14 MEIO AMBIENTE
2021: uma odisséia na Terra
Em 1968, o filme futurista “2001: uma odisséia no espaço” tecia paralelos entre a exploração dos oceanos desconhecidos, narrada por Homero em “Odisséia”, e a exploração do espaço sideral (pisamos na lua em 1969). 20 anos após 2001, ainda no caminho da evolução tecnológica pretendida, ingressamos num ano em que os temas desse filme - evolução humana, tecnologia, inteligência artificial e vida extraterrestre (microbiológica) - estarão mais em voga do que em qualquer ano anterior, com a chegada da 5G no ocidente e os avanços das agências espaciais privadas. Ao mesmo tempo, lutamos em nossas cidades por medidas básicas de saneamento, por condições dignas de vida, pela retomada da economia e pela vacinação, que pode ser o capítulo final da guerra contra a a pandemia de Covid-19. Um ano de contrastes... 2021 nos promete uma verdadeira odisséia: ainda a solidão do isolamento social até o final das vacinações, o silêncio dos bons, o desconhecimento do que virá pela frente (não só no Brasil, mas no mundo): o que será da economia, quanto tempo de imunidade nos darão as vacinas... Milhões de desempregados, milhares de pessoas deixadas em situação de rua... 40 milhões de pessoas no Brasil vivendo em miséria extrema. Ainda por cima, a chegada da 5G viabilizando a automação industrial, diminuindo os empregos... Por outro lado, isso empurra o nosso país para inovação, empreendedorismo e economia circular. E se tem uma coisa pela qual o brasileiro se destaca neste mundo é a tal da criatividade! Além
disso, o Édelis Martinazzo Dallagnol nosso Médica Veterinária, povo se M. Sc. destaca pela solidariedade - e demonstrou isso durante a pandemia. Esses diferenciais levarão o Brasil a enfrentar a crise a partir de um patamar diferenciado. Este será um ano em que a humanidade toda estará buscando a reconstrução. Estaremos mergulhados em retomar, crescer, reconquistar. Será uma odisséia global, um esforço coletivo. Não estaremos todos no mesmo barco, como nunca estivemos: países com sólido investimento em pesquisas científicas desenvolveram as vacinas e as têm disponíveis no quintal... nós permaneceremos à espera do excedente... Viveremos para ver crescerem os investimentos em ciência em nosso país? A esperança permanece... Precisamos lembrar que nós, humanos, não somos os únicos habitantes deste planeta. Em nossa odisséia de recuperação econômica e saúde pública, precisamos lembrar o que os lockdowns comprovaram: não estamos sós! Basta nos recolhermos para que nossos ambientes sejam rapidamente ocupados por outras espécies - até onças pardas têm sido vistas dentro de cidades e, mesmo, em quintais ou dentro de casas... A verdade nua e crua é que não somos insubstituíveis. Que 2021 seja o ano em que finalmente assumiremos responsabilidade pelo cuidado da natureza, conviveremos pacificamente com plantas e animais, cuidaremos da água e não poluiremos mais rios, lagos e oceanos. Que façamos de 2021 um divisor de águas!
15 de janeiro de 2021
A SEMANA
Mais do que reciclar, é preciso reduzir a geração de resíduos sólidos no meio ambiente Por Gustavo Fanaya
Já parou para pensar na quantidade de lixo reciclável que você e sua família produzem mensalmente? Anualmente? Ao longo de suas vidas? Vocês certamente se surpreenderiam... Com a pandemia, o volume de lixo doméstico cresceu mais de 15%, segundo estimativa da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). A destinação final de todo esse material está entre as principais preocupações quando falamos em sustentabilidade. Segundo o Relatório Abrelpe, em 2019, mais de 29 milhões (40,5% do total) de toneladas de resíduos sólidos urbanos foram destinados inadequadamente no meio ambiente. O estímulo à reciclagem é uma das principais soluções apontadas para a resolução do problema. Dessa forma, é possível fazer com que resíduos descartados pelos consumidores possam voltar à cadeia produtiva como matéria-prima, no processo que conhecemos como logística reversa, um importante elemento da chamada Economia Circular. Mas, além de investir em reciclagem, é preciso pensar no assunto de maneira mais ampla. Um dos principais desafios em relação à gestão de resíduos não trata apenas de reciclar, mas de reaproveitar e de reduzir o volume de lixo. E de uma forma em que todos, sem exceção, participem do processo, seguindo os princípios da responsabilidade compartilhada, previsto pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), vigente desde 2010. Para a sociedade de consumo de massa as embalagens dos produtos são um importante instrumento de marketing, agregando valor aos produtos e alavancando as vendas por impulso. Vencer a disputa pela atenção do público nas prateleiras é um imperativo para qualquer empresa sobreviver e crescer em mercados competitivos. Além disso, as embalagens devem garantir a integridade de seus conteúdos. Cerca de 80% do lixo
Segundo o Relatório Abrelpe, em 2019, mais de 29 milhões (40,5% do total) de toneladas de resíduos sólidos urbanos foram destinados inadequadamente no meio ambiente. doméstico é composto por número de estabelecimentos material reciclável, em sua especializados na venda a maioria embalagens pós- granel de produtos. Também consumo, segundo dados se amplia a utilização de emdo Ministério do Meio Am- balagens biodegradáveis. A biente. Apenas o plástico, Europa foi mais longe e aproum dos mais comuns tipos vou o fim do uso do plástico de embalagens, representa descartável, de uso único. O 13,5% do total de resíduos movimento, porém, ainda é sólidos gerados no país muito tímido por aqui. Em (mais de 10,5 milhões de São Paulo, já houve a cotoneladas). Porém, as em- brança por sacolas plásticas balagens e pacotes de pa- em supermercados. É precipel e papelão multiplicaram- so que toda a cadeia logística se com a pandemia em de- de distribuição e varejo pense corrência da explosão das em novos formatos. Oferecer compras por e-commerce e descontos, condições espedellivery. Alguns exageros ciais e incentivos também é são tão recorrentes que válido. passaram a ser padrão, coOutra opção que muitos mo a utilização de embala- brasileiros devem ter na megens duplas ou despropor- mória são as garrafas de vicionais ao tamanho do pro- dro retornáveis (os famigeraduto, criadas exatamente dos “cascos”, transportados para passar a ilusão de que em engradados), formato o conteúdo é muito maior. que imperava na venda de O problema disso tudo refrigerantes e cervejas até é que não há lugar no nosso os anos 90. Dava muito traplaneta para depositar tanto balho para todo mundo, fabrivolume de material descar- cantes, comerciantes e contado e a natureza demanda- sumidores, mas não se via ria décadas ou mesmo sé- garrafas PET boiando em culos para dar conta de de- rios e mares. Éramos sustensintegrá-lo. É preciso achar táveis e nem sabíamos disso. meios de reduzir, reutilizar, Adotava-se um vasilhame reciclar ou recuperar esses padrão, que era reutilizado materiais. Para isso, é ne- mais de 20 vezes por diferencessário que haja ações po- tes empresas engarrafadositivas não apenas por parte ras. Mas um dia, para alegria das indústrias usuárias, mas e facilidade geral, surgiram também por fabricantes de as inigualáveis garrafas PET embalagens, atacadistas, descartáveis. O efeito todo varejistas, distribuidores, im- mundo conhece. portadores, recicladores, Muitos filmes antigos operadores logísticos, parla- mostram a pitoresca cena mentos, órgãos reguladores do entregador deixando gare fiscalizadores e, acima de rafas de vidro cheias de leite tudo, consumidores. fresco bem cedo na soleira As estratégias de mar- das portas dos clientes. E keting precisam ser repen- levando as vazias. As atualsadas. Operações locais mente dominantes embalaconsorciadas para embala- gens de leite longa vida são gens retornáveis precisam mais fáceis de transportar e ser estruturadas. É um des- muito eficientes para garanperdício inconcebível so- tir a integridade do produto, mente utilizar-se qualquer porém são complexas e de embalagem de vidro uma difícil reciclagem. única vez. Segundo estimativa da Cresce cada dia mais o própria Coca-Cola, o custo
final de uma garrafa retornável é cerca de 30% menor que o custo de uma garrafa PET. A empresa e outras gigantes fabricantes de bebidas e alimentos possuem projetos para ampliar o uso dos retornáveis, mas ainda há muito a ser feito para que esse volte a ser o formato dominante. É preciso que atinja não apenas a indústria de alimentos e bebidas, mas também outros segmentos, como higiene e limpeza, entre outros. E também conceber modelos de negócios que englobem os pequenos fabricantes e atraia o interesse dos varejistas e dos consumidores. Políticas públicas também poderiam sobretaxar produtos com embalagens de baixa reciclabilidade e conceder benefícios tributários a empresas que utilizem embalagens biodegradáveis ou retornáveis, gerando grande impacto positivo. Da mesma maneira, estimular estabelecimentos comerciais que deem preferência a esses tipos de produtos também se mostra uma boa alternativa. Tudo isso se refletiria em um preço mais atrativo para a venda do produto no varejo e estimularia a os consumidores a adotar as escolhas mais sustentáveis. Nenhuma dessas alternativas é de fácil implantação. Mas é importante que todos os envolvidos na cadeia de valor, do fabricante ao consumidor, assumam suas responsabilidades para que os resultados sejam alcançados. É preciso articular parcerias entre concorrentes, da indústria e do comércio, e desenvolver ações de conscientização junto ao público consumidor. Os benefícios de uma ação sistêmica e integrada vão muito além da melhora da sustentabilidade ambiental, pois transbordam na criação de novas tecnologias, geração de empregos e renda, com vantagens econômicas para todos. *Gustavo Fanaya é diretor-executivo do Instituto Paranaense de Reciclagem (InPAR), instituição que tem o propósito de operacionalizar um sistema de logística reversa de embalagens pósconsumo, visando atender a legislação vigente no âmbito estadual e federal.