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Campinas, 15 a 21 de setembro de 2014 - ANO XXVIII - Nº 606 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
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CORREIOS
FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Foto: SBI–FAU/USP
VILANOVA ARTIGAS
Enfrentando a ‘modernização conservadora’
A relação entre a arquitetura e os processos industriais e territoriais, com ênfase em São Paulo e num país em plena “modernização conservadora”, é o tema do livro “Vilanova Artigas – Habitação e cidade na modernização brasileira”, de autoria de Leandro Medrano e Luiz Recamán. A obra, recém-lançada pela Editora da Unicamp, analisa as experimentações de Artigas (1915-1985), um dos principais nomes da arquitetura brasileira.
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O arquiteto João Batista Vilanova Artigas, cujos projetos são analisados em livro lançado pela Editora da Unicamp
Muro vivo atenua calor em edifícios Arquitetura, engenharia e a realidade aumentada
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Genética desvenda ação na síndrome nefrótica Cartas de presidiários e a segregação pelo jurídico
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Técnica detecta aflotoxinas no amendoim em minutos O sucesso de Massaini no cinema brasileiro
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A nova descoberta sobre lua parecida com a Terra Pêssego foi domesticado há 7,5 mil anos na China Diferenças entre os vícios em comer e em comida
TELESCÓPIO
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Campinas, 15 a 21 de setembro de 2014
TELESCÓPIO
CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br
Posição política influencia atitudes morais
Objetividade, no jornalismo e na ciência
Uma pesquisa realizada por meio de questões transmitidas via smartphones a uma amostra de mais de 1,2 mil voluntários, nos Estados Unidos e no Canadá, indica que a inclinação política, mais do que a religião, afeta o modo como uma pessoa encara questões de moralidade. De acordo com artigo que descreve o estudo, publicado na revista Science, os pesquisadores enviaram aos voluntários, quatro vezes ao dia ao longo de três dias, um questionário onde perguntavam se eles haviam praticado, sofrido, testemunhado ou ouvido falar de um ato moral ou imoral na última hora; que ato tinha sido esse; e como se sentiam a respeito. O resultado, dizem os autores, dá apoio a teorias sobre a natureza da fofoca (as pessoas ouvem falar mais sobre os atos imorais dos outros do que sobre atos morais), do “contágio moral” (receptores de atos morais tendem a se comportar de modo moral mais adiante) e da “licenciosidade moral” (vítimas de atos imorais tendem a se comportar de modo imoral). Pessoas religiosas não se mostraram mais morais na hora de agir, mas revelaram-se mais chocadas e indignadas ao testemunhar uma imoralidade. Já a dimensão política revelou uma divisão clara de pontos de vista: pessoas liberais mostraram-se mais afetadas emocionalmente por atos morais ou imorais envolvendo questões de justiça ou injustiça, enquanto que conservadores deram mais peso a atos de lealdade ou traição.
Jornalistas e cientistas têm conceitos diferentes em mente quando falam em “objetividade”, diz artigo publicado no periódico Journalism. O estudo, realizado na Alemanha, envolveu o envio de questionários a centenas de pesquisadores e jornalistas, sendo que cerca de 150 representantes de cada categoria, ou um terço da amostra inicial, responderam à pesquisa. Para os cientistas, o conceito de objetividade reflete a necessidade de “métodos sistemáticos e informação transparente”. Já os jornalistas encaram a objetividade como o esforço de “deixar que os fatos falem por si mesmos”. Diferentes áreas de estudo e de cobertura – como ciências sociais e exatas, ou jornalismo econômico ou cultural – também têm visões diversas quanto à importância da objetividade. “O tanto que se reconhece a força ou se lamentam as limitações da objetividade é muito menos uma questão da profissão do que do assunto tratado”, escreve a autora, Senja Post, da Universidade de Koblenz-Landau. A pesquisadora nota que ao jornalismo falta “um critério praticável de objetividade para se fazer inferências causais”, e que os jornalistas “recusam-se” a adotar padrões científicos de objetividade. “Fica em aberto a questão de quais tipos de padrões os jornalistas poderiam adotar para aumentar seu otimismo quanto à objetividade”.
quase exclusivo a preservação do acesso a combustíveis fósseis”, o que, argumentam, é um erro, já que esse acesso é constantemente ameaçado por tensões geopolíticas.
Matemática do lixo Babuínos amigos Machos da espécie de babuíno Papio papio, da Guiné, são capazes de formar fortes laços de “amizade” entre si, mesmo quando não há parentesco entre os indivíduos, diz artigo publicado no periódico PNAS. “Essa espécie exibe uma organização social de vários níveis, na qual os machos mantêm fortes laços e são altamente tolerantes uns com os outros”, escrevem os autores, do Senegal e da Alemanha. Esses machos ainda apresentam “baixo índice de agressão explícita”. O trabalho começa lembrando que as relações entre machos, na maioria das espécies de mamíferos, são marcadas por forte competição. Os autores relatam que os machos dessa espécie de babuíno executam rituais elaborados de saudação quando se encontram, e são menos agressivos em relação às fêmeas que babuínos de outra espécie, a Papio hamadryas. O fato de os laços de amizade, entre babuínos da Guiné, não dependerem de parentesco faz com que a espécie possa ser um modelo para o estudo da evolução da cooperação entre seres humanos, afirma o artigo.
Energia renovável: exemplo chinês Placas tectônicas de gelo em lua de Júpiter Europa, lua de Júpiter dominada por um enorme oceano coberto por uma crosta de gelo e um dos principais focos de especulação sobre a possibilidade de vida fora da Terra, tem um sistema semelhante ao das placas tectônicas que formam a superfície de nosso planeta, dizem pesquisadores que analisaram imagens feitas pela sonda Galileu, da Nasa. Na Terra, as placas, que sustentam os continentes, são feitas de rocha. O material que as compõe emerge, derretido, das profundezas da Terra, no fundo do mar, e solidifica-se. Quando placas de encontram, pode acontecer de a borda de uma delas mergulhar sob a outra, num processo chamado subdução. Em Europa, as placas são de gelo. Cientistas já haviam visto a expansão do material congelado, à medida que água do oceano brotava de fissuras na superfície e se solidificava, mas ainda não tinham observado o fenômeno de subdução. Isso foi feito agora, em imagens da Galileu. A descoberta aparece no periódico Nature Geoscience. “Europa pode ser mais semelhante à Terra do que imaginávamos”, disse, por meio de nota, um dos autores do artigo, Simon Kattenhorn, da Universidade de Idaho. “Esta descoberta não só faz dela um dos corpos mais interessantes do sistema solar, do ponto de vista geológico, mas também implica uma comunicação de mão dupla entre a superfície e o oceano, um processo com implicações significativas para o potencial de Europa como mundo habitável”.
Maior emissor de gases do efeito estufa do mundo, a China já produz quase tanta energia a partir de fontes limpas e renováveis quanto a Alemanha e a França somadas, diz comentário publicado na revista Nature. O artigo de opinião, assinado por dois pesquisadores australianos, lembra que o país asiático multiplicou sua produção de células solares em 100 vezes desde 2005, e é o maior produtor mundial de turbinas eólicas. Isso mostra que “a industrialização pode andar junto da decarbonização”, escrevem os autores, mas a possibilidade depende da expansão do mercado para fontes limpas. “Como na China, fontes renováveis têm de ser vistas como fonte de segurança energética”, e não apenas como um imperativo ético ou ecológico. “As discussões atuais sobre segurança energética têm como foco
Pêssegos vêm de Xangai O pêssego foi domesticado há 7,5 mil anos no vale do Rio Yangtzé, numa região da China próxima a onde hoje fica a cidade de Xangai, diz artigo publicado no periódico PLoS ONE. O estudo, de autoria de pesquisadores do Canadá e da China, se valeu da comparação de caroços de pêssego encontrados no vale do Yangtzé e datados como pertencentes a um período de 5 mil anos. Comparando o tamanho dos caroços encontrados em vários sítios arqueológicos da região, os autores notaram que os pêssegos foram ficando cada vez maiores com o passar do tempo, o que sugere um processo deliberado de seleção artificial e domesticação, diz nota emitida pela Universidade de Toronto.
Um modelo matemático criado por pesquisadores da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, pode ajudar a determinar a origem dos detritos que se acumulam nas chamadas Grandes Manchas de Lixo dos oceanos. A mais famosa, localizada no Pacífico, entre o Havaí e a Califórnia, já contém uma massa de plástico superior à de plâncton presente no mesmo trecho de oceano. Determinar o país de origem do lixo que compõe cada mancha é difícil, porque os detritos são arrastados e concentrados por correntes oceânicas de movimento complexo. “Há casos em que um país bem distante de uma mancha de lixo está contribuindo diretamente com ela”, disse, por meio de nota, um dos autores do trabalho, Gary Froyland. O artigo que descreve o modelo foi publicado no periódico Chaos. Segundo o novo modelo proposto de correntes marítimas, partes dos oceanos Índico e Pacífico têm ligação mais estreita com o Atlântico Sul, enquanto que outro trecho do Índico deveria ser considerado parte do Pacífico Sul, diz nota divulgada pelo periódico. “Nós redefinimos as fronteiras das bacias oceânicas”, afirmou outro autor do estudo, Erik van Sebille.
Comer vicia, comida não Pesquisa conduzida por cientistas do consórcio NeuroFAST, criado pela União Europeia para estudar a neurobiologia da alimentação, do vício e do estresse, concluiu que as pessoas podem se viciar em comer – desenvolvendo uma compulsão psicológica para consumir alimentos – mas não em nutrientes específicos, como açúcar ou gordura. O vício em comida é mais semelhante ao vício em jogos de azar do que em substâncias como tabaco ou cocaína, dizem os autores. O trabalho está publicado no periódico Neuroscience & Biobehavioral Reviews.
Foto: JPL/Nasa
A superfície congelada de Europa, lua de Júpiter, fotografada pela Galileu
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Campinas, 15 a 21 de setembro de 2014 ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br
studo desenvolvido no Instituto de Biologia (IB) e com financiamento da Fapesp e CNPq traz nova esperança a crianças com a síndrome nefrótica (SN), um conjunto de sinais e sintomas que ocorre no caso de proteinuria (perda de proteína na urina) maciça. A resposta pode estar em um estudo genético que avalia as mutações no organismo de seus portadores. A primeira boa notícia é que os resultados, recém-obtidos da tese de doutorado da bióloga Mara Sanches Guaragna, mostram que já é possível a retirada de medicamentos imunossupressores de crianças corticorresistentes, em geral à base de cortisona, e a indicação de transplante renal de doador vivo. Apesar da relativa facilidade em caracterizar um paciente nefrótico através de edema (inchaço) acentuado (que começa pelas pernas e pálpebras, para depois se generalizar), a identificação do diagnóstico etiológico pode ser complexa. No Brasil, a pesquisa molecular para o diagnóstico de síndrome nefrótica é incipiente e aponta que há um vasto campo a ser desbravado. “Este é o primeiro estudo no país com uma grande casuística envolvendo crianças, muitas delas usuárias de medicamentos imunossupressores”, comenta a autora da tese. A pesquisadora relata como seu estudo começou. Ela avaliou genes que codificam proteínas localizadas no glomérulo (unidade filtradora dos rins), composto por capilares que formam um emaranhado parecido com novelo de lã, o que aumenta a superfície de filtração. São nesses capilares que ficam as células chamadas podócitos, aonde estão expressas proteínas como a nefrina e a podocina. As crianças com síndrome nefrótica são classificadas em corticorresistentes (resistentes aos corticoides) e em corticossensíveis (que respondem aos corticoides). Segundo a bióloga, que teve orientação da docente do IB Maricilda Palandi de Mello, o trabalho sugeriu, assim como na literatura, que as corticorresistentes que apresentam mutações nos genes possuem um problema estrutural. “Deste modo, elas não precisam continuar recebendo tratamento com corticoides, se na verdade a origem da síndrome é genética”, afirma. Essas crianças, explica, não respondem a esse tipo de tratamento e ainda por cima são obrigadas a ter que lidar com os efeitos colaterais de drogas que deprimem seu sistema imunológico. Portanto, quando são encontradas mutações, o tratamento à base de imunossupressores pode ser retirado e os pequenos pacientes também podem ter indicação de transplante renal de doador vivo, visto que a doença não sugere recidiva após tal procedimento. Dois dos genes avaliados por Mara foram NPHS2, que codifica para a proteína podocina, e o NPHS1, que codifica para nefrina. Essas duas proteínas interagem nos podócitos, formando uma fenda na barreira de filtração glomerular, estrutura onde acontece a filtração do sangue. A integridade desta estrutura permite que proteínas tais como a albumina, principal proteína presente no sangue, fiquem retidas no sangue dentro dos capilares presentes nos glomérulos. Se a barreira de filtração sofrer algum dano, devido às mutações, por exemplo, acontece a perda de proteína pela urina, e as crianças desenvolvem a síndrome nefrótica. Essa síndrome é percebida através de edema, proteinuria e hipoalbuminemia (baixa concentração de albumina no corpo), porque, quando desencadeia perda urinária de A nefropediatra Anna Cristina de Brito Lutaif: “Se a população é miscigenada, vamos encontrar alguns tipos de mutação”
Esperança para crianças
portadoras de doença renal Fotos: Antoninho Perri
Estudo revela que é possível retirada de medicamentos imunossupressores de pacientes com síndrome nefrótica albumina, o paciente sofre uma diminuição sérica. Como consequência, haverá também um distúrbio lipídico (uma dislipidemia), e o seu colesterol ficará elevado. É na interação desses sinais e sintomas que surge tal síndrome, define Anna Cristina de Brito Lutaif, nefropediatra do Hospital de Clínicas (HC), que teve uma importante participação nos aspectos clínicos da pesquisa de Mara. A médica diz que a SN pode ter a forma congênita, que se manifesta até os três meses de idade (forma grave); o tipo infantil, que se manifesta dos três meses de vida até um ano de idade; a forma da infância, que se manifesta dos dois aos 12 anos; e, a partir de 12 anos, a forma juvenil e adulta. Na verdade, expõe ela, essa disfunção pode aparecer em qualquer idade, mas a forma predominante é entre os dois e os seis anos (corticossensível). A sua incidência fica em torno de 3 em 100 mil crianças na Inglaterra. No Brasil, não existe estatística oficial.
CAMPO
Em 2009, Mara investigou o sangue de crianças no Ambulatório de Glomerulopatias da Infância, no Centro Integrado de Nefrologia (CIN) do HC, mediante consentimento dos pais, para participar de uma pesquisa genética. Contou às crianças que essa pesquisa não teria um retorno tão imediato, pois ainda não foi descoberta cura. Esclareceu que esse estudo permite eliminar o tratamento medicamentoso, no caso de existência de mutação. Ao avaliar o sangue de 150 crianças, a bióloga fez a extração do DNA, material genético humano. Foi um trabalho árduo e que exigiu muito dela, principalmente o estudo dos genes. O NPHS2, exemplifica, possui oito éxons, ou pedaços, que precisam ser estudados um a um. “Os éxons codificam para a proteína que vai ser expressa”, expõe Mara. Ela prossegue explicando que o gene NPHS1 possui 29 éxons, os quais requerem igualmente estudo. É necessário promover a amplificação dos genes, aumentando o número de cópias por meio da técnica de reação de polimerase em cadeia (polymerase chain reaction). Amplificando esses éxons, consegue-se enxergar melhor a mutação. E não é somente isso. “Os éxons são lidos num sequenciador, o que envolve várias etapas até chegar à leitura do resultado (se a pessoa tem ou não a mutação), quando analisamos o sequenciamento das bases ATCG – bases nitrogenadas que formam o nosso DNA”, descreve a pesquisadora. É justamente nelas que a mutação será observada.
A bióloga Mara Sanches Guaragna, autora da tese: “Este é o primeiro estudo no país com uma grande casuística envolvendo crianças”
Na rotina, internações As crianças com síndrome nefrótica são pacientes que vão frequentemente às consultas, colhem exames periodicamente e, dependendo do caso, requerem constantes internações. O tratamento atrapalha muito os estudos e exige um cuidado permanente dos pais. Além da doença, é preciso cuidar dos efeitos colaterais das medicações imunossupressoras e das complicações. São crianças previamente normais, que, de uma hora para outra, começam a edemaciar e a desenvolver a SN. “Elas não costumam relatar dor, mas sofrem o desconforto que causa o edema generalizado”, presencia a médica. A própria autora da pesquisa teve proteinuria aos 19 anos e passou quatro anos com esse problema. Fez tratamento e a proteinuria foi regredindo. Parou de fazer o cursinho pré-vestibular e ficou atrasada nos estudos. Ingressou no IB da Unicamp e, por uma feliz “coincidência”, veio a pesquisar esse tema.
ACHADOS
Mara identificou mutações que corresponderam com o fenótipo em quatro crianças corticorresistentes (uma já foi transplantada, recebendo o órgão de doador cadáver), que justificavam a síndrome. O que isso significa? Que a doença é de origem autossômica recessiva, ou seja, é preciso um gene do pai e um gene da mãe para que haja expressão no filho. Hoje, não raro, muitos médicos solicitam pesquisa de mutação, se ainda paira dúvida quando é preciso levar o paciente a transplante. A ideia é que, ao encontrar mutação, ele seja submetido a essa intervenção porque terá mais chance de não sofrer recidivas. De acordo com a nefropediatra, indica-se diálise (que pode ser peritoneal ou hemodiálise) quando o paciente tem cerca de 10% da sua função renal. Isso significa que a criança deve ter uma terapia renal substitutiva (tratamento que exerce as funções dos rins que, quando doentes, não conseguem mais executar). “Quando é colhida a função renal e se verifica que a criança tem apenas 15%”, ressalta a médica, “o procedimento é inscrevê-la na lista de transplante”. O êxito desse procedimento depende de muitos fatores: da patologia de base, da idade da criança e das condições do doador. Normalmente, a sobrevida hoje é mais longeva. É comum encontrar transplantados há mais de 15 ou 20 anos, graças às novas drogas que estão chegando ao mercado. Se a criança com perda de função renal não for submetida à terapia renal substitutiva, informa Anna, ela não terá chance de viver, “morrendo em dias, por uremia (toxinas se acumulam no seu organismo já debilitado)”.
Atualmente, o transplante passa a ser a melhor opção para a criança que perdeu função renal. A despeito disso, ainda se discute muito se vale a pena manter uma criança em diálise ou transplantá-la. “Certamente o transplante é a terapia de escolha para quem perdeu a sua função renal e para uma criança renal crônica”, ressalta Anna. Agora o interesse da bióloga é fazer o sequenciamento massivo do exoma, um estudo de diversos outros genes durante seu pós-doc. Isso porque, em alguns pacientes, encontrou apenas uma mutação. “Provavelmente existem outros genes que estão expressos no mesmo lugar e que estão envolvidos no processo”, admite a bióloga. Anna, que está fazendo o seu doutorado na Faculdade de Ciências Médicas (FCM), estudando a SN, pondera que cada país tem um tipo de mutação. “Se a população é miscigenada, vamos encontrar alguns tipos de mutação. Na América do Sul, a população que veio da Europa tem outras mutações, diferentes da China e do Japão”, pontua. Mara identificou esses pacientes corticorresistentes com mutação e começou a fazer um estudo populacional, epidemiológico, que torna a pesquisa ainda mais interessante, opina Anna. “Esse trabalho pode investigar inclusive as mutações mais comuns no país, traçando um perfil.” A expectativa da bióloga é avançar a sua pesquisa e se aprofundar mais na compreensão de como essas proteínas estão interagindo no glomérulo. É isso que outros grupos estrangeiros estão fazendo agora. Conforme Anna, 90% das crianças corticossensíveis com SN respondem bem ao tratamento com corticoide e, em longo prazo, têm um prognóstico muito bom. Dá para prever que a síndrome provavelmente vai entrar em remissão e desaparecer, e a função renal vai permanecer preservada, ou seja, não vai evoluir para insuficiência renal crônica. Dez por cento dos pacientes são corticorresistentes, esses sim são os casos mais preocupantes. Desses dez por cento, 30% a 40% vão evoluir para insuficiência renal crônica e perderão o rim em dez a 11 anos. “Por isso é relevante encorajar as campanhas de prevenção, para que se faça um exame de urina nos postos de saúde, que ajuda a detectar precocemente a proteinuria. Pode ser uma amostra de urina 1 ou testes de fitas urinárias”, ensina a nefropediatra. A médica revela que a criança com SN terá um acompanhamento crônico, por não haver cura. Alguns pacientes poderão recidivar várias vezes, ainda que sendo corticossensíveis, voltando a inchar.
Publicação Tese: “Síndrome nefrótica em crianças: avaliação molecular em uma casuística brasileira” Autora: Mara Sanches Guaragna Orientadora: Maricilda Palandi de Mello Unidade: Instituto de Biologia (IB) Financiamento: Fapesp e CNPq
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Campinas, 15 a 21 de setembro de 2014 SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br
ma pesquisa da Unicamp conduzida pelo arquiteto e urbanista Fernando Durso Neves Caetano atestou a eficiência da tecnologia de muro vivo externo para maior conforto térmico no interior de um edifício. Também conhecido como living wall, o sistema atenuou, em dias quentes de verão, a temperatura interna do ar em até 6ºC. O living wall também se mostrou eficiente em dias mais frios, ajudando a reter o calor do ar em até 3ºC. A temperatura superficial da alvenaria diminuiu quase 19ºC, em média, passando de 46ºC para 27ºC. A tecnologia, desenvolvida na Europa na década de 1980, foi testada pelo arquiteto num prédio no campus da Unicamp. O estudo também avaliou a viabilidade de diferentes espécies vegetais para uso específico em sistemas de muro vivo no Brasil, assim como os parâmetros técnicos referentes à irrigação, nutrição e fixação das plantas. Os principais resultados obtidos demonstram que a tecnologia se adapta à realidade construtiva brasileira, garante o arquiteto, cuja pesquisa integrou dissertação de mestrado desenvolvida por ele junto à Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp. “É uma tecnologia recente no Brasil. Em termos de custo, ela se compara a um revestimento de alto padrão, sendo bastante indicada para os grandes centros urbanos, onde os edifícios possuem um perfil muito verticalizado. Trata-se de uma alternativa tecnológica mais limpa, em prol do desenvolvimento urbano sustentável”, indica o pesquisador da Unicamp. “O muro vivo pode facilitar a inserção da vegetação nas cidades, pois compensa a falta de espaços livres no solo utilizando as fachadas, as quais estão amplamente disponíveis. Além disso, a tecnologia propicia um ambiente bastante agradável do ponto de vista do conforto térmico, evitando, ao mesmo, o uso do ar condicionado, um equipamento com consequências negativas ao meio ambiente”, completa. Os aparelhos convencionais de ar condicionado utilizam o HCFC (hidroclorofluorcaborno), um fluido refrigerante com potencial para destruição da camada de ozônio e para elevar o aquecimento global, embora a substância seja menos poluente que os CFCs (clorofluorcarbonos). Em setembro de 2007, o governo brasileiro e outras nações ao redor do planeta assinaram o Protocolo de Montreal que, dentre outras medidas, objetiva abolir, de maneira gradativa, o uso HCFC até 2040. O uso da vegetação enquanto estratégia de condicionamento térmico passivo assume papel central neste contexto, situa o arquiteto e urbanista. Ele explica que esta atenuação térmica - passiva no caso do emprego de vegetação e ativa em situações de uso do ar condicionado - acontece pelo sombreamento, isolamento térmico na folhagem e evapotranspiração, uma transferência do calor da planta por meio da transpiração. “Acontece um balanço energético latente, o que contribui para umidificar o ar e prevenir os extremos de temperatura”, pontua. Fernando Caetano foi orientado pela docente Lucila Chebel Labaki, que atua no Departamento de Arquitetura e Construção da FEC. O estudo, desenvolvido no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, Tecnologia e Cidade da Unidade, obteve financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), concedido na forma de bolsa ao pesquisador da Unicamp. Ele explica que os sistemas de muros vivos trazem a inovadora premissa de agregar o meio de crescimento diretamente na superfície vertical, tornando, assim, as plantas independentes do solo. O sistema utiliza recipientes modulares que armazenam o meio de crescimento para o enraizamento e desenvolvimento das espécies vegetais. Isto implica que as plantas sejam alimentadas por um sistema semi-hidropônico, que fornece água e nutrientes às espécies. “É uma tecnologia irmã da cobertura verde. A vantagem é exatamente a questão da verticalização que limita a cobertura verde ao andar superior no caso de um edifício. No muro vivo, a área é bem maior e o beneficio é para todos os pavimentos. Há também diferenças em relação às técnicas que usam trepadeiras, que ficam enraizadas no solo, limitando também a área coberta. O muro vivo não tem limites de expansão, além do que é possível trabalhar melhor com a questão da decoração”, compara o estudioso da Unicamp, graduado pela Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Muro vivo é alternativa para conforto térmico Fotos: Divulgação
Estudo demonstra que sistema diminui em até 6ºC a temperatura interna do ar em dias quentes Foto: Antoninho Perri
O arquiteto e urbanista Fernando Durso Neves Caetano: “No muro vivo, a área é bem maior e o beneficio é para todos os pavimentos”
ATRASO TÉRMICO
Outro resultado importante que comprovou a eficiência da tecnologia de muro vivo foi o atraso térmico, ou seja, o deslocamento dos picos de temperatura. Com a proteção do living wall houve um deslocamento do pico de calor para horários menos quentes. O mesmo aconteceu em dias frios. Conforme o estudioso, o atraso térmico foi de 4 a 5 horas. Enquanto temperaturas extremas se davam, respectivamente, nos horários mais quentes (15h) e mais frios (6h) nas paredes desprotegidas, nas medições com o muro vivo essas temperaturas se deslocaram para horários mais amenos (20h) e (9h). “O principal efeito de amenização térmica foi proporcionado pela vegetação, sendo responsável por mais de 80% do amortecimento térmico. Já o atraso térmico se deveu também às outras camadas do sistema.”
PLANTAS MAIS ADAPTÁVEIS
Em sua pesquisa, Fernando Caetano explica que as plantas constituem o componente ambientalmente funcional dos sistemas de muro vivo por proporcionarem o efeito de refrigeração, umidificação e purificação do ar. O arquiteto e urbanista acrescenta que as espécies vegetais são responsáveis pela aparência final da envoltória e que sua correta escolha e combinação determinarão tanto a capacidade de amenização do muro vivo, quanto o apreço visual proporcionado às pessoas. Ele informa ainda que as plantas que melhor se adaptaram ao ambiente do experimento possuem, no geral, estratégias eficientes de sobrevivência, como a capacidade de armazenar água nas folhas (suculenta), superfícies brilhosas (reflexão do calor) e capacidade de armazenamento de nutrientes nas raízes. Dentre as 12 espécies vegetais testadas, 6 tiveram uma melhor adaptação à tecnologia: rosinha de sol (Aptenia cardifolia); dinheiro em penca (Callisia repens); grama amendoim (Arachi repens); Evôlvulo (Evolvulus glomeratus); peperômia (Peperomia serpens); e abacaxi roxo (Trandescantia spathacea).
Prédio coberto parcialmente por plantas na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo: estudo analisou diferentes espécies vegetais
EXPERIMENTOS Foram realizados experimentos comparativos em edifícios similares instalados na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp. Um deles recebeu o sistema de muro vivo, enquanto o outro foi usado como controle nas medições, dispondo apenas de sua envoltória convencional de alvenaria. Nos dois ambientes, foram monitorados parâmetros de temperatura superficial, temperatura do ar interno e umidade relativa do ar interno. Os experimentos ocorreram durante os meses de verão, de outubro de 2013 a janeiro de 2014.
Publicação Dissertação: “Influência de muros vivos sobre o desempenho térmico de edifícios” Autor: Fernando Durso Neves Caetano Orientadora: Lucila Chebel Labaki Unidade: Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) Financiamento: Fapesp
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Campinas, 15 a 21 de setembro de 2014
Uma lupa sobre o real Pesquisadores utilizam a Realidade Aumentada como suporte às atividades de ensino e pesquisa nas áreas de arquitetura e construção Fotos: Divulgação
MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br
e posse de um tablet ou smartphone, o turista aponta a câmera de um dos dispositivos para as ruínas de Machu Picchu e focaliza um marcador previamente definido, que pode ser a própria estrutura remanescente da cidade pré-colombiana. Em segundos, surge na tela a imagem detalhada do local, da forma como foi construído no Século XV, acompanhada de um vídeo que traz informações históricas sobre o projeto concebido e executado pelos incas. Tal cena, que há duas décadas soaria como restrita aos filmes de ficção científica, já é plenamente exequível, graças à tecnologia classificada como Realidade Aumentada (RA). Na Unicamp, pesquisadores da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) utilizam a RA como ferramenta de suporte ao ensino e às pesquisas nas áreas de arquitetura e construção. A RA começou a ser desenvolvida há cerca de 30 anos, como explicam as professoras Regina Coeli Ruschel e Ana Lúcia Nogueira de Camargo Harris, ambas do Departamento de Arquitetura e Construção da FEC. Nos primórdios, porém, a tecnologia ficava restrita aos profissionais da computação, e requeria uma ampla e cara parafernália de equipamentos para ser aplicada. Com o surgimento dos tablets e smartphones e o desenvolvimento de aplicativos mais amigáveis, ela tornou-se acessível a um amplo leque de pessoas, inclusive em âmbito doméstico. “Atualmente, a realidade aumentada é muito utilizada em áreas como medicina, marketing e jogos eletrônicos, entre outras”, afirma Ana Lúcia Harris. Segundo Regina Ruschel, o seu grupo de pesquisa começou a trabalhar com a RA em 2009, mais ou menos a mesma época de outras universidades espalhadas pelo mundo. Atualmente, ela considera que a investigação realizada em torno dessa tecnologia na FEC-Unicamp é referência no Brasil. “Temos mantido diálogos muito interessantes com instituições brasileiras e estrangeiras. A tendência é que os estudos avancem significativamente nos próximos anos”, prevê. Ana Lúcia Harris destaca que a realidade aumentada é tema de uma disciplina no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, Tecnologia e Cidade. Além disso, já gerou duas teses de doutorado, sendo uma já concluída e outra em andamento, e alguns trabalhos de iniciação científica. “Estamos formando recursos humanos altamente qualificados para trabalhar com esse tipo de ferramenta, que será cada vez mais útil nas áreas de arquitetura e construção”, entende a docente. Um dos produtos gerados pela disciplina de RA tem relação com a situação hipotética descrita no início deste texto. Um grupo de alunos desenvolveu aplicativos voltados ao resgate histórico. O foco do trabalho foi a Praça Central, marco zero da construção da Unicamp. Por meio de aplicativos desenvolvidos especificamente para essa finalidade, é possível sobrepor a imagem da praça original sobre a atual, de modo a observar as diversas transformações ocorridas ao longo das últimas décadas. O usuário também pode fazer uma imersão naquele espaço, promovendo um giro de 360° a partir da tela do tablet ou smartphone, além de acessar um vídeo sobre a história da Universidade. “Através dos recursos oferecidos pela RA, nós ainda temos como inserir a imagem de 1978 do professor Zeferino Vaz [fundador da Universidade] caminhando pela praça, em tamanho real. Para isso, basta que o usuário, já tendo o aplicativo instalado no seu dispositivo móvel, se posicione no mesmo ponto onde a fotografia foi originalmente capturada”, esclarece Lorena Claudia de Souza Moreira, doutoranda da FEC-Unicamp e professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA). De acordo com ela, a ferramenta foi apresentada a um grupo de frequentadores da Praça Central, que puderam manipulála. Posteriormente, eles responderam a um questionário para dizer o que acharam da
A ferramenta foi utilizada para promover o resgate histórico da Praça Central, marco zero da construção da Unicamp
Empregada no contexto de um “Projeto Participativo”, a RA ajudou moradores de um conjunto habitacional popular a projetar uma praça de lazer
interação. “Muitos se disseram surpresos porque não conheciam esse tipo de tecnologia. Também consideraram a experiência muito válida”, relata Lorena Moreira. O experimento, desenvolvido em disciplina de pós-graduação, contou com a colaboração dos pós-graduandos Victor Calixto e Natália K. Nakamura. Em trabalho de doutorado concluído recentemente, Ana Cuperschmid explorou igualmente as possibilidades oferecidas pela RA, mas no contexto do que os especialistas denominam de “Projeto Participativo”. Em termos simplificados, o que a pesquisadora quis apurar é se usuários leigos [no caso, moradores de um conjunto habitacional popular da periferia de Campinas] teriam condições de aplicar a tecnologia na fase de concepção de um projeto arquitetônico.
Para isso, ela promoveu uma dinâmica com esses voluntários. “Nós apresentamos a ferramenta e os recursos proporcionados por ela aos moradores. A proposta era transformar um terreno baldio próximo às suas residências em uma praça de lazer. Nosso interesse era saber se essas pessoas poderiam usar maquetes virtuais em RA no lugar das maquetes físicas convencionais, com o objetivo de definir um projeto para aquele espaço. Os resultados foram melhores do que esperávamos. Pessoas de baixa escolaridade e sem qualquer familiaridade com ferramentas tecnológicas conseguiram usar o aplicativo sem grande dificuldade”, afirma. Conforme Ana Cuperschmid, foram definidos diversos marcadores [desenhos], cada um representando um equipamento de lazer, como quadra esportiva, playground, pista de skate etc. Desse modo, Foto: Antoninho Perri
Da esq. para a dir., Ana Cuperschmid, Regina Ruschel, Lorena Claudia de Souza Moreira e Ana Lúcia Harris: ferramenta cada vez mais útil nas áreas de arquitetura e construção
cada marcador representava a inserção da imagem 3D de um desses equipamentos na imagem-base do terreno baldio. “A experiência foi muito positiva e enriquecedora, comprovando que esse recurso pode ser muito útil no que toca à tomada de decisões nas áreas de projeto e construção. Ao discutirem sobre a localização dos equipamentos, os próprios moradores perceberam, por exemplo, que a quadra esportiva não deveria ficar perto do playground, pois uma bola poderia atingir uma criança”, conta a pesquisadora. Um diferencial dos aplicativos desenvolvidos por Ana Cuperschmid é que eles independem de conexão com a internet para serem usados, ao contrário do que ocorre com outros modelos. A professora Regina Ruschel informa que o trabalho da pesquisadora, que atualmente desenvolve o pósdoutorado no Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP de São Carlos, está inserido numa rede cooperativa de pesquisa que reúne instituições dos estados do Rio Grande do Sul, Bahia, Paraná, Ceará e São Paulo. “O intuito dessa rede é fazer com que todas as descobertas sejam transferidas para a sociedade, por meio de prefeituras, companhias de habitação e até mesmo associação de moradores. Queremos contribuir para que as decisões nas áreas de projeto e construção sejam tomadas em bases mais qualificadas, preferencialmente com a participação da população”, pontua. Como dito anteriormente, a RA não tem sido utilizada somente por engenheiros e arquitetos. Vários outros profissionais também têm recorrido à tecnologia, como os das áreas médica, publicitária e de jogos eletrônicos. No segmento médico, a ferramenta tem tido diferentes aplicações. Uma das mais curiosas diz respeito ao tratamento de fobias. Segundo Lorena Moreira, há casos em o paciente é colocado gradativamente em contato com a imagem do objeto que lhe causa de fobia, como uma aranha ou mariposa, para ficar em dois exemplos comuns. “As sessões começam com a exposição de uma imagem distorcida e depois evoluem para uma imagem bastante realista, em formato 3D. Normalmente, o tratamento oferece bons resultados”, diz a doutoranda. Outra aplicação relevante para a RA, acrescenta a professora Ana Lúcia Harris, é como ferramenta pedagógica. A docente vem realizando diferentes aplicações e workshops, utilizando a RA como suporte tanto às atividades dos professores quanto dos alunos. Nas aulas que ela ministra, a tecnologia tem sido empregada como auxílio à compreensão em situações que exigem maior abstração espacial.
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Campinas, 15 a 21 de
Livro detalha experimenta Obra de docentes da USP e da Unicamp analisa papel do arquiteto no contexto da “modernização conservadora” brasileira MARTA AVANCINI Especial para o JU
s anos 1950 foram marcados pelo forte avanço do processo de industrialização do Brasil, vinculado ao projeto de modernização do país. O período foi um divisor de águas: a indústria – especialmente a de bens duráveis – ganhou espaço na economia, em consonância com fortes mudanças culturais e sociais. Foi a década da instalação da indústria automobilística no país, da chegada da televisão aos lares brasileiros e de intensificação da urbanização, com o aumento da população das cidades. A cidade de São Paulo, epicentro da industrialização brasileira, saltou de 2 milhões para 3,5 milhões de habitantes. Sintetiza, assim, a profunda interligação entre industrialização e urbanização: as fábricas eram instaladas onde havia mão de obra e infraestrutura. Este foi o pano de fundo de atuação de um dos maiores arquitetos do Brasil, João Batista Vilanova Artigas (19151985), cuja obra traduz uma profunda reflexão sobre a relação entre a arquitetura e os processos industriais e territoriais. Tal relação é o tema do livro “Vilanova Artigas – Habitação e cidade na modernização brasileira”, de autoria de Leandro Medrano e Luiz Recamán, recém-lançado pela Editora da Unicamp. Para os autores, tanto do ponto de vista técnico e construtivo, quanto da perspectiva social e política, a obra de Artigas
Jornal da Unicamp – Como situar Vilanova Artigas no contexto da arquitetura moderna brasileira? Qual é sua particularidade? Leandro Medrano e Luiz Recamán – Vilanova Artigas é um dos mais importantes arquitetos brasileiros. Sua obra foi definitiva para a transformação da arquitetura brasileira depois dos anos 1950. Enfrentando um contexto de modernização industrial, com sede em São Paulo, Artigas refletiu sobre a relação entre a arquitetura e os processos industriais e territoriais. Não apenas do ponto de vista técnico e construtivo, mas, principalmente, procurou dar à arquitetura uma nova dimensão social e política. Além de diversas residências na cidade, que se tornaram paradigmáticas, Artigas projetou e construiu o edifício da FAU/USP [Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo], que pretendeu responder aos desafios dessa nova concepção de arquitetura brasileira no projeto de uma faculdade. Intelectual atuante da Universidade de São Paulo, este arquiteto fez parte de uma geração que dinamizou a universidade e que discutiu um projeto de desenvolvimento para o país. Além disso, projetou e construiu diversos edifícios, como escolas, estádios, rodoviárias etc., e se destacou como professor e líder de uma geração. JU – De que maneira a política e a dimensão social se manifestam nas obras de Artigas? Leandro Medrano e Luiz Recamán – A questão social na arquitetura – e na arte em geral – deve ser compreendida para além dos programas e de para quem se destina a construção. Todo projeto tem uma formulação de espaço que está conectada ao seu tempo. Na arquitetura, por ser uma disciplina diretamente ligada à sociedade e à cidade, essa relação é visceral.
delineia-se como um programa arquitetônico que traduz o desejo de mudança social, por meio de uma nova configuração espacial da cidade. Militante político de esquerda, influenciado pelo modernismo do grupo Santa Helena na sua fase de formação intelectual, o paranaense Vilanova Artigas projetou e construiu habitações individuais e coletivas entre os anos 1940 e 1960, que são verdadeiras experimentações arquitetônicas das possibilidades urbanas. Além das inúmeras residências, destacam-se entre suas obras, uma proposta para o concurso de Brasília – vencido por Oscar Niemayer e Lúcio Costa – e o conjunto residencial Zezinho Magalhães, construído em Guarulhos. Assim, Medrano e Recamán procuram, nas obras analisadas no livro, um padrão espacial que possa ser deduzido das experimentações de Vilanova Artigas; um padrão que possa ser estendido a uma ideia de cidade. Uma cidade alternativa àquela da “modernização conservadora” brasileira, cuja peculiaridade se traduz na acomodação de formas arcaicas a sistemas avançados de acumulação, defendem os autores. Leia, a seguir, a íntegra da entrevista concedida por Leandro Medrano, professor da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp, e Luiz Recamán, docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP), ao Jornal da Unicamp.
Vilanova Artigas foi um arquiteto e professor que procurou renovar esta relação na conjuntura brasileira dos anos 1950. Militante político, ele definiu um programa arquitetônico que representava uma vontade de mudança social que parecia factível naquele momento, por meio de uma nova configuração espacial da cidade. No livro, a questão social se dirige diretamente às soluções construtivas e espaciais que ele propõe. As relações entre construção e vazio, construção e o lote e construção e a cidade. Elas permitem compreender com clareza a extensão de seu projeto de modernização, formulado a partir de uma avaliação histórica do momento da arrancada industrial de São Paulo e do país. JU – De que maneira essa “proposta de morar” de Vilanova Artigas, no contexto da aceleração da industrialização brasileira, se expressa em seus projetos? Leandro Medrano e Luiz Recamán – Uma questão importante para se destacar no livro é o fato de que a escolha do tema habitação não é apenas um recorte da obra do arquiteto. Suas casas eram conceitos espaciais que ele repercutia em toda a produção. Eram laboratórios da espacialidade almejada para o contexto da urbanização resultante do choque da industrialização nos anos 1950. Em duplo sentido: primeiro, como experimentação direta em programas mais ágeis e frequentes; segundo, como unidade básica da nova urbanidade, pois para o arquiteto, “a casa é a cidade e a cidade é a casa”. A modernização brasileira teve como peculiaridade histórica a acomodação de formas arcaicas aos sistemas avançados de acumulação. Essa formulação produziu contradições diversas, incluindo a questão territorial e urbana. As permanências de lógicas espaciais da tradição rural, debilmente
O arquiteto João Batista Vilanova Artigas na FAU/USP: reflexão sobre a relação en
enfrentadas no período republicano, regrediram a esquemas precários de ocupação – o arcaico atualizado nas periferias e na exclusividade. Essa determinação geral atingiu não apenas os processos sociais gerais, econômico-sociais e territoriais, mas fez parte da reflexão crítica produzida no enfrentamento dessa realidade. Lembremos Gilberto Freyre e sua “rurbanização”. De maneira diversa, [Sergio] Buarque de Holanda e Florestan Fernandes acreditavam que a revolução brasileira teria nas cidades e no processo de modernização urbana o seu palco. É esse o contexto em que o livro propõe pensar a questão da habitação na obra do arquiteto mais destacado do período, diante dos conflitos advindos da “modernização conservadora” brasileira. JU – Como o prédio da FAU/USP se insere no contexto da obra de Artigas e responde aos desafios da nova concepção de arquitetura brasileira preconizada pelo arquiteto? Leandro Medrano e Luiz Recamán – O projeto da FAU/USP é um capítulo conclusivo dessa pesquisa espacial iniciada nas residências, nos projetos de edifícios públicos e de habitação coletiva. Ela é um veemente manifesto das aporias do projeto construtivo brasileiro vinculado ao projeto nacional de desenvolvimento industrial. As ambiguidades de nossa modernização conservadora não logram solução espacial, na medida em que o espaço construído a partir de impulsos progressistas choca-se diretamente com a realidade social que procura transformar. O edifício da FAU/USP é emblemático dessa tensão, na medida em que seu isolamento é figurado com precisão nas decisões projetuais. Ele acentua o isolamento político da cidade universitária em relação à cidade e à sociedade, no momento de crise do desenvolvimentismo. Esse estudo, que inclui o edifício da FAU/USP e outros edifícios institucionais, é o tema do novo livro que estamos elaborando sobre a obra desse importante arquiteto. JU – Qual é a visão de cidade transformada proposta por Artigas? Qual a repercussão desta visão hoje? Como ela se expressa/ou não nas cidades brasileiras, em especial em São Paulo? Leandro Medrano e Luiz Recamán – O livro analisa dois projetos nos quais a abrangência possível da tipologia habitacional desenvolvida pudesse ser verificado: o Conjunto Zézinho Magalhaes, em Guarulhos, e a proposta para o concurso de Brasília.
Fotos: Divulgação
Serviço
Leandro Medrano (Unicamp) e Luiz Recamán (USP), autores do livro: docentes analisam os laboratórios da espacialidade de Artigas
Obra: Vilanova Artigas - Habitação e cidade na modernização brasileira Autores: Leandro Medrano e Luiz Recamán Páginas: 160 Área de interesse: Arquitetura e urbanismo Preço: R$ 34,00
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e setembro de 2014
ações de Vilanova Artigas Foto: Acervo da Biblioteca da FAU/USP
Leandro Medrano e Luiz Recamán – O livro procura mostrar o desenvolvimento do conceito de um “edifício-bloco”, base construtiva e espacial da obra madura desse arquiteto. Uma unidade arquitetônica plenamente configurada e destacada do entorno espacial e social, ao qual objeta. O volume instaura uma sociabilidade intramuros, aberta e solidária, que contrasta com a dinâmica que vai se consolidando com o ingresso da cidade no circuito de produção e consumo de um país de modernização tardia e subdesenvolvida. Esse diagnóstico da nossa modernização é recorrente nos pensadores da “formação”. Vilanova Artigas traduz de maneira ímpar esse momento de apostas desenvolvimentistas, no ambiente intelectual efervescente da São Paulo dos anos 1950.
ntre a arquitetura e os processos industriais e territoriais
Neste último, o lote urbano que Artigas encontrava nos projetos de residências em São Paulo é a unidade base que conforma o espaço urbano da futura capital. Maiores que os lotes privados existentes, permitiam que “casas” fossem implantadas isoladamente, conectadas por amplo sistema viário. Esse cenário suburbano pode ser considerado o espaço ideal do esquema proposto pelo arquiteto, plenamente dedutível nas análises das residências que o livro apresenta. A questão que o livro aborda é a tensão, registrada plenamente nas formas desenvolvidas, entre esse esquema urbano e a realidade de um país que ultrapassava, sem concluir, o estágio industrial em direção à sociedade de massa e consumo que se consolidava. Suas propostas habitacionais, individuais ou coletivas sobrepõem essas duas determinações: lógica industrial e lógica comunicacional. JU – No livro, os senhores enfocam as casas concebidas por Artigas como conceitos espaciais que repercutiam em toda sua produção. Quais são alguns desses conceitos? Como esse conceito de espacialidade dialoga/contrapõe-se ao choque da industrialização?
JU – Qual a atualidade/riqueza da visão de Artigas – o que ela nos aporta para pensarmos o morar o urbano na contemporaneidade? Leandro Medrano e Luiz Recamán – A influência de Artigas nos arquitetos que lhe seguiram, até os dias de hoje, comprova que vários aspectos de sua obra são recorrentes. Mas não o são necessariamente a sua perspectiva crítica e social. Vemos muitas soluções formais repetidas à exaustão, destituídas do contexto em que foram formuladas. Essa estetização talvez seja a grande característica da arquitetura paulista atual, pelo menos aquela que se considera devedora de nossa vanguarda. O posfácio do livro trata de projetos que foram destacados recentemente em publicações internacionais. É evidente que esses projetos estão bem distantes da obra de Artigas, mas a análise procura desvendar como o rico vocabulário desenvolvido por ele se deteriora em significantes que evocam o espírito antiurbano, agora totalmente descontextualizado. JU – O que significa dizer que a casa é a unidade básica da nova urbanidade? Leandro Medrano e Luiz Recamán – A primeira fase da arquitetura moderna brasileira tinha como fórmula estética a construção de edifícios emblemáticos da nacionalidade brasileira, entendida segundo o projeto varguista e modernista. Um segundo momento seria aquele em que esse esquema estético é confrontado por uma nova realidade industrial e metropolitana, cuja lógica era mais diretamente ligada ao capital e seus investimentos. Nesse sentido, a amplidão dos espaços, a leveza e a paisagem, característico do momento anterior, perdem validade diante da agressividade da dinâmica territorial da nova metrópole paulistana. O curioso é observar que nesse momento de expansão urbana, inédito na historia local, a ideia da casa emerge como conceito base da arquitetura de São Paulo. E que a nova faculdade de arquitetura, a FAU, seja o epicentro desta guinada ideológica. O espaço doméstico paulista, sua rusticidade e sobriedade, são tema fundamental dos estudos na faculdade nesse período.
A obra de Artigas é um componente desse movimento. O livro é critico em relação a essa opção, na medida em que deflagra uma relação entre objeto arquitetônico e vazio que estava na contramão das reflexões sobre o espaço urbano que teriam grande impacto na construção e transformação das cidades depois da Segunda Guerra Mundial. Apesar de não tratar diretamente de um programa crítico e alternativo, o livro indica que a questão da cidade é prioritária. Ou seja, a casa deveria ser o resultado da forma urbana, e não o contrário, como foi e é postulado por nossa arquitetura avançada. Mais que a casa como programa funcional, essa concepção doméstica e introvertida do espaço está na base de nossa consagrada ousadia formal. JU – No livro, vocês abordam o projeto que Artigas apresentou para a construção de Brasília. Em que esse projeto difere da Brasília de Niemayer e Lúcio Costa? Como seria nossa capital federal se Artigas tivesse vencido o concurso? Leandro Medrano e Luiz Recamán – Não se trata de uma contraposição entre arquitetos, todos no panteão da arquitetura brasileira. Mas a grande questão que enfrenta Artigas é diferente daquela a que responderam tão assertivamente Niemeyer e Lúcio Costa. Ligados ideologicamente ao Estado centralizador e autoritário do desenvolvimentismo brasileiro, esses arquitetos procuraram responder arquitetonicamente às questões da identidade nacional por meio da arquitetura inserida em rica paisagem tropical. Artigas enfrenta o Brasil urbano, industrial e desordenado. As respostas são diferentes porque as questões enfrentadas o são. JU – Em 2015, será comemorado o centenário do nascimento de Vilanova Artigas. Como inserir esse livro na produção acadêmica sobre sua obra? Leandro Medrano e Luiz Recamán – Um fato se destaca: a produção acadêmica sobre a obra de Artigas é relativamente pequena se considerarmos a sua vasta obra. Principalmente, se considerarmos a sua importância para o desenvolvimento da arquitetura brasileira. A obra de Artigas é singular por ser uma produção voltada para questões sociais e disciplinares ao mesmo tempo. As suas experimentações de linguagem, exploradas no livro, revelam uma abertura disciplinar peculiar, senão solitária, no contexto brasileiro. O livro procura explorar essa complexidade por meio da análise das obras selecionadas, sempre confrontada com as questões sociais envolvidas. Na sua produção arquitetônica estão consolidados os conteúdos sociais construídos por meio de excepcional desenvolvimento interno dos instrumentos da disciplina. Verificamos, das primeiras casas àquelas dos anos 1950, um percurso no qual incidem dinâmicas sociais e artísticas em uma coerência intelectual, novamente, singular.
Alguns projetos de Artigas Foto: Nelson Kon
Foto: Nelson Kon
Foto: Alice Brill
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2 Foto: Nelson Kon
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Foto: Nelson Kon
Foto: Nelson Kon
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1 – Casa dos Triângulos
4 – Casa Baeta
2 – Casa do Arquiteto
5 – Conjunto Zezinho Magalhães
3 – Casa Czapski
6 – Prédio da FAU/USP
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Campinas, 15 a 21 de setembro de 2014
Pesquisadora do IEL analisa cartas escritas por presidiários paranaenses
A língua dos
segregados
Fotos: Divulgação
Vistas externa e interna da Casa de Custódia de Maringá, Paraná: média de 700 cartas por mês
“O cara do bem pela propriedade e o vínculo familiar”, conforme Vera Lucia, é aquele que comunga com os discursos oficiais de que é preciso estudar e trabalhar para subir na vida, pois tendo perdido a sua liberdade, passa a sonhar com o mínimo: “[...] eu não quero mais nada nesse mundo, somente você e nossos filhos e o nosso cantinho pra morar, no final de semana fazer aquele almoço com toda a família reunida, nossos pais, irmãos, subrinhos, brincar conta história, da risada, esse é o meu sonho amor e vou realizar ele”. Outro tópico é sobre “O cara do bem pela religiosidade”. A pesquisadora afirma que a adesão a uma religião, sobretudo às protestantes, é uma estratégia para antecipar a liberdade, cumprir a pena com mais conforto e manter vínculos com pessoas influentes a fim de obter favores: “[...] venho por esta dizer que eu estou batizado e sou Evangélico graças a Deus, resolvi me converter em cristo e alcançar o perdão através do arrependimento e hoje posso te dizer que sou outra pessoa apezar de ainda estar cumprindo pena [...] oro muito por você e por toda sua família queria muito que você me perdoasse de todo o mal que lhe causei”.
A CULPA NO INDIVÍDUO
A linguista vê nas cartas dos encarcerados a liberdade ressignificada como algo que irá acontecer em breve, delimitando o fim do sofrimento e o início de uma vida planejada dentro dos padrões capitalistas que determinam um estilo de vida – da vida certa. “Não há alternativa para este sujeito que quer reconquistar a possibilidade de livre circulação social, a não ser se posicionar em suas cartas como submetido às adequações pautadas pelo sistema: a família, a religião, o trabalho, a formação profissional, o assumir-se como ressocializado.” Vera Lucia da Silva acredita que sua tese de doutorado, com ênfase na linguística e análise de discurso, contribui para inserir nos debates a questão que julga crucial: a culpabilização da violência no indivíduo. “Pouco se fala de um sistema em que a riqueza está concentrada nas mãos de poucos, o que leva, obviamente, ao aumento de uma grande massa de excluídos; isso está silenciado nos debates através da culpabilização individual e não do sistema como um todo, que gera mecanismos de violência e a sensação de perda de controle perante esta situação social”. LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br
partir de 100 cartas manuscritas por presidiários, a agente penitenciária Vera Lucia da Silva, formada em letras e mestre em estudos linguísticos, desenvolveu uma tese de doutorado que contribui com outro viés teórico – além da psicologia, da sociologia e do direito – para os debates em torno do sistema prisional. Baseada em teóricos da análise de discurso, a autora identificou nas cartas uma regularidade de temas cristalizados na sociedade capitalista, como trabalho, educação, propriedade, família e religiosidade. “Sujeitos segregados pelo jurídico: a língua e a história na produção epistolar de presidiários” é o título da pesquisa orientada pela professora Carolina Maria Rodríguez Zuccolillo e defendida no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp. “Sou funcionária do sistema prisional do Estado do Paraná há quase 20 anos. Ao terminar o mestrado sobre mídia e política, quis desenvolver um projeto de doutorado que viesse ao encontro da minha atuação profissional”, justifica a pesquisadora. Vera Lucia exerce o cargo de agente penitenciário na Casa de Custódia de Maringá (PR) e, enquanto mulher dentro de um universo masculino, uma das suas atividades é a leitura das cartas que os presidiários enviam e recebem de parentes, amigos e instituições. “O termo para esta função é ‘revista de cartas’; na verdade, uma leitura censória para tentar impedir que os prisioneiros usem de forma ilícita o direito que têm de se comunicar com o mundo exterior. A unidade possui capacidade para 800 presos provisórios e a média de cartas é de 700 por mês.” A pesquisadora explica que, oficialmente, a revista de cartas é considerada relevante para impedir planos de fuga e resgate de presos; descrição do espaço físico e da rotina carcerária; ordens ao tráfico de drogas e de assaltos e sequestros; solicitação de celulares, drogas e armas; e denúncias contra a instituição e funcionários, entre outras ações. “Mas o preso sabe que sua carta vai passar por um crivo e só escreve o que é permitido. Detectamos pouca coisa. Minha pesquisa envolve cartas que saem pela via lícita, existindo as clandestinas, que saem geralmente pelas mãos de familiares, advogados, religiosos, funcionários e presos que vão a audiências ou são transferidos.”
Vera Lucia precisou submeter o projeto de doutorado ao Conselho de Ética da Unicamp e solicitar autorização dos prisioneiros para utilizar as cartas que havia selecionado e arquivado. “Na tese procuro traçar um panorama histórico do sistema prisional do Brasil, chegando ao paranaense e até a instituição em que trabalho. Trato também da questão da inviolabilidade. Pessoas questionavam se, ao ler as cartas, eu não estaria violando um direito inalienável dos presos. Mas não existe direito absoluto e a leitura das cartas se respalda na proteção da sociedade e da própria unidade prisional.” No capítulo mais importante da tese, referente à análise dos discursos produzidos nas cartas, a linguista identificou várias regularidades temáticas. “Os encarcerados escrevem muito sobre trabalho, educação, propriedade, família e religiosidade, e também sobre a ressocialização que o Estado teoricamente aplica visando preparar o preso para sair e não voltar mais à prisão. Eles simplesmente negam o presente na cadeia, projetando-se num futuro vindouro ou relatando fatos do passado. Falam do passado de uma vida na liberdade e de quando voltarem para a rua; sendo que a rua possui para eles uma simbologia muito maior do que para nós: não é apenas lugar para ir e vir, é o lugar do possível, da liberdade.”
PRÁTICA RECORRENTE
Segundo Vera Lucia da Silva, a escrita de cartas é uma prática recorrente que permeia a vida dos encarcerados, que buscam aliviar o espírito, a solidão e a saudade, e se possível conseguir “adiantos” (favores e privilégios que facilitam a vida no cárcere). “Na escrita para familiares e amigos, não há a preocupação da formalidade, mas quando é endereçada às instituições ou autoridades políticas e religiosas, é comum o recurso de um escriba – preso que se destaca pelo ‘dom’ de escrever ‘bonito’.” A pesquisadora observa que as cartas para familiares costumam ser dirigidas a uma figura feminina (mãe, irmã, cônjuge) e falam da solidão, do amor, da sobrevivência no cárcere e do desejo de transpor as grades e ficar para sempre junto aos entes queridos. “São também para pedir alimentos, roupas, produtos de higiene, remédios. Para as instituições públicas e autoridades políticas e jurídicas, solicitam revisão de processo, perdão de pena, progressão de regime, transferência de presídio.” A análise teórica permitiu a Vera Lucia perceber que as cartas dos presos estão impregnadas de um discurso do Estado, começando pela repetição dos discursos da própria instituição penal. “Existem políticas públicas voltadas ao sistema prisional visando à ressocialização do apenado através do trabalho e da educação. Entidades públicas e privadas se juntam para organizar cursos específicos voltados à demanda mercadológica, como da construção civil, onde faltam azulejistas, pedreiros, encanadores, eletricistas.”
O aniversariante* Hoje dia do meu aniversario, qui carai 23 anos nem síquér meus proprios manos lembrou de mim até a vaca que dizia me amar rezouveu me abandonar acendo um cigarro pra a caumar o estrêce enquanto o tempo passa la fora sem estudo e desempregado o preto aqui por falta de oportunidade foi obrigado ameter os ferros/taí orezutado 20 anos de recrusão mais um preto mofano na prisão si eziste infêrno esse é o lugar vem pra ca requião [Roberto Requião, então governador do PR] sentir na pele o sofrimento da quela mãe que amanhece o dia garimpano no lixão pra não vêr o filho morrer de fome enquanto você e sua familha come caviar e champãe queria ver se foce a sua mãe que tivece garimpano no lixão pra você sobreviver filho da puta corrupto você não sabe o que é sofrer enquanto a liberdade não vem eu continuo aqui sem motivo pra ri sobreviver em paz nesse lugar do capeta é muita treta sair não tem como muito menos vestir uns panos da hora o que eu mais queria agora é tala fóra pra buscar minha filha na pórta da escola não passar o aniversario trancado feito bixo custurano bola de graça pra éssa raça de ladrão engravatado que ozépovinhoelegel acendo um cigarro pra a caumar o istreti enquanto o tempo passa la fora meus filhos crece recramano o azencia do pai mais qui carai de vida sofrida por falta de o portunidade é que o preto aqui foi o brigado a meter os ferros tai o rezutado 20 anos de recruzão mais um preto mofano na prisão si eziste infêrno esse é o lugar vem praca requião sentir na péle o sôfrimento da quêla mãe que amanhéce o dia garimpano no lixão pra não vêr os filhos morrer de fome equanto fome
“O CARA DO BEM”
A autora incluiu na tese trechos de cartas divididos em tópicos como “O cara do bem pelo trabalho e educação”, mostrando a importância atribuída pelo preso aos cursos profissionalizantes porque possibilitam sair “qualificado” para o mercado de trabalho e não reincidir no crime: “[...] Quando eu sair eu já tenho um emprego então isso será o primeiro passo pra comesarmos a ter uma vida tranqüila”; ou “[...] quando eu sair do meu serviço, que pode até ser de gari, como a senhora me disse um dia, que serviço é serviço, o importante é deitar no seu travesseiro, e dormir em paz”.
Publicação
Vera Lucia da Silva, autora da tese: “O preso sabe que sua carta vai passar por um crivo e só escreve o que é permitido”
Tese: “Sujeitos segregados pelo jurídico: a língua e a história na produção epistolar de presidiários” Autora: Vera Lucia da Silva Orientadora: Carolina Maria Rodríguez Zuccolillo Unidade: Instituto de Estudos da Linguagem (IEL)
Reprodução da carta
*(Carta endereçada aos leitores (censores) da prisão, pois foi depositada sem envelope, endereço e destinatário em uma carteira escolar que servia como posto de coleta de cartas. Ela foi “deixada” para ficar ali mesmo, na instituição penal. Talvez seria lida, talvez não. Foi lida por mim.)
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Campinas, 15 a 21 de setembro de 2014
Fotos: Antoninho Perri
Técnica detecta aflatoxinas no
amendoim em minutos
Pesquisadores da FCM também identificam resveratrol, substância que previne o infarto EDIMILSON MONTALTI Especial para o JU
ma combinação das técnicas de Ionização por Dessorção a Laser em Placa de Sílica Impressa (da sigla em inglês, SPILDI) associada à Espectrometria de Massas por Imagem (MSI), permitiu a pesquisadores do Laboratório Innovare de Biomarcadores, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, identificarem, simultaneamente e em minutos, a presença de aflatoxinas e resveratrol no amendoim. As aflatoxinas podem desencadear o câncer e outras doenças. Já o resveratrol pode prevenir o infarto e radicais livres. A técnica é inédita no mundo e foi publicada na revista PLoS One. A pesquisa foi conduzida pelo farmacêutico Diogo Noin de Oliveira, aluno de pós-graduação do programa de fisiopatologia médica da FCM da Unicamp e tem apoio da Fapesp e da Capes. Participam também do estudo a bióloga Monica Siqueira Ferreira e Jeany Delafiori, aluna de iniciação científica do curso de Farmácia. A orientação é do professor Rodrigo Ramos Catharino, do curso de Farmácia da Unicamp. “É uma propriedade da sílica a adsorção de compostos – é como uma xilogravura em baixo relevo. Em menos de cinco minutos, é possível analisar os componentes presentes na pele e polpa do amendoim, ao passo que se fosse com a técnica tradicional, isso levaria horas”, explica Diogo Noin de Oliveira. O amendoim é altamente consumido no Brasil. De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab), o setor de amendoim alcançou, em 2013, uma produção equivalente a 192 mil toneladas. A exportação e o consumo do amendoim apresentaram crescimento de 7,9% e 4,9%, respectivamente. Com a utilização da placa de gel de sílica, a coleta das amostras pode acontecer tanto no campo quanto nos depósitos, indústrias de processamento, supermercados ou até na casa do consumidor. De acordo com os pesquisadores da Unicamp, entre a preparação das amostras e o resultado final, em 15 minutos é possível mostrar o nível de contaminação do amendoim e seus derivados.
“Esta nova abordagem para detecção de substâncias diretamente sobre a superfície do amendoim tem provado ser um método rápido e reprodutível para outros grãos e sementes. Sem extensas etapas de preparação da amostra e sem o emprego de solventes orgânicos, esta técnica apresenta grande compromisso com as tendências de química verde. E a metodologia tem um alto nível de confiabilidade”, disse Rodrigo Ramos Catharino. Para o estudo realizado na Unicamp, os pesquisadores coletaram seis amostras de sacos de amendoim cru de uma mesma espécie, vendidos em lojas de supermercado em Campinas, São Paulo. Os sacos foram devidamente armazenados em um armário, livre de luz e a 25° C. As amostras foram utilizadas após um ano, a partir da data de expiração da validade. A pele do amendoim foi removida e a semente (polpa) foi cortada com uma lâmina de aço inoxidável para se obter fatias finas de aproximadamente um milímetro. As amostras – pele e polpa –foram pressionadas contra duas placas de sílica durante cinco minutos. Em seguida, as placas foram colocadas num instrumento de espectrometria de massas por imagem e submetidas a um laser ultravioleta de nitrogênio (leia texto nesta página). Os dados espectrais das amostras obtidos foram submetidos à análise estrutural, com confirmações através do software Mass Frontier. Como as experiências foram conduzidas com a pele e a polpa do amendoim, a distribuição espacial das moléculas foi comparada em ambas as regiões. Pela nova técnica, foi possível aos pesquisadores identificarem a presença de quatro tipos de aflatoxinas no núcleo do amendoim: B1, B2, G1 e G2. Eles também encontraram na pele do amendoim a presença de grande quantidade de resveratrol – até mais que na uva. “A análise de aflatoxinas é extremamente relevante em termos de saúde pública por causa de seus efeitos cancerígenos e hepatotoxicidade. A localização da molécula do resveratrol é também importante para a saúde e nutrição humana, uma vez que ele é benéfico”, disse Rodrigo Ramos Catharino.
MICOTOXINAS
E RESVERATROL
As micotoxinas são elementos tóxicos originárias de fungos que, sob certas condições
No sentido horário, o professor Rodrigo Ramos Catharino (em pé), Diogo Noin de Oliveira, Monica Siqueira Ferreira e Jeany Delafiori: metodologia com alto nível de confiabilidade
Amostra de amendoim usada nos experimentos: análise dos componentes presentes na pele e na polpa
Placa de sílica ‘prende’ moléculas A Espectrometria de Massas por Imagem (MSI) pode ser baseada, dentre diversas abordagens, em Ionização por Dessorção a Laser (LDI) na qual se utiliza um feixe de laser ultravioleta para ionizar moléculas (torná-las carregadas eletricamente). Nessa técnica, a amostra pode ser misturada ou coberta por uma matriz – no caso da pesquisa, a placa de sílica foi utilizada como esse suporte para “prender” as moléculas. Cada disparo de laser propicia rápida ionização e vaporização da amostra, levando-a para o estado gasoso. Em seguida, ela é enviada à parte ótica do equipamento para ser analisada.
de umidade, oxigênio e temperatura, se desenvolvem em produtos agrícolas e alimentos. Elas são estáveis e resistentes ao calor, portanto, difíceis de serem eliminadas. Uma das principais micotoxinas é a aflatoxina. A aflatoxina é responsável pela contaminação dos grãos de milho, trigo e, principalmente, do amendoim e seus derivados. Os efeitos da aflatoxina são cumulativos e podem provocar cirrose, câncer no fígado, hemorragia nos rins, hepatite do tipo B e lesões na pele. Além disso, os produtos do seu metabolismo reagem com o DNA do organismo, em nível celular, interferindo no sistema imunológico reduzindo, assim, a resistência a doenças. No caso específico do amendoim, a contaminação pode ocorrer em qualquer uma das diversas etapas do processo produtivo, desde a colheita até o comércio. Outra característica da contaminação por aflatoxina é que apenas um grão pode contaminar todo um lote de produção. “As aflatoxinas não são destruídas com o processo térmico. Não adianta torrar o amendoim; elas são estáveis à temperatura. Na paçoca e pé-de-moleque vai existir aflatoxina”, disse Catharino. Em contrapartida, os pesquisadores descobriram que o amendoim possui um grande quantidade de resveratrol – um polifenol encontrado principalmente na película e sementes de uva e no vinho tinto. Estudos parecem indicar que o resveratrol pode ajudar a diminuir os níveis de colesterol ruim (LDL) e aumentar os níveis de colesterol bom (HDL). “Descobrimos que a pele do amendoim também é riquíssima em resveratrol. Numa
“É como pegar um gigante, jogá-lo no ar e, em suspensão, ver todas as partes que o constituem. Isso é o que a LDI faz com as moléculas, sejam elas grandes ou pequenas”, explica Diogo. A MSI é uma técnica relativamente simples e multifuncional para identificar a distribuição espacial (bidimensional e, por vezes, tridimensional) de compostos em qualquer amostra física. Essa técnica pode ser adaptada a vários tipos de ionização. No caso da LDI, o princípio é muito simples: um feixe de laser é disparado em toda a extensão da amostra e produz um espectro de massas em determinado local que pode ser entendido como um “pixel”, que forma a imagem química final.
mesma análise, pudemos ver a presença das duas substâncias – para bem e para o mal”, disse Diogo. De acordo com os pesquisadores, todas as micotoxinas são metabolização de fungos. “É um processo natural de defesa”, disse Catharino. Um único esporo do fungo pode desencadear a contaminação e o principal fator que contribui para isso é a umidade. “Ao comprar amendoim, o consumidor deve observar nem tanto o prazo de validade, mas sim o acondicionamento do produto, se ele não está próximo ao chão ou lugares úmidos. Além disso, a forma como ele guarda o produto em casa vai garantir a segurança alimentar”, disse Diogo. “Não vamos conseguir viver 100% livres de micotoxinas. E nesse balanço, o resveratrol é o inverso. Por isso, não podemos dizer que o amendoim faz mal. Com essa pesquisa, queremos deixar o consumidor consciente do que ele está comprando e consumindo”, disse Catharino.
Publicação Artigo: “Rapid and simultaneos in situ assessment of aflatoxins and stilbenes using Silica Plate Imprinting Mass Spectrometry Imaging” Autores: de Oliveira, DN, Ferreira MS, Catharino RR Revista: PLoS ONE 9(3): e90901 Financiamento: Fapesp e Capes
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Campinas, 15 a 21 de setembro de 2014
PAINEL DA SEMANA Fórum de Arte, Cultura e Lazer - Com o tema “Cultura e Extensão Universitária: um diálogo necessário”, a próxima edição do Fórum Permanente de Arte, Cultura e Lazer acontece no dia 15 de setembro, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. A organização é do professor João Frederico da Costa Azevedo Meyer, PróReitor de Extensão e Assuntos Comunitários da Unicamp. Inscrições, programação e outras informações na página eletrônica http://www. foruns.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/arte62.html. O Fórum será transmitido (ao vivo) pela TV Unicamp. Processamento de sinais - O V Simpósio de Processamento de Sinais da Unicamp (SPS-Unicamp’2014) será realizado na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) nos dias 15, 16 e 17 de setembro. A abertura do evento ocorre às 9 horas, na sala da congregação da FEEC. O evento objetiva reunir professores, estudantes e pesquisadores que trabalham na área para exposição de resultados de pesquisas e discussão de ideias. O SPS-Unicamp é uma iniciativa de alunos de pós-graduação e de pesquisadores da Universidade. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas no site http://www. sps.fee.unicamp.br/. Mais informações: telefone 19-3521-3000. XI Semana de Agricultura Orgânica de Campinas Evento será realizado entre 15 e 20 de setembro, na Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), localizada na Avenida Brasil 2340, no Jardim Chapadão, em Campinas. A programação conta com uma série de mesas de discussão, oficinas e visitas técnicas sobre as temáticas da produção, consumo e políticas públicas voltadas à agricultura orgânica. A Semana será finalizada no Largo do Rosário, com uma feira de produtos orgânicos, onde serão realizadas oficinas, exposição de fotos, shows e orientação nutricional. Diversas parcerias institucionais e organizacionais organizam o evento, incluindo o Programa de Extensão em Agroecologia da Unicamp. Mais informações no link https://www.facebook.com/acidadeorganica ou telefone 19-3235-1566.
Palestra da Vreri - A Vice-Reitoria Executiva de Relações Internacionais (Vreri) organiza a palestra “Study at Ulsan, Work for Hyundai!”, na qual serão fornecidas orientações, informações e esclarecimento de dúvidas acerca das oportunidades de intercâmbio no âmbito do Programa Ciência Sem Fronteiras. A palestra acontece no auditório da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM), dia 15 de setembro, às 12 horas. V Simpósio de Profissionais da Unicamp - Evento ocorre de 16 a 18 de setembro, no Centro de Convenções da Unicamp. Terá exposição de pôsteres de trabalhos realizados ou desenvolvidos por profissionais de todos os segmentos da Unicamp, palestras, minicursos, atividades de integração e de cultura. O Simtec teve sua primeira edição em 1997. Foi retomado em 2008 e faz parte da agenda institucional da Unicamp, sendo realizado a cada dois anos. O V Simtec é organizado pelo GGBS, através de uma Comissão designada pelo reitor. A DGRH, a AFPU e o CECOM, órgãos da linha de Recursos Humanos da Universidade, também fazem parte da produção do evento. Mais detalhes no site http://www. simtec.gr.unicamp.br/simtec_5/ Prêmio Santander Universidade Solidária - Alunos e professores da Unicamp que tenham interesse ou que já realizem projetos sociais de desenvolvimento sustentável com ênfase em geração de renda podem se inscrever para o Prêmio Santander – Universidade Solidária. Serão selecionados oito projetos. Cada projeto vencedor receberá R$100 mil para implementação, além de suporte técnico especializado. O apoio terá duração de dois anos e o repasse de recursos será feito em duas parcelas (R$50 mil por ano). Os inscritos poderão realizar curso on-line de empreendedorismo, certificado pela Babson College. As inscrições podem ser feitas até às 18 horas de 18 de setembro pelo site http://universidades.ciatech.com.br/premios/inscricao#tabs-3 Afrikanizar - Formado por bailarinos do curso de Dança do Instituto de Artes (IA) da Unicamp, o grupo “Afrikanizar” faz apresentação gratuita, dia 18 de setembro, às 12h30, na sala CB II do Ciclo Básico. O evento faz parte do projeto SAE Ação Cultural. Mais informações pelo telefone 19-3521-7016 ou site http://acaocultural. sae.unicamp.br/ Cotil de Portas Abertas - O evento, organizado anualmente pelo Colégio Técnico de Limeira, ocorre nos dias 19 e 20 de setembro. O Cotil fica na rua Paschoal Marmo 1888, no Jardim Nova Itália, em Limeira-SP. Mais informações: 19-2113-3300.
EVENTOS FUTUROS
Cristalografia biológica e métodos complementares - “A cristalografia, para mim, é paixão”, diz a professora Iris Torriani, recém-chegada de Paris, onde participou da cerimônia de abertura do Ano Internacional da Cristalografia (IYCr2014) na sede da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), que reconhece assim a importância de uma técnica que vem permeando praticamente todas as áreas do conhecimento. Em Campinas, a docente da Unicamp está ajudando na organização da Reunião de Cúpula da América Latina, que acontecerá no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) de 22 a 24 de setembro, sob o tema “Cristalografia biológica e métodos complementares”. Leia mais em http://www.unicamp.br/unicamp/ noticias/2014/01/29/2014-o-ano-da-cristalografia
DESTAQUE
Nichos de mercado para o setor agroindustrial A Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) e a Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp são parceiras da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, na promoção do I Workshop de Nichos de Mercado para o Setor Agroindustrial, que será realizado, no Centro de Convenções da universidade, em Campinas-SP, nos dias 23 e 24 de setembro próximo. Mais: http://www.unicamp. br/unicamp/eventos/2014/07/31/nichos-de-mercado-para-o-setoragroindustrial Análise de discurso e psicanálise - O Laboratório de Estudos Urbanos (Labeurb) organiza entre os dias 23 e 25 de setembro, a partir das 9 horas, no auditório do Labeurb, a II Jornada Internacional de análise de discurso e psicanálise “Os nomes do sintoma” promovendo um espaço de discussão e encontro entre a Análise de Discurso, do domínio das Ciências da Linguagem, e a Psicanálise. A II JIAPD contará com conferências, mesas redondas e um minicurso e objetiva interrogar os processos de nomeação do sintoma, as novas formas patológicas, o excesso de medicalização e o mal-estar em nossa sociedade. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone 19-3521-7945 ou site http://www.labeurb.unicamp.br/jiadp Condições da vida e da morte no Brasil - O Núcleo de Estudos de População (Nepo) “Elza Berquó” organiza no dia 25 de setembro, às 9 horas, em seu auditório, o seminário “Condições da vida e da morte no Brasil: reflexões teóricas e metodológicas a partir dos inquéritos de saúde e sistemas de informação”. O evento está sob a organização do professor Everton Emanuel Campos de Lima (IFCH-Nepo). As inscrições podem ser feitas no dia do seminário, das 9 às 9h20. Mais informações: 19-3521-5900. Palestras e seminário do Programa Ciência sem Fronteiras - A Vice-Reitoria Executiva de Relações Internacionais (Vreri) organiza na quinta-feira, 25 de setembro, às 12h15, no auditório da Biblioteca Central César Lattes (BC-CL), palestra com Université de Montréal, na qual serão fornecidas orientações, informações e esclarecimento de dúvidas acerca das oportunidades de intercâmbio no âmbito do Programa Ciência Sem Fronteiras. Na sexta (26), às 12h30, no mesmo local, será realizado o Seminário Ciência sem Fronteiras e a Nova Zelândia, também no âmbito do Programa Ciência Sem Fronteiras (CSF). Na mesma linha, dia 26, às 13h15, ocorre a palestra Por que Austrália? Fórum de Física na indústria - De 28 de setembro a 3 de outubro a Unicamp vai sediar o Fórum de Física na Indústria (Industrial Physics Forum). O evento é organizado pelo Instituto Americano de Física (AIP) e pelo Centro Internacional de Física Teórica (ICTP) em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e com o braço Sul Americano do ICTP para Pesquisas Fundamentais (ICTP-SAIFR). O tema desta edição é “Capacitação em física industrial em economias emergentes”. O objetivo é promover a aproximação entre cientistas e indústria para atender às necessidades da sociedade relacionadas ao avanço tecnológico sustentável. O fórum é aberto a cientistas e estudantes de todos os países que são membros das Nações Unidas, da UNESCO ou da AIEA. O idioma oficial será o inglês. Não há taxa de inscrição e uma ajuda financeira estará disponível para um número selecionado de candidatos. Alunos de doutorado e jovens doutores, tanto do Brasil como de outros países, receberão apoio financeiro da Fapesp para a viagem e hospedagem. A conferência ocorrerá na Faculdade de Ciências Médicas, à rua Tessália Vieira de Camargo, 126, no campus de Campinas. Mais detalhes em inglês e inscrições pelo site http:// www.aip.org/industry/ipf/2014/capacity-building-industrial-physicsdeveloping-emerging-economies Jornada de Psicanálise - O Grupo de Estudos de Psicanálise (GEPSI) da Unicamp realiza, de 29 de setembro a 1 de
outubro, no Anfiteatro 1 da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), a I Jornada de Psicanálise com o tema “ A violência, o indivíduo e a sociedade”. Serão três noites de palestras e debates, sempre às 18h15, com especialistas no assunto. O evento é organizado pelos coordenadores do GEPSI e pelo professor Mário Eduardo Costa Pereira. A proposta da jornada é a de levantar a discussão sobre a violência no Brasil e seus impactos no indivíduo, na sociedade e consequentemente no sistema de saúde. No primeiro dia de evento, a professora Taniele Rui, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), fala sobre “Violência na atualidade”. No dia 30, o professor Mário Pereira, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), aborda: “Intervenção psicanalítica para a vítima da violência”. “Perversão, perversidade e violência: visão psicanalítica” é o tema que será tratado pelo professor Roosevelt Cassorla (FCM), em 1º de outubro. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail jornadagepsi@gmail.com Juventude e Educação - A Faculdade de Educação (FE), por meio do Laboratório de Estudos sobre Violência, Imaginário e Juventude (Violar), encerra, dia 29 de setembro, às 14 horas, no Salão Nobre da FE, a programação do III Seminário Violar com a mesaredonda “Educação e criação de novas possibilidades de vida: diálogos com a Arte”. Mais detalhes: http://www.fe.unicamp.br/semviolar/
TESES DA SEMANA Ciências Médicas - “Análise da resposta pró-inflamatória de macrófagos cultivados em substrato contendo nanotubos de carbono de parede múltipla (MWCNTs)” (mestrado). Candidata: Mirian Michelle Machado. Orientador: professor Marcus Alexandre Finzi Corat. Dia 19 de setembro de 2014, às 9h30, no anfiteatro da comissão de Pós-graduação da FCM. Educação Física - “Investigação dos modelos e das sequências ofensivas do Real Madrid e do F.C. Barcelona” (mestrado). Candidato: Bruno Baquete. Orientador: professor Antonio Carlos de Moraes. Dia 19 de setembro de 2014, às 9 horas, no auditório da FEF. Engenharia Elétrica e de Computação - “Modelo de propagação empírico para sistemas passivos em UHF” (doutorado). Candidato: Adriano Almeida Goes. Orientador: professor Paulo Cardieri. Dia 17 de setembro de 2014, às 10 horas, na CPG da FEEC. Linguagem - “Uso de técnicas acústicas para verificação de locutor em simulação experimental” (mestrado). Candidata: Aline de Paula Machado. Orientador: professor Plínio Almeida Barbosa. Dia 18 de setembro de 2014, às 10 horas, na sala de defesa de teses do IEL. Matemática - “Estimativas para n-larguras e números de entropia de conjuntos de funções suaves sobre o toro T^d” (doutorado). Candidato: Régis Leandro Braguim Stabile. Orientador: professor Sergio Antonio Tozoni. Dia 16 de setembro de 2014, às 10 horas, na sala 253 do Imecc. “Classificação relativa às ordens hierárquicas e propriedade de extensão” (doutorado). Candidato: Luciano Vianna Felix. Orientador: professor Marcelo Firer. Dia 16 de setembro de 2014, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. Odontologia - “Avaliação dos sintomas de obstrução nasal com uso da escala nose após expansão rápida da maxila cirurgicamente assistida” (mestrado). Candidato: Fabiano Menegat. Orientador: professor Valfrido Antonio Pereira Filho. Dia 18 de setembro de 2014, às 14 horas, na sala da congregação da FOP.
DO PORTAL
Mostra de fotografia reúne 24 trabalhos
nalógico e digital se fundem. É dentro desse contexto que 24 projetos fotográficos, dos 31 inscritos, acabam de ser selecionados para serem apresentados na Mostra Unicamp de Fotografia, que acontece de 6 a 31 de outubro na Universidade. As inscrições encerraram no último dia 29 de agosto. O objetivo do evento é abrir espaço para a difusão da produção fotográfica da comunidade da Unicamp, por meio de seus professores, alunos e funcionários. A Mostra Unicamp de Fotografia foi idealizada pelos fotógrafos Celso Palermo e Antonio Scarpinetti, este último jornalista da Ascom (Assessoria de Comunicação e Imprensa) da Unicamp. Eles tiveram a ideia de fazer uma mostra local, ao perceberem que, algumas exposições paralelas, dentro do mês Hércules Florence de Fotografia, tinham a presença de fotógrafos da Unicamp. “Pensamos então: por que não fazer uma mostra de forma ampliada, com envolvimento da comunidade universitária?”, comenta Scarpinetti. “Dessa intenção, surgiu um grupo de trabalho que já sonha com um projeto mais em longo prazo, ou seja, que produza bons resultados e que faça parte do calendário de atividades da Universidade”, afirma o fotógrafo da Ascom. A escolha das fotografias se pautou no desejo de contemplar a maioria dos participantes. As imagens foram classificadas nas categorias ensaios individuais e/ou coletivos e projetos expográficos de unidades/órgãos da Unicamp. “Em alguns projetos, a comissão organizadora sugeriu que fosse feita uma edição junto aos proponentes, para que se estabelecesse um fio condutor entre o conteúdo no conjunto de fotos propostas”, conta Scarpinetti. Foram alguns dos projetos selecionados: Infância na Unicamp? Sim - Zilda Oliveira de Faria; Mulheres Andinas - Lívia Peres; Natureza Nua - Francisco de Assis da Silva; O
Foto: Divulgação
PROGRAMAÇÃO
Além da Mostra, também haverá uma programação correndo paralelamente ao evento. Será realizada uma Mostra de Fotofilmes, Ciclo de Palestras e Atividades Práticas e uma Caminhada Fotográfica promovida pelo Núcleo de Fotógrafos Amadores da Unicamp (Nufau), prevista para o dia 11 de outubro. A Mostra Unicamp de Fotografias acontecerá em espaços como a Faculdade de Ciências Médicas (FCM), a Coordenadoria de Desenvolvimento Cultural (CDC), o Espaço Cultural Casa do Lago, o auditório do Instituto de Artes (IA), o hall do Ciclo Básico, o Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), a Biblioteca do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e o hall da Agência para a Formação Profissional da Unicamp (AFPU), entre outros. É apoiada pelo Grupo Gestor de Benefícios Sociais (GGBS), a Coordenadoria de Desenvovimento Cultural (CDC), a Ascom e a Coordenadoria de Assuntos Comunitários (CAC). Fazem parte da comissão executiva Antonio Scarpinetti (Ascom), Celso Palermo (IA), Fabio Cerqueira e Danilo Negreti (Coordenadoria de Desenvolvimento), Eliana Pietrobom e Emilton Oliveira (Faculdade de Ciências Médicas), professor Fernando de Tacca (Instituto de Artes), Marli Marcondes e Cássia Denise Gonçalves (Centro de Memória), que selecionaram as fotografias. (Isabel Gardenal) Foto de Caroline Neumann, uma das selecionadas para a Mostra Unicamp de Fotografia, que acontece de 6 a 31 de outubro
Ciclo Básico, sua Praça Central e a Estiagem - Antonio Carlos da Costa; O Preto e o Branco - Rosane Rocha; Petits Miracles - Sayuri Tomazini Motoshima; Mãos que Alimentam - Ronei Aparecido Thezolin; Umutina - Everaldo Luis Silva. O funcionário da Diretoria Acadêmica (DAC) Rodrigo Junqueira, por exemplo, que
é filho de paraenses, embarcou numa viagem para o Norte do país e lá construiu seu projeto, o qual ele chamou “Raízes do Norte”. Segundo Scarpinetti, diferentes artistas, todos da Unicamp, emprestam os seus olhares para enriquecer a exposição. A ideia é que haja essa importante participação e que o público vá conhecer e prestigiar os novos olhares.
Serviço Mostra Unicamp de Fotografia Local: Espaços expositivos da Unicamp Data: 6 a 31 de outubro Horário: a definir Entrada: gratuita
Energia elétrica na medida certa
11 Foto: Antonio Scarpinetti
Campinas, 15 a 21 de setembro de 2014
Pesquisador desenvolve metodologia que leva em conta as variações do consumo
Fotos: Antoninho Perri
CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br
energia elétrica que chega às residências, ao comércio e à indústria não tem demanda uniforme ao longo do dia e mesmo dos meses. A impossibilidade de estocá-la impõe que sua geração se dê na medida do consumo, que passa por mínimos e máximos que devem ser considerados pelas distribuidoras. Como prever e atender a essas variações de modo a evitar faltas ou desperdícios? É o que mostra a dissertação de mestrado desenvolvida pelo cientista de computação Mateus Neves Barreto, junto ao Departamento de Sistema Elétrico da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp, orientada pelo professor Takaaki Ohishi, que faz “Uma abordagem para a previsão de carga crítica do Sistema Elétrico Brasileiro”. O Sistema Elétrico Brasileiro (SEB), constituído pelas geradoras, transmissoras e distribuidoras, atende cerca de 97% da demanda de energia elétrica nacional. Com hidroelétricas distantes do grande centro consumidor, o Sudeste, e necessidade de cobrir um extenso território, o sistema impõe transmissão de larga escala capaz de garantir segurança e economia. Como a energia elétrica constitui um insumo não estocável, há necessidade de um grande planejamento para seu uso racional, pois a previsão de produção acima da demanda leva ao desperdício – prejuízo rateado entre os consumidores – e abaixo dela pode até causar apagões. O Operador Nacional do Sistema Elétrico Brasileiro (ONS) – com sedes nas cinco regiões brasileiras – é o organismo governamental coordenador de todos os agentes de distribuição e produção de energia elétrica. Fazendo previsões de consumo para cada hora do dia, ou até para intervalos menores, o ONS determina a quantidade de energia que as geradoras devem entregar aos agentes distribuidores durante todos os intervalos dos dias ao longo do ano. Esse estudo é feito com base nos dados históricos que o órgão possui e nas previsões de demanda que recebe com antecedência das distribuidoras. Estas estabelecem as previsões com base nas expectativas de consumo histórico de cada uma de suas subestações que atendem bairros ou regiões. Mas desses registros acumulados ao longo do tempo constam dados que, por questões de várias ordens, nem sempre são confiáveis e precisam ser escoimados. Então há necessidade de inicialmente tratar esse histórico fornecido pelas distribuidoras, o que não se revela um problema fácil devido ao grande número de subestações. Está dificuldade é profundamente ampliada pelo fato de que essas variações de consumo devem ser determinadas em intervalos de até 15 minutos, de forma a
Publicação Dissertação: “Uma abordagem para a previsão de carga crítica do Sistema Elétrico Brasileiro” Autor: Mateus Neves Barreto Orientador: Takaaki Ohishi Coorientador: Ricardo Menezes Salgado Unidade: Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC)
Mateus Neves Barreto, autor da dissertação: simplificando o trabalho de especialistas
representar com mais precisão a variação de demanda de energia elétrica. A manipulação dessa multiplicidade de dados, além de consumir muito tempo, dificulta previsões com precisão mais adequada. A importância de prever a demanda de energia ao longo de dias e meses está totalmente ligada à escassez e à necessidade de geração. Com os reservatórios em nível baixo, o Brasil enfrenta atualmente um período de escassez. Um planejamento de distribuição adequado à demanda é importante para que a perda seja mínima, mesmo porque no país a energia elétrica ainda é cara para o consumidor devido aos custos operacionais. O professor Takaaki esclarece que as distribuidoras compram das geradoras em leilões a energia elétrica de acordo com o consumo previsto e pagam, mesmo que não a utilizem, e é claro que esse custo é rateado entre os consumidores.
CARGA CRÍTICA
Para garantir segurança e economia de operação do SEB são analisadas as operações dos sistemas de geração e transmissão com alguns meses de antecedência. Estes estudos são realizados com base nas condições de cargas críticas, pois se supõem que ao suportar estas condições o sistema se mostrará capaz de apresentar nível adequado de segurança. A ideia é preparar o sistema para suportar as condições mais severas de carga. Atualmente as previsões das curvas de cargas críticas são realizadas pelos agentes de distribuição e pelo ONS empiricamente, procedimentos que, além de demandar muito tempo de técnicos e engenheiros, estão mais sujeitos a erros. Esclareça-se: as cargas críticas devem ser determinadas em relação a cada barramento de carga, que é o ponto em que a energia chega das usinas às subestações que a distribui. Os barramentos de carga são responsáveis pelo atendimento da demanda de energia de pequenas regiões como bairros, distritos industriais ou residenciais e locais menores. As várias agências distribuidoras brasileiras, como CPFL, Light etc., utilizam em torno de cinco mil barramentos, o que torna precário o processo manual de determinação de suas curvas críticas. Diante disso, é desejável automatizar esses processos através de metodologias que permitam previsões de curvas de cargas críticas com boa acurácia e aplicáveis a cada um dos barramentos das subestações. O
estudo realizado por Mateus contribui para a simplificação do trabalho dos especialistas que passariam a ter a função de apenas validar as previsões. Foi no desenvolvimento de uma metodologia mais funcional para esse fim que se concentrou o estudo realizado por Mateus Neves Barreto. O projeto objetivou o desenvolvimento de abordagens para a previsão mensal da curva crítica global e por barramento dos agentes do SEB. O pesquisador adianta que os erros médios absolutos próximos a 3%, decorrentes da aplicação das metodologias empregadas nas previsões das cargas críticas, podem ser considerados satisfatórios e compatíveis com procedimentos em vigor. Takaaki lembra que até a década de 1990 não se fazia previsão em relação ao consumo por barramento. No início dos anos 2000 ele foi convidado a participar de um workshop promovido pelo ONS, no Rio, em que foram alinhados problemas que o órgão visualizava para os próximos anos. Um deles era a previsão do consumo por barramento. “Eu iniciei então os estudos nessa área e os primeiros trabalhos publicados foram desenvolvidos por Ricardo Menezes Salgado, na ocasião meu orientado de mestrado e doutorado, hoje docente da Universidade Federal de Alfenas. No mestrado ele mostrou como realizar em curto prazo a previsão de consumo de energia elétrica para o dia seguinte, hora a hora. Já com a utilização da carga crítica a preocupação foi com a previsão de consumo para meses. Essa é a grande diferença entre os trabalhos de Ricardo e Mateus, de quem Ricardo foi coorientador”.
DESENVOLVIMENTO
E CONCLUSÕES
No trabalho, Mateus apresenta metodologias que podem ser utilizadas para a determinação da carga crítica de 15 em 15 minutos e de hora em hora. Para tanto, se valeu de todos os consumos diários de um mês e utilizou as maiores e menores cargas utilizadas em dois períodos básicos do dia: a carga leve observada no período determinado entre a primeira e oitava hora do dia e as cargas médias e pesadas consumidas nas horas restantes. A curva da carga crítica resulta da combinação das curvas determinadas pelas cargas mínimas e máximas. O termo crítico decorre do fato de que erros na determinação das cargas máximas e mínimas levam a riscos. Um sistema
preparado para operar nas faixas críticas estará apto a suportar quaisquer condições de carga nesse intervalo. Embora os agentes distribuidores de energia elétrica forneçam previsões de consumo ao ONS em relação a cada barramento, como não assumem os prejuízos decorrentes do desperdício, cumprem simplesmente a obrigação e não investem em pesquisas com vistas à maior acurácia das previsões com base nas curvas de cargas criticas. “O nosso estudo visou então desenvolver metodologias com esse objetivo, já que apenas o ONS e os agentes distribuidores trabalham com cargas críticas. Como ninguém ainda tinha se dedicado a esse estudo no Brasil não tive com utilizar referências”, diz o pesquisador. Como já foi mencionado, a partir de dados históricos de cada barramento, que os agentes distribuidores obrigatoriamente entregam ao ONS, devidamente escoimados de erros, o pesquisador gerou curvas de cargas críticas com base em três modelos: dois deles utilizam Redes Neurais Artificiais e um terceiro Suavização Exponencial de Holt-Winters. A partir daí o autor partiu para a validação das metodologias. Para cada barramento, com base no histórico de cinco anos, de 2007 a 2011, ele utilizou cada um dos métodos para determinar as curvas críticas de carga de quatro anos. Com base nelas, ele previu o que deveria ter acontecido no quinto ano, cujos dados reais também dispunha para estabelecer a comparação. Os métodos utilizados levaram a erros de no máximo 5% e nos melhores resultados eles foram menores que 3%. O ONS confirmou a validade das metodologias para a criação de curvas de carga crítica. Para Mateus, trata-se de um estudo de capital importância para o Brasil que precisa dessa metodologia cada vez mais acurada e que, por isso, quanto mais estudos forem gerados em relação a ela maior a agilidade de avaliação para o ONS. Ele acredita que o método desenvolvido possa ser aplicado para quaisquer barramentos de quaisquer agentes distribuidores, bastando que os engenheiros insiram os dados para obtenção de uma previsão confiável. Atualmente os técnicos empregam tratamentos diferentes para barramentos diferentes. A propósito, ele considera que o tratamento de dados de forma genérica, a partir de problemas específicos, com vistas a atingir bons resultados, não é uma tarefa trivial.
O professor Takaaki Ohishi: custo final acaba sendo rateado entre os consumidores
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Campinas, 15 a 21 de setembro de 2014
Tese resgata protagonismo de Massaini no cinema nacional CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br
história do cinema brasileira costuma ser contada como uma sequência de rupturas – como, por exemplo, ascensão e queda dos estúdios Atlântida e Vera Cruz, início e fim da era das chanchadas, do Cinema Novo, criação e desmonte da Embrafilme. Essa linha narrativa ignora um caso excepcional de continuidade, a trajetória do produtor e distribuidor Oswaldo Massaini (1920-1994), que entre as décadas de 40 e 80 produziu mais de uma centena de filmes, incluindo o único vencedor sulamericano do Festival de Cannes, com a Palma de Ouro para “O Pagador de Promessas” (1962), dirigido por Anselmo Duarte. “Há numa espécie de lacuna na historiografia do cinema brasileiro”, disse ao Jornal da Unicamp o pesquisador e crítico de cinema Luciano Ramos. “Se você olhar para a historiografia acadêmica, são vários os estudos que tentam explicar por que o cinema nacional não vai para frente, por que tudo acaba tão depressa. Há uma grande preocupação com a descontinuidade, mas o Massaini é um exemplo de continuidade”. Ramos é autor da tese de doutorado “Oswaldo Massaini: um produtor na história do cinema brasileiro”, defendida no Instituto de Artes da Unicamp. A tese resgata a história da relação pessoal e profissional de Massaini com o cinema, e com o cinema nacional em particular. Lembrando a atividade de Massini como distribuidor, Ramos diz que a relação daquele empresário com a produção brasileira era “ideológica, não racional, em termos de como se entende a racionalidade capitalista. Ele só trabalhava com filmes brasileiros, o que era, portanto, uma questão afetiva”. Essa “falta de racionalidade”, no entanto, não impediu que a empresa criada por Massaini para distribuir e, depois, produzir filmes, a Cinedistri, sobrevivesse e prosperasse. A Cinearte é a firma sucessora da Cinedistri e ainda se encontra em atividade, sob o comando de um filho de Oswaldo, Aníbal Massaini Neto. “ ‘Pelé Eterno’ é uma produção recente dela”, lembra Ramos.
PILARES Massaini trabalhava com “rede social antes das redes sociais”, informa o pesquisador. “Investia com insistência e afinco numa rede de relacionamentos, o que é um aspecto pouco estudado. Por exemplo, de todo mundo ele registrava data de aniversário e mandava cartão, escrito com a caligrafia dele, o que era um toque pessoal. Isso gerava um capital político, no sentido de política da categoria, política cinematográfica”.
A tese de Ramos defende a hipótese de que o sucesso e a longevidade dos empreendimentos de Massini se assentaram em cinco pilares: unicidade; continuidade; estabilidade; intencionalidade; e flexibilidade. A continuidade vem do fato de a Cinedistri, distribuidora criada por Massaini em 1949, ser sucessora direta da Cinédia Distribuidora, companhia estabelecida em São Paulo pelo produtor carioca Adhemar Gonzaga (1901-1978) para distribuir seus filmes no sul do país. Massaini era o gestor dessa distribuidora e quando Gonzaga decidiu fechar o escritório paulista, legou sua carteira de clientes a Massaini, que criou a Cinedistri, nome que corresponde ao endereço telegráfico da antiga Cinédia Distribuidora. “Os clientes só perceberam a mudança ao emitir a primeira nota fiscal contra a nova distribuidora”, escreve Ramos em sua tese. “Isso significa que estamos diante de uma empresa distribuidora e produtora de filmes que, na prática, teve o seu verdadeiro início em 1930, com a fundação da Cinédia da qual se desprendeu, como um ramo que brota do tronco de uma árvore para gerar novos frutos”. Na questão da unicidade, Ramos diz que Massaini foi original nas soluções empresariais que encontrou para sustentar seu negócio. “Ele fez dezenas de filmes e se tornou um grande produtor sem empatar capital em estúdios ou contratar profissionais fixos”, disse. “Massaini chamava sempre as mesmas pessoas para trabalhar com ele, os melhores técnicos. Não contratava pela CLT, mas todos sabiam que, se o filme desse certo, os seus colaboradores seriam chamados para o próximo projeto”. A estabilidade vinha de uma palpável “firmeza institucional”, nas palavras de Ramos: “Ele reinvestia em cinema o dinheiro que ganhava com os filmes. E, como distribuidor, foi um defensor do prestígio da atividade, que muitos produtores e exibidores viam como a de um mero atravessador. Em 1952, chegou a propor um código de ética para a distribuição de filmes”. A flexibilidade aparecia na capacidade de Massaini se adaptar ao gosto do público. “Ele começou com um filme sério, um drama sobre prostituição, foi para a comédia, a chanchada, mas depois acabou fazendo ‘O Pagador de Promessas’”, disse o pesquisador. “Ele se mantinha atento aos resultados da bilheteria, e chegou a contratar o Mazzaropi que trabalhava na Vera Cruz”, e que depois iria criar sua própria distribuidora. “Lançou o Ankito, que era artista de circo antes de virar astro de chanchada e contratou a Dercy Gonçalves. Mantinha-se sempre atento: quando aderiu ao ciclo dos filmes sobre cangaço, foi porque viu o sucesso de “O Cangaceiro” (produção de 1953 da Vera Cruz) e de “A Morte Comanda o Cangaço” (produção de Aurora Duarte em 1960).” Foto: Divulgação
O crítico Luciano Ramos, autor da tese: “Massaini era um produtor com olhar de distribuidor”
Foto: Reprodução
uma trajetória semelhante. O financiamento para ‘Absolutamente Certo’, primeiro filme dirigido por ele, aliás, quase não saiu porque os bancos relutavam em pôr dinheiro na mão de um galã. Os recursos só foram aprovados graças ao prestígio do Massaini”.
ESTADO
Cena de “O Pagador de Promessas”, filme produzido por Massaini
Como distribuidor, explica Ramos, Massaini tinha mais contato, e mais responsabilidades, com um público mais amplo do que produtores e exibidores. “O distribuidor precisava cuidar da promoção do filme em escala nacional e fazer o que hoje chamamos de assessoria de imprensa”, disse o pesquisador. “Tinha de desenvolver uma visão do mercado nacional, saber para onde mandar o filme”. O exibidor, por sua vez, tinha como preocupação principal sua bilheteria específica, e muitas vezes preferia o filme estrangeiro, de retorno mais garantido. “Massaini era um produtor com olhar de distribuidor. A Cinedistri foi o que faltou à Vera Cruz e ao Cinema Novo”, afirma o pesquisador. A Vera Cruz, um estúdio criado pela elite paulista para produzir filmes de qualidade internacional, durou menos de dez anos, entre o fim dos anos 40 e meados da década de 50.
ESTÉTICA
O quinto pilar do sucesso de Massaini, a intencionalidade, aparece nessa preocupação de manter o dedo no pulso dos exibidores e do público, decidindo que filmes fazer e como fazer. De modo igualmente deliberado, impulsionou, por exemplo, a carreira de Ankito como ator de chanchadas, assim como a de Anselmo Duarte, originalmente um galã romântico, como cineasta. A tese cita, como exemplo dessa capacidade de visão, trecho de depoimento do empresário ao Museu da Imagem e do Som: “Sempre que podia, eu pensava num cinema mais sério, mais evoluído, uma coisa que se sobressaísse. Porque também a televisão me obrigou a tomar outro rumo. Ou seja, aquele espetáculo de gênero eminentemente popular que eu produzia começou a aparecer pela televisão!” O trabalho de Ramos argumenta que Massaini tinha parâmetros estéticos que buscava manter em todos os filmes que produzia. Segundo Ramos, “ele acreditava que uma história bem contada e bem produzida sempre teria público. As comédias musicais dele recebiam o rótulo de chanchadas, mas ele dava um toque de qualidade que as diferenciava das chanchadas da Atlântida”, produtora carioca que se dedicava exclusivamente ao gênero. “Ele contratava os melhores técnicos e, assim, alcançava uma qualidade extra. O público percebia que o Massaini conseguiu uma síntese entre o apuro técnico da Vera Cruz e o charme carioca. E aí entra a importância da estabilidade: o hábito de trabalhar sempre com os mesmos colaboradores. Ele não assinava carteira, mas garantia trabalho”. O trabalho com o empresário acabava servindo de escola para vários profissionais. “O escritor de novelas Silvio de Abreu começou como ator do Massaini, em seguida trabalhou como roteirista, assistente de direção e direção”, conta. “E o galã Anselmo Duarte teve
Diferentemente do Cinema Novo, que nas palavras de Ramos “colonizou” a Embrafilme, e do cinema brasileiro atual, dependente de leis de incentivo fiscal, Massaini só muito raramente se beneficiou de apoio financeiro governamental. “Mesmo ‘Independência ou Morte’ (de Carlos Coimbra, 1972) não recebeu verbas do governo... Foi o governo que depois se aproveitou da popularidade do filme”, diz o pesquisador. “Muita gente ainda acha que ‘Independência ou Morte’ foi encomendado pela ditadura, mas tratava-se de um projeto que visava aproveitar comercialmente o sesquicentenário da Independência. Depois de pronto, o Médici (Emílio Garrastazu Médici, que governou o Brasil de 1969 a 1974) viu o filme e adorou. Na verdade, o governo só ficou sabendo do ‘Independência ou Morte’ quando a fita foi enviada para a censura”. “O filho dele eventualmente recorreu a financiamentos da Embrafilme para os seus projetos na Cinearte, mas o Oswaldo Massaini não usou dinheiro do Estado”, diz Ramos. Como exceção, “A Madona de Cedro” (de 1968) foi realizado em coprodução com a Metro, por meio da lei de remessa de lucro. Foi a entrada do Estado no ramo de distribuição cinematográfica, aliás, o que marcou a decadência da Cinedistri. “Inicialmente a Embrafilme não se envolveu com a comercialização de filmes. Por meio de um depoimento de Durval Gomes Garcia, que foi presidente do Instituto Nacional de Cinema, a tese levanta a possibilidade de um pacto entre a Cinedistri e a nova estatal. A partir de 1973 e, mais fortemente de 1975, foi a entrada no mercado da distribuidora da Embrafilme o que determinou o fim da Cinedistri”, afirma o pesquisador. Ramos atribui a negligência da historiografia e da academia para com a produção de Massaini a um acidente histórico: o início dos estudos sobre cinema no meio universitário coincidiu com o auge do Cinema Novo. “O pessoal queria derrubar o capitalismo e, portanto, detestava o cinema americano e os filmes de entretenimento: o que valia era a Nouvelle Vague e Neorrealismo. No Brasil, era o momento do Cinema Novo. Uma boa parte dos nossos estudos acadêmicos trata da obra de Glauber Rocha. Portanto, o Cinema Novo deixava na sombra o Massaini, e todo o gênero da comédia musical”.
SAMURAIS E CANGACEIROS O pesquisador cita com satisfação algumas “descobertas colaterais“ que fez ao pesquisar sua tese, “que não fogem do tema, mas iluminam pequenos temas”. Uma delas trata da coincidência temporal entre o ciclo dos filmes de cangaço, no Brasil, e dos filmes de samurai, no Japão. A tese relata como Shiro Kido, produtor japonês e pai dos filmes de samurai, encontrou-se com Massaini, em São Paulo: “Ele se encantou pelas aventuras de cangaceiro, em particular com ‘Lampião, o Rei do Cangaço’. Na ocasião, Kido adquiriu os direitos daquele título para lançar no Japão, além de ‘O Pagador de Promessas’ e de ‘A Ilha’ de (Walter Hugo) Khoury – todos com distribuição da Cinedistri – tornando-se assim o primeiro empresário nipônico a mostrar nossos filmes por lá”.
Publicação Tese: “Oswaldo Massaini: um produtor na história do cinema brasileiro” Autor: Luciano Ramos Orientador: Fernão Pessoa Ramos Unidade: Instituto de Artes (IA)