Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Page 1

CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Primatology Center


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Primatology Center

1


Governo do Estado do Rio de Janeiro RIO DE JANEIRO STATE GOVERNMENT Luiz Fernando de Souza, governador / governor Francisco Dornelles, vice-governador / vice-governor

Secretaria de Estado do Ambiente (SEA) STATE SECRETARY OF THE ENVIRONMENT André Corrêa, secretário / secretary

Instituto Estadual do Ambiente (Inea) STATE ENVIRONMENTAL AGENCY Marcus de Almeida Lima, presidente / president Rafael de Souza Ferreira, vice-presidente / vice-president Diretoria de Biodiversidade e Áreas Protegidas (Dibap) Paulo Schiavo Júnior, diretor / director Diretoria de Administração e Finanças (Diafi) Lincoln Nunes Murcia, diretor / director Diretoria de Gestão das Águas e do Território (Digat) Eliane Pinto Barbosa, diretora / director Diretoria de Informação, Monitoramento e Fiscalização (Dimfis) Ana Paula de Oliveira da Costa, diretora / director Diretoria de Licenciamento Ambiental (Dilam) José Maria Mesquita Junior, diretor / director Diretoria de Recuperação Ambiental (Diram) Marco Aurélio Damato Porto, diretor / director




Rio de Janeiro Setembro 2015

CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Primatology Center


Direitos desta edição do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) ©State Environmental Agency Av. Venezuela, 110 - Saúde - Rio de Janeiro - RJ - Brasil - CEP 20081-312 À exceção das fotografias, qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que citada a fonte. Except for photographs, any part of this publication may be reproduced with the appropriate citation. Disponível para download em / Also available for download at: www.inea.rj.gov.br > Estudos e Publicações > Publicações

Organização e coordenação editorial EDITOR Tania Machado Colaboração especial SPECIAL COLLABORATION Adelmar Faria Coimbra-Filho e Alcides Pissinatti Assistente / Assistant | Sandro Carneiro Produção / Production | Gerência de Informação e Acervo Técnico (Geiat) Texto / Text | Tania Machado Sandro Carneiro Doze + Comunicação e Jornalismo Ltda. Revisão técnica / Technical review | Anthony B. Rylands Revisão / Proofreading | Sandro Carneiro Versão / English version | Dorothy Sue Dunn de Araújo Anthony B. Rylands Normatização bibliográfica / Bibliography | Josete Medeiros Fotos / Photographs | Ricardo Siqueira, Solvin Zankl e outros Projeto gráfico / Graphic design | Conceito Comunicação Integrada Ideorama Comunicação Pré-impressão e impressão / Preprinting and printing | WalPrint Gráfica e Editora Produzido com recursos do / Financed by: Fundo Estadual de Conservação Ambiental e Desenvolvimento Urbano (Fecam)

I59 Instituto Estadual do Ambiente. Centro de Primatologia do Rio de Janeiro = Rio de Janeiro Primatology Center / Instituto Estadual do Ambiente. – Rio de Janeiro : INEA, 2015. 292 p. : il. color. Bibliografia: p. 269-271. ISBN: 978-85-63884-19-0 1. Centro de Primatologia do Rio de Janeiro – História. 2. Primata – Ecologia – Rio de Janeiro (Estado). 3. Hábitat (Ecologia). I. Título. CDU: 599.8:64.044.3(815.3)




A todos os servidores da extinta Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema), a todas as instituições e pesquisadores, nacionais e estrangeiros, que ajudaram a construir e transformar o Centro de Primatologia do Rio de Janeiro (CPRJ) numa referência mundial na conservação de primatas neotropicais. Aos servidores do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), os atuais mantenedores deste legado.

To the employees of Feema, the State Foundation of Environmental Engineering, to the institutions and researchers, both foreign and domestic, who helped build and transform the Rio de Janeiro Primatology Center (RJPC) into a worldwide reference for the conservation of Neotropical primates. To the employees of Inea, the State Environmental Agency, current keepers of this legacy.


Agradecimentos Thanks Conservation Internacional (CI): Anthony B. Rylands, Russell A. Mittermeier e Stephen D. Nash Fotógrafos Solvin Zankl, Gustavo Pedro, João Quental e A. Rifan Desembargador Elton M. C. Leme Reserva Biológica União: Whitson Costa Junior Reserva Biológica de Poço das Antas: Gustavo Luna Peixoto Parque Estadual do Morro do Diabo: Cláudio Valladares Pádua e Gabriela Cabral Rezende Associação Mico-Leão-Dourado: Luis Paulo Ferraz Instituto Pri-Matas: Cecília Kierulff SEA: Denise Marçal Rambaldi MGI Tecnogin



Apresentação Presentation

N

o auge de sua arrogância, o Homo sapiens, ao longo dos últimos séculos, colocou-se no centro das atenções do planeta, usando e abusando da natureza para suprir não apenas as suas necessidades básicas, mas também seus caprichos. Neste roteiro suicida, comprometeu a sobrevivência de outras espécies, como os primatas. Observando o olhar e as mãos dos animais retratados nesta publicação, fica ainda mais claro o quanto somos responsáveis por sua sobrevivência. Motivo de orgulho para o Estado, o Centro de Primatologia do Rio de Janeiro dedica-se ao estudo e à conservação de primatas há mais de três décadas. Muito mais do que ser apenas um marco comemorativo dos 35 anos da criação do complexo, esta publicação pretende render uma homenagem a todos os servidores e parceiros que, em sua passagem pelo CPRJ, contribuíram para a excelência do trabalho desenvolvido no local, em especial a Adelmar Coimbra-Filho e Alcides Pissinatti. Duas das maiores autoridades brasileiras no estudo de primatas neotropicais, Coimbra-Filho e Pissinatti tornaram o CPRJ conhecido e respeitado internacionalmente ao ajudarem a salvar várias espécies da extinção. Não fossem o caminho aberto pelo fundador do Centro no começo dos anos 1960 e o prosseguimento que ele e seu sucessor deram a iniciativas surgidas desde então, possivelmente não encontraríamos mais nas matas fluminenses

W

ith man´s arrogance at a peak, over the past few centuries, Homo sapiens has stepped into the spotlight on the planet, using and abusing nature not only to furnish his basic needs but also to satisfy his whims. On this suicide course, the survival of other species such as primates is uncertain. As one sees the look in their eyes and observes the hands of the animals pictured in this publication, it is even clearer how much their survival depends on us. The work at the Rio de Janeiro Primatology Center is a source of pride for the State and has been dedicated to the study and conservation of primates for over three decades. More than merely a commemorative event of the 35 years since the Center came to be, this publication is intended to be a tribute to all the employees and partners who, in passing through the RJPC, contributed to the excellence of the work done there, in particular Adelmar F. Coimbra-Filho and Alcides Pissinatti. Two of the most important Brazilian specialists in the study of Neotropical primates, Coimbra-Filho and Pissinatti have brought the RJPC international recognition and respect for their work in helping to save several species from extinction. Were it not for the door that was opened by the founder of the Center in the early 1960s, plus the ongoing effort by Coimbra-Filho and Pissinatti to follow up on the initiatives that have emerged since then, it might not be possible, today, to find individuals of the golden


representantes do mico-leão-dourado, símbolo da conservação ambiental no Brasil. O livro que chega às suas mãos, bilíngue e ricamente ilustrado, contempla a história e a infraestrutura do CPRJ, os programas desenvolvidos na preservação de primatas e na restauração florestal, a trajetória de Coimbra-Filho na luta pela conservação e a dedicação de seu sucessor, Pissinatti. É, também, uma retribuição a anos de conhecimento gerado pelo Centro, que, desde que foi criado, participa de programas de pesquisas e conservação em cooperação com instituições e cientistas nacionais e estrangeiros (alguns, inclusive, gentilmente colaboraram para a produção desta obra, uma clara medida do prestígio que o CPRJ e seus fundadores inspiram entre seus pares). Com esta publicação, a SEA e o Inea pretendem também enaltecer o compromisso de valorizar o esforço e a dedicação com que os seus servidores exercem suas funções. Além disso, acreditamos que, com mais este lançamento, pode-se considerar cumprido o dever das duas instituições de informar à sociedade aquilo que fazem para proteger o patrimônio natural e, ao mesmo tempo, promover o desenvolvimento sustentável do Estado, ainda que o conteúdo aqui apresentado represente apenas parte das políticas e ações com este fim. Conheçam, agora, uma pequena mostra desse trabalho de resgate da nossa responsabilidade perante nossos companheiros de passagem por esse planeta.

lion tamarin in Rio de Janeiro State, this symbol of environmental conservation in Brazil. The book you hold in your hand is bilingual and richly illustrated. It includes the history and infrastructure of the RJPC, the conservation programs created for primates and for forest restoration, Coimbra-Filho’s trajectory in the fight for conservation plus the dedication of his successor Pissinatti. It is also a tribute to the years of knowledge, born at the Center. Since its creation, the staff has participated in research and conservation programs, cooperating with Brazilian and foreign institutions and scientists (some have even kindly contributed to this book, a clear indication of the prestige that the RJPC and its founders inspire in its peers). With this publication, the intention of SEA, the State Secretary of the Environment, and Inea, the State Environmental Agency, is to honor as well the commitment of effort and dedication with which the employees carry out their duties. In addition, we believe that, with this book, the obligation of the two institutions to inform the public as to what they do to protect our natural heritage and, at the same time, promote sustainable development within the State, has been fulfilled even if the content presented here represents only part of the policies and activities to this end. Now you shall see a small part of our work and responsibility towards our fellow man who is passing by this planet.

André Corrêa, secretário / secretary Secretaria de Estado do Ambiente (SEA) / STATE SECRETARY OF THE ENVIRONMENT Marcus de Almeida Lima, presidente / president Instituto Estadual do Ambiente (Inea) / STATE ENVIRONMENTAL AGENCY



Prefácio Foreword

É

um enorme prazer escrever o prefácio deste livro extraordinário, que oferece uma revisão bastante completa da história do Centro de Primatologia do Rio de Janeiro (CPRJ) e das vidas de dois grandes pioneiros da primatologia no Brasil: Adelmar F. Coimbra-Filho e Alcides Pissinatti. É justo dizer que esses dois cavalheiros e o centro por eles criado há 36 anos não são apenas grandes líderes em primatologia, como têm realizado, ao longo das décadas, importantes contribuições para o desenvolvimento da conservação da biodiversidade em todo o país e na América do Sul como um todo. Conheço Adelmar F. Coimbra-Filho há cerca de 45 anos e Alcides Pissinatti quase o mesmo tempo. Foi no começo de 1971 que fiquei sabendo do trabalho do Coimbra, quando visitei Barbara Harrison, então líder do IUCN/SSC Primate Specialist Group, em seu escritório na Universidade de Cornell, em Nova York. Eu havia decidido explorar a América do Sul após minha graduação na Universidade Dartmouth em junho daquele ano, e estava conversando com Barbara sobre o que ela sabia da conservação naquele continente – que era então uma verdadeira fronteira da área. À época, eu estava completando uma revisão de tudo o que se sabia sobre primatas neotropicais, e Barbara me indicou dois artigos que eu não conhecia, ambos publicados por Coimbra em 1970. Os textos detalhavam sua descoberta de duas “espécies misteriosas”, o mico-leão-de-cara-dourada e o mico-leão-preto. Os textos estavam escritos em português, língua que até então eu não dominava, mas consegui entender por alto o que eles diziam a partir do meu conhecimento de espanhol. Fiquei impressionado com animais como aqueles, que haviam desaparecido por mais de cinquenta anos e que, graças a Coimbra, voltaram à vida. Barbara me passou o contato de Coimbra e eu imediatamente lhe escrevi uma carta em 8 de abril de 1971.

I

t gives me great pleasure to write the foreword to this outstanding book, which provides a thoroughly comprehensive review of the history of the Rio de Janeiro Primate Center (RJPC) and the lives of two of the truly great pioneers of primatology in Brazil, Adelmar F. Coimbra-Filho and Alcides Pissinatti. Indeed, it is fair to say that these two gentlemen and the center that they created 36 years ago are not just great leaders in primatology, they have over the decades also made major contributions to the development of biodiversity conservation overall in their country and in South America as a whole. I have known Adelmar F. Coimbra-Filho for 45 years and Alcides Pissinatti for nearly as long. I first learned of Adelmar in early 1971 when I visited Barbara Harrison, the first Chair of the IUCN/SSC Primate Specialist Group, at her office in Cornell University in New York. I had decided to explore South America following my graduation from Dartmouth College in June, 1971, and was consulting with Barbara to see what she knew about conservation on that continent, then a true frontier in conservation terms. I was in the process of completing a year-long review of everything known on Neotropical primates at that time, but Barbara pointed out to me two papers that I had missed, both of them published by Coimbra in 1970 and detailing his rediscovery of two “mystery species”, the goldenheaded lion tamarin and the black lion tamarin. They were in Portuguese, which I did not yet speak, but I was able to make out their contents from my knowledge of Spanish. I was amazed that animals like these had gone missing for more than half-a-century, and that, thanks to Coimbra, they had been brought back to life. Barbara gave me Coimbra’s contact information and I immediately wrote him a letter on April 8, 1971.


Coimbra me respondeu imediatamente e me convidou a visitar o Brasil, talvez sem esperar que eu fosse de fato. Mas eu fui. Assim que me formei, comecei uma jornada de três meses por dez países da América do Sul e fui parar no Rio de Janeiro em julho de 1971. Eu tinha 21 anos à época, um recém-formado totalmente desconhecido, quando bati à porta do Coimbra. Ele e sua esposa Jacqueline me acolheram como um filho, e começamos o que tem sido uma amizade de toda uma vida. Coimbra me contou suas experiências com os micos-leões, que ele estudava desde os anos 1960 com o apoio financeiro de José Cândido de Melo Carvalho, outro grande pioneiro da conservação. Ele também contou suas redescobertas do mico-leão-de-cara-dourada e do mico-leão-preto, bem como seus esforços para garantir a sobrevivência desses animais – que, à época, era bastante incerta. Ele me levou ao Zoológico do Rio de Janeiro e me mostrou o que era então o único mico-leão-de-cara-dourada em cativeiro no mundo. Quando entrei no viveiro, o animal tentou me atacar imediatamente, e desde então cultivo um respeito saudável pela espécie. Coimbra me falou da necessidade de se trabalhar na Amazônia, pois pouco se sabia da fauna primatológica daquela região. Isso se encaixou bem com meu particular interesse pelos uacaris e parauacus, outro grupo misterioso de espécies pouco conhecidas àquela época. Além disso, como eu estava indo para São Paulo, ele fez contato para que eu me encontrasse com outro pioneiro da conservação, Paulo Nogueira Neto. Encontrei Paulo no Museu de Zoologia de São Paulo, e ele foi extremamente gentil ao tirar uma semana de férias do trabalho para me levar até o interior do Estado de São Paulo, à Reserva Florestal do Morro do Diabo, onde Coimbra havia redescoberto o mico-leão-preto no ano anterior ‒ e a viagem foi outro exemplo da maravilhosa hospitalidade dos conservacionistas brasileiros, que dedicaram tanto tempo a um americano desconhecido recém-formado. Naquela viagem, fiquei chocado ao constatar o recente e quase total desmatamento do interior daquele estado, e isso, aos meus olhos, transformou a Mata Atlântica do leste brasileiro em uma área prioritária de conservação global.

Coimbra responded very quickly and invited me to Brazil, perhaps never expecting that I would actually show up. But I did. As soon as I graduated, I started on a three-month 10-country journey through South America, and wound up in Rio de Janeiro in July, 1971. I was 21 at the time, a totally unknown recent college graduate, when I appeared at Coimbra’s doorstep. Nonetheless, he and his wife Jacqueline took me in as if I were a son, and we began what has been a life-long friendship. Coimbra told me of his experiences with the lion tamarins, which he had begun to study in the 1960s with a grant from José Cândido de Melo Carvalho, another great conservation pioneer. He also recounted his rediscoveries of the golden-headed and black lion tamarins, and his efforts to ensure their survival, which at the time hung in the balance. He took me to the Rio de Janeiro Zoo and showed me what was at that time the only golden-headed lion tamarin in captivity in the world. When I went into its cage, it immediately tried to attack me, giving me a healthy respect for lion tamarins which I still have to this day. He told me of the need to work in Amazonia, where very little was known of the primate fauna. This tied in well with my particular interests in the uakaris and sakis, another group of mystery species at that time. In addition, since I was travelling south to São Paulo, he arranged for me to meet yet another great Brazilian conservation pioneer, Paulo Nogueira Neto. I met up with Paulo in the São Paulo Museu de Zoologia, and he very kindly took a week off from his work to drive me far into the interior of São Paulo state to visit the Morro do Diabo Forest Reserve, where Coimbra had rediscovered the black lion tamarin the year before – another example of the wonderful hospitality of these senior Brazilian conservationists, who dedicated so much time to an unknown American who had just graduated from college. On that trip I was shocked to see the very recent and near total deforestation of the interior of that state, which set firmly in my mind the fact that the Atlantic Forest region of eastern Brazil was a top global conservation priority.


Àquela época, a primatologia não existia no Brasil. Havia algumas publicações de pesquisadores como Eládio da Cruz Lima e Rodolpho von Ihering e, mais recentemente, artigos de Cory Carvalho e Fernando Dias de Ávila-Pires, mas pode-se dizer que Coimbra foi o primeiro primatólogo de fato. Digo isso porque ele não era apenas alguém que estudava e escrevia artigos sobre primatas, mas também reconhecia a importância desses animais no grande esquema das coisas e a necessidade de o Brasil, como o país mais rico do mundo em primatas, desenvolver a ciência da primatologia. Em 1972, encontrei Coimbra mais uma vez, agora em Washington, DC, na primeira conferência do mundo sobre o mico-leão-dourado, intitulada “Saving the Lion Marmoset”. Esse evento histórico foi realizado no Zoológico Nacional dos Estados Unidos, sob os auspícios de John Perry, então diretor-assistente do zoológico, que tinha viajado ao Brasil em 1970 e publicado um artigo na revista científica Oryx sobre a ameaça ao mico-leão-dourado. Também presentes no encontro estavam Bill Conway, da Sociedade Zoológica de Nova York; Devra G. Kleiman, do Zoológico Nacional, Washington, DC; e Alceo Magnanini, então diretor do Departamento de Pesquisas e Conservação da Natureza do IBDF. Embora apenas um grupo seleto tenha participado da conferência, ela representou um acontecimento decisivo e histórico. À época, a população de micos-leões em cativeiro estava estagnada em cerca de 70 animais, enquanto a população selvagem sem proteção era estimada em apenas algumas centenas. Devra, em colaboração com Coimbra, assumiu a responsabilidade de resolver a questão dos animais em cativeiro, tarefa na qual foi bem-sucedida até o fim da década. Todos também se comprometeram a ajudar Coimbra e Magnanini na criação de uma área de proteção para o mico-leão-dourado. O melhor local já havia sido identificado: Poço das Antas, no município de Silva Jardim, na baixada do Estado do Rio de Janeiro. Assim, bastava apenas levar as coisas adiante. Coimbra também tinha identificado a região de Una, no sul da Bahia, como o melhor local para a reserva do mico-leão-de-cara-dourada. O mico-leão-preto, felizmente, já contava com uma área protegida: a Reserva Florestal do Morro do Diabo.

At that time, primatology simply didn’t exist in Brazil. There had been a handful of publications by early researchers such as Eládio da Cruz Lima and Rodolpho von Ihering, and more recent papers published by Cory Carvalho and Fernando Dias de Ávila-Pires, but it is fair to say that Coimbra was the first true primatologist. I say this because he was not just someone who studied and wrote papers on primates, he also recognized their importance in the grand scheme of things and the need for Brazil, as the richest country on Earth for primates, to develop a science of primatology. In 1972, I met Coimbra again, this time in Washington, DC, at the first-ever conference on the golden lion tamarin, entitled “Saving the Golden Lion Marmoset.” This historic event was held at the National Zoo, hosted by John Perry, then Assistant Director of the Zoo, who had travelled to Brazil in 1970 and published a paper in the journal Oryx on the plight of the golden lion tamarin. Also present at that meeting was Bill Conway of the New York Zoological Society, Devra G. Kleiman of the National Zoo, Washington, DC, and Alceo Magnanini, then Director of the Department of Research and Nature Conservation of the Brazilian Forestry Institute (IBDF) in Brazil. Although only a small select group participated, it turned out to be an historic turning point. At that time, the captive population of lion tamarins was stuck at about 70 animals, and the wild population, unprotected, was estimated at just a few hundred. Devra, in collaboration with Coimbra, took on the responsibility of solving the captive issue, which she did very successfully over the remainder of the decade. What is more, everyone committed to helping Coimbra and Magnanini create a protected area for the golden lion tamarin. The best site had already been identified at Poço das Antas in Silva Jardim, in the lowlands of the state of Rio de Janeiro, so it was just a matter of making things happen there. Coimbra had also identified the Una region in southern Bahia as the best location for a reserve for the golden-headed lion tamarin. The black lion tamarin, fortunately, already had a protected area: the Morro do Diabo Forest Reserve.


Coimbra e eu começamos a publicar artigos na língua inglesa sobre a taxonomia, o comportamento e a ecologia dos micos-leões. O primeiro foi publicado em 1973, seguido por muitos outros ao longo das três décadas seguintes. Vários desses textos foram verdadeiramente pioneiros, entre eles a pesquisa sobre gomivoria, uma estratégia alimentar utilizada pelos saguis (“Exudate-eating and tree-gouging in marmosets”, publicado na Nature em 1976), além de vários artigos sobre a hibridação entre espécies de saguis. Na conferência de Washington, também ficou claro que o Brasil precisava de uma instalação para acolher primatas capturados da natureza que servisse como centro de pesquisa e reprodução, com o objetivo de acabar com a captura de primatas selvagens destinados a zoológicos e centros de pesquisa nos Estados Unidos, Europa e União Soviética. A pesquisa era fundamental para manter colônias saudáveis de reprodução e para esforços de conservação in situ que aos poucos eram adotados em Programas de Espécies Ameaçadas em todo o mundo. Para o caso do mico-leão-dourado, mediado e promovido pelo CPRJ, esse procedimento logo se tornou um modelo. No começo de 1973, encontrei Coimbra e Magnanini em Washington mais uma vez, na reunião mundial de criação da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens Ameaçadas de Extinção (CITES), conhecida como a Convenção de Washington. Eles estavam na delegação brasileira e fizeram parte de outro evento histórico. No verão de 1973, voltei ao Brasil por um longo período. Primeiro, seguindo as recomendações que Coimbra me fizera em 1971, fiz um levantamento de quatro meses sobre primatas na Amazônia brasileira – o primeiro estudo do tipo desde as expedições de Alfred Russel Wallace e Henry Walter Bates nas décadas de 1850 e 1860. O estudo se concentrou em três uacaris – preto, vermelho e branco –, bem como no cuxiú-de-nariz-branco, e eu me tornei o primeiro estrangeiro a ver esses maravilhosos e desconhecidos animais na natureza. Terminei a pesquisa em outubro de 1973 e voltei ao Rio de Janeiro para me encontrar novamente com Coimbra, que havia conseguido com Alceo Magnanini,

Coimbra and I began collaborating on English language publications on the taxonomy, behavior and ecology of lion tamarins, the first of which came out in 1973, with many others following in the years to come and continuing over the next three decades. A number of these were truly groundbreaking, among them the publication on gum-eating as a feeding strategy for marmosets (“Exudate-eating and tree-gouging in marmosets” in Nature, 1976), and several papers on hybridization among marmoset species. At this meeting, it also become obvious that Brazil needed a holding facility for confiscated primates and to serve as a breeding and research center to stop the widespread capture of wild-born primates to supply zoos and biomedical research facilities in the US, Europe, and the USSR. Research was fundamental to maintain healthy breeding colonies for the in situ conservation efforts gradually being adopted in Endangered Species Programs worldwide. That for the golden lion tamarin, mediated and promoted by the RJPC, quickly became the model. In early 1973, I met up with Coimbra and Magnanini in Washington, DC once again, this time at the global meeting to create CITES, the Convention on International Trade in Endangered Species – long known as the Washington Convention. They were on the Brazilian delegation and participating in yet another historic event. In the summer of 1973, I returned to Brazil for a long stretch, first, and following Coimbra’s 1971 recommendation, carrying out a four-month survey of primates in the Brazilian Amazon, the first study of its kind since the expeditions of Alfred Russel Wallace and Henry Walter Bates in the 1850s and 1860s. This study focused on the three uakaris, black, red, and white, and the white-nosed saki, and I became the first non-Brazilian to see these wonderful and little known animals in the wild. Completing the survey in October 1973, I went back to Rio de Janeiro to meet again with Coimbra, who, with Alceo Magnanini, had succeeded in securing a piece of land right behind the Gávea Botanical Garden, in Tijuca National Park in the city of Rio de


um terreno bem atrás do Horto da Gávea, no Parque Nacional da Tijuca, no Rio. Ali, Coimbra, com o apoio da Feema (Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente) – órgão para o qual trabalhava ‒, estabelecera o Banco Biológico dos Micos-Leões, com representantes das três espécies. Graças a Coimbra, eu me instalei no local por vários meses, do final de 1973 até meados de 1974, e continuamos trabalhando juntos nos assuntos relativos à conservação. Entre outras coisas, com base no trabalho de Coimbra e em meus achados recentes na Amazônia, atualizamos as páginas do Livro Vermelho da IUCN sobre as várias espécies brasileiras. Também em 1974, graças aos esforços e persistência de Coimbra, o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) criou a Reserva Biológica de Poço das Antas, protegendo cerca de 5 mil hectares de hábitat do mico-leão-dourado. Em 1975 e novamente em 1977, Coimbra e eu trabalhamos juntos em outros dois encontros fundamentais: a conferência “A biologia e conservação do Callitrichidae”, realizada em agosto de 1975 em Front Royal, Virginia, e o “Marmoset Workshop”, realizada em Göttingen, na Alemanha. Nesses eventos, falamos sobre a necessidade de se fazer uma pesquisa extensa em todas as áreas protegidas da Mata Atlântica para identificar não apenas micos-leões, mas todos os primatas que habitavam a região. Também combinamos trabalhar juntos num livro sobre tudo o que era conhecido sobre primatas neotropicais – afinal, publicavam-se cada vez mais artigos nos anos 1970, mas ainda não havia um trabalho mais amplo de referência. Esta colaboração resultou no que provavelmente foi o mais importante trabalho conjunto: a série de dois volumes intitulada Ecology and Behavior of Neotropical Primates (Ecologia e comportamento de primatas neotropicais; vol. 1 em 1981 e vol. 2 em 1988), publicada em colaboração com a Academia Brasileira de Ciências. Outra pessoa fundamental para a conservação dos micos-leões, que também participou das reuniões em Virginia e Göttingen, foi Jeremy Mallinson, do Jersey Wildlife Preservation Trust. Ele ajudou na repatriação de micos-leões-de-cara-dourada contrabandeados

Janeiro. There, Coimbra, with the support of Feema, the State Foundation for Environmental Engineering, where he was employed, had very quickly established the Banco Biológico dos Micos-Leões – the Tijuca Bank of Lion Tamarins – and had populated it with representatives of the three species. Thanks to Coimbra, I was able to base myself there for several months, from the end of 1973 to the middle of 1974, and we continued to work on conservation issues together. Among other things, we updated the IUCN Red Data Book pages on a wide range of Brazilian species, based on Coimbra’s work and my recent findings in Amazonia. Also, in 1974, thanks to Coimbra’s persistent efforts, the Brazilian government conservation agency IBDF declared Poço das Antas a Biological Reserve, protecting about 5,000 ha of habitat for the golden lion tamarin. In 1975, and again in 1977, Coimbra and I worked together in two other key meetings, the August 1975 Conference “The Biology and Conservation of the Callitrichidae”, held at Front Royal, Virginia, and the September 1977 “Marmoset Workshop”, held in Göttingen, Germany. During these events, Coimbra and I discussed the need for an extensive survey of all the existing protected areas in the Atlantic Forest, looking not just at the lion tamarins but all the primates present in that region. We also agreed to work together on a book covering everything that was known about Neotropical primates, since more and more papers had been published in the 1970s but a comprehensive reference work was lacking. This collaboration eventually resulted in what was probably the most important published manifestation of our collaboration, the two-volume series entitled Ecology and Behavior of Neotropical Primates (Vol. 1, 1981, and Vol. 2, 1988), published in collaboration with the Brazilian Academy of Sciences. Another key individual in lion tamarin conservation, who also attended the meetings in Virginia and Göttingen, was Jeremy Mallinson of the Jersey Wildlife Preservation Trust. He played a key role in repatriating golden-headed lion tamarins illegally smuggled into Japan and Belgium, and subsequently arranged for the


ilegalmente para o Japão e a Bélgica, e mais tarde fez com que toda a população da espécie em cativeiro fosse registrada como propriedade do governo brasileiro – uma medida aplicada a todas as populações de micos-leões em cativeiro, fundamental para o funcionamento e o sucesso dos comitês internacionais de manejo dessas espécies. A nova população de micos-leões-de-cara-dourada em cativeiro prosperou, em parte por causa do grande número de animais fundadores, mas também devido à experiência adquirida sobre a criação e manejo desses animais com as pesquisas de Coimbra e Devra Kleiman. Jeremy assumiu o papel de presidente do Comitê de Manejo do Mico-Leão-de-Cara-Dourada, o segundo comitê a ser criado após o primeiro dedicado ao mico-leão-dourado, gerenciado por Coimbra e Devra. O enorme respeito que o mundo dos zoológicos cultivou por Jeremy facilitou a colaboração internacional necessária para o manejo das populações de mico-leão em cativeiro e para promover sua conservação na natureza. Jeremy é um grande admirador de Coimbra e do CPRJ, e contribuiu não apenas para aumentar a reputação do Centro, como também propiciou o recebimento de diversos financiamentos em suas críticas décadas iniciais. Jeremy sempre se referiu ao Coimbra como o “decano da primatologia brasileira”. Em 1981, Coimbra foi ao Reino Unido a convite de Robert D. Martin, então professor de Antropologia Biológica do University College, em Londres. Anthony Rylands e eu nos encontramos com ele e o levamos a vários zoológicos. Lembro-me de todos nós assistindo à Rainha Elizabeth e ao Príncipe Charles e Lady Diana em um desfile em Pall Mall. Ficamos impressionados, mas Coimbra estava mais interessado nos cavalos puro-sangue da cavalaria real! Coimbra era também um grande admirador de galos de briga, sobretudo do tipo Old English Game, e eu me lembro dele também tirando muitas fotos de um enorme galo de briga representado na parede do Courage Brewery, ao lado da Tower Bridge. Nessa mesma viagem histórica, Anthony Rylands, Coimbra e eu “descobrimos” Stephen D. Nash, que desde então se tornou o artista de primatas mais importante do mundo e trabalha conosco há 34 anos.

entire captive population of the species to be registered as the property of the Brazilian government, a measure that was eventually applied to all captive lion tamarin populations, and was key to the functioning and success of the international management committees for these species. The new captive population of golden-headed lion tamarins thrived, in part because of the large number of founders but also due to the experience in their husbandry and management that had been gained from the years of Coimbra’s and Devra Kleiman’s research with the golden lion tamarins. Jeremy took on the role of Chair of the Golden-Headed Lion Tamarin Management Committee, the second committee to be created after that for the Golden Lion Tamarin, which was chaired jointly by Coimbra and Devra. The enormous respect that Jeremy enjoyed in the zoo world facilitated the international collaboration needed to manage the lion tamarin populations in captivity and to promote their conservation in the wild. Jeremy was a great admirer of Coimbra and the RJPC, and not only enhanced the Center’s global reputation but also provided a great deal of funding in those critical early decades. Jeremy always refers to Coimbra as the “Doyen of Brazilian Primatology”. In 1981, Coimbra travelled to the UK at the invitation of Robert D. Martin, then Professor of Biological Anthropology at University College, London. Anthony Rylands and I met up with him, and took him to various zoos in the UK. I remember all of us watching Queen Elizabeth and also Prince Charles and Lady Diana, passing in parade along Pall Mall; we were impressed, but Coimbra was more interested in the thoroughbreds of the Household Cavalry! Coimbra was also a long-time admirer of fighting cocks and especially the Old English Game fowl, and I remember him also taking lots of photos of a giant fighting cock depicted on the wall of the Courage Brewery beside Tower Bridge. And on this same historic trip, Anthony Rylands, Coimbra, and I “discovered” Stephen D. Nash, who has since become the world’s premier primate artist and has been with us now for 34 years. Another important person who became involved at about this time was Bill Konstant. I hired Bill in


Outra pessoa importante que se envolveu a essa época foi Bill Konstant. Contratei Bill em 1981 como assistente do Programa de Primatas da WWF americana, e ele tomou como uma de suas principais tarefas a captação de recursos para o CPRJ e projetos semelhantes. Bill me ajudou a montar a biblioteca de pesquisa no CPRJ e também conseguiu financiamento do Wildlife Preservation Trust International (WPTI) para construir o primeiro viveiro para o muriqui no Centro. Mais tarde, Bill se tornou diretor-executivo do WPTI, quando concedeu mais recursos ao CPRJ e a jovens primatólogos, como Cláudio e Suzana Pádua em sua pesquisa sobre o mico-leão-preto no Morro do Diabo; Ilmar Bastos Santos para suas pesquisas com o mico-leão-de-cara-dourada; e Cristina Alves, para pesquisas sobre a proteção de micos-leões-de-cara-dourada em cabruca (plantações de cacau). De 1975 a 1978, fiz minha tese de doutorado sobre os primatas do Suriname, mas voltei ao Brasil após terminar o estudo. Em trabalho conjunto com Coimbra e com o apoio de Thomas E. Lovejoy do WWF dos Estados Unidos, montamos uma proposta intitulada “Conservação de Primatas Brasileiros do Leste (Conservation of Eastern Brazilian Primates)”. Esse trabalho recebeu apoio da WWF americana, e o programa começou no final de 1979. Os principais colaboradores eram Coimbra e Célio Valle, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – Coimbra responsável pelos micos-leões, e Célio Valle, pelos muriquis. Como aconteceu entre 1973 e 1974, eu novamente me estabeleci no Banco Biológico de Micos-Leões na Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, ao lado de Coimbra. Contudo, por mais importante e inovador que fosse o Banco da Tijuca, Coimbra logo percebeu que não era adequado para as necessidades de reprodução em cativeiro dos micos-leões. Um lugar muito maior era necessário, voltado não apenas aos micos-leões, mas a todos os primatas brasileiros. Persistente, teimoso e firmemente dedicado, Coimbra esforçou-se bastante em meados da década de 1970 para convencer o Governo Estadual do Rio de Janeiro a providenciar um terreno maior para estabelecer um centro de primatologia muito

1981 as an assistant to the World Wildlife Fund-US Primate Program, and he took on as one of his primary tasks fund-raising for the RJPC and related field projects. Bill helped me to establish the research library at the RJPC and also was able to secure a grant from the Wildlife Preservation Trust International (WPTI) to building the first enclosure for the muriqui at the Center. Bill later went on to become the Executive Director of WPTI, and in that role provided more funding to RJPC and also to emerging young primatologists such as Cláudio and Suzana Pádua for the black lion tamarin in Morro do Diabo, to Ilmar Bastos Santos for surveys of the golden-headed lion tamarin, and to Cristina Alves for research on protecting golden-headed lion tamarins in cabruca (cocoa plantations). From 1975 to 1978, I carried out my doctoral dissertation work on the primates of Suriname, but once that study was completed I recommitted to Brazil. In close collaboration with Coimbra, and with the support of Thomas E. Lovejoy of the World Wildlife Fund-US, we put together a proposal entitled “Conservation of Eastern Brazilian Primates”. This received support from WWF-US, and the program began at the end of 1979, with Coimbra and Célio Valle of the Federal University of Minas Gerais as the principal collaborators, Coimbra for the lion tamarins, and Célio Valle for the muriqui. As was the case in 1973−1974, I based myself with Coimbra, living at the Tijuca Bank of Lion Tamarins in Rio de Janeiro. However, as important and innovative as the Tijuca Bank was, Coimbra quickly realized it was inadequate to meet the captive breeding needs for the lion tamarins. Something much bigger and more comprehensive was necessary, focusing not just on the lion tamarins but on all Brazilian primates. True to form and ever persistent, stubborn, and totally dedicated, Coimbra put an enormous amount of effort in the mid-1970s into convincing the Rio de Janeiro State Government to provide a much larger piece of land for a much more ambitious primate center. As usual, he succeeded, and managed to secure a beautiful


mais ambicioso. Como era de se esperar, ele conseguiu e recebeu um lindo terreno em Magé, a cerca de 80 km da cidade do Rio, para construir o Centro de Primatologia do Rio de Janeiro (CPRJ). Quando voltei ao Brasil em outubro de 1979, para iniciar uma pesquisa, o CPRJ estava construído e pronto para funcionar. Foi inaugurado em 9 de novembro de 1979, um dia depois do meu trigésimo aniversário! Francamente, fiquei novamente admirado pelas realizações de Coimbra. Ele escolhera um local extraordinário, na fronteira de uma floresta natural e não muito longe do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, com uma vista espetacular de um trecho de Mata Atlântica. Lá, ele já havia construído diversos viveiros grandes, e transferira todos os animais do Banco Biológico da Tijuca para instalações muito mais confortáveis. Nesta época, eu também conheci um jovem veterinário, Alcides Pissinatti – alto, esbelto e de voz suave, mas um verdadeiro especialista na saúde de primatas ‒, que havia se juntado a Coimbra no Banco Biológico em 1975 e se tornado parceiro do CPRJ, onde trabalha até hoje. Fiquei muito entusiasmado por estar presente na inauguração do CPRJ e tenho participado de vários aniversários desde então. Nas últimas quatro décadas, tenho observado o crescimento do Centro em número de viveiros, em espécies, no tamanho da coleção museológica e da biblioteca. De fato, me orgulho bastante em ter contribuído para formar a biblioteca nos anos 1980 e 1990, enviando centenas de livros dos Estados Unidos – o que faço até hoje. Quando e onde é possível, também tenho colaborado na captação de recursos de diversas fontes para apoiar o trabalho do Centro. Ao longo de nossa pesquisa sobre os primatas da Mata Atlântica, que desenvolvemos de 1979 até o fim da década de 1980, Coimbra e eu, ao lado de diversos promissores pesquisadores brasileiros e estrangeiros, fizemos várias descobertas animadoras e estimulamos o desenvolvimento de vários projetos importantes. Em 1980, quando explorávamos o sul da Bahia, nos juntamos a Anthony Rylands, que estava escrevendo sua tese sobre o mico-leão-de-cara-dourada, e “redescobrimos” o macaco-prego-de-peito-amarelo (Sapajus xanthosternos), que havia sido sinonimizado e esquecido pela literatura.

piece of land in Magé, about 78 km from the city of Rio de Janeiro, to establish the Rio de Janeiro Primate Center (RJCP). When I returned to Brazil to start the survey in October, 1979, the RJCP was built and ready to go, and it was launched on November 9, 1979, the day after my 30th birthday! Frankly, I was again amazed by what Coimbra had accomplished. He had selected a magnificent location right at the edge of natural forest and not far from the Serra dos Órgãos National Park, and with a spectacular view of an intact piece of Atlantic Forest. There he had already built a number of large cages, and had transferred all of the animals from the Tijuca Biological Bank to much more comfortable facilities. At about this time, I also met a young veterinarian, Alcides Pissinatti, a tall, lanky, soft-spoken but extremely knowledgeable specialist in primate health, who had joined Coimbra at the Banco Biológico in 1975, and became Coimbra’s long-term partner in the Center, and who continues to maintain it to the present day. I was thrilled to be there at the inauguration of the RJPC and have made it to several anniversaries since. Over the past four decades, I have seen the Center grow in number of cages, in species, in the size of the museum collection, and in its library. Indeed, I took great pride in helping to build the library in the 1980s and 1990s, sending hundreds of books from the USA, and continue to send books to this day. When and where possible, I have also helped to find funds to support the Center’s work from a wide variety of sources. Over the course of our survey work on the primates of the Atlantic forest, which ran from 1979 to the end of the 1980s, Coimbra and I, together with a wide range of up-and-coming Brazilian and foreign researchers, made a number of exciting discoveries and stimulated the development of many important projects. In 1980, when exploring southern Bahia, we joined forces with Anthony Rylands, who was then doing his thesis on the golden-headed lion tamarin, and we “rediscovered” the yellow-breasted capuchin monkey (Sapajus xanthosternos), which had been synonymized and forgotten in the literature. This “rediscovery” was based on a single juvenile pet in Bahia, acquired for the


Esta redescoberta baseou-se em um único animal juvenil de estimação adquirido para o Centro. Chamado de “Pichi” (derivado de um nome baiano local, “pichicau”, onomatopeia do grito de alarme do animal), ele se tornou o símbolo mundial dessa espécie gravemente ameaçada; ele viveu no Centro por 27 anos e foi pai de muitos rebentos. Em 1981, fizemos um filme sobre o muriqui na Fazenda Montes Claros, em Minas Gerais, o que gerou bastante interesse pela espécie. Em 1982, o filme deu origem ao projeto de Karen Strier sobre o muriqui; um estudo que durou 33 anos e ainda está em andamento; o mais longo estudo sobre um primata sul-americano. O mais importante, porém, foi o resultado dessa pesquisa, e a colaboração que ela possibilitou ‒ o desenvolvimento de uma campanha para primatas e para a floresta tropical do World Wildlife Fund Campaign, fundamental por colocar as florestas tropicais no mapa como uma prioridade de conservação ‒ não apenas para os primatas, mas para biodiversidade e conservação de maneira geral. Nada disso teria sido possível sem Coimbra, Pissinatti e o CPRJ. De várias maneiras, o CPRJ tem funcionado como o coração e a alma da primatologia brasileira. Por lá, em algum momento, passam todos que trabalham com primatas. Digno de nota é Cláudio Valladares Pádua, que trabalhou no Centro de 1981 até 1984, quando se mudou para a Flórida para fazer o mestrado sobre a genética do mico-leão-de-cara-preta. Ele então fundou o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), inicialmente voltado para a conservação do mico-leão-preto, mas que agora é uma das ONGs conservacionistas mais fortes do Brasil. É claro que o CPRJ focou muita de sua atenção em reprodução em cativeiro, pesquisa em laboratório e taxonomia experimental, e isso foi muito importante. Disponibilizou animais em empréstimos de longo prazo para zoológicos de todo o mundo e desempenhou um papel crucial ao fazer da conservação do mico-leão-dourado um modelo de colaboração global por espécies ameaçadas. Contudo, deve ficar claro que o CPRJ não é apenas uma instalação de reprodução em cativeiro. O Centro também tem sido base de operações para muitos projetos voltados para a conservação na natureza.

Center during this visit. Named “Pichi” (after the local Bahian name “pichicau”, onomatopoeic of its alarm call), he became the global symbol for this Critically Endangered species, lived at the Center for 27 years, and fathered many offspring. In 1981, we did a film on the muriqui at Fazenda Montes Claros in Minas Gerais, which stimulated a great deal of interest in this species, and in 1982 led to the beginning of Karen Strier’s 33year project on the muriqui, the longest-running study of any South American primate. Perhaps of greatest importance, this survey and the collaboration that made it possible led to the development of a World Wildlife Fund Campaign for Primates and the Tropical Forest, which was instrumental in putting the Atlantic Forest on the map as a global conservation priority, not only for primates but also for biodiversity conservation in general. None of this would have been possible without Coimbra, Pissinatti, and the RJCP. In many ways, the RJCP has been the heart and soul of Brazilian primatology, with virtually everyone working on primates having passed through there or worked there at one or another point in time. Especially noteworthy was Cláudio Valladares Pádua, who worked there from 1981 to 1984, when he went to Florida to study for his Master’s on the genetics of the black lion tamarin. He subsequently founded the Instituto de Pesquisas Ecológicas − IPÊ, that initially focused on the conservation of the black lion tamarin, and which is now one of the strongest conservation NGOs in Brazil. Of course, the RJPC has focused much of its attention on captive breeding, laboratory research, and experimental taxonomy, and this has been essential. It has provided animals on long-term loan to zoos around the world and was central in making lion tamarin conservation a model for global collaboration for endangered species. However, it should also be crystal clear that the RJPC is not just a captive breeding facility. It has also been the base of operations for many projects focused on conservation in the wild. I have already mentioned our own WWF-USfunded program entitled “Conservation of Eastern Brazilian Primates”, which had the RJPC as one of


Já mencionei nosso programa financiado pela WWF americana intitulado “Conservação de Primatas Brasileiros do Leste”, do qual o CPRJ foi um dos principais parceiros. Outro foi o “Programa de Conservação do Mico-Leão-Dourado” (GLTCP, na sigla em inglês), da Smithsonian Institution, iniciado em 1983 sob a liderança de Devra Kleiman e Coimbra-Filho, com James e Lou Ann Dietz, responsáveis pelas pesquisas comportamentais e ecológicas e pela educação de conservação, e Benjamin Beck, responsável pelo esforço de reintrodução, que também teve o CPRJ como principal parceiro. Esse também se tornou um modelo global. Boa parte desse trabalho hoje foi assumida pela Associação do MicoLeão-Dourado (AMLD), fundada em 1993 e chefiada inicialmente por Denise Rambaldi como secretária-executiva – cargo hoje ocupado por Luis Paulo Ferraz. Há diversos outros exemplos. O mais recente é o programa de captura da população de micos-leões-de-cara-dourada introduzida em Niterói. O projeto, coordenado e realizado por Cecília Kierulff, dependeu de Alcides Pissinatti e do CPRJ para processar os mais de 600 micos-leões capturados para serem ou reintroduzidos em seu hábitat natural no sul da Bahia, ou enviados para zoológicos no Brasil. Hoje em dia, o Brasil tem a comunidade de primatólogos mais forte de todo o mundo tropical, e a qualidade da pesquisa realizada no país tem de fato nível internacional. Muito disso pode ser creditado à visão e ao pioneirismo de Adelmar Coimbra-Filho e de Alcides Pissinatti, junto com vários outros pioneiros que também começaram a estudar primatas após a atenção internacional gerada por Coimbra. Entre eles, estão Milton Thiago de Mello e Célio Valle. As grandes contribuições de Coimbra e Pissinatti foram reconhecidas diversas vezes, inclusive naquela que é provavelmente a maior honra para um primatólogo: ter espécies de primatas nomeadas em sua homenagem: o guigó Callicebus coimbrai e o parauacu Pithecia pissinattii. E qual é o futuro do CPRJ? Bem, tenho esperanças de que este livro servirá para enfatizar a imensa importância do Centro para o Estado do Rio de Janeiro, para o Brasil, para a América do Sul e para o mundo todo, e que ele convencerá as autoridades brasileiras e internacionais,

its two principal partners. Another is the Smithsonian Institution’s world-renowned Golden Lion Tamarin Conservation Program (GLTCP), begun in 1983, under the leadership of Devra Kleiman and CoimbraFilho, and with J ames and Lou Ann Dietz carrying out behavioral and ecological studies and the conservation education component, and Benjamin Beck the reintroduction effort, which also had the RJPC as its principal partner. It too has become a truly global model. Much of this work has now been taken over by the Golden Lion Tamarin Association (AMLD), founded in 1993, with Denise Rambaldi as its first Executive Secretary, and which is now run by Luis Paulo Ferraz. Numerous other examples exist, the most recent being the program to capture the population of goldenheaded lion tamarins introduced in Niterói. The project, coordinated by Cecília Kierulff, depended on Alcides Pissinatti and the RJCP to process the more than 600 lion tamarins captured, to be either reintroduced into their natural habitat in southern Bahia or sent out to zoos in Brazil. At this point in time, Brazil has by far the strongest community of primatologists anywhere in the tropical world, and the quality of research being carried out throughout the country is truly world class. A lot of this can be credited to the vision and the early pioneering work of Adelmar Coimbra-Filho and Alcides Pissinatti, together with several other pioneers who also began to focus on primates because of the international attention first generated by Coimbra, among them Milton Thiago de Mello and Célio Valle. The great contributions of Coimbra and Pissinatti have been recognized a number of times, including what is probably the greatest honor of all for a primatologist, having species of primates named after them: a titi Callicebus coimbrai and a saki Pithecia pissinattii. And what of the future of the RJPC? Well, I am hopeful that this book will serve to underline the enormous value of the Center to the state of Rio de Janeiro, to Brazil, to South America, and to the world as a whole, and that it will convince Brazilian and international authorities and donor organizations to


bem como organizações financiadoras, a apoiar o Centro de maneira ainda mais consistente. Com a aproximação das Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro, o CPRJ deve ser destacado como uma das mais extraordinárias e importantes instituições do Estado e do país e deve receber a atenção global que tanto merece. Pessoalmente, tenho uma dívida de profunda gratidão ao Coimbra. Ele me acolheu e me ofereceu apoio, conselhos e amizade em um ponto crítico da minha carreira, que nunca teria se desenvolvido caso não tivesse recebido aquele apoio tantas décadas atrás. E Pissinatti tem sido um amigo leal por quase todo esse tempo, e continua a me impressionar com seu comprometimento com o CPRJ, mesmo após sua aposentadoria. Meus sinceros agradecimentos aos dois pesquisadores. Para finalizar, fico profundamente honrado em escrever o prefácio deste belo livro, que destaca o valor mundial de uma das instituições científicas e culturais mais importantes do Brasil.

support it at an even higher level than before. With the upcoming 2016 Olympics in Rio de Janeiro, it should be highlighted as one of the state’s and the country’s unique and highly significant institutions, and should receive the global attention that it so thoroughly deserves. On a personal level, I owe a deep, lifelong debt of gratitude to Coimbra. He took me in and provided an enormous amount of support, advice and friendship at a critical point in my career, which could never have developed as it has without what he did for me so many decades ago. And Pissinatti has been a loyal friend for almost as long, and continues to amaze me with his commitment to the RJPC, even after his official retirement. My sincerest thanks to both of them. In closing, I am truly honored to write the foreword to this beautiful book that highlights the global value of one of Brazil’s most important scientific and cultural institutions.

Russell A. Mittermeier, Ph.D. Chefe do IUCN SSC Primate Specialist Group e vice-presidente executivo (e ex-presidente) da Conservação Internacional (CI) Chairman, IUCN SSC Primate Specialist Group and Executive Vice-Chair (and former President), Conservation International



Em futuro não remoto é que se irá entender melhor a importância e o real significado do trabalho realizado pelo Centro de Primatologia do Rio de Janeiro. Adelmar Faria Coimbra-Filho (Abril, 1986) Biólogo e Mestre em Zoologia. Idealizador, fundador e primeiro chefe do Centro de Primatologia do Rio de Janeiro. Fundador das Sociedades Brasileiras de Botânica, de Zoologia e de Primatologia

In the not too distant future we will surely understand better the importance and true significance of the work done by the Rio de Janeiro Primatology Center. Adelmar Faria Coimbra-Filho (April, 1986) Biologist and M.Sc. in Zoology. Creator, founder and first director of the Rio de Janeiro Primatology Center. Founding member of the Brazilian Societies of Botany, Zoology and Primatology



Sumário Contents

32

Um pedaço do paraíso A piece of paradise

36

O Centro de Primatologia do Rio de Janeiro The Rio de Janeiro Primatology Center

197

Um pouco de história

234

Os guardiões de ontem e hoje

A bit of history

The guardians of yesterday and today

279

Referências bibliográficas Bibliography

283

Bibliografia consultada

285

Posfácio

286

Anexos

References

Afterword

Appendices


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Vista aĂŠrea do Centro de Primatologia do Rio de Janeiro Aerial view of the Rio de Janeiro Primatology Center

30


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

31


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Um pedaço do paraíso A piece of paradise

O

contorno das montanhas da Serra dos Órgãos descortina-se enevoado ao alvorecer. O reflexo da luz do sol sobre as folhas da vegetação pinta no dossel das árvores uma profusão de tons de verde, transformando a paisagem numa grande tela impressionista. Em meio a esse cenário, a cerca de cem quilômetros da cidade do Rio de Janeiro, em área remanescente de Mata Atlântica – um dos biomas mais ameaçados do país –, na região conhecida como Paraíso, está localizado o Centro de Primatologia do Rio de Janeiro.

32

Na entrada, uma estátua de bronze do muriqui, o maior símio das Américas, dá as boas-vindas a quem chega. À medida que se adentra no caminho, o farfalhar do vento nas folhagens se mistura ao agradável chilreio de guachos e ao alarido de maritacas e arapongas, entre muitas outras aves. Um som forte também pode ser ouvido a quatro quilômetros. É o ronco do guariba, primata dos mais barulhentos. O animal divide as atenções com outros símios que ali vivem, como o

mico-leão-dourado, cuja trajetória conservacionista se entrelaça com a do Centro de Primatologia do Rio de Janeiro, com a história da primatologia no Brasil e com as vidas de seu idealizador e fundador, Adelmar Faria Coimbra-Filho, e de seu sucessor, Alcides Pissinatti. São essas histórias e suas interseções, sucedidas principalmente durante a segunda metade do século 20, que traçam o itinerário desta narrativa. Mas ela não se esgota, ao contrário, perdura e prossegue, viva, a desafiar o futuro.


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

T

he outline of the Serra dos Órgãos mountains is covered with mist at dawn. The reflection of sunlight on the leaves paints the canopy in a profusion of shades of green, transforming the landscape into a huge impressionist picture. In the middle of this scenario, some 100 kilometers from the city of Rio de Janeiro in a remnant of Atlantic Forest – one of the most endangered biomes in Brazil –, the Rio de Janeiro Primatology Center lies in an area known as Paraiso.

At the entrance stands a bronze statue of the “muriqui”, or woolly spider monkey, the largest simian in the Americas, welcoming those who arrive at the Center. Farther up the trail, the wind in the leaves blends in with the cheerful chatter of birds such as “guachos” and the racket of parrots and arapongas, and many others. A loud sound is also heard four kilometers away. It is the roar of the brown howler monkey, one of the noisiest primates. The howlers share the stage with other simians that live in the area, like the golden lion tamarin, inextricably

linked to the Rio de Janeiro Primatology Center, to the history of primatology in Brazil and with the lives of its creator and founder, Adelmar Faria Coimbra-Filho, and his successor, Alcides Pissinatti. Here we present some of the stories, the challenges and successes, largely during the second half of the 20th century, that have marked the creation and development of this conservation center. A history still in the making, but which has given it the strength to go forward and face the challenges of the future.

O amanhecer na estrada que leva ao Centro de Primatologia do Rio de Janeiro. Ao fundo, o contorno da Serra dos Órgãos Dawn on the road that leads to Rio de Janeiro Primatology Center. In the background, the Serra dos Órgãos

33


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

34


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

A vigorosa vocalização do guariba (Alouatta caraya) pode ser ouvida a quilômetros de distância The robust call of the black howler monkey (Alouatta caraya) can be heard kilometers away

35


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Ao centro, a portaria de acesso ao Centro de Primatologia do Rio de Janeiro. À esquerda, um muriqui em bronze dá as boas-vindas aos visitantes autorizados The main gate of the Rio de Janeiro Primatology Center (center). At left, a bronze muriqui welcomes visitors with permits

O Centro de Primatologia do Ri The Rio de Janeiro Primatology Center

O

Centro de Primatologia do Rio de Janeiro (CPRJ) é a primeira instituição nacional voltada prioritariamente à preservação do patrimônio primatológico brasileiro. Os símios atendidos pelo CPRJ integram um banco genético que visa dar suporte às colônias de primatas brasileiros que integram os vários programas desenvolvidos in situ e ex situ, isto é, nos hábitats naturais ou em cativeiro. Procura-se, desse modo, assegurar a continuidade da espécie em caso de ocorrência de algum evento que possa afetar ou mesmo dizimar toda uma população de um mesmo lugar. Outra linha de atuação dos programas do Centro diz respeito

36

à erradicação de espécies exóticas invasoras, como o mico-leão-de-cara-dourada, introduzido na área de ocorrência do mico-leão-dourado, e o sagui-do-nordeste, ou sagui-de-tufo-branco, introduzido em quase todos os estados do Sul e Sudeste do Brasil. O trabalho do CPRJ está intimamente relacionado ao conceito de que a gestão para a conservação de primatas deve considerar, além dos próprios animais e sua criteriosa utilização, a biota como um todo. Por essa razão, os projetos desenvolvidos no espaço não se limitam à propagação de espécies. O Centro também promove estudos e ações de

restauração ambiental. O objetivo, neste caso, é restabelecer as condições ecológicas favoráveis no campus e recuperar áreas degradadas por meio da reintrodução de espécies da flora e fauna nativas desaparecidas ou ameaçadas de desaparecimento. Administrado desde 2009 pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), que incorporou a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema) – órgão ao qual a instituição foi subordinada por quase três décadas –, o CPRJ abriga, atualmente, 230 símios de 25 espécies ameaçadas de extinção, originárias da Mata Atlântica, do Cerrado e da Amazônia brasileira.


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Vista aérea da subsede administrativa do Parque Estadual dos Três Picos e do centro de visitantes Aerial view of the administration building of the Três Picos State Park and the visitors center

o Rio de Janeiro T

he Rio de Janeiro Primatology Center (RJPC) is the first organization in Brazil to have as priority the conservation of Brazil’s primatological heritage. The simians that live at the RJPC form a gene bank that gives support to colonies of Brazilian primates that make up the numerous programs carried out in situ and ex situ, that is to say, in the wild and in captivity. In this way, species survival is assured in case a chance event should decimate the entire population in any one locality. Another activity of the Center’s programs is the eradication of introduced exotic species, such as the

golden-headed lion tamarin that is found today in the area of occurrence of the golden lion tamarin, and the common marmoset, native to Northeast Brazil, but which was introduced and is spreading in many pats of the South and Southeast. The work of the RJPC is founded on the idea that primate conservation should take into consideration the biota as a whole, not just the animals themselves and their utilization. For this reason, programs developed at the Center are not restricted to propagating non-human primate species. They also promote investigation and restoration of the local biome. In this

case, the purpose is to reestablish ecological conditions on the campus and recuperate degraded areas through the reintroduction of native plant and animal species that have been extirpated or are threatened with extinction. Since 2009, the RJPC has been administered by the State Environmental Agency (Inea) that incorporated the Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema) – the agency to which the RJPC was linked for almost three decades. The RJPC currently has 230 primates of 25 endangered species from the Atlantic Forest, Cerrado and Amazônia. 37


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

38


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Desenvolvidos em parceria com instituições nacionais e internacionais, os programas abordam aspectos como nutrição, reprodução, comportamento, patologias e conservação do ambiente onde vivem os primatas, de modo a obter informações que favoreçam a sua propagação. Além disso, subsidiam os planos de ação nacionais para cada espécie, coordenados pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Como costuma dizer o atual chefe do Centro, o médico-veterinário Alcides Pissinatti, “no cativeiro é possível conhecer muitos aspectos da biologia de uma espécie. Quando essas informações são somadas ao conhecimento sobre a mesma espécie obtido em condições naturais, conseguimos preservá-la na natureza e destiná-la a fins considerados potencialmente importantes para os seres humanos.” Fundado em 9 de novembro de 1979 e gerenciado até 1993 pelo seu idealizador, o biólogo e primatólogo Adelmar Faria Coimbra-Filho, o CPRJ terá acumulado, até o fim de 2015, 36 anos de estudos e cerca de mil artigos publicados em revistas e livros técnicos e científicos. Nesse período, o espaço se tornou rota obrigatória para profissionais de diversas especialidades, nacionais e estrangeiros, que trabalham com conservação ambiental e de espécies ameaçadas.

The programs are carried out in partnership with Brazilian and international institutions. They deal with topics such as nutrition, reproduction, behavior, pathology and care of the environment where these primates live, gathering information on aspects that favor propagation of these animals, as well as providing subsidies for the national action plans of each species coordinated by the government’s Chico Mendes Institute for Biodiversity Conservation (ICMBio). As the current head of the Center, veterinarian Alcides Pissinatti often remarks, “in captivity it is possible to learn about many aspects of the biology of a species. When this information is added to what we know about the same species in the wild, we can preserve its presence and its role in natural ecosystems, and as such its utility for human beings.” The Center was conceived by biologist and primatologist Adelmar Faria Coimbra-Filho. It was founded on November 9, 1979, and he was its director for 14 years, until 1993. In 2015, the RJPC completed 36 years of research, resulting in some 1,000 articles published in scientific, technical and academic books and periodicals. During this period, the Center was the mandatory destination of Brazilian and foreign scientists with various specialties that focus on species conservation and preservation of the environment.

Além da sede, o CPRJ possui 105 viveiros, entre outras instalações Besides the main building, there are 105 vivaria where the monkeys are housed

39


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

O livro de visitas é uma prova da importância da instituição no contexto mundial da primatologia. Cientistas de renome internacional o assinaram quando passaram por lá, e até a Princesa Anne, da Grã-Bretanha, à época patronesse do Jersey Wildlife Preservation Trust, deixou nele o registro de sua passagem pelo Centro, ocorrida em 1987. Entre os ilustres visitantes do CPRJ, destaca-se, ainda, o vice-presidente executivo da Conservação Internacional (CI), o primatólogo norte-americano Russell A. Mittermeier, para quem os símios do Brasil, especialmente o mico-leão-dourado e o muriqui, são animais tão simbólicos quanto o urso panda, o tigre e o

orangotango o são para China, Índia e Indonésia, respectivamente.1 Na inauguração do Centro, onde esteve inúmeras vezes na companhia do seu fundador, tido como um dos seus mentores e amigos mais próximos, Mittermeier ressaltou o pioneirismo do CPRJ no trato com a conservação:

The visitors’ logbook is proof of the importance of the Center for primatology worldwide. Internationally known scientists signed this logbook when they visited the institution, as well as Great Britain’s Princess Anne, patron of the Jersey Wildlife Preservation Trust when she visited the Center in 1987. Illustrious visitors at the RJPC also include the executive vice-chair of Conservation International (CI), North American primatologist Russell A. Mittermeier, who visited many times and considers its founder to be his mentor and one of his best friends. In the opinion of this scientist, the simians in Brazil, especially the

golden lion tamarin and the muriqui, are just as iconic as the panda, the tiger and the orangutan are for China, India and Indonesia.1 At the inauguration of the Center, Mittermeier stressed the pioneer status of the RJPC in dealing with conservation:

40

É importante notar que a ênfase sobre a conservação no Centro é única. Todos os outros centros de primatas (e há muitos) concentram-se na utilização dos primatas; o CPRJ, muito além disso, não só disponibiliza de forma contínua os recursos insubstituíveis representados por esses primatas como almeja ser um centro para reprodução em cativeiro, e também uma

It is important to note that the emphasis on conservation at the Center is unique. All other primate centers (and there are many) focus on the use of primates; the RJPC goes much further. It not only provides a steady supply of the unique resource that this primate represents, but is also a center for captive breeding as

plataforma para estudos de campo que fornecerão dados demográficos, comportamentais e ecológicos essenciais para a preservação de primatas em seus hábitats naturais. Essa combinação é essencial, mas sua importância foi pouco reconhecida no passado.2

Nas palavras de um dos decanos da causa ambiental brasileira, Ibsen de Gusmão Câmara, à época em que era presidente da extinta Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza (FBCN), em 1986, o trabalho desenvolvido no CPRJ permite manter viva a esperança dos conservacionistas “de que as espécies possam ser reintroduzidas em seus ambientes primitivos e neles sobreviver e propagar”. 3

well as field studies that will provide data on demography, behavior and ecology that are essential for the preservation of primates in their native habitats. This combination is of prime importance, but this fact was rarely acknowledged in the past.2

In the words of one of the deans of the Brazilian environmental movement, Ibsen de Gusmão Câmara, when he was president of the now-extinct FBCN (1986), the work done at the RJPC helps to keep alive the conservationists’ hope “that species can be reintroduced into their primitive environment, survive there, and reproduce”.3


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Princesa Anne, da Grã-Bretanha, em visita ao CPRJ, e Coimbra-Filho. Ao lado, a mensagem deixada por ela no livro de visitas (1987), na qual agradece o "prazeroso e fascinante passeio" e deseja sucesso ao Centro Great Britain’s Princess Anne, visiting the RJPC, and Coimbra-Filho. To the right, a message left by the princess in the visitors’ book (1987), in which she thanks the "delightful and fascinating tour" and wishes success to the Center

A artista botânica inglesa Margaret Mee com Kenneth Light (esq.), presidente da Cia. Souza Cruz, e o colega de empresa Alvino Costa, durante visita ao Centro (1980) English botanical artist Margaret Mee with Kenneth Light (left), president of Cia. Souza Cruz, and his colleague Alvino Costa, during a visit to the Center (1980)

41


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Coordenadas geográficas: Entre os paralelos de 22º27’ e 22º32’ de latitude S e os meridianos de 42º50’ e 42º56’ de longitude WGr.

1977 e registrado no cartório do 6º Ofício de Títulos e Documentos sob o nº 3.823).

Área: 273 hectares cedidos pela Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) à extinta Feema através de termo de comodato (ato celebrado em 3 de junho de

Registro: Categoria de criadouro para fins científicos e culturais (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal – IBDF, Portaria nº 003/79-P, publicada no Diário Oficial da União nº 18, de 11/01/1979). Autorização de Manejo emitida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no Sistema Nacional de Gestão da Fauna Silvestre (SisFauna), n° 3304.3567/2010 RJ. Também está integrado a

Coordinates: Between 22º27’ and 22º32’S latitude and 42º50’ and 42º56’ longitude WGr.

on June 3, 1977 and notarized at the 6o Ofício de Títulos e Documentos as No. 3.823).

Address: Estrada do Paraíso, s/nº, Paraíso, Guapimirim, Rio de Janeiro – CEP 25949-840 – Tel./Fax: +55 (21) 3633-2205.

Register: Category of breeder for scientific and cultural purposes (IBDF - Portaria No. 003/79-P, published in Diário Oficial da União No. 18, 11/Jan/1979). Management Permit issued by the Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Sistema Nacional de Gestão da Fauna Silvestre (SisFauna), No. 3304.3567/2010 RJ. It is also integrated with the conservation programs established

Endereço: Estrada do Paraíso, s/nº, Paraíso, Guapimirim, Rio de Janeiro – CEP 25949-840 – Tel./Fax: +55 (21) 3633-2205. Localização: Parque Estadual dos Três Picos, entre os municípios de Guapimirim e Cachoeiras de Macacu.

Location: Três Picos State Park, lying in the municipalities of Guapimirim and Cachoeiras de Macacu. Area: 273 hectares ceded by the Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) to the now-extinct Feema by commodatum (celebrated

42

programas de conservação estabelecidos para as espécies, todos supervisionados pelo Ibama e pelo ICMBio. Infraestrutura: Sede administrativa, prédio do Laboratório de Reprodução e Hospital, prédio de Manejo e Nutrição, casa dos pesquisadores e futuros museus, além de 105 viveiros. Visitação: O CPRJ não é aberto ao público; as visitas são restritas e controladas. Vias de acesso a partir da cidade do Rio de Janeiro: BR-106 (RioTeresópolis) > RJ-122 (Rio-Nova Friburgo) - km 11 > Estrada do Paraíso (estrada vicinal municipal).

for the species, all of which are supervised by Ibama and the ICMBio. Infrastructure: Administrative headquarters, Reproduction Laboratory and Hospital, Management and Nutrition Building, housing for scientists and future museums, and 105 vivaria. Visitation: The RJPC is not open to the public; visits are restricted and accompanied. Access from the city of Rio de Janeiro: BR-106 (Rio-Teresópolis) > RJ-122 (Rio-Nova Friburgo) km 11 > Estrada do Paraíso (local municipal road)


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Imagem de satélite da região onde estão localizados o CPRJ (linha vermelha) e o Parque Estadual dos Três Picos (linha amarela) Satellite image of the region where the RJPC (dotted red line) and Três Picos State Park (yellow line) are located

43


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Desafios Challenges

N

Para mim, a parte mais importante do trabalho aqui é sua relação com a conservação das espécies, não apenas em cativeiro mas também na natureza. A reprodução destes animais ameaçados no cativeiro e a posterior reintrodução deles em seu hábitat natural, agora ou no futuro, são um grande desaio.2 Russell E. Train, presidente do World Wildlife Fund-EUA (Abril, 1982)

44

o mundo, hoje, existem 77 gêneros, 506 espécies e 701 espécies e subespécies de primatas. Dentre esses, o Brasil abriga em suas florestas 19 gêneros, 128 espécies e 149 espécies e subespécies. Em termos percentuais, isso equivale a 25% dos gêneros, 25% das espécies e 21% das espécies e subespécies de toda a fauna primatológica mundial. Ao analisarmos os percentuais de primatas do Brasil em relação à área distribuída na região neotropical, temos todos os gêneros, 73% das espécies e 69% das espécies e subespécies. Somente no bioma Mata Atlântica, é possível encontrar cinco gêneros, 23 espécies e 24 espécies e subespécies. Considerando-se o endemismo desses símios, temos dois gêneros (Leontopithecus e Brachyteles), 19 espécies e vinte espécies e subespécies que ocorrem somente na Mata Atlântica.4 Além de conferirem a primazia mundial em diversidade de primatas ao Brasil, posicionando-o à frente de países como Madagascar, Indonésia e República Democrática do Congo, esses números reforçam a importância do Centro

de Primatologia, principalmente quando confrontados com estatísticas que alertam para a ameaça de extinção como algo ainda presente, apesar dos enormes esforços realizados até aqui para contê-la. Além de serem modelos insubstituíveis em diversas investigações científicas, nas áreas biomédica e farmacêutica, os parentes mais próximos do homem também são considerados animais indispensáveis ao equilíbrio ecológico das florestas. Assim como as aves, os primatas podem ser considerados operários da floresta. Enquanto pulam de galho em galho e perambulam pela mata atrás de alimentos, os símios dispersam sementes, ajudando a manter a diversidade das florestas. Preservar uma fauna primatológica riquíssima, que vem, pouco a pouco, perdendo espaço em seu próprio hábitat, e ampliar as pesquisas, tanto in situ como ex situ, são, portanto, os maiores desafios do Centro de Primatologia, que desde os seus primórdios destaca-se na busca de conhecimentos sobre cada representante da fauna primatológica brasileira.


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

T

here are 77 genera, 506 species and 701 species and subspecies of primates in the world today. Of these, the forests of Brazil hold 19 genera, 128 species and 149 species and subspecies. This is equivalent to 25% of the genera, 25% of the species and 21% of species and subspecies worldwide. If we consider the percentage of primates in Brazil in relation to the entire Neotropics, we find 100% of the genera, 73% of the species and 69% of the species and subspecies. In the Atlantic Forest alone, there are five genera, 23 species and 24 species and subspecies. Two genera (the lion tamarins, Leontopithecus, and the muriquis, Brachyteles), 19 species, and 20 species and subspecies are endemic to the Atlantic Forest (that is, they occur nowhere else).4 Besides Brazil being worldwide number one in primate diversity, ahead of other countries such as Madagascar, Indonesia, and the Democratic Republic of the Congo, these numbers show the importance of the Primatology Center, especially considering the

numbers of endangered species; increasing despite the huge efforts to save them. Primates are irreplaceable models in a number of fields of inquiry in the biomedical and pharmaceutical sciences. Man’s closest relatives are also seen as vital for the ecological equilibrium of Brazilian forests. Like birds, primates play an indispensable role in the forest. Jumping from branch to branch and traveling through the forest, they are important seed dispersers. This interaction of monkeys and the plants on which they feed is essential to maintain forest diversity. Preservation of the rich primate fauna and the promotion of research, both in situ and ex situ, are the greatest challenges for the Primatology Center. Since its creation, the RJPC has been a major player in research on all of Brazil’s primate species. Interaction not just with the scientific community but also the local communities of the region has been one of the Center’ main aims right from its inauguration. The Primate Park and the Forest

To me, the most signiicant aspect of the work here is its relation to the conservation of species, not only in captivity but in the wild. he breeding of these endangered creatures in captivity and then their reintroduction now or in the future into their natural, wild habitat is a tremendous challenge.2 Russell E. Train, president of the World Wildlife Fund-US (April, 1982)

45


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Não por acaso, a interação com a comunidade científica e da região é um objetivo buscado desde a inauguração do CPRJ, assim como a montagem do Parque Primatológico e dos museus Primatológico e Florestal, idealizados para funcionarem como núcleos para a formação profissional para a realização de pesquisas em biologia da conservação. Outros dois desafios, mais específicos, referem-se aos saguis introduzidos no Rio de Janeiro e aos muriquis. Com relação a estes últimos, o CPRJ planeja intensificar os estudos para confirmar a suspeita de que o Rio de Janeiro é o único estado brasileiro no qual é possível encontrar as duas espécies de muriqui: o muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides) e o muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus). Buscar soluções para os saguis (Callithrix spp.) introduzidos no Rio de Janeiro é a outra questão a ser enfrentada pelo CPRJ. Classificados como uma “bomba biológica”, os saguis nativos de outras regiões da Mata Atlântica e também do Cerrado encontraram condições de vida bastante favoráveis nas matas fluminenses e já colonizaram todo o Estado, competindo com os calitriquídeos regionais por alimento e abrigo e comprometendo as condições ecológicas de modo geral.

46

and Primatological museums were conceived as training and research centers for professionals working in protected areas and environmental education. More specific challenges have focused on the marmosets introduced in the state of Rio de Janeiro and the muriquis. The RJPC will continue to support field research on the southern “muriqui” (Brachyteles arachnoides) and the northern “muriqui” (Brachyteles hypoxanthus); it is possible that Rio de Janeiro is the only state that has both species. Another issue is the search for solutions regarding invasive marmosets (Callithrix) that have been introduced in Rio de Janeiro. Considered a “biological time bomb”, marmosets native to other regions of the Atlantic Forest and the Cerrado (bush savanna) have found favorable conditions in the forests of Rio de Janeiro, colonizing the entire state and competing with the regional species, compromising the forest ecosystems in general.

Muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides): o desmatamento é a principal ameaça à sobrevivência dos símios, pois restringe seus ambientes a pequenos fragmentos isolados de florestas que restaram da Mata Atlântica The southern muriqui (Brachyteles arachnoides). Deforestation is the main threat to these monkeys, reducing their available habitat to small, isolated remnants of the Atlantic Forest


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

47


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Os programas priorizam as espécies ameaçadas, como o mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia) The programs give priority to endangered species such as the golden lion tamarin (Leontopithecus rosalia)

O CPRJ é um primoroso exemplo daquilo que se pode fazer quando diversas organizações estão focadas num único objetivo. Aqui temos o apoio dos órgãos públicos e privados brasileiros e americanos (e outros). A troca de animais será realizada entre instituições de diversos países. As equipes vão viajar para fazer visitas de treinamento. Nada disso poderia ser realizado com tanto sucesso por uma única instituição.2 John Jensen, diretor-executivo do Wildlife Preservation Trust International, Filadélfia, PA, EUA ( Junho, 1982)

48

In many ways the RJPC is a ine example of what can be accomplished when many diferent organizations focus on one goal. We see here the public and private support of Brazilians and Americans (among others). Animals will be exchanged between institutions of many countries. Staf will travel on training exchanges. None of this could be accomplished with such success by any one organization.2 John Jensen, Executive Director, Wildlife Preservation Trust International, Philadelphia, PA, USA ( June, 1982)


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Programas Programs

S

omente na Mata Atlântica, pelo menos 70% dos primatas encontram-se ameaçados em diferentes níveis, segundo critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).5 O cenário de ameaça iminente ajuda a dimensionar a importância do manejo das 25 espécies de primatas brasileiros que hoje encontram-se alojadas no Centro de Primatologia. Todos os programas desenvolvidos com as espécies ameaçadas de extinção atendem a objetivos conservacionistas e são privilegiados à medida que são percebidas ameaças à viabilidade dessas formas na natureza.

I

n the Atlantic Forest alone, at least 70% of the primates are threatened at different levels according to IUCN criteria.5 The degree to which each species is threatened underscores the urgent need for the management of the 25 primates held today in the Primatology Center. All of the programs that involve threatened species have conservation as their objective and are given priority according to the extent to which populations are seen to be threatened in the wild.

O mulungu-da-baixada (Erythrina sp.) atrai diversas aves, como o beija-flor-rajado (Ramphodon naevius), um dos maiores da Mata Atlântica “Mulungu-da-baixada” (Erythrina sp.) attracts many birds, including the Saw-billed Hermit (Ramphodon naevius), one of the largest hummingbirds of the Atlantic Forest

49


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

50


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Para garantir a sobrevivência desses animais, o Centro desenvolve um criterioso programa de reprodução em cativeiro, visando à obtenção de indivíduos para futuros repovoamentos ou reintroduções em áreas de reservas biológicas. Além disso, colabora na criação de colônias-satélites em outras instituições nacionais e na América do Norte, Europa, Austrália e Japão. O mico-leão-dourado é um exemplo. Se sua situação é hoje menos preocupante do que no passado recente, isso se deve ao trabalho desenvolvido no CPRJ. Atualmente,

são o muriqui, o sauim-de-coleira e o sagui-da-serra-escuro que exigem a máxima atenção dos cientistas e das instituições conservacionistas. Ameaçadas pela drástica redução das matas, pela caça, pela agricultura e pela urbanização, essas espécies correm sério risco de extinção. Por isso, os programas dedicados a elas são os que, atualmente, encabeçam a lista de prioridades do CPRJ. Em outra linha de atuação, o CPRJ se dedica à restauração da biota local, visando melhorar as condições ambientais do campus e, consequentemente, do seu entorno.

To guarantee the survival of these animals, the Center sets up carefully designed, specific breeding programs to produce viable captive stocks for repopulation and reintroduction into protected areas. In this respect, the Center collaborates with other breeding centers in the United States, Europe, Australia, and Japan. The golden lion tamarin is an example. If the situation of this species today is less worrisome than it was in the recent past, this is directly due to the efforts of the

RJPC. Currently it is the muriqui, the pied tamarin, and the buffytufted-ear marmoset that demand the attention of scientists and conservation institutions. Threatened by the drastic reduction of their forests, by hunting, by agriculture, and by urbanization, they run a serious risk of becoming extinct. These are the programs, therefore, that currently head the list of priorities of the RJPC. Another priority is the restoration of the local biota of the RJPC, its campus and surrounding forests.

Saguinus bicolor: um dos símios mais ameaçados de todo o bioma amazônico Saguinus bicolor: one of the most endangered monkeys of the Amazon

51


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Além de estudar os animais, eu tenho tido a oportunidade de observar os eventos diários e semanais no CPRJ, o que me alertou para o fato de que este lugar é o resultado dos esforços de muitas pessoas... Tenho visto e admirado a dedicação ao trabalho de todos os membros da equipe, e tenho icado impressionado com o bem-estar dos primatas.2 Stephen D. Nash, ilustrador de História Natural pela Royal College of Art, Londres, Inglaterra (Abril, 1982)

As well as studying the animals, I have had the opportunity to observe the daily and weekly cycles of events here, which has made me aware of the degree to which the place is the product of the eforts of many people... I have seen and admired the dedication of all of the staf members to their work, and have been impressed by the well-being of the primates.2 Stephen D. Nash, Natural History Illustrator, Royal College of Art, London, England (April, 1982)

52

Devido à ameaça de hibridação com outros saguis, o CPRJ está implantando um programa de recuperação e manejo para o sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita) Due to the threat of hybridization with the invasive common marmoset (Callithrix jacchus), the RJPC is establishing a management and breeding program for the buffy-tufted-ear marmoests (Callithrix aurita)


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

53


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Muriqui-do-sul Southern muriqui (Brachyateles arachnoides)

54


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Preservação de primatas Preservation of primates

Brachyteles Brachyteles arachnoides (É. Geoffroy, 1806) Brachyteles hypoxanthus (Kühl, 1820)

D

o tupi-guarani muri’ki, gente que bamboleia, que vai e vem, é também chamado de muriqui, buriqui, buriquim. Apesar de ter rosto preto, ou manchado de preto, o nome “mono-carvoeiro” é indevido. O grande viveiro construído no campus do CPRJ para este projeto, financiado pela organização World Wildlife Fund (WWF), foi inaugurado em 1985 e já possibilitou o nascimento de vários filhotes.6 O programa contempla as duas espécies existentes: Brachyteles arachnoides e Brachyteles hypoxanthus.

F

rom the Tupi-Guarani muri’ ki, one who swaggers, or who comes and goes, this animal is called “muriqui”, “buriqui”, “buriquim” and also, improperly, mono-carvoeiro, and woolly spider monkey. The large viverium constructed on the campus of the RJPC for this project was financed by WWF-US. Construction began in 1985 and it has made possible the births of various infants.6 The program covers both species: Brachyteles arachnoides and Brachyteles hypoxanthus.

55


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

56


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Muriqui, o maior primata das Américas The muriqui, the largest primate in the Americas

E

les são grandes, simpáticos e podem pesar até 15 quilos. Não são agressivos. Preferem compartilhar demorados abraços. As cenas de carinho explícito envolvem indivíduos de qualquer sexo e idade. São considerados os símios neotropicais mais evoluídos. Tornaram-se arredios, e hoje se protegem mantendo-se distantes de outros animais, isolados em grotões quase inacessíveis. Separação entre casais motivada por ciúmes não existe. Entre os muriquis, cujos estudos em cativeiro no CPRJ começaram

em 1985, com o apoio de Russell A. Mittermeier e do braço americano da WWF, reina uma espécie de liberdade sexual, o que dificulta até mesmo “identificar quem é o pai da criança”, como descreveu o primatólogo Sérgio Lucena Mendes no livro O Muriqui, escrito em parceria com a professora Karen Strier, da Universidade de Wisconsin.7 Karen comanda há mais de duas décadas um projeto em Caratinga (Minas Gerais), e seus estudos sobre o muriqui revolucionaram a tese tradicional sobre o comportamento dos primatas.

Em várias espécies dessa ordem dos mamíferos, os machos costumam disputar a preferência da fêmea, mas, entre os muriquis, é ela quem escolhe o parceiro sexual. Os concorrentes aceitam a opção sem brigas. Depois que procriam, os adultos sempre cuidam dos mais jovens e fazem “pontes” com o próprio corpo para que os filhotes passem mais facilmente de uma árvore para outra. Por conta dessas características, os índios passaram a se referir aos muriquis como o “povo manso da floresta”.8

T

with the support of Russell A. Mittermeier and the American branch of WWF. There is a degree of promiscuity on the social group that makes it hard to identify who is the father of an infant, as described by primatologist Sérgio Lucena Mendes in the book O Muriqui, written with Karen Strier, a professor at the University of WisconsinMadison.7 For over two decades, Karen has headed a project in Caratinga (Minas Gerais) and her studies on the muriqui have

revolutionized the traditional concept of primate behavior. In some primate species, males dispute the preference of the female, but among the muriquis, it is the female that chooses her sexual partner. Rivals accept her choice without a fight. Once they have bred, the adults always take care of the young, and make “bridges” with their own bodies so that the youngsters can get from one tree to another. Because of this they are often referred to as the “gentle folk of the forest”.8

hese monkeys are large, cute and friendly. They can weigh up to 15 kg. They are not aggressive; they prefer to share long hugs. Scenes of explicit affection involve individuals of any sex and age. Muriquis are believed to be the most evolved of the Neotropical primates. Hunted in the wild, they are today fearful and can be found only in deep, narrow and inaccessible valleys. Couples never have to be separated from the group because of jealousy. Research on muriquis in captivity began in 1985 at the RJPC

57


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Perfeitamente integrado ao entorno e adaptado a todas as características de locomoção dos muriquis, o viveiro é um convite à observação da espécie Perfectly integrated with its surroundings and adapted to muriqui locomotion, the viverium is an invitation to observe the species

58


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

59


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

60


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Com um metro e meio de altura em média, o muriqui é o maior primata não humano das Américas. Vegetariano, usa os membros longos e a cauda – que funciona como um quinto membro – para percorrer longas distâncias à procura de frutos e folhas comestíveis. Um único grupo familiar pode se deslocar por até oitocentos hectares atrás de comida. Para percorrer percursos extensos, ao longo dos quais dispersa sementes de diferentes espécies de plantas, prestando um serviço essencial à manutenção da diversidade da Mata Atlântica, o

bicho associa agilidade com saltos em distância, características que o levaram à candidatura para mascote dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Mas, como tamanho e ligeireza não são documento, a destruição do seu hábitat e a perseguição inclemente iniciada ainda na época que os portugueses aqui chegaram reduziram drasticamente os cerca de 400 mil muriquis que habitavam a Mata Atlântica. Hoje, estima-se uma população de 1.200 animais, dividida entre duas espécies: o muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus)

e o muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides). Os primeiros, enquadrados na categoria “criticamente em perigo”, ocupam remanescentes florestais de Minas Gerais e do Espírito Santo, enquanto os muriquis-do-sul vivem no Rio de Janeiro e em São Paulo. Atualmente, a população local do muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides) não deve ultrapassar trezentos indivíduos. Estudos para avaliar o tamanho populacional e os níveis de ameaça sobre a espécie, principalmente no Estado do Rio de Janeiro, estão sendo planejados.

A meter and a half tall on average, the muriqui is the largest non-human primate in the Americas. It is vegetarian and uses its long arms and legs, plus the tail (used as a fifth member), to cover long distances in search of fruit and edible leaves. A single group can roam over 800 hectares in search of food. When traveling long distances, they disperse seeds of many plant species, providing an essential service for the maintenance of the Atlantic Forest. The muriqui’s combination of agility with long leaps through the canopy made them

candidates for the mascot of 2016 Olympic Games. Although large and agile, they are unable to combat the loss of their forests and their persecution by hunters since the Portuguese arrived in Brazil. Their numbers have dropped dramatically from the estimated 400,000 that once occupied a large portion of the Atlantic Forest. Today, there is an estimated population of 1,200 animals, divided into two species: the northern muriqui (Brachyteles hypoxanthus) and the southern muriqui (Brachyteles arachnoides). Both are Critically

Endangered, the former occupying forest remnants in Minas Gerais and Espírito Santo, while the southern muriqui lives in Rio de Janeiro and São Paulo. Today, the counted population of the southern muriqui (Brachyteles arachnoides) is no more than 300 individuals. A better estimation of their numbers will come from a population census to be coordinated by the State Environmental Agency and the NGO EcoAtlântica, which will assess population sizes and the threats they are facing, mainly in the State of Rio de Janeiro.

61


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

62


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Devido à sociabilidade (adoram abraços) e, principalmente, à característica de braquiação (modo de locomoção que consiste em se balançar de galho em galho utilizando mãos e braços, em movimentos semelhantes aos de um ginasta em evolução nas barras olímpicas), o muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides) foi candidato a mascote olímpico da Rio 2016. A campanha foi lançada pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, por meio da Secretaria de Estado do Ambiente e de seu órgão executivo, o Inea, em parceria com a organização EcoAtlântica, e contou com o apoio de renomadas personalidades dos meios científico e artístico Given their sociability (they love to hug) and, especially, their habit of brachiation (mode of locomotion that consists of gymnastic hand-over-hand swinging from branch to branch), the southern muriqui (Brachyteles arachnoides) was a candidate for the Olympic mascot, Rio 2016. The campaign was initiated by the Rio de Janeiro State Government, through the State Secretary of the Environment and its executive agency, Inea, in partnership with EcoAtlântica. It had the support of renowned personalities in the arts and sciences

63


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Sauim-de-coleira Brazilian bare-faced tamarin (Saguinus bicolor)

64


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Saguinus Saguinus midas (Linnaeus, 1758) Saguinus niger (É. Geoffroy, 1803) Saguinus bicolor (Spix, 1823) Saguinus martinsi martinsi (Thomas, 1912) Saguinus martinsi ochraceus Hershkovitz, 1966

E

ste projeto foi criado em 1985 para reproduzir e propagar espécies amazônicas de saguis ameaçados, sobretudo o sauim-decoleira, Saguinus bicolor, com as suas subespécies: sauim-do-trombetas, Saguinus martinsi martinsi, e sauim-pardo, Saguinus martinsi ochraceus, além do sauim-mão-de-ouro, Saguinus midas, e do sauim-preto, Saguinus niger.

T

his project was set up in 1985 to breed and propagate endangered Amazonian tamarins, notably the pied tamarin (Saguinus bicolor) and its subspecies: Martins’ bare-faced tamarin (Saguinus martinsi martinsi), ochraceous barefaced tamarin (Saguinus martinsi ochraceus), Midas tamarin (Saguinus midas) and black-handed tamarin (Saguinus niger).

65


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

nesta pรกgina entra foto 4034

66


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Sauim-de-coleira, o sagui-de-cara-nua Pied tamarin (Saguinus bicolor - Spix, 1823)

P

equeno, 32 centímetros em média, brigão e territorialista. Confrontos físicos são comuns entre grupos vizinhos. Identificado como um dos mamíferos mais ameaçados de todo o bioma amazônico, o Saguinus bicolor, popularmente conhecido como sauim-de-coleira ou sagui-de-cara-nua, habita apenas uma pequena área de terra em torno de Manaus. O Saguinus bicolor é o único representante da família Callitrichidae (que compreende micos, saguis e sauins) encontrado nos fragmentos florestais urbanos da cidade. O drástico declínio populacional da espécie nas últimas duas décadas e a perspectiva de desaparecimento por completo dos sauins-de-coleira em cinquenta anos acenderam o sinal

de alerta e motivaram a elaboração de um plano nacional para salvá-los da extinção. O Centro de Primatologia, em parceria com o ICMBio, participa desse programa. Uma das alternativas para salvar o animal é a criação de unidades de conservação, já que uma das maiores ameaças a ele são a expansão de Manaus e a crescente perda de floresta na zona urbana da capital amazonense. Outros agressores potenciais são os próprios moradores, além dos predadores naturais. Desde a década de 1970 objeto de estudos que evidenciam uma redução significativa na área de ocorrência da espécie e no tamanho das populações, os saguis-de-cara-nua

estão perdendo a competição para seus parentes próximos, os sauins-de-mãos-douradas, especialmente nas áreas onde os dois se sobrepõem. O nome sauim-de-coleira deriva da pelagem branca na região posterior da cabeça, pescoço, membros superiores e região do tórax. Já na região dorsal, nos membros inferiores e na face interna da cauda, os pelos variam de marrom-alaranjado a marrom-escuro ou marrom-claro, sendo o dorso da cauda de pelagem negra. Outra característica marcante é a pele negra, sem pelos na face, cabeça e orelhas. Os filhotes nascem com pelagem idêntica à dos adultos, mas, quando ainda muito jovens, apresentam pelagem branca na cabeça.9

S

the complete extinction of the pied tamarin in 50 years sounded an alert and motivated the creation of a nationwide program to save this primate. The Primatology Center, together with ICMBio, participates in this program. An alternative to save this animal is the creation of protected areas, since one of the greatest threats to the species are the expansion of the city of Manaus and the loss of forest in its urban zone. Other aggressors are the inhabitants of the suburbs and natural predators. Since the 1970s there has been a significant reduction in the species’ area of occurrence and the pied tamarin is evidently

being displaced by the expanding population of the neighboring Midas tamarin. The name pied tamarin come from the contrasting white of the crown, mantle, chest and arms, with the orangey-brown of the lower back, legs and tail. In the dorsal region, on the lower members and the inside of the tail, the fur varies in color from orangish brown to dark brown or light brown, with black fur on the back of the tail. Another marked characteristic is their black skin and their lack of fur on the face, head and ears. The young are born with fur that is identical to that of adults, but, when very young, they have white fur on the crown.9

mall, measuring some 30 cm (head and body), but quarrelsome and territorial. Physical confrontation is common between neighboring groups. One of the most endangered primates in the entire Amazon, Saguinus bicolor, popularly known as sauim-de-coleira or sagui-de-cara-nua, lives only in a small area around the city of Manaus. Saguinus bicolor is a member of the Family Callitrichidae (that includes, besides, marmosets, Goeldi’s monkey, and lion tamarins). If left in peace, it can be found in urban forest fragments. The drastic decline in numbers of this species during the last two decades and the prospect of

67


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Sauim-pardo (Saguinus martinsi ochraceus) e, na página ao lado, sauim-do-trombetas (Saguinus martinsi martinsi) e sauim-mão-de-ouro (Saguinus midas): uma amostra da diversidade de macacos do gênero Saguinus, conhecidos como saguis, que habitam o CPRJ The ochraceous bare-faced tamarin (Saguinus martinsi ochraceus) and, on the opposite page, Martins’ bare-faced tamarin (S. m. martinsi), and the Midas tamarin (S. midas); a sample of the tamarins in the RJPC

68


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

69


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

70


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Sapajus (formerly Cebus) Sapajus xanthosternos (Wied-Neuwied, 1826) Sapajus robustus (Kühl, 1820)

N

uma última tentativa de salvar do desaparecimento o macaco-prego-do-peito-amarelo, Sapajus xanthosternos, originário do sudeste da Bahia, o CPRJ, na década de 1980, deu início à reprodução da espécie em cativeiro. O programa contou com o apoio inicial do Parc Zoologique et Botanique de Mulhouse, na França,

e do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mais tarde, recebeu a colaboração de outros parceiros europeus. Seguindo critérios de preservação semelhantes aos adotados para o Leontopithecus, a iniciativa possibilitou, em 1984, um fato inédito: o primeiro nascimento em cativeiro de

um macaco-prego-do-peito-amarelo. Passados mais de trinta anos, o programa goza de razoável sucesso, já tendo, inclusive, enviado exemplares para a formação de colônias-núcleos na Europa. Atualmente, o mesmo está sendo feito com o macaco-prego-de-topete, Sapajus robustus, oriundo das matas do sul da Bahia e do Espírito Santo.

T

Gerais (UFMG), and, later, other European zoos. Using all the experience gained in the species preservation programs for the lion tamarins, Leontopithecus, in 1984, the RJPC celebrated the first successful captive birth of a yellow-breasted capuchin. Over the subsequent 30 years, the program for

this species has met with marked success, which has allowed the establishment of a number of other breeding colonies in Europe. RCPJ is currently developing a similar program for the likewise endangered crested capuchin (Sapajus robustus), native to the forests of southern Bahia and Espírito Santo.

he yellow-breasted capuchin (Sapajus xanthosternos) occurs in southern Bahia, and is Critically Endangered. In the 1980s, the RJPC began a captive breeding program for this species, with the initial support of the Parc Zoologique et Botanique de Mullhouse, France, and the Departamento de Zoologia of the Federal University of Minas

Macaco-prego-do-peito-amarelo Yellow-breasted capuchin (Sapajus xanthosternos)

71


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Macaco-prego-de-topete Crested capuchin (Sapajus robustus)

Macaco-prego-do-peito-amarelo Yellow-breasted capuchin (Sapajus xanthosternos)

Estudos genéticos permitiram mudar a classificação dos macacos-prego de Cebus para Sapajus. É o único primata neotrópico que utiliza ferramentas em ambiente natural (pedras para quebrar cocos ou cavar o solo em busca de raízes comestíveis, e varetas para capturar larvas de insetos e mel em ocos de árvores). A foto na página ao lado, abaixo, mostra um caso raro ocorrido no CPRJ em 2003: o nascimento de gêmeos de macaco-prego-do-peito-amarelo (Sapajus xanthosternos) Genetic studies have resulted in a change in the generic classification of the capuchin monkeys. Once all in the genus Cebus, the robust, tufted species are now placed in a distinct genus, Sapajus. The capuchin monkey is the only Neotropical primate that uses tools in its natural habitat (stones to open palm nuts or to dig the soil in search of edible roots, and sticks to capture insect larvae and remove honey from hollow trees). Lower, on the next page, a rare event that took place at the RJPC in 2003: the birth of twins to a yellow-breasted capuchin (Sapajus xanthosternos) 72


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Macaco-prego-de-topete Crested capuchin (Sapajus robustus)

73


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Leontopithecus Leontopithecus rosalia (Linnaeus, 1766) Leontopithecus chrysopygus (Mikan, 1823) Leontopithecus chrysomelas (Kühl, 1820)

D

evido à ameaça de extinção das espécies de micos-leões na natureza, foi formada a primeira colônia de micos-leões-dourados no Jardim Zoológico do Rio de Janeiro, na década de 1960. Mais tarde, no antigo Banco Biológico da Tijuca, foram criadas colônias das duas outras espécies, o mico-leão-preto e o mico-leão-de-cara-dourada. Posteriormente, o programa foi levado para o CPRJ, onde é desenvolvido até hoje. Uma quarta espécie de Leontopithecus foi descrita somente em 1990: o mico-leão-de-cara-preta (L. caissara), nativo do litoral sul do estado de São Paulo e do Paraná (ilha de Superagui e norte do estado). O Centro ainda não possui indivíduo desta espécie.

D

ue to the threat of extinction of the golden lion tamarin in the wild, Coimbra-Filho established a colony of these monkeys in the Rio de Janeiro Zoological Garden in the 1960s. Colonies of the other two lion tamarin species (the golden-headed and the black lion tamarins) were set up later in what had become the Tijuca Biological Bank. The colonies eventually transferred to the RJPC. The fourth species of lion tamarin, the black-faced lion tamarin, Leontopithecus caissara, was first described only in 1990. It occurs in the southeast of the state of São Paulo and in northeastern Paraná, on the island of Superagui. None are held in the RJPC.

74


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Mico-leĂŁo-dourado Golden lion tamarin (Leontopithecus rosalia) 75


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

76


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Mico-leão-dourado, um ícone de conservação The golden lion tamarin, an icon of conservation Leontopithecus rosalia (Linnaeus, 1766)

D

e todos os animais brasileiros ameaçados de extinção, o mico-leão-dourado é o que mais chama a atenção internacional. Na década de 1970, quando a população de micos-leões-dourados não passava de duzentos indivíduos, foi deflagrada uma campanha internacional para salvar a espécie, que virou símbolo da Mata Atlântica e da luta pela preservação do bioma. O L. rosalia, que já esteve “criticamente em perigo” de extinção nos anos 1990, é classificado como “em perigo” no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção10 e permanece neste status na recente atualização das listas de espécies ameaçadas de extinção publicadas em dezembro de 2014 pelo Ministério do Meio Ambiente.11 Famosos pelo simulacro de juba leonina e pelo pelame de brilhante tonalidade avermelhada (daí o nome sauí-piranga dado pelos tupis-guaranis), os machos e fêmeas de Leontopithecus rosalia variam pouco de tamanho e peso (em torno de 55 centímetros e seiscentos gramas). De modo geral, no entanto, os machos adultos são ligeiramente maiores numa mesma população.12

O

f all the Brazilian animals threatened with extinction, the golden lion tamarin is the one that has attracted the most international attention. In the 1970s, when the golden lion tamarin population had fewer than 200 individuals, an international campaign was put in place to save the species that eventually became a symbol of the Atlantic Forest and of the fight to preserve it. In the 1990s, L. rosalia was classified as Critically Endangered; today it has been upgraded to Endangered in the Red Book of Endangered Brazilian Fauna10 and remained in this category in a recent update of the list of endangered species published in December 2014 by the Ministério do Meio Ambiente.11 Famous for its leonine mane and the intense reddish-orange color of its fur (thus the name “sauí-piranga” in Tupi-Guarani), males and females of Leontopithecus rosalia vary little in size and weight (around 55 cm and 600 g), but adult males tend to be just slightly larger.12

77


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

O desmatamento, a expansão agropecuária e a urbanização foram os fatores que mais reduziram o hábitat do mico-leão-dourado, as matas de baixada da Mata Atlântica do Estado do Rio de Janeiro. A caça de subsistência e a prática de capturá-los vivos para o comércio também contribuíram para a quase extinção da espécie. Hoje as áreas onde vivem os micos-leões-dourados – pequenas ilhas de floresta secundária, quase todas menores do que mil hectares – estão restritas a apenas oito municípios do Rio de Janeiro (Saquarema, Cabo Frio, Armação dos Búzios, Rio das Ostras, Casimiro de Abreu, Silva Jardim, Araruama e Rio Bonito). Tal isolamento geográfico contribui para diminuir o fluxo gênico e, consequentemente, aumentar a consanguinidade entre os animais, tornando as pequenas populações mais vulneráveis à extinção. A população atual na natureza não passa de 3.200 indivíduos, aproximadamente, estando distribuída pelas reservas biológicas de Poço das Antas e União, pela Área de Proteção Ambiental (APA) do São João/Mico-Leão-Dourado e por Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), unidades de conservação de domínio privado que colaboram com o programa de preservação do mico-leão-dourado. O maior desafio do projeto, porém, não é apenas aumentar o número de micos na natureza, mas ampliar seu hábitat na Mata Atlântica e protegê-lo de modo mais efetivo.

78


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Deforestation, the expansion of agriculture and cattle-ranching, and urbanization were the factors that most drastically reduced the habitat of the golden lion tamarin – the lowland forests of the Atlantic Forest in Rio de Janeiro state. Capture of live animals for sale also contributed to the near extinction of the golden lion tamarin. Today golden lion tamarins live in small patches of secondary forest in areas of less than a

thousand hectares. They are restricted to eight municipalities (Saquarema, Cabo Frio, Búzios, Rio das Ostras, Casimiro de Abreu, Silva Jardim, Araruama and Rio Bonito). This geographic isolation contributes to reduced gene flow and, consequently, to consanguinity between the animals, making small populations more vulnerable to extinction. The population is now about 3,200 animals in the wild, these

being distributed in the Poço das Antas and União biological reserves, in the São João/Mico-LeãoDourado Environmental Protection Area and in private RPPNs (Private Natural Heritage Reserves) that collaborate with the golden lion tamarin conservation program. The greatest challenge for this program now is not just to increase their numbers in the wild, but to increase the extent of available habitat and to protect it.

79


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Mico-leão-preto Black lion tamarin Leontopithecus chrysopygus (Mikan, 1823)

A

primeira colônia de reprodução de micos-leões-pretos foi formada em 1973, no Banco Biológico da Tijuca, depois que Coimbra-Filho redescobriu a espécie e capturou sete exemplares na área do Parque Estadual do Morro do Diabo, município de Teodoro Sampaio (São Paulo). Posteriormente, a colônia foi transferida para o CPRJ, onde é estudada sob vários aspectos (nutrição, comportamento, patologias etc.), visando à reprodução e consequente reintrodução em áreas de preservação.13, 14 A espécie, endêmica da Mata Atlântica na região do Pontal do Paranapanema, em São Paulo, permanece na condição de “em perigo” na recente lista de espécies ameaçadas de extinção publicada em dezembro de 2014 pelo MMA.11 80

T

he first breeding colony of the black lion tamarin was established in 1973, at the Tijuca Biological Bank, after CoimbraFilho had rediscovered the species and captured seven animals in the area of the Morro do Diabo State Park, in the municipality of Teodoro Sampaio, São Paulo. The colony was later transferred to the RJPC, where various studies are now being carried out (on nutrition, behavior, pathology, illness, etc.), to breed them for subsequent reintroduction in protected areas.13, 14 The black lion tamarin is endemic to the Atlantic Forest in the region of Pontal do Paranapanema, in São Paulo, and is classified as Endangered on the list of threatened species published by the MMA in December 2014.11


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Mico-leão-de-cara-dourada Golden-headed lion tamarin Leontopithecus chrysomelas (Kühl, 1820)

E

ndêmico das florestas do sul da Bahia, o mico-leão-de-cara-dourada permanece na condição de “em perigo” na lista de espécies ameaçadas de extinção do MMA.11 A primeira colônia de Leontopithecus chrysomelas do CPRJ começou em 1985, formada por animais repatriados da Bélgica e do Japão, para onde uma grande quantidade de micos-leões-de-cara-dourada foi ilegalmente exportada entre 1983 e 1984. O IBDF, com o apoio do consulado brasileiro e do diretor do Jersey Wildlife Preservation Trust, Jeremy J. C. Mallinson, enviou, então, o representante Dionísio Morais Pessamilio para fazer o repatriamento dos animais, formando a colônia no CPRJ. A exemplo do grupo dos micos-leões-dourados, a colônia tem prosperado bem.

E

ndemic to the forests of southern Bahia, the golden-headed lion tamarin is classified as Endangered on the Brazilian list of threatened species.11 The first colony of Leontopithecus chrysomelas at the RJPC was established in 1985. It consisted of animals brought back to Brazil from Belgium and Japan. In 1983/1984, many golden-headed lion tamarins were exported illegally to Belgium and Japan. With support from the Brazilian consulate and the director of the Jersey Wildlife Preservation Trust, Jeremy Mallinson, IBDF sent a representative, Dionísio Morais Pessamilio, to repatriate the animals, forming the colony at the RJPC. As in the golden lion tamarins, the colony has prospered.

81


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Callithrix Callithrix aurita (É. Geoffroy, 1812) Callithrix jacchus (Linnaeus, 1758) Callithrix penicillata (É. Geoffroy, 1812) Callithrix flaviceps (Thomas, 1903) Callithrix geoffroyi (É. Geoffroy, 1812) Callithrix kuhlii Coimbra-Filho, 1985

M

ediante a reprodução em cativeiro, o CPRJ procura preservar o sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita), nativo da Mata Atlântica de altitude no Rio de Janeiro e São Paulo, além de pequena área em Minas Gerais. Para tal, está implantando um programa de recuperação e manejo da espécie nos moldes do aplicado para os micos-leões.

T

he RJPC is working to preserve the buffy-tufted-ear marmoset (Callithrix aurita) through a captive breeding program. It is native to highaltitude Atlantic Forest in the states of Rio and São Paulo, besides a small area in Minas Gerais. The RJPC is carrying out a recovery and management program for the species using the protocols applied to the lion tamarins.

Sagui-da-serra-escuro Buffy-tufted-ear marmoset (Callithrix aurita)

82


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

83


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Recentemente, inclusive, mais um grave fator de ameaça começou a pairar sobre essa espécie: o processo de hibridação com o sagui-donordeste (Callithrix jacchus) e o sagui-de-pincel-preto, ou sagui-docerrado (Callithrix penicillata), ambos introduzidos inadvertidamente em hábitats que não os originais da espécie e que estão causando inegável desequilíbrio ecológico. Essas duas espécies constam na Lista Oficial de Espécies Exóticas Invasoras do Estado do Rio de Janeiro.15 As demais - o sagui-da-serra, Callithrix flaviceps, o sagui-da-cara-branca, Callithrix geoffroyi, e o sagui-de-Wied, Callithrix kuhlii - ainda requerem programas de conservação.

In recent years, another grave factor has begun to threaten this species: hybridization with marmosets from Northeast Brazil, introduced inadvertently into habitats outside of their natural range, the common marmoset (Callithrix jacchus) and the black-tufted-ear marmoset (Callithrix penicillata). Both were introduced irresponsibly and have clearly brought about ecological disequilibrium. They are on the Official List of Alien Invasive Species of the State of Rio de Janeiro.15 Other marmosets − the buffy-headed marmoset (Callithrix flaviceps), the white-faced or Geoffroy’s marmoset (Callithrix geoffroyi), and Wied’s black-tufted-ear marmoset (Callithrix kuhlii) – are still in need of conservation measures.

Multi-híbridos de Callithrix: fêmea híbrida (esq.), macho híbrido de cinco espécies (centro) e macho híbrido de quatro espécies Multiple hybrids of Callithrix: a female hybrid (at left), a male hybrid of five species (center) and a hybrid of four species

84


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

HĂ­bridos Callithrix aurita x Callithrix jacchus Hybrids Callithrix aurita x Callithrix jacchus

85


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

A família Callitrichidae é facilmente caracterizada pela grande diversidade morfológica. Da esquerda para direita: sagui-do-cerrado (Callithrix penicillata), sagui-da-cara-branca (Callithrix geoffroyi) e sagui-do-nordeste (Callithrix jacchus) The Family Callitrichidae is easily characterized by its considerable morphological diversity. From the left: a black-tufted-ear marmoset (Callithrix penicillata), white-faced or Geoffroy’s marmosets (Callithrix geoffroyi), and common marmosets (Callithrix jacchus)

86


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

87


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Sagui-da-serra-escuro Buffy-tufted-ear marmoset Callithrix aurita (É. Geoffroy, 1812)

C

onhecido como sagui-da-serra-escuro, o Callithrix aurita tem o corpo revestido de pelos pretos e manchas ruivas, face esbranquiçada e tufos de pelos na região da orelha. Já a cauda alterna finos anéis nas cores branca e preta. Endêmico da Mata Atlântica, o sagui-da-serra-escuro sofre com a introdução de outros saguis, Callithrix jacchus e C. penicillata, no que restou de mata onde vive, os remanescentes de florestas espalhados por Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Estes saguis, hibridados com outros de diferentes origens, são encontrados em certas unidades de conservação, como os parques nacionais de Itatiaia e da Serra da Bocaina, no Rio de Janeiro e em São Paulo, respectivamente, fato que, aliás, está comprometendo seriamente a sobrevivência das espécies protegidas. Os grupos familiares geralmente possuem de dois a sete indivíduos, e o chefe do bando costuma ser uma fêmea. Elas comumente têm filhotes gêmeos fraternos e costumam carregá-los nas costas. Os irmãos mais velhos ajudam a cuidar dos mais novos.16

88


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

K

nown as the buffy-tufted-ear marmoset, the body of Callithrix aurita is covered by black hairs and reddish-brown patches. The face is whitish, and tufts of hair near the ears are one of its trademarks. The tail is black with narrow pale rings. Endemic to the Atlantic Forest, the buffy-tufted-ear marmoset suffers from the invasion of other marmosets in what has remained of the forests where it lives, scattered over Rio de Janeiro, São Paulo and southern Minas Gerais. Hybrids with marmosets of

various species are found in protected areas such as the Itatiaia and Serra da Bocaina national parks, in Rio de Janeiro and São Paulo, respectively. This is seriously compromising the survival of this species. Family groups have two to seven members, and the leader of the groups is usually a female. Females generally give birth to twin offspring, and all adult and sub-adult group members take turns to carry them on their backs until the infants are 2−3 months old.16

89


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Chiropotes Chiropotes satanas (Hoffmannsegg, 1807)

Q

uando o projeto teve início nos anos 1980, o CPRJ possuía apenas uma fêmea de cuxiú-preto (Chiropotes satanas) em condições de acasalar. Devido à sua situação crítica, os esforços iniciais para sua reprodução em cativeiro foram transferidos para a Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte, logrando ali grande sucesso. Hoje, no CPRJ, existe apenas um exemplar macho, que aguarda a chegada de fêmeas para se reproduzir em cativeiro e formar novas colônias.

W

hen the project began in the 1980s, the RJPC had a single adult female black bearded saki (Chiropotes satanas). The conservation status of this animal in the wild was ranked as Critically Endangered and initial efforts to establish a breeding colony were transferred to the Fundação Zoobotânica, Belo Horizonte. The program there was a success, and today the RJPC has an adult male awaiting the arrival of females to form a second captive colony.

90


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

91


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

92


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Remoção e translocação do mico-leão-de-cara-dourada Translocation of the golden-headed lion tamarin Leontopithecus chrysomelas (Kühl, 1820)

O

s micos-leões-de-cara-dourada foram introduzidos e vi-

vem há pouco mais de dez anos no Parque Estadual da Serra da Tiririca, uma área com quatro mil hectares distribuídos pelos municípios de Niterói, Maricá e São Gonçalo.

G

olden-headed lion tamarins were introduced and have lived for slightly over ten years in the Serra da Tiririca State Park, a protected area of 4,000 hectares in the municipalities of Niterói, Maricá and São Gonçalo.

93


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Preparo de armadilha e captura do mico-leĂŁo-de-cara-dourada Preparing traps for the capture of the golden-headed lion tamarins

94


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Antes disso, o símio nunca havia sido visto no Estado. Por isso, suspeita-se de que ele veio parar na região pelas mãos de traficantes de animais silvestres. O verdadeiro lar do mico-leão-de-cara-dourada é o sudeste da Bahia, onde está em perigo de extinção, e é para lá que ele está sendo transferido. Os micos-leões-de-cara-dourada representam uma ameaça potencial ao mico-leão-dourado devido à possibilidade de hibridação entre as duas espécies, fato confirmado por experimentos realizados no CPRJ e que pode levar o mico-leão-dourado à extinção.17 Caso ocorra a hibridação,

os esforços realizados durante mais de quarenta anos para preservar esta espécie terão sido em vão. Além disso, o mico-leão-de-cara-dourada introduzido no Estado do Rio de Janeiro está fora de sua distribuição geográfica natural e, embora suas necessidades ecológicas sejam semelhantes às do mico-leão-dourado, compete por alimento e abrigo e pode introduzir novos parasitas e patógenos. As medidas para a remoção do L. chrysomelas estão sendo adotadas por várias instituições, em um esforço conjunto, e são acompanhadas por especialistas, para evitar que essa espécie se estabeleça definitivamente

em área de ocorrência original do mico-leão-dourado. Por trás do processo de translocação, nome técnico dado à transferência de indivíduos selvagens de uma espécie entre áreas distintas, estão Maria Cecília Martins Kierulff, do Instituto Pri-Matas, José Luiz Catão Dias, da Universidade de São Paulo (USP), e, do CPRJ (Inea), Alcides Pissinatti, que levou o tema para os debates do Comitê de Recuperação e Manejo dos Micos-Leões, em 2001. Inicialmente os técnicos envolvidos fizeram o levantamento da população, que mais tarde veio a embasar a estratégia conjunta e as ações de remoção promovidas pelo Instituto Pri-Matas.18

This monkey had never been seen before in the state, and, even today, there is no record of how or why it came to be in the region. Its true home is southern Bahia, where it is endangered. The golden-headed lion tamarin is a threat to the golden lion tamarin due to the potential for hybridization between the two species, already confirmed by experiments carried out at the RJPC.17 If they hybridize, the result could be the extinction of the golden lion tamarin,

and more than 40 years of conservation efforts on its behalf will have been in vain. The golden-headed lion tamarins are outside their geographic range, and even though the species’ ecology and biology are similar to that of the golden lion tamarin, new strains of parasites and pathogens might be introduced. They would also compete for food and shelter. Measures are underway to remove L. chrysomelas, to avoid it becoming established permanently in

an area where originally only the golden lion tamarin was found. The capture and translocation is being carried out by Maria Cecília Martins Kierulff (Instituto Pri-Matas), José Luiz Catão Dias (USP), and Alcides Pissinatti (RJPC), who presented the issue for discussion at the Comitê de Recuperação e Manejo dos Micos-Leões, in 2001. A preliminary population survey was carried out to by the Instituto PriMatas to establish the plan of removal of the lion tamarins.18

95


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Os micos-leões-de-cara-dourada são submetidos a vários exames e permanecem em quarentena antes de serem liberados para retornar à área de ocorrência natural Golden-headed lion tamarins undergo medical examination and are placed in quarantine before being released in their natural habitat

96


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Ao serem capturados em Niterói, os animais são alojados no CPRJ, onde são submetidos a vários exames médicos e permanecem em quarentena. Terminado o isolamento, os micos sadios são liberados para viajar até o local destinado para eles no estado da Bahia: a RPPN da empresa Veracel Celulose, um trecho de floresta preservado que se estende por três mil hectares e abriga populações de saguis, sauás, bugios e macacos-prego. Ao todo, já foram repatriados e soltos nas matas do sul da Bahia 350 animais, os quais são constantemente monitorados para verificar a adaptação à nova área.

O controle dos animais é feito por radiotelemetria, isto é, um indivíduo de cada grupo recebe um colar com um rádio transmissor de menos de dez gramas e um pouco menor que dois centímetros. O equipamento emite um bipe que é captado por antenas de rádio, mas não é ouvido pelo animal, o que facilita a localização do grupo. O projeto é realizado por um conjunto de instituições que trabalham em parceria: Inea/CPRJ, ICMBio, Instituto Pri-Matas e Laboratório de Patologia Comparada de Animais Selvagens (Lapcom), da Faculdade de Medicina Veterinária e

Zootécnica da USP. Os recursos financeiros envolvidos no controle e erradicação dessa espécie, ameaçada em seu hábitat natural e introduzida no Estado do Rio de Janeiro, já chegam a quase um milhão de dólares e demonstram os altos custos envolvidos em programas desse tipo. Por trás do seu financiamento, estão os seguintes fundos: Câmara de Compensação Ambiental do Rio de Janeiro (CCA/SEA), Fundação O Boticário, Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), Conservação Internacional, Mohamed Bin Zayed Species Conservation Fund, Lion Tamarins of Brazil Fund e Primate Action Fund.

After their capture in Niterói, the lion tamarins are taken to the RJPC, where they are medically examined and placed in quarantine. At the end of this period of isolation, individuals deemed healthy are sent to Bahia, to a Private Natural Heritage Reserve created by Veracel Celulose. The reserve has 3,000 hectares of forest with populations of marmosets, titis, howlers and capuchin monkeys. A total of 350 animals have been released in the forests of southern Bahia. They are being monitored for their adaptation to the new area.

A radio collar is attached to one individual in each group. It weighs 10 grams and is a little under two centimeters in length. The transmitters give off beeps, inaudible to the lion tamarins, that are captured by an antenna, allowing the group to be followed in the forest. This project is being carried out through a partnership of several institutions: Inea/RJPC, ICMBio, Instituto Pri-Matas and the Laboratory of Comparative Wildlife Pathology (Lapcom) of the Faculdade de Medicina Veterinária e Zootécnica, Universidade de São Paulo (USP).

The financial resources involved in the capture and translocation of this species have already nearly exceeded a million dollars. The costs of such a program are very high. The following institutions have provided support and funds: Câmara de Compensação Ambiental do Rio de Janeiro (CCA/SEA), Fundação O Boticário, Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), Conservação Internacional, Mohamed Bin Zayed Species Conservation Fund, Lion Tamarins of Brazil Fund and Conservation International’s Primate Action Fund.

97


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Zootécnico Zootechnical program

E

m termos de pesquisa primatológica aplicada, o Programa Zootécnico do CPRJ busca desenvolver e fixar características zootécnicas positivas em formas híbridas do gênero Callithrix. Por meio de acasalamentos entre diversas espécies da região oriental do Brasil, os pesquisadores tentam obter linhagens que se adaptem às condições dos biotérios (local onde se criam animais de laboratórios). O objetivo é gerar formas domésticas de saguis que substituam

o emprego de formas selvagens na pesquisa científica em geral. Formas híbridas de Callithrix - potencialmente maiores e mais resistentes, altamente prolíficas e com capacidade lactífera (no caso de fêmeas) - são exemplos de modelos que poderiam ser usados em estudos de doenças que acometem seres humanos e sobre as quais ainda é difícil estabelecer controle eficaz, tais como o diabetes e a formação de cálculos biliares.

Isso se justifica pela dificuldade de se encontrar modelos adequados às diferentes necessidades de estudos que podem favorecer humanos. Destacam-se, por exemplo, os experimentos de hibridação realizados no CPRJ que comprovam a real possibilidade de serem obtidos híbridos apropriados a estudos de dermatologia e outras áreas, utilizando-se símios de pequeno porte como, por exemplo, Callithrix jacchus e C. penicillata.19

T

Hybrid individuals of Callithrix without hair (useful in cosmetology), cross-eyed, potentially larger and more resistant, reproductively prolific and with an enhanced capacity to produce milk (females) are examples of models that could be produced for the study of many illnesses confronted by humans and

that are still difficult to control, such as diabetes and gall stones. The aim is to find adequate models for physiological and biomedical research. For example, experimentation at the RJPC has demonstrated the potential for a hybrid appropriate for dermatological studies using Callithrix jacchus and C. penicillata.19

he Zootechnical Program of the RJCP aims to develop positive zootechnical characteristics in hybrid forms of the genus Callithrix. Cross breeding the various species in eastern Brazil, researchers search for lineages which are adapted to captive management for scientific and biomedical research.

98


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Híbridos Callithrix aurita × Callithrix jacchus Hybrids Callithrix aurita × Callithrix jacchus 99


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Outras espécies Other species

A

lém de trabalhar pela preservação das espécies já mencionadas, o Centro de Primatologia mantém colônias para estudo e reprodução de outros primatas ameaçados de extinção.

B

esides working for the preservation of the species already mentioned, the Primatology Center maintains colonies for research and breeding of other endangered primates.

Aotus nigriceps Dollman, 1909: único símio neotrópico de hábitos noturnos, é por isto chamado de macaco-da-noite Aotus nigriceps Dollman, 1909: members of the genus Aotus are the only nocturnal primates in the Neotropics. This is the black-headed night monkey

100


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

101


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Sagui-leãozinho, o menor símio do mundo Pygmy marmoset, the smallest monkey in the world Cebuella pygmaea (Spix, 1823)

E

les são extremamente ágeis e gostam de correr e saltar. A agilidade com que se movimentam é inversamente proporcional ao seu tamanho: nada mais do que 15 centímetros, incluindo a cauda. Conhecido como sagui-pigmeu, ou sagui-leãozinho, este macaco, da menor espécie de símio de que se tem notícia, possui olhos expressivos, amendoados e que podem enxergar a distância tanto durante o dia quanto à noite. Pesando apenas 130 gramas, este pequenino sagui, mesmo quando adulto, cabe na mão de uma criança. Meia dúzia de filhotes nasceu em cativeiro no Centro de Primatologia do Rio de Janeiro. Ainda que seja difícil observá-lo na natureza, o sagui-leãozinho alimenta o comércio ilegal de animais selvagens. As aves de rapina são seus principais predadores. Oriundos da Floresta Amazônica – onde os índios têm por costume deixá-los no cabelo para que catem piolhos – e de áreas da Colômbia e do Equador, os saguis-pigmeus têm entre suas principais características o poder de adaptação. São macacos flexíveis e

102


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

se acostumam facilmente às mudanças ambientais causadas pelo homem. Estes símios já foram encontrados vivendo em pequenos grupos de árvores próximas a fazendas.Também ficaram conhecidos por usar dosséis de árvores de floresta secundária. A monogamia, característica pouco comum entre os primatas, é típica nessa espécie. Ainda que esteja na categoria “ameaçada”, a espécie carece de estudos que aprofundem o conhecimento a seu respeito.

T

hese animals are extremely agile, always running and jumping. The agility with which they move is inversely proportional to their size: 15 cm including the tail. Known as pygmy marmoset (Cebuella pygmaea), this is the smallest known species of monkey. Its expressive, almond-shaped eyes have good long-distance vision, during the day as well as at night. They weigh only 130 grams and fit in the palm of a young child’s hand, even as adults. Six offspring have been born in captivity at the RJPC. Although it is difficult to observe them in the wild, there is a constant supply of pygmy marmosets in the illegal wildlife trade. Birds of prey are their main predators. These adaptable marmosets are from the Amazon, in Brazil, Peru, Colombia, Ecuador, and Bolivia.

Indians like to keep them as pets to remove lice from their hair. Pygmy marmosets have small home ranges and are generally found in riparian forest, close to rivers and streams. They are monogamous (a rare mating system in primates) and live in small family groups. There is little information available on the behavior and ecology of these animals.

103


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Guariba Alouatta caraya (Humboldt, 1812) Alouatta guariba clamitans Cabrera, 1940

O

CPRJ, as Universidades Federal e do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ e UERJ, respectivamente), o ICMBio e o Ibama estão elaborando um programa de estudos para a reintrodução do guariba-ruivo do Sudeste do Brasil no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro.

T

he RJPC and the federal and state universities of Rio de Janeiro, along with Ibama and ICMBio, are collaborating in a reintroduction program for the southern brown howler in the Tijuca National Park, Rio de Janeiro.

Guariba-ruivo Southern brown howler (Alouatta guariba clamitans)

104


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

105


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

O guariba é um dos maiores primatas neotropicais e possui acentuado dimorfismo na pelagem. O macho do Alouatta guariba clamitans (acima) é ruivo e a fêmea, marrom bem escura; já o macho adulto do Alouatta caraya, na página ao lado, típico dos biomas do Pantanal e Cerrado, é preto e a fêmea, de pelo castanho-claro, cor de palha

106


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

The howler monkey is one of the largest of the Neotropical primates. Some species show marked pelage dimorphism. The male of Alouatta guariba clamitans, on the previous page, is red and the female is dark brown; the adult male of Alouatta caraya, above, typical of the Pantanal and Cerrado, is black and the female is light brown, straw-colored

107


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Macaco-aranha Guiana spider monkey Ateles paniscus (Linnaeus, 1758)

Os longos membros da espécie facilitam sua locomoção com extraordinária desenvoltura pela mata The long arms and legs of this species allow it to move easily through the forest

108


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

109


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Callicebus Callicebus personatus (É. Geoffroy, 1812) Callicebus vieirai Gualda-Barros, Nascimento & Amaral, 2012

O sauá Callicebus personatus. Callicebus, em latim, significa “macaco bonito”. São hábeis saltadores, mesmo estando com os filhotes nas costas, e raramente descem ao solo The northern masked titi, Callicebus personatus. Callicebus in Latin means “beautiful monkey”. They are able climbers, even with young on their back, and rarely go down to the ground

110


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

111


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Callicebus vieirai, encontrado no Mato Grosso, na região do Rio Iriri. Atualmente, existem 34 espécies de sauás Vieira’s titi Callicebus vieirai from the Rio Iriri, Mato Grosso. There are now 34 species of titis

112


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

113


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

114


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Uacari Golden-backed black uakari Cacajao melanocephalus (Humboldt, 1811)

O septo nasal mais largo, com narinas distantes entre si e voltadas para os lados, retrata com exatidão o caráter platirrino comum aos símios neotrópicos This species has a broad nasal septum, with widely separated nostrils that face outward, a trait that reveals the Platyrrhini character of Neotropical primates

115


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Sagui-branco amazônico Golden-white tassel-ear marmoset Mico chrysoleucos (Wagner, 1842)

Um dos principais itens da dieta desses micos é o exsudato comestível de plantas, como gomas, seiva, bálsamos e resinas, que eles conseguem extrair com seus dentes incisivos inferiores One of the main items in the diet of these marmosets is edible plant exudates such as gums, sap, balsam and resins that they extract with their lower incisors

116


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

117


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Sagui-de-santarém Santarém marmoset Mico humeralifer (É. Geoffroy, 1812)

Ambas as espécies são ágeis ao predar insetos, lagartixas, batráquios e ninhegos, entre outras presas Both species are very agile and prey on insects, lizards, frogs and baby birds as well as other animals

118


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Mico-de-mauĂŠs MauĂŠs marmoset Mico mauesi (Mittermeier, Schwarz & Ayres, 1992)

119


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Sagui-de-cauda-preta Black-tailed marmoset Mico melanurus (É. Geoffroy, 1812)

120


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Mico-saterei Sateré marmoset Mico saterei (Silva Júnior & Noronha, 1998)

Não há dados suficientes sobre a população destas espécies, mas sabe-se que habitam uma região que sofre intenso desmatamento na Amazônia There is insufficient data on the populations of these species, but we know that both live in a region in the Amazon that is undergoing intense deforestation

121


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

122


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Mico-de-goeldi Goeldi’s monkey Callimico goeldii (Thomas, 1904)

O nome deste mico é uma homenagem ao naturalista suíço Emil August Goeldi, responsável por transformar o Museu Paraense, que hoje leva o seu nome, em um grande centro de pesquisa sobre a região amazônica Named after the Swiss naturalist Emil August Goeldi, responsible for transforming the Museu Paraense, which today bears his name, into a major research center in the Amazon region

123


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Parauacu Saki monkeys Pithecia mittermeieri

Uma revisão taxonômica dos parauacus, Pithecia, feita pela pesquisadora Laura Marsh, revelou cinco novas espécies. A Pithecia mittermeieri é uma homenagem a Russell A. Mittermeier, chefe do Grupo de Especialistas em Primatas da IUCN, para quem “esta revisão do gênero mostra claramente o quão pouco ainda sabemos sobre a diversidade do mundo natural que nos cerca e do qual nós dependemos tanto” A taxonomic revision of the sakis, Pithecia, carried out by the researcher Laura Marsh, revealed five new species. Pithecia mittermeieri was named to honor Russell A. Mittermeier, chair of the IUCN Primate Specialist Group, who said “the revision of this genus shows so clearly how little we still know of the diversity of the natural world that we depend on”

124


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

125


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

126


Maior árvore da Mata Atlântica, o jequitbá (Cariniana legalis) Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ produz frutos com sementes aladas que se dispersam com o vento. Mudas novas são encontradas nas matas remanescentes, colaborando para o reflorestamento da região The biggest tree in the Atlantic Forest, the “jequitibá” (Cariniana legalis) has fruits with winged seeds that are scattered by the wind. New seedlings can be found in remnant patches of forest, which contribute to the reforestation of the region

Programa de restauração florestal Forest restoration program

A

riqueza florística e faunística da área do CPRJ é assegurada por um trabalho de restauração ecológica que busca soluções naturais para os problemas ambientais. Nesse sentido, simples projetos paisagísticos são sempre transformados em ações conservacionistas. De modo geral, as atividades ligadas a esses programas são realizadas em áreas degradadas e cobertas por vegetação rasteira, na maioria sapezais. Os servidores do Centro, após receberem orientações básicas, dedicam-se também aos serviços de ajardinamento e aos gramados e pomares.

T

he richness of the RJPC flora and fauna is guaranteed by ecological restoration efforts that use natural solutions to environmental problems. Simple landscaping projects as such turn into conservation activities. Activities linked to these programs are generally carried out in areas that have been deforested and have only sparse herbaceous plant cover. The work is done by employees of the Center, who also take care of the gardens, lawns and orchards.

127


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Tratamento ecológico e paisagístico do campus do CPRJ Ecology and care of the landscape at the RJPC campus

D

e valor indiscutível para a preservação é o banco genético dedicado às coleções de plantas ameaçadas, notadamente árvores fornecedoras de “madeiras de lei”. Muitas delas já servem de “sementões” ou “porta-sementes” de espécies dos gêneros Apuleia, Aspidosperma, Astronium, Caesalpinia, Cedrela, Centrolobuim, Copaifera, Dalbergia, Hymenaea, Machaerium, Myroxylon, Tecoma, Tabebuia etc. Entre as árvores nobres, plantadas em trechos apropriados do campus, sobressaem-se o gonçaloalves (Astronium fraxinifolium), duas espécies de jequitibá (Cariniana legalis e Cariniana estrellensis), ou “gigante da floresta”, em tupi, representando a maior das árvores da Mata Atlântica, além de cangeranas, cedros, urucuranas (Croton), paus-de-tucano (Vochysia), faveiras (também muito apreciadas pelos pássaros), angicos, vinháticos (Plathymenia) e várias outras. Além de árvores típicas da Mata Atlântica, o Centro abriga espécies brasileiras raras, algumas exóticas e de valor ornamental invulgar. Dessas árvores notáveis destacam-se: a Elizabetha princeps, a Brownea grandiceps e a Amherstia nobilis, esta última

128

A

gene bank for the preservation of threatened plants, especially valuable hardwoods, is of inestimable importance for plant conservation. Many of the trees at the RJPC serve as seed banks for such genera as Apuleia, Aspidosperma, Astronium, Caesalpinia, Cedrela, Centrolobuim, Copaifera, Dalbergia, Hymenaea, Machaerium, Myroxylon, Tecomo, and Tabebuia. Among the most valuable trees that have been planted in appropriate settings on the campus, those worthy of mention are “gonçalo-alves” (Astronium fraxinifolium), two species of “jequitibá” (giant of the forest, in Tupi; Cariniana legalis and Cariniana estrellensis), the tallest trees of the Atlantic Forest, as well as “cangeranas”, “cedros” (cedars), “urucuranas” (Croton), “paus-de-tucano” (Vochysia), “faveiras” (trees much appreciated by birds), “angicos”, and “vinháticos” (Plathymenia). Besides typical Atlantic Forests trees, the Center has rare Brazilian species, several exotic species and also exquisite ornamentals. Especially important species are Elizabetha princeps, Brownea grandiceps and Amherstia nobilis, the last from Southeast Asia and considered to be one of the most beautiful trees in the world.20

A Brownea grandiceps chama a atenção por apresentar agrupamentos floríferos que, já na fase de pré-floração, destacam-se na paisagem pela originalidade de seu desenvolvimento Brownea grandiceps catches the eye with its beautiful and extraordinary inflorescences


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Amherstia nobilis: nativa do Sudeste AsiĂĄtico, ĂŠ considerada uma das ĂĄrvores mais belas do mundo Amherstia nobilis: native to Southeast Asia, this species considered to be one of the most beautiful trees in the world

129


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Musgos revestem ladeira do CPRJ sombreada por pitangueiras (esq.) e ladeada por neomรกricas (dir.), criando um tapete natural antiquedas Moss covers the uphill road of the RJPC shaded by pitanga trees (at left) and bordered by irises (at right), making a natural nonslip carpet

130


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Chrysophyllum imperial, árvore de grande beleza que produz frutos saborosos, muito apreciados pelo imperador D. Pedro I e seu filho, D. Pedro II, tornando-se, por isto, conhecida como árvore-do-imperador Chrysophyllum imperiale, a beautiful tree that produces tasty fruits, greatly appreciated by the emperor Dom Pedro I and his son, Dom Pedro II; for this reason it became known as the “emperor’s tree”

própria do Sudeste Asiático e considerada uma das mais belas do mundo.20 No campus, também pode-se encontrar uma raridade botânica – a árvore-do-imperador (Chrysophyllum imperiale) – citada no livro O Jardim de D. João, obra que faz referência ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro.21 Os frutos de alguns remanescentes adultos identificados na área foram colhidos e, com eles, preparadas mudas. Algumas foram plantadas em diferentes pontos da antiga Estação Ecológica Estadual do Paraíso; outras foram enviadas para compor o acervo do Instituto Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Outra característica do tratamento ecológico dispensado ao campus do CPRJ é a utilização de plantas com significativo potencial antierosivo e ornamental, já que a região apresenta elevado índice pluviométrico. O cultivo da iridácea Neomarica northiana assegura proteção eficiente ao solo, principalmente nas áreas onde ele é pobre, ácido e inclinado, geralmente mais suscetíveis aos efeitos das chuvas. Sendo plantas de meia-sombra e necessitando de sombreamento, as neomáricas têm plantio associado à aroeira-da-praia (Schinus terebinthifolius), arvoreta cujos frutos, conhecidos também como pimenta-rosa, são apreciados por diversos pássaros e muito utilizados na culinária e na medicina. Em conjunto, estas

A rare botanical specimen found on the campus is the “emperor’s tree” (Chrysophyllum imperiale) – mentioned in the book O Jardim de D. João, referring to the Rio de Janeiro Botanical Garden.21 The fruits of several adult trees identified in the area of the RJPC were collected and planted to produce seedlings. Some were planted out at various locations in the former Paraíso State Ecological Station; others were given to the collection of the Rio de Janeiro Botanical Garden. Another feature of the ecological management of the RJPC campus is the use of plants that are not just ornamental but help to avoid soil erosion, particularly important because of the high rainfall in the region. Neomarica northiana, a species of Iridaceae, is effective in securing the soil, especially on slopes, in areas where the soil is poor, acid, and susceptible to erosion. It is a shade-loving species and is planted in association with Schinus terebinthifolius (“aroeira-dapraia” or “pimenta-rosa”; in English “Brazilian pepper”), a small tree that shades the irises. It produces fruits that have medical properties, that are used for cooking, and besides are favored by birds. They make a very attractive combination.22, 23

131


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

plantas proporcionam indiscutível embelezamento paisagístico.22, 23 Ainda visando à recuperação de áreas degradadas, plantas epífitas são utilizadas com finalidade ornamental ou no reequilíbrio da paisagem, o que resulta em ambientes favoráveis ao forrageio dos calitriquídeos nos viveiros. Em áreas úmidas e ao abrigo do sol, especificamente, a ênfase é nos samambaiuçus (Cyanthea e Alsophila), bananeirinhas-da-mata (Heliconia) e marantáceas (Calathea e Marantha), dentre outras. Simultaneamente, várias espécies têm sido reaproveitadas e reintroduzidas em lugares previamente estudados, na esperança de

132

que se disseminem por todo o ecossistema da região. Orquidáceas com flores mais vistosas, algumas já desaparecidas e outras no limiar da extinção na natureza (Laelia crispa, Laelia perrinii, Cattleya labiata etc.), também têm sido experimentadas para posterior reintrodução em maior escala. A presença dessas orquídeas indicam alto padrão de qualidade ambiental. Como complemento a todos esses procedimentos, pedras são usadas na construção de muros e como arremates estéticos em recantos com plantas específicas, controlando diferentes tipos de erosão.

Com o intuito de valorizar o cenário natural, as pedras encontradas no terreno tiveram sua disposição respeitada, sendo incorporadas ao paisagismo local To enhance the natural scenery, the large rocks and stones found in the area were left in place


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Another strategy for the recuperation of degraded vegetation is to plant ornamental epiphytes, favored by callitrichids for foraging in their vivariums. Tree ferns or “samambaiuçus” (Cyathea and Alsophila), wild plantains or “bananeirinhas-da-mata” (Heliconia) and arrowroots Marantaceae (Calathea and Maranta) are cultivated in wetter, shady areas. A number of native species have been reintroduced in selected sites, in the hopes that they will disperse and reestablish themselves in the region. Experiments are underway in breeding various orchids that have disappeared from the region or are otherwise close to extinction in the wild (Laelia crispa, Laelia perrinii, Cattleya labiata, and others), with a view to reintroduction. The presence of these orchids is an indicator of a healthy environment. Rocks, an important element of the landscape, besides being decorative, are used to build walls and control erosion.

Pertencentes ao ecossistema regional, as bromélias figuram como elementos importantes para o embelezamento natural pretendido pelo paisagismo conservacionista do campus Bromeliads are important elements of the regional ecosystem that contribute to the natural beauty of the landscape at the Center

133


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Os troncos em tons brancacentos do pau-ferro (Caesalpina ferrea) formam um belo contraste quando sobrepostos ao escuro da mata The pale trunks of “pau-ferro� or Brazilian ironwood (Caesalpinia ferrea) contrast with the dark forest

134


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Nativo da região, o rabo-de-cotia (Stifftia chrysantha) cria belos efeitos ornamentais nos recantos do Centro A native of the region, “rabo-de-cotia” (Stifftia chrysantha) creates a beautiful ornamental effect in the grounds of the Center

135


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Composição paisagística do jacarandá (Platypodium elegans) com a aroeira-do-sertão (Myracrodruon urundeuva) “Jacarandá” (Platypodium elegans) and “aroeira-do-sertão” (Myracrodruon urundeuva)

136


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Roxinho (Peltogyne mattosiana): cultivado em homenagem a Carlos Toledo Rizzini e Armando de Mattos Filho, ambos cientistas com passagem pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro “Roxinho” (Peltogyne mattosiana): planted in honor of Carlos Toledo Rizzini and Armando de Mattos Filho, two scientists who worked at the Rio de Janeiro Botanical Garden

O tronco da canela-sassafras (Ocotea pretiosa) exala um aroma bastante agradável The trunk of “canela-sassafras” (Ocotea pretiosa) gives off a very pleasant aroma

137


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Pomar de frutas para os símios e a fauna nativa A fruit orchard for the simians and the native fauna

I

niciado em 1980, divide-se em dois setores. O pomar com frutíferas, que inclui bicuíbas, goiabeiras, abieiros, pitangueiras, mangueiras, abacateiros e jaqueiras, entre outras árvores, visa enriquecer a alimentação dos símios das colônias com alimentos naturais, uma vez que, indispensáveis na dieta deles, os frutos por elas fornecidos não são encontrados à venda no mercado. Além de alimentarem os símios das colônias, essas árvores também são fonte de alimento para a fauna regional.

138

C

reated in 1980, the orchard is divided into two. One part has fruit trees, “bicuíba”, guava, “abieiro”, “pitangueira”, mango, avocado, and jackfruit, to enrich the diets of the colony’s monkeys. Fruits of these species only rarely appear in the market. Besides feeding the monkeys, the trees provide a reliable food source for the regional wildlife.

Jabuticabeira (acima), palmeira (ao lado, no alto), pitanga-amarela (abaixo) e garapa: espécies plantadas para proporcionar alimentos à fauna selvagem da região “Jabuticabeira” (above), palm tree (opposite, above), “pitanga-amarela” (below) and “garapa”: species grown to provide food for the wildlife of the region


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

139


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Alimento indispensável a numerosas espécies da fauna regional e relacionada pelo Ministério do Meio Ambiente como espécie ameaçada de extinção, a juçara (Euterpe edulis) tem sido plantada fartamente em toda a área do CPRJ. Seu cultivo próximo aos viveiros assegura a obtenção de novas sementes, uma vez que, na mata, a espécie é sistematicamente cortada por mateiros e caçadores ilegais The “jussara” palm (Euterpe edulis) provides fruits eaten by numerous species, but is listed by the Ministry of the Environment as a threatened species. It has been planted throughout the grounds of the RJPC. Planting them near the vivariums guarantees seed production since in the forest these trees are systematically cut down by local people and hunters

140


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

No outro setor acontecem o semeio, a preparação de mudas e a plantação do palmito-juçara (Euterpe edulis). Nativa da Mata Atlântica, a palmeira é empregada na restauração de determinadas áreas, sobretudo em grotões úmidos. Além de sua utilização ornamental, paisagística e na recuperação florestal, o palmito-juçara desempenha importante papel no processo alimentar e nutricional de numerosas espécies da fauna local, especialmente em determinados períodos do ano, quando sua frutificação não coincide com a de outras fruteiras.24

The other part is given over to the preparation of seeds and the production of seedlings, and a plantation of the jussara palm (Euterpe edulis). Native to the Atlantic Forest, this palm is used in forest restoration, especially in humid ravines. Besides its use as an ornamental plant, in landscaping and reforestation, this species is an important source food for the regional wildlife, especially at those times of the year when fruits are otherwise scarce.24

141


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Coleção de palmeiras brasileiras Collection of Brazilian palms

A

s espécies de Palmae têm extraordinário efeito ornamental, destacando-se sobremaneira na paisagem tropical. Ademais, servem de elo entre as várias unidades paisagísticas e produzem frutos muito apreciados pela avifauna, símios e roedores. O jerivá (Syagrus romanzoffianum), por exemplo, que ocorre em grande parte do Brasil e tem exemplares distribuídos pelo campus do CPRJ, é excelente alimento para diversos símios. Nos lugares próximos à mata, é grande a presença de palmeiras de efeito paisagístico, como Acrocomia sclerocarpa, Astrocaryum ayri e Barbosa pseudococos. Em recantos com vegetação mais delicada, essas palmeiras aparecem associadas a comunidades de Syagrus weddellianum (palmeirinha-de-petrópolis). Todas as espécies cultivadas no CPRJ, além de proporcionarem à paisagem local benefícios estéticos e ecológicos, sobretudo pela variedade de tons de verde da vegetação, manejada em harmonia com as edificações, são fontes de alimento para a fauna da Mata Atlântica tanto in situ como ex situ.24

142

P

alm species are exceptionally ornamental and stand out in the tropical landscape. They produce fruits that are very much appreciated by birds, monkeys and rodents. The jerivá palm (Syagrus romanzoffianum), for example, is found in most of Brazil, including the RJPC campus. It is an excellent food for capuchin monkeys. There are many attractive palm trees bordering the forest, such as Acrocomia sclerocarpa, Astrocaryum ayri and Barbosa pseudococos. In areas where the vegetation is more sensitive to the sun, these palms are associated with patches of Syagrus weddellianum (“palmeirinha-de-petrópolis” or Weddell’s palm). All of the species cultivated at the RJPC provide aesthetic and ecological benefits for the local landscape, mainly due to the various shades of green of the vegetation, managed in harmony with the buildings. They are also a food source for the Atlantic Forest fauna in situ and ex situ.24

Conjunto de juçaras (Euterpe edulis), palmeira que dá frutos consumidos pelos animais que vivem no entorno do CPRJ “Jussara” (Euterpe edulis), a palm tree that provides fruit for the animals that live on the grounds of the RJPC


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

143


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

O campus The campus

Infraestrutura Installations

S

implicidade, funcionalidade e baixo custo foram os conceitos que nortearam o projeto arquitetônico inicial do CPRJ, elaborado pelo arquiteto Reginaldo A. de Queiroz Ferreira, da extinta Feema. A implantação se consolidou com o apoio de instituições públicas e privadas, nacionais e internacionais. Na primeira etapa, foram construídos a sede administrativa e um conjunto de vinte viveiros para espécies ameaçadas de extinção, especialmente o Leontopithecus rosalia.25

S

implicity, functionality and low cost were the concepts that guided the initial architectural project of the RJPC, drawn up by architect Reginaldo A. de Queiroz Ferreira, of the extinct Feema. His designs became reality with the support of public and private institutions. The initial stages saw the construction of the administration headquarters and 20 vivariums for endangered species, especially Leontopithecus rosalia.25

Outro aspecto que quero salientar refere-se às ediicações, esplêndidas, e igualmente notável é o local onde encontra-se a instituição.2

Another feature that I would like to point to are the magniicent buildings and the splendid location of the RJPC.2

Akisato Nishimura, Universidade de Kioto, Japão (Novembro, 1979)

Akisato Nishimura, Kyoto University, Japan (November, 1979)

144


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Sede do Centro de Primatologia do Rio de Janeiro Headquarters of the Rio de Janeiro Primatology Center

145


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

O campus do CPRJ destaca-se pela vegetação variada, que inclui palmeiras (esq.), além de aroeiras-do-sertão (Microcrodium urundeuva), de caule fino, e jacarandás-brancos (Platypodium elegans), de tronco grosso (dir.)

146


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

The vegetation of the RJPC campus is very varied. It includes palms (previous page), and (on this page) with the more slender trunks “aroeiras-do-sertão” (Microcrodium urundeuva), and “jacarandás-brancos” (Platypodium elegans), those with the thicker trunks

147


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

A sede (370 m2), com beirais amplos no telhado e aberturas para ventilação e entrada de luz, é composta por três alas dispostas na forma da letra H. Na ala central, peças colecionadas desde 1972, como formas fósseis, peles, esqueletos, carcaças formolizadas, lâminas coradas, fotos etc., compõem o acervo zoológico taxidermizado a ser integrado ao futuro Museu de Primatologia. A maior parte do material, que inclui a mais rica coleção seriada de espécimes do gênero Leontopithecus do mundo, é proveniente do próprio Centro. O restante são doações. Na ala esquerda, de frente para um auditório com quarenta lugares, fica a biblioteca, com 16 mil títulos científicos sobre primatas e conservação ambiental, entre livros (2.000), periódicos (290), relatórios anuais (56) e outras publicações. Quase todos os documentos provêm de doações feitas por cientistas e instituições nacionais e estrangeiras, à exceção dos artigos que documentam as experiências conservacionistas desenvolvidas no Centro. A terceira ala, que abriga salas de estudo, laboratórios e sanitários, apresenta como peculiaridade desníveis no pé direito, incorporados a uma das fachadas para permitir a plena entrada de luz natural no ambiente. Espalhados pelo campus há, ainda, outras edificações construídas para dar suporte ao trabalho do CPRJ: • Prédio de Manejo e Nutrição (230 m2) - com sala para limpeza, sala para preparo de alimentos, câmara frigorífica e quatro escritórios;

148

Cursos, palestras e reuniões são realizados no auditório, que comporta quarenta pessoas e conta com recursos audiovisuais The auditorium holds 40 people and has audiovisual equipment for use in the courses, lectures and meetings that take place at the center

Laboratório de Reprodução e Hospital (338 m2) - com sala clínica, laboratórios (micro e macroanatomia, reprodução, biologia molecular e preparo de material), sala de exames e imagens e sala de cirurgia; Casa dos pesquisadores (70 m2) - com sala, cozinha, banheiro e duas suítes. Foi construída para abrigar pesquisadores e estudantes, tendo alojado o zoólogo Philip Hershkovitz quando este passou um mês no Centro para estudar a fauna regional. Hoje é utilizada como central

de manejo de studbooks* e, futuramente, deverá abrigar o acervo da Sociedade Brasileira de Primatologia. Outras instalações do Centro incluem: a portaria de acesso; a seção de restauração de hábitats, que faz o tratamento ecológico dado à vegetação local e os trabalhos

* Ferramenta de gestão científica de populações em cativeiro que contém todos os dados relevantes de cada indivíduo de uma determinada espécie, garantindo, principalmente, a estabilidade demográfica e o alto nível de diversidade genética.


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

de restauração e repovoamento florístico e faunístico; a subsede administrativa do Parque dos Três Picos; um centro de visitantes; e o alojamento para pesquisadores, guarda-parques e estudantes. Em razão da infraestrutura, da adequação das instalações à finalidade dos projetos e do êxito dos trabalhos, o CPRJ, com o passar dos anos, virou uma instituição-modelo, ganhando reconhecimento nacional e internacional e influenciando a formação de outros centros de estudos de animais.

The administration headquarters (370 m2), with wide eaves on the roof and openings for ventilation and light, is composed of three sectors arranged in the shape of the letter H. Fossils, skins, skeletons, carcasses in formaldehyde, stained slides, photographs, etc. − a collection begun in 1972 − are kept in the central area. These will comprise the Center’s future Museum of Primatology. Most of the material, that includes the world’s most complete serial collection of specimens of the genus Leontopithecus, is originally from the Center. In the left wing, facing the auditorium that seats 40 people, there is a library with 16,000 scientific titles on primates and nature conservation, including books (2,000), periodicals (290), annual reports (56) and other publications. Most of the documents were donated by scientists and institutions from Brazil and elsewhere, except for the articles that document the conservation experience of the Center. The third wing has study rooms, laboratories and restrooms. Interestingly, the ceiling is at a different height than that of the façades, thus letting in natural light. There are other buildings scattered over the campus that support the work of the RJPC: • Administration and Nutrition Building (230 m2) – with rooms for cleaning and food preparation, a walk-in refrigerator and four offices;

Reproduction Laboratory and Hospital (338 m2) – with an examination room, laboratories (micro and macroanatomy, reproduction, molecular biology and preparation of material), examination rooms and surgery; Accommodation for scientists (70 m2) – with living room, kitchen, bathroom and two suites. Built for scientists and students, it was used by Philip Hershkovitz when he spent a month at the Center to study the local fauna. Today it is a studbook administration center and in the future it should hold the records of the Sociedade Brasileira de Primatologia.

Other installations at the Center include the entrance gate; habitat restoration sector, that deals with the landscaping of the local vegetation and the restoration and repopulation of the flora and fauna; the administrative office of the Três Picos State Park; visitors center; and housing for scientists, park rangers and students. Based on infrastructure, installations that are adequate for the aims of projects and the success of work done at the RJPC, this endeavor has over the years become a model institution, and has won recognition both nationally and internationally and influenced the formation of other animal study centers.

149


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Ala central da sede administrativa do CPRJ, que abriga a coleção do futuro Museu de Primatologia local Central area of the RJPC administration building, that holds the collection of the future Primatology Museum

150


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Esqueleto e crânios de primatas: acervo do Centro inclui peças que datam de 1972 Primate skeleton and crania; the Center’s collection has material dating back to 1972

151


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Prédio de Manejo e Nutrição, com salas para manuseio dos animais e preparo dos alimentos The Management and Nutrition Building, with rooms to handle the animals and prepare food

152


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Tratadores e veterinários em ação: diariamente, funcionários se revezam para garantir o bem-estar dos primatas mantidos em cativeiro Keepers and veterinarians at work: workers are rotated daily to guarantee the well-being of the captive primates

153


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Casa dos pesquisadores: construído para alojar cientistas e estudantes, o espaço atualmente é utilizado como central de manejo de studbooks e abrigará o acervo do futuro Museu Histórico do CPRJ e da Sociedade Brasileira de Primatologia

154


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Accommodation for scientists: built for researchers and students, this space is used today as a studbook management center and holds the collection of the future Museu Histรณrico of the RJPC and the Sociedade Brasileira de Primatologia

155


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Compondo a paisagem, a subsede administrativa do Parque Estadual dos Três Picos e o centro de visitantes exploram luz e circulação de ar naturais

O centro de visitantes conta com alojamento, refeitório e salas de aula e informática para cursos, como o de treinamento de guarda-parques

156


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

As part of the landscape, the administrative headquarters of the TrĂŞs Picos State Park and the visitors center make use of natural lighting and ventilation

The visitors center has bedrooms, a dining room, classrooms and a computer center for courses such as those to train park rangers

157


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Vias de circulação interna: sinuosidades e declives na superfície refletem opção pela manutenção das curvas e desníveis naturais do terreno

158


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Internal roadways: full of curves and hills, reflecting the option to follow the natural lay of the land

159


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Ladeiras de acesso a uma das รกreas de viveiros do Centro

160


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Access slopes to the Center’s vivariums

161


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

162


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Manejo e nutrição Management and nutrition

D

o portão para dentro, o Centro gira em torno dos primatas: seis tratadores passam o dia cuidando dos 230 animais em cativeiro. Separados por espécies e grupos familiares, os símios estão espalhados em colônias mantidas em 105 viveiros.

From the entrance gate onward, the Center revolves around primates: six handlers spend the day working with 230 captive animals. The simians are divided up according to species and family groups and live in 105 cages.

Macaco-prego-do-peito-amarelo Yellow-breasted capuchin (Sapajus xanthosternos)

163


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Variada, a alimentação servida aos símios inclui pães, frutas, legumes, verduras e até larvas de insetos The monkeys have a varied diet including bread, fruit, vegetables, greens, and even insect larvae

... Trabalho em instituição primatológica no Japão (...) e achei interessantíssimas as diferenças entre os manejos realizados no CPRJ e na minha instituição. No Japão só usamos rações artiiciais e os viveiros têm piso de cimento. Aqui a ração é natural, o piso dos viveiros é revestido com solo de loresta e cultivam árvores frutíferas, cujos frutos são usados como fonte de alimento.2 Takeshi Setoguchi, Primate Research Institute, Universidade de Kyoto, Japão (Novembro, 1982)

164

... I work at a primatology center in Japan (…) and I found diferences in management at the RJPC and my institution very interesting. In Japan we use only artiicial rations and the cages have cement loors. Here natural rations are used, the loor of the cages is soil of the forest and the trees grown here provide fruit as a food source.2 Takeshi Setoguchi, Primate Research Institute, Kyoto University, Japan (November, 1982)


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

A rotina e o trabalho metódico fazem parte do dia a dia do Centro. A primeira refeição é servida pontualmente às 7 horas, com direito à vitamina reforçada, um tipo de ração potencializada. A receita inclui leite em pó, farinhas e cereais, complexos vitamínicos e proteicos e ovos. Após os ingredientes serem batidos no liquidificador, misture-se pão integral, cortado em pequenos pedaços, ou ração peletizada própria para os animais. A segunda refeição, por volta do meio-dia, é variada, de acordo com a fisiologia nutritiva da espécie. Inclui frutas, legumes e verduras nativos e componentes da dieta natural de cada espécie. Só de banana, o consumo semanal chega

a quatrocentos quilos. Também são servidos melão, manga, limão, abacaxi e frutas da época. Entre os legumes, frutos e raízes, o cardápio vai de cenoura a berinjela, passando por pepino, vagem e jiló. Couve, brócolis, espinafre e chicória são algumas das verduras servidas diariamente, acrescidas de folhagens variadas colhidas no campus e na mata do entorno. Como nem todos os primatas são vegetarianos como o muriqui, a proteína animal também se faz necessária. Nesse caso, são utilizados a larva do tenébrio (Coleoptera, espécie de besouro), gafanhotos, grilos e pequenos vertebrados. Os frutos e os legumes frescos chegam ao Centro semanalmente e

são lavados e guardados na câmara frigorífica. Produtos como leite em pó, farináceos proteicos, sais minerais e vitaminas são embalados industrialmente e armazenados em local seco. À tarde faz-se a retirada dos vasilhames, que são lavados com detergente biodegradável. Todas as edificações do CPRJ estão ligadas a estruturas como fossa sanitária, filtro biológico e sumidouro. O lixo é seletivamente coletado e retirado duas vezes por semana pelo serviço de limpeza municipal. Já os resíduos de produtos químicos utilizados na clínica médica e no hospital – álcool iodado, seringas, formaldeído, entre outras substâncias – são descartados como lixo hospitalar em Teresópolis (Rio de Janeiro).

Routine and methodical work are part of the day-to-day of the Center. The first meal is served promptly at 7 a.m.; it includes a nutritious mixture of powdered milk, meal and cereal, vitamin and protein complexes and eggs. The ingredients are mixed in a blender, and added to small pieces of wheat bread or a grain ration that is appropriate for the monkeys. The second meal is around midday and varies depending on the needs of each species. It includes fruits, legumes, greens and components of each animal’s natural diet. Weekly consumption of bananas alone is 400 kg. They are also given

melons, mangoes, limes, pineapples, and other fruits when in season. The vegetable menu includes carrots, eggplants, cucumbers, green beans, and scarlet eggplant (jiló). Cauliflower greens, broccoli, spinach and chicory are some of the green vegetables served daily, together with the leaves of various plants collected on the campus and in the surrounding forest. Since not all of the primates are vegetarian like the muriqui, animal protein is also necessary. This is provided in the form of mealworms (larvae of the mealworm beetle), grasshoppers, crickets and small vertebrates. Fresh fruits and vegetables arrive weekly at the Center. They are washed

and put away in the walk-in freezer. Products such as powdered milk, meal protein, mineral salts and vitamins are wrapped industrially and stored in a dry place. In the afternoon, the serving plates are removed and washed with biodegradable detergent. All of the buildings at the RJPC are connected to a sewer system, biological filter and drainage system. Garbage is collected selectively and removed twice a week by the municipality. Residues of chemical products used in the medical clinic and hospital – iodated alcohol, syringes, formaldehyde, and other substances – are disposed of as hospital waste in Teresópolis (Rio de Janeiro).

165


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

166


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Preparo e transporte de alimentos: duas vezes ao dia, funcionários servem refeições aos primatas. Por mês, são consumidas, em média, cerca de cinco toneladas de frutas Preparation and transport of food: twice a day, workers serve the primates meals. An average of five tons of fruit are consumed monthly

167


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Além de variada, a dieta dos símios é balanceada de acordo com a fisiologia nutritiva da espécie. A dos muriquis, por exemplo, não inclui proteína animal, pois eles são vegetarianos The varied diet is well balanced according to the nutritional physiology of the species. That of the woolly spider monkey, for example, does not include animal protein because they are entirely vegetarian

Zogue-zogue Vieira’s titi (Callicebus vieirai)

168

Mico-leão-de-cara-dourada Golden-headed lion tamarin (Leontopithecus chrysomelas)


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Muriqui-do-sul / Southern muriqui (Brachyteles arachnoides) Sauim-do-trombetas / Martins’ bare-faced tamarin (Saguinus martinsi) Parauacu-do-tapajós / Mittermeier’s Tapajós saki (Pithecia mittermeieri)

169


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

170


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Viveiros Vivariums

À

exceção do viveiro dos muriquis, os demais obedecem a um padrão apropriado para regiões tropicais, que inclui: medidas específicas (quatro metros de comprimento por três metros de largura e três metros de altura), lados e fundo fechados, bem como frente telada e voltada para o sol nascente, indispensável para a absorção da vitamina D pelos animais. No alto de um canto protegido, fica uma caixa de madeira para abrigo. No interior são dispostos galhos e ripas horizontais para que os símios possam se movimentar como na natureza.

O piso dos viveiros dos animais é constituído de terra com cobertura de material orgânico (folhas e grama cortada), o que ajuda na decomposição das fezes e na destruição de possíveis ovos de parasitas e outros agentes patogênicos. Após a fermentação dessa cobertura, ela é removida e, com os restos alimentares, destinada à compostagem e à adubação de fruteiras e árvores do campus. A segurança, tanto a dos animais quanto a dos tratadores, é quesito bastante considerado na gestão do Centro. Os primatas, mesmo

vivendo em cativeiro, não perdem suas principais características, como saltar e correr. Por isso, qualquer descuido pode ser fatal. Numa fração de segundo, um animal pode agredir outro ou fugir. Basta uma porta entreaberta e uma ligeira desatenção para desencadear uma operação de resgate. A perseguição pode durar minutos, horas ou dias; o grau de dificuldade vai depender de onde o animal se refugiar. Se for na mata, usa-se isca de banana camuflada em armadilha como o puçá, que passa a fazer parte do arsenal de captura.

A

The vivariums have dirt floors covered with organic material (leaves and cut grass) that help to decompose feces by fermentation, thus encouraging the destruction of parasite eggs and other pathogenic agents. After fermentation, this material is removed and, with the food remains, is composted and used to fertilize fruit trees and seedlings. The security of the handlers as well as the animals is another issue that is given serious consideration at the Center. Primates, even when

living in captivity, never lose their main characteristics of jumping and running. Any lapse in care and attention can be fatal. In a fraction of a second, one individual may fight with another or escape. A door left ajar and a second of distraction are enough to require a recapture operation. The chase may last minutes, hours or days; the level of difficulty will depend on where the animal takes refuge. If it is in the forest, it is necessary to take recourse to a bait of banana hidden in a trap.

ll the vivariums, except for that of the muriquis, follow a standard appropriate for the tropics: four meters long, three meters wide and three meters tall, sides and back closed, a screened front facing the morning sun, important for the absorption of vitamin D by the animals. A wooden box provides shelter in a protected upper corner. Inside there are branches and horizontal poles so that the monkeys can move around as in the wild.

171


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Interior de um viveiro para micos-leões: galhos e ripas na horizontal para que os símios possam se movimentar como na natureza, piso coberto por material orgânico e caixa de madeira para abrigo The interior of a vivarium for lion tamarins: branches and horizontal poles are placed so that the monkeys can move around as they do in the wild. The floor is covered with organic material and there is a wooden box for shelter

Quanto à segurança dos tratadores, o macaco-prego, por exemplo, por ser naturalmente muito agressivo e ligeiro, pode morder e provocar sérios ferimentos no rosto daqueles que adentram o seu espaço. Por isso, quem faz o manejo deve recorrer à contenção química aplicada por meio de zarabatanas. A combinação de boa alimentação e alojamentos construídos sob princípios ecológicos, associada às características sociais das espécies, contribui para reduzir o estresse e aumentar as chances de reprodução em cativeiro, reforçando o caráter do trabalho de Coimbra-Filho e Pissinatti à frente do CPRJ, descrito como “irretocável” por pesquisadores como Anthony B. Rylands, da Conservação Internacional.

172

Another issue is the safety of the keepers. The capuchin monkey, for example, is very agile and can be very aggressive. It can easily bite a person repeatedly to the point of serious injury. For this reason, those who manage the animals must be able to quickly contain the animal, applying a chemical tranquilizer using a small dart and blowgun. Good food, housing built on ecological principles, and due consideration of the behavioral and social traits of each species, contribute to reduce stress and increase the chances of reproduction in captivity, features of the work of CoimbraFilho and Pissinatti at the RJPC, described by researchers such as Anthony B. Rylands of Conservation International as “irreproachable”.


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

173


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

174


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Acima, viveiros dos saguis. À esquerda, viveiro dos muriquis, integrado à vegetação do campus Above, vivariums for marmosets. Previous page, the vivarium of the muriquis blends in with the campus vegetation

175


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Fauna regional Regional fauna

E

m relação à fauna vertebrada, entre os animais de pelo, ainda são encontrados gambás, cuícas, cuícas-d’água – mais raras –, macacos diversos (saguis, guaribas e macacos-prego), tamanduás-mirins, preguiças, tatus e roedores de várias espécies. A avifauna, apesar da população pouco numerosa, é considerada rica

176

em determinadas espécies selvagens, destacando-se a presença de inhambus, urubus (comuns e caçadores), gaviões, periquitos, beija-flores, pica-paus, joões-de-barro, trinca-ferros, saíras e corujas, apenas para citar alguns representantes. Já nas matas, é possível encontrar batráquios, serpentes peçonhentas (como jararacuçus,

jararacas, corais e cobras-cipó), além de lagartos e muitos insetos (como mariposas e borboletas, especialmente as azuis), abelhas (notadamente as meliponídeas, sem ferrão), marimbondos-caçadores, aranhas, gafanhotos e esperanças. Ou seja, uma profusão de espécies indispensáveis à polinização das árvores frutíferas.


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Dois pequenos representantes da rica fauna nativa que habita o entorno do Centro de Primatologia Two small representatives of the rich native fauna that inhabits the grounds of the Primatology Center

A

mong the vertebrates, mammals include opossums and their small relatives such as the rare water opossum (rare), various monkeys (marmosets, howlers and capuchin monkeys), tamanduas, sloths, armadillos, and several species of rodents. Although generally not abundant, there is a rich diversity of bird

life, including tinamous, turkey and yellow-headed vultures, birds of prey, parakeets, humming birds, woodpeckers, oven birds, saltators, tanagers, and owls, to name just a few. In the forest, there are frogs and toads, poisonous snakes (such as pit-vipers, coral snakes,

vine snakes), lizards and numerous insects (including moths and butterflies, especially the big blue morphos), bees (especially meliponid, stingless bees), pompilid spider wasps, spiders, grasshoppers and katydids – a multitude of species indispensable for the pollination of fruit trees.

177


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Arboreto Arboretum

N

a região do CPRJ, o clima é úmido, embora as temperaturas sejam elevadas no verão. A cobertura é predominantemente arbórea, de um verde quase uniforme, variável apenas em matizes mais claros ou escuros da folhagem. O adensamento florestal existente, constituído em grande parte por formações secundárias com alguns trechos em avançado estágio de desenvolvimento, possui riqueza biótica significativa e se mistura a remanescentes daquilo que um dia foi a Mata Atlântica original. Tais formações, que variam conforme a qualidade do solo e a altitude do terreno, contribuem não só para a estabilidade do regime hídrico-florestal como também para a manutenção da fauna selvagem do entorno, ainda rica em espécies que somente ali encontram alimento e refúgio. Em 2007, uma nova espécie de begônia foi descoberta no campus do CPRJ, salientando a exuberância da vegetação e da flora regional. Endêmica da Mata Atlântica, a planta foi descoberta pela botânica Eliane de Lima Jacques, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).26 O gênero Begonia possui aproximadamente 1.400 espécies no mundo. No Brasil, são apenas duzentas, e elas estão distribuídas em todas as formações vegetais, exceto

178

nas áreas de manguezais. A Begonia lunaris, descoberta pela pesquisadora, é encontrada exclusivamente no Parque Estadual dos Três Picos e, segundo os critérios da IUCN, está enquadrada na categoria “criticamente em perigo”. A riqueza vegetal da área onde se encontra o Centro foi novamente demonstrada pelos pesquisadores Edmundo Pereira e Elton M. C. Leme. Numa excursão botânica, eles ali encontraram uma bromélia, nativa da região, designada Neoregelia

coimbrae, em homenagem ao fundador do CPRJ. É realmente notável a quantidade de espécies bióticas encontradas na região. Cerca de 160 espécies arbóreas, algumas ameaçadas de extinção, já foram identificadas entre a flora regional, o que comprova o potencial das formações naturais existentes no lugar. Trata-se, sem dúvida, de uma riqueza biológica inestimável, que apesar da devastação da qual a Mata Atlântica vem sendo vítima, perpetua-se graças às ações governamentais.

Bromélia Neoregelia coimbrae, batizada em homenagem ao fundador do CPRJ Neoregelia coimbrae, a bromeliad named in honor of the founder of the RJPC


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Eu vi fotograias... e ouvi muitos comentários, mas não fui preparada para o que eu observei aqui. A área é magníica com a beleza da loresta e sua impressionante diversidade lorística.2 Hilary Box, Universidade de Reading, Inglaterra (Abril, 1997)

I had seen photographs... and heard many reports but they really did not prepare me for what I have found. he area is magniicent – the beauty of the forest with its impressive botanical diversity is outstanding.2 Begonia lunaris, descoberta em 2007, durante pesquisa botânica no campus Begonia lunaris, discovered in 2007 during a botanical survey of the campus

Hilary Box, University of Reading, England (April, 1997)

T

A new species of bromeliad was also discovered on the campus. It is native to the region, and was given the name Neoregelia coimbrae by Edmundo Pereira and Elton M. C. Leme, frequent visitors to the RJPC, as a tribute to its founder. The number of species identified for the region is impressive. Some 160 rare and endangered tree species have been recorded in the regional flora. The biotic richness is incalculable, which in spite of the ongoing devastation of the Atlantic Forest, persists through government measures for its conservation.

he climate in the region is humid with mild temperatures, and the vegetation is largely arboreal – a nearly uniform green that varies only in darker or lighter shades of the foliage. The forest is largely secondary but in an advanced stage of regeneration, with a significant biotic diversity, and mixed with remnants of the original Atlantic Forest. The vegetation and floristic communities vary according to altitude and soil, and contribute not only to the stability of the hydrological regimes but also to the maintenance of the still diverse wildlife in their provision of food and shelter.

A new species of begonia was discovered on the campus of the RJPC in 2007, proof of the exuberance of the vegetation and the regional flora. It is endemic to the Atlantic Forest and was found by botanist Eliane de Lima Jacques of the Federal Rural University of Rio de Janeiro (UFRRJ).26 The genus Begonia has approximately 1,400 species worldwide. Two hundred species occur in Brazil, found in all vegetation types, except mangroves. Begonia lunaris, the species discovered in 2007, is found only in the Três Picos State Park, and, according to the IUCN criteria, it is Critically Endangered.

179


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Com flores vistosas, as neomáricas (esq.) plantadas no Centro ajudam a proteger o solo, enquanto a presença de orquídeas indica que o padrão de qualidade ambiental do campus é alto Irises (at left) with their beautiful flowers were planted at the RJPC to protect the soil, while the presence of orchids is a sign that the environmental quality of the campus is high

180


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

181


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

A Mata Atlântica The Atlantic Forest

B

ioma original da região onde está localizado o CPRJ e segunda maior floresta tropical em ocorrência e importância na América do Sul, especialmente no Brasil, a Mata Atlântica de hoje não passa de uma pálida ideia do que avistaram Pero Vaz de Caminha* e seus companheiros de tripulação à época em que aqui chegaram. Vítima de destruição multissecular, que teve início com os portugueses, a Mata Atlântica, desde a colonização, sofre com diversas práticas e atividades predatórias, como a extração do pau-brasil e de outras madeiras de alta qualidade, as monoculturas da cana-de-açúcar, algodão, amendoim, cacau e café, e, mais recentemente, o avanço desordenado das pastagens, da ocupação urbana e das invasões biológicas.

I

* Escrivão na frota do navegador português Pedro Álvares Cabral, foi o primeiro a avistar o Brasil, em 1500, e quem redigiu a carta comunicando o feito ao rei D. Manuel I.

* The scribe of the Portuguese navigator Pedro Álvares Cabral’s fleet was the first to see Brazil in 1500; it was he who wrote a letter to the king, D. Manuel I, telling of the adventure.

182

n its origjnal extent, the Atlantic Forest, the biome where the RJPC is located, was the second largest and second most important forest in South America. Today the remnants are a faint shadow of the forest seen by Pero Vaz de Caminha* and his fellow crew members when the Portuguese fleet discovered Brazil in 1500. Devastated for centuries, at first by the Portuguese, the Atlantic Forest has suffered from the looting of its riches – the extraction of Brazilwood and other prized hardwoods – and the introduction of alien invasive species, and its total destruction to make way for sugar cane, cotton farms, plantations for peanuts, cacao, and coffee and, more recently, for cattle farms and urban occupation.


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Considerada uma das florestas tropicais mais ameaçadas de extinção e um dos hotspots da biodiversidade mundial, a Mata Atlântica é a maior reserva da biosfera em área florestada do planeta, com cerca de 35 milhões de hectares The Atlantic forest is one of the world’s most endangered tropical forests and is also a biodiversity hotspot; it is the largest biosphere reserve in a forested area on the planet, with some 35 million hectares

183


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

184


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

A cada um desses ciclos, iniciados na costa brasileira em direção ao interior do país, o bioma foi se degradando e se transformando em fragmentos dispersos da mesma floresta. Protagonista de uma história de perdas e danos, sujeita às pressões impostas pelo progresso e pela expansão econômica, a mata perdeu a exuberância de outrora, principalmente em riqueza, porte e qualidade. Hoje, restam percentagens bastante reduzidas da Mata Atlântica, que já revestiu 1,3 milhão de quilômetros quadrados da costa brasileira, recobrindo 17 estados. Os remanescentes de vegetação nativa, além de apresentarem cobertura vegetal de qualidade inferior à original, estão reduzidos a frações desprezíveis da área inicialmente ocupada pela floresta e hoje se encontram em diferentes estágios de regeneração. Tal panorama, associado a outros fatores, levou a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) a declarar a Mata Atlântica uma Reserva da Biosfera, pois, mesmo reduzido e fragmentado, o bioma continua sendo uma das 35 regiões no mundo

With each of these development cycles, begun on the coast and then spreading into the hinterland, the biome was transformed into scattered, degraded forest fragments. Protagonist in a history of loss and wreckage, subjected to pressures brought on by progress and economic expansion, the forest has lost its exuberance, its immensity and richness. Today, what remains is a paltry remnant of the Atlantic Forest that once covered 1.3 million square kilometers of the Brazilian coast, spread over 17 states. Remnants of native vegetation, besides having plant cover of a much lower quality, are reduced to negligible fragments of the area initially occupied by the forest; these today are at different stages of regeneration. This panorama, together with other factors, prodded Unesco to declare the Atlantic Forest a Biosphere Reserve because, even though much reduced and fragmented, the biome is still one of the world’s 35 hotspots to be preserved due to the extraordinary wealth of its biodiversity.

Na área do Parque Estadual dos Três Picos fica o reservatório do Rio Paraíso, mantido pela Cedae The reservoir of the Rio Paraíso, maintained by Cedae, in the Três Picos State Park 185


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Apesar de grandemente ameaçada, a Mata Atlântica ainda apresenta áreas de enorme importância biológica que merecem ser protegidas e ampliadas In spite of being highly endangered, the Atlantic Forest still has areas of great biological importance that should be protected and enlarged

identificadas como hotspots. Isso significa que, pela riqueza da biodiversidade que abriga, a Mata Atlântica é considerada uma das prioridades para a preservação da Terra. No Estado do Rio de Janeiro, que no passado foi inteiramente recoberto por essa magnífica floresta, a Mata Atlântica atual se encontra reduzida a poucos trechos remanescentes. Um deles é o Parque Estadual dos Três Picos, que, em 1º de novembro de 2013, incorporou a antiga Estação Ecológica Estadual do Paraíso, ganhando, além da área bem conservada da Estação, outros dois mil hectares de floresta em excelente estado de conservação e sem nenhuma habitação humana nos municípios de Nova Friburgo e Silva Jardim. A riqueza biótica é de valor incalculável, haja vista que pode ser utilizada na restauração de outras áreas dentro e fora do Estado.

186


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

In the past, the state of Rio de Janeiro was entirely covered by this magnificent forest. The Atlantic Forest has today shrunk to a few remnant patches. One of these is the TrĂŞs Picos State Park, wich, on November 1, 2013, incorporated the former ParaĂ­so State Ecological Station as well as another 2,000

hectares of uninhabited and well preserved forest in the municipalities of Nova Friburgo and Silva Jardim. The biotic wealth of the region, comprised largely of the former ecological station, is immense, and can be exploited for the restoration of other areas within and outside of the state.

187


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Parque Estadual dos Três Picos Três Picos State Park

O

Parque Estadual dos Três Picos (PETP) está localizado na Serra do Mar, na região serrana do Estado do Rio de Janeiro. Com mais de 65 mil hectares e totalmente inserido no bioma Mata Atlântica, tem sua área distribuída pelos municípios de Cachoeiras de Macacu, Nova Friburgo, Teresópolis, Silva Jardim e Guapimirim.

188

Maior unidade de conservação de proteção integral do Estado, o PETP forma um contínuo florestal com o Parque Nacional da Serra dos Órgãos, o que aumenta sua importância como área de reserva destinada à conservação de espécies da flora e da fauna fluminenses, especialmente mamíferos e aves. A variedade de ecossistemas naturais no interior do Parque fez

a região em que ele se encontra ser considerada um dos hotspots mundiais em termos de biodiversidade e uma das áreas prioritárias para a conservação da Mata Atlântica no Brasil. Os elevados índices de biodiversidade no local se explicam, em parte, pela grande variação de altitude da unidade, que vai dos cem metros em certas vertentes até os 2.310 metros


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

T

rês Picos State Park (TPSP) is in the Serra do Mar, the montane region of the state of Rio de Janeiro. It has an area of more than 65,000 hectares and lies totally within the Atlantic Forest biome, in the municipalities of Cachoeiras de Macacu, Nova Friburgo, Teresópolis, Silva Jardim and Guapimirim.

The TPSP is the largest strictly protected area in the state, lying next to Serra dos Órgâos National Park in an unbroken stretch of forest, making it very important as a park for the conservation of species of the fluminense flora and fauna, especially the mammals and birds. The variety of natural ecosystems in the park provides the region of the

TPSP with worldwide hotspot status in terms of its biodiversity, and as such is a priority area for the conservation of the Atlantic Forest in Brazil. The rich biodiversity of the park can be explained, in part, by the range of altitudes, varying from 100 m on the lower slopes to 2,310 m at the top of the Pico Maior de Friburgo, the highest peak in the Serra do Mar.

189


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

do Pico Maior de Friburgo, um dos pontos culminantes da Serra do Mar. Assim como outras UCs de proteção integral, o PETP destina-se a fins científicos, culturais, educativos, espirituais e recreativos. O objetivo principal das restrições à circulação de pessoas e à instalação de atividades em seus limites é a proteção dos ecossistemas naturais contra quaisquer alterações que desvirtuem o uso do território.

190

O Parque abrange cinco regiões hidrográficas (Baía de Guanabara, Piabanha, Rio Dois Rios, Macaé e das Ostras, e Lagos São João), abrigando um grande número de nascentes e rios, várias cachoeiras e importantes áreas de captação de água para abastecimento público. Administrado pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), órgão vinculado à Secretaria de

Estado do Ambiente (SEA), foi criado pelo Decreto-Lei n° 31.343, de 5 de junho de 2002, e ampliado pelo Decreto Estadual nº 41.990, de 12 de agosto de 2009, e pela Lei Estadual nº 6.573, de 31 de outubro de 2013, sendo considerado um bem público destinado ao uso comum, de acordo com o artigo 99, inciso I, da Lei Federal nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002.


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

As in other strictly protected areas, the TPSP is reserved for scientific, cultural, educational, spiritual and recreational purposes. The objective of restricting visitor circulation is to avoid development around the park’s limits so as to protect the natural ecosystems against changes that would affect the interior of the park.

The park includes five hydrographic regions (Baía de Guanabara, Piabanha, Rio Dois Rios, Macaé and das Ostras, and Lagos São João), with many springs and streams, a number of waterfalls, and important areas for public water supply. Administrated by the State Environmental Agency, linked to the State Secretary of the

Environment, the park was created by Decreto-Lei No. 31.343 ( June 5, 2002) and expanded by Decreto Estadual No. 41.990 (August 12, 2009), and by Lei Estadual No. 6.573 (October 31, 2013), and is considered to be public property for common use according to article 99, section I, of Lei Federal No. 10.406 ( January 10, 2002).

191


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

192


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

193


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

O Rio Paraíso, ou Orindi-Açu, com pedras características de rios da Mata Atlântica, cruza o campus do CPRJ e segue seu curso até formar as sub-bacias tributárias do Rio Guapiaçú The Rio Paraíso, or Orindi-Açu, with the large stones that are characteristic of streams in the Atlantic Forest, crosses the RJPC campus and downstream forms a tributuary of one of of the sub-basins of the Rio Guapiaçú 194


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Via interna ornada com azalĂŠias (Rhododendron sp.) A road in the campus lined with azaleas (Rhododendron sp.)

195


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

196


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Um pouco de história A bit of history

F

oi o naturalista austríaco Johann Natterer quem, pela primeira vez, descreveu um exemplar de mico-leão-dourado. Aconteceu em meados do século 19, em Guaratiba, atualmente um bairro da Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. O cientista era zoólogo de uma expedição comandada por Francisco I da Áustria – pai de Maria Leopoldina da Áustria, que se casou com o príncipe herdeiro Dom Pedro de Alcântara, futuro imperador do Brasil.

A

ustrian naturalist Johann Natterer was the first to see a golden lion tamarin in the wild. It was in the mid-19th century, in Guaratiba, today a suburb of western Rio de Janeiro. He was a zoologist on an expedition led by Francisco I of Austria – father of Maria Leopoldina of Austria, who married the crown prince Dom Pedro de Alcântara, the future emperor of Brazil.

Mico-leão-dourado Golden lion tamarin (Leontopithecus rosalia)

197


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Mas foi Adelmar CoimbraFilho, quase um século depois, quem tirou o animal do anonimato. O encontro na natureza entre o criador do Centro de Primatologia do Rio de Janeiro e a criatura, o Leontopithecus rosalia, ocorreu no início dos anos 1950. Desse encontro até a implantação do CPRJ, passaram-se quase 30 anos. Hoje,

o mico-leão-dourado não é mais visto naquela região. Mas não está extinto nem esquecido. Ele estampa a cédula de R$ 20 e goza de notoriedade como um dos mais bem-sucedidos casos de resgate e conservação da fauna no mundo, sendo reconhecido internacionalmente como símbolo da proteção da Mata Atlântica. Por esses motivos,

protagoniza, ao lado do seu mais ferrenho defensor, a história da Primatologia no Brasil, povoada, ainda, por personagens como o mico-leão-de-cara-dourada e o mico-leão-preto, este também redescoberto por Coimbra-Filho. Os estudos e o empenho do cientista contribuíram para tirar todos esses símios da lista de extinção.

It was Adelmar Coimbra-Filho, however, who, almost a century later, made the animal well known. The meeting of the future founder of the Rio de Janeiro Primatology Center and the lion tamarin, Leontopithecus rosalia, took place in Itaguaí, in the early 1950s. The creation of the RJPC occurred 30 years later, and

lion tamarins unfortunately are no longer found there. But it is neither extinct nor forgotten. Its image is on the R$20 bill, it is an international icon for the conservation of the Atlantic Forest, and famously represents one of the most successful endangered species programs in the world. For these reasons, this

monkey and its cousins, the black lion tamarin and the golden-headed lion tamarin, and its energetic defender have played prominent roles in the history of primatology and conservation in Brazil. Research carried out by Coimbra-Filho and his colleagues has been fundamental for their survival.

198


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

A través de centros como este será posible salvar espécies condenadas a desaparecer. En este sentido los estúdios sobre Leontopithecus aseguram que especies de este género sean perpetuadas y las futuras generaciones de habitantes puedam conocer un animal de aspecto tan atrayente.2 Manuel Moro, Organización Panamericana de la Salud, Washington D.C. (Dezembro, 1982)

hrough centers like this, it will be possible to save endangered species. Studies of Leontopithecus will guarantee that species of this genus will survive, and future generations will get to know these beautiful animals.2 Manuel Moro, Pan American Health Organisation, Washington D.C. (December, 1982)

Adelmar Faria Coimbra-Filho

199


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

200


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Os primórdios da Primatologia no Brasil The origins of Primatology in Brazil

A

cruzada de Coimbra-Filho para salvar o sauí-piranga da extinção teve início em meados de 1950, numa época em que o Brasil desconhecia a importância dos primatas na pesquisa científica e até a literatura sobre os símios era escassa por aqui. Nas décadas de 1950 e 1960, enquanto os Estados Unidos já dispunham de sete centros de primatas para utilização em pesquisas científicas, o Brasil não tinha sequer um, mesmo sendo a nação com a mais rica fauna de primatas do mundo. Pelo contrário, o país, sem qualquer controle, exportava seus símios para grandes empresas biomédicas e farmacêuticas das nações desenvolvidas. Mesmo as espécies ameaçadas de extinção, como o mico-leão-dourado, eram capturadas e comercializadas a preços irrisórios. A pressão sobre os símios era agravada, ainda, pela caça de subsistência e, principalmente, pela destruição acelerada das florestas tropicais e subtropicais, o que acabou por colocar muitas espécies em situação de extermínio.27

C

oimbra-Filho’s efforts to save the “sauí-piranga” from extinction began in the mid-1950s at a time when Brazil was unaware of the importance of primates for research, and the scientific literature concerning Brazil’s primates was minimal. In the 1950s and 1960s, the United States established seven primatology centers to carry out scientific research; Brazil did not have a single one, even though it was known to have the world’s richest primate fauna. On the contrary, the country exported its monkeys, without any restrictions whatsoever, to large biomedical and pharmaceutical companies in developed countries. Even endangered species such as the golden lion tamarin were captured and sold at very low prices. Brazil’s primates, meanwhile, also suffered from subsistence hunting and especially the increasing destruction of their tropical and subtropical forests, threatening the survival of so many species.27

201


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

O primatólogo em uma de suas expedições na mata, com o carro atolado The primatologist on a field trip in the forest with his truck stuck in the mud

202


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Década de 1960 The 1960s

F

oi nessa época, à procura de populações remanescentes de micos-leões-dourados, que Coimbra-Filho se lançou em expedições por municípios dos estados da Guanabara, Espírito Santo, São Paulo e Bahia. Embora recebesse verbas para seus deslocamentos, a maioria de suas incursões era feita por iniciativa própria, pois a ajuda de custo era sempre irrisória. Viajando de trem, de jipe Willys e em caminhões, e se embrenhando nas

matas, ele testemunhava in loco a destruição das florestas. Como bom naturalista, CoimbraFilho seguia procedimentos básicos comuns, como as anotações com datas e locais precisos e, principalmente, a observação. Também conversava bastante com os moradores, mateiros e caçadores. Suas pesquisas pioneiras sobre o sauí-piranga nos levaram a conhecer os hábitos alimentares e o comportamento da espécie. Por meio delas,

ficamos sabendo que os sauís são animais territorialistas, de temperamento alerta e tenso. Eles acordam com o raiar do dia, gostam de ficar ao sol e se recolhem cedo, agrupados, com a cauda sobre o corpo e a cabeça. Numa das inúmeras excursões ao campo em 1967, Coimbra-Filho descobriu outra curiosidade sobre os sauís: eles abrigam-se em ocos de árvores, a maioria provavelmente feita por pica-paus maiores, ou em maciços de bromélias e outras epífitas.11

C

marking the dates and localities, and describing the features of the forests and the wildlife he observed. He would also talk at length with local villagers, woodsmen and hunters. His pioneer research on the “sauí-piranga” provided us with the first insights regarding their feeding habits and behavior. He found them to be highly territorial and constantly alert, looking around for prey or predators. They wake up at

dawn, warm themselves in the sun for awhile before starting their day, and retire early. They sleep huddled in groups, with their tails covering their head and body. In one of his innumerable field trips in 1967, Coimbra-Filho discovered another interesting fact about these lion tamarins: they sleep in tree hollows, most probably dug out by woodpeckers, or in clumps of arboreal bromeliads and other epiphytes.11

oimbra-Filho began his search for remnant populations of golden lion tamarins in the 1960s. He travelled through parts of the states of Guanabara, São Paulo and Bahia, very largely using his own resources. He travelled by truck, train, bus and Willys army jeep, and witnessed at first hand the gradual but inexorable destruction of the forests. Like all good naturalists, Coimbra-Filho took endless notes,

203


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

204


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Exigente quanto à qualidade proteica do que come, o mico-leão-dourado se alimenta principalmente de frutos pequenos e macios, insetos e pequenos vertebrados. O colorido e o brilho do pelo perdem intensidade quando a alimentação é deficiente The golden lion tamarin is very particular about the protein content of its food; it eats mainly small, soft fruit, insects and small vertebrates. Its coat loses the intensity of its color and its luster when it does not get the right kind of food 205


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Na ausência de ocos de árvores, os micos-leões se abrigam em maciços de epífitas In the absence of hollow trees, lion tamarins take shelter in thickets of epiphytes

206


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

O dedo do meio do mico-leão é longo, quase duas vezes mais comprido que a palma da mão, tornando mais seguros os rápidos deslocamentos pela mata The middle finger of the lion tamarin is long, almost twice as long as the palm of its hand, thus making its rapid movement through the forest more secure

207


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

No Rio de Janeiro, o nascimento de filhotes de micos-leões-dourados ocorre frenquentemente nos meses de setembro e outubro, que coincidem com a primavera, estação em que as condições se tornam favoráveis à amamentação e ao desenvolvimento das crias In Rio de Janeiro, golden lion tamarins generally give birth in the months of September and October (in the spring), when conditions are conducive to nursing and the growth of the young

208


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

209


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

É fundamental entender a metodologia de pesquisa dos conservacionistas brasileiros em meados do século 20 para se ter a dimensão real da dedicação desses pesquisadores e da sua importância para o avanço da ciência no país. As condições eram as piores possíveis. Faltavam elementos essenciais, como literatura especializada e equipamentos como gravadores e computadores. Principalmente, faltava a compreensão da sociedade. Outros obstáculos eram a pressão dos caçadores, que tornava os animais ariscos e dispersos, a inexistência de vias ou as péssimas condições das estradas, além da malária, que ainda não havia sido erradicada nas áreas onde sobreviviam as populações de L. rosalia. It is essential to understand the research methods of conservationists in the mid-20th century in order to have an idea of the dedication of these scientists and how important their work was for the advancement of science in Brazil. Conditions were as bad as they could possibly be. Essential elements were lacking: very little specialized literature, and certainly no equipment such as recorders and computers. Most especially, the general public had no understanding of what they were doing. Other problems included hunters, who made the animals fearful and skittish, the lack of trails and the terrible conditions of the roads, all this besides the threat of malaria which had yet to be eradicated in the region where the lion tamarins lived.

210

Mico-leão-dourado Golden lion tamarin (Leontopithecus rosalia)


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Núcleo da Estação Biológica de Marapendi (1961-1963) Nucleus of the Marapendi Biological Station (1961-1963)

F

oi no começo dos anos 1960 que Coimbra-Filho e o amigo de juventude Alceo Magnanini, especialista em Ecologia e Conservação da Natureza, criaram um núcleo primatológico experimental na Estação Biológica de Marapendi, parte integrante da Reserva Biológica de Jacarepaguá. A ideia era realizar estudos de preservação in situ para repovoar aquela área com micos-leões-dourados.

Neste núcleo foram projetados, pela primeira vez, viveiros experimentais baseados no ambiente natural do mico-leão-dourado. Na época, os recintos em todo mundo eram pequenos e projetados verticalmente, com os poleiros geralmente constituídos de galhos dispostos na mesma posição. Em Marapendi, os viveiros eram maiores e os poleiros dispostos horizontalmente, com pequenas inclinações, já que o mico-leão-dourado

é um símio com características locomotoras de corredor-saltador. Contudo, como os 28 quilômetros quadrados da área estavam localizados próximos demais do perímetro da cidade, a reserva foi engolida pela especulação imobiliária do entorno. Injunções políticas, fundiárias e jurídicas inviabilizaram o projeto. Sua vida útil foi de apenas três anos, tempo suficiente para fazer história e exigir continuidade.

I

For this nucleus, experimental vivariums were designed for the lion tamarins that took into account their needs and the environment in which they lived. At that time, cages for small monkeys worldwide were small and projected vertically, with perches generally consisting of branches, also placed vertically. At Marapendi, the cages were larger and poles were placed horizontally and slightly inclined, since golden

lion tamarins are constantly moving about, running and jumping. However, since the 28-square-kilometer reserve was located close to the city, it was swallowed up by housing projects on its periphery. Political, territorial and judicial injunctions made the project unworkable. It lasted just three years, which, however, was time enough to demonstrate its importance, and as such to demand that it be continued.

n the early 1960s CoimbraFilho and his boyhood friend, Alceo Magnanini, an expert in ecology and nature conservation, created an experimental primatology nucleus at the Marapendi Biological Station, an integral part of the Jacarepaguá Biological Reserve. The idea was to carry out preservation studies in situ so as to repopulate the area with golden lion tamarins.

211


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Núcleo do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro (1963-1971) Nucleus of the Rio de Janeiro Jardim Zoologico (1963-1971)

C

om o fim da Reserva de Marapendi, os cinco micos que lá viviam foram transferidos para o Jardim Zoológico do Rio de Janeiro. Ali, em viveiros instalados fora da área de visitação, foi montada a primeira colônia reprodutiva de micos-leões-dourados. Ela crescia com o nascimento de filhotes e a doação de indivíduos, incluindo os três espécimes doados pelo cientista norte-americano Kurt Benirschke, do San Diego Zoo, em uma das visitas ao Zoológico do Rio de Janeiro. Ali o grupo permaneceu até 1971, período durante o qual Coimbra-Filho foi chefe do Serviço Técnico-Científico da instituição.

212

Os resultados das pesquisas pioneiras de Coimbra-Filho sobre os sauís-piranga in situ e ex situ foram por ele expostos no Museu Nacional do Rio de Janeiro, em julho de 1968, durante o 3o Congresso Brasileiro de Zoologia, cujo símbolo, por insistência do pesquisador, foi o próprio mico-leão-dourado. Ainda no mesmo ano, em outubro, o Projeto Mico-Leão foi apresentado no Simpósio sobre Conservação da Natureza e Restauração do Ambiente Natural do Homem. O evento, realizado na Academia Brasileira de Ciências (Rio de Janeiro), com a colaboração da FBCN, conseguiu despertar o interesse da mídia e da

comunidade internacional pelos símios brasileiros. O projeto conservacionista de Coimbra-Filho e Magnanini continuou angariando prestígio mundo afora. O sauí-piranga, que vivia no anonimato, começou a ficar famoso. Com a notoriedade, veio o interesse pela situação dramática em que a espécie se encontrava no Rio de Janeiro. Ao chamar a atenção dos estudiosos, transformou-se em um dos maiores casos de sucesso na história da conservação faunística mundial, estabelecendo um vínculo indissociável entre o surgimento da primatologia no país, a trajetória de vida de Coimbra-Filho e a situação do sauí-piranga na natureza.


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Mico-leão-dourado Golden lion tamarin (Leontopithecus rosalia)

F

ollowing the demise of the Marapendi Reserve, the five lion tamarins that lived there were transferred to the Rio de Janeiro Zoo. The first breeding colony of golden lion tamarins was installed in cages set up in an area away from public visitation. It grew with the birth of young and gifts from individuals, including three specimens donated by North American scientist Kurt Benirschke of the San Diego Zoo, when he visited Rio de Janeiro. The group stayed there until 1971, during which time CoimbraFilho was chief scientist at the zoo. The results of Coimbra-Filho’s pioneer research on the golden lion

tamarin in situ and ex situ were shown in the Rio de Janeiro National Museum, in July 1968, during the 3rd Brazilian Congress of Zoology. Coimbra-Filho insisted that the golden lion tamarin be chosen as the symbol of the meeting. In October of the same year, the Lion Tamarin Project was presented at the “Simpósio sobre Conservação da Natureza e Restauração do Ambiente Natural do Homem”, an event sponsored by the Brazilian Academy of Sciences, in collaboration with the Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza (FBCN). It drew the attention of the national midia and the international

community interested in the conservation of Brazil’s primates. The conservation project of Coimbra-Filho and Magnanini succeeded in gaining worldwide recognition. The once anonymous “sauí-piranga” became famous. Together with fame came concern for the dramatic situation of this species in Rio de Janeiro. By attracting the attention of scientists worldwide, it became one of the most famous success stories in the history of wildlife conservation, a history intertwined with the growth of primatology in Brazil, with the life work of Coimbra-Filho, and the survival of the “sauí-piranga” in the wild.

213


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Década de 1970

Núcleo do Instituto de Conservação da Natureza (1971-1975) Nucleus of the Instituto de Conservação da Natureza (1971-1975)

O

s estudos com símios feitos no período em que eram mantidos ex situ e a experiência adquirida no manejo dos primatas no Jardim Zoológico possibilitaram a Coimbra-Filho o desenvolvimento de pesquisas e distintas hibridações experimentais entre espécies de Callithrix. Esses ensaios eram desenvolvidos no núcleo localizado no Alto da Boa Vista, em área periférica do Parque Nacional da Tijuca, subordinado à Secretaria de Ciência e Tecnologia do antigo Estado da Guanabara. O trabalho era feito em regime de cooperação com o Parque Nacional da Tijuca. Datam desta época os estudos de Coimbra-Filho que o levaram à

descoberta da gomivoria, um comportamento peculiar dos gêneros Callithrix, Mico e Cebuella, que consiste na perfuração, com os dentes incisivos inferiores, da parte superficial do tronco e galhos de certas árvores para obtenção das substâncias que fluem das lesões: seivas, látex e a goma exsudados. Mais tarde, com a contribuição de Newton da Cruz Rocha e Alcides Pissinatti, o primatólogo correlacionou os tipos de dentição e os hábitos alimentares à morfologia e fisiologia dos cecos dos saguis.28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35 Remontam ao mesmo período os primeiros estudos de patologia clínica em espécies neotrópicas

brasileiras. Sob o comando do veterinário Alcides Pissinatti, atual chefe do CPRJ, eram pesquisados, principalmente, os distúrbios que mais frequentemente acometiam e matavam os símios. Em geral, essas doenças eram causadas por estresse, capturas e transporte traumáticos e alimentação inadequada e deficiente, fatores que diminuíam a resistência orgânica dos animais e permitiam a invasão de bactérias e protozoários, entre outros agentes orgânicos oportunistas. Em 1975, com a fusão dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, o Instituto de Conservação da Natureza foi transformado em um departamento da Feema.

C

It was at this time that CoimbraFilho discovered that marmosets, Callithrix and Cebuella, eat gums, and do so by gnawing the bark of trunks and branches of certain trees with their lower incisors. Gums exude from the lesions they make. In collaboration with Newton da Cruz Rocha and Alcides Pissinatti, Coimbra-Filho was later able to relate their dentition and the morphology and physiology of the cecum with their habit of feeding on gum.28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35 Studies of the clinical pathology of Brazilian Neotropical primates were first carried out at this time. Alcides

Pissinatti, today director of the RJPC, led this research, focused mainly on pathologies that were the most frequent causes of mortality in the colony. In general, they are caused by stress, traumatic capture and transportation, and inappropriate diets and dietary deficiencies that damage their immune system, reducing their resistance to bacterial and protozoan infections. In 1975, when the states of Guanabara and Rio de Janeiro were combined, the Instituto de Conservação da Natureza became a department of the Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema).

aptive research on marmosets (Callithrix) and the experience gained in their husbandry when they were maintained in the Rio de Janeiro Zoo allowed Coimbra-Filho to experiment with hybrids among the different species. These experiments were carried out at the center located at Alto da Boa Vista, near the Tijuca National Park, under the auspices of the Secretariat of Science and Technology of the state of Guanabara. The work was carried out in cooperation with the staff of the Tijuca National Park.

214


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Conferência internacional sobre o mico-leão-dourado. Acima, entre vários participantes do evento, Coimbra-Filho, o quinto da frente, seguido da tradutora e de Alceo Magnanini. Ao lado, da esquerda para a direita: tradutora, Russell A. Mittermeier, Adelmar Coimbra-Filho, John Perry, Bill Conway e Donald Bridgewater Attendees of The Golden Lion Marmoset Conference. Above, Coimbra-Filho, in front, fifth from the left, sixth is the interpreter and next to her is Alceo Magnanini as well as other participants of the event. Below, left to right: the interpreter, Russell A. Mittermeier, Adelmar Coimbra-Filho, John Perry, Bill Conway and Donald Bridgewater

Salvando o sagui-leão Saving the golden lion tamarin

A

crescente preocupação com o declínio da população de micos-leões-dourados em cativeiro nos Estados Unidos e na Europa levou à realização de uma conferência histórica em Washington, em fevereiro de 1972, que contou com a participação de Coimbra-Filho e Magnanini: a Wild Animal Propagation Trust Golden Lion Marmoset Conferen-

ce - Saving the Lion Marmoset. A conferência, organizada por John Perry (National Zoo), Donald Bridgewater (Wild Animal Propagation Trust) e Bill Conway (Bronx Zoo - Nova Iorque), foi o estopim que motivou a comunidade internacional a criar diversas iniciativas e a estabelecer recomendações para a conservação do mico-leão-dourado.

Devra G. Kleiman, então diretora de pesquisas do Smithsonian National Zoological Park, ouviu o apelo da dupla de brasileiros e assumiu o cadastramento e monitoramento dos exemplares dos sauís-piranga espalhados pelos zoos americanos, além da coordenação de um pool de acasalamentos controlados, aumentando o número de espécimes de 70 para 500.1

G

(The National Zoo), Donald Bridgewater (Wild Animal Propagation Trust) and Bill Conway (Bronx Zoo - New York), motivated the international community to set up a number of initiatives and draw up recommendations for the conservation of the golden lion tamarin. Devra G. Kleiman, Director of Research at the Smithsonian Institution’s National Zoological

Park, heard the appeal regarding the need to stabilize the captive population of golden lion tamarins, organized an international committee and a breeding studbook, while promoting a research program, building on the research of Coimbra-Filho, to improve their husbandry. The declining captive population of 70 was quickly brought up to a stable and healthy 500. 1

rowing concerns with the decline of the captive populations of golden lion tamarins in the United States and Europe led to a historic conference in Washington, DC, in February 1972, attended by Coimbra-Filho and Magnanini: the Wild Animal Propagation Trust Golden Lion Marmoset Conference, Saving the Lion Marmoset. The conference organized by John Perry

215


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Banco Biológico do Mico-Leão (1971 - 1979) Lion tamarin Biological Bank (1971 - 1979)

P

ode-se dizer que o Banco Biológico do Mico-Leão foi o embrião do CPRJ. O diretor do Departamento de Pesquisas e Conservação da Natureza do IBDF, Alceo Magnanini, conseguiu apoio financeiro da WWF dos Estados Unidos para desenvolver o projeto. Ele e Coimbra-Filho implantaram o banco atrás do Horto Florestal, dentro dos limites do Parque Nacional da Tijuca, que funcionava em cooperação com o Instituto de Conservação da Natureza. O projeto, criado para preservar as três espécies de Lentopithecus, permitiu aos pesquisadores observar e trabalhar com o maior número de sauís vivos, inclusive com os únicos exemplares de mico-leões-pretos mantidos em cativeiro até então. Os animais do Banco Biológico foram mantidos pela recém-criada

Feema até a implantação do CPRJ, quando todas as atividades foram transferidas para lá. Se Coimbra-Filho foi o primeiro e grande defensor dos micos-leões e o mentor do Centro de Primatologia, Manoel da Frota Moreira, então diretor-geral da Divisão TécnicoCientífica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), foi um dos que mais incentivou a ideia do CPRJ. Ele reuniu primatólogos brasileiros e norte-americanos de renome para debater a implantação de centros de primatologia no Brasil, depois que o presidente do órgão recebeu carta do cientista americano Albert Sabin indagando sobre a possibilidade de importar alguns saguis amazônicos para pesquisas de hepatite e certos tipos de câncer. O interesse chegou ao conhecimento do então ministro da Saúde,

Coimbra-Filho no viveiro para micos construído no Parque Nacional da Tijuca (acima), e ao lado de Russell A. Mittermeier, no início de uma grande amizade entre os cientistas Coimbra-Filho in the marmoset vivarium, built in Tijuca National Park (above), and standing next to Russell A. Mittermeier, at the beginning of a lasting friendship

216

Paulo A. Machado, e do presidente do IBDF na época, Paulo A. Berutti, já que a exportação de animais selvagens do Brasil era proibida. Desses encontros saiu a recomendação de instalar três centros primatológicos no país: um em Manaus (Amazonas), posteriormente transferido para Belém (Pará), outro em Brasília, por solicitação da Universidade de Brasília, e um terceiro no Rio de Janeiro, reivindicado pela Feema. Era natural a implantação de um centro no Rio de Janeiro, Estado que já abrigava um núcleo de primatologia. Os especialistas ainda enfatizaram a importância da iniciativa, ressaltando que o Brasil, embora com um território rico em espécies de primatas não humanos, paradoxalmente não possuía um só centro destinado ao estudo de tão extraordinário patrimônio.


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

O

ne could say that the Lion Tamarin Biological Bank was the embryo of the RJPC. The Director of the Departamento de Pesquisas e Conservação da Natureza, Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), Alceo Magnanini, obtained financial support from the World Wildlife Fund (WWF) in the US, to carry out the project. He and Coimbra-Filho set up the bank behind the Horto Florestal, within the limits of the Tijuca National Park, that worked in cooperation with the Instituto de Conservação da Natureza. The project was created to preserve the three species of Leontopithecus, allowing the investigators to observe and work with a larger number of live animals, including the only specimens of black lion tamarins held in captivity at that time. The animals of the Biological Bank were maintained by the recently created Feema until the RJPC was inaugurated, at which time all activities were transferred to the Center. If Coimbra-Filho was the first great defender of the lion tamarins and the mentor of the Primatology Center, then Manoel da Frota Moreira, then scientific advisor to the Brazil Science Council (CNPq),

was one of the most fervent advocates of the idea of the Rio de Janeiro Primatology Center. He gathered together renowned Brazilian and North American primatologists to discuss the installation of Primatology centers in Brazil after the president of the organ received a letter from American scientist, Albert Sabin, inquiring about the possibility of importing several Amazonian marmosets for research on hepatitis and certain types of cancer. This interest reached the ears of then Health Minister, Paulo A. Machado, and the president of IBDF, Paulo A. Berutti, because the exportation of wild animals was prohibited. These meetings resulted in a recommendation to install three primatology centers in Brazil: one in Manaus (AM), later transferred to Belém (PA), another in Brasilia at the request of the University of Brasilia, and a third in Rio de Janeiro, requested by Feema. The location of a center in Rio de Janeiro was obvious for this state already had a primatological nucleus. Specialists also stressed the importance of the initiative, noting that Brazil, a country rich in non-human primate species, paradoxically did not have a single center geared to the study of this extraordinary resource.

Hoje, conirmo o que sempre pensei: trata-se de [Adelmar Coimbra-Filho] pesquisador altamente categorizado e de eiciente e lúcido administrador de pesquisa e de instituição que certamente ocupará importante espaço no nosso desenvolvimento cientíico.2 Manoel da Frota Moreira, diretor-geral da Divisão Técnico-Científica do CNPq (Novembro, 1982)

Today, I conirm what I have always thought: Adelmar Coimbra-Filho is a highly qualiied researcher, an eicient, practical administrator of research and of the institution that will surely play an important role in scientiic development in Brazil.2 Manoel da Frota Moreira, Director General of the Technical Scientific Division of CNPq (November, 1982)

217


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

A experiência mais impressionante e memorável da minha ida ao Brasil em 1986 foi a visita ao CPRJ, um milagre criado por meu amigo e colega Professor Adelmar Coimbra-Filho.2 Philip Hershkovitz, curador emérito, Field Museum of Natural History, Chicago, Illinois, EUA ( Junho, 1986)

he most impressive and memorable experience on my 1986 trip to Brazil was my visit to the RJPC, a miracle created by my friend and colleague Professor Adelmar Coimbra-Filho.2 Philip Hershkovitz, Curator Emeritus, Field Museum of Natural History, Chicago, IL, USA ( June, 1986)

Antiga estrada de acesso ao Centro de Primatologia e à represa da Cedae Old access road to the Primatology Center and Cedae dam

218


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Centro de Primatologia do Rio de Janeiro (1979) Rio de Janeiro Primatology Center (1979)

F

oi longo o caminho percorrido até a instalação do Centro ser anunciada, o que aconteceu em 20 de março de 1979. A começar pela definição da área mais apropriada. O primeiro local escolhido, um terreno de 380 mil metros quadrados situado na encosta leste do Morro do Amorim, na Baixada de Jacarepaguá, cidade do Rio de Janeiro, foi descartado porque o Estado não conseguiu a posse do terreno. Finalmente apareceu uma área apropriada, sob a administração da Cedae, próxima à represa do Paraíso, em Guapimirim, Estado do Rio de Janeiro. E ali foi implantado o Centro de Primatologia do Rio de Janeiro. Contudo, era necessário também criar áreas protegidas na natureza para preservar os micos-leões-dourados e outras espécies endêmicas da fauna e da flora da Mata Atlântica.

T

he construction of the Center was announced on March 20, 1979, but the road to this announcement was a long one. It began with the decision as to where would be the most appropriate location. The first place selected was an area of 380,000 square meters on the east slope of Morro do Amorim, Baixada de Jacarepaguá, city of Rio de Janeiro. This was rejected because the state was not able to secure ownership of the land. Finally an appropriate area was found that was administered by Cedae, near the Paraíso reservoir, in Guapimirim, Rio de Janeiro state. And there the Rio de Janeiro Primatology Center was installed. However, it was also necessary to create protected areas in the wild to preserve the golden lion tamarins and other endemic species of the Atlantic Forest fauna and flora.

O CPRJ é o verdadeiro marco físico da Primatologia no Brasil.2 Milton Thiago de Mello, presidente da Sociedade Brasileira de Primatologia (Novembro, 1989)

he RJPC is the true landmark of Primatology in Brazil. 2 Milton Thiago de Mello, President of the Sociedade Brasileira de Primatologia (November, 1989)

Construção da sede (1979) Building the administration headquarters (1979)

219


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Os micos-leões e suas reservas Lion tamarins and their reserves

Reserva Biológica de Poço das Antas Poço das Antas Biological Reserve

A

criação da primeira reserva biológica brasileira para preservar o mico-leão-dourado na natureza exigiu a costumeira tenacidade de CoimbraFilho e Magnanini. Desde os anos 1960, Coimbra-Filho identificava remanescentes florestais no Estado, principalmente ao longo dos afluentes do Rio São João, onde pudesse estabelecer uma área de proteção aos sauís-piranga. Depois de alguns insucessos, finalmente, em 1969, os ferrenhos pesquisadores identificaram, no município de Silva Jardim (Rio de Janeiro), áreas

apropriadas e disponíveis onde já ocorria a espécie. À luta dos pesquisadores, somou-se o empenho de muitas pessoas influentes politicamente, até que, em 1974, foi oficialmente criada a Reserva Biológica de Poço das Antas (Decreto Federal nº 73.791, de 11/03/1974, alterado pelo Decreto nº 76.534, de 03/11/1975). Com cerca de 5.500 hectares, a área continua sendo o maior hábitat contínuo e integralmente protegido para micos-leões-dourados. Em 1983, em parceria com o IBDF e a

Feema, e sob a coordenação de Devra G. Kleiman, do Smithsonian National Zoological Park, foi iniciado o Golden Lion Tamarin Conservation Program (GLTCP), com estudos de longo prazo sobre a demografia e a ecologia dos micos-leões, além de programas de reintrodução, educação ambiental e restauração de hábitat, conduzidos inicialmente por pesquisadores como a própria Devra Kleiman, Benjamin Beck e James e Lou Ann Dietz, e posteriormente coordenados por brasileiros.

T

Many politically influential people assisted these scientists in their efforts, and, in 1974, the Poço das Antas Biological Reserve was created by Decreto Federal nº 73.791 (March 11, 1974), and its boundaries were redefined by Decreto nº 76.534 (November 3, 1975).With about 5,500 hectares, the area is still the largest continuous habitat of integral protection for the golden lion tamarins. In 1983, together with IBDF and Feema, and coordinated by Devra G. Kleiman, the Smithsonian National Zoological Park’s Golden Lion Tamarin Conservation Program (GLTCP) began a long-term project to

study the demography and socioecology of the tamarins, and set up programs for reintroduction, environmental education and habitat restoration. In possession of an extraordinary volume of knowledge on the species and its habitat, it became possible to carry out an initial Analysis of Population Viability in 1990. One of the recommendations of this study was to institutionalize the GLTCP by means of a base in Brazil to monitor and coordinate conservation activities and research on the golden lion tamarin. The Golden Lion Tamarin Association was established with the mission to protect

he creation of the first biological reserve in Brazil to preserve the golden lion tamarin in the wild required the customary tenacity of Coimbra-Filho and Magnanini. Since the 1960s, Coimbra-Filho had been finding forest remnants in the state, mainly next to affluents of the Rio São João, that could serve as an area to protect “sauís-piranga”. After several failed attempts, finally, in 1969, these determined scientists found available sites that were located in areas where the species already lived, in the municipality of Silva Jardim.

220


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

221


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Devra G. Kleiman e CoimbraFilho na inauguração da Associação Mico-Leão-Dourado: dois grandes batalhadores pela preservação do Leontopithecus rosalia Devra G. Kleiman and CoimbraFilho at the inauguration of the Golden Lion Tamarin Association: two great warriors in the fight to preserve Leontopithecus rosalia

222


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Com um volume extraordinário de conhecimentos sobre a espécie e seu hábitat, foi possível realizar a primeira Análise de Viabilidade de Populações, em 1990. Do estudo, surgiu a recomendação para se institucionalizar o GLTCP por meio de uma base brasileira para monitorar e coordenar as ações de conservação e as pesquisas sobre o mico-leão-dourado. Em 1992 foi criada a Associação Mico-LeãoDourado (AMLD), com a missão de proteger a biodiversidade da Mata Atlântica de baixada do Estado do Rio de Janeiro e o mico-leão-dourado como espécie-bandeira.36 Nessa época foram também criadas as primeiras Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) na região, que concentra atualmente mais de 30 reservas. Desde a criação da Associação até meados de 2011, a então diretora Denise M. Rambaldi, com uma equipe multidisciplinar, conduziu os esforços de longo prazo para o resgate e a conservação da espécie e do seu hábitat por meio de parcerias nacionais e internacionais.

biodiversity in the lowland Atlantic Forest of Rio de Janeiro state, using the golden lion tamarin as the flagship species.36 At this time, the first RPPNs (Private Natural Heritage Reserves) were created in the region, today numbering over 30 reserves. Since the Association was created in mid-2011, Director Denise M. Rambaldi, together with a multidisciplinary team, focused on long-term efforts to recover and conserve the species and its habitat, in partnership with both Brazilian and international institutions.

Mico-leão-dourado Golden lion tamarin (Leontopithecus rosalia)

223


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Reserva Biológica União União Biological Reserve

E

m 1992, Cecília Kierulff e Jody Stallings conduziram um levantamento da população de micos quando 12 grupos foram encontrados sobrevivendo em nove fragmentos florestais pequenos e isolados do Estado do Rio.37, 38 Os esforços para a translocação desses animais para uma área de 2.548 hectares, nos municípios de Casimiro de Abreu e Rio das Ostras, foram iniciados imediatamente. Entre 1994 e 1997, 43 micos-leões-dourados foram translocados para o local. Atualmente, a população é de cerca de 350 indivíduos. Conhecida como Fazenda União, essa área, por décadas, foi de

propriedade da Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA), que empregava a madeira das florestas nativas nas caldeiras das locomotivas e na construção e manutenção das ferrovias da região. Posteriormente, com o desenvolvimento dos combustíveis fósseis, o uso de madeira como fonte de energia foi deixado de lado, e duzentos hectares de eucaliptos foram plantados nas áreas desmatadas da fazenda para a produção de dormentes. Na década de 1990, após o início do processo de privatização da RFFSA, a propriedade foi colocada à venda. Isso deixou os pesquisadores e gestores muito apreensivos, dadas as incertezas que cercavam

aquela população de micos e o futuro de um dos últimos remanescentes das florestas de baixadas na região. Numa iniciativa inédita, a Associação Mico-Leão-Dourado e a WWF coordenaram as negociações entre os ministérios dos Transportes (RFFSA), da Previdência Social (INSS) e do Meio Ambiente (Ibama) para que a Fazenda União fosse aceita pelo INSS como pagamento de uma dívida da RFFSA e doada ao MMA para a criação da reserva. Assim, em 1998, o governo federal criou a Reserva Biológica União, que, mais de 15 anos depois, pode ser ampliada em mais de seis mil hectares.

I

the Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA) that used the wood of native forests in the boilers of trains and in the construction and maintenance of the railroads in the region. Later, with the development of fossil fuels, the use of wood as an energy source was abandoned, but 200 hectares of eucalyptus were planted in the deforested areas of the fazenda to produce railroad sleepers. In the 1990s after the beginning of the privatization of the RFFSA, the property was put up for sale.This made scientists and managers apprehensive given the uncertainty that surrounded

the population of lion tamarins and the future of one of the last remnants of lowland forest in the region. The Golden Lion Tamarin Association and WWF by means of an unusual initiative, coordinated negotiations with the ministries of Transportes (RFFSA), Previdência Social (INSS) and Meio Ambiente (Ibama) so that Fazenda União would be accepted as payment of an RFFSA debt and donated to the MMA for the creation of the reserve. So in 1998, Ibama created the União Biological Reserve, that, over 15 years later, might incorporate more than 6,000 hectares.

n 1992, Cecília Kierulff and Jody Stallings carried out a rangewide survey of the golden lion tamarin populations remaining in the state of Rio de Janeiro. They located 12 groups in nine tiny isolated forests.37, 38 Efforts to capture and translocate these animals to a 2,548-hectare area, in the municipalities of Casimiro de Abreu and Rio das Ostras were begun immediately. From 1994 to 1997, 43 golden lion tamarins were translocated to the area; today the population numbers about 350 animals. Known as the Fazenda União, for decades this area belonged to

224


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

225


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

A proposta, aprovada tecnicamente, já passou por todos os trâmites legais impostos pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e aguarda aprovação da Casa Civil. Se confirmada, a medida fará saltar para 8.600 hectares o tamanho da área legal dedicada à proteção do mico-leão-dourado e de muitas outras espécies nativas da Mata Atlântica. O projeto de ampliação pode, ainda, diminuir a pressão que atividades predatórias exercem sobre a expressiva avifauna regional, responsável pela inclusão da reserva no mapa de áreas-chave para a proteção de aves endêmicas, raras e ameaçadas de extinção (Key Bird Areas – KBA). Pesquisas apontam que 225 espécies de aves já foram registradas na área da reserva. Das 35 endêmicas, cinco correm o risco de serem extintas, assim como quatro das 15 espécies migratórias identificadas na região. Em busca de apoio público aos esforços de conservação, a Reserva União mantém um programa de educação ambiental voltado prioritariamente às populações que vivem no entorno dela. Dentre as atividades mais apreciadas estão as caminhadas pela Trilha Interpretativa Inclusiva do Pilão, que busca reaproximar o homem da natureza e despertá-lo para a importância da conservação do meio ambiente. Com pouco mais de três quilômetros, recentemente a trilha teve parte do seu trajeto adaptado

226

às necessidades de pessoas com deficiência, tornando-se uma das poucas no Brasil adaptada a esse público. Outro importante passo para proteger o mico-leão do risco de extinção foi alcançado em 2002, quando foi criada a Área de Proteção Ambiental (APA) da Bacia do Rio São João/ Mico-Leão-Dourado, com 145 mil hectares, incluindo as principais áreas de Mata Atlântica onde vive a espécie. Com a expansão do hábitat protegido pelas reservas públicas e privadas e o sucesso reprodutivo dos micos-leões reintroduzidos e

translocados, em 2001 foi celebrado o nascimento do milésimo mico-leão-dourado na natureza, o que contribuiu para que, em 2003, a espécie fosse reclassificada na Lista Vermelha da IUCN, passando de “criticamente em perigo” para “em perigo” de extinção.5 Atualmente, a metapopulação da espécie é estimada em 3.200 indivíduos, e o grande desafio continua sendo restaurar a conectividade florestal entre as reservas e a dessas com os diversos fragmentos florestais onde ainda existem micos-leões.


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Mico-leão-dourado Golden lion tamarin (Leontopithecus rosalia)

The proposal was approved technically, went through all the legal procedures required by the National System for Conservation Units (SNUC) and awaits a political decision by the Casa Civil. If confirmed, the measure will increase the size of the legal area dedicated to the protection of the golden lion tamarin to 8,600 hectares. The forest of this area has been growing ever since the eucalyptus began to be replaced by native species of the Atlantic Forest. The amplification project will lessen the pressure that predatory

activities are exerting on a regional avifauna that is considered significant enough for the region’s identification as a key area for the protection of endemic rare, and endangered species. Two hundred and twenty-five bird species have been recorded in the area of the União Reserve. Of the 35 that are endemic, five are at risk of extinction, as are four of the 15 migratory species identified there. The União Biological Reserve has an environmental education program for the population of the

region. The aim is to reach the people that live around the reserve. The main activities of this initiative are walks on the Pilão interpretive trail that are intended to increase people’s awareness of nature and make them understand the importance of nature conservation. A little over three kilometers, the trail recently had 1/3 of its trajectory adapted to the needs of the physically disadvantaged; one of the very few in Brazil. Other important steps to save the lion tamarin from extinction were achieved in 2002, when the Área de Proteção Ambiental (APA) da Bacia do Rio São João/Mico-LeãoDourado was created, with 145,000 hectares, including the most important patches of Atlantic Forest where this species lives. With the increase in protected habitat through public and private reserves, the breeding success of reintroduced and translocated lion tamarins, and the increased survival rate in the wild, in 2001, it was possible to celebrate a population increase to 1,000 wild lion tamarins. In 2003, this population increase contributed to the species being upgraded on the IUCN Red List from Critically Endangered to Endangered.5 Today, the metapopulation of the species is estimated at 3,200. The biggest challenge continues to be the restoration of connectivity between the reserves and the isolated patches where the lion tamarins are still found.

227


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

228


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Mico-leão–de-cara-dourada Golden-headed lion tamarin (Leontopithecus chrysomelas)

Reserva Biológica de Una Una Biological Reserve

O

s estudos de Coimbra-Filho com o mico-leão–de-cara-dourada (Leontopithecus chrysomelas) tiveram início em 1969, no sudeste da Bahia. Coimbra-Filho realizou levantamentos preliminares para conhecer a real distribuição geográfica do sauí e para localizar uma área destinada à sua preservação, o que veio a acontecer em 1973, no município de Una. Ali havia um pedaço significativo de floresta bem preservada dentro da área de ocorrência da espécie. A Reserva de Una, no entanto, só foi legalmente criada em dezembro de 1980.

C

oimbra-Filho began his studies on the golden-headed lion tamarin (Leontopithecus chrysomelas) in southeast Bahia in 1969. He surveyed the region to better understand its geographic distribution and to find an area where it could be preserved. In 1973, he found an area of well-preserved forest in the municipality of Una, which was decreed as a biological reserve in December 1980.

229


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Parque Estadual do Morro do Diabo Morro do Diabo State Park

A

ssim como no caso do mico-leão-dourado, foi o naturalista austríaco Johann Natterer quem primeiro descreveu o mico-leão-preto, em janeiro de 1819, nas proximidades do município de Cotia (São Paulo). Em 1902, E. Garbe coletou três espécimes no município de Botucatu, São Paulo. A partir daí e durante 65 anos não houve mais registros do sauí-preto, por isso dado como extinto. Quem novamente deu notícia dele foi o conservacionista Álvaro Aguirre, que viu um casal taxidermizado em Presidente Wenceslau (São Paulo) cuja descrição coincidia com o extremamente raro mico-leão-preto (Leontopithecus

chrysopygus). Infelizmente, quando Coimbra-Filho lá chegou, os exemplares haviam ido para Londrina (Paraná). À procura dos saguis, ele percorria e observava as matas da região próxima àquela onde o casal fora abatido. Nada conseguindo, rumou para uma reserva florestal no município de Teodoro Sampaio, a Floresta Estadual do Morro do Diabo (São Paulo). Finalmente, na tarde do dia 14 de maio de 1970, “surpreendemos três indivíduos deslocando-se pelo estrato intermediário do arvoredo, próximo de um caminho florestal. Comprovouse assim que a rara espécie ainda não havia desaparecido”.13, 14, 39

A partir dos estudos de CoimbraFilho passou-se a conhecer mais o Leontopithecus chrysopygus, símio endêmico do Estado de São Paulo. Sua redescoberta e as campanhas para preservação da espécie lideradas pelo primatólogo, com o apoio de vários cientistas, principalmente Alceo Magnanini e Paulo Nogueira Neto, no Brasil, e Russell A. Mittermeier e Devra G. Kleiman, nos Estados Unidos, resultaram na transformação da floresta em Parque Estadual do Morro do Diabo, o que viabilizou a preservação do símio. Hoje, é nela que vivem quase todos os micos-leões-pretos que existem no mundo.

A

animals indicated they were the extremely rare black lion tamarin (Leontopithecus chrysopygus). Unfortunately, when CoimbraFilho arrived, the specimens had already been sent to Londrina, Paraná. Coimbra-Filho searched for the monkeys in the forests in the vicinity of Presidente Wenceslau, but found nothing, so he headed for a reserve in the municipality of Teodoro Sampaio, the Morro do Diabo State Forest. In the afternoon of 14 May, 1970, “... we came upon three individuals moving through the intermediate layer of the forest, near a trail in the woods,

proving that the rare species had not disappeared.”13, 14, 39 Coimbra-Filho’s studies gave us a better understanding of Leontopithecus chrysopygus, endemic to the state of São Paulo. Its rediscovery and the campaign to preserve the species, led by the primatologist, with a number of other scientists, mainly Alceo Magnanini and Paulo Nogueira-Neto, in Brazil, and Russell A. Mittermeier and Devra G. Kleiman, in the United States, resulted in the creation of the Morro do Diabo State Park, to this day the principal protected area for the species.

s with the golden lion tamarin, it was the Austrian naturalist Johann Natterer who first discovered this animal; in January 1819, near the municipality of Cotia, São Paulo. In 1902, Ernst Garbe of the Paulista Museum collected three specimens in the municipality of Botucatu, São Paulo. As of this date, and for a period of 65 years, there was no more news of the “sauí-preto”; it was believed to be extinct. Conservationist Álvaro Aguirre, spotted two stuffed monkeys in Presidente Wenceslau, São Paulo; the description of these

230


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Micos-leões-pretos no Parque do Morro do Diabo: redescoberta da espécie e campanhas para sua preservação permitiram criação da reserva Black lion tamarins in the Morro do Diabo Park: rediscovery of the species and campaigns for its preservation led to the creation of the reserve

231


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

(aguardando mapa)

Parque Estadual do Morro do Diabo (área verde no mapa), com 33.845 hectares, no Pontal do Paranapanema (SP) The Morro do Diabo State Park (in green) of 33,845 hectares in the Pontal do Paranapanema, São Paulo

De 1989 em diante, o mico-leão-preto passou a ser estudado por Cláudio Pádua, Cristiana Martins e outros pesquisadores do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), que implementaram ações estratégicas para salvar a espécie. O trabalho valeu a pena. Em 2008, a IUCN reclassificou o mico-leão-preto, que passou de espécie “criticamente ameaçada” para

232

“em perigo”, confirmando o sucesso dessas iniciativas.40 Outros micos-leões-pretos foram avistados, em 1976, em uma mancha florestal no município de Gália (São Paulo). Por influência de Coimbra-Filho, naquele mesmo ano, a área destinada à preservação do sauí-preto foi decretada reserva estadual e, em 1987, transformada

na Estação Ecológica de Caitetus. Ali sobrevive uma população que, embora reduzida, é extremamente importante, pois permite a quebra de consanguinidade se manejada como uma metapopulação*. * Conjunto de subpopulações interconectadas que funciona como uma unidade demográfica. A metapopulação garante a continuidade da espécie.


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

O laboratório, mantido com a colaboração de instituições parceiras, recebeu o nome do pesquisador The laboratory, supported by partner institutions, is named after the scientist

Cláudio Pádua and his wife Suzana, Cristiana Martins and other researchers from the Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPE) began to study the black lion tamarin in 1989; implementing strategies to save the species. Their ongoing efforts have been successful. In 2008, IUCN reclassified the black-faced lion tamarin

from Critically Endangered to Endangered.40 In 1976, another black lion tamarin population was found in a patch of forest in the municipality of Gália, São Paulo. Due to the influence of Coimbra-Filho, that same year the area was designated a state reserve to protect the “sauí-preto”, and in 1987, it was transformed into

the Caitetus Ecological Station. Although the population there is very small it is extremely important, being genetically distinct and as such a source of new genes vital to avoid inbreeding with the isolated populations now being managed as a metapopulation*. * Series of interconnected subpopulations that function as a demographic unit.

233


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Os guardiĂľes de ontem e hoje Guardians of yesterday and today 234


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Sede do Centro de Primatologia do Rio de Janeiro Headquarters of the Rio de Janeiro Primatology Center

235


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Adelmar Faria Coimbra-Filho

Da árvore para o macaco foi um pulo From studying trees to studying monkeys was just a leap

A

primeira vez que o viu, amarrado pela cintura, foi na varanda da casa de uma família portuguesa, na Tijuca, bairro do Rio de Janeiro. Era início dos anos 1940. Passados alguns anos, em Itaguaí (Rio de Janeiro), viu um exemplar abatido. No início dos anos 1950, numa andança mato adentro pela bacia do Rio São João, deparou-se com outros, vivos e livres. O animal era tão extraordinário que decidiu estudá-lo. Desde então, prefere usar a denominação dada pelos tupis-guaranis – sauí-piranga (mico-leão-vermelho) –, porque “na natureza ele não é dourado, é vermelho-alaranjado brilhante”. A trajetória de Coimbra-Filho no mundo dos primatas começou assim, fortuitamente, mas virou uma paixão para a vida inteira. Paixão que se estendeu à preservação da natureza.

236

C

oimbra-Filho saw the golden lion tamarin for the first time in the early 1940s. It was on the veranda of a Portuguese family’s house in Tijuca, a district of Rio de Janeiro. It was tied at the waist. Some years later, he found a dead animal in Itaguaí (RJ), and later in the early 1950s, walking through a forest in the Rio São João basin, he came across a group, living and free. He was so amazed by its beauty he decided to study it. He prefers the Tupi-Guarani name – “sauí-piranga” (red-lion tamarin) – because “in the wild it is not golden, it is a brilliant reddish-orange”. The trajectory of Coimbra-Filho in the world of primates began there, by chance, but it became a passion for a lifetime. A passion that came to include the preservation of nature.


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

237


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Quando já conhecia um pouco mais da vida do Leontopithecus rosalia, e tinha certeza de que esse símio corria o risco de entrar para a lista de animais em extinção, liderou um movimento conservacionista para salvá-lo. Começava aí uma história de sucesso que, de um lado, catapultou CoimbraFilho para a fama por seu pioneirismo científico e, de outro, livrou o mico-leão-dourado da rota de extinção. O pesquisador não apela para a falsa modéstia ao falar de um dos mais bem-sucedidos casos da história do conservacionismo faunístico mundial e de seu esforço para criar espécies em cativeiro, com posterior reintrodução na natureza. Coimbra-Filho afirma que, não fosse pelo movimento liderado por ele, hoje não existiria

mico-leão no Brasil. “Colaborei ativamente para a preservação das três espécies de mico-leão então conhecidas”, orgulha-se o primatólogo, referindo-se ao mico-leão-dourado, ao mico-leão-preto e ao mico-leão-de-cara-dourada. A paixão do primatólogo pelos micos-leões aparece registrada em livros e artigos publicados, nas brigas que travou na vida profissional em prol do primata e nas campanhas que liderou para que fossem criadas reservas especiais para salvar as espécies da extinção no Rio de Janeiro, na Bahia e em São Paulo. Sem deixar margem a qualquer tipo de dúvida, fotos do macaco espalhadas por toda a residência, assim como estatuetas do animal, comprovam o fascínio que os

símios exercem sobre o especialista e a influência que têm sobre seu trabalho. Embora nascido em Fortaleza, Ceará, em 4 de junho de 1924, foi no Rio de Janeiro que Coimbra-Filho construiu vida e obra. Seu desejo quando criança era ser fazendeiro, mas quis o destino que esse cearense seguisse outro rumo na vida. A paixão pela terra e a curiosidade científica o levaram, em 1963, para o extinto curso de História Natural (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade do Estado da Guanabara), onde fez bacharelado e licenciatura, e, em 1976, para o Mestrado em Zoologia (Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro), tornando-se, posteriormente, membro da Academia Brasileira de Ciências.

Coimbra-Filho na mata de Gaviões-Bananeira, município de Silva Jardim (RJ), à época em que estudava os hábitos do mico-leão-dourado (1950) Coimbra-Filho in the Gaviões-Bananeira forest, municipality of Silva Jardim, Rio de Janeiro, when he was studying the habits of the golden lion tamarin (1950)

238


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Once he had learned a little more of the life of Leontopithecus rosalia and was convinced that it ran the risk of ending up on the list of extinct animals, he led a conservationist movement to save it. On the one hand it catapulted CoimbraFilho to fame as a scientific pioneer and on the other it diverted the golden lion tamarin from the path of extinction. The scientist has no false modesty when he speaks of one of the most successful endangered species programs worldwide, and of his success in establishing a breeding program which allowed the subsequent reintroduction of captive individuals to the wild. If it were not for the movement led by

him, today there would be no lion tamarins in Brazil. “I worked intensely for the preservation of the three species of lion tamarin known at the time”, says the primatologist proudly, referring to the golden, the black, and the golden-headed lion tamarins. The primatologist’s passion for lion tamarins is recorded in his books and published articles, in the challenges he faced during his professional career, in the campaigns that he led to protect their forests to save them from extinction in Rio de Janeiro, Bahia and São Paulo. The pictures of monkeys scattered around his home and the statuettes of the animal

are proof of the allure they have on the scientist and the influence they have on his work. He was born in Fortaleza, Ceará, on 4 June 1924, but it was in Rio de Janeiro that Coimbra-Filho built his life and career. His wish as a child was to become a farmer, but the destiny of this man from Ceará followed another path. Love of the land and scientific curiosity took him, in 1963, to the now-extinct course of Natural History of the Faculty of Philosophy, Sciences and Letters of the Guanabara State University, and later, he did a Master’s Degree in Zoology at the National Museum and Federal University of Rio de Janeiro.

Almirante Ibsen de Gusmão Câmara e Coimbra-Filho, pesquisadores obstinados pela preservação da natureza, e a capa do livro que escreveram juntos Admiral Ibsen de Gusmão Câmara and Coimbra-Filho, researchers dedicated to preserving nature, and the cover of the book that they wrote together

239


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Cláudio Pádua, José Cândido de Melo Carvalho, Alvino Costa

A ausência de um título de doutor e de PhD concedido por universidades estrangeiras não impediu que Coimbra-Filho fosse reconhecido e reverenciado internacionalmente como o pioneiro da Primatologia na América Latina, um dos maiores conservacionistas vivos e porta-voz para a conservação da biota selvagem brasileira por mais de meio século. Também não o impediu de exercer o magistério, tanto que foi, durante sete anos, professor do curso de Zoogeografia e do Mestrado de Zoologia da UFRJ, oferecido no Museu Nacional. Ainda hoje, vez ou outra, é convidado a dar palestras

240

sobre “Serpentes peçonhentas – Ofidismo” e “Origem, diversidade e potencial pragmático do Canis lupus f. familiaris” para mestrandos e doutorandos de Clínica Médica e Cardiologia da UFRJ. Cientista criterioso, o primatólogo acumula um acervo de títulos com cerca de 200 trabalhos publicados em forma de livros, capítulos de livros e artigos científicos, alguns deles na Nature, a mais antiga e respeitada revista científica do mundo. As áreas de interesse de CoimbraFilho sempre envolveram biologia de modo geral, especialmente ecologia de vertebrados e primatologia.

Mas ele também se destacou em outras, como ecologia florestal. Em parceria com o almirante Ibsen de Gusmão Câmara, por exemplo, escreveu o livro Os Limites Originais no Bioma Mata Atlântica na Região Nordeste do Brasil, que considera uma pequena “obra-prima”.41 A publicação foi considerada referência por especialistas. O organizador de Flora das Caatingas do Rio São Francisco – História Natural e Conservação, José Alves de Siqueira Filho escreveu que a obra fornece uma “análise magistral sobre o impacto do gado e as transformações geradas nas matas ciliares do Rio São Francisco.”42


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Russell A. Mittermeier, Célio Valle, Adelmar Coimbra-Filho, Thomas Lovejoy

The lack of the title of doctor or a PhD granted by a foreign university did not affect the recognition that Coimbra-Filho received. He was greatly admired internationally as the pioneer of primatology in Latin America, one of the greatest living conservationists, and spokesman for the conservation of Brazilian wildlife for over half a century. Neither did it keep him from teaching. For seven years, he was professor of the Zoogeography course and the Master’s program in Zoology at the National Museum of the Federal University of Rio de Janeiro (UFRJ). Even today, he is often invited to give

lectures on “Serpentes Peçonhentas – Ofidismo” and “Origem, diversidade e potencial pragmático do Canis lupus f. familiaris” for master’s and doctoral candidates of Clinical Medicine and Cardiology at UFRJ. An astute scientist, CoimbraFilho has written and published some 200 books, book chapters and scientific articles, some of these in Nature, the oldest and most respected scientific journal in the world. Coimbra-Filho’s areas of interest have always been biological and especially vertebrate ecology and primatology. He also excels in other areas, however, such as forest ecology.

Devra G. Kleiman, Coimbra-Filho

In collaboration with Admiral Ibsen de Gusmão Câmara, he wrote the book Os Limites Originais no Bioma Mata Atlântica na Região Nordeste do Brasil, that he rightly regards as a small “masterpiece”,41 a benchmark publication recounting the history of the destruction of the once exuberant forests of Northeast Brazil. The editor of the Flora das Caatingas do Rio São Francisco – História Natural e Conservação, José Alves de Siqueira Filho, wrote that the book provides a “skillful analysis on the impact of cattle and the transformation of the riparian forests of the Rio São Francisco.”42

241


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Em 1964, Coimbra-Filho e o amigo de juventude Alceo Magnanini fizeram estudos preliminares acerca da ameaça de extinção de numerosas espécies no Brasil, detalhando as causas de seu declínio e as medidas de conservação necessárias.43 Essas investigações resultaram na primeira lista brasileira das espécies ameaçadas de extinção, preparada por José Cândido de Melo Carvalho, da FBCN.44 Logo depois, em 1972, o conservacionista escreveu um artigo sobre os mamíferos ameaçados de extinção no Brasil. Em outra oportunidade, publicou pesquisa pioneira sobre saguis e micos-leões e, em 1973, organizou o primeiro levantamento dos primatas da Amazônia. Com Mittermeier, Coimbra-Filho também foi responsável por todas as fichas de dados sobre os mamíferos do Brasil entregues à IUCN para o Livro Vermelho das Espécies Ameaçadas em nível global, em 1974. Em 1978, com Célio Murilo de Carvalho Valle, da Universidade Federal de Minas Gerais, iniciou uma pesquisa de dez anos sobre os primatas e as unidades de conservação da Mata Atlântica, colocando a região no mapa da conservação internacional. Apontado como um dos grandes nomes do conservacionismo nacional, Coimbra-Filho acumula na biblioteca de seu apartamento na Gávea, Zona Sul do Rio, agradecimentos de primatólogos do mundo todo. Os livros estão por toda parte;

242

Russell A. Mittermeier, Célio Valle, Coimbra-Filho, Álvaro Aguirre, Ibsen G. Câmara

nas dedicatórias, a exaltação ao seu enorme conhecimento sobre os primatas e à coerência intelectual acumulada em seis décadas de dedicação à pesquisa científica. O vice-presidente executivo da Conservação Internacional, Russell A. Mittermeier, na dedicatória do livro Megadiversidade, chama de “líder e visionário” o veterano mestre, a quem agradece pelo acolhimento “sob sua asa” e pelo fato de ter sido “uma inspiração” nas duas primeiras décadas de trabalho no Brasil.45 A admiração pelo mestre transformou-se, inclusive, em artigo – Adelmar Coimbra-Filho: the life of the man and the future of his forest, Mata Atlântica –, apresentado no 14º Congresso da Sociedade Internacional de Primatologia, ocorrido em Estrasburgo, França, em agosto de 1992.


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Anthony B. Rylands, Alcides Pissinatti, Russell A. Mittermeier, Coimbra-Filho

In 1964, Coimbra-Filho and his boyhood friend Alceo Magnanini carried out a preliminary analysis of the extinction threat of numerous species in Brazil, indicating the causes of decline and the conservation measures necessary.43 This study resulted in Brazil’s first list of threatened species, prepared by José Cândido de Melo Carvalho of FBCN. 44 Soon thereafter, in 1972, he published an article on endangered mammals in Brazil. He published pioneer research on marmosets and lion tamarins, and in 1973, he organized the first survey of primates of the Amazon. Coimbra-Filho and Mittermeier were responsible for the data cards on the mammals

of Brazil submitted to the IUCN for the Red Book of Endangered Species in 1974. In 1978, together with Célio Valle from the Federal University of Minas Gerais, Coimbra-Filho began a tenyear program of studies on the Atlantic Forest primates, firmly placing the region on the global agenda of conservation priorities. Regarded as one of the great names in conservation in Brazil, Coimbra-Filho has accumulated numerous accolades in his library in his apartment in Gávea, Rio de Janeiro; expressions of gratitude and praise from primatologists all over the world. Dedications in the many books that line the shelves acknowledge his extensive knowledge on primates

and his intellectual coherence during six decades dedicated to scientific research. The executive vice-chair of Conservation International, Russell A. Mittermeier, in his dedication of the book Megadiversity, calls Coimbra-Filho a “leader and visionary”, and thanks the veteran professor for taking him “under his wing” and for being “an inspiration” during his first two decades of work in Brazil.45 His admiration for the master was expressed in an article entitled “Adelmar Coimbra-Filho: the life of the man and the future of his forest, Mata Atlântica”, presented at the 14th Congress of the International Primatological Society held in Strasbourg, France, in August 1992.

243


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Não há feito maior que um homem pode realizar durante a sua vida do que evitar a extinção de uma outra espécie do nossa planeta.2 James M. Dietz, Projeto Mico-LeãoDourado, National Zoological Park, Smithsonian Institution (Fevereiro, 1985)

“...Um homem realmente extraordinário, que sempre nos desafiou a fazer o melhor possível e a continuar duvidando, que nunca se desviou de seus princípios e inspirou tantas pessoas a perseguir carreiras na primatologia e na biologia da conservação”, escreveram Devra G. Kleiman, do Zoológico Nacional de Washington/Smithsonian Institution, e Anthony B. Rylands, pesquisador da Conservação Internacional.1 Já o antropólogo australiano Colin P. Groves, em seu livro Primate Taxonomy46, refere-se ao especialista brasileiro como “lenda viva da primatologia”, enquanto para a especialista norte-americana Karen B. Strier, da Universidade de Wisconsin (EUA), CoimbraFilho tornou-se um dos primatólogos mais influentes do planeta ao

244

I can think of no greater accomplishment that a man could make during his lifetime than to save from extinction a fellow inhabitant of our planet.2 James M. Dietz, Golden Lion Tamarin Project, National Zoological Park, Smithsonian Institution (February, 1985)

chamar a atenção do mundo para os primatas brasileiros. O professor de antropologia e arqueologia de Nova Iorque, Alfred L. Rosenberger, e o primatólogo John G. Fleagle, da Universidade de Stony Brook, também em Nova Iorque, dedicaram a Coimbra-Filho o nº 7, de novembro de 1989, do periódico Journal of Human Evolution. Para eles, o primatólogo “personifica o cientista-conservacionista. Dedicou metade de sua vida ao bem-estar e à compreensão dos macacos no Novo Mundo. Com enorme clarividência, direcionou a atenção dos conservacionistas e pesquisadores para o maior país-produtor de primatas do mundo, e, com Russ Mittermeier, começou o programa de conservação modelo que agora está se espalhando pelo mundo.”47


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

“Para meu bom amigo Adelmar F. Coimbra-Filho, grande líder, pioneiro e visionário no campo da conservação sul-americana. Muito obrigado por tudo que você tem feito por mim nos últimos 30 anos, especialmente por sua orientação, sendo a minha inspiração nos primeiros 20 anos de trabalho no Brasil.” ( Junho, 2000). “To my very good friend, Adelmar F. Coimbra-Filho, one of South America’s great conservation pioneers, leaders and visionaries. Many thanks for all that you have done for me over the past 30 years, and esp. for taking me under your wing and being an inspiration to me in my first two decades of work in Brazil.” ( June, 2000).

“... A very extraordinary man, who always challenged us to do the best possible and to keep on questioning, who never turned away from the principles he believed in and inspired many to pursue careers in primatology and conservation biology”, wrote Devra G. Kleiman, of the National Zoo in Washington/ Smithsonian Institution and Anthony B. Rylands, director of Conservation International.1 Australian anthropologist Colin Groves, in his book Primate Taxonomy, calls the Brazilian specialist a “living legend of primatology”,46 while for North American specialist Karen Strier, from the University of Wisconsin (USA), Coimbra-Filho became one of the most influential primatologists on the planet, calling worldwide attention to Brazilian primates. Professor of anthropology and archaeology from New York, Alfred L. Rosenberger, and primatologist John G. Fleagle, of Stony Brook University, New York, dedicated issue No. 7 (November 1989) of the Journal of Human Evolution to Coimbra-Filho. For these scientists, the primatologist “personifies the scientist-conservationist. He has devoted half his life to the well-being and understanding of New World monkeys. With tremendous foresight, he directed the attention of conservationists and researchers alike to the largest primate-bearing country in the world, and, with Russ Mittermeier, began the model conservation program that is now spreading over the globe.”47

245


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Coimbra-Filho também admite um amor extremo pelas árvores. Levar “iguarias” para suas “protegidas” é mania antiga. Aposentado há duas décadas, mantém o hábito de fertilizar algumas árvores que plantou no Centro. Todas as vezes em que vai ao CPRJ, leva “guloseimas” para um jacarandá-rosa (Machaerium incorruptibile). O manjar, mistura de quatro quilos de terra de minhoca, pó de café, fertilizantes químicos e casca de ovo, que disponibiliza cálcio mais rapidamente para as plantas, é usado também para adubar dois belos jequitibás-rosa (Cariniana legalis) plantados com a ajuda de um jardineiro fiel na Praça Santos Dumont, em pleno bairro da Gávea, na cidade do Rio de Janeiro. “Em vez de colocar

The conservationist also admits to a great love of trees. For many years he has enjoyed a mania of giving “titbits” to his “protegés”. Retired two decades ago, he still has the habit of fertilizing trees that he planted at the Center. Every time he goes to the RJPC, Coimbra-Filho takes “goodies” to a “jacarandá-rosa” (Machaerium incorruptibile). The treat is a mixture of 4 kg of earthworm soil, coffee grounds, egg shells, that provide calcium more quickly to plants, as well as chemical fertilizers. This mixture is used to fertilize two beautiful “jequitibás-rosa” planted with the help of a faithful gardener, in Praça Santos Dumont, Gávea, in the city of Rio de Janeiro. “Instead

246


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

um ornamento artificial, plantei dois jequitibás, que é uma das árvores mais nobres da Mata Atlântica.” Isto é perfeitamente compreensível num cientista que sempre teve o gosto pelo concreto. Fazer as coisas que considera corretas sem obedecer às convenções que julga desprovidas de inteligência é uma das marcas registradas de Coimbra-Filho, que ainda tem fama de expressar suas opiniões sem constrangimentos. A vida de Coimbra-Filho no funcionalismo público começou cedo, quando tinha 22 anos e acabara de receber o diploma de técnico-agrícola da Escola Superior de Agricultura de Minas Gerais, em Viçosa. O primeiro emprego foi como administrador do Parque

Florestal da Gávea, atual Parque da Cidade. Coimbra aproveita para praticar sua verve satírica: “Esse [Parque Florestal da Gávea] deveria ser o nome até hoje. Os parques deveriam ter sempre no nome a sua localização geográfica, afinal, parque da cidade são todos os parques de uma cidade.” Foi lá, durante dez anos, que fez suas primeiras experiências conservacionistas e, ao mesmo tempo, adquiriu técnicas na área florestal. O trabalho no parque também foi responsável por Coimbra-Filho abandonar um dos esportes que praticava na juventude. Ainda que pareça contraditório, um dos maiores conservacionistas brasileiros gostava de andar pelas matas para caçar com cães. O alvo dele eram as

pacas, de carne extremamente apreciada. Mas apenas um exemplar era abatido por vez. Segundo ele, verdadeiros caçadores não são matadores, mas naturalmente conservadores, “haja vista que os grandes caçadores de caça grossa (modalidade de caça a grandes animais) transformaram-se em grandes preservacionistas. O Parque Krueger, na África do Sul, por exemplo, foi criado com a recomendação de grandes caçadores europeus para a preservação das espécies nativas.” Quando começou a desenvolver trabalhos preservacionistas e a soltar animais no Parque da Cidade, abandonou o esporte e vendeu todas as armas, à exceção de uma, que lhe foi dada pelo pai. “É afetiva”.

of placing an artificial ornament, I planted two ‘jequitibás’, one of the noblest trees in the Atlantic Forest.” This is perfectly understandable in a scientist who has always had a taste for the practical and concrete. Doing what he considers to be correct, not bending to conventional wisdom or practices when he knows that they are inappropriate or unintelligent, is one of the registered trademarks of Coimbra-Filho, who is well known still for expressing his opinion without constraint. Coimbra-Filho’s life in public office began early on, when he was 22 years old and had just received his diploma as an agricultural technician from the Escola Superior de Agricultura de Minas Gerais, in

Viçosa. His first job was as administrator of the Parque Florestal da Gávea, today known as Parque da Cidade. Coimbra does not miss the opportunity to practice his satirical verve: “This [Parque Florestal da Gávea] should be the name even today. The names of parks must always include their geographic location, after all, ‘parque da cidade’ applies to all the parks of the city.” It was there, for ten years, that he gained firsthand experience as a conservationist and, at the same time, obtained his skills in forest ecology. Work in the park was also responsible for Coimbra-Filho’s decision to abandon one of the sports of his youth. Although it seems contradictory, one of Brazil’s greatest

conservationists liked to walk through the forests to hunt, especially with hunting dogs. His targets were spotted cavys, and he would take down only one animal, the meat of which is highly appreciated. According to him, true hunters are not killers, but are natural conservers, “since hunters of large animals became great preservationists. Kruger Park, in South Africa, for example, was created upon the recommendation of great European hunters to preserve native species.” When he began to do preservation work and to set animals free in the Parque da Cidade, he abandoned the sport and sold all of his weapons, except one that was given to him by his father.

247


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

O conservacionista em frente a árvores perfuradas por saguis no Parque de Ubajara (CE), e com um jequitibá-rosa (Cariniana legalis) que plantou numa praça do Rio de Janeiro The conservationist in front of two trees riddled with holes gouged by common marmosets in the Ubajara National Park, Ceará, and below the “jequitibá-rosa” (Cariniana legalis) that he planted in a square in Rio de Janeiro

Pavãozinho-do-pará, outra espécie que Coimbra-Filho ajudou a perpetuar The Sunbittern, another species that Coimbra-Filho helped to preserve

248

O Parque Florestal da Gávea lhe rendeu também a única punição recebida no serviço público. Quando era administrador, Coimbra-Filho recebeu a visita de duas amigas do então chefe da Casa Civil da prefeitura do Distrito Federal, que ainda era no Rio de Janeiro. Chegaram em carro oficial para levar plantas ornamentais. Com as plantas, queriam levar também um vaso esmaltado de cerâmica portuguesa com uma tríade de lagartos em alto-relevo. O jovem cearense autorizou apenas a retirada das plantas. “O vaso, não; era patrimônio público.” No dia seguinte, foi decretado seu afastamento sumário. Dali foi resgatado por Henrique L. de Mello Barreto, que o levou para trabalhar no Jardim

Zoológico. Lá, iniciou uma carreira bem-sucedida de zoólogo. Como o mesmo diz, “estudava árvores; para o macaco, foi um pulo”. Além das pesquisas com uma pequena colônia de micos-leões-dourados, os estudos de Coimbra-Filho sobre a reprodução de gaviões permitiram que, pela primeira vez no mundo, um condor-dos-andes (Vultur gryphus) procriasse no nível do mar.48 Outro trabalho do qual ele se orgulha é a construção do recinto com todas as condições ecológicas que permitiram a reprodução do pavãozinho-do-pará (Eurypyga helias).49 Até hoje o conservacionista não perdoa o fato de as iniciativas pioneiras terem sido sepultadas por seu sucessor.


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

A marreca-ananaí e sua reprodução em cativeiro The Brazilian teal: reproduction in captivity Foi em 1962, quando era administrador da Reserva Biológica de Jacarepaguá, que Coimbra-Filho e sua equipe iniciaram pesquisas sobre espécies vulneráveis para colaborar na recomposição da fauna regional. Uma das formas estudadas foi a marreca-ananaí (Amazonetta brasiliensis), de carne muito apreciada e que, por isso, estava sempre na mira

de caçadores ilegais. Paralelamente à caça, a intensa urbanização do então Estado da Guanabara e a consequente redução das áreas apropriadas ao desenvolvimento da espécie levaram os ambientalistas a providenciarem algum tipo de proteção às marrecas-ananaís. Para isto, foi criado um viveiro experimental com as mínimas

condições ecológicas necessárias à reprodução da marreca-ananaí em cativeiro. A iniciativa deu certo e as marrecas nascidas em ambiente controlado foram soltas entre marrecas de idades semelhantes concebidas na natureza. Os grupos se mesclaram e, durante o “levante”, todas seguiram o mesmo rumo, comprovando a efetividade do projeto.50

It was in 1962, when he was administrator of the Jacarepaguá Biological Reserve, that CoimbraFilho and his team began to do research on vulnerable species as a contribution to restore the region’s original fauna. One of the birds he studied was the Brazilian teal (Amazonetta brasiliensis), hunted

because of its tasty flesh. Intense urbanization of its native habitat in what was then the state of Guanabara had led to the need for environmentalists to set up measures for its protection. An experimental cage was created with the minimum of ecological features necessary to breed the

Brazilian teal in captivity. The birds born under controlled conditions in captivity were released among birds of similar age that had grown up in the wild. The captive-bred and wild ducks mixed perfectly well, and when they took flight, they all flew together, thus demonstrating the project’s total success.50

The Parque Florestal da Gávea was also where Coimbra-Filho received his only punishment in public service. As administrator, he was visited by two friends of the head of the Casa Civil da prefeitura do Distrito Federal, that was still located in Rio de Janeiro. They arrived in an official car to get some ornamental plants. Together with the plants, they wanted to take a ceramic Portuguese vase with a triad of lizards in high-relief. The young Cearense only authorized

the removal of the plants. “Not the vase, that was public property.” The following day, he was summarily dismissed from the service. From there he was rescued by Henrique L. de Mello Barreto and went to work at the Zoological Garden. It was there that Coimbra-Filho began a successful career as a zoologist. As he himself remarks, “I studied trees, to monkeys was just a leap”. Besides working with the small colony of golden lion tamarins, his

studies on the reproduction of hawks led to the zoos Andean Condor (Vultur gryphus) being the first ever to breed at sea level.48 Another study which he is very proud of is the construction of an enclosure with the appropriate ecological conditions for reproduction of the Sunbittern (Eurypyga helias).49 Until today the conservationist is unable to forgive the fact that his pioneering initiatives were abandoned by his successor at the zoo.

249


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Reintrodução de tucanos no Parque Nacional da Tijuca Reintroduction of toucans in Tijuca National Park

A

reinserção na natureza de uma espécie, quer de origem vegetal, quer de origem animal, pela complexidade dos fatores que envolve, é sempre um desafio. Mas, quando fundamentada em estudos criteriosos e conduzida com determinação, pode, em menos de cinco décadas, reverter 200 anos de práticas predatórias contra representantes da fauna de uma região. Assim foi com os tucanos-de-bico-preto (Ramphastos vitellinus ariel), exterminados de diversas localidades do Estado do Rio de Janeiro e que chegaram a ser considerados um elemento desaparecido da avifauna carioca. No início da década de 1970, Coimbra-Filho e o diretor do Museu da Fauna (IBDF), Antonio D. Aldrighi, embasados no reflorestamento feito pelo Major Archer (1862-1874) e em trabalhos sobre a presença anterior de espécimes da fauna, não só organizaram uma lista com os representantes nativos como promoveram a reintrodução de espécies de mamíferos, aves e répteis no Parque Nacional da Tijuca. À época, os tucanos eram considerados extintos na Floresta da Tijuca, devido, principalmente, à destruição das matas, ao sistemático abate a tiros para subsistência

250

da população local e ao uso de sua bela plumagem para confecção de artesanato. A murça do manto imperial que D. Pedro I usava nas ocasiões de gala, por exemplo, era revestida por penas amarelas do papo dos tucanos. No total, o projeto libertou 47 tucanos-de-bico-preto (Ramphastos vitellinus ariel, Vigors, 1826), espécie nativa do Sudeste brasileiro, e 200 saíras (Tangara spp.), na Estrada da Vista Chinesa e na Estrada Dona Castorina. Três anos depois, um único exemplar foi libertado no Vale do Rio dos Macacos. Como narra Coimbra-Filho, após serem soltos, “os tucanos voavam imediatamente para árvores mais altas, ali permanecendo algum tempo, quando emitiam suas inconfundíveis vocalizações. Aos poucos, afastavam-se pelas ramagens dos arvoredos da floresta e desapareciam de nossa vista”. Os tucanos haviam sido apreendidos pelo IBDF (atual Ibama) do comércio ilegal de animais selvagens no final dos anos 1960 e, por isso, tinham procedência duvidosa. Por comparação, pareciam vir do norte do Espírito Santo ou sudeste da Bahia, onde, à época, ocorriam grandes desmatamentos. Dentre os exemplares apreendidos, 47 foram selecionados e preparados para a reintrodução na floresta.

“Não foram soltos a esmo, mas com a finalidade precípua de disseminar as sementes de palmito-juçara, um dos alimentos prediletos de tucanos e de outras espécies de animais”, explica Coimbra-Filho. Outrora abundante, o Euterpe edulis é raro, tanto é que foi registrado pelo Ibama como espécie ameaçada de extinção no Livro Vermelho da Flora do Brasil. Graças ao pioneiro projeto de restauração da fauna do Parque Nacional da Tijuca, “os tucanos estão estabelecidos no Maciço da Tijuca e estenderam seu território pelos contrafortes da Serra da Carioca, chegando aos bairros de Copacabana (no Morro de São João, em 2004), do Leme e da Urca (no Morro da Babilônia, em 2005), e da Lagoa (no Parque do Cantagalo e no Morro dos Cabritos, em 2006)”, o que foi possível devido ao corredor ecológico criado pelo projeto de reflorestamento dos morros da Zona Sul, um projeto que a prefeitura do Rio começou a desenvolver em 1986, com o apoio das associações de moradores e do Exército brasileiro.51, 52, 53, 54 Hoje eles são ouvidos e vistos em toda a Floresta da Tijuca e, principalmente, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Ali, a beleza desse tucano e seus ninhos são acompanhados e fotografados por observadores de aves.


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

vieram 4 fotos, todas muito parecidas. Se tiver outras, podemos inserir

251


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

T

he reintroduction of a species, plant or animal, back into the wild is always a challenge because of the complex factors involved. When it is based on careful studies and carried out with determination, however, in less than five decades, it can reverse 200 years of human degradation of natural environments that result in the loss of many of their naturally occurring species. This is how it was with the channel-billed toucan (Ramphastos vitellinus ariel) that had been widely exterminated in the state of Rio de Janeiro, to the extent that it was even believed to have been lost from the Carioca avifauna. In the early 1970s, CoimbraFilho and Antonio D. Aldrighi, director of the Museu da Fauna (IBDF), organized a list of native species, and based on the reforestation carried out by Major Manuel Gomes Archer (1862-1874) and on articles concerning its former wildlife, promoted the reintroduction of species of mammals, birds and reptiles in Tijuca National Park. At the time, toucans were thought to be extinct in the Tijuca Forest, mainly due to the destruction of the forests elsewhere and the systematic slaughter of toucans for food and the use of the gorgeous plumage for handicrafts. The bright yellow feathers of the crops of the channel-billed toucan adorned the collar of the Imperial Mantle used by D. Pedro I on formal occasions. Overall, the project resulted in the introduction of 47 channel-billed toucans (Ramphastos

252

O conservacionista soltando pássaros na Floresta da Tijuca The conservationist freeing birds in Tijuca Forest

vitellinus ariel Vigors, 1826), a species native to southeastern Brazil, and 200 tanagers (Tangara spp.) at the Estrada da Vista Chinesa and Estrada Dona Castorina. Three years later, another, single toucan was released in the Vale do Rio dos Macacos. According to CoimbraFilho, after being freed, “the toucans flew immediately to the taller trees, staying there for some time, calling with their characteristic vocalizations. Little by little, they moved away through the forest and disappeared from view”. The toucans had been apprehended by IBDF (currently Ibama) from the illegal trade of wild animals at the end of the 1960s, and were therefore, of unknown origin. Based on comparison, they may have come from northern Espírito Santo or southeastern Bahia, where, at the time, there was much deforestation. A total of 47 toucans were selected and then prepared for reintroduction into the forest. “They were not freed at random, but were intended to spread the

seeds of the jussara palm, a favorite food of toucans and other animals”, explains Coimbra-Filho. The once abundant palm, Euterpe edulis, is rare and was listed by Ibama as an endangered species in the Livro Vermelho da Flora do Brasil. Seen as a pioneer project for the restoration of the fauna of Tijuca National Park, “toucans today live in the Tijuca mountains and have extended their occupation to the Serra da Carioca, as far as Copacabana (Morro de São João, in 2004), Leme and Urca (Morro da Babilônia, 2005), and Lagoa (Parque do Cantagalo and Morro dos Cabritos, in 2006)”, a feat made possible thanks to the ecological corridor created by reforestation of the hills in the city’s southern zone, carried out as of 1986 by the city council with the support of neighborhood associations and the Brazilian Army. 51, 52, 53, 54 Today they are seen and heard all over Tijuca Forest, and especially in the Rio de Janeiro Botanical Garden. Birdwatchers come from afar to see and photograph the toucans and their nests there.


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Reintroduzido na Floresta da Tijuca nos anos 1970 e hoje avistado em várias regiões do Rio de Janeiro, o tucano-de-bico-preto tem importante papel na preservação do palmito-juçara, uma vez que se alimenta das suas sementes e ajuda a dispersá-las na natureza Reintroduced in Tijuca forest in the 1970s, today the channel-billed toucan can be seen in various locations in Rio de Janeiro. It plays an important role in the preservation of the jussara palm; feeding on its fruits and dispersing its seeds

253


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Coimbra-Filho seguiu à risca o que dizia o padre Cícero Romão Batista, padroeiro do Ceará: “Para evitar a seca, tem que plantar árvore”. E foi assim que plantou espécies florestais nobres na Mata Atlântica e reintroduziu animais na Floresta da Tijuca e em outros locais, como os jacarés-de-papo-amarelo – cedidos pelo então diretor do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro, Henrique L. de Mello Barreto – que hoje habitam as lagoas de Jacarepaguá. Muitos desses casos viraram artigos e referência no mundo científico. O inventário pessoal do ambientalista soma a impressionante marca de 58 mamíferos, 913 aves e cinco répteis reintroduzidos na natureza.53 Também conservacionista e parceiro de livros, o almirante Ibsen de Gusmão Câmara concordou parcialmente com a visão que o colega formou sobre si próprio, de “uma pessoa desperdiçada”. “Ele não chegou a ser desperdiçado, mas foi mal aproveitado”. E explica o motivo: “O desinteresse geral pela natureza e patrimônio biótico do país deve ser resquício da nossa formação cultural. Ele se ressente, com razão, do fato de ser reconhecido apenas entre seus pares”. Tal reconhecimento se deu, invariavelmente, na forma de honrarias e

254

prêmios. Em novembro de 1998, sob a recomendação da Academia Brasileira de Ciências (ABC), recebeu da Presidência da República o título de Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico. Em 1999, foi a vez do Certificado de Apreciação, concedido pela cidade de Los Angeles. O prémio Ford de Conservação Ambiental, entregue pela Conservação Internacional do Brasil em parceria com a Ford Brasil, veio em 1997. Em 1994, o Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica homenageou-o com o Prêmio Muriqui, pelo trabalho em prol da consolidação da reserva e da proteção da Mata Atlântica. Em 2003, o cientista passou a fazer parte da lista de pesquisadores brasileiros agraciados com a medalha Augusto Ruschi, concedida pela ABC. A homenagem, mais uma entre várias outras, foi motivada pelo trabalho a favor dos primatas brasileiros e pela redescoberta do mico-leão-preto, tido como extinto e reencontrado em Teodoro Sampaio (São Paulo). Em 2005, recebeu o Prêmio Golfinho de Ouro 2004, na área de Meio Ambiente, concedido pelo Conselho Estadual de Cultura. Em janeiro de 1975, recebeu do Estado da Guanabara a Medalha Estado da Guanabara, pelos serviços prestados à cidade-estado da Guanabara.

Coimbra-Filho followed to the letter the words of Padre Cícero Romão Batista, patron saint of Ceará: “To prevent drought, one must plant trees”. As so he planted trees and also reintroduced species such as the broad-snouted caiman (Caiman latirostris), also vital elements of the Atlantic forest ecosystems. Provided by Henrique L. de Mello Barreto, then director of the Rio de Janeiro Zoo, today they can be found in the lagoons of Jacarepaguá. Many of these initiatives were written up and published in scientific journals. His personal inventory of reintroductions relates a remarkable 58 mammals, 913 birds, and five reptiles.53 Conservationist and writing companion, Admiral Ibsen Câmara agrees partially with the view that his colleague had of himself, that of “a wasted person”. “He was not really wasted, he was just not used to the fullest”. And he explains the reason: “The overall lack of interest in nature and the biotic heritage of Brazil must be a throwback to our cultural upbringing. He regrets, with reason, the fact that he is only esteemed by his colleagues”. Recognition arrived invariably in the form of honors and awards. In November 1998, based on a recommendation by the Brazilian


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Entre as várias homenagens que Coimbra-Filho recebeu em vida, destacam-se a medalha Augusto Ruschi (no alto), entregue em 2003 pela Academia Brasileira de Ciências, e o título de Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico, concedido em 1998 pela Presidência da República Among the many tributes that Coimbra-Filho has received in his lifetime, the most important are the Augusto Ruschi Medal (top), presented in 2003 by the Brazilian Academy of Science, and the title of Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico, given in 1998 by the President of Brazil

Academy of Sciences, then president of the Republic, Fernando Henrique Cardoso, awarded Coimbra-Filho the title of Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico. In 1999 he received the Certificate of Appreciation, granted by the city of Los Angeles. The Ford award for Environmental Conservation, given by Conservation International of Brazil together with Ford Brazil, was presented to him

in 1997. In 1994, the Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlantica bestowed on him the Prêmio Muriqui, for his work towards the consolidation of the reserve and protection of the Atlantic Forest. In 2003, Coimbra-Filho joined the list of Brazilian researchers to receive the Augusto Ruschi medal, granted by the Brazilian Academy of Sciences. This honor, one of many, was motivated by his work

on Brazilian primates and for the rediscovery of the black lion tamarin, thought to be extinct and rediscovered in Teodoro Sampaio, São Paulo. In 2005, he received the Prêmio Golfinho de Ouro 2004, in the area of Environment, granted by the Conselho Estadual de Cultura. In January 1975, he received the Medalha Estado da Guanabara from the state of the same name for services provided to the city-state of Guanabara.

255


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Ao longo da carreira, Coimbra-Filho também foi homenageado com seu nome ou sobrenome no batismo de espécies novas encontradas na natureza. Em meados de 2013, por exemplo, os cientistas americanos Lauren Halenar e Alfred Rosenberger batizaram um fóssil de macaco de Cartelles coimbrafilhoi*, “para honrar Dr. Castor Cartelle por suas importantes contribuições à paleontologia do Pleistoceno do Brasil... [e] em homenagem ao Dr. Adelmar Faria Coimbra-Filho, por sua indispensável liderança na criação do movimento conservacionista no Brasil”.55 Outra dupla, Alfredo Langguth e Shuji Kobayashi, deu o nome de Callicebus coimbrai a um guigó endêmico da Mata Atlântica descoberto em 1999 e que vive em pequenos fragmentos de florestas em Sergipe e no litoral norte da Bahia. Também o setor de platirrinos do Parque Natural Primatológico Berg & Bos, Apenheul, em Apeldoorn (Holanda), recebeu o nome do brasileiro. *O fóssil foi descoberto na Toca de Boa Vista (Bahia), em 1993, por espeleólogos do Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas.Na época, o paleontólogo Castor Cartelle identificou a espécie como Protopithecus brasiliensis, um parente maior e já extinto do muriqui, descrito primeiro por Peter Wilhelm Lund, em 1838, com base em uma ossada achada numa caverna em Minas Gerais. Dez anos depois, porém, os cientistas Lauren Halenar e Alfred Rosenberger estudaram novamente a ossada e concluíram que, de fato, ela pertencia a um parente dos barbados (Alouatta), maior e de um gênero e espécie até então desconhecidos, que então recebeu o nome dos cientistas.

256

O percevejo Taedia coimbrai, descoberto em 1975, no Mato Grosso The mirid plant bug, Taedia coimbrai Carvalho, 1975, discovered in the Mato Grosso


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Coimbra-Filho was honored a number of times through the use of his name in the baptism of newly described Brazilian species. In 2013, American scientists Lauren Halenar and Alfred Rosenberger named a primate fossil Cartelles coimbrafilhoi*: “to honor Dr. Castor Cartelle for his important contribution to Pleistocene paleontology of Brazil... [and] to honor Dr. Adelmar Faria Coimbra-Filho, for his indispensable leadership in creating the conservation movement in Brazil”.55 Alfredo Langguth of the Federal University of Paraíba, and Shuji Kobayashi, a Japanese primatologist, gave the name Callicebus coimbrai to a titi monkey described in 1999 from remnants of Atlantic Forest in Sergipe and the northern coast of Bahia. The primate sector of the Parque Natural Primatológico Berg & Bos, in Apenheul, Apeldoorn, Holland, also was named after the Brazilian.

* The fossil was discovered in Toca de Boa Vista, Bahia, in 1993, by speleologists of the Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas. At the time, paleontologist Castor Cartelle identified the species as Protopithecus brasiliensis, a larger relative, already extinct, of the “muriqui”, described firsthand by Peter Wilhelm Lund, in 1838, based on a skeleton found in a cave in Minas Gerais. Ten years later, however, scientists Lauren Halenar and Alfred Rosenberger made a new study of the skeleton and concluded that it was, in fact, a relative of the howler monkey (Alouatta). It was larger and from a genus and species unknown at the time and was named after the scientists.

No alto, o desenho que mostra o guigó batizado com o sobrenome de Coimbra-Filho. Abaixo, o animal na natureza. Ilustração de Stephen D. Nash / Conservação Internacional / IUCN SSC Primate Specialist Group Above, the drawing is of the Coimbra-Filho’s titi monkey. Below, this animal in the wild. Illustration by Stephen D. Nash©Conservation International / IUCN SSC Primate Specialist Group

257


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

258


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Além dos primatas, espécies da fauna e flora ganharam o nome do pesquisador, termômetro da extensão de seu trabalho como conservacionista. Um exemplo é o percevejo Taedia coimbrai, descoberto pelo grande entomólogo e conservacionista José Cândido de Melo Carvalho, no Rio Aripuanã, Mato Grosso, em meados dos anos 1970. Há ainda um cacto, conhecido como Monvillea adelmari, uma homenagem prestada pelos professores Carlos Toledo Rizzini e Armando de Mattos Filho, e uma bromélia, batizada de Neoregelia coimbrae pelos

pesquisadores Edmundo Pereira e Elton M. C. Leme. Em casa, o pai da primatologia brasileira, que costuma ler na companhia de Charles Darwin – retratado numa fotografia de Julia Margaret Cameron pendurada na parede do escritório –, é hoje um homem pacato. O coração safenado não permite mais que se embrenhe no mato como fez a vida toda, mas o vigor retórico se mantém intacto. “Estão destruindo a Amazônia sem saber o que estão fazendo. Ali existem milhões de espécies que ainda não foram catalogadas e nem nome científico têm. Além

disso, estão destruindo as florestas. Sem floresta não há água. ” “Fui pesquisador e fazedor”, define-se o primatólogo. A placa que lhe foi concedida pelo então presidente da Sociedade Brasileira de Primatologia, Anthony B. Rylands, em 24 de julho de 1988, resume o que nós, companheiros da causa ambiental, gostaríamos de expressar:

Plants and animals besides primates were named after CoimbraFilho, a measure of the influence of his work as a conservationist. An example is the mirid plant bug Taedia coimbrai, discovered by the great conservationist and entomologist José Cândido de Melo Carvalho in the Rio Aripuanã basin, Mato Grosso, in the mid-1970s. There is also a cactus, Monvillea adelmari, an honor given by professors Carlos Toledo Rizzini and Armando de Mattos Filho, and a bromeliad baptized Neoregelia coimbrae by researchers Edmundo Pereira and Elton M. C. Leme.

At home, the father of Brazilian primatology, who likes to read in the company of Charles Darwin (a portrait by Julia Margaret Cameron hangs on the wall of his office), is today a serene man. Bypass surgery does not allow him to explore the forest as he did all his life, but his rhetorical vigor is still intact. “They are destroying the Amazon and do not know what they are doing. There are millions of species there that have not yet been catalogued and still do not have scientific names. Furthermore, they are destroying the forests. No forests, no water.”

“I was a researcher and a doer”, says the primatologist. The plaque that was given to him by the president of the Brazilian Society of Primatology, Anthony B. Rylands, on July 24, 1988, summarizes what we, friends of the environment, would like to say:

Os conservacionistas de todo o mundo, juntamente com os micos-leões, terão sempre um profundo débito de gratidão por sua dedicação em prol da fauna brasileira.

Conservationists all over the world, and the lion tamarins, will always have a profound debt of gratitude for his dedication in favor of the Brazilian fauna.

259


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

260


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Alcides Pissinatti

O sucessor The successor

O

cupante da cadeira de número nove da Academia Brasileira de Medicina Veterinária (Abramvet), Alcides Pissinatti é apontado como sucessor de Adelmar Coimbra-Filho. Desde que o “pai” do Centro de Primatologia aposentou-se, em 1993, Pissinatti dirige o órgão. Duas décadas à frente da instituição, ele diz comandar seguindo à risca as instruções do antecessor. Apesar de compartilhar das ideias do fundador do CPRJ, defensor da tese de que o conservacionismo pressupõe conhecer bem o animal e seu ambiente, Pissinatti não segue o mesmo estilo. Ao contrário de CoimbraFilho, famoso pelo temperamento forte, ele imprime seu modelo de gestão: mais conciliador, sem abrir mão das convicções.

O

ccupant of chair number nine at the Brazilian Academy of Veterinary Medicine (Abramvet), Alcides Pissinatti is the successor to Adelmar Coimbra-Filho. Since the “father” of the Primatology Center retired, in 1993, Pissinatti has taken over direction of the RJPC. Two decades working at the head of the institution, Pissinatti says he leads by strictly following the instructions of his predecessor. Although he shares the ideas of the RJPC founder, defending the idea that proponents of conservation must know the animal and its environment well, Pissinatti does not have the same style. In contrast to Coimbra-Filho, famous for his strong temperament, he has his own way of doing things: conciliatory, but firm in his convictions.

261


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Apaixonado por pesquisas, Pissinatti tem uma rotina de trabalho que vai da produção de trabalhos científicos às tarefas cotidianas do Centro. Ele cuida ainda de questões estratégicas, como a produção de protocolos sobre manejo de primatas, feita em colaboração com o Ibama e o ICMBio. As funções burocráticas incluem catalogação de documentos, assinatura de petições, recepção a visitantes, curadoria do Museu, além da ampliação e dos cuidados com o acervo de espécies raras da

flora atlântica que compõem o arboreto do Centro e do parque. Tanto as funções burocráticas quanto as estratégicas podem ser interrompidas a qualquer momento, porque a prioridade são os animais. Ao longo de um dia normal de trabalho, podem ocorrer várias brigas nos viveiros. Não é incomum haver atritos entre membros do mesmo grupo, sobretudo em períodos reprodutivos, o que pode culminar com a expulsão do indivíduo mais frágil por seu rival e até mesmo com a morte.

Quando os animais entram em desarmonia, o bicho ameaçado de agressão é rapidamente transferido do viveiro para um recinto individual. Depois de expulso, nunca mais poderá voltar para o antigo grupo. Macho ou fêmea, resta ao animal a opção de acasalar e constituir uma nova família. De acordo com a orientação do studbook keeper (coordenador do studbook), e ainda considerando os planos de ação da espécie, esses indivíduos isolados são destinados a centros de pesquisas e conservação ou jardins zoológicos.

A passionate researcher, Pissinatti has a work routine that varies from producing scientific papers to the daily chores of the Center. He also takes care of strategic issues, such as the production of protocols on primate management in conjunction with Ibama and ICMBio. The bureaucracy includes cataloguing documents, signing petitions, receiving visitors, curation of the museum as well as expanding and taking care of the collection of rare species from the Atlantic Forest that make up the arboretum.

Bureaucracy as well as strategy can be interrupted at any time because priority number one is the animals. During a normal work day, there may be a number of quarrels in the cages. It is not uncommon for misunderstandings to arise, especially during reproductive periods, between members of the same group that may end up having a rival expel the weaker individual from the group, or even in death. When this situation occurs, the animal threatened is quickly transferred from the vivarium and

isolated. After being expelled, it can never return to its former group. Whether male or female, the animal has only one option: to mate and build a new family. The other alternative is to donate the rejected individual to a center for conservation research or a zoo, on the advice of the studbook keeper. Based on the management plan for each species, these isolated animals will end up at a research and conservation center or at a zoo. Professor of the Centro Universitário Serra dos Órgãos (Unifeso),

262


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

263


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Professor dos Centros Universitários Serra dos Órgãos (Unifeso), em Teresópolis, e Plínio Leite, em Niterói, membro de comitês do Ibama e do ICMBio e profundo conhecedor das políticas de conservação e manejo, Pissinatti acumula vasta experiência na área de medicina veterinária, sobretudo em fisiopatologia da reprodução animal. Na avaliação de Coimbra-Filho, é um “grande veterinário” que virou primatólogo na prática. Também um apaixonado pela flora brasileira – está sempre plantando mudas de espécies nativas no CPRJ –, aos 73 anos, o doutor

em Biologia Animal participa, ainda, de bancas de mestrado e doutorado e de reuniões na Academia Brasileira de Medicina Veterinária, da qual é vice-presidente e um dos imortais. As primeiras lições de Pissinatti sobre ecologia e conservacionismo foram aprendidas com o pai e o avô paterno. Nascido em Mogi Mirim, em 7 de setembro de 1942, e criado em Porto Ferreira, municípios do interior de São Paulo, o sucessor de Coimbra-Filho iniciou a vida profissional no Rio de Janeiro, após formar-se em Veterinária pela Universidade Federal Fluminense

(UFF), em 1970, e em Saúde Pública pela UFRJ, um ano depois. Com sete trabalhos completos divulgados em anais de congressos, nove capítulos em livros e mais de 120 artigos científicos, alguns em parceira com Coimbra-Filho, há anos o pesquisador vem estudando os riscos de hibridação entre o mico-leão-da-cara-dourada e o mico-leão-dourado. As espécies são vizinhas em Niterói. Separadas por uma distância de apenas cinquenta quilômetros, ambas estão classificadas na categoria “em perigo” na lista de espécies ameaçadas de extinção do MMA. 11

in Teresópolis, and Plínio Leite, in Niterói, member of Ibama and ICMBio committees, with profound knowledge of the politics of conservation and management, Pissinatti has vast experience in the area of veterinary medicine, especially the physiopathology of animal reproduction. Coimbra-Filho sees him as a “great veterinarian” who is now a primatologist. He is also deeply involved with the Brazilian flora – he is always planting seedlings of native species at the RJPC. At 73, doctor of Animal Biology, he also participates in the

evaluation of masters’ and doctoral theses and in meetings of the Academia Brasileira de Medicina Veterinária, of which he is an immortal and vice-president. Pissinatti’s first lessons in ecology and conservation were learned from his father and his paternal grandfather. Born in Mogi Mirim on September 7, 1942, and raised in Porto Ferreira, in the interior of São Paulo, Coimbra-Filho’s successor began his professional career in Rio de Janeiro, after graduating in Veterinary Science from the Fluminense Federal

University (UFF) in 1970, and in Public Health from UFRJ one year later. Author of over 120 scientific articles, some with Coimbra-Filho, the researcher has for years been studying the risks of hybridization between the golden-headed lion tamarin and the golden lion tamarin. These species are neighbors in Niterói. They are separated by a distance of only 50 kilometers, and both are listed as endangered on the list of threatened species published by the MMA in December 2014.11

264


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

O idealizador e fundador do CPRJ, Adelmar Coimbra-Filho (dir.), e seu sucessor, Alcides Pissinatti, num raro momento de descontração Creator and founder of the RJPC, Adelmar Coimbra-Filho (at right), and his sucessor, Alcides Pissinatti, in a rare moment of relaxation

265


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Não à toa, assim como em projetos similares, todos bem-sucedidos, Pissinatti está diretamente envolvido com a remoção do mico-leão-da-cara-dourada do Rio de Janeiro para o sul da Bahia, de onde, de acordo com o especialista, aquele nunca deveria ter saído. A história do médico-veterinário com Coimbra-Filho começou após a fusão do Estado da Guanabara com o Estado do Rio de Janeiro e a criação da Feema, que, entre outros órgãos, incorporou o Serviço de Controle da Poluição da Companhia de Saneamento do Estado do Rio de Janeiro (Sanerj), onde Pissinatti trabalhava. Foi Pissinatti quem, após infrutíferas tentativas de encontrar um local adequado em outras regiões do Estado, sugeriu a instalação do Centro de Primatologia em Guapimirim, em uma área da Cedae conhecida como Orindi-Açu*. Nos idos anos de 1970, antes de ser parcialmente asfaltada, a estrada de terra batida que separava o CPRJ da BR-122, antiga rodovia Rio-Friburgo, podia ser percorrida somente a pé em dias de chuva, quando, nas palavras de Pissinatti, andava-se “nove quilômetros com lama até os joelhos”.

*Orindi-Açu: corruptela do guarani Urundyaçu, que significa “Grande Urundy” (urundy é o nome em guarani da aroeira, também chamada de urundeúva).

266


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

It is not by chance that Pissinatti is directly involved in the removal of the golden-headed lion tamarins from Rio de Janeiro and transferring them to southern Bahia where, according to the specialist, they never should have left. Pissinatti’s association as a medical veterinarian with CoimbraFilho began after the fusion of the states of Guanabara and Rio de Janeiro. When the Fundação Estadual de Engenharia do Meio

Ambiente (Feema) was created, the Serviço de Controle da Poluição of the Companhia de Saneamento do Estado do Rio de Janeiro (Sanerj), where Pissinatti worked, was transferred to Feema. It was Pissinatti’s idea to install the Primatology Center in Guapimirim, after unsuccessful attempts to find an adequate site in other areas of the state. This was an area of Cedae known as Orindi-Açu*. Around 1970, before

it was partially paved with asphalt, the dirt road that linked the RJPC to the BR-122 highway (formerly Rio-Friburgo) could only be covered on foot when it rained. In Pissinatti’s words, “nine kilometers with mud up to the knees.”

*Orindi-Açu: variation of Guarani Urundyaçu, meaning “Grande Urundy” (“urundy”, or “urundeúva”, is the name of a tree in Guarani; in Portuguese it is called “aroeira”).

Luiz Cláudio Marigo (fotógrafo/photographer), Andre Vento (Cia. Souza Cruz/Souza Cruz Co.), Helmut Sick (ornitólogo/ornithologist), Roberto da Rocha e Silva (veterinário do CPRJ/RJPC veterinarian), Alcides Pissinatti (atual chefe do CPRJ /RJPC’s current director), Pedro Nardelli (coletor/collector)

267


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Pesquisador incansável e colaborador de inúmeros programas de conservação de primatas neotropicais ameaçados, Pissinatti também tem seu nome imortalizado na nomeclantura científica de novas espécies. Em agosto de 2014, em Hanói, Vietnã, foi anunciado durante o 25º Congresso da Sociedade Primatológica Internacional uma grande revisão taxonômica do gênero Pithecia, de ocorrência sul-americana.56 O que se julgava serem apenas cinco espécies agora sabe-se serem 16, cinco das quais são resultantes de novas descobertas. O estudo foi conduzido pela pesquisadora Laura Marsh,

diretora do Global Conservation Institute, que por mais de uma década examinou espécimes em 36 museus de 17 países. Em homenagem ao primatólogo, Laura K. Marsh nomeou uma das novas espécies de Pithecia pissinattii. Longilíneo, apreciador da dieta mediterrânea e descendente de italianos da região de Modena, Pissinatti vem de uma família longeva, que costuma ultrapassar os 90 anos de vida. Adepto de caminhadas diárias e de um modo de vida sustentável, passa o dia percorrendo os 273 hectares do Centro de Primatologia, quando não está pesquisando no laboratório.

Entre as várias honrarias concedidas a Pissinatti desde 1997, quando recebeu da Câmara Municipal de Guapimirim o título de Cidadão Guapiense, destacam-se o Certificate of Appreciation da cidade de Los Angeles, o Diploma de Mérito do Rotary Clube de Niterói, o Certificado de Honra ao Mérito Veterinário do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio de Janeiro, além dos títulos de membro da Abramvet, de membro fundador da Academia de Medicina Veterinária do Estado do Rio de Janeiro (AMVERJ) e de associado benemérito da Associação Paranaense de Medicina de Animais Selvagens.

A tireless researcher and the co-author of many conservation programs for endangered Neotropical primates, Pissinatti also has his name immortalized in the scientific nomenclature of a new species. An extensive taxonomic revision of the South American genus Pithecia (saki monkey) was presented at the 25th Congress of the International Primatological Society, Hanoi (Vietnam) in August 2014.56 The study was conducted by Laura Marsh, director of the Global Conservation Institute. Over a decade she studied specimens in 36 museums of 17 countries. Previously thought to comprise just five species

the genus was found to have at least 16. Five of the species were described for the first time, and one of them was dedicated to Alcides Pissinatti: Pissinatti’s bald-faced saki Pithecia pissinattii Marsh, 2014. Tall and thin, fan of the Mediterranean diet, and Italian descendent from the Modena region, Pissinatti comes from a family of long-lived relatives that often surpass 90 years of age. He walks daily and leads a healthy life, covering the 273 hectares of the Primatology Center, when he is not in the laboratory doing research. Of the many honors that Pissinatti has received since 1997,

when the Câmara Municipal de Guapimirim bestowed on him the title of “Cidadão Guapiense”, the most important were the Certificate of Appreciation from the city of Los Angeles, the “Diploma de Mérito” from the Rotary Club of Niterói, the certificate of “Honra ao Mérito Veterinário” from the Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio de Janeiro, besides the title of member in Abramvet, of founding member of the Academia de Medicina Veterinária, Estado do Rio de Janeiro (AMVERJ), and of meritorious associate from the Associação Paranaense de Medicina de Animais Selvagens.

268


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Vendo o Centro hoje pela primeira vez com os meus próprios olhos, a impressão causada foi ainda maior, em especial pelo trabalho do Coimbra-Filho e de seu colega e sucessor Pissinatti. Eles izeram um belo trabalho ao construir este Centro, uma grande obra para a primatologia e uma obra maior ainda para a conservação.2 Leobert E.M. de Boer, diretor do Apenheul Primate Park, Holanda ( Junho, 1997)

Em homenagem feita pela pesquisadora Laura Marsh, Pissinatti passou a dar nome a uma nova espécie de parauacu, a Pithecia pissinattii (Ilustração de Stephen D. Nash / Conservação Internacional / IUCN SSC Primate Specialist Group) Researcher Laura Marsh paid homage to Pissinatti by naming a new species of saki monkey, Pithecia pissinattii (Illustration by Stephen D. Nash©Conservation International / IUCN SSC Primate Specialist Group)

On seeing the Centre today for the irst time with my own eyes, I became even more impressed, not only by the perfect site of the Centre and the excellent condition of all its precious primates, but also, and especially, by the painstaking work of Coimbra-Filho and his colleague and his successor Pissinatti. hey did a great job in building this Centre, a great job for primatology and an even greater job for conservation.2 Leobert E.M. de Boer, director of Apenheul Primate Park, Netherlands ( June, 1997)

269


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Os servidores The employees

José Marins

J

osé Marins anda constantemente com uma pedra na mão. O utensílio nunca chegou a ser usado, mas serve para amedrontar os cães que cruzam seu caminho quando volta a pé para casa, após o trabalho. Há cinco anos o tratador cuida de uma família de cinco muriquis na instituição. Ele acredita ter conquistado o coração dos Brachyteles arachnoides, mas, em compensação, despertou a ira dos cães que moram nas imediações do Centro. Marins justifica a hostilidade alegando que os cachorros devem sentir um cheiro diferente na sua roupa e, por isso, ameaçam mordê-lo. No trabalho, a recepção é inversamente proporcional à dos cães. Dos cinco membros da família muriqui, o filhote maior, de um total de três, sempre acha um jeito

de aproximar-se de Marins quando o funcionário entra na jaula. São cenas de carinho explícito. Abraços, mão no ombro, afago na cabeça. O funcionário canta para ele seu repertório preferido de músicas da MPB: canções de Roberto Carlos, Paulinho da Viola e Alcione. A proximidade com os muriquis não significa que Marins tenha perdido o medo. Muito pelo contrário, ele se diz “cauteloso e respeitoso”. O patriarca da família dos muriquis, um idoso que costuma levar uma das mãos à boca assumindo uma postura que remete à escultura O Pensador, de Rodin, fica de olho em tudo e em todos dentro do viveiro. Ainda que pareça distante e pensativo, a qualquer movimento suspeito, sai em defesa da prole.

Cuidar de animais selvagens não é tarefa fácil. Ainda que alguns tratadores desenvolvam uma relação amistosa com eles, a orientação é não tratá-los como animais domésticos. Com alguns primatas, como o macaco-prego, essa tentativa é praticamente impossível, porque eles costumam ser agressivos. Não bastasse driblar os cães que ficam no seu encalço, Marins é constantemente abordado por vizinhos curiosos que querem saber o que acontece no Centro e por que os animais vivem enjaulados. O acesso do público é vetado; só entram nas dependências da instituição pesquisadores, primatólogos, estudantes e cientistas, além dos guarda-parques que fazem a ronda do Centro e do Parque Estadual dos Três Picos.

J

but, in contrast, he sparked the anger of the dogs that live in the vicinity of the Center. According to Marins the hostility is because the dogs feel a different smell on his clothes and for this threaten to bite him. At work, his reception is quite the opposite to that of the dogs. Of the five members of the muriqui

family, the largest offspring of three will always find a way to approach Marins when the employee enters the cage. There are scenes of explicit affection. Hugs, hand on shoulder, stroking heads. The employee sings his favorite repertoire of popular Brazilian music: the songs of Roberto Carlos, Paulinho da Viola and Alcione.

osé Marins invariably has a rock in his hand when walking around the Center. It has never been used, but it frightens the dogs that cross his path as he walks back to his home after a day’s work. The keeper has taken care of a family of five muriquis for five years at the Center. He thinks he has won the heart of Brachyteles arachnoides,

270


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Proximity to the muriquis does not mean that Marins has lost all fear of the animals. On the contrary, he says he is “cautious and respectful”. The patriarch of the muriqui family is an old animal who has the habit of putting his hand over his mouth, in a posture that reminds one of the sculpture, The Thinker, by Rodin. He keeps an eye on everything and everyone inside of the cage. Although he seems distant

and thoughtful, at the slightest unpredictable movement, he hurries to defend the offspring. The care of wild animals is not an easy task. Although some keepers develop a friendly relationship with them, the advice is that they should not be treated as pets. With some primates, such as the capuchin monkeys, friendly behavior is practically impossible because they are usually aggressive.

As if getting rid of the dogs that nip at his heels were not enough, Marins is approached all the time by curious neighbors who want to know what goes on at the Center and why the animals live in cages. Public access is prohibited; the only people allowed into the Center are researchers, primatologists, students and scientists, besides the forest rangers that patrol the Center and the Três Picos State Park.

271


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

João Lourenço dos Santos

O

mais antigo tratador do CPRJ, João Lourenço dos Santos – um dos primeiros funcionários contratados por Coimbra-Filho para cuidar dos animais – sai em defesa das regras rígidas, como a proibição ao público. Tudo em prol dos animais, para que não fiquem estressados. O conhecimento empírico de Lourenço revela que, quando os micos-leões estão assustados ou irritados, costumam eriçar os pelos da juba, o que dá a impressão de serem maiores do que são. Essa reação afugenta potenciais inimigos. Em situações de estresse, as espécies da família dos calitriquídeos também piscam os olhos rapidamente. Da convivência diária com os primatas, Lourenço tirou dicas preciosas, como não sair da jaula dando as costas para os animais, nunca encarar os bichos nos olhos e evitar mostrar os dentes. Por outro lado, também guarda cenas memoráveis. Certa vez, duas fêmeas de muriqui foram encaminhadas para o Centro de Primatologia e, como não se conheciam, foram colocadas em jaulas separadas, embora próximas.

272


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Durante o período de aclimatação, não se viam, apenas se ouviam – os muriquis dispõem de um rico sistema de vocalizações. Passados alguns dias, Lourenço, por ordem do então diretor Coimbra-Filho, colocou-as frente a frente. “Elas se abraçaram. Foi emocionante”. Recém-aposentado, depois de pouco mais de três décadas no CPRJ, Lourenço conta que aprendeu a cuidar dos animais e a alimentá-los com o primeiro chefe de Manejo e Nutrição do órgão, o veterinário Roberto da Rocha e Silva, hoje professor universitário e membro do Conselho Curador da Fundação Rio Zoo. Autor de importantes trabalhos sobre a fauna fluminense e com várias contribuições a projetos de regeneração de ecossistemas, o ex-chefe do Serviço de Zoologia do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro teve uma atuação de destaque durante sua passagem pelo Centro. Tanto que até hoje é lembrado pela organização no registro e controle dos animais, pela elaboração de novas dietas para calitriquídeos e pelo atendimento aos estagiários e pesquisadores que visitavam o Centro.

T

he oldest keeper at the RJPC, João Lourenço dos Santos – one of the first employees hired by Coimbra-Filho to take care of the animals – defends the strict regulations, such as barring the public. In everything the animals must be the priority so that they are not stressed. Demonstrating his profound knowledge of the lion tamarins, he points out that they erect their manes when frightened or irritated, making themselves appear larger. This reaction drives away potential enemies. Marmosets, on the other hand, blink rapidly when upset. Daily contact with the primates has provided Lourenço with some memorable events. Once two muriqui females were sent to the Primatology Center and, since they did not know each other, they were placed in separate but nearby cages. During the acclimatization period, they did not see each other, but they could hear each other − muriquis have a rich repertoire of vocalizations. After a few days, Lourenço

was instructed by then director Coimbra-Filho to place them face to face. “They hugged each other. It was very touching”. Nearing retirement, after slightly over three decades at the RJPC, Lourenço says that he learned the care and feeding of the animals with the Center’s first head of Management and Nutrition, veterinarian Roberto da Rocha e Silva, today a university professor and member of the Conselho Curador da Fundação Rio Zoo. Author of important papers on the fauna of the state of Rio de Janeiro and with various contributions to ecosystem regeneration projects, the one-time head of the Serviço de Zoologia of the Rio de Janeiro Zoo actively participated in the work of the Center during his stay there. So much so that he is remembered even today because of his organization of the records and control of the animals, the creation of new diets for the animals, and receiving students and researchers who visited the Center.

273


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Sônia Maria de França

O

utra figura essencial ao funcionamento do CPRJ é Sônia Maria de França, natural de Guapimirim. Era o ano de 1980 quando ela, então com 21 anos, soube por moradores da região que o CPRJ, recém-instalado, estava à procura de uma atendente. Com experiência anterior em datilografia e redação, a candidata se mostrou mais hábil do que as concorrentes no teste e na entrevista a que foi submetida, conquistando a vaga em aberto. Assim teve início a trajetória daquela que, depois do atual chefe do CPRJ, é a funcionária mais antiga do Centro ainda na ativa. Admitida como recepcionista, Sônia caiu nas graças de Coimbra-Filho assim que chegou à instituição, tornando-se sua secretária. A sala que ocupava à época, colada à do rigoroso e exigente chefe, é a mesma até hoje, salvas as periódicas mudanças na disposição dos móveis, implementadas, segundo a própria, para que os ânimos se revigorem diante da puxada rotina do Centro. Em reconhecimento à excelência com que cumpria suas atribuições, ao longo dos anos Sônia foi acumulando funções, ao mesmo tempo em que investia na sua formação. Promovida a escrituária em 1986, formou-se em Administração de Empresas sete anos depois,

274

chegando ao posto de assistente administrativa em 1994. Atualmente, ocupa o cargo de assistente operacional, embora, na prática, seja uma faz-tudo, pois ajuda na produção de relatórios, na prestação de contas, na aquisição de materiais, na elaboração e execução de convênios e projetos, e em tudo o mais que lhe é solicitado. Os mais de 30 anos de serviços prestados à causa conservacionista são classificados por ela como uma “escola”, e os chefes, Coimbra-Filho

e Pissinatti, como dois exemplos de que “vale a pena persistir”. “Gosto do que faço. Tudo que passei aqui valeu como lição de vida. No CPRJ, aprendi a ser resiliente e a me adaptar às mudanças. A gente reclama de [algumas coisas], mas não sei se conseguiria parar e ficar em casa, pois o que fazemos está entranhado no nosso sangue”, conta a dedicada servidora, mãe de três filhos, um técnico ambiental, um biólogo e o outro guarda-parque na mesma unidade de conservação onde está instalado o CPRJ.


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

A

nother figure vital for the functioning of the RJPC is Sônia Maria de França, who lives in Guapimirim. In 1980, when she was 21 years old, she heard from inhabitants of the region that the newly installed RJPC was looking for an employee. With prior experience in typing and writing, the candidate proved more skillful than others in her test and interview. Thus began the trajectory of Sônia, who, after the current head of the RJPC, is the oldest employee of the Center still on active duty. Hired as a receptionist, Sônia was well received by Coimbra-Filho as soon as she arrived at the Center, and became his Secretary. The room she occupied at the time, next to that of her rigorous and demanding boss,

is still hers today, with only a few changes in the arrangement of the furniture. According to Sônia, these changes were made to give herself a boost in facing the demands of the Center’s busy schedule. Recognizing Sônia’s extraordinary abilities, she began to accumulate various jobs over the years and at the same time she invested in her studies. She was promoted to accountant in 1986; she earned a degree in business administration seven years later, and became administrative assistant in 1994. Today she is assistant of operations, but in practice this is really a “do-all” job, writing reports, drawing up financial documents, purchasing material, drafting and carrying out agreements and

projects, and everything else that is asked of her. She classifies the years of service given to the conservation cause as a “learning experience”, and her bosses, Coimbra-Filho and Pissinatti as two examples of “it pays to keep on trying”. “I like what I do. Everything that goes on here is a lesson in life. At the RJPC, I learned resilience and how to adapt to change. We all complain about something, but I do not know if I could stop and stay at home, because what we do has gotten into my blood.” Thus says the dedicated worker, mother of three children, one of them an environmental technician, and the others a biologist and park ranger of the Três Picos State Park, where the RJPC is located.

275


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Funcionários do CPRJ (1983). Na frente (da esq. para a dir.) / In the foreground (from left to right): Roberto da Rocha e Silva, Nilton Oliveira e Silva, Leila Fischer, Hilda Pinto Silva, Adelmar F. Coimbra-Filho, Manoel Alves dos Santos, Elmo Silva e Alcidnei Ferreira. Atrás / In the back: Dejair José de Abreu, Antonio Marius, Maurício Alves Filho, Genésio de Souza, Sônia Maria Eduardo de França, Agostinho Marius, Sérgio Ricardo Rocha Soares, Maurílio da Silva Moraes, João Lourenço dos Santos, Newton Silva, Cláudio B. Valladares Pádua e Alcides Pissinatti

276


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

(1990). Sentados (da esq. para a dir.) / Seated (from left to right): Maurício Alves Filho, Nilton Oliveira e Silva, Arthur Rodrigues da Silva, Hilda Pinto Silva, Alcides Pissinatti, Adelmar F. Coimbra-Filho, Sônia Maria Eduardo de França e Carmen Lúcia Rodrigues de Carvalho. Em pé / Standing: Alcidnei Ferreira, Dejair José de Abreu, Maurílio da Silva Moraes, Manoel Alves dos Santos, João Lourenço dos Santos e Antonio Marius Também deram sua valiosa contribuição para a instalação e o funcionamento do CPRJ, mas não aparecem nas fotos/ The following also contributed to the installation and operation of RJPC, but do not appear in the photographs: Evandro Coelho Chagas, Humberto Sanchez Renne, Reginaldo Queiroz Boudet Fernandes e Ricardo José Pignataro

277



Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Referências bibliográficas Bibliography 1

KLEIMAN, D. G.; RYLANDS, A. B. Micos leões: biologia e

11

______. Portaria no. 444, de 17 de dezembro de 2014. Diário

conservação. Brasília, DF: MMA/Smithsonian/PROBIO, 2008.

Oficial da União. Brasília, DF, 18 dez. 2014.

568p.

12

FEEMA. FUNDAÇÃO ESTADUAL DE ENGENHARIA

2

DO MEIO AMBIENTE. Livro de Visitas, Rio de Janeiro, 1979-. 3

COIMBRA-FILHO, A. F. Centro de Primatologia do Rio de

Janeiro. Rio de Janeiro: FEEMA, 1986. 4

RYLANDS, A. B. Database on the taxonomy and threatened

status of primates. Arlington, VA: IUCN SSC Primate Specialist Group, 2014. 5

IUCN. IUCN Red List of Threatened Species. Portal. Disponível

em: <http://www.iucnredlist.org/>. Accesso em 25 maio 2013.

Ciências, Rio de Janeiro, v. 41, p. 29-52, 1969. Suplemento. 13

COIMBRA-FILHO, A. F.; PISSINATTI, A.; RYLANDS, A. B..

Breeding muriquis (Brachyteles arachnoides) in captivity: the experience of the Rio de Janeiro Primate Centre (CPRJ/FEEMA). Dodo, Journal of the Wildlife Preservation Trusts, n. 29, p. 66-77, 1993. 7

MENDES, S. L.; SILVA, M. P. da; STRIER, K. O Muriqui.

Vitória: IPEMA, 2010. 95 p. 8

PASCHOAL, Fábio. Muriqui, o maior primata das Américas, é

______. Considerações gerais e situação atual dos micos-leões

escuros, Leontideus chrysomelas (Kühl, 1820) e Leontideus chrysopygus (Mikan, 1823). Revista Brasileira de Biologia, Rio de Janeiro, v. 30, n. 2, p. 249-268, jul. 1970. 14 ________.

Acêrca da redescoberta de Leontideus chrysopygus (Mikan,

1823) e apontamentos sôbre sua ecologia. Revista Brasileira de Biologia, Rio de Janeiro, v. 30, n. 4, p. 609-615, dez. 1970. 15

6

COIMBRA-FILHO, A. F. Mico-leão, Leontideus rosalia: situa-

ção atual da espécie no Brasil. Anais da Academia Brasileira de

RIO DE JANEIRO (Estado). Secretaria de Estado do Ambiente.

Lista oficial de espécies exóticas invasoras do Estado do Rio de Janeiro. A ser editado pela SEA em 2015. 16

COIMBRA-FILHO, A. F. Espécies ameaçadas de extinção:

sagui-da-serra-escuro Callithrix aurita. Boletim da Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza, Rio de Janeiro, v. 10, n. 2, 1986. 17

COIMBRA-FILHO, A. F.;

MITTERMEIER, R. A.

candidato à mascote das Olimpíadas de 2016. National Geografic

Hybridization in the genus Leontopithecus, L. r. rosalia (Linnaeus,

Brasil, Rio de Janeiro, 13 Fev. 2014. Disponível em: <http://via-

1766) × L. r. chrysomelas (Kühl, 1820) (Callitrichidae, Primates).

jeaqui.abril.com.br/national-geographic/blog/curiosidade-animal/

Revista Brasileira de Biologia, Rio de Janeiro, v. 36, n. 1, p. 129-

muriqui-o-maior-primata-das-americas-emascote-das-olimpia-

137, jul. 1976.

das-de-2016/> Acesso em: 07 jul. 2015.

18

KIERULFF, M. C. M. et al. Remoção e translocação do mico-

COIMBRA-FILHO, A. F. Espécies ameaçadas de extinção:

-leão-da-cara dourada: invasor na área de ocorrência do mico-leão-

saguis-de-cara-nua. Boletim da Fundação Brasileira para a

-dourado. Rio de Janeiro: Instituto Pri-Matas para a Conservação

Conservação da Natureza, Rio de Janeiro, v. 11, n. 1, 1987.

da Biodiversidade, 2012.

9

10

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Livro vermelho da

19

COIMBRA-FILHO, A.F.; PISSINATTI, A.; RYLANDS, A.

fauna brasileira ameaçada de extinção. Brasília, DF, 2008. 2 v.

B. Experimental multiple hybridism and natural hybrids among

(Biodiversidade, 19)

Callithrix species form eastern Brazil. In: RYLANDS, A. B. (Ed.).

279


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Marmosets and tamarins: systematics, behaviour, and ecology. Oxford: Oxford University Press, 1993, p. 95-120. 20 COIMBRA-FILHO, A. F. et al. Tratamento ecológico e paisagístico do campus do Centro de Primatologia do Rio de Janeiro (CPRJ) In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FLORICULTURA E PLANTAS ORNAMENTAIS, 4., 1983, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro, 1983, p. 75-87. 21 NEPOMUCENO, R. O jardim de D. João. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2007.

COIMBRA-FILHO, A. F.; MARTINS, H. F. O gênero Neomarica Sprague (Iridaceae), seu significado no combate à erosão superficial em áreas sombreadas. In: Boletim da Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza, Rio de Janeiro, n. 25, 1998.

COIMBRA-FILHO, A. F.; MITTERMEIER, R. A. Treegouging, exsudate-eating and the “short-tusked” condition in Callithrix and Cebuella. In: KLEIMAN, D. G. The biology and conservation of the Callitrichidae. Wahington, D. C.: Smithsonian Institution Press, 1977. p. 105-115. 29

COIMBRA-FILHO, A. F.; ROCHA, N. da C. Acerca da disfunção pigmentar em Leontopithecus rosalia chrysomelas (Kühl, 1820), seu tratamento e recuperação (Callitrichidae, Primates Revista Brasileira de Biologia, Rio de Janeiro, v. 38, n. 1, p. 165170, fev. 1978. 30

22

______. ______. Soluções ecológicas para problemas hidráulico-florestais. Brasil Florestal, n. 4, p. 13, 1973 23

COIMBRA-FILHO, A. F., SILVA, R. da R. e; SILVA, A. R. da. A juçara (Euterpe edulis Mart.- Palmae): ensaios e apontamentos conservacionistas. Boletim da Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza, Rio de Janeiro, n. 25, p. 99-117, 1998. 24

COIMBRA-FILHO, A. F. A implantação do Centro de Primatologia do Rio de Janeiro. Boletim da Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza, Rio de Janeiro, v. 15, p. 121-135, 1980. 25

26 JACQUES, E. de L. Begonia lunaris E. L. Jacques (Begoniaceae): uma nova espécie para o estado do Rio de Janeiro. Rodriguésia, Rio de Janeiro, v. 59, n. 1, p. 259-263, 2008.

COIMBRA-FILHO, A. F. Os primórdios da primatologia no Brasil. In: MENDES, S. L.; CHIARELLO, A. G. (Ed.). Primatologia no Brasil. Vitória: Sociedade Brasileira de Primatologia e Ipema, v. 8, p. 11-35, 2004. 27

28 ______. Aspectos inéditos do comportamento de saguis do gênero Callithrix (Callitrichidae − Primates). Revista Brasileira de Biologia, Rio de Janeiro, v. 32, n. 4, p. 505-512, dez. 1972.

280

31 COIMBRA-FILHO, A. F.; MAIA, A. de A. O processo de muda dos pêlos em Leontopithecus r. rosalia (Linnaeus, 1766) (Callitrichidae, Primates). Revista Brasileira de Biologia, Rio de Janeiro, v. 39, n. 1, p. 83-93, mar. 1979.

______. ______. A sazonalidade do processo reprodutivo em Lentopithecus rosalia ((Linnaeus, 1766) (Callitrichidae, Primates). Revista Brasileira de Biologia, Rio de Janeiro, v. 39, n. 3, p. 643651, ago. 1979. 32

33 COIMBRA-FILHO, A. F.; ROCHA, N. da C.; PISSINATTI, A. Morfofisiologia do ceco e sua correlação com o tipo odontológico em Callitrichidae (Platyrrhini, Primates). Revista Brasileira de Biologia, Rio de Janeiro, v. 40, n. 1, p. 177-185. fev. 1980.

COIMBRA-FILHO, A. F.; RIZZINI, C. T. Lesões produzidas pelo sagui, Callithrix p. penicillata (E. Geoffroy, 1812), em árvores do cerrado (Callitrichidae, Primates). Revista Brasileira de Biologia, Rio de Janeiro, v. 41, n. 3, p. 579-583, ago. 1981. 34

COIMBRA-FILHO, A. F. Animais predados ou rejeitados pelo sauí-piranga, Leontopithecus r. rosalia ((L., 1766) na sua área de ocorrência primitiva (Callitrichidae, Primates). Revista Brasileira de Biologia, Rio de Janeiro, v. 41, n. 4, p. 717–731, nov. 1981. 35

RAMBALDI, D. M.; PÁDUA, S.; DIETZ, L.A. O papel das organizações não-governamentais na conservação do gênero Leontopithecus. In: KLEIMAN, D. G.; RYLANDS, A. B. (Ed.), Micos leões: biologia e conservação. Brasília, DF: MMA/ Smithsonian/PROBIO, p. 105-13, 2008. 36


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

KIERULFF, M. C. M. Status and distribution of the golden lion tamarin in Rio de Janeiro. Neotropical Primates, v. 1, n. 4, p. 23-24, 1993. 37

KIERULFF, M. C. M.; RYLANDS, A. B. Census and distribution of the golden lion tamarin (Leontopithecus rosalia). American Journal of Primatology v. 59, n. 1, p. 29–44, 2003. 38

COIMBRA-FILHO, A. F. Leontopithecus rosalia chrysopygus (Mikan, 1823), o mico-leão do Estado de São Paulo (CallitrichidaePrimates). Revista do Instituto Florestal, São Paulo, n. 10., 1976.

39

SEAL, U.S.; BALLOU, J. D.; VALLADARES-PADUA, C. (Ed.). Leontopithecus—Population Viability Analysis Workshop report. Apple Valley, MN: IUCN/SSC Captive Breeding Specialist Group (CBSG), 1998. 40

COIMBRA-FILHO, A. F.; CÂMARA, I. de G.. Os limites originais do bioma Mata Atlântica na região nordeste do Brasil. Rio de Janeiro: FBCN, 1996. 86p. 41

42 SIQUEIRA FILHO, J. A. de (Org). Flora das caatingas do rio São Francisco: história natural e conservação. Rio de Janeiro: Andrea Jakobson, 2012.

COIMBRA-FILHO, A. F.; MAGNANINI, A. Animais raros ou em vias de desaparecimento no Brasil. Anuário Brasileiro de Economia Florestal, Rio de Janeiro, v. 19, n. 19, p. 149-177, 1968.

48 COIMBRA-FILHO, A. F. Nascimento em cativeiro do condor dos andes e do gavião quiriquiri. Boletim da Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza, Rio de Janeiro, v. 3, p. 18-20, 1968.

______. Notas sobre a reprodução em cativeiro de Eurypyga helias (Pallas, 1781). Revista Brasileira de Biologia, Rio de Janeiro, v. 25, n. 2, p. 149-156, jul. 1965. 49

______. Notas sobre a marreca-ananaí (Amazonetta brasiliensis, Gmelin, 1782), sua reprodução em cativeiro e ensaios de repovoamento (Anatidae, Aves). Revista Brasileira de Biologia, Rio de Janeiro, v. 24, n. 4, p. 383-391, dez. 1964.

50

COIMBRA-FILHO, A. F.; ALDRIGHI, A. D.; MARTINS, H. F.. Nova contribuição ao restabelecimento da fauna do Parque Nacional da Tijuca. Brasil Florestal, Rio de Janeiro, v. 4, n. 16, p. 7-25, 1973.

51

52 COIMBRA-FILHO, A. F. Reintrodução do tucano-de-bico-preto (Ramphastos vitellinus ariel, Vigors, 1826) no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro-RJ) e notas sobre sua distribuição geográfica. Boletim do Museu de Biologia Mello Leitão, n. 11/12, p. 189-200, jun. 2000.

43

CARVALHO, J. C. de M. Lista das espécies de animais e plantas ameaçadas de extinção no Brasil. Boletim da Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza, Rio de Janeiro, n. 3, p. 11-16, 1968.

53 TRINDADE, L.; RAJÃO, H.; SENNA, P. Aves do Jardim Botânico do Rio de Janeiro: guia de campo. Rio de Janeiro: Hólos Consultores Associados, 2011.

44

MITTERMEIER, R. A. et al. (Ed.). Biodiversidad amenazada: las ecorregiones terrestres prioritárias del mundo. Mexico: CEMEX, 1999. 45

GROVES, C. P. Primate taxonomy. Washington, DC: Smithsonian Institution Press, 2001.

46

JOURNAL OF HUMAN EVOLUTION. [S.l.]: Academic Press, v. 18, n. 7, nov. 1989.

47

54 FREITAS, S. R.; NEVES, C. L.; CHERNICHARO, P. Tijuca National Park: two pioneering restorationist initiatives in Atlantic Forest in southeastern Brazil. Brazilian Journal of Biology, v. 66, n. 4, p. 975-982, 2006.

HALENAR, L. B.; ROSENBERGER, A. L. A closer look at the ‘Protopithecus’ fossil assemblages: new genus and species from the Pleistocene of Minas Gerais, Brazil. Journal of Human Evolution, Londres, v. 65, n. 4, p. 374-390, out. 2013. 55

Marsh, L. K. A taxonomic revision of the saki monkeys, Pithecia Desmarest, 1804. Neotropical Primates, v. 21, n. 1, p. 1-163, 2014.

56

281


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

282


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Bibliografia consultada References ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS. Espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção. Rio de Janeiro, 1972.

INEA. INSTITUTO ESTADUAL DO AMBIENTE. Portal. Disponível

em:

<http://www.inea.rj.gov.br/index/index.asp>.

ASSOCIAÇÃO MICO-LEÃO-DOURADO. Portal. Disponível em: <http://www.micoleao.org.br/>. Acesso em: 29 nov. 2013.

Acesso em: 29 nov. 2013.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Portal. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/>. Acesso em: 29 nov. 2013.

servation in Brazilian Amazonia. In: RAINIER III, PRINCIPE

COIMBRA-FILHO, A. F. Ensaios de repovoamento e reintroduções de três espécies regionais do gênero Pyrrhura, no Parque Nacional da Tijuca, RJ, Brasil (Psittacidae – Aves). Boletim da Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza, Rio de Janeiro, v. 25, p. 11-25, 1988.

London: Academic Press, p. 117-166, 1977.

______. Mamíferos ameaçados de extinção no Brasil. In: ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS (Ed.), Espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção. Rio de Janeiro, p.13-98, 1972. ______. Natural shelters of Leontopithecus rosalia and some ecological implications (Callitrichidae: Primates) In: KLEIMAN, D. G. (Ed.), The biology and conservation of the Callitrichidae. Wahington, DC: Smithsonian Institution Press, p. 79-89, 1977. ______. Situação mundial de recursos faunísticos na faixa inter-tropical. Brasil Florestal, Rio de Janeiro, v. 5, n. 17, p. 12-37, 1974. COIMBRA FILHO, A. F.; ROCHA, N. da C. Aspectos do processo nutricional de animais selvagens em cativeiro. Brasil Florestal, Rio de Janeiro, v. 4, n. 14, p. 19-35, 1973. CONGRESSO BRASILEIRO DE FLORICULTURA E PLANTAS ORNAMENTAIS, 4., 1983. Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Floricultura e Plantas Ornamentais, 1984. CORRÊA, M. S.; BRITO, M. F. Água mole em pedra dura: dez histórias da luta pelo meio ambiente. Rio de Janeiro: SENAC, 2006. 224 p. FEEMA. FUNDAÇÃO ESTADUAL DE ENGENHARIA DO MEIO AMBIENTE. Estação Ecológica Estadual do Paraíso: plano diretor. Rio de Janeiro, 2002.

MITTERMEIER, R. A.; COIMBRA-FILHO, A. F. Primate conDE MONACO; BOURNE, G. H. (Ed.). Primate Conservation.

MITTERMEIER,

R.

A.;

COIMBRA-FILHO,

A.

F.;

CONSTABLE, I. D.; RYLANDS, A. B.; VALLE, C. M. C. Conservation of primates in the Atlantic Forest region of eastern Brazil. International Zoo Yearbook, n. 22, p. 2-17, 1982. PEREIRA, E.; LEME, E. M. C. Novas bromeliáceas nativas do Brasil II. Revista Brasileira de Biologia, v. 45, n. 4, p. 631-636, nov. 1985. SOS MATA ATLÂNTICA. Portal. Disponível em: <http://www. sosmatatlantica.org.br/>. Acesso em: 29 nov. 2013. RIZZINI, C. T.; MATTOS FILHO, A. de. Espécies novas de Cactaceae de Mato Grosso. Revista Brasileira de Biologia, v. 45, n.3, p. 299-307, ago. 1985. RYLANDS, A. B.; MALLINSON, J. J. C.; KLEIMAN, D. G.; COIMBRA-FILHO, A. F.; MITTERMEIER, R. A.; CÂMARA, I. DE G.; VALLADARES-PADUA, C.; BAMPI, M. I. História da pesquisa e conservação do mico-leão. In: KLEIMAN, D. G.; RYLANDS, A. B. (Ed.). Mico-leões: biologia e conservação. Brasília, DF: MMA/Smithsonian/PROBIO, p. 23-68; 2008. ______. A history of lion tamarin conservation and research. In: KLEIMAN, D. G.; RYLANDS, A. B. (Ed.). Lion tamarins: biology and conservation. Washington, DC: Smithsonian Institution Press, p. 3-41, 2002. URBAN, T. Saudades do Matão: relembrando a história da conservação da natureza no Brasil. Curitiba: UFPR, 1998. 374p.

283



Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Posfácio Afterword

N

o mundo atual, acelerado e mergulhado nas novas tecnologias, “ouvir” a voz da experiência tem se tornado uma prática cada vez mais rara. As coisas passam por nós, mas não fazem marcas, não produzem memória. Certamente não é o caso do Centro de Primatologia do Rio de Janeiro, nem de seu idealizador e fundador, Adelmar Faria Coimbra-Filho, e de seu sucessor, Alcides Pissinatti, ou da família Leontopithecus. São as histórias de vida destes personagens que buscamos compartilhar aqui. Histórias que testemunham que a vida humana pode ser rica em conhecimento, criatividade e significado, para benefício tanto do indivíduo quanto da coletividade. Histórias que, além de inspiradoras, são exemplos de perseverança, garra e firme atuação no que é de interesse público. Neste livro também está contida, ainda que não descrita, a trajetória dos meus encontros com a polifonia desses personagens e, por derivação, com tantos outros com quem vim a compartilhar a incrível experiência de produzir este livro. Tarefa cumprida. Que se abre a complementos. Vale lembrar que, por vezes, a memória escapa ao nosso comando e, caprichosamente, trilha caminhos que conduzem ao seu avesso, isto é, ao esquecimento. Daí a importância de se produzir obras como esta, que permitem que iniciativas como a do CPRJ e trajetórias como as de Coimbra-Filho e Pissinatti sejam sempre lembradas e enaltecidas. Que belo encontro tivemos!

I

n today’s world, fast-paced and surrounded by new technologies, “to heed” the voice of experience has become an increasingly rare event. Things pass us by, but leave no mark nor do they create memory. This is clearly not the case of the Rio de Janeiro Primatology Center nor of its creator and founder, Adelmar Faria Coimbra-Filho, and his successor, Alcides Pissinatti. Neither is it the case of Leontopithecus. The life histories of these people are what we share here. Tales that bear witness to the fact that a person’s life can be rich in knowledge, creativity and significance for the benefit of both the individual and humanity. Stories that serve to inspire as well as provide examples of perseverance, determination and a constant striving for that which is of public interest. This book also holds (but does not describe) the trajectory of my encounters with the polyphony of these characters and is also derived from that of so many others with whom I shared the amazing experience of producing this book. My work is done – may it open the door for others. Remember that we sometimes lose control of our memories that whimsically, follow paths leading in the opposite direction, i.e. to oblivion. Hence, the importance of producing works such as this, that keep initiatives such as the CPRJ and trajectories like those of Coimbra-Filho and Pissinatti always remembered and honored. What a grand encounter it was!

Tania Machado Coordenadora editorial / Editor Inea

285


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Anexos Appendices

286


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

287


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Anexo 1

Índice de fotografias Photo index

Fotos Ricardo Siqueira, à exceção da sobrecapa (Solvin Zankl) e das fotos das páginas:

202: Acervo Coimbra-Filho

Photos by Ricardo Siqueira, except the jacket (Solvin Zankl) and the photos of pages:

215, 216, 222 (acima/above): Acervo Russell A. Mittermeier

3: Tania Machado 26: Solvin Zankl

198, 218, 219: Acervo Inea 221, 223: Mehgan Murphy 222 (abaixo/below): Acervo Associação Mico-Leão-Dourado 225 (acima/above): Mapa Gerência de Geoprocessamento e Estudos Ambientais (Geopea/Inea)

Centro de Primatologia do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Primatology Center

225 (abaixo/below), 216, 217: Acervo Rebio União

Fotos Ricardo Siqueira, à exceção das fotos das páginas:

232: Acervo Programa de Conservação do Mico-Leão-Preto

Photos by Ricardo Siqueira, except the photos of pages:

233: Acervo Cláudio Valladares Pádua

231: Gabriela Cabral Rezende (Parque Estadual do Morro do Diabo)

32: Alcides Pissinatti 41, 47, 59, 73 (gêmeos/twins), 84, 181: Acervo Inea 43: Mapa Gerência de Geoprocessamento e Estudos Ambientais (Geopea/Inea)

Os guardiões de ontem e hoje The guardians of yesterday and today Fotos Ricardo Siqueira, à exceção das fotos das páginas:

84: Acervo Instituto Pri-Matas

Photos by Ricardo Siqueira, except the photos of pages:

124, 173, 180: Tania Machado

238, 245, 248, 252, 256: Acervo Coimbra-Filho

178: Elton M. C. Leme

239 (esquerda/left), 240, 241, 243, 257 (abaixo/below), 258: Acervo Russell A. Mittermeier

188, 190: A. Rifan

239 (direita/right), 242, 267, 271, 276, 277: Acervo Inea Um pouco de história A bit of history

248 (jequitibá): Lourenço Eduardo (Inea)

Fotos Solvin Zankl, à exceção das fotos das páginas:

253: Gustavo Pedro

Photos by Solvin Zankl, except the photos of pages:

255, 274: Tania Machado

199, 228: Ricardo Siqueira

284: Solvin Zankl

288

251: João Quental


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Anexo 2

Patrocinadores, parceiros e colaboradores do CPRJ Contributors

Pessoas jurídicas e físicas que colaboraram para a construção do CPRJ e seu funcionamento.

Parceiros

Patrocinadores:

Associação Mico-Leão-Dourado

Cia. Souza Cruz

Fundação Biodiversitas

Financiadora de Estudos e Projetos (Finep)

Fundação Parque Zoológico de São Paulo

Fundação para o Desenvolvimento da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (Fundrem)

Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF)

Associação de Fomento Turístico e Desenvolvimento Sustentável de Teresópolis (Tereviva)

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico (CNPq)

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama)

Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa no Estado do Rio de Janeiro (Faperj)

Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)

Perma Indústria de Bebidas S/A – Refrigerantes Niterói

Laboratório de Biologia Animal/Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (LBA/Pesagro-Rio)

Greater Los Angeles Zoo Association (Glaza) (EUA) Conservation International (CI) Jersey Wildlife Preservation Trust (Reino Unido) Parc Zoologique et Botanique de Mülhouse (França) The Zoological Society for the Conservation of Species and Populations (Alemanha) World Wildlife Fund-US (EUA)

Ministério Público Federal (SRRF/7ª RF) Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro Parque Ecológico Municipal Cid Almeida Franco (Americana/SP) Parque Ecológico Municipal Dr. Antonio Teixeira Vianna (São Carlos/SP) Parque Zoológico Municipal de Bauru (Bauru/SP) Parque Zoológico Municipal Quinzinho de Barros (Sorocaba/SP) The Zoological Society of Philadelphia American Zoo and Aquarians Association Margot Marsh Biodiversity Foundation (EUA) International Primatological Society

289


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Colaboradores: Alvino Costa (Cia. Souza Cruz) Armando de Mattos Filho ( Jardim Botânico do Rio de Janeiro - JBRJ)

Hugo de Mattos Santos (secretário de Obras do Estado do Rio de Janeiro) Ilmar Bastos Santos (Fundação Biodiversitas) João Batista Cruz (Fundação Parque Zoológico de São Paulo)

Carlos de Toledo Rizzini (Academia Brasileira de Ciências)

Kenneth Light (Cia. Souza Cruz)

Herman Lent (Academia Brasileira de Ciências)

Leandro Jerusalinsky (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio)

Célio Valle (Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG) Cláudio B. V. Pádua (Instituto de Pesquisas Ecológicas - IPÊ) Suzana Machado Pádua (IPÊ) Dionisio Moraes Pessamilio (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - Ibama) Maria Iolita Bampi (Ibama) Otávio Dias Moreira Filho (Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro - Cedae) Geraldo S. da Rocha Porto (Cedae) José Padrão do Espírito Santo (Cedae) Expedito Cordeiro da Silva Jr. (Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ) Fernando T. Sarmento Sampaio (Fundação para o Desenvolvimento da Região Metropolitana do Rio de Janeiro - Fundrem) Geraldo Manhães Carneiro (Laboratório de Biologia Animal/ Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro - LBA/Pesagro-Rio) Haroldo Mattos de Lemos (Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente - Feema)

290

Marcelo Marcelino (ICMBio) Mônica Mafra Montenegro (ICMBio) Guilherme Euclides Brandão (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - CNPq) Lindolpho de Carvalho Dias (CNPq) Manoel da Frota Moreira (CNPq) Mario Augusto Ronconi (Universidade Federal Fluminense - UFF) Marcilio Dias do Nascimento (UFF) Miguel Alarcon (Refrigerantes Niterói – Perma Ind. de Bebidas) Russel Coffin (Refrigerantes Niterói – Perma Ind. de Bebidas) Milton Thiago de Mello (Universidade de Brasília - UnB) Nicholas Locke (Reserva Ecológica do Guapiaçu) Rogério Paschoal (Sociedade de Zoológicos do Brasil) Sonia Medeiros (Associação de Fomento Turístico e Desenvolvimento Sustentável de Teresópolis - Tereviva) Velasco Soares (Tereviva) Wanderley de Souza (UFRJ – Inmetro)


Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

Akisato Nishimura (Doshisha University)

Manoel Molinedo (Greater Los Angeles Zoo)

Andrew J. Baker (The Zoological Society of Philadelphia)

Sanders Lewallen (Friends of the National Zoo)

Anne Baker (AZA’s New World Primate Taxon Advisory Group)

Philip Hershkovitz (Field Museum of Natural History)

Bengt Holst (Conservation Breeding Specialist Group)

Robert D. Martin (Field Museum of Natural History)

Benjamin B. Beck (National Zoological Park, Smithsonian Institution)

Roland Wirth (The Zoological Society for the Conservation of Species and Populations)

Bill Konstant (Conservation International)

Russell A. Mittermeier (Conservation International)

Devra G. Kleiman (National Zoological Park, Smithsonian Institution)

Stephen D. Nash (Conservation International)

Hartmut Rothe (Göttingen) J. R. Cook (The British Council Brazil)

Takeshi Setoguchi (Kyoto University) Warren Thomas (Greater Los Angeles Zoo) Wolf Bartman (Tiepark Dortmund)

Elizabeth L. Balner (The Zoological Society of Philadelphia) Inês Castro (Conservation International) James Dietz (University of Maryland) Jean Marc Lernould (Parc Zoologique & Botanique de Mülhouse) Jennifer Mickelberg (National Zoological Park, Smithsonian Institution) Jeremy J. C. Mallinson ( Jersey Wildlife Preservation Trust) Jonathan D. Ballou (National Zoological Park, Smithsonian Institution) Kanji Inoki ( Japan) Kristin Leus (Conservation Breeding Specialist Group) Kurt Benirschke (The Zoological Society of San Diego) Lou Ann Dietz (Save the Golden Lion Tamarin)

291


CPRJ Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Este livro foi composto nas tipologias Adobe Caslon Pro e Aleo e impresso em papel couchĂŠ matte 145 g/m 2 para o Instituto Estadual do Ambiente (INEA) no inverno de 2015. This book was set in Adobe Caslon Pro and Aleo type and printed on 145 g/m2 couchĂŠ matte paper for the State Environmental Agency in the winter of 2015.

292


CPRJ

Alceo Magnanini Assessor da Diretoria de Biodiversidade e Áreas Protegidas Instituto Estadual do Ambiente

Idealizado por um dos mais renomados primatólogos do Brasil como uma instituição moderna à época, mas precipuamente voltada à engenharia do meio ambiente, não é difícil imaginar as dificuldades vivenciadas para transformar o CPRJ no centro de excelência que é atualmente. Muito além de um belíssimo lugar, o CPRJ representa uma das principais plataformas de pesquisas em medicina e biologia da conservação de primatas neotropicais e certamente guarda as últimas esperanças de sobrevivência de muitas espécies de primatas brasileiros. Conceived and designed by one of Brazil’s most renowned primatologists within a modern institution at the time, but focused mainly on environmental engineering, it is not hard to imagine the difficulty of transforming the RJPC into the center of excellence that it is today. Besides being a beautiful place, the RJPC is one of the main research platform dealing with conservation biology and conservation medicine aspects of Neotropical primate conservation. The RJPC may represents the last chance of survival for many Brazilians species of primates. Denise Marçal Rambaldi Superintendente de Biodiversidade e Florestas Secretaria de Estado do Ambiente

Rio de Janeiro Primatology Center

In this immense Brazil there are histories that everyone should know about. If you have not yet visited the Rio de Janeiro Primatology Center and the Poço das Antas Biological Reserve, this magnificent book will give you a good idea of how we were able to guarantee the survival of several endangered species.

Centro de Primatologia do Rio de Janeiro

Neste imenso Brasil há histórias que todos deveriam conhecer. Se ainda não visitou o Centro de Primatologia do Rio de Janeiro nem a Reserva Biológica de Poço das Antas, eis aqui um magnífico livro que dá uma boa ideia sobre a história da sobrevivência que conseguimos garantir para algumas espécies que já estavam ameaçadas de extinção.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.