento com filhote de corvo
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Campinas, 24 a 30 de março de 2014
Para aliviar o gargalo da rede LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br
s moléculas fotônicas, assim denominadas pelos pesquisadores da Unicamp que as desenvolveram, são tema de um artigo que ocupou o primeiro lugar no ranking de downloads do Photonics Journal do site do IEEE – Institute of Electrical and Electronic Engineers, em novembro. O IEEE é a maior sociedade científica do mundo, com mais de 400 mil associados. O artigo se origina da pesquisa de doutorado de Luís Alberto Barêa, orientada pelo professor Newton Frateschi e que deve ser defendida até o final deste semestre no Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW). “Iniciamos este trabalho há cerca de dois anos e levamos alguns resultados para a CLEO [Conference on Lasers and Electro-Optics], onde despertou bastante interesse”, recorda Newton Frateschi, responsável pelo Laboratório de Pesquisa em Dispositivos (LPD). “A revista Photonics Journal tem grande impacto na área de fotônica e vem adotando a nova métrica de contar o número de acessos e de downloads dos trabalhos disponibilizados no site do IEEE. A surpresa foi ver nosso artigo no topo da lista com menos de um mês de publicação, quando o antecessor acumulava downloads desde agosto. Isso nos faz acreditar num bom impacto da pesquisa, que quebra paradigmas.” Luís Barêa, autor da tese, explica que a chegada de novos equipamentos como smartphones e tablets, juntamente com a facilidade de acesso às redes sem fio, vem gerando um incessante aumento do tráfego de dados, por conta da quantidade de usuários e do tamanho dos arquivos. “Toda essa demanda cria a necessidade de aumentar a capacidade de transmissão em dez vezes a cada quatro anos. E, para que isso seja possível, os canais de DWDM [tecnologia que permite combinar dezenas de canais em uma única fibra] devem aumentar em cem vezes a cada oito anos.” Para enfrentar este desafio, Newton Frateschi ressalta o papel da área de fotônica integrada, voltada basicamente ao desenvolvimento de processos sobre sinais ópticos para integrá-los num chip. “Isso é fundamental para habilitar futuras gerações de telecomunicações – e gerações, nesse caso, não significam décadas ou séculos, apenas poucos anos. O aumento exponencial da demanda por bits traz dois problemas sérios: o primeiro é o gargalo para que se fazer uma comunicação tão rápida; o segundo é a demanda energética para isso e, consequentemente, o custo que vai se elevando.” O docente do IFGW acredita que uma solução está nas moléculas fotônicas, inspiradas em toda a eletrônica hoje integrada em um chip. “Hoje o microprocessador ocupa uma área de centímetros quadrados, quando antigamente seria necessário um equipamento gigantesco para conseguir desempenho semelhante. O mesmo é possível na fotônica, na qual a tendência, na parte de processamento, é o uso da tecnologia de silício, tão bem desenvolvida na eletrônica. O objetivo é produzir dispositivos capazes de conduzir e confinar a luz, ou então atrasar um sinal, a fim de separá-lo, modificá-lo ou combiná-lo.” Na tese, Luís Barêa informa que dispositivos optoeletrônicos e fotônicos baseados em microrressonadores ópticos permitem confinar fótons fortemente, dentro de cavidades diminutas, proporcionando baixo consumo de energia, alta velocidade de processamento e altos tempos de vida fotônica. “Atualmente, esses dispositivos formam uma base para a próxima geração de circuitos fotônicos integrados e surgem como promessa para aliviar o gargalo da demanda de largura de banda dos sistemas de computação moderna.” Entretanto, o autor do estudo ressalva que os atuais sistemas fotônicos, baseados em ressonadores na forma de anéis, possuem uma limitação fundamental por causa da estreita relação entre faixa espectral livre, fator de qualidade total e dimensões dos ressonadores. “Esta relação é traduzida em uma forte interdependência entre o espaçamento espectral, o tempo de vida fotônico e as dimensões destes filtros. Na
Artigo sobre moléculas fotônicas em publicação de grande impacto ocupa 1º lugar em downloads pesquisa foi quebrada esta dependência empregando-se moléculas fotônicas fabricadas em silício sobre isolante (SOI). As moléculas são formadas por microanéis ressonadores internamente acoplados uns aos outros, economizando espaço no chip e aumentando o número de canais possíveis.”
O “QUASE ÁTOMO” Newton Frateschi esclarece que ao se confinar espacialmente o fóton dentro de um ressonador, tem-se algo semelhante a um átomo onde o elétron fica retido espacialmente em torno do próton. “A semelhança entre as situações permite chamar esses ressonadores de ‘quase átomo’ – ‘quase’ porque o elétron não é extraído facilmente do átomo, ao passo que o fóton sim, de tal forma que deve haver um suprimento de fótons constante para manter o confinamento.” A questão, segundo o professor da Unicamp, é que essas estruturas são feitas sempre separadamente. “O que há de novo em nosso trabalho é a produção do que resolvemos chamar de ‘moléculas fotônicas’. A ideia é combinar diversos tipos de ressonadores (ou ‘quase átomos’), acoplá-los uns aos outros e formar uma estrutura semelhante a uma molécula, que ao invés de elétrons em seu interior, possui fótons – e cujas propriedades dependem não só das propriedades dos ressonadores individuais, mas do acoplamento entre todos.” Frateschi faz uma analogia com as moléculas dos compostos químicos, que sempre possibilitaram uma revolução na área de novos materiais. “Combinando os átomos da tabela periódica, temos uma infinidade de compostos que podemos produzir. Da mesma forma, quando produzimos, confinamos e combinamos ‘quase átomos’, cada qual com certa propriedade, surgem resultados impossíveis de se atingir com um único ressonador. E que permitem aumentar o poder de modulação da luz, armazenar micro-ondas (apesar de serem moléculas de luz) e prover atrasos consideráveis nos sinais, o que é importante para obter um tipo de memória fotônica.”
Para esta tese sobre moléculas atômicas foi possível utilizar os serviços de uma fabricante de circuitos integrados (foundry), que produziu os microcircuitos fotônicos seguindo os projetos enviados pelos pesquisadores. “O propósito foi utilizar essa tecnologia já existente e projetar novas estruturas que pudessem ser fabricadas na foundry e testadas aqui no nosso laboratório”, afirma Frateschi. “Nesses dois anos viabilizamos diversos tipos de processamentos fotônicos, além de produzir essas moléculas em espaços muito menores, ou seja, com uma integração muito maior e um custo proporcionalmente menor.” Luís Barêa acrescenta que, paralelamente, o próprio grupo conseguiu fabricar seus dispositivos utilizando outras plataformas (não apenas em silício sobre isolante), como por exemplo, em nitreto de silício, que é igualmente interessante para integração de circuitos fotônicos. “O trabalho de doutorado, que termina neste semestre, começou com a proposta de reduzir as dimensões desses dispositivos e integrá-los usando a região interna dos anéis, o que tornou possível quebrar paradigmas. Além disso, mostramos capacidade de também fabricar estes dispositivos, dentro do LPD do Instituto de Física e do CCS [Centro de Componentes Semicondutores] da Unicamp. Deve-se salientar a participação dos professores Gustavo Wiederhecker e Thiago Alegre, além dos alunos Mário Souza, Guilherme Rezende, Felipe Valine e Paulo Jarschel, todos do LPD, em todas as etapas destes trabalhos.”
IMPACTO DA PESQUISA De acordo com Newton Frateschi, a proposta anterior para modulação de luz em ressonadores, sem o uso de moléculas fotônicas, geralmente era limitada pela largura de linha das ressonâncias destes dispositivos. “Ainda não realizamos uma demonstração experimental de um modelador ativo, mas em relação ao que se propunha na literatura, mostramos que com as moléculas é possível armazenar uma modulação 2,75 vezes mais rápida que a largura de linha permitira, e com uma redução de 495 vezes nas dimensões do dispositivo. Além disso, essa considerável redução nas dimensões dos dispositivos permite que a criação da modulação fique mais simples, pois quando se quer modular um dispositivo muito grande, a capacitância é bem alta e exige circuitos de controle complexos.” O professor do IFGW lembra que outro ganho se refere a uma aplicação conhecida como multicast, em que o sinal enviado com certo comprimento de onda pode ser dividido em vários canais, tornando pos-
sível entregar uma informação para vários destinatários. “No nosso caso, com a liderança do aluno Mário Souza, conseguimos demonstrar essa aplicação utilizando uma molécula com área pelo menos dez vezes menor que os dispositivos já fabricados, sendo que a potência exigida para o funcionamento também é muito menor em comparação a tudo o que já foi publicado. Estamos falando de dez vezes menos potência óptica, o que é bastante; no atual estágio dessa tecnologia, uma redução de 1% já seria muito importante. Realmente, isso quebra paradigmas.” Mas um paradigma fundamental, como ressalta Frateschi, era que a separação entre ressonâncias dependia do tamanho dos ressonadores. “Ao combinar os dispositivos, podemos fazer essa separação da forma que queremos. Outro aspecto é o fator de qualidade das ressonâncias, relacionado ao tempo que a luz permanece dentro do dispositivo, sem se perder. Antes, quanto maior o ressonador, mais tempo a luz ali permanecia; nossa proposta tornou isso independente e podemos fazer um dispositivo bem pequeno, que ainda assim a luz permanecerá por bastante tempo.” Em relação à originalidade da ideia, o docente admite que a possibilidade de combinar diferentes microcavidades para formar um tipo de molécula fotônica, de certa forma, já havia sido sugerida na literatura. “Um grupo de Stanford, por exemplo, mencionou a hipótese de misturar estruturas de cristal fotônico, acoplando uma à outra, como se fosse uma molécula. Porém, o fato de apresentarmos a possibilidade de combinação de ressonadores na forma de anéis sem aumentar a sua área, totalmente integrado ao silício e aplicá-los em processamento de sinais, deu a este trabalho bastante originalidade. Nosso grupo abriu novos caminhos permitindo criar uma engenharia espectral com alta qualidade mesmo reduzindo as dimensões dos dispositivos.” A percepção de Newton Frateschi é de que o desenvolvimento das moléculas fotônicas veio viabilizar diversas aplicações na área de telecomunicações. “Recentemente, concluímos um terceiro trabalho com a aplicação das moléculas e temos vários outros em andamento. Gostaria de ter mais pessoas no laboratório para viabilizar, inclusive, protótipos tecnológicos em telecomunicações ou em outras áreas. Um exemplo é a sua utilização em sensores biológicos ou químicos, o que já estamos discutindo com universidades parceiras. O ofício do nosso grupo é em telecomunicações, mas começam surgir desdobramentos em outras áreas, naturalmente.” Foto: Antonio Scarpinetti
O professor Newton Frateschi (à esq.), orientador da pesquisa, e Luís Alberto Barêa, autor da tese: engenharia espectral com alta qualidade
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Campinas, 24 a 30 de março de 2014
cristalização de gorduras em industrializados SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br
tecnóloga em alimentos Maria Aliciane Fontenele Domingues obteve, em sua tese de doutorado, resultados promissores para um dos principais desafios da indústria de alimentos na atualidade. Com a adição de dois emulsificantes, a pesquisadora da Unicamp conseguiu controlar a cristalização de gorduras, processo que influencia na consistência, textura e palatabilidade de alimentos industrializados à base de gorduras. A estudiosa da Unicamp esclarece que a substituição das gorduras parcialmente hidrogenadas - ricas em ácidos graxos trans e maléficas à saúde - por gorduras mais saudáveis, tem ocasionado alterações nas características físicas dos alimentos. Entre os principais estão aqueles que contêm lipídios em sua formulação, como biscoitos recheados, chocolates, margarinas, gorduras para confeitaria e panificação. “Problemas na formação dos cristais das gorduras interferem diretamente na produção dos alimentos, causando, por exemplo, a exsudação de óleo em biscoitos recheados. Durante a estocagem e transporte, pode ocorrer perda de óleo do recheio para o biscoito, prejudicando a textura e aparência do produto. Isto é um problema de cristalização. A gordura não consegue ficar estável, dependendo de como ela foi produzida e de qual matéria-prima está ali. Isto também pode acontecer em margarinas e chocolates”, exemplifica a pesquisadora. A cristalização de lipídios ou gorduras figura como um dos problemas crônicos da indústria de alimentos atual, avalia Aliciane Domingues. A dificuldade está atrelada, de acordo com ela, aos processos industriais, às diferenças climáticas do país e às condições de transporte e estocagem, impostas por longas distâncias entre regiões produtoras e distribuição final. A química Lireny Aparecida Guaraldo Gonçalves, docente da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) e orientadora do estudo, acrescenta que, apesar de nocivas à saúde, as gorduras hidrogenadas e trans são tecnologicamente melhores dos que as gorduras saudáveis. Esta diferença tem desafiado as indústrias de alimentos, cujas linhas de
Estudo investigou alternativas para um dos grandes desafios da indústria de alimentos
montagem são hoje as mesmas da época em que houve um alerta sobre os malefícios à saúde ocasionados pelas gorduras trans. “As indústrias vêm buscando alternativas para conseguir fazer com que as gorduras mais saudáveis, como as interesterificadas, tenham as mesmas características das gorduras trans, sem que se façam grandes alterações físicas dentro das plantas de produção industrial, o que exigiria um custo muito alto. Uma tentativa de equacionar o problema da substituição das gorduras trans por outras com características diferentes, mas com aplicabilidade semelhante, é o desenvolvimento de pesquisas na área”, contextualiza a professora da Unicamp. O estudo conduzido por Aliciane Domingues é especialmente relevante diante deste cenário, complementa a orientadora Lireny Gonçalves, que atua no Departamento de Tecnologia de Alimentos da FEA. “A pesquisa da Aliciane é muito importante, pois apresenta um nível de detalhamento ainda não encontrado na literatura científica sobre o tema. Além disso, o estudo poderá beneficiar as indústrias alimentícias, uma vez que mostrou a possibilidade de fazer a substituição de gorduras sem a necessidade de alterações no layout das empresas”, confirma.
EMULSIFICANTES
Os aditivos utilizados nas gorduras industriais, com o objetivo de controlar ou modificar as propriedades de cristalização, foram o triestearato de sorbitana e o estearato de sacarose, ambos baseados em açúcares e bastante utilizados na indústria de alimentos. Além de aumentar a estabilidade e homogeneidade de misturas, os emulsificantes podem ser utilizados como modificadores do processo de cristalização das gorduras. Eles
Fotos: Antonio Scarpinetti
Aditivos controlam
Amostras usadas na pesquisa desenvolvida em laboratório da FEA: resultados satisfatórios
foram adicionados em três tipos de gorduras industriais livres de ácidos graxos trans: a gordura interesterificada (modificada) de soja, o óleo de palma e uma fração média do óleo palma. “Conseguimos fazer com que as características de cristalização dessas gorduras fossem modificadas, em termos de polimorfismo, consistência e microestrutura. Os testes, portanto, demonstraram resultados satisfatórios que servirão como base de informação para as indústrias alimentícias, assim como para futuras pesquisas científicas que abordem o uso de emulsificantes como controladores ou modificadores das propriedades de cristalização de óleos e gorduras”, revelou Aliciane Domingues. “A principal contribuição foi ter alcançado resultados em que essas gorduras apresentam funcionalidades comparáveis às gorduras hidrogenadas, especialmente a gordura interesterificada de soja. Uma comparação da curva de sólidos e da cinética de cristalização demonstra que as características físicas da gordura interesterificada de soja são muito parecidas com as de uma gordura comercial. Só que esta gordura não tem ‘trans’”, complementa a pesquisadora.
PROJETO TEMÁTICO
A professora Lireny Gonçalves informa que o trabalho elaborado por Aliciane Domingues insere-se no âmbito de projeto temático da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), intitulado “Modificação, controle e estabilização do comportamento de cristalização e polimorfismo em gorduras”. “Basicamente, este projeto tem como grande foco melhorar a qualidade do chocolate brasileiro, que é conhecido por sua baixa qualidade. Ainda temos um ano de pesquisas, que trarão resultados muito promissores para a área”, prevê a docente. O projeto temático é integrado por uma equipe multidisciplinar formada ainda pelo docente da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) Theo Guenter Kieckbusch, coordenador dos trabalhos. Do Instituto de Física Gleb Watahin (IFGW), participa o professor Lisandro Pavie Cardoso; da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade São Paulo (USP), Luiz Antônio Gioielli; e do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), o pesquisador Valdecir Luccas.
Há a colaboração da professora Ana Paula Badan Ribeiro, da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp e do docente Alejandro Marangoni, da Universidade de Guelf, do Canadá. “Em todas as instituições temos colaboradores associados com outros institutos ou faculdades, como na FEA e FCA em que participam também os professores Renato Grimaldi, Chiu Chih Ming e Priscilla Efraim. O doutorado de Aliciane Domingues contou com financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)”, informa a orientadora.
PRÊMIO BUNGE
Durante a disciplina “Tecnologia Avançada de Óleos e Gorduras”, ministrada pela professora Lireny Gonçalves, um grupo de pesquisadores, incluindo Aliciane Domingues, desenvolveu estudo utilizando os emulsificantes triestearato de sorbitana e lecitina de soja para estruturação de uma gordura livre de trans e com baixo teor de ácidos graxos saturados. O trabalho, intitulado “Efeito da adição de emulsificantes e óleo de soja para obtenção de gordura estruturada low trans/low sat”, recebeu o Prêmio Bunge 2010 como melhor pesquisa científica na área de óleos e gorduras. O estudo foi publicado no V Simpósio Internacional Tendências e Inovações em Tecnologia de Óleos e Gorduras em 2010.
Publicações DOMINGUES, M. A. F. ; Ribeiro, A.P.B.; Calligaris, G.; Chiu, C. M.; Grimaldi, R.; Santos, A. O.; Cardoso, L. P.; Gonçalves, L.A.G. . Efeito da compatibilidade do triestearato de sorbitana sobre as propriedades físicas de uma gordura zero trans. In: XIX Congresso Brasileiro de Engenharia Química, 2012, Búzios. Congresso Brasileiro de Engenharia Química, 2012. DOMINGUES, M. A. F. ; , A.P.B.; Calligaris, G.; Cardoso, L. P.; Grimaldi, R.; Gonçalves, L.A.G. . Influence of the addition of sucrose behenate on the melting behavior and polymorphism of palm oil. In: XV Latin American Congress and Exhibition on Fats and Oils, 2013, Santiago. XV Latin American Congress and Exhibition on Fats and Oils, 2013. DOMINGUES, M. A. F. ; Ribeiro, A.P.B.; Gioielli, L.A.; Gonçalves, L.A.G. . Influence of the addition of sucrose behenate on the crystallization behavior and microstructure of palm oil. In: 10th Euro Fed Lipid, 2012, Cracow. 10th Euro Fed Lipid, 2012. DOMINGUES, M. A. F. ; Garcia, R. K. A.; Ribeiro, A.P.B.; Gonçalves, L.A.G. . Effect of Combination of Emulsifiers on the Crystallization of Low Trans/Low Sat Fat. In: 9th Euro Fed Lipid Congress, 2011, Rotterdam. Poster Abstracts of the 9th Euro Fed Lipid Congress, 2011.
A professora Lireny Aparecida Guaraldo Gonçalves (à esq.), orientadora, e Maria Aliciane Fontenele Domingues, autora do estudo: pesquisa pode beneficiar a indústria de alimentos
Tese: Avaliação da incorporação de emulsificantes sobre as propriedades de cristalização de gorduras industriais Autora: Maria Aliciane Fontenele Domingues Orientadora: Lireny Aparecida Guaraldo Gonçalves Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) Financiamento: Fapesp e Capes
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Método detecta metais tóxicos em joias, piercings e bijuterias Químico usa técnica “limpa” em pesquisa que constata altas concentrações de níquel e chumbo Fotos: Antonio Scarpinetti
SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br
m apenas cinco segundos foi possível inferir a presença de metais com potencial tóxico e alérgico em uma amostragem de joias, bijuterias e piercings, de origens nacional, chinesa, mexicana, indiana e filipina. Foram identificadas concentrações elevadas de níquel (Ni) e chumbo (Pb). O método, desenvolvido no Instituto de Química (IQ) da Unicamp, é rápido, de baixo custo e ‘limpo’, por não gerar resíduos. Ele também pode ser considerado multielementar e não destrutivo, características que permitem análises de variadas amostras presentes no dia a dia da população. Até o momento não há registro de metodologia similar desenvolvida no país. Os resultados indicaram a presença do metal níquel em mais de 60% das amostras de joias e bijuterias, entre anéis, brincos, colares e pulseiras. Em contato com a pele, o elemento pode ocasionar alergias de diversos graus em indivíduos com predisposição. A existência do chumbo, substância carcinogênica, foi detectada em 25% do total dos produtos analisados. Em 80% dos piercings havia níquel e, em 10%, chumbo. As quantidades encontradas de níquel em joias, bijuterias e piercings variaram entre 20 e 30%. A presença do chumbo oscilou entre 4% e 10%. O método, desenvolvido pelo químico José Augusto da Col como parte de sua tese de doutorado defendida no IQ, está baseado na fluorescência de raios x por dispersão em energia (EDXRF, do termo em inglês Energy Dispersive X-Ray Fluorescence). Para analisar as amostras, o pesquisador da Unicamp fez uso de dois equipamentos: um espectrômetro de fluorescência de raios x de bancada e outro portátil. “Há uma preocupação evidente, pois grande parte das amostras possui concentração de níquel suficiente para desencadear processos alérgicos em pessoas com predisposição. O chumbo é cumulativo e altamente tóxico. Todas estas informações foram obtidas com a vantagem das amostras não terem sido destruídas. Isso é importante devido ao alto valor econômico de algumas peças. O uso do equipamento portátil poderia proporcionar ainda a análise de amostras em campo, associando maior agilidade ao controle de qualidade destes artigos”, salienta o estudioso da Universidade.
A tese de doutorado de José Augusto da Col foi orientada pela docente Maria Izabel Maretti Silveira Bueno, do Departamento de Química Analítica do IQ. O pesquisador da Unicamp obteve bolsa de estudo concedida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). As análises contaram ainda com a colaboração do docente Fábio Luiz Melquiades, do Departamento de Física da Universidade Estadual do Centro-Oeste, do Estado do Paraná.
DIFERENÇAS
Bijuterias expostas em barraca: método usado na pesquisa é baseado na fluorescência de raios x por dispersão
No total, a pesquisa investigou 107 peças de joias e bijuterias. Dez piercings de origem chinesa comprados no mercado central de Campinas (SP) também foram examinados. Os colares, pulseiras, brincos e anéis foram adquiridos no Brasil e na Espanha. As amostras compradas em Madri eram de procedência indiana e chinesa. Alguns destes produtos continham a indicação da ausência de níquel e chumbo em sua composição (Ni free and Lead free), o que não se revelou pela análise de algumas peças. Os acessórios comprados no Brasil tinham procedência mexicana, filipina, chinesa e indiana. Os demais, sem indicação, foram atribuídos como nacionais. José Augusto da Col também avaliou materiais escolares utilizados, principalmente, por crianças em idade pré-escolar, como a tinta guache, a massa de modelar e o giz de cera. Neste caso não foram identificadas quantidades significativas de elementos tóxicos na maioria das amostras. Para as análises destes produtos, o pesquisador associou técnicas de quimiometria, área que trata da aplicação de métodos estatísticos e matemáticos em dados de origem química.
“Apenas três potes de guache apresentaram o elemento bromo [Br] e um giz de cera, o bário [Ba]. São concentrações pequenas, mas elas já antecipam a necessidade de estudos mais detalhados para estes materiais. O estudo demonstrou também, tanto para os produtos escolares como para as bijuterias, joias e piercings, a necessidade de uma regulamentação, além de fiscalizações mais rígidas por parte dos órgãos oficiais”, defende. O químico formado pela Unicamp critica o fato de o país não possuir legislação consolidada proibindo determinados elementos tóxicos ou mesmo especificando quantidades seguras em produtos utilizados no cotidiano da população. Ele lembra que, no final do ano passado, uma reportagem da TV Globo, exibida no programa “Fantástico”, alertou para a contaminação de bijuterias chinesas interceptadas pela Receita Federal. “Foi uma quantidade muito grande, algo em torno de 16 toneladas. Um laudo apontou, em algumas amostras, a presença de cádmio, elemento bastante tóxico. Apesar disso, por falta de legislação, todas essas bijuterias entraram no país”, condenou.
Os métodos convencionais que analisam a presença de materiais tóxicos são destrutivos e indiretos, salienta José Augusto da Col. Ele explica que, nesses casos, as amostras são dissolvidas em reagentes químicos, num processo envolvendo várias etapas de pré-tratamento. “Apesar da exatidão destes métodos clássicos, a análise com reagentes pode levar a perdas dos analitos e contaminações. Além disso, elas geram resíduos tóxicos e necessitam de um tempo considerável, o que acaba diminuindo a frequência analítica”, compara. As análises pela fluorescência de raios x no equipamento de bancada ocorreram num tempo médio de 100 segundos para as joias, bijuterias e piercings. No espectrômetro portátil o tempo médio foi de cinco segundos. O exame do material escolar necessitou de um período maior, algo em torno de 30 minutos. Para o estudioso da Unicamp, que iniciou recentemente pós-doutorado no IQ, a técnica de fluorescência de raios X por dispersão em energia se mostrou bastante eficaz para avaliar as amostras. O método permite não somente análises quantitativas, identificando, por exemplo, os elementos químicos numa bijuteria, mas também qualitativas, estabelecendo a proporção em que cada elemento químico está presente. “No equipamento portátil foram analisadas 52 pulseiras, 28 colares, 21 brincos e seis anéis, totalizando mais de 400 medidas nas diferentes partes de cada peça. Com o equipamento de bancada, realizamos análises em 52 pulseiras e 28 colares. Anéis e brincos não puderam ser analisados com este equipamento devido à dificuldade de se fixar as peças no ponto exato em que o feixe de raios X deveria incidir. Algumas amostras foram analisadas no suporte que acompanha o espectrômetro de fluorescência de raios x”, especifica.
Publicações
O químico José Augusto da Col, autor da tese: para pesquisador, órgãos oficiais devem exercer fiscalização mais rigorosa
Artigos Da-Col, J. A.; Sanchez, R. O.; Terra, J.; Bueno, M. I. M. S. “Análise exploratória rápida e não destrutiva (screening) da presença de elementos químicos tóxicos em material escolar por fluorescência de raios X”. Química Nova, v. 36, p. 874-879, 2013. Da-Col, J. A.; Bueno, M. I. M. S.; Melquiades, F. L. “Nondestructive Determination of Allergenic and Toxic Elements in Jewelry: a Comparison of Benchtop and Portable Energy Dispersive X-Ray Fluorescence Spectrometers”. Journal of the Brazilian Chemical Society, no prelo 2014 (DOI 10.5935/0103-5053.20140047).
Tese: Avaliação rápida, direta e sem geração de resíduos de amostras da vida cotidiana por fluorescência de raios x por dispersão em energia Autor: José Augusto da Col Orientadora: Maria Izabel Maretti Silveira Bueno Unidade: Instituto de Química (IQ) Financiamento: CNPq
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Campinas, 24 a 30
De olho no
CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br
pouco comum que uma comunidade que tenha despertado o interesse acadêmico e constituído tema de estudos sinta-se em decorrência beneficiada. Não raro essas ações são olhadas com certo desencanto pelos grupos sociais em que são recorrentes. Os sentimentos e a reações que suscitam em relação aos pesquisadores podem ser resumidos em uma manifestação: “Eles sempre vêm aqui e não acontece nada”. Não é o caso dos habitantes da Comunidade do Marujá, no Vale do Ribeira, que através de um processo participativo com abordagens humanista, interativa e construtivista, foram auxiliados a reorganizar e reestruturar suas prioridades e objetivos, envolvidos em um estudo de caso. Alguns elementos se revelaram decisivos para o sucesso desse processo: a sua natureza participativa e construtivista, em que a comunidade se sentiu confortável e confiante; a conscientização coletiva; a coesão dos moradores; as decisões de consenso, fatores percebidos e destacados pelos próprios líderes comunitários. O Vale do Ribeira possui uma das áreas de belezas naturais mais exuberantes do Brasil. Entre seus parques e reservas naturais de mata atlântica se encontra uma imensa biodiversidade de fauna e flora, o que levou a Unesco declará-lo reserva da biosfera e Patrimônio da Humanidade. Alvo de pesquisas de diversas instituições nacionais e internacionais, nele se encontra a maior parcela remanescente contínua da Mata Atlântica e de ecossistemas associados do país, concentrando 40% das unidades de conservação do Estado de São Paulo. Dos 30 municípios que constituem o Vale do Ribeira, 23 pertencem ao Estado de São Paulo e os demais ao Estado do Paraná, sendo Registro, Iguape e Cananéia os de maior importância. Entre as unidades de conservação que o constituem destacase o Parque Estadual da Ilha do Cardoso (PEIC), localizado na Ilha do Cardoso, que abrange uma área de 151 km,² localizada no litoral sul de São Paulo, no município de Cananéia. A 272 km da capital paulista, o acesso ao PEIC se dá pela rodovia Regis Bittencourt (BR 116) até Registo e de lá a Cananéia, de onde se chega à ilha de barco. Os aproximadamente 400 moradores da ilha se distribuem em sete comunidades, além da indígena Guarai M’bya. Em uma delas, a Comunidade do Marujá - situada entre o canal estuarino e o Oceano Atlântico e constituída de 54 famílias e 180 habitantes -, focou-se o estudo de caso realizado pelo economista Lucas Ferreira Lima, que deu origem à dissertação de mestrado que teve como objetivo apoio à decisão e organização de comunidades tradicionais. O trabalho foi orientado pelo professor Ademar Ribeiro Romeiro, do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, e contou com o suporte do aluno de doutorado, também do IE, Ranulfo Paiva Sobrinho. Ao justificar a escolha dessa comunidade, o pesquisador esclarece que ela tem sido relativamente bem-sucedida nas suas tentativas, em consonância com a política do Estado, em cumprir os objetivos de conservação e preservação ambiental - gestão e manejo dos recursos naturais. Este sucesso é evidenciado pelo grande número de turistas e pesquisadores interessados em conhecer a suas belezas naturais e os métodos utilizados para conservação e preservação ambiental. Apesar do sucesso relativo do Marujá, os pesquisadores haviam previamente constatado, por meio de conversas e entrevistas, que os seus moradores vivem com receio constante de sofrerem remoção do Parque, situação tensionada por problemas decorrentes da gestão e organização da comunidade e de rivalidades entre grupos familiares. O autor considera que o seu trabalho ocorreu em um momento em que os moradores da comunidade do Marujá se encontravam com muitas dúvidas sobre como se organizar, redefinir prioridades e repensar objetivos. Contribuiu para isso uma gestão considerada desastrosa da Associação dos Moradores do Marujá (Amomar), que desmobilizou a comunidade e gerou dispersão e desunião. Além disso, conflitos envolvendo famílias, comunidades e órgãos públicos determinaram o temor da população do Marujá quanto à expulsão do PEIC, a exemplo do que já ocorrera na Juréia.
Metodologia dá suporte a ações de planejament de moradores de comunidade da Ilha do Car Fotos: Divulgação
Foto: Josué Tiago dos Santos
Vista parcial de Marujá (acima) e barco (ao lado) que faz o transporte de passageiros para a Ilha do Cardoso, que aparece ao fundo na imagem
Embora reconheçam a importância do PEIC no controle da especulação imobiliária na Ilha, são constantes as reclamações quanto às limitações que são impostas aos moradores tradicionais pela administração do Parque, tais como restrições à coivara (queima da mata para plantação), derrubada da mata nativa para roças, hortas e construções de casas que atendam às necessidades do crescimento demográfico da comunidade.
MACBETH Em vista desse quadro, em que pontuavam rivalidades entre famílias e grupos, agravadas por falta de rumos e objetivos, os pesquisadores se colocaram a pergunta: como auxiliar a comunidade do Marujá a se reorganizar, redefinindo prioridades e repensando objetivos? A decisão tomada por eles apoiou-se então na hipótese de que a Abordagem de Apoio Multicritério à Decisão – Multiple Criteria Decision Aid (MCDA), mais precisamente, por meio do Processo Sociotécnico Macbeth de Apoio Multicritério à Decisão, possui um arcabouço metodológico teórico e prático consistente para auxiliar efetivamente a comunidade do Marujá a superar seus impasses. Lucas lembra que a metodologia abarca tanto aspectos técnicos como sociais e
envolve toda a comunidade no processo. “Não é uma metodologia em que realizada a pesquisa de campo se retorna à universidade para elaborar o trabalho. Tudo é desenvolvido na comunidade, com a comunidade e os resultados emanam dela. Nós apenas desenvolvemos a parte técnica do trabalho com os habitantes tradicionais e os auxiliamos a organizar as conclusões a que eles próprios chegaram em suas discussões, em decorrência de um processo de conscientização coletiva”, diz ele. A Metodologia Macbeth de apoio à tomada de decisão permite avaliar opções levando em conta múltiplos critérios. Diferencia-se de outras metodologias porque requer apenas julgamentos qualitativos. À medida que esses são expressos pelo avaliador e introduzidos em M-Macbeth (www.m.macbeth.com), o software verifica automaticamente a sua consistência e oferece sugestões para resolvê-las. Trata-se, além de tudo, de uma abordagem humanística, já usada para auxiliar moradores de comunidades a se comunicar, refletir e discutir seus sistemas de valores e referências, ou seja, o que julgam importante para solucionar seus problemas. Esta abordagem promove também a interatividade entre os envolvidos no processo, o que gera entendimento dos problemas e debates para a busca de soluções.
Além do que, o seu caráter construtivista traz no bojo a ideia de que as soluções dos problemas não preexistem na mente dos envolvidos no processo. São os debates e as interações realizadas através de um processo sociotécnico que ajudam a comunidade a construir um conhecimento maior sobre os problemas, a identificar e elencar seus objetivos fundamentais e buscar soluções mais sólidas e compartilhadas. Em suma, a metodologia utilizada leva em consideração tanto os aspectos sociais quanto técnicos em decisões que envolvam múltiplos critérios. E mais, parte dos valores intrínsecos aos atores envolvidos, do que eles consideram importante ou que pretendem alcançar para chegarem aos objetivos por eles traçados. É a estratégia chamada de pensamento focado no valor – value-focused thinking, que diferencia a metodologia utilizada de outros métodos multicritérios. Para o autor, trata-se de estudo pioneiro, pois embora existam muitos trabalhos sobre avaliação de comunidades tradicionais, ele não identificou nenhum que utilize a Abordagem Sociotécnica Macbeth de Apoio Multicritério à Decisão. O trabalho de pesquisa inseriu-se no projeto CiVi.Net, patrocinado pela União Europeia, de que participam vários centros
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de março de 2014
futuro
to e de tomada de decisões rdoso, no Vale do Ribeira de pesquisa no mundo, oriundos de países como Alemanha, Áustria, Brasil, Costa Rica, Suíça, Países Baixos, e que tem como foco a gestão de base comunitária em relação a desafios ambientais. O CiVi.Net procura identificar histórias de sucesso de comunidades em que foram desenvolvidas estratégias de solução para a gestão eficaz dos recurso naturais. Com abordagem focada na “pesquisa-ação” e em estudos de caso, o projeto selecionou quatro regiões em que soluções bem-sucedidas têm sido levadas a cabo: três no Brasil e uma na Costa Rica.
DESENVOLVIMENTO Uma série de reuniões foram realizadas entre membros do projeto CiVi.Net, através da Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola (Fundag), moradores da comunidade do Marujá e os pesquisadores para a realização do estudo de caso. A abordagem sociotécnica Macbeth desenvolveu-se em quatro etapas: identificação do contexto de decisão e do problema; estruturação do modelo; avaliação do modelo multicritério; análise de sensibilidade e recomendações. Na primeira fase, em abril de 2012, foi realizada uma reunião com representantes da comunidade do Marujá, a equipe técnica do projeto e o autor do trabalho, embora já houvesse ocorrido uma visita prévia em dezembro do ano anterior. Na oportunidade os moradores relataram a situação da comunidade e alguns problemas que os afetam e lhes foi apresentado a proposta de trabalho. Diante da sua aceitação unânime, decidiu-se que o processo de reestruturação seria realizado em maio do mesmo ano em encontros com três grupos: crianças e jovens; adultos; e com esses dois agrupamentos conjuntamente. Nesta segunda fase, mais precisamente, na reunião com representantes de todas as faixas etárias, visou-se definir um conjunto de objetivos relacionados a cada área de preocupação da comunidade, como liderança, cultura e lazer, ensino, saúde, meio ambiente, moradia, economia, comunicação, turismo, de forma que fossem compreendidos e aceitos pelos participantes. Nela também foram selecionados representantes dos dois grupos etários para a etapa seguinte que se destinava à estruturação dos objetivos fins
e meios. Em junho e julho realizaram-se as duas últimas etapas deste processo. Lucas constata que antes da aplicação do processo sociotécnico Macbeth os moradores da comunidade de Marujá não vislumbravam objetivos a serem buscados. Para ele, o Machbeth efetivamente auxiliou a comunidade a repensar suas prioridades e a redefinir como objetivo estratégico a sua permanência no PEIC, o que surpreendeu seus próprios membros, pois eles não tinham ideia que este seria o objetivo estratégico a ser perseguido. Para o pesquisador, o processo auxiliou os moradores do Marujá a organizar suas ideias, definir concretamente seus objetivos fundamentais em áreas como saúde, educação, transporte, energia, entre outras, e a lutar pela permanência da comunidade no Parque. E conclui: “O processo levou a uma coesão social que modificou radicalmente o ambiente na comunidade. As crianças e os jovens se sentiram valorizados porque até então não eram chamados a participar, inclusive dando sugestões em que os adultos reconheciam não ter pensado. Uma delas foi a criação de um barco-ambulância, para atendimento de casos de urgência, conduzindo até o hospital de Cananéia mulheres em processo de parto, acidentados, vítimas de picada de cobra. A criação de uma comissão de líderes em substituição a um único líder resolvia também problemas de rivalidades de grupos. Mas certamente o resultado mais significativo foi a conscientização das pessoas, fato ressaltado por elas mesmas nos contatos que ainda mantemos com a comunidade. Agora eles sabem para que lutar e como lutar”.
Publicação Dissertação: “Processo sócio técnico Macbeth de apoio multicritério à decisão e a organização de comunidades de tradicionais: o caso da Comunidade do Marujá, no Vale do Ribeira – SP” Autor: Lucas Ferreira Lima Orientador: Ademar Ribeiro Romeiro Unidade: Instituto de Economia (IE) Foto: Antoninho Perri
Lucas Ferreira Lima, autor do trabalho: “Agora eles sabem para que lutar e como lutar”
Na sequência, reunião geral com grupo de jovens e adultos, processo de conferência de decisão e o facilitador em ação
Cachoeira Grande, uma das belezas naturais da Ilha do Cardoso: potencial turístico
Ilha virou Parque Estadual em 1962 No início do século XVI o litoral sul de São Paulo foi uma das primeiras regiões brasileiras colonizadas pelos portugueses. A partir dos anos 1700, embarcações construídas na região passaram a ser usadas na navegação de cabotagem. Durante o século XVIII, a produção pesqueira e agrícola da região chegava aos portos do Rio de Janeiro, Santos, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A região entrou em crise quando, ao final desse século, a Metrópole proibiu o comércio com outras cidades. A produção agrícola foi retomada em meados do século XIX, principalmente com a monocultura do arroz, transportado por via fluvial. Esse tipo de transporte não resistiu à chegada das primeiras estradas de rodagem, que provocaram a desarticulação do sistema econômico local com o êxodo dos grandes produtores. Restaram os pequenos proprietários que praticavam uma agricultura de subsistência, mas expressiva parcela deles acabou impactada pelas leis de proteção ambiental que contribuíram também para estancar o desenvolvimento da região. O agressivo processo de devastação de matas nativas, resultante de uma ocupação humana desordenada e não planejada, e que vinha desde a colonização, ensejou o conceito de áreas protegidas, inseridas no contexto de valorização e manutenção de reservas naturais, inspirado em modelo implantado desde o fim do século XIX nos EUA. A partir de 1967 vários órgãos foram encarregados da implementação e administração no Brasil das denominadas Uni-
dades de Conservação (UCs). Depois de anos de propostas e debates, em 2000, lei instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) e definiu órgãos executores da sua implementação. A Ilha do Cardoso foi transformada por decreto em Parque Estadual já em 1962, na categoria de Unidade de Conservação de Proteção Integral. Portaria Ministerial faz a cessão da Ilha do Cardoso da União para o Estado com o objetivo de permitir a implementação do Parque Estadual e determina a permanência nele apenas dos ocupantes tradicionais da Ilha. Em 1995 o Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema) aprova relatório de proteção ambiental que recomendava que no Plano de Manejo do PEIC fossem contempladas as famílias de pescadores, incorporadas suas contribuições e lhes fossem atribuídas, preferencialmente, funções de manutenção, fiscalização e gerenciamento. A elaboração do Plano de Manejo do PEIC ocorreu em 1997 através de processo em que participaram comunidades tradicionais residentes e entidades governamentais e não governamentais que atuavam no Parque. Em 1998, a comunidade criou a Associação dos Moradores do Marujá (Amomar), mantida pelas contribuições dos próprios moradores tradicionais e que passou a se responsabilizar pela limpeza das praias, coleta seletiva do lixo, telefonista e projetos de melhoria. O Marujá dispõe hoje de infraestrutura simples, como escola, centro comunitário, posto telefônico e igreja.
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Campinas, 24 a 30 de março de 2014 SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br
linguista Fabiana Raquel Leite identificou, durante sua pesquisa de mestrado na Unicamp, uma nova fonte de estudos para a Língua Geral Paulista (LGP), principal idioma falado no Estado de São Paulo entre os séculos 16 e 18. Trata-se de um vocabulário com 1.311 entradas. O documento, único registro do século 19 desta Língua, foi publicado no século 20 e vinha passando despercebido por estudiosos do tema. A LGP é originária do contato dos dialetos falados pelos índios tupis e colonizadores portugueses. O documento, intitulado Vocabulário Elementar da Língua Geral Brasílica, foi publicado em 1936 na Revista do Arquivo Municipal de São Paulo. “Apesar de trazer em seu título a denominação ‘Língua Brasílica’, o vocabulário de autoria de José Joaquim Machado de Oliveira constitui, efetivamente, uma fonte da LGP. Foi isso que demonstramos no estudo, essa é a descoberta”, esclarece Fabiana Leite. O achado integrou pesquisa desenvolvida por ela junto ao Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), sob a orientação do professor Wilmar da Rocha D’Angelis, um dos principais estudiosos da área de línguas indígenas do país. O trabalho contou com financiamento da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes). “Língua Brasílica, denominação corrente nas crônicas jesuíticas, caracterizava estes dialetos falados a partir do contato dos colonizadores e índios. O termo ‘língua geral’ é utilizado para referir-se à língua indígena mais difundida na costa brasileira nos séculos XVI e XVII. A principal contribuição do estudo foi conhecer um pouco mais essa Língua Paulista e identificar uma nova fonte valiosa de registro e estudo. Com isso, novas perspectivas para a pesquisa poderão surgir. A LGP foi muito importante, era praticamente a língua oficial do nosso Estado”, fundamenta a pesquisadora da Unicamp. Fabiana Leite explica que, ao contrário das outras línguas gerais existentes no país, a paulista está extinta. No Brasil, a partir da colonização, foram faladas três línguas gerais. Duas no domínio português: a Língua Geral Paulista e a Língua Geral Amazônica, falada no Norte, nos atuais estados do Maranhão e Pará. E outra, denominada Língua Geral Guarani, falada no Sul, na época em que o Estado estava sob o domínio espanhol. “A Língua Geral Amazônica sobreviveu e hoje ela é conhecida também como Nheengatu. Foi documentada, existe gramática, dicionário e é uma língua viva. Já a LGP deixou de ser falada no início do século 20. Para as línguas amazônica e guarani existem muitas documentações, ao contrário da paulista. O principal documento de registro dessa língua conhecido até então era um dicionário de verbos compilado e publicado pelo naturalista alemão Carl Friedrich Philipp von Martius, que recebeu este documento de segunda mão”, contextualiza. A língua paulista tem suas origens nos dialetos dos índios tupi de São Vicente e do alto do rio Tietê. Com a ação dos bandeirantes no Brasil colonial, ela foi disseminada também para os estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Paraná. “É uma língua de origem indígena, mas com elementos do português, espanhol e do guarani. Comparada à Língua Geral Amazônica, a paulista apresenta uma maior influência do idioma do colonizador português, espanhol e, também, do guarani. Por essa razão, autores como von Martius, a consideraram uma língua menos pura. Podemos dizer que a LGP era o idioma corrente das bandeiras paulistas”, descreve a pesquisadora.
Registro raro de língua paulista é identificado Vocabulário com 1.311 entradas é uma das principais fontes do idioma falado em São Paulo entre os séculos 16 e 18 Foto: Reprodução/Divulgação
Reprodução de páginas do “Vocabulário Elementar da Língua Geral Brasílica”, de autoria de José Joaquim Machado de Oliveira (destaque): fonte importante
VOCABULÁRIO Fabiana Leite concluiu sua dissertação em três anos. Boa parte do seu trabalho foi pesquisar se o “Vocabulário Elementar da Língua Geral Brasílica” era uma fonte de registro do Nheengatu, a língua falada no Norte, ou da Língua Geral Paulista. “Durante a pesquisa descobri que realmente este documento é um registro da língua paulista. Isso estava passando despercebido. Devido à escassez de documentação sobre a LGP, para a análise comparativa dos dados, foram utilizados critérios fonológicos e morfológicos. A insuficiência de documentação não nos permitiu a utilização de critérios gramaticais. Analisamos, ainda, as diferenças semânticas existentes entre o léxico tupi e o guarani”, justifica. O Vocabulário Elementar foi publicado em 1936, 69 anos após a morte do seu autor, o militar e político José Joaquim Machado de Oliveira (1790 - 1867). Além da carreira política, Machado de Oliveira se destacou pela rica produção intelectual e cultural. A linguista da Unicamp acrescenta que ele foi sócio da Revista Trimestral do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
instituição na qual publicou grande parte de seus trabalhos. Foram, no total, 36 obras publicadas e diversos manuscritos inéditos. As publicações abarcam uma rica variedade de assuntos: etnografia, criação do bicho da seda, estatística, recrutamento militar, imigração, colonização, geografia, além de biografias e relatos de viagens. “O neto dele, José de Alcântara Machado, encontrou os manuscritos desse Vocabulário e publicou. Muitas respostas ficaram sem preencher porque, embora eu tenha procurado o manuscrito durante toda a pesquisa, tive que me basear apenas na publicação editada pela Revista do Arquivo Municipal de São Paulo”, reconhece. Para a elaboração do Vocabulário, a estudiosa da Unicamp informa que o autor consultou obras de Luís Figueira (A Arte da Língua Brasílica, em especial), de António Ruiz Montoya e o manuscrito da segunda parte do Dicionnario Portuguez-Brasiliano e Brasiliano-Portuguez. “O Vocabulário possui 1.311 entradas que ocupam as páginas de 129 a 171 da Revista do Arquivo Municipal de São Paulo.
Na sequência delas, encontramos uma lista de 73 entradas denominada Vocabulário dos Índios Coroados. As entradas estão em língua geral, seguidas da tradução em português”, detalha.
MANUSCRITO DA BIBLIOTECA NACIONAL Chegando ao final da pesquisa, durante o exame de qualificação, Fabiana Leite identificou outro documento de registro da Língua Geral Paulista. “Trata-se de um manuscrito da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, provavelmente do século XVIII, intitulado Vocabulário da Língua Geral dos Índios das Américas. É um documento importante que consta de 440 entradas e não traz indicação de data e autor.” O manuscrito já havia sido apresentado em 2001 durante comunicação proferida no II Colóquio sobre Línguas Gerais pelos estudiosos Aryon Dall’Igna Rodrigues, exdocente da Unicamp, e Ruth Maria Fonini Monserrat, ambos pesquisadores atuais do Laboratório de Línguas e Literaturas Indígenas (LALLI) da Universidade de Brasília (UNB). Foto: Antoninho Perri
Publicação Dissertação: “A Língua Geral Paulista e o ‘Vocabulário Elementar da Língua Geral Brasílica’ ” Autora: Fabiana Raquel Leite Orientador: Wilmar da Rocha D’Angelis Unidade: Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) Financiamento: Capes A linguista Fabiana Raquel Leite, autora do estudo: publicado no século 20, documento foi ignorado por especialistas
Campinas, 24 a 30 de março de 2014 PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br
omo ensinar as crianças contando histórias e por meio da literatura? E ensinar não somente os conteúdos propostos pelas escolas, como também auxiliá-las em seu desenvolvimento cognitivo e afetivo, proporcionando a formação de um sujeito crítico? Esta é a proposta da tese de doutorado de Fernanda Maria Macahiba Massagardi, desenvolvida na Faculdade de Educação (FE) da Unicamp. Ao longo de 575 páginas, a autora traça o caminho a ser percorrido pelos professores, abordando, de maneira pedagógica, as questões pertinentes à aprendizagem envolvendo as histórias contadas nos livros. “O eixo que norteou a pesquisa foi o de ensinar contando histórias da literatura pensando no ensino de forma ampla, não só relacionado ao conteúdo escolar, mas também aos valores como ética, respeito, solidariedade e amizade, que estão em crise na escola”, diz a autora. Para chegar à análise de obras do escritor irlandês Clive Staples Lewis e do brasileiro Monteiro Lobato, escolhidos para exemplificar como a literatura poderia desencadear um processo de aprendizado, Fernanda usou dez capítulos de sua tese, ou 260 páginas. Tomando como base que é preciso, antes de contar histórias, conhecer os porquês da literatura, a relação com a leitura, o livro infantil, a criatividade e a construção do pensamento científico na criança e até mesmo saber sobre as instituições de ensino brasileiras, a doutoranda pesquisou e escreveu sobre diversos temas, na forma de capítulos que podem ser lidos isoladamente. “Não é possível ensinar só lendo a história, o docente tem que ter informação a respeito da criança, do processo criativo, da leitura, de como a criança aprende e interpreta as histórias”. A tese traz questões de como se deve escolher um livro infantil, para que seja construtivo e interessante para a criança, qual é o comportamento do público brasileiro, e como as crianças são vistas pelos adultos. Fernanda tem como base as teorias construtivistas de Jean Piaget e a chamada “educação do sensível”, termo que ela traz de escritos do docente João Francisco Duarte Júnior, do Instituto de Artes (IA) da Unicamp, para quem “o mundo moderno primou pela valorização do conhecimento intelectivo, abstrato e científico, em detrimento do saber sensível, particular e individualizado” conforme citação do autor destacada por Fernanda.
Histórias que ensinam (e despertam) Pesquisa da FE mostra como a literatura infantil pode ser útil para o desenvolvimento das crianças Foto: Divulgação
LITERATURA NA
obra que enriquece e possibilita diversos debates sobre o conceito de mentira, verdade, relatividade, adaptação e democracia”, destaca. Parágrafo a parágrafo a autora retira dos escritos de Lobato o que pode ser debatido com as crianças e de que forma. Na análise de O Minotauro, Fernanda observa: “Lobato, ao apropriar-se da mitologia e transformá-la, consegue manter sua essência e fazê-la divertida, numa linguagem que a criança consegue entender. É relevante a perspicácia demonstrada por ele no que tange ao mundo da criança e a escolha de temas importantes para a formação de um cidadão pleno”.
LEWIS
DISCIPLINA DE ARTES
A pesquisadora propõe uma mudança fundamental no ensino da literatura: que passe a ser matéria da disciplina de artes, e não de língua portuguesa: “tem sido de grande prejuízo a inclusão da literatura apenas como suporte para dissecação gramatical. É reduzir um universo de significados a uma atividade pontual. É restringir um campo de saberes a um exercício mecânico e instrumental, sem adesão dos sentidos”, assinala. A literatura pertence a um contexto, que deveria ser explorado, segundo a pesquisa. Os autores Lewis e Lobato foram escolhidos por se alinharem a proposta da pesquisadora. “Quando comecei o trabalho procurei autores que tivessem essa vertente da formação do pensamento crítico. Lobato escreve História do mundo para as crianças, Emília no país da gramática, Aritmética da Emília e Geografia de Dona Benta, mas também traz em sua literatura argumentações dos personagens, sobretudo da boneca Emília, situações em que acontecem conflitos para serem resolvidos entre crianças, como em A chave do tamanho, por exemplo”. A obra de Clive Staples Lewis, na opinião de Fernanda, também tem essas características. Daí a análise comparada. “A leitura dele na Inglaterra é tão obrigatória quanto os contos tradicionais para nós”, acrescenta. De acordo com a doutoranda, é possível apontar características das crianças nas personagens dos dois escritores. Algumas falas da Emília de Lobato seriam transduções. “Ela generaliza uma situação, vai do particular para o particular como costumamos dizer, significa que ela supõe que todos pensam como ela”. Os neologismos criados por Emília também serviriam para criar brincadeiras em sala de aula. “Os conflitos que aparecem na história podem ser discutidos com as crianças para que elas deem seu ponto de vista. É possível educar a criança de uma maneira gostosa, sem dar ‘lição de moral’, porque hoje isso está fora de contexto. Não adianta, por exemplo, a gente verbalizar, Piaget falava muito isso... a criança tem que chegar a suas próprias conclusões, construir suas verdades, sem que o professor seja impositivo”. Emília tem falas afirmando que o mundo é dos espertos e que a mentira é boa. Fernanda acredita que o professor pode trazer o ponto de vista da personagem para a sala de aula para questionar as crianças. Este é apenas um exemplo.
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Monteiro Lobato, um dos autores que fundamentam a tese: preocupação com a formatação e as ilustrações dos livros
No início do século 20 não existiam contos fundamentados em lendas e tradições brasileiras, mas somente temas relacionados à moralidade, inspirados na tradição europeia, segundo texto da tese. O primeiro livro infantil publicado no Brasil, de autoria de Alberto Figueiredo Pimentel, era uma coletânea de contos de Perrault, Andersen e Grimm. “Eram famosos, contudo, os caderninhos de folhetos intitulados Testamentos. Testamentos do galo, do rato etc. Versos curtos que habitualmente as crianças colecionavam. Os volumes eram muito caros ou muito baratos e de má qualidade”. Inspirado nas ideias dos educadores da época, Lobato passa a escrever com intuito de educar. Preocupa-se com a formatação e as ilustrações dos livros. Os capítulos têm características de hipertextos: podem ser lidos em sequência ou individualmente (assim como Fernanda sugere que sua tese seja lida). Com Emília, personagem que faz mais sucesso entre as crianças, Lobato “antecipa as necessidades da literatura atual, criar leitores questionadores”. Fernanda então retoma Piaget, para quem a criança constrói sua realidade por meio da imaginação e da manipulação do concreto. “Lobato é um mestre no estímulo da imaginação infantil e o docente pode fazer uso dos textos dele para propor experiências concretas para as crianças”. A chave do tamanho trata da relatividade dos fatos. Lobato traz a Segunda Guerra para a narrativa. Emília tenta encontrar uma chave para terminar com o conflito, no entanto a chave diminui o tamanho das pessoas. A partir daí várias situações são colocadas e podem ser discutidas nas salas de aula. Como as crianças, Emília leva tudo ‘ao pé da letra’, o que a faz suspeitar que muito do que os adultos dizem é mentira. “É uma
Um autor que ficou conhecido no Brasil pelas telas de cinema. Lewis publicou os sete volumes que compõem As Crônicas de Nárnia entre 1950 e 1956. Em um paralelo com a fé cristã, as crônicas possuem referências bíblicas. A pesquisadora enfatiza, no entanto a possibilidade da leitura sem a preocupação com os ideais cristãos. “É impossível deixar de perceber que há situações muito paradoxais nas narrativas, que propõem atitudes que vão contra o senso comum da vida prática, mas possuem reverberação no pensamento ético, tais como: quem ganha, perde; o fraco é forte, o sano é louco, entre outros”. Uma característica marcante dos escritos de Lewis é a criação de outros mundos onde habitam seres que não são humanos, mas se comportam como tal. Também é constante a presença de animais falantes. O sobrinho do Mago, protagonizada por crianças, explica como se deu a criação de Nárnia por Aslam, o leão que simboliza Jesus Cristo. A crônica O leão, a feiticeira e o guarda-roupa, a primeira a ser escrita e também a de maior sucesso entre o público, também entrou para a análise da pesquisadora. Quatro crianças humanas chegam ao mundo de Nárnia através de um antigo guarda-roupa. “A obra de Lewis é questionadora e emerge no século XXI atraindo grande público adulto e infantil, promovendo a tomada de consciência na medida em que traz soluções conflituosas que provocam desequilíbrio cognitivo na criança e também o desenvolvimento afetivo, considerando que enaltece valores como amizade e trabalho em equipe”, assinala. Fernanda afirma que a literatura promove uma capacidade de significação de mundo para as pessoas. “Eu acredito que a literatura pode ensinar as crianças, mas não apenas o conteúdo exigido pelo currículo. Isso também pode ser ensinado, até porque a criança tem a necessidade de aprender, mas vai além porque a criança vai desenvolver o que o Antônio Cândido chama de poder humanizador da literatura. A humanização é o que falta no ensino”. Foto: Antonio Scarpinetti
MAIS LOBATO De Lobato, a doutoranda analisou as obras: A chave do Tamanho, O minotauro e O Picapau Amarelo, além de Aritmética da Emília, Emília no país da Gramática e Geografia da Dona Benta. Fernanda estudou a biografia do escritor. “Em 1956, Lobato já contava com 102 títulos em circulação na América do Sul. Foi traduzido para o francês, árabe, espanhol, inglês, japonês, ídiche e italiano”, descreve, exaltando a extrema preocupação do escritor com a escassez das leituras direcionadas para crianças na época.
Publicação Tese: “Percursos da literatura na educação: ensinar contando histórias” Autora: Fernanda Maria Macahiba Massagardi Orientadora: Orly Zucatto Mantovani de Assis Unidade: Faculdade de Educação (FE)
Fernanda Maria Macahiba Massagardi, autora da tese: “Não é possível ensinar só lendo a história”
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Campinas, 24 a 30 de março de 2014
PAINEL DA SEMANA Para não dizer que não falei de flores - Palestra será proferida por Ana Vicentini de Azevedo, dia 24 de março, às 14 horas, no Centro Cultural do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). A palestrante é psicanalista e membro da Association Psylchamalytique Encore (Paris). O evento é organizado pelos professores Nina Virgínia Leite, Flávio Ribeiro de Oliveira e Paulo Sérgio de Vasconcellos. O encontro faz parte do ciclo Questões de gênero. Mais informações: 19-3521-1520. Tecnologia e inclusão social - A Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp organiza nos dias 26 e 27 de março, um seminário sobre tecnologia e inclusão social. A abertura ocorre às 9 horas, na sala UL12 da FCA. O seminário é organizado pelo professor Rafael Dias. Inscrições podem ser feitas até o dia do evento. Mais detalhes: http://www.fca.unicamp.br/documents/seminario-TIS-2014.jpg Intercâmbio na Letônia - A ministra de Educação e Ciência da Letônia, Ana Druviete, profere palestra no dia 26 de março, às 15 horas, na Sala do Conselho Universitário (Consu). Ela falará sobre as oportunidades de intercâmbio para alunos de graduação e pósgraduação na Letônia. A organização é da Vice-Reitoria de Relações Internacionais (Vreri). Mais informações: 19-3521-7145. A importância da mulher trabalhadora na Universidade - A Comissão Interna de Acidentes no Trabalho (Cipa) comemora o Dia Internacional da Mulher com a realização do encontro “A importância da mulher trabalhadora na Universidade”. Participam: Glaucia Maria Pastore, pró-reitora de Pesquisa; Zilda de Oliveira Farias, da Divisão de Educação Infantil, e Cleudiran Sales Dias, representante da União Brasileira de Mulheres em Campinas. Neste evento a CIPA fará uma apresentação dos acidentes de trabalho na Universidade, a partir dos registros dos Comunicados de Acidentes de Trabalho. O evento ocorre no dia 27, às 14 horas, no auditório da Diretoria Geral da Administração (DGA). Mais informações: telefone 19-35217532 ou e-mail cipa@unicamp.br Saúde e dietética antes da revolução científica - O Grupo de Estudos História das Ciências da Saúde da Faculdade de
Ciências Médicas (FCM) da Unicamp realiza no dia 27 de março, às 14 horas, no anfiteatro da Comissão de Graduação em Medicina, no primeiro andar do prédio-sede da FCM, reunião aberta com a participação de Wanessa Asfora, historiadora da USP e correspondente do periódico científico Food & History do Instituto Europeu de História a Cultura da Alimentação. Aos participantes serão emitidos certificados de participação. Mais informações no site do evento http://www.fcm. unicamp.br/fcm/eventos/2014/saude-e-dietetica-antes-da-revolucaocientifica #AinternetVaiPraRua - O Centro Cultural de Inclusão e Integração Social (CIS-Guanabara) organiza no dia 29 de março, às 14 horas, a Feira Cultural #AinternetVaiPraRua. A Feira será realizada na rua Mário Siqueira 829, no bairro do Botafogo, em Campinas-SP. O objetivo é disseminar conhecimentos sobre o uso da Internet e da cultura digital com vistas ao desenvolvimento social, da cidadania e mobilização. Concomitantemente, acontece a Semana da Cultura Digital, de 26 a 29 de março, no Largo do Rosário, em Campinas. No local haverá uma tenda com stands para a exposição de trabalhos de cultura digital e a realização de rodas de conversa. Mais detalhes podem ser obtidos pelo telefone 19-3231-6369 ou e-mail guanabara@reitoria.unicamp.br Exposições 2014 - A Galeria de Arte da Unicamp disponibilizou no site http://www.iar.unicamp.br/acontece/materias/agendamentogaleria-de-arte-2014.php, um formulário para os artistas interessados em agendar exposições para 2014. O formulário deve ser impresso, preenchido e entregue, até 31 de março (novo prazo em virtude da greve dos Correios), na rua Sérgio Buarque de Holanda s/n, piso térreo da Biblioteca Central Cesar Lattes (BC-CL), CEP 13083-970, Caixa Postal 6159, aos cuidados da professora Lúcia Fonseca. A seleção dos projetos ocorre em abril e o resultado será anunciado no link www.iar. unicamp.br/galeria. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 19-3521-6561 ou e-mail galeria@iar.unicamp.br Impactos dos agrossistemas no ambiente - Evento internacional na área de agricultura e meio ambiente será realizado no dia 3 de agosto, no Oscar Niemeyer Cultural Center, em Goiânia. Docentes, pesquisadores e alunos de pós-graduação, especialmente do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, podem submeter resumos até 31 de março. As inscrições (com preços reduzidos) devem ser feitas até 30 de abril. O encontro abrange cinco eixos temáticos: conservação do solo e água, sustentabilidade ambiental de agrossistemas, políticas agrícolas e meio ambiente, inovação tecnológica em agrossistemas e educação no campo. O comitê científico é formado por representantes de mais de 20 países e 4 continentes. Mais informações no site www.agroenviron2014. com ou e-mail acampos@ige.unicamp.br
EVENTOS FUTUROS Iniciação científica - A Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) recebe, de 1 a 14 de abril, no endereço eletrônico www.prp.unicamp.br/pibic, as inscrições de Bolsas de Iniciação Científica e Tecnológica para os programas PIBIC, PIBITI/CNPq e SAE/Unicamp. Mais informações: pibic@reitoria.unicamp.br Congresso e simpósio de ciência do desporto - O V Congresso de Ciência do Desporto e o IV Simpósio Internacional de Ciência do Desporto serão realizados de 2 a 4 de abril, no Centro de Convenções da Unicamp. Os eventos são organizados pela Faculdade de Educação Física (FEF), por meio de seu Departamento de Ciências do Esporte (DCE). Professores, pesquisadores, alunos e profissionais de Educação Física e Saúde são o público-alvo. O dia 6 de março é a data-limite para quem pretende apresentar trabalhos. As inscrições, abertas desde o último dia 3 de fevereiro, serão encerradas no dia 26 de março. Congresso e simpósio objetivam abrir o diálogo acerca das produções e desafios técnico-científicos na área com vistas ao compartilhamento de experiências para o meio acadêmico-científico. Da conferência de abertura, marcada para o dia 2 de abril, às
DESTAQUE
16 horas, no Centro de Convenções, participam os professores Mara Patrícia Traina Chacon-Mikahil (FEF-Unicamp) e Ken Kazunori Nosaka, da Edith Cowan University (Austrália). Para a cerimônia de encerramento, Paulo Ferreira de Araújo, diretor da FEF, Andrew Parsons, do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e Antônio Carlos Gomes, do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), abordam o tema “Olimpíadas e Paralimpíadas de 2016 no Brasil: ações e perspectivas”. Os encontros são apoiados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e pelo o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Programação completa no link http:// www.fef.unicamp.br/fef/ccd2014/programacao. Mais informações: no site http://www.fef.unicamp.br/fef/v-congresso-ciencia-desporto, telefone 19-3521-6614 ou e-mail ccd@fef.unicamp.br.
TESES DA SEMANA Artes - “Permutação: Eros e Thanatos na formação de um imaginário em gravura” (doutorado). Candidato: Wilson Roberto da Silva. Orientadora: professora Luise Weiss. Dia 27 de março de 2014, às 10 horas, na sala 3 do IA. Biologia - “Estudo do potencial inseticida de um inibidor de proteínas de sementes de Inga vera sobre o desenvolvimento de Anagasta kuehniella (Lepidopetra: Pyralidae): aspectos fisiológicos e bioquímicos” (mestrado). Candidato: Cézar da Silva Bezerra. Orientadora: professora Maria Lígia Rodrigues Macedo. Dia 24 de março de 2014, às 9 horas, na sala de defesa de teses do primeiro andar do prédio da CPG do IB. “Memória meabólica de células β-pancreática controla a secreção de insulina e é mediada pela CaMKII” (doutorado). Candidato: Gustavo Jorge dos Santos. Orientador: professor Antonio Carlos Boschero. Dia 28 de março de 2014, às 14 horas, na sala IB-11 do 2o. andar do prédio da CPG do IB. “Estudo comparativo do efeito do inibidor de Adenanthera pavonina (ApTI) sobre o desenvolvimento da broca-da-cana (Diatraea saccharalis) e da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda): aspectos biológicos, bioquímicos e de proteôma” (doutorado). Candidata: Desireé Soares da Silva. Orientadora: professora Maria Lígia Rodrigues Macedo. Dia 28 de março de 2014, às 14 horas, na sala de defesa de teses do 1º andar do prédio da CPG do IB. Ciências Médicas - “Avaliação e intervenção sensorial para a extremidade superior contralateral e hipotermia da extremidade ipsilateral ao acidente vascular cerebral” (doutorado). Candidata: Núbia Maria Freire Vieira Lima. Orientador: professor Donizeti César Honorato. Dia 26 de março de 2014, às 9 horas, no anfiteatro da comissão de pós-graduação da FCM. Computação - “Algoritmos para o problema do mapeamento de redes virtuais” (mestrado). Candidato: Igor Rosberg de Medeiros Silva. Orientador: professor Prof. Dr. Eduardo Cândido Xavier. Dia 27 de março de 2014, às 14 horas, no auditório do IC. Educação Física - “A prática pedagógica de Educação Física a partir do currículo de São Paulo” (mestrado). Candidato: Robinson Luiz Franco da Rocha. Orientador: professor Jocimar Daolio. Dia 25 de março de 2014, às 14 horas, no auditório da FEF. Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - “Análise do impacto dos arranjos relacionais no desempenho das cadeias de suprimentos” (doutorado). Candidato: Sérgio Adriano Loureiro. Orientador: professor Orlando Fontes Lima Júnior. Dia 26 de março de 2014, às 10 horas, na sala CA-22 CPG da FEC. Engenharia Elétrica e de Computação - “Análise do impacto do chuveiro elétrico em redes de distribuição no contexto da tarifa horosazonal” (mestrado). Candidato: Maurício de Castro Tome. Orientador: professor Luiz Carlos Pereira da Silva. Dia 28 de março de 2014, às 9 horas, na sala PE-12 do prédio da CPG da FEEC.
DO PORTAL
Processos da Avaliação e do Planes serão integrados ela primeira vez, a Unicamp promoverá os processos de Avaliação Institucional e de revisão do Planejamento Estratégico (Planes) de forma integrada. Para fazer a junção das duas ações, a Coordenadoria Geral da Universidade (CGU) e a Pró-Reitoria de Desenvolvimento Universitário (PRDU) desenvolveram metodologia específica, bem como um sistema informatizado que dará suporte às atividades. “No que se refere à avaliação, o sistema está aberto e as unidades de ensino e pesquisa já podem iniciar os trabalhos. Em abril, a parte referente ao planejamento também será incorporada à plataforma, o que permitirá a proposição de projetos”, informa a titular da PRDU, professora Teresa Atvars. De acordo com o coordenador-geral da Unicamp, professor Alvaro Crósta, a ideia de estabelecer uma interligação entre a Avaliação Institucional e o Planes consta do programa de gestão do reitor José Tadeu Jorge. Ademais, a medida também foi demandada pela Comissão de Planejamento Estratégico Institucional (Copei). “Nós executamos tradicionalmente os dois processos, mas nem sempre havia uma ligação entre o que se analisava em um e o que se decidia em outro. O propósito, agora, é estabelecer essa conexão”, afirma. A pró-reitora de Desenvolvimento Universitário explica que a Avaliação Institucional analisa todas as atividades da Unicamp, nas áreas de ensino, pesquisa, extensão, infraestrutura, recursos humanos, entre outras. “Ao fazer essa análise, as unidades de ensino e pesquisa identificarão aspectos muito positivos, os que necessitarão de ações que garantam a continuidade dessa excelência, e problemas que exigirão medidas de aperfeiçoamento. Para que essas iniciativas sejam tomadas, é preciso fazer o planejamento. Daí a importância de promovermos a junção dos dois processos”, pondera.
Foto: Antonio Scarpinetti
A titular da PRDU, Teresa Atvars, e o coordenador-geral da Unicamp, Alvaro Crósta: metodologia e a criação do sistema só foram possíveis graças ao envolvimento de funcionários e de unidades
No passado, continua a professora Teresa Atvars, a metodologia adotada era diferente. Primeiro se fazia a Avaliação Institucional e depois se revisava o Planes. “A inovação que estamos introduzindo é justamente a execução dois processos conjuntamente”, reforça. Para exemplificar como deverá transcorrer o trabalho, a pró-reitora lança mão de um exemplo. “Digamos que uma determinada faculdade ou instituto decida, em sua avaliação interna, expandir o ensino de graduação. Tomada essa decisão, a unidade vai apresentar um projeto, que pode ser de ampliação de um curso existente ou de criação de mais um curso. Junto com a proposta, a unidade relacionará também o que vai precisar para concretizar o projeto”.
“Simplificação maximal da árvore máxima” (Dissertação de mestrado). Candidato: Roberto Medeiros de Souza. Orientador: professor Roberto de Alencar Lotufo. Dia 28 de março de 2014, às 14 horas, na sala PE11 do prédio da CPG da FEEC. Engenharia de Alimentos - “Participação da agricultura familiar na alimentação escolar na região administrativa de RegistroSP” (mestrado). Candidata: Bruna Barone. Orientador: professor Nilo Sérgio Sabbião Rodrigues. Dia 20 de março de 2014, às 14 horas, no anfiteatro do DEPAN da FEA. Engenharia Química - “Comportamento de membranas de quitosana complexadas com alginato e xantana na presença de diferentes proporções de água e quanto a incorporação de eritromicina” (mestrado). Candidata: Renata Francielle Bombaldi de Souza. Orientadora: professora Ângela Maria Moraes. Dia 26 de março de 2014, às 9 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ. “Estudo e implementação de estruturas de controle reconfigurável aplicado a processos químicos” (doutorado). Candidato: Thiago Vaz da Costa. Orientador: professor Flavio Vasconcelos da Silva. Dia 27 de março de 2014, às 14 horas, na sala de defesa de tese do bloco D da FEQ. “Incorporação de alfa-bisabolol em membranas de policaprolactona e de quitosana complexada com goma guar” (mestrado). Candidata: Fernanda Carla Bombaldi de Souza. Orientadora: professora Ângela Maria Moraes. Dia 28 de março de 2014, às 14 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ. Linguagem - “Espaço-temporalidade, ressemiotização e letramentos: um estudo sobre os movimentos de significação no terceiro espaço” (doutorado). Candidata: Camila Lawson Scheifer. Orientador: professor Marcelo El Khouri Buzato. Dia 26 de março de 2014, às 9 horas, na sala de defesa de teses do IEL. Matemática, Estatística e Computação Científica “Singularidades de feixes Instanton sobre P³” (doutorado). Candidato: Michael Santos Gonzales Gargate. Orientador: professor Marcos Benevenuto Jardim. Dia 25 de março de 2014, às 10 horas, na sala 253 do Imecc. “Trigonometria do ensino médio e aproximação de funções por polinômios trigonométricos” (mestrado profissional). Candidato: Carlos Eduardo de Oliveira. Orientador: professor Ary Orozimbo Chiacchio. Dia 26 de março de 2014, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. “Otimização sem derivadas: sobre a construção e a qualidade de modelos quadráticos na solução de problemas irrestritos” (mestrado). Candidato: Ivan Xavier Moura do Nascimento. Orientadora: professora Sandra Augusta Santos. Dia 28 de março de 2014, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. Odontologia - “Fluxo salivar, PH e capacidade tampão da saliva de crianças com linfoma de Hodgkin tratados com radioterapia: estudo prospectivo” (mestrado). Candidata: Lenita Marangoni Lopes. Orientadora: professora Marines Nobre dos Santos Uchoa. Dia 28 de março de 2014, às 14 horas, na sala da Congregação da FOP. “Relação entre proporção digital (2d:4d) e lesões malignas e benignas de mama” (mestrado). Candidata: Nathalia Caroline de Souza Lima. Orientador: professor Jacks Jorge Junior. Dia 26 de março de 2014, às 14 horas, na sala da Congregação da FOP. Química - “Propriedades luminescentes de compostos de coordenação de zn(ii)” (mestrado). Candidato: José Carlos Germino. Orientadora: professora Teresa Dib Zambon Atvars. Dia 26 de março de 2014, às 14 horas no miniauditório do IQ. “Utilização de silsesquioxanos oligoméricos poliédricos funcionalizados (POSS) no ancoramento de cadeias orgânicas à superfície” (doutorado). Candidato: Ali Riaz. Orientador: professor José de Alencar Simoni. Dia 27 de março de 2014, às 14 horas, no miniauditório do IQ. “Síntese de potenciais inibidores seletivos da COX-2 a partir de adutos de Morita-Baylis-Hillman” (doutorado). Candidato: Luis Gustavo de Souza Filho. Orientador: professor Fernando Antônio Santos Coelho. Dia 28 de março de 2014, às 9 horas, no miniauditório do IQ.
Numa segunda fase, continua a docente, o pró-reitor de Graduação reunirá todas as propostas nesse sentido e construirá um plano geral de expansão dos cursos de graduação da Unicamp. “Em seguida, a Copei analisará, priorizará e sugerirá ações para a concretização dos projetos. Algumas medidas exigirão recursos; outras não. Em relação às que demandarem recursos, a Copei recomendará que a Universidade avalie a possibilidade de fazer aportes para esses projetos estratégicos. O exemplo dado refere-se à graduação, mas ele é válido também para a pesquisa, a extensão, a pós-graduação e assim por diante”, pormenoriza a pró-reitora de Desenvolvimento Universitário.
A vantagem desse tipo de metodologia, conforme a professora Teresa Atvars, é que a junção da avaliação com o planejamento permite que a Universidade analise com maior precisão os resultados dos investimentos realizados. “Penso que estamos dando um passo importante em relação ao passado”, diz. Para oferecer suporte a esse novo método, acrescenta o coordenador-geral, foi preciso desenvolver um sistema informatizado específico. O trabalho ficou a cargo dos profissionais da área de informática da Diretoria Geral de Recursos Humanos (DGRH). A parte da avaliação já está pronta e aberta às unidades de ensino e pesquisa. Na última semana, foram realizados dois workshops com as comissões internas de avaliação das faculdades e institutos, durante os quais a metodologia e o sistema foram apresentados. “O próximo passo será incorporar ao sistema, a partir do próximo mês, a parte relativa ao planejamento. Pelo cronograma proposto, as unidades terão até agosto para concluir os dois processos. Já a Administração Superior terá até o final de 2015 para elaborar dois documentos: um que seguirá para o Conselho Estadual de Educação e outro, de caráter interno, que servirá à execução das nossas ações estratégicas”, adianta a pró-reitora de Desenvolvimento Universitário. Ainda sobre o sistema que dará suporte tanto à Avaliação Institucional quanto à revisão do Planes, Alvaro Crósta ressalta que a ferramenta é, além de amigável, integrada. “Antigamente, durante a realização da avaliação, o responsável perdia muito tempo na busca de dados, que nem sempre estavam centralizados. Agora, as informações constam do próprio sistema. Com isso, o tempo das pessoas será otimizado, o que possibilitará que elas se dediquem a fazer a análise, que é o mais importante”. Qualquer dúvida em relação a procedimentos ou ao funcionamento do sistema, observa Teresa Atvars, podem ser encaminhadas à PRDU ou à CGU, que buscarão as respostas. Tanto o coordenador-geral quanto a próreitora de Desenvolvimento Universitário fazem questão de registrar que a definição da metodologia e a criação do sistema somente foram possíveis graças ao envolvimento de diversos funcionários e à colaboração de mais de uma dezena de órgãos, a quem ambos agradecem muito. “Não fizemos qualquer investimento para isso. Tudo foi realizado com base do comprometimento dessas pessoas com a Universidade”, pontua a professora Teresa Atvars. (Manuel Alves Filho)
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Campinas, 24 a 30 de março de 2014
Número de ingressantes oriundos de escolas públicas tem aumento de 20%
Acréscimo é atribuído a mudanças no bônus oferecido pelo PAAIS a candidatos no vestibular Foto: Antonio Scarpinetti
JULIANA SANGION Especial para o JU
Unicamp conseguiu aumentar em 20% o número de ingressantes oriundos de escolas públicas. Neste ano de 2014, a Unicamp recebeu 37% de matriculados vindos de escolas públicas, contra 30,7% no ano passado. A diferença positiva veio graças ao aumento do bônus oferecido a esses candidatos no vestibular através do Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social da Unicamp, o PAAIS. A partir do Vestibular 2014, o PAAIS dobrou os pontos e passou a oferecer 60 pontos a mais na nota final de candidatos da rede pública de ensino e 80 pontos a mais para aqueles que, além de terem cursado ensino médio público, se autodeclararam pretos, pardos ou indígenas. Criado há dez anos, o PAAIS acrescentava, até o ano anterior, 30 ou 40 pontos à nota final dos candidatos de escolas públicas.
O reitor da Unicamp, professor José Tadeu Jorge: “Podemos comprovar estatisticamente que o PAAIS sustenta os níveis de excelência da Unicamp, ao mesmo tempo em que promove a inclusão”
VÍDEO
O resultado positivo da mudança no programa foi comemorado. “Se considerarmos que o número de inscritos se manteve igual ao do ano passado, podemos concluir que o grande impacto foi mesmo no número de candidatos matriculados, ou seja, o que alterou foi realmente a inclusão”, afirmou o reitor da Unicamp, professor José Tadeu Jorge. No vestibular 2013 e no vestibular 2014, os estudantes de escola pública representaram 27% do total de inscritos. Tadeu Jorge explicou que ao longo dos dez anos de existência do PAAIS, foram realizados diversos estudos no sentido de verificar a eficácia do programa para a inclusão social na Universidade. Vários desses estudos demonstraram que o desempenho dos estudantes egressos de escolas públicas durante a graduação tem sido igual ou melhor, em muitos cursos, do que o de estudantes não bonificados pelo programa. “Ao comprovarmos que o PAAIS se apresenta como uma excelente metodologia de inclusão que mantém a condição qualitativa dos alunos, percebemos que ele deveria ser intensificado e iniciamos a discussão sobre o aumento dos pontos oferecidos”, esclareceu Tadeu Jorge. Promover a inclusão social sem perder a qualidade do corpo discente é essencial para uma universidade de ponta como a Unicamp. “Podemos comprovar estatisticamente que o PAAIS sustenta os níveis de excelência da Unicamp, ao mesmo tempo em que promove a inclusão”, completou o reitor. O Conselho Universitário da Unicamp (Consu) determinou que até 2017 a Universidade atinja o índice de 50% de estudantes de escola pública e 35% de estudantes autodeclarados pretos, pardos e indígenas (percentual que equivale ao do Estado de São Paulo, segundo o IBGE). De acordo com Tadeu Jorge, “a inclusão social tem sido uma busca constante da Universidade e temos mais alguns vestibulares para aperfeiçoar o PAAIS, tornando-o ainda melhor para chegar às metas estabelecidas”.
O reitor destacou que em vários cursos de alta demanda, a Unicamp já ultrapassou a meta de alunos da rede pública estabelecida pelo Consu. “Isso é relevante, já que a determinação do Consu é que se verifique a meta em cada um dos cursos da Universidade e não apenas no percentual geral”, completou.
AÇÃO DIRETA NAS ESCOLAS
Além dos matriculados, a Unicamp está preocupada em aumentar o número de estudantes da rede pública que prestam o vestibular todos os anos. A ideia é que quanto maior o número de inscritos oriundos das escolas públicas, maior a chance de ter mais aprovados. Para atingir esse objetivo, a Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (Comvest) firmou parceria com a Secretaria Estadual de Educação para ações de divulgação em todas as escolas públicas do Estado. Os coordenadores do vestibular fazem palestras para os alunos e distribuem material informativo sobre o PAAIS. “Queremos estimular o aluno a quebrar a barreira de não prestar o vestibular da Unicamp por acreditar que não seria aprovado”, afirmou Tadeu Jorge.
Os números Concorrência
Escola Pública 2014
Escola Pública Pretos, pardos, Pretos, pardos, 2013 indígenas/2014 indígenas/2013
Medicina
145 candidatos/vaga
33,3%
14,5%
9,2%
7,4%
Arquitetura e Urbanismo
104 c/v
31%
3,3%
10,3%
10,3%
Engenharia Civil
52 c/v
31,65%
12,35%
8,8%
10,1%
Midialogia
46 c/v
30%
16,67%
13,3%
6,7%
Engenharia Química
46 c/v
23,7%
16,67%
22%
3,4%
Fonte: Comvest
Nesse sentido, o reitor divulgou que a Comvest pretende aumentar o número de isenções para estudantes carentes que não podem pagar a taxa de inscrição do vestibular. Atualmente a Comvest oferece cerca de seis mil isenções fixas, além de um número ilimitado de isenções para candidatos a todos os cursos de Licenciatura em período noturno. “É importante ressaltar que o PAAIS é um programa flexível, que poderá ser ajustado nos próximos anos, com a segurança de
que não vai piorar o desempenho nos cursos de graduação da Unicamp. Ao contrário de uma solução fácil como a das cotas, temos uma metodologia bastante adequada”, completou o reitor Tadeu Jorge. Além do PAAIS e das isenções, a Unicamp tem outro programa para estimular a inclusão no ingresso à Universidade, o ProFis – Programa de Formação Interdisciplinar Superior, voltado a estudantes das escolas públicas de Campinas e que oferece 120 vagas todos os anos. Foto: Antoninho Perri
CURSOS MAIS CONCORRIDOS
O impacto do aumento do bônus nos cursos mais concorridos, os chamados cursos de alta demanda, foi ainda mais positivo que no geral. Os cinco cursos mais concorridos (Medicina, Arquitetura e Urbanismo, Engenharia Civil, Midialogia e Engenharia Química) registraram aumento tanto de estudantes de escola pública como de autodeclarados pretos, pardos ou indígenas. Na Medicina, – curso mais concorrido do Vestibular Unicamp, com 145 candidatos por vaga – o número de matriculados de escola pública dobrou em relação ao ano anterior: foram 33,3% em 2014 contra 14,5% em 2013. O percentual registrado de pretos, pardos ou indígenas também cresceu no curso de Medicina, passando de 7,4% no ano anterior para 9,2% no vestibular 2014.
Candidatos fazem prova no Vestibular 2014: PAAIS implementou mudanças, dobrando o número de pontos na nota final de oriundos da rede pública de ensino
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Campinas, 24 a 30 de março de 2014
` Historia revelada MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br
uando se propôs a promover a catalogação do acervo artístico da Catedral Metropolitana de Campinas, como objeto da sua dissertação de mestrado, defendida no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, sob orientação do professor Jorge Coli, a pesquisadora Paula Barrantes não fazia ideia da dimensão que o trabalho tomaria. Depois de três anos de intensa pesquisa, período em que escarafunchou documentos e espaços do templo, ela reuniu dados inéditos e relevantes tanto sobre a coleção quanto acerca da história da construção da igreja, que se entrelaça com as circunstâncias políticas, sociais e econômicas da cidade. Paula apurou, por exemplo, que as primeiras obras sacras não foram doadas à Igreja, mas sim para Nossa Senhora da Conceição, padroeira do município e à qual o edifício foi consagrado. Identificou, ainda, que as obras esculturais da Catedral são de autoria de quatro artistas, e não de dois, como se acreditava. A autora da dissertação conta que o seu projeto de pesquisa pretendia trabalhar com algum patrimônio de Campinas. Depois de analisar vários deles, Paula percebeu que existiam poucas informações sobre o acerco artístico da Catedral. “Mesmo quando recorremos à literatura memorialística da cidade, as referências são escassas e há muitas incertezas sobre as obras. Foi então que decidi fazer a catalogação do acervo”, justifica. Depois de pedir autorização às autoridades eclesiásticas, a pesquisadora passou a analisar tanto as obras artísticas (pinturas, esculturas, talha etc) quanto os documentos relativos a elas. “O acervo documental estava muito desorganizado. Tive que abrir pasta por pasta e analisar documento por documento para ver o que interessava”, diz. Uma das primeiras percepções de Paula foi que estava errado catalogar as primeiras imagens sacras doadas à Igreja como pertencentes à Catedral. Na realidade, elas compunham o acervo de Nossa Senhora da Conceição. “Na época, as pessoas costumavam doar bens diretamente aos santos de devoção”, explica. Ainda a título de esclarecimento, a pesquisadora ressalta que seu estudo ficou restrito às obras artísticas pertencentes à matriz. Não foram incluídas no escopo do trabalho as peças que compõem o conjunto do Museu Arquidiocesano de Campinas, que funciona nas dependências do templo. Paula afirma que conseguiu identificar mais dois escultores que contribuíram para a conclusão da Catedral. Além de Vitoriano dos Anjos e Bernardino de Sena, nomes registrados na historiografia, ela chegou às figuras de dois italianos: Rafaello de Rosa e Marino del Fávero. “O primeiro decorou o forro, as paredes internas e concebeu os
dois anjos anunciadores instalados sobre os altares. Ele também foi responsável por toda a decoração da fachada do templo. Já o segundo concluiu a Capela do Santíssimo e o trono episcopal”, aponta. A autora da dissertação observa que, embora o acervo artístico da Catedral seja muito rico, a obra mais importante é a talha, em torno da qual todo o projeto foi executado. Por falar nas obras físicas do templo, elas levaram 76 anos para serem concluídas. A demora, conforme Paula, ocorreu por causa de vários fatores, principalmente os de ordem política e financeira. “A primeira reunião para se discutir a construção da Catedral, da qual participaram representantes da Igreja e da elite local, ocorreu em 1807. Os trabalhos propriamente ditos começaram a ser executados dois anos depois. Durante 1808, a comissão responsável pela obra, com apoio dos fazendeiros, contabilizou a produção dos agricultores locais, para fechar um imposto provincial que bancaria os custos, mas que foi regulamentado apenas em 1854”. Como forma de arrecadar recursos, também foram feitas contribuições pessoais e realizados bingos. Um aspecto pouco conhecido acerca da história da construção da Catedral, prossegue a autora da dissertação, diz respeito à criação, em 1872, da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, com sede na cidade. Foi graças à empresa ferroviária que os trabalhos ganharam um impulso importante. “Na ocasião, a Câmara de Vereadores fez um acordo com a Mogiana, segundo o qual o açúcar e o café que seriam transportados pelos trens deveriam ser pesados e ter a guia de recolhimento de imposto emitida. Como a companhia não permitia sonegação, o dinheiro necessário à conclusão do templo finalmente foi arrecadado”, conta Paula. Antes de chegar a este ponto, no entanto, o projeto de construção da Catedral enfrentou outros obstáculos, como registra a pesquisadora. A primeira resistência partiu da própria Igreja. As autoridades eclesiásticas não queriam a transferência da matriz da Igreja do Carmo, aprovada pelo Bispado de São Paulo, para a da Nossa Senhora da Conceição. Ainda assim, a proposta foi sustentada por uma elite liderada por fazendeiros, que acabou por vencer a queda de braço. Ademais, também ocorreram diversos problemas políticos que contribuíram para o atraso dos trabalhos. Como o Diretório das Obras era presidido por membros da elite, as sucessões na sua direção causavam interrupções e até mesmo mudanças de rumos do projeto, principalmente quando motivadas por posturas ideológicas. Todo esse imbróglio, afirma Paula, trouxe consequências sérias, como as sucessivas quedas da fachada do templo. “Em 1865 foi registrada a primeira queda, causada pela falta de fundação e infraestrutura. Apesar disso, o presidente do Diretório das Obras, Sampaio Peixoto, foi mantido no cargo por-
Paula Barrantes, autora da pesquisa: primeiras obras sacras do acervo não foram doadas à Catedral, mas sim para Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade
Fotos: Antoninho Perri
Detalhe da talha da igreja: obra mais importante do templo, em torno da qual o projeto de construção foi executado
que era filho de um importante juiz”. Um ano depois, a fachada caiu novamente, pelos mesmos problemas. Sampaio Peixoto foi finalmente demitido. Em 1873, a fachada ruiu pela terceira vez, sob a responsabilidade do espanhol José Maria Villaronga y Panellas. “Foi então que, numa decisão política, os idealizadores do movimento resolveram contratar Cristovão Bonini, que era engenheiro da Estrada de Ferro Sorocabana, para dar continuidade às obras. Entretanto, ele também enfrentou problemas como discussões políticas e falta de recursos”, revela a autora da dissertação.
DIAS ATUAIS A intrincada história da construção da Catedral de Campinas de certa forma ajuda a compreender o atual estado daquele patrimônio histórico e arquitetônico. Na opinião de Paula, que conheceu cada detalhe do acervo artístico e da estrutura do templo, a impressão que se tem é de que a igreja foi submetida a uma condição de descaso, principalmente após a morte do bispo Paulo de Tarso Campos, em 1970. “A situação da Catedral não é das melhores. As telas da via sacra, do pintor Claude Joseph Barandier, estão em péssimo estado. Algumas peças de madeira estão sendo alvo da ação de cupins. Como as calhas laterais do edifício estavam com problema, houve infiltração nas paredes. Com isso, a pintura parietal do calvário de Cristo ficou destruída. Para completar, a imagem do Cristo Crucificado também apresenta problemas”, elenca a pesquisadora. Na prática, conforme Paula, a Catedral, que é tombada nas esferas municipal e estadual e que está em fase de tombamento em âmbito federal, foi abandonada pelo poder público. A única contribuição da Prefeitura à igreja atualmente, diz, é a designação de um guarda municipal, que faz a segurança do templo em horário comercial. A despeito disso, acrescenta a autora da dissertação, existe a disposição do atual arcebispo metropolitano, dom Airton José dos Santos, de empreender esforços para melhorar a situação da igreja matriz. Ele esta empenhado em organizar um museu de qualidade, para que mais pessoas tenham acesso ao acervo. “Isso é muito importante, pois o conjunto de obras da Catedral não se refere somente a Campinas. Lá, há peças vindas de Piracicaba, Itatiba, Atibaia e até do Nordeste. Hoje, o Museu Arquidiocesano só pode ser aberto à visitação nas tardes de sexta-feira e nas manhãs
de sábado, visto que não há segurança nem guias suficientes para fazer com que o espaço funcione integralmente todos os dias”, lamenta a pesquisadora. Nos dias que correm, está em vigor uma campanha para custear a segunda fase de restauro da Catedral. De acordo com a igreja, os trabalhos pretendem recuperar tanto na parte estrutural do edifício quanto os seus ornamentos. O projeto contempla a restauração da fachada frontal, lateral e posterior e seus elementos decorativos, torre, campanário, cúpula, forros do altar-mor e capelas laterais, assim como a readequação da infraestrutura elétrica, hidráulica, de comunicações e de condutores de águas pluviais. As obras terão início pela restauração do frontispício (frente do templo). Parte dos recursos virá dos impostos pagos pelo comércio da cidade. De sua parte, Paula está comprometida com a publicação de um catálogo a partir do material que reuniu durante a sua investigação. “Estou tentando arranjar um patrocinador. O catálogo trará parte importante da história de Campinas, e seria muito bom que um público mais amplo tivesse acesso a esses dados”, pondera. A publicação, caso vá para o papel, conterá, entre outros pontos, a história das fachadas, um dicionário sobre os artistas que passaram pela Catedral e uma relação de algumas de suas obras. Conforme a pesquisadora, que contou com bolsa de estudos concedida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), além do arquivo documental da Catedral, ela também se valeu de documentos dos arquivos da Cúria Metropolitana de Campinas, do Centro de Memória da Unicamp e da documentação em microfilme do Arquivo Edgard Leuenroth (AEL), do IFCH.
Publicação Dissertação: “Catalogação do acervo artístico da Catedral Metropolitana de Campinas: pinturas, esculturas, talha e detalhes arquitetônicos de 1840 a 1923” Autora: Paula Barrantes Orientador: Jorge Coli Unidade: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) Financiamento: Fapesp