O monte castello ano ii numero 2 fev 2013 posses 2012

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FAHIMTB

O MONTE CASTELLO

AHIMTB / RJ ACADEMIA MARECHAL JOÃO BAPTISTA DE MATTOS

ÓRGÃO DE DIVULGAÇÃO DAS ATIVIDADES DA ACADEMIA DE HISTÓRIA MILITAR TERRESTRE DO BRASIL / RJ

68 anos da Vitória de Monte Castello - 1945 - 2013 Ano II - 2013

22 de FEVEREIRO

Nº 02

Nesta Edição: Posse de Acadêmicos - 2012 CEL CARLOS ALBERTO NACCER CEL NELSIMAR VANDELLI GEN BDA MARCIO TADEU BETTEGA BERGO GEN DIV EDUARDO JOSÉ BARBOSA PROFESSOR MARCOS ALBUQUERQUE PROFESSOR DEREK DESTITO VERTINO

Posse de Acadêmicos Em 2012 tivemos as seguintes Sessões Solenes de Posse de Acadêmicos: 26 de setembro de 2012 - Auditório Senna Madureira do Clube Militar – Av Rio Branco

Cel Nelsimar VANDELLI na Cadeira nº 10 - Cel Emilio Carlos Jourdan, como 2° ocupante, recebido pelo Acadêmico Gen Bda Geraldo Luiz NERY da Silva

Cel Vandelli e Sra, Brig Oswaldo Terra de Faria, Pres CEBRES

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18 de outubro de 2012 - Monumento Nacional aos Mortos da 2ª. Guerra Mundial

Professor Marcos Albuquerque, na Cadeira Especial Gilberto Freyre da FAHIMTB, como 1° ocupante, recebido pelo Acadêmico Cel Claudio Skora ROSTY, seguindo-se– 17º. Encontro FEBiano, com palestra do Acadêmico Emérito da AHIMTB Cel Amerino Raposo

Prof Israel, Cel Amerino, Cel Bento, Gen Rosendo, Brig Oswaldo Terra de Faria

Saudação do Prof. Marcos Albuquerque

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30 de novembro de 2012 - Audit贸rio do CEPHiMEx - Centro de Estudos e Pesquisas de Hist贸ria Militar do Ex茅rcito - Rua General Canabarro 731 - Maracan茫

Gen Bergo, Gen Tibau, Cel Bento, Gen Eduardo, Prof Israel

Gen Nery, Cel Darzan, Gen Tibau, Gen Eduardo, Gen Bergo Sra., Cel Cambeses Cel Naccer e Sra., Cel Bento, Prof Barone, Cel Rosty, Prof Israel

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Cel Bento, Gen Bergo, Gen Eduardo, Prof Israel GEN DIV EDUARDO JOSÉ BARBOSA, Diretor do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército, como 2º. Presidente de Honra da AHIMTB/Rio de Janeiro, Titulo Acadêmico outorgado nos termos do Estatuto em vigor, concedido ao Diretor da DPHCEX, sendo recebido pelo Cel Claudio Moreira Bento;

Gen Tibau, Cel Bento, Gen Bergo e Sra, Gen Edu, PProf Israel GEN BDA MARCIO TADEU BETTEGA BERGO, como 2º. Titular da Cadeira 32 - Gen Div Eng Mil Francisco de Paula Azevedo Pondé, por jubilação do Acadêmico Eng Mil Christóvão de Ávila Pires Jr, que inaugurou a Cadeira, sendo recebido pelo Acadêmico Cel Claudio Skora Rosty;

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Cel Naccer e Fam, Prof Israel CEL CARLOS ALBERTO NACCER, como 2º. Titular da Cadeira 44 – Cel Anibal Barreto, sucedendo o Acadêmico Cel João Ribeiro da Silva, que inaugurou a Cadeira, sendo recebido pelo Acadêmico Eng Israel Blajberg. Organizador do Portal FEB é o novo membro correspondente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil na Estância Hidromineral de Socorro/SP

Prof. Derek Destito Vertino - Sócio Correspondente :

“…A Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB) confere o Diploma de Sócio Correspondente na Estância Hidromineral de Socorro/SP como reconhecimento aos distintos serviços a ela prestados na preservação, pesquisa, culto, e divulgação da História Militar Terrestre do Brasil. Esta, como, ferramenta importante para auxiliar o trabalho de terra brasileiro a cumprir, o melhor possível, a sua destinação constitucional – a defesa do Brasil e, ao estadista brasileiro, para procurar dominar os mecanismos desencadeantes de confrontos bélicos, para prevenir que elas ocorram com todas as suas tristes consequências. Menção de serviços prestados pelo diplomado: O titular é Professor de História, Historiador Militar, autor do livro “Da Glória ao Esquecimento: os socorrenses na Segunda Guerra Mundial” e administrador do Portal. Rio de Janeiro, 04 de dezembro de 2012. Prof. Israel Blajberg, Presidente da AHIMTB/Rio Cel. Bento, Presidente da AHIMTB/Resende e FAHIMTB

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Pronunciamentos

Oração de Posse Cel Nelsimar VANDELLI na Cadeira nº 10 - Cel Emilio Carlos Jourdan, como 2° ocupante, Confesso, muito sensibilizado, ser este um dia extraordinariamente marcante em minha vida, particularmente entendida como a longa existência de um militar que fez da carreira um objetivo de vida e o supremo desejo de servir, ainda que, ultimamente, em não raras oportunidades, por múltiplas e complexas razões, no contraponto da notável credibilidade que a sociedade brasileira repetidamente nos concede, eu, e muitos dos aqui presentes, soldados da Pátria, não estejamos recebendo as atenções devidas. Falo sob o ponto de vista pessoal e funcional, ou seja, o dos cidadãos-soldados e o das Instituições Forças Armadas às quais pertencem. Mas, a hora é de alegria, de curtir e festejar o momento, e não de queixas e lamentações. Assim, escolhi para começar com um breve retrospecto da minha história de vida, um pouco mais do que meu simples “curriculum” pôde definir, nas supervalorizadas palavras do meu verdadeiro irmão e companheiro de Turma Floriano Peixoto, o General Geraldo Luiz Nery da Silva, para mim o sempre querido companheiro e dileto amigo . A exagerada valoração só é explicável pela velha e profunda amizade que nos une, desde os longínquos tempos de infância e juventude, tendo como marco inicial a nossa entrada, por concurso, no Colégio Militar do Rio de Janeiro, no ano de 1951. Como viram, nasci aos sete dias do mês de fevereiro do ano de 1940. Meu pai, um batalhador, era funcionário da Fábrica do Andaraí, que produzia granadas para Artilharia e Morteiros. Eu pude ver, da casa onde morava, na rua Juiz de Fora, o movimento dos militares, em seus vistosos uniformes azuis de trabalho. Esta é uma primeira coincidência – Exército e Artilharia. À época, vivia o Brasil uma segunda etapa de valorização da Indústria Bélica Nacional, iniciada nos séculos XIX e XVIII, o denominado Período das Fábricas, sendo impossível, numa pequena digressão, deixar de lembrar a figura ímpar do General Edmundo de Macedo Soares e Silva , tão bem ressaltada em portentoso texto do nosso Presidente de Federação e magistral historiador, Coronel Cláudio Moreira Bento, por ocasião do centenário do eminente brasileiro, verdadeira referência na História, lembrando que, além da Indústria Bélica, sua participação foi fundamental no projeto que criou, a partir de 1941, a Companhia Siderúrgica Nacional, o que configurou, na prática, o início da industrialização em nosso país, até então essencialmente agrícola. Sucederam-se períodos de investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento e, reduzidamente, podemos ressaltar o papel dos Centros Tecnológicos das Forças Armadas, com menção ao pioneirismo do Centro Técnico Aeroespacial, o que fez de São José dos Campos, um pólo em torno do qual se espalhavam Indústrias de fabricação de material de emprego militar, conduzindo o país a ocupar posição de destaque no concerto mundial, apogeu alcançado nas décadas de 70 e 80. Mais uma vez há de se lamentar a involução e o esquecimento, sempre justificados pela prioridade atribuída às questões sociais, cujos crônicos problemas inviabilizariam a falta de investimentos no setor. A meu ver, um erro. Hoje A Estratégia Nacional de Defesa reconhece a necessidade de reverter o quadro. Na minha crítica pessoal, pelo que se observa nas atitudes governamentais, persiste uma grande distância e falta de vontade política para transformar as “cartas de intenções” dos documentos e declarações oficiais, semanticamente elogiáveis, em resultados práticos visíveis. Prosseguindo na minha história, cursei o primário, hoje denominado ensino fundamental inicial, na Escola XVI – VIII, Duque de Caxias, o grande Patrono, o hábil Conciliador, tão necessário na conjuntura atual. E aí está a segunda coincidência – Escola Duque de Caxias. Não preciso afirmar a excelência do ensino público de então. Minha primeira professora, que até hoje guardo na memória, Yeda Maria Domingues de Oliveira, era esposa do então Capitão ou Major de Engenharia Eduardo Domingues de Oliveira, mais tarde merecidamente alçado ao generalato e com quem ainda tive a feliz oportunidade e o

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privilégio de conviver na Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, à qual, já na Reserva, prestou inestimáveis serviços, antes do seu passamento. Se me permitem, destaco mais uma feliz coincidência. Para fazer o concurso de admissão ao CMRJ, ainda que não fosse necessário, fruto da excelência das Escolas Públicas de então, matriculado por meu pai, cursei o Instituto Lima e Silva e aí aparece de novo o Patrono. Só restava a aprovação e os cursos ginasial e científico( hoje ensinos fundamental final e médio ) na Casa de Thomaz Coelho e o posterior acesso à AMAN. Destino traçado!!!! Aliás, cumpre sublinhar excelente reportagem do jornal “O Globo”, edição de 24 de setembro, segunda-feira última, na qual são reconhecidas as excepcionais virtudes dos Colégios e do Ensino Militar. Pareceu-me a oportuna e justa resposta a jornalista que, em conhecido programa televisivo, destilou seu ódio às Instituições Militares, no caso representadas por seus Estabelecimentos de Ensino, por absoluto desconhecimento e puro rancor ideológico. Agora, nada mais justo do que agradecer a confiança em mim depositada com a indicação do meu nome para a cadeira 10 da prestigiosa Academia de História Militar Terrestre do Brasil, Seção do Rio de Janeiro , cujo Patrono, Cel Emilio Carlos Jourdan, tanto honrou o Exército de Caxias e que, adiante, terá sua figura por mim ressaltada. Raras vezes acedi, com prazer tão grande, a um convite para ocupar uma posição. É claro que já assumi, ao longo dos meus mais de trinta e oito anos de carreira ativa e mais de quinze já na Reserva, variados cargos, sempre com muita vibração, amor e profissionalismo, mas confesso que nem sempre tão prazerosamente quanto agora. E o singular sentimento de satisfação pessoal decorre de dois motivos principais: primeiro, a constatação de um reconhecimento em fase da vida na qual, em nosso país, infeliz e lamentavelmente, são muito poucas as constatações do valor e raro o aproveitamento da vivência, da experiência e da sabedoria acumuladas por todos aqueles que, pelas bênçãos e benesses do Criador, posso dizer que, vencendo os desafios do dia a dia, se atrevem a permanecer neste mundo, saudáveis, ativos e prontos a contribuírem para as Instituições às quais pertencem, em benefício do nosso país. E depois porque será extremamente relevante conviver, lado a lado, com confrades, cujos laços de amizade nos irmanam numa longa, estreita e amistosa convivência. Trata-se, pois, de auspiciosa oportunidade a que hoje aqui se configura. Como é de praxe, homenagens como esta requerem, como parte do ritual, uma saudação ao Patrono da cadeira que passarei a ocupar – o Coronel Emilio Carlos Jourdan. Valho-me, para início de conversa, de citação em texto editado pelo Museu Histórico de Jaraguá do Sul - “Emilio da Silva”, ao se referir, na cabeça da primeira página, ao Coronel Jourdan, visualizado, apenas, em uma das suas grandes contribuições, qual seja a de Herói da Guerra do Paraguai. “ Um estrangeiro que amou e teve fé nos destinos do Brasil” Da mesma forma que Mallet, Barroso e muitos outros, Emilio Carlos Jourdan não teve a felicidade de nascer no Brasil. É natural de Namur, na Bélgica, onde veio ao mundo em 19 de julho de 1838. Em busca de melhores dias e oportunidades, emigrou para o nosso país, aqui chegando aos 25(vinte e cinco) anos, já com a formação em Engenharia Civil, completada em sua terra natal. Tratou logo de se naturalizar, para concorrer, em igualdade de condições, com os nativos da terra brasileira na luta pela vida e pela melhoria das condições do povo, empenhado, como sempre esteve, em contribuir para a evolução do país que escolhera para fincar suas raízes. A História Militar e farta documentação oficial das Campanhas do Paraguai e da Revolução de 1893/1894, a forte personalidade e seus atributos de coragem e bravura balizam a trajetória militar de Jourdan. Num ambiente político convulsionado, marcado pelos protestos de Solano Lopez contra a intervenção do Brasil no Uruguai, a declaração de guerra ao Brasil, o aprisionamento do Marquês de Olinda e a invasão das províncias de Mato Grosso e Rio Grande, Jourdan se encontrou no Rio de Janeiro com outros estrangeiros que para cá vieram, em busca de uma vida melhor. Poderia ter ficado à margem do conflito, protegido por sua condição de estrangeiro. No entanto, tratou de se naturalizar e se alistar, e partir, como voluntário, para a Campanha, em defesa da honra do país que o acolhera e cuja nacionalidade passara a adotar.

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No cenário da guerra, seu nome surge na modesta função de Sargento do Corpo de Engenheiros Brasileiros, tendo como primeiro trabalho a construção de uma ponte de circunstância sobre o arroio Juqueri – Grande. Aproveitava-se, assim, seus conhecimentos de Engenharia, cuja formação, como já lembrado, havia completado em sua terra natal. Com a organização do Corpo de Pontoneiros, Jourdan já aparece, com totais méritos, no posto de 2º Tenente, fazendo parte da 2ª Companhia de Sapadores. Permanentemente empregado na construção de fortificações e de posições de apoio à Artilharia, participou, em breve síntese, no sítio a Uruguaiana, nos ataques a Curuzu e Curupaiti, na vitória de Tuiuti e no trabalho hercúleo dos aliados em torno de Humaitá, na construção de trincheiras, perfazendo, segundo estatísticas, mais de 50 quilômetros em Passo da Pátria, Tuiuti, Curuzu, Tuiu-Cué, Hermosa, Paré-Cué, Chaco, Taií. S.Solano e Humaitá, com destaque para a construção da grande estrada do Chaco, a fim de romper o isolamento da Divisão Encouraçada acima de Angostura, bem como desbordar com as tropas terrestres difícil posição defensiva. Destaque-se, também, sua participação em Itororó e na Campanha das Cordilheiras, quando fez jus a palavras elogiosas do Comandante em Chefe dos Exércitos – o Príncipe Conde D’Eu, o que, muito provavelmente, justificou a concessão a Jourdan de terras em Santa Catarina. Por Decreto de 16 de março de 1870, foi-lhe concedida a demissão, a pedido, do serviço ativo do Exército. O patrono de nossa cadeira seria homenageado mais tarde com as promoções a TenenteCoronel e a Coronel honorário, esta última em 13 de novembro de 1894, nos Governos, respectivamente, do Marechal Deodoro da Fonseca e do Marechal Floriano Peixoto, ambas por serviços de guerra relevantes prestados ao Brasil. Por fim, não podemos esquecer sua notável contribuição a Floriano Peixoto, na manutenção da ordem interna do país, quando da luta fratricida até 13 de março de 1894, iniciada com a Revolta da Armada, e felizmente debelada com a vitória do Governo. O espaço físico onde hoje está localizada a cidade de Jaraguá do Sul/Santa Catarina foi doado ao Conde D’EU, como dote pelo seu casamento com a princesa Isabel, filha de D. Pedro II. O Conde pediu, então, ao seu amigo Emilio Carlos Jourdan, engenheiro e Coronel honorário do Exército, companheiro de batalha na Campanha das Cordilheiras, que demarcasse as terras. Jourdan, encantado e seduzido pelas belezas daquele rincão, requereu a posse de parte dela, sendo atendido em sua pretensão, certamente, em razão do justo reconhecimento por relevantes serviços prestados ao Brasil. Nomeou estas terras de “Estabelecimento Jaraguá”, porque já eram conhecidos o rio e o morro Jaraguá, que delimitavam parte da região. Embora os registros não revelem a data certa deste acontecimento, ficou decidido o dia 25 de julho de 1876 como o da fundação da cidade de Jaraguá, modificada em 1943 para Jaraguá do Sul, em virtude de haver no estado de Goiás uma cidade mais antiga com o nome de Jaraguá. Jaraguá fez parte de São Francisco do Sul, de Paraty(hoje Araquari) e de Joinville. Atualmente, o nome de Emilio Carlos Jourdan aparece com destaque, repetidamente, no progressista município do estado de Santa Catarina. É um exemplo da miscigenação de diversas etnias européias e africanas na colonização do estado e do sul do Brasil. Ali, lado a lado, convivem brasileiros descendentes de alemães e italianos, majoritariamente. Completam o belo quadro poloneses, húngaros, africanos e, por óbvio, os resultantes da miscigenação já mencionada. Jourdan morreu em 1900, paupérrimo, porém digno e honrado, deixando uma prole elevada, da qual fazem parte, sem maiores detalhes genealógicos, o General José Carlos Leal Jourdan, o Ex-Ministro do Exército General de Exército Zenildo Gonzaga Zoroastro de Lucena e o General de Divisão Intendente Hélio Covas Pereira Filho, os dois últimos casados com duas irmãs e filhas do General Jourdan. Cabe destacar meu agradecimento, especial e não menos importante, ao ocupante anterior da minha cadeira – O Coronel reformado de Cavalaria e do Quadro de EstadoMaior Davis Ribeiro de Senna, autor de várias obras históricas e ocupante de importantes cargos ligados à cultura militar, que seria por demais enfadonho relacionar, mesmo porque todos os presentes, de alguma forma as conhecem. Rendo, pois, minhas sinceras homenagens e agradeço por tudo que o Coronel Davis fez para dignificar a cadeira que

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passarei a ocupar, certamente, com menos brilho, o que procurarei compensar com muita dedicação e esforço. Perto de concluir, desejo destacar, muito sensibilizado, duas outras felizes coincidências – os aniversários dos confrades Professor Aimone Camardella, em outubro próximo, e do Coronel Manuel Cambeses Junior, que hoje completa mais um ano de vida, distintos acadêmicos aqui presentes para prestigiarem o evento da minha posse. Ao primeiro, rendo minhas melhores e sinceras homenagens, louvando sua longevidade produtiva e a magnitude do seu acervo de contribuições à Academia, autor que é de inúmeras obras. No seu exemplo de intelectual de escol, modestamente, procurarei me espelhar. Alegro-me, também, pela ótima coincidência de ter comandado o CPOR/RJ que o diplomou Tenente de Engenharia, no ano de 1945. Da mesma forma, rendo homenagem ao meu estimado e dileto amigo Cambeses, companheiro de lides na Escola Superior de Guerra, o bravo representante da Força Aérea Brasileira, um sério, competente e reconhecido conhecedor da História Militar Brasileira, que muito me sensibiliza e honra com sua amizade. Aos seus incontáveis e portentosos textos de comentários e análises conjunturais dedico especial e redobrada atenção. A ambos desejo um feliz aniversário, muita saúde e paz. Atribui-se ao General Aurélio de Lyra Tavares, além de tudo que representou para o Exército e para o país, feliz e rico em extraordinário senso de humor, a classificação dos discursos e alocuções, não quanto ao fundo temático, ao mérito ou ao poder de persuasão, o que nos conduziria, hoje, aos discursos eminentemente políticos, governamentais, religiosos, sindicais e outras muitas categorias, em especial, os inócuos, sedutores e exploradores da ignorância. A classificação levou em conta a dicotomia – discursos e alocuções se dividem em duas categorias – os bons e os longos. Nesta dualidade de gêneros é natural se formar um juízo crítico e depreciativo dos textos demasiado longos. Com meus melhores agradecimentos pela presença de todos, e na certeza de ter ficado no limiar das duas categorias, rogo pela inclusão das minhas palavras no lado bom das alocuções e discursos, ainda que tenha descrito com redução e brevidade as justas e merecidas homenagens ao meu antecessor e, particularmente, ao patrono da cadeira que passo a ocupar e que estarei permanentemente empenhado em honrar. Muito Obrigado. Nelsimar Vandelli

Professor Marcos Albuquerque, na Cadeira Especial Gilberto Freyre SAUDAÇÃO DE POSSE AO Prof. Dr. MARCOS ANTÔNIO GOMES DE MATTOS DE ALBUQUERQUE PELO CEL CLÁUDIO SKORA ROSTY Confesso, diante de todos os acadêmicos presentes e diante de todos que aqui estão nesta tarde maravilhosa, neste templo sagrado de Deus, que é uma grande honra e uma imensa satisfação estar neste mausoléu, onde repousam os nossos heróis da II Guerra Mundial, para apresentar um amigo, um companheiro de pesquisas históricas dos Guararapes, da Guerra do Paraguai e do Brasil na II GM. E mais do que isso, apresentar um irmão, um patriota sem igual. O mais novo integrante da AHIMTB. Um grande estudioso, pesquisador e preservador da nossa memória, dos nossos valores e do nosso patrimônio histórico e cultural. CURRICULO VITAE - MARCOS ALBUQUERQUE (Marcos Antônio Gomes de Mattos de Albuquerque) Profissionalmente conhecido apenas como Marcos Albuquerque, nasceu em Recife, Estado de Pernambuco, no ano de 1942.

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Seus pais, já falecidos, foram Hermenegildo Teixeira de Albuquerque e Maria de Lourdes Gomes de Mattos de Albuquerque. Ele médico, da turma de 1938, e ela “do lar”, como era comum à época. Seu pai foi Oficial médico do Exército, mas Marcos não o conheceu ainda na Força; lembra apenas de sua carteira de identidade, fardado com talabarte. Saído do Exército, Dr. Hermenegildo entrou para o Pronto Socorro, hospital do Estado e praticamente o único hospital de urgência do Recife à época. A curiosidade de seu pai o motivou a fazer o curso de Farmácia, não para exercer a profissão, mas para melhor conhecer as ervas que usaria e para poder formular. Uma das características de seu pai, além da curiosidade, era a de nunca negar uma informação. Sempre estava pronto para explicar detalhadamente o que lhe fosse perguntado. Certa vez, Marcos deveria ter uns 10 anos de idade, vinha de bonde com seu pai quando o veículo parou por causa de um acidente. Ao lado do bonde estava um corpo estendido com o crânio esfacelado. Ao invés de evitar que a criança visse a lamentável cena, começou a explicar à Marcos as partes do cérebro que estavam expostas. Foi neste clima de contato com a realidade que Marcos foi criado. Nos dias de plantão de seu pai era comum Marcos ir ao Pronto Socorro. Nas saídas de uma ambulância Marcos gostava de ir à frente, puxando uma corda que acionava um sino para facilitar o transito. Nesta época não entendia o porquê do sino, apenas posteriormente veio, a saber, que em função da II Guerra Mundial não se utilizava sirene nos veículos, pois era utilizado como alarme de ataque aéreo, ou bombardeio iminente. Quando no Pronto Socorro, Marcos ajudava a conduzir acidentados para atendimento emergencial e muitas vezes, cadáveres para o necrotério; assim, desde cedo se acostumou, graças à personalidade de seu pai, a conviver com a realidade da vida. Fez seu curso primário em uma escola pública, o Grupo Escolar João Barbalho. Naquela época as professoras eram respeitáveis senhoras, que além de ministrar a disciplina eram verdadeiras educadoras. Verificam se as unhas estavam limpas, ensinavam a pedir licença, a agradecer e demais procedimentos que se espera de um futuro cidadão. Concluído o curso primário fez o então curso de Admissão ao Ginásio e passou a estudar no Colégio Marista. Nesta etapa acadêmica da vida de Marcos ocorreu um fato curioso. O curso ginasial era de 4 anos e ele o fez em 7 anos, ou seja, quase no dobro do tempo. Teve uma grande dificuldade em matemática, sobretudo com os famosos “carroções”. Não entendia aquelas complicadas “expressões aritméticas e algébricas”. Quando chegava a hora da prova e concluía que não iria conseguir resolver, não se atormentava, apenas entregava a prova em branco e era reprovado. A sua formação doméstica não permitia “colar”, pois aprendeu a não mentir. Este procedimento duplicou o seu tempo de ginásio. Este fato não o envergonha, pelo contrário tem orgulho de contar, pois não aprendeu a mentir. No quarto ano do ginásio ocorreu um “estalo” no seu entendimento de matemática. Houve uma troca de professor e com ele a dificuldade se tornou facilidade. Não apenas passou a entender a matéria, como também passou a ensinar seus colegas de turma. Certa vez, o diretor do colégio ao observar ele ensinando a seus colegas, e verificar o resultado obtido, o chamou para lecionar no curso de admissão. Ele, de vitima de uma didática ruim, sabia exatamente onde se encontrava o problema e procurou transformar a matemática em algo lógico, agradável como ela realmente é. Ensinou matemática durante 7 anos, inclusive preparou alunos para o ITA. Atualmente, dentre outras disciplinas, leciona métodos quantitativos aplicados à arqueologia no curso de doutorado em arqueologia da UFPE. Voltando à sua infância, morou durante anos na Rua Gervásio Pires, em frente ao Hospital Militar do Recife. Neste local teve seu primeiro contato com o Exército Brasileiro. Foi um contato lúdico. Ao fazer amizade com alguns enfermeiros do Hospital, um deles era responsável pelo biotério. Neste biotério havia uma grande quantidade de cobaias, “porquinho da Índia”. O enfermeiro dava, não apenas a ele, como a outras crianças do grupo, alguns porquinhos que traziam dentro do bolso da calça. Esses garotos passaram a criar estes animais como se fosse gado. Diariamente saiam tangendo “este gado” para pastar em uma casa grande, que ficava no mesmo quarteirão e que era o comitê do general Cordeiro de Farias, depois Governador de Pernambuco. Era um grande divertimento para eles, e, sobretudo, para Marcos que em suas férias sempre estava na fazenda de seus avós, lidando com gado e tomando “conta” dos cavalos. Concluído o curso cientifico, Marcos tinha diante de si uma grande duvida: o que fazer? Gostava de muitas coisas simultaneamente. Já tinha na época uma coleção catalogada de minerais e rochas, gostava de medicina, de agronomia, de física, enfim, de varias áreas. Não teria dificuldade de escolher uma área para se submeter a um vestibular. Na área das exatas não haveria problema com matemática, pois os vários anos de ensino desta matéria lhe deu tal familiaridade com a mesma que, se lhe fosse formulado um problema, ele não apenas dava a resposta, como também, a pagina em que se encontrava nos livros de Ary Quintela. Para geologia também não haveria problema, pois além da parte relacionada com matemática e física havia uma prova oral de identificação de minerais, que ele já tinha uma grande coleção. Partiu então para conhecer outras áreas. Estagiou em vários laboratórios dos quais destaca o de Micologia. Acreditava, desde cedo que a escolha correta de uma profissão constitui-se em um segredo para a felicidade. Embora tenha se destacado em algumas destas incursões, chegou à conclusão que nenhuma delas era a

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que faria com que se sentisse bem para o resto de sua vida. Se algumas profissões o prenderiam em um laboratório, ou hospital, também o privaria do campo. A dúvida continuava. A busca das origens das coisas, o encaminhava para algo que ainda não sabia o que era. Conheceu um amigo de pescaria que fazia o curso de Ciências Sociais, Roberto Harop, que o convidou para assistir uma aula de Antropologia Física que era ministrada por um medico, o Ricardo Cavalcanti, que também pescava. Logo depois da primeira aula haveria uma excursão para que a turma conhecesse um sambaqui. Esta excursão duraria 3 dias e se teria como base uma casa destinada a oficiais do Exército, em Pau Amarelo, ao lado do Forte do mesmo nome. Marcos foi convidado para participar desta tarefa. Tanto a casa como o Forte, situava-se em uma área isolada na época. O sambaqui não foi encontrado, e Marcos passou os 3 dias envolvido com as ruinas do Forte. Encontrou um fragmento de cerâmica circular que não sabia de que se tratava. O Roberto, que trabalhava com Gilberto Freyre, convidou Marcos para mostrar a ele a peça “misteriosa”. O Dr. Gilberto Freyre não conseguiu identificar, apenas disse que era importante e que ele deveria procurar o Dr. José Antônio Gonsalves de Mello (é a cadeira que eu ocupo nesta academia). Marcos foi à casa do especialista que também não conseguiu identificar. Suspeitou que pudesse ser o bico de uma chaleira ou de um bule. Pouco tempo depois deste contato, chegaria a Recife uma missão norte-americana para fazer um reconhecimento arqueológico no Nordeste do Brasil. Gilberto Freyre lembrou-se de Marcos e mandou chama-lo. Logo em seguida, perguntou se ele concordaria em acompanhar esta missão americana, pois havia uma exigência de que a mesma fosse acompanhada por um estudante brasileiro. De imediato Marcos concordou e passou um bom tempo percorrendo todos os estados do Nordeste. Na época em condições extremamente precárias, sem rodovias, sem hotéis, enfim um trabalho duro. A partir desta experiência as dúvidas de Marcos desapareceram. Passou a ter certeza de que queria fazer Arqueologia. O grande problema era como? Qual seria o acesso? Não passou pela cabeça dele o mercado de trabalho, se teria dificuldade em ser pioneiro em uma nova área no Estado. Sabia apenas que nos Estados Unidos a Arqueologia estava ligada aos Departamentos de Antropologia. O único curso que oferecia Antropologia física e cultural era o de Ciências Sociais. Resolveu prestar vestibular para Ciências Sociais. Gilberto Freyre estava criando o Departamento de Antropologia Tropical e convidou Marcos para integrar o Departamento dedicando-se a área de Arqueologia. Foi criado o Setor de Arqueologia sob a responsabilidade de Marcos que não tinha formação, nem teórica nem pratica. A biblioteca da Universidade possuía apenas três livros sobre a origem do homem. Surgiu outra “coincidência” em sua vida. Ia ser ministrado um curso de pós-graduação na Universidade Federal do Paraná, ministrado pela Dra. Annette Emperaire, da Sorbonne. Marcos entrou em contato com o também iniciante Igor Chymz, que o aceitou para fazer o curso, que seria realizado em uma ilha deserta, a ilha dos Rosas. Desta experiência surgiu uma amizade entre Marcos e Annette, que depois viria a ser sua orientadora na Sorbonne. Estava definida a carreira de Marcos. A peça “misteriosa” que permitiu os primeiros contatos com Gilberto Freyre e que desencadeou sua contratação pela então Universidade do Recife, nada mais era do que a porção terminal de um cachimbo português, que depois, Marcos veio a encontrar aos milhares. Em tom de brincadeira Marcos refere-se a esta peça em sua vida profissional como Patinhas, de Walt Disney, à sua moeda número 1. Os 12 primeiros sítios arqueológicos escavados por Marcos, através do Setor de Arqueologia, que viria a se transformar no atual Laboratório de Arqueologia, foram pesquisados de forma intuitiva, pois não havia formação profissional adequada. Foi o décimo terceiro sítio arqueológico outro marco referencial na vida do jovem Marcos Albuquerque. Ele já era detentor de outros conhecimentos transmitidos pela Dra. Annette no curso realizado no Paraná. Nesta escavação já foi introduzido o conceito de setoriamento, como também de uma coleta estratigráfica. Novos rumos tomaria o Setor de Arqueologia, como também a vida privada e profissional de Marcos. Este sítio localizava-se na margem do Canal de Santa Cruz, onde havia na época apenas 6 casas de veraneio. A área era completamente deserta, salvo em alguns finais de semana que eram ocupadas por seus proprietários. As condições de trabalho eram as mais precárias possíveis. Marcos conseguiu com a Universidade uma barraca e cozinhava sua alimentação em uma panela de barro, em uma trempe. Dependendo da lua, havia um indescritível ataque de maruim (mosquitos imperceptíveis). A pequena movimentação do final de semana transformava-se em uma grande solidão durante toda a semana. Apenas no final do trabalho, que durou meses, Marcos conseguiu às suas custas contratar um operário para lhe ajudar. Toda a escavação, peneiramento, catalogação do material arqueológico era realizada por ele. Em um dos finais de semana as escavações foram visitadas por uma jovem estudante de agronomia. Estas visitas se amiudaram e se transformaram em um namoro. Dentre os planos destes dois jovens constava a preocupação de como concatenar as duas profissões caso este namoro viesse a se transformar em um casamento. O que de fato aconteceu. Cogitou-se que ela, chamada Veleda Christina Walmsey de Lucena, poderia se dedicar a palinologia, pois continuaria no curso de Agronomia dedicando-se a esta especialidade. Que teria como objetivo através da análise dos pólens recompor a vegetação do passado. Esta proposta não chegou a se concretizar.

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Com o passar do tempo, Veleda aproveitou todos os conhecimentos adquiridos no curso de agronomia. Fez um mestrado em geografia, aproveitando seus conhecimentos que foram de extrema utilidade em arqueologia e em seguida um doutorado em arqueologia. Até hoje é uma grande parceira de Marcos e um dos baluartes do Laboratório de Arqueologia. Os dois se completam. Este sitio que foi catalogado como o PE 13-Ln, foi realmente um divisor d’águas na vida profissional de Marcos, como também do Laboratório de Arqueologia da UFPE. Foi constatado que se tratava de uma Feitoria Régia implantada por Cristóvão Jaques em 1516. Ou seja, o local do primeiro desembarque de portugueses, no que viria a ser a Capitania de Pernambuco. Tratava-se de um sítio de contato entre os indígenas locais e europeus em terras brasileiras. E eu tive o privilégio de alugar uma casa neste lugar, para desfrutar as belezas naturais e históricas da região, pois dali se avista a ilha Coroa do Avião e a Ilha de Itamaracá com seu Forte Orange. A descoberta deste sítio teve grande repercussão na imprensa e motivou a apresentação de um trabalho em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. Nesta época a arqueologia dedicava-se apenas a sítios pré-históricos. Dizia-se, nos meios acadêmicos que arqueologia histórica não existia, que não era arqueologia. Este foi outro referencial na vida profissional de Marcos. Foi pioneiro, juntamente com um colega do Paraná e uma colega de São Paulo no desenvolvimento da arqueologia histórica no Brasil. E o mais curioso, neste período estava sendo desenvolvido nos Estados Unidos a History Achaeology e na Europa a arqueologia pós-medieval. O que significa que Marcos encontra-se entre os pioneiros da arqueologia histórica a nível internacional. Na década de 70 as polícias militares eram comandadas por militares do Exército. Houve nesta época uma outra coincidência na vida profissional de Marcos. O comandante da PM de Pernambuco era um coronel do Exercito o Gabriel Duarte Ribeiro. Este coronel havia servido em Suez e tinha uma grande paixão pela história. Em um dado momento chamou Marcos em seu gabinete e lhe perguntou, o que poderia ser feito para que fosse realizado um trabalho conjunto? Marcos lhe respondeu, que poderia ser realizada uma escavação no Forte Orange, na Ilha de Itamaracá. O Cel Gabriel de imediato concordou e colocou uma companhia da Polícia Militar à disposição das escavações. O resultado desta escavação teve repercussão internacional, sendo notícia de primeira pagina do jornal “O Século”, em Lisboa. Logo depois da realização desta pesquisa Gilberto Freyre, que tinha excelentes relações com Portugal, indicou Marcos para realizar um estágio no Instituto de Alta Cultura de Portugal, o que foi realizado em uma citânia lusitano/romana em Guimarães. Muitos outros sítios arqueológicos foram pesquisados até que o Presidente Médici determinou ao comandante do então IV Exercito, Gen Arthur Duarte Candal da Fonseca, que tomasse providencias para que fosse realizado uma escavação arqueológica, no que viria a se transformar no Parque Histórico Nacional dos Guararapes em 1971. A pesquisa arqueológica foi realizada e foram localizados vários esqueletos dos combatentes da Guerra Holandesa. Ali puderam ser identificados três tipos distintos de sepultamento: os que eram encontrados logo depois do combate, foram sepultados em posição tradicional com os braços cruzados sobre o tórax; os que foram encontrados já em rigidez cadavérica e os que foram encontrados posteriormente, já desarticulados pelo processo de decomposição. Portavam um terço de osso, projeteis de mosquete e medida de pólvora. O Parque foi inaugurado pelo Presidente Médici que conversou longamente com Marcos e o estimulou a dar continuidade aos trabalhos de pesquisa. E Gilberto Freira foi o orador da cerimônia principal. Neste trabalho sua filha Juvenita Lucena de Albuquerque, ainda pequena, permaneceu acampada nos Montes Guararapes, e nas horas de folga divertia-se jogando dominó com os soldados na tenda do rancho. Não seguiu arqueologia e hoje é geógrafa, pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco. Inúmeros foram os trabalhos de pesquisa no campo da arqueologia militar desenvolvidos sob a direção de Marcos Albuquerque e sua equipe. Estes trabalhos necessariamente promoveram uma grande aproximação entre Marcos, sua equipe, o Laboratório de Arqueologia e o Exército Brasileiro. Durante um bom tempo Marcos participou do Seminário de Tropicologia com o Gen Lira Tavares, homem culto e de visão larga. Por ocasião da escavação do Forte do Brum tornou-se amigo, dentre outros do Gen Cerqueira Lima, do Cel Bergamo e do então major Dalmo Roriz de Cerqueira Lima, hoje coronel no Clube Militar. Com a intensificação das pesquisas na área de arqueologia militar tem aumentado gradativamente o relacionamento de Marcos como o Exército Brasileiro. Uma boa parte dos componentes da equipe de Marcos foi agraciada com o Diploma de Colaborador Emérito do Exercito. Alguns outros com a Medalha do Pacificador, Veleda, sua inseparável companheira e parceira, com a Medalha do Mérito Militar no Grau de Cavaleiro, Marcos, com o Diploma de Amigo de inúmeros Batalhões, de Amigo da DPHCEx, com a Medalha do Pacificador e com a Medalha do Mérito Militar no Grau de Oficial, Pesquisador Associado do CEPHiMEx e agora tomando posse na Academia de Historia Militar Terrestre do Brasil. Claro está o relacionamento de Marcos e sua Equipe com o Exército Brasileiro. Além dos trabalhos voltados para a área de arqueologia militar, Marcos também atua na área de arqueologia pré-histórica e em atividades acadêmicas. Já desenvolveu vários equipamentos para serem utilizados em suas pesquisas e que hoje são utilizados por diferentes equipes do Brasil e do exterior. Em termos teóricos,

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também desenvolveu métodos e técnicas que são utilizadas em vários países, como a radiologia arqueológica, modelamento matemático para o estudo da cerâmica pré-histórica dentre outras. Atuando initerruptamente em arqueologia desde 1965, costuma sempre dizer que nunca encontrou dois sítios iguais e que sempre procura realizar, a pesquisa do seguinte, de forma mais aprimorada. Por esta razão, já foi convidado para ministrar palestras em varias universidades brasileiras e estrangeiras sobre logística de campo em arqueologia. No campo acadêmico é professor do Programa de Pós-Graduação em Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco, mestrado e doutorado, e já atuou no campo da administração universitária como coordenador de curso, membro do colegiado do Departamento, do Conselho Departamental e de Conselho Universitário. Já dirigiu o Departamento de Extensão Cultural da UFPE, estando sob sua responsabilidade às atividades culturais da UFPE, como o Jornal Universitário, a Revista da Universidade, a Rádio e Televisão da UFPE, além da Orquestra de Câmara e a Orquestra Armorial da mesma universidade. Participa de bancas de mestrado e doutorado em varias instituições universitárias do País, como ainda é consultor ad hoc de varias instituições de pesquisa do Brasil. Dentre as pesquisas que já realizou posso destacar as seguintes descobertas: 1. A Feitoria de Cristóvão Jaques; 2. O local de desembarque do primeiro donatário da Capitania de Pernambuco; 3. O Forte Real do Bom Jesus; 4. O Forte de Orange; 5. O campo de batalhas dos Montes Guararapes; 6. A Igreja de Nossa Senhora das Graças, primeira igreja jesuítica da Capitania e primeiro aquartelamento das tropas holandesas; 7. O Forte de Pau Amarelo; 8. O Forte de Óbidos ou dos Pauixis; 9. As Baterias da Serra da Escama, no Pará; 10. O forte Príncipe da Beira em Rondônia; 11. A Fortaleza de São Jose de Macapá, no Amapá; 12. A Vigia do Curiau, no Amapá; 13. A Colônia Militar D. Pedro II, nas margens do rio Araguari no Amapá; 14. O forte de São Joaquim, em Roraima; 15. O Forte de São Joaquim, em Santa Catarina; 16. O forte Mauricio, em Penedo; 17. O Reduto de Tejucupapo, em Goiana, local em que as mulheres dos combatentes repeliram uma tropa holandesa; 18. O sambaqui da Ilha dos Rosas, no Paraná; 19. A primeira Sinagoga das Américas, a Kahal Zur Israel, construída durante a ocupação Holandesa; Grande parte de seus trabalhos publicados encontram-se já disponíveis na homepage www.brasilarqueologico.com.br podendo ser não apenas consultados como baixados na íntegra. Integra o corpo de acadêmicos da Academia de Letras, Artes e Ciência de Olinda, e pertence a vários Institutos Históricos do País, como ainda a Academia de Historia Militar do Paraguai. No ano de 2005 foi agraciado pelo Conselho Estadual de Cultura de Pernambuco como “cientista do ano”. Desde muito cedo, ou seja, desde a criação do Laboratório de Arqueologia, Marcos se preocupou com a logística que adotaria em suas pesquisas. E também, desde muito cedo percebeu as dificuldades que encontraria na consecução de seus objetivos, em decorrência da burocracia publica brasileira. Passou a adotar uma política, que não aconselha a seus alunos, e que teve, até os dias atuais, a cumplicidade de Veleda. No dia dos namorados ela o presenteava com uma bússola. No Natal ele a presenteava com um altímetro, e desta forma a sua equipe hoje é uma das mais bem equipadas, não apenas só no Brasil. Outro aspecto que reflete esta preocupação logística de Marcos é a de utilizar com propriedade os recursos locais, procurando sempre a melhor forma de executar o seu continuo trabalho de pesquisa nas mais diferentes regiões. A sua experiência, vinda da sua infância muito ajudou em sua trajetória. Equitação, radioamadorismo fora de estrada, ADESG, primeiros socorros e mais uma série de outras experiências, que muito contribuíram para que a equipe que dirige, tenha galgado a posição atual. Marcos nunca está satisfeito, sempre quer aprimorar o desempenho da equipe. Uma experiência que não teve foi a de participar da Maçonaria, apesar de já ter recebido inúmeros convites. A sua personalidade de abraçar com

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responsabilidade tudo que faz, o impediu de aceitar os convites que recebeu, pois a maior parte de seu tempo está em campo, nos mais remotos rincões deste País. A sua equipe, hoje trabalha em vanguarda, tanto na área da arqueologia acadêmica, como na área de arqueologia preventiva, sendo responsável de acordo com a Lei Federal 3.924, por estudos que visam à preservação do patrimônio cultural brasileiro, quando da implantação de grandes empreendimentos, como duplicação de rodovias, implantação de barragens, e tantos outros grandes empreendimentos sejam na área publica, seja na área privada. A logística de sua equipe permite a realização de pesquisas em tempo recorde, primando pela qualidade cientifica e redução dos custos operacionais. Dispõe de equipamentos, por ele desenvolvidos como o Laboratório Móvel, que utiliza em seus trabalhos e que teve repercussão internacional, como de outros equipamentos que visam à otimização de seus trabalhos. E tudo começou com 60 jumentos, depois comprou um jipe com reboque, passou para uma Rural Willis com treiles e suas pesquisas nas trincheiras de Tejucopapo foram apoiadas por este equipamento. Seguiu-se a aquisição da linha Gurgel X12, X15 e depois para a Kombi, que não aprovou por falta de conforto e operacionalidade. A minha vida de historiador e pesquisador se confunde com a sólida amizade, que me une ao casal Marcos e Veleda desde 1997, quando integrei os quadros da Diretoria de Assuntos Culturais, transferido da 2ª Divisão de Exército de São Paulo, acompanhando o Gen Morgado. Naquele mesmo ano conheci o Prof. Dr. Marcos Albuquerque nos Montes Guararapes, aos quais dois anos depois, passei a adminstrá-lo como Cmt do 14º BIMtz Regimento Guararapes. Nascia assim uma forte amizade que nos une até hoje. Somos como irmãos. Trabalhamos juntos nas pesquisas históricas e de campo em quase todos os sítios históricos dos combates da Restauração Pernambucana. Batalhamos pela 3ª Batalha dos Guararapes, que seria a retirada das famílias das áreas invadidas e a construção do Mirante, Museu e Anfiteatro ao ar livres. Do encontro sobre História Militar com a reitora da UFPE em 1998 surgiu, por intermédio do Gen Morgado e Gen Castro, a idéia de se criar um curso de História Militar. O qual se tornou realidade em 2000, com a perceria do Departamento de Ensino e Pesquisa e a UNIRIO. O qual funciona até hoje, no IGHMB na Casa Histórica de Deodoro, sendo ampliado à distância com a UNISUL. Marcos, também foi pioneiro estava presente neste encontro. Ele intercedeu junto ao Gen Pamplona - Cmt Mil do NE para minha nomeação para o Cmdo do 14º BIMtz. E ele e sua equipe me ajudaram muito no comando, na reestruturação da pista de cordas, do açude e nas pesquisas históricas nos Monte das Tabocas, reconhecendo o itinerário dos patriotas para aquela batalha, sendo reconstirtuído o combate, com a Marcha da Vitória. Ao passarmos por um eucaliptal eu disse: "que cheiro de Sauna". Participamos da encenação das Heroínas de Tejucopapo, onde as mulheres venceram os holandeses. Visitei suas escavações no Forte do Brum, no Forte Orange, na 1ª Sinagoga das Américas em tantas, que até perdi a conta. Mais um momento histórico marcou minha vida de pesquisador foi me tornar membro de sua equipe de trabalho, como consultor em história militar e participar da inauguração do Laboratório Móvel. Após a execução do Hino Nacional foi distribuído uma tesoura a todos os presentes, de modo a que, todos cortassem simultaneamente, a fita de inauguração do Laboratório Móvel, que hoje é referência mundial. Este gesto coletivo demonstrou o reconhecimento da participação de todos no crescimento do seu Laboratório de Arqueologia, sua atenção para com todos os que o cercavam. Naquele momento ressaltei a parceria que o Laboratório de Arqueologia mantém com o Exército, no estudo das fortificações brasileiras e nas pesquisas históricas. O seu laboratório móvel presta um inestimável serviço à cominidade, incentivando os jovens na busca do conhecimento e no patriotismo. Com suas viaturas faz a limpeza do terreno antes das escavações e enquanto uma turma de visitação desce do Laboratório Móvel, outra se prepara para entrar. Isso não pára. A sua inseparável Veleda, sempre presente, pesquisadora, dedicada e profunda conhecedora da história pernambucana faz o trabalho interno, enquanto Marcos faz o externo. Um procura, encontra e recolhe e outro estuda, analisa e cataloga. Dupla perfeita. Veleda, considere também pártice desta posse na AHIMTB. Marcos continua ativo, sempre aprimorando a operacionalidade da equipe que dirige e nunca satisfeito com o já conquistado. Procura sempre incutir em sua equipe, que não existe nada, por melhor que seja, que não possa ser melhorado. Com estas palavras encerro a apresentação de quem, divulga e preserva a memória do patrimônio histórico e cultural do Exército. E tem escrito em seu laboratório móvel o seguinte lema: "a sociedade que não conhece seu patrimônio, não tem perspectiva de futuro". Hoje, nesta cerimônia, juntos como no passado inauguraram o PHNG, arqueólogo Marcos Albuquerque e o historiador Cláudio Moreira Bento, se irmanam aqui, na nobre missão de estudar e pesquisar a história militar brasileira.

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De braços estendidos e corações abertos, em nome da Federação das Academias de História Militar Terrestre do Brasil e da Academia de História Militar Terrestre do Brasil/Rio de Janeiro, proclamamos: seja muito bemvindo, Prof Dr Marcos Antônio Gomes de Mattos de Albuquerque “Indiana Jones Brasileiro”. Obrigado! ____________________________________________________ Cel Cláudio Skora Rosty – Ch Sec Pesquisa do CEPHiMEx Acadêmico ocupante a cadeira especial José Gonsalves de Melo

Discurso de posse na Academia de Historia Militar Terrestre do Brasil Prof. Marcos Albuquerque Excelentíssimas autoridades presentes, veteranos da II Guerra Mundial, que em muito engrandeceram o nome de nossa Pátria e de nosso Exercito, membros da Academia de Historia Militar Terrestre do Brasil, meus amigos: A data de hoje constitui-se em um dia muito especial em minha vida, tanto pessoal como profissional. Tentarei, com algumas palavras, retratar a significância deste episodio para a minha vida, sem que procure ordenar ou priorizar fatos, pessoas ou datas, o que seria impossível e que me conduziria a erros imperdoáveis. A minha posse na Academia de Historia Militar Terrestre do Brasil revestese de nuances próprias e únicas que a diferenciam de outras honrarias de que fui alvo ao longo de minha vida profissional. Tudo conspirou para que este fosse um momento muito especial para quem se dedica a arqueologia militar desde os idos de 1965. O local da posse não é um auditório qualquer. Constitui-se em um santuário onde repousam os mortos que tombaram em nome de nossa Pátria, da liberdade mundial, independentemente de classe social, origem étnica, ou religiosa. Ser empossado neste Santuário, o que ocorreu por mera “coincidência”, reveste-se de uma tonalidade especial, por ter como testemunhas os nossos combatentes heróis, vivos e mortos. Heróis que enfrentaram o calor de uma guerra, embora no frio a que não estavam acostumados, e conseguiram vencer. Vencer em condições demasiadamente adversas. O Exercito de então se encontrava despreparado para uma empreitada de tamanha monta. Adversidades de clima e de logística foram superadas pela tenacidade de nossos combatentes. A eles, vivos ou mortos, meu respeito e admiração. Alias, melhor dizendo, sempre vivos, pois assim deverão permanecer na memoria nacional. Outro aspecto que muito me honra e sensibiliza é o fato de hoje integrar as fileiras desta Academia, referencia internacional nos estudos de Historia Militar. Não apenas por me tornar acadêmico, mas de ser convidado e empossado pelo seu presidente, o Cel Cláudio Moreira Bento. Figura ilustre, de grande cabedal histórico e um dos grandes baluartes da historiografia militar brasileira. Não apenas o conheço, como acompanho seus ensinamentos de longa data. Muitos de seus tratados colaboraram em nossas pesquisas no campo da arqueologia militar. Embora tenhamos passado muitos anos distantes fisicamente, estivemos muito perto do ponto de vista intelectual. Nos idos de 70, eu, como um jovem arqueólogo, 15


conheci o também então jovem major Bento. Este encontro aconteceu por ocasião das escavações que dirigi nos Montes Guararapes, que viria a se tornar o Parque Histórico Nacional dos Guararapes. Ele aprofundou-se nos estudos de Historia militar, com uma vasta produção, e eu dei prosseguimento ininterrupto aos estudos de arqueologia militar. Hoje, depois de décadas, nos encontramos novamente para continuar somando esforços em prol deste segmento do conhecimento intrinsecamente relacionado com a própria Historia do Brasil. Ter como meu padrinho o Academico Cel Claudio Skora Rosty, constitui-se também em um outro aspecto que marca de forma indelével este dia. Amigo, irmão, e companheiro de varias batalhas que travamos juntos em prol do conhecimento da Historia Militar brasileira. O conheci quando integrava a então Diretoria Cultural do Exército, a antiga DAC. Naquela época apenas desempenhava o seu trabalho como “missão”. Porém, logo em seguida envolveu-se de tal forma com a História militar que na atualidade transformou-se em uma verdadeira “obsessão”. Não mais consegue separar sua vida privada da Historia militar. Ser investido na categoria de Academico desta Instituição pelo seu presidente, o Cel Bento, e ter a insígnia aposta em meu pescoço pela Prof. Dra. Veleda Lucena, aumenta em muito a minha responsabilidade para com a arqueologia militar. Veleda também se encontra envolvida desde os primeiros passos nas minhas lides com a arqueologia militar. Trabalhou em Guararapes, em Tejucupapo, em Orange, no Brum, em Óbidos, na Serra da Escama, em São José de Macapá. Guerreira que me fornece ânimo nas horas difíceis e que compactua com a vida de pesquisador que tanto nos une e aproxima. Na qualidade de primeiro ocupante da Cadeira Gilberto Freyre tenho o dever de dizer algumas palavras sobre o meu patrono. Talvez esta seja das tarefas mais difíceis, pois não é fácil se falar sobre este intelectual brasileiro que tanto engrandeceu o nosso País. Homem múltiplo de múltiplos saberes. Gostava de ser chamado de “sociólogo-antropólogo”, entretanto a ambos transcendeu. Escritor, politico, artista, ecologista e tantas outras denominações que se lhe poderia atribuir, mas que todas eram menores do que a sua fantástica capacidade interdisciplinar de ver a realidade, de sentir e interpretar o mundo. Utilizava com muita frequência a frase “a experiência do saber vivido”. Não como frase de impacto, mas sim como lição de vida. Sabia extrair grandes lições de fatos simples e, sobretudo, sabia correlaciona-los, alias uma característica de grandes pensadores. Quantas maçãs não devem ter caído sobre varias cabeças antes da que caiu sobre a de Newton? Gilberto viveu sua vida intensamente e soube tirar lições de todas as suas experiências por menor que elas fossem. Sempre procurava explicar a razão das coisas. Não de uma forma simplória, mas sempre procurando inter-relacioná-las com a realidade. Nasceu no alvorecer de um novo século que foi antecedido por grandes modificações e inovações ocorridas no século XIX. Vivenciou grandes mudanças politicas, econômicas, sociais, de estilo de vida, de concepção de mundo. 16


Nasce no dia 15 de março do ano de 1900, em Recife, um garoto que viria a ser reconhecido internacionalmente pelo seu saber múltiplo. Do tranquilo bairro dos Aflitos sai para sua primeira experiência rural aos nove anos de idade. Estando em um engenho, começa já em sua tenra idade, a estabelecer comparações com sua experiência urbana. Aos 14 anos já ensina latim, aos 18 viaja para o Texas e matricula-se na Universidade de Baylor onde teve experiências com um geólogo fruto de seus interesses multifacetados. Em 20 ingressa na Universidade de Columbia onde estabeleceu contatos com grandes expoentes da intelectualidade da época. Dentre os grandes expoentes que contactou, acredito que Franz Boas teve uma grande influencia em sua vida intelectual. Em 22 defende sua tese Social Life in Brazil in the Midedle of the 19th Century, que foi o embrião de Casa Grande e Senzala, que viria a escrever mais tarde. Em 24 funda-se o Centro Regionalista do Nordeste. O movimento regionalista acompanhou Gilberto até o final de sua vida. Não um regionalismo isolacionista, mas integrado a outros regionalismos e realidades, tanto que em 26, promove o 1º Congresso Brasileiro de Regionalismo. Em 27 passa a conhecer as nuances politicas mais de perto quando assume o cargo de oficial de gabinete do novo Governador de Pernambuco, Estácio de Albuquerque Coimbra. Esta experiência o conduziu ao exilio acompanhando Estácio Coimbra. É nesta oportunidade que conhece parte do continente africano, (Dacar, Senegal), que o aproxima ainda mais da cultura africana. Em 31, recebendo convite da Universidade de Stanford, segue para os Estados Unidos, como professor extraordinário. Em 33, conclui e publica Casa Grande & Senzala. Em 34, já com uma grande bagagem sobre a cultura africana, organiza no Recife o 1º Congresso de Estudos Afro-Brasileiros. Em 35, dirige na Universidade do Distrito Federal o primeiro curso de Antropologia Social e Cultural da América Latina. Nesta oportunidade já procura relacionar os estudos humanísticos com a ecologia. Em 38, na Universidade de Colúmbia, dirige um seminário sobre Sociologia e História da Escravidão. Em 42, foi preso no Recife, por ter denunciado, em artigo publicado no Rio de Janeiro, atividades nazistas e racistas no Brasil, inclusive as de um padre alemão. Juntamente com seu pai, reage à prisão, quando foi levado para "a imunda Casa de Detenção do Recife", sendo solto, no dia seguinte, por interferência direta do seu amigo General Góes Monteiro. Em 45, toma parte ativa, ao lado dos estudantes do Recife, na campanha pela candidatura do Brigadeiro Eduardo Gomes à presidência da República. Em 46, foi eleito deputado federal voltando a ter um contato mais direto com a politica. Em 48, convidado pela Unesco, toma parte, em Paris, no conclave de 8 notáveis cientistas e pensadores sociais, reunidos pela Organização das Nações Unidas para estudar as "Tensões que afetam a compreensão internacional". Profere conferencia no Ministério das Relações Exteriores, a convite do Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (Comissão Nacional da Unesco) sobre o conclave de Paris, o que repete na Escola do Estado-Maior do Exército. Em 54, foi escolhido pela Comissão das Nações Unidas para o estudo da Situação Racial na União Sul-Africana, como o antropólogo mais capaz para opinar sobre essa situação. Visita o referido país e apresenta à Assembléia Geral da ONU um estudo por ela publicado no mesmo ano: Elimination des conflits et tensions entre les races. Em 61 profere na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco uma conferência sobre "Homem, cultura e trópico" iniciando as atividades do Instituto de Antropologia Tropical, criado naquela Faculdade por sua sugestão. As suas preocupações com o mundo tropical começam a se institucionalizar. Em 66, por sugestão sua, funda-se na Universidade Federal de Pernambuco o Seminário de Tropicologia, de caráter interdisciplinar, inspirado pelo seminário do mesmo tipo, iniciado na Universidade de Colúmbia pelo professor Frank Tannenbaum. Este Seminário era composto por especialistas de diferentes áreas que opinavam sobre um tema comum, definido para cada mês. Como membro deste Seminário, tive a oportunidade de participar de varias de suas reuniões. Foi neste Seminário que conheci o Gen Lyra Tavares, homem de ampla cultura, não apenas militar, mas também detentor de diferentes saberes. Viria a reencontra-lo em 73, como 17


Embaixador do Brasil na França, oportunidade em que estudei na Sorbonne. Em 71, tendo sido finalizada a escavação arqueológica que realizei nos Montes Guararapes, Gilberto Freyre discursou como orador oficial, na solenidade de inauguração do Parque Nacional dos Guararapes, no Recife, efetuada pelo Presidente Emílio Médici. Ainda no mesmo ano a Rainha Elizabeth lhe confere o título de Sir (Cavaleiro Comandante do Império Britânico). E, em 87, vem a falecer no Hospital Português, às 4 horas da madrugada de 18 de julho. Embora em rápidas pinceladas tenha falado sobre Gilberto, desde seu nascimento até a sua morte, todos os presentes devem ter absoluta certeza de que seria impossível citar todas as atividades intelectuais deste personagem, patrono da cadeira que passarei a ocupar. Falar de sua produção ou de seus títulos e comendas ocuparia toda a sessão. Falarei agora, também em rápidas palavras, como um jovem estudante se aproximou de um personagem de tamanha gramatura intelectual. Durante uma aula de antropologia física, participei de uma prospecção realizada pela disciplina, nas ruínas do Forte de Pau Amarelo. Um pequeno fragmento encontrado chamou a atenção. Todos os alunos e mesmo o professor, não puderam identificar a peça. Um colega de turma, o Roberto Harrop, trabalhava com Gilberto Freyre e me convidou para lhe mostrar o achado. Como sempre, Gilberto curioso, mas sem saber de que se tratava, me encaminhou a um especialista que também não soube identificar a peça. Foi cogitado que poderia ser o “bico de uma chaleira”. Teve assim início o meu contato com Gilberto. Alguns meses depois, sabendo do meu interesse por arqueologia, Gilberto Freyre me convidou para participar de uma expedição que ocorreria em todo o nordeste do Brasil, chefiada por dois arqueólogos norteamericanos. Lembro-me, como se fosse hoje, de suas ultimas recomendações antes de minha partida: “leve uma caderneta para fazer anotações, para não parecer que você está indo passear”. Não apenas levei a “recomendada” caderneta como apresentei um relatório de viagem que impressionou bastante o exigente Gilberto. Logo que teve oportunidade, me convidou para trabalhar com ele na então Divisão de Antropologia Tropical, recentemente criada na Universidade Federal de Pernambuco. Ficaria responsável pelo que viria a ser o Setor de Arqueologia da referida Divisão. Dei inicio a um levantamento de sítios arqueológicos, mesmo considerando as precárias condições de trabalho. A peça “rara”, encontrada nas ruínas do forte, não passava do encaixe do tubo de um cachimbo, de origem portuguesa, que viria a ser encontrado aos milhares nas pesquisas que se sucederam. Isto ocorreu no ano de 1965. Três anos depois, em 1968, Gilberto me recomendava para fazer um estagio no Instituto de Alta Cultura de Portugal onde tive a oportunidade de estudar a cerâmica de uma Citânia de contato lusitano-romana. No meu retorno de Portugal participei com mais quatro colegas da Divisão de Antropologia Tropical de um projeto intitulado “Tipos Antropológicos no Romance Brasileiro”. Esta foi uma experiência muito interessante, pois cada um de nós lia um romance por semana procurando nos personagens características físicas, de personalidade, tanto entre os heróis como entre os vilões. O foco buscado pela hipótese de Gilberto era de que, com a mudança da sociedade novos tipos surgiriam nos personagens do romance. A ascensão social da mulher, heróis negros e mulatos, pôde ser correlacionada com as mudanças sociais de cada época. De modo análogo novas características de personalidade povoaram os vilões do imaginário brasileiro. Esta pesquisa forneceu a todos os participantes uma visão das mudanças sociais ao longo dos tempos, pois cada um de nós teve a oportunidade de ler 1/5 de todos os romances publicados no Brasil até aquele momento. Estas reuniões eram extremamente produtivas, pois Gilberto sempre as balizava com seu vasto conhecimento. Esses contatos, no mínimo semanais, eram de grande valia para o nosso aprendizado. Aprendizado não apenas referente ao trabalho que executávamos, mas, sobretudo como experiência de vida. Pudemos captar parte do modo de 18


pensar e de agir de Gilberto. Aprendemos a ensinar e a cobrar. Nunca estava satisfeito com os resultados obtidos, sempre queria mais. Acreditava que não havia nada que não pudesse ser piorado, ou nada, que por melhor que fosse não pudesse ser melhorado. Detinha a qualidade de chefe e líder. O seu exemplo impedia deslizes. A convivência com Gilberto foi extremamente útil na minha formação. Quando acreditava em alguém, depositava toda a sua confiança. Tive o privilegio de ele ter acreditado em mim. Tinha uma forma muito especial e particular de cobrar as tarefas atribuídas. Gostava de comer bem, conhecia vários povos e seus costumes, falava com conhecimento do “saber vivido”, outra de suas frases lapidares. Desfrutando de um prestigio internacional, conhecia pessoalmente a maioria dos autores dos mais diferentes saberes, uma das razões que viria a despertar contra si uma mórbida inveja, sobretudo por parte de pseudo intelectuais. Outro fardo que carregou durante sua vida foi a incompreensão por parte dos que não o conseguiam acompanhar em seu pensamento e conclusões. Incompreensão que se traduziu em imputarem-lhe a pecha de racista e de defensor do escravismo. Com um conhecimento multifacetado e sobretudo com a experiência de vida em diferentes culturas, concluiu que o escravismo no Brasil português teve características diferenciadas dos vivenciados em outros países de diferentes colonizações. Não que tenha defendido o escravismo mas, procurou demonstrar que, embora não deixasse de ser cruel, possuía características diferenciadas no Brasil. Basta comparar a distancia racial ainda hoje presente nos Estados Unidos como também em outros países como a África do Sul. Não conhecia fatos no Brasil onde o negro não pudesse transitar na mesma calçada em que caminhava um branco, ou que o negro tivesse que se sentar nas ultimas cadeiras de um coletivo, ou mesmo se levantar para ceder seu lugar a um branco. Em primeiro lugar que branco no Brasil? Gilberto não defendia o escravismo, como também nunca defendeu outras idéias de que foi acusado. Hoje, depois de décadas de sua morte, vários centros que o acusavam estão passando a entendê-lo e estuda-lo. Não foi diferente com outros grandes pensadores. Gilberto sempre esteve à frente de seu tempo. Devo a Gilberto Freyre ter acreditado em um jovem estudante que queria fazer arqueologia em uma época em que não se falava em arqueologia em Pernambuco. Como também a ele devo grandes ensinamentos que me fizeram ver o mundo de outra forma diferente da que era acostumado a enxergar como oriundo das ciências chamadas exatas. Ao ingressar na Academia de Historia Militar Terrestre do Brasil, como primeiro ocupante da Cadeira Gilberto Freyre, sinto a grande responsabilidade que passa a pesar sobre meus ombros. Farei todo o possível para honrar esta Casa do Saber, seu Presidente e grande historiador militar, o Cel Claudio Moreira Bento, meu padrinho e amigo, o Cel Rosty, meus ilustres confrades e o patrono da Cadeira que passo a ocupar, Gilberto Freyre. Espero poder continuar dando minha contribuição nas pesquisas na área de arqueologia militar em sintonia com os diferentes saberes desta Academia, pois tenho absoluta certeza de que uma sociedade que não conhece seu passado não tem perspectiva de futuro.

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SAUDAÇÃO DE POSSE AO Gen Bda R1 Marcio Tadeu Bettega Bergo pelo Cel Cláudio Skora Rosty Confesso, diante dos acadêmicos presentes e diante de todos que aqui estão, nesta manhã maravilhosa, neste salão Nobre da nossa casa de trabalho, de estudos e pesquisas de história Militar – Palacete Laguna, que é uma grande honra e uma imensa satisfação, apresentar um amigo, um companheiro de pesquisas históricas, o chefe do CEPHiMEx. E mais do que isto, apresentar o mais novo integrante da AHIMTB. Um grande estudioso, estrategista, pesquisador e preservador da nossa memória, dos nossos valores e do nosso patrimônio histórico e cultural. O dia 30 de novembro é uma data importante para todos nós. Primeiro por estarmos comemorando dois anos de profícuo labor nas lides da preservação e difusão da história militar e da memória histórica do patrimônio cultural do Exército Brasileiro. Segundo por estarmos apresentando o Gen Bda Marcio Tadeu Bettega Bergo - Chefe do CEPHiMEx, para ocupar, como 2º Titular da cadeira Nº 32 do Gen Div Eng Mil Francisco de Paula Azevedo Pondé, sucedendo por jubilação, o Acadêmico Eng Mil Christóvão de Ávila Pires Jr.

CURRICULO VITAE POSSE AHIMTB – Marcio Tadeu Bettega Bergo O Gen Bda R1 Marcio Tadeu Bettega Bergo, nasceu em 17 de fevereiro de 1953, na cidade de Juiz de Fora – MG . Filho de Felicidade Espírito Santo Bettega Bergo e de Christiano Paulo de Campos Bergo. É casado com a Professora de ensino fundamental e médio - aposentada - Maria Cristina Luvizotto Bergo. Possui uma filha, Ana Cláudia, advogada. Seu sonho era cursar a Força Aérea, mas quis o destino, que fizesse seus primeiros estudos no Colégio Militar de Curitiba,PR, onde se distinguiu por suas notas e aplicação escolar, sendo o Porta Bandeira daquela instituição. Cumpriu com sua obrigação de cidadão com a Pátria, cursando o Centro de Formação de Reservistas (CFR). Seu batismo na caserna foi na Granja Palmital, campo de instrução do 20º BIB, realizando a marcha de 24Km e o acampamento da instrução básica. Foi formado em Intendência, pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em 1974, possui todos os cursos da carreira militar, incluindo os de mais elevado nível: o Curso de Política, Estratégia e Alta Administração do Exército (CPEAEx), da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), e o Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), da Escola Superior de Guerra (ESG). É titulado “Mestre em Operações Militares” e “Doutor em Operações Militares”. Possui ainda o curso de Gerenciamento de Defesa, da Escola de Pós-Graduação Naval, US Navy (Marinha dos EUA). É detentor de variadas medalhas e condecorações. Foi observador Militar das Nações Unidas em Angola, UNAVEM - 1989. Na vida civil, é bacharel em Administração de Empresas e em Ciências Contábeis. Possui cursos de pós-graduação lato sensu, MBA Executivo e MBA Planejamento e Gestão Estratégica, ambos na Fundação Getúlio Vargas.

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Tem vasta experiência profissional na área da Logística e do Planejamento Estratégico. Como instrutor da ECEME, desempenhou funções no CPEAEx e foi chefe do Centro de Estudos Estratégicos e da Divisão de Política e Estratégia. Coordenou o Grupo de Trabalho (GT) de Acompanhamento do Conflito do Golfo, em 2003, com diversas inserções nos meios de comunicação, resultando no registro de Trabalho Meritório no Exército, “Acompanhamento do Conflito do Golfo”, na categoria Assunto Profissional de Interesse Militar. Como Comandante de Apoio Regional da 1ª Região Militar, coordenou atividades de gerenciamento de Pessoal Inativo e de Pensionistas, de Produtos Controlados e de Assuntos Patrimoniais. É autor de “O Pensamento Estratégico e o Desenvolvimento Nacional (Uma proposta de Projeto para o Brasil)”. São Paulo, SP. MP Editora: 2007; 2ª edição: 2008. Trata-se de obra onde, analisando o panorama mundial do século XXI e aplicando metodologia de planejamento estratégico, propõe medidas que transformam estruturas do Brasil, agindo sobre as principais causas dos problemas nacionais, e lhe propiciam melhores condições de progresso e bem-estar. Tem diversos trabalhos acadêmicos publicados. Muitas de suas proposições, principalmente na área da Logística, são utilizadas nos estudos e trabalhos em vigência no processo de modernização do Exército Brasileiro. Teve publicação de sua autoria citada no Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford (“Working Paper” nr CBS-85-07). Tem ministrado aulas em diversas instituições de ensino e proferido palestras em seminários e painéis, sobre os temas “Logística”, “Estratégia” e “Desenvolvimento Nacional”. Seu último cargo na ativa foi o de Assistente Militar do Comando da Escola Superior de Guerra (Rio de Janeiro - RJ), integrando a Direção da Escola, e, também, Diretor do Curso de Logística e Mobilização Nacional (CLMN). Como membro do Corpo Permanente, se fez presente em eventos ligados às áreas de Estratégia e de Defesa, participou de estudos diversos e coordenou o Grupo de Trabalho de modernização do Método de Planejamento Estratégico da ESG. Participou do Ciclo de Palestras “Exército Brasileiro Sempre em Ação” - Comando Militar do Nordeste - Centro Cultural dos Correios, Recife, PE, 26 de abril de 2012. Ultimamente proferiu palestras sobre a Logística Brasileira na Guerra da Tríplice Aliança e na FEB no - I Seminário de História da Guerra da Tríplice Aliança e no I Seminário Nacional sobre o Brasil na II Guerra Mundial realizado no Museu Militar Conde de Linhares. Chefiou o III e IV Ciclo de palestras de História Militar da DPHCEx; - a I e II Jornada de Estudos sobre História Militar; - o I e II Seminário de História Antiga e Medieval; - o I Seminário da Guerra da Tríplice Aliança; e - o I Seminário Nacional sobre o Brasil na II Guerra Mundial.

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E participou recentemente do  IV Encontro Internacional de História das Operações Bélicas da Guerra da Tríplice Aliança em Corrientes, Arg. –visitou o sitio histórico da batalha do Riachuelo. É um entusiasta por ferrovias e gostaria de ver seu Clube esportivo Atlético Paranaense sempre com este placar, mas nem sempre é possível. Atualmente, é Prestador de Tarefa na Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército (DPHCEx), no Rio de Janeiro, onde chefia o Centro de Estudos e Pesquisas de História Militar do Exército (CEPHiMEx). Atua, ainda, na Diretoria Executiva da ADESG (Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra), como 2º Vice-Presidente. É Sócio Titular do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (IGHMB), onde ocupa a cadeira nº 105, patrona Profª Therezinha de Castro. De braços estendidos e corações abertos, em nome da Federação das Academias de História Militar Terrestre do Brasil e da Academia de História Militar Terrestre do Brasil/Rio de Janeiro, proclamamos: seja muito bem-vindo, Gen Bda Marcio Tadeu Bettega Bergo. Tome assento da cadeira Nº 32 como 2º titular da Academia de História Militar Terrestre do Brasil, que a partir de hoje, também é vossa. Obrigado! ____________________________________________________ Cel Cláudio Skora Rosty – Ch Sec Pesquisa do CEPHiMEx Acadêmico ocupante a cadeira especial José Gonsalves de Melo

Gen Bda R/1 Marcio Tadeu Bettega Bergo ORAÇÃO DE POSSE DE SAUDAÇÃO AO PATRONO E AO OCUPANTE ANTERIOR Exmos Sres Gen Tibau e Gen Eduardo, mais altas autoridades militares presentes. Senhor Cel Bento, ilustre Presidente desta FAHIMTB. Caros acadêmicos, colegas. Senhoras e Senhores. Todos que nos honram com suas presenças que, desde já, agradeço. É com imenso orgulho que, nesta cerimônia, recebo as insígnias de membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB), destinado a ocupar a Cadeira de número 32. Ao apreciar as gentis palavras de recepção com as quais fui brindado pelo caro amigo e confrade, Cel Rosty, não pude deixar de pensar na vida e nas voltas que ela dá, avaliar os diferentes rumos que nosso destino toma! Recordo que, na infância, a profissão desejada para o futuro era a de maquinista de trem. Talvez seja a explicação do gosto pelos assuntos ferroviários! Depois, ao findar os estudos do antigo ginásio, os exames e a tentativa de ingresso na Aeronáutica, frustrada pela reprovação no exame de vista. Em seguida, veio o ingresso no Colégio Militar de Curitiba e a posterior matrícula na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), seguindo, então, minha carreira no Exército. Na carreira, as experiências foram se acumulando, principalmente na área da Logística (e aí ressurgem as ferrovias, importantíssimo modal de transporte, como objeto de estudos!) e na de Política e Estratégia, primeiro com os encargos profissionais realizados ao longo do tempo e, mais recentemente, com os cursos e as funções na Escola

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de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) e na Escola Superior de Guerra (ESG). Após trinta e nove anos de serviços, chegou a transferência para a Reserva e, com ela, um convite para um novo desafio, agora integrar o Sistema Cultural do Exército, gerenciando a implantação e o funcionamento de um Centro de Estudos e Pesquisas de História Militar. Centro este que hoje completa dois anos de existência e que, no âmbito das celebrações, hospeda esta cerimônia. Aqui, pude agregar mais uma extensa área de conhecimentos, tarefa bastante facilitada pela afinidade temática. Tudo tem a ver! Ao estudar e trabalhar com História Militar, pode-se perceber as ligações dela com diversos setores, pode-se entender o desenvolvimento de nações, de doutrinas militares e de equipamentos. Como se sabe, as guerras e os conflitos tem íntima relação de causa e efeito com a Geopolítica, esta explica aqueles e eles interferem nesta. Também se relacionam com os materiais de emprego militar, pois são eles que permitem ao Soldado se empenhar no combate, dão-lhe proteção, permitem que ele desempenhe as suas missões da melhor maneira. Agora, avulta a área da Engenharia! Pois bem, como dizia no princípio, tais relações me vêm à mente, agora. Pois quis o destino que, ao ser empossado no Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (IGHMB), eu recebesse a Cadeira que tem como Patrona a Profª Therezinha de Castro, saudosa mestra, de quem tive o privilégio de ter sido aluno na disciplina Geopolítica. E nesta ocasião, em que me integro à AHIMTB, venho ocupar uma cadeira que remete à Engenharia Militar: São Engenheiros Militares tanto seu patrono como seu primeiro ocupante. Christóvão de Ávila Pires Jr, a quem não me foi concedido o privilégio de conhecer pessoalmente, é historiador, pesquisador e membro de diversas Instituições acadêmicas ligadas à História, à Geografia e à Cultura. Nasceu em Niterói, RJ, em 1935. Engenheiro de Fortificação e Construção pelo Instituto Militar de Engenharia - IME, foi professor de Arquitetura no IME e na Pontifícia Universidade Católica PUC-RJ. Em 1989 fundou o Centro Cultural e de Pesquisas do Castelo da Torre, sendo o seu presidente. Desenvolve o Armorial Histórico da Casa da Torre, uma importante coleção de Brasões de Armas, não somente do Brasil, mas de todo o Novo Mundo. Profere conferências e palestras enfocando a importância da preservação, valorização e difusão do Patrimônio Histórico e Cultural Brasileiro. É autor de “Brasões de Armas - Armorial Histórico da Casa da Torre de Garcia d'Ávila”. O Engº Christóvão inaugurou a Cadeira que ora ocupo. O Patrono, que dá nome a ela, é o General de Divisão Engenheiro Militar FRANCISCO DE PAULA E AZEVEDO PONDÉ. Da mesma forma, não tive a honra de conhecê-lo pessoalmente, mas pude saber de seu modo de ser, de sua capacidade de liderança e de argumentação, além de seu trabalho, em conversas com companheiros que com ele trabalharam diretamente. Nasceu em 1905, Salvador, BA e faleceu em 1996, Rio de Janeiro. Era Engenheiro Industrial e de Armamento, além de Master of Science in Engineering pela Universidade de Michigan, EUA. Foi Professor, por nove anos, na antiga Escola Técnica do Exército (atual IME). Neste, foi também Professor Emérito. Foi Diretor da Fábrica do Andaraí (munições) e do Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro. Como Oficial-General, foi Diretor de Fabricação e Recuperação do Exército, em 1965/66. Em 1967 cursou a Escola Superior de Guerra (ESG), onde se diplomou no Curso Superior de Guerra (CSG). Vejo aí mais uma coincidência, pois meus últimos anos na ativa foram passados naquela Escola, onde, ainda hoje, sigo ministrando aulas. Fora do Exército, o Gen Pondé foi Diretor Financeiro da Companhia Nacional de Álcalis (1972 a 1979). Dentre as variadas comendas recebidas, se destacam a de Grande Oficial da Ordem do Mérito Militar, a Medalha Militar de ouro, com passador de platina e a Ordem do Mérito Aeronáutico. Foi Presidente do Instituto Histórico e Geográfico da Cidade e do Estado do Rio de Janeiro (1975 a 1982), Sócio Benemérito do IGHMB e seu Presidente (1983-1986), além de Sócio Benemérito e Diretor Financeiro (por cinco anos) do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Desempenhou cargo no Conselho Editorial da BIBLIEX, do qual exerceu a Presidência e foi Sócio correspondente de vários institutos históricos estaduais e municipais.

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Interessante como a roda das coincidências e ligações não para, o Gen Pondé era filho de um médico. E foi seu pai quem examinou, no desempenho profissional, os restos do líder insurgente de Canudos, revolta acontecida nos sertões da Bahia entre 1896/1897. Pois a Guerra de Canudos está diretamente ligada à Intendência, à qual me orgulho de pertencer, pois foi a ação do então Ministro da Guerra, Marechal Carlos Machado Bittencourt, que, ao estabelecer linhas de suprimento de materiais e de víveres, possibilitou o fim do conflito. Por esta razão Bittencourt é o Patrono da Intendência do Exército Brasileiro. (*) O Gen Pondé foi autor de vários livros e teve diversos artigos publicados. Dentre suas obras, se destacam, como principais: História da Administração no Brasil; General de Gaulle; Manuscritos da Casa do Trem; O gás na iluminação e calefação da cidade do Rio de Janeiro; A defesa militar do porto e da cidade do Rio de Janeiro; A energia elétrica no Brasil - da primeira lâmpada à Eletrobrás. Por tais obras, pode-se avaliar seu interesse por temas de grande relevância para que os brasileiros conheçam melhor o seu País. Apenas como exemplo, cito a Casa do Trem, objeto de atenção com a coleta e a organização de manuscritos de incalculável valor. Esta edificação, o atual Museu Histórico Nacional, foi erigida em 1762, destinada à guarda dos armamentos (Trens de Artilharia) das novas tropas enviadas por Portugal para reforçar a defesa da cidade. Ali se estabeleceu a Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, criada em 1792 que, após a chegada da família real, foi substituída pela Academia Real Militar, um dos embriões do Ensino Superior no Brasil. Desta derivaram, na vertente do Ensino Militar, a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e, no ramo do Ensino de Engenharia, a Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a “Politécnica” de hoje. Assim, fica comprovada a dedicação de tão notável acadêmico às coisas da Engenharia e das lidas militares. Desta forma, sinto-me extremamente honrado com a escolha de meu nome e o convite para integrar tão seleta agremiação. E, neste momento solene de posse, ao relatar um pouco das vidas de meu predecessor e de meu Patrono, ao destacar as coincidências da vida, cito mais uma, ainda, que é a de ter me casado com uma Professora, igualmente da disciplina História, Maria Cristina, aqui presente. A História Militar é uma ferramenta importantíssima para a manutenção do entusiasmo profissional. Ao manter vivas as lembranças das grandes realizações, ela atua como supridora de energia vital, nos estimulando e impulsionando no caminho do bem. A profissão militar exige dedicação, ânimo e altruísmo. Em nosso meio, nos inspiramos naqueles que nos antecederam, miramos seus bons exemplos. E, também, olhamos para aqueles que vêm depois de nós, os mais jovens, transmitindo-lhes ensinamentos e buscando igualmente lhes fornecer dignos modelos de procedimento. Este é o inquestionável valor e a incalculável importância da História Militar na compreensão e perpetuação das nossas tradições, crenças, idiossincrasias e modo de agir. Assim, ao assumir a Cadeira 32, reforço os propósitos de, no que for possível, prosseguir nos estudos e na divulgação da História Militar e dos temas decorrentes e academicamente conectados, objetivando sempre corresponder à confiança em mim depositada e honrando a memória do Gen Pondé. A História Militar segue transmitindo valores, de geração em geração. E as coisas da alma do bom Soldado permanecem, ainda que com o passar dos anos. Nossos antecessores, mesmo com a idade já chegada, não deixam de nos servir de espelho. Uma vez soldado, sempre soldado! Muito obrigado! (*) - Tal assertiva não pronunciei no momento, pois este relato me foi transmitido posteriormente, pelo nosso Presidente, Cel Bento. Porém, julgo-o por demais elucidativo e me permito inseri-lo aqui, para realçar os aspectos que nos permitem conhecer mais o Patrono da Cadeira que passo a ocupar.

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SAUDAÇÃO DE POSSE AO CORONEL CARLOS ALBERTO NACCER Oração de Recepção de Israel Blajberg em nome da AHIMTB

Sr Pres e Fundador da FAHIMTB Cel Cláudio Moreira Bento Prezados Confrades Sr Gen EDUARDO, Dir DPHCEX Sr Gen BERGO, Chefe do CEPHiMEx que abriga esta sessão, Srs Of Gen, Oficiais e Praças Senhoras e Senhores Fico honrado em saudar nesta sessão ao Coronel CARLOS ALBERTO NACCER, ingressando como 2º. Titular da Cadeira 44 – Cel Anibal Barreto, sucedendo o saudoso Acadêmico Cel João Ribeiro da Silva, que inaugurou a Cadeira, Cumpre-me assim transmitir um breve relato de seu extenso currículo, uma folha de serviços que muito acrescenta a noss Academia. Esta grata incumbencia não poderia se dar em momento e local mais oportuno: comemoramos o 2º. Aniversario do CEPHiMEx no tradicional Palacete Laguna que hoje abriga o Guardião da memória, das tradições e dos valores do Exército Brasileiro Gracioso prédio do Bairro Imperial, na rua que leva o nome do Gen Canabarro, estilo sóbrio e elegante, tradicional morada de tantos Ministros. Valores muito fortes estão aqui presentes. As recordações fluem pelos pensamentos... Ainda há pouco, caminhando pela calçada defronte, nos veio fugaz lembrança, armazenada em algum canto da memória, dos tempos em que por aqui passavamos a caminho do antigo CPOR, hoje o magnifico MMCL, como se o antigo Ministro, acompanhado pelo Comandante do I Ex, estivessem para atravessar o portão a qualquer momento, recebendo as honras de estilo pela guarda formada diante do Palacete. Assim peço a devida venia ao ilustre empossado, para recordar algumas passagens alusivas a este que agora é o seu local de trabalho, e de tantos outros companheiros que aqui se encontram. A meio caminho entre o Maracanã e a praça da Bandeira, às margens do rio do mesmo nome hoje canalizado, situa-se o elegante próprio nacional, antiga residência oficial do Titular da Pasta da Guerra. Para os que passam diariamente as suas portas, indo ou vindo apressados do trabalho, breves momentos contemplativos enquanto o sinal não abre sugerem intrigantes questões sobre eventuais mistérios... o que teria acontecido por dentro destes muros e grades Durante anos e anos nenhuma placa ou sinal indicativo sugeriu a real função deste conjunto. O público apenas intuia que se tratava de uma área militar, dadas as sentinelas que se postavam diuturnamente atentas nas guaritas. Até que o Palacete Laguna, assim denominado em 1953 como homenagem aos bravos que participaram da grande retirada, passou a sediar um espaço cultural. Possivelmente a maioria dos passantes não se dá conta de que episódios importantes da Historia do Brasil aconteceram neste local, eis que em 1944 passou a ser a residência oficial dos Ministros da Guerra, tendo como primeiro morador o General Eurico Gaspar Dutra. Construção típica do Primeiro Império, reformas e restaurações entretanto conservaram antigas paredes de alvenaria, com até um metro de espessura. O que elas não teriam presenciado ... em volta, na residência depois gabinete de despachos após a mudança da capital, ecoaram vozes de Ministros e Comandantes ao longo de períodos críticos, como a participação do Brasil na 2. Guerra Mundial, a morte de Getúlio, novembro de 55, crises,

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revoltas, 1964, e tantos outros episódios que fazem estas antigas paredes rescenderem a historia,. Na casa cor de rosa, morou o Chalaça, Mordomo do Paço do Primeiro Reinado, Francisco Gomes da Silva, o favorito de D. Pedro I. Personagem folclórico, integrou a comitiva de D. João VI. culto e fluente em línguas, Boêmio, facilitava os amores reais em suas incursões noturnas. Sua atuação não era bem vista por setores da Corte, entre os quais o Marques de Barbacena. Após ser nomeado Encarregado de Negócios do Brasil em Nápoles jamais retornou ao Brasil, encerrando assim seu papel de confidente de D. Pedro Local de reuniões preparatórias do episódio histórico da maioridade de D. Pedro II em 1840, já em 1909 abrigou a Intendência da Guerra, servindo posteriormente de residência do Comandante do 9°. Regimento de Cavalaria, sede da Diretoria do Serviço de Remonta em 1925, Diretoria do Depósito de Material Sanitário do Exército; na década de 40 veio a ser restaurado para tornar-se residência do Ministro da Guerra. Durante tantos anos vazio, sonolentas sentinelas relatavam ruídos e lampejos vindos não se sabe donde ... vultos na madrugadas de São Cristóvão Imperial porque os solares e mansões deixados ao leu no entorno da Quinta da Boa Vista costumam receber visitas de seus antigos habitantes... príncipes, princesas, cortesãos, O Palacete chegou a abrir suas portas para a inauguração de um novo centro cultural, até que oportuna decisão sob a égide da DPHCEX tornou possível que este mesmo ambiente acolhedor e inspirador que um dia favoreceu tantas decisões históricas, passasse a abrigar os estudos e pesquisas do CEPHiMEx. Hoje se completam 2 anos de profícuas atividades, os portões fechados durante tanto tempo abertos, recebendo pesquisadores e estudiosos, uma nova vida que segue .... Assim, é neste ambiente de ricas tradicoes que a Academia se apresta a receber em seu seio, prestando justa homenagem, ao aplicado estudioso da temática histórica militar, Coronel Naccer, Chefe da Seção de Heráldica e Medalhística deste Centro de Estudos e Pesquisas de História Militar do Exército (CEPHiMEx), vinculado a Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército (DPHCEx). Cel Naccer ingressou na vida militar em 1980: declarado Asp pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) em 1987, tornando-se mais um ilustre integrante da Arma do Brigadeiro Sampaio, a Eterna Infantaria. a mística daqueles tempos saudosos iria acompanhá-lo dali para a frente. uma jornada que iria marcar a sua vida, tomando os primeiros contactos com a disciplina militar prestante, de que falava Camões. O patriotismo, a disciplina consciente, as atitudes individuais, o método, o respeito e o companheirismo, foram os grandes ensinamentos recebidos pelo jovem cadete, consolidando o cidadão conscio do seu papel na sociedade. Assim, foi com esta bagagem que o Cel Naccer iniciou sua careira, desempenhando-se com o denodo que todos conhecemos Como oficial, teve a oportunidade de realizar cursos de especializações e estágios militares; de receber condecorações e de servir em diversas Organizações Militares. Em 2005, 2009 e 2010, comandou 57 BIMtz Es, herdeiro das ricas tradições do REI Regimento Escola de Infantaria

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Em 2011 chefiou a Seção de Planejamento e Coordenação da DPHCEx. Do currículo de militar, acadêmico e educador destaca-se: Curso de Operações na Selva, Categoria “B”, conhecido como “Guerra-na-Selva”; Pós-Graduação em História Militar por convênio do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx) com a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e com o Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (IGHMB); Nosso mais novo confrade com muita dedicação concluiu o mestrado na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) em 1995, e o Curso de Altos Estudos Militares, na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) em 2006 / 2007. Ao longo desta uma profícua carreira, Coronel Naccer exerceu a docência, sempre como voluntário, integrando ainda Bancas de Avaliação do Curso de Especialização de História Militar ministrado pela UNIRIO em conjunto com o IGHMB. Foi autor de unidades didáticas do material de apoio ao Curso de História Militar à distância da UNISUL e tutor, não remunerado do mesmo curso. Possui trabalhos publicados na Revista do Exército Brasileiro e na Revista Verde Oliva, tais como: “O Regimento Sampaio”, “O Brasão das Armas Nacionais”, “As Condecorações do Brigadeiro Sampaio”... Além de defender duas dissertações sobre a “História ou a Evolução dos Uniformes”. Foi palestrante em várias oportunidades e em diversas instituições, tais como a DPHCEx, o CEPHiMEx, o IGHMB, o IDMM, a UNB, a UNIRIO, a UFF, a UFRJ, a ECEME, a EsLog, normalmente abordando temas de História Militar ou de suas áreas de estudo: a Heráldica, a Medalhística e os Uniformes Militares. Diversas instituições o requisitaram para prestar consultoria sobre suas área de estudo, como a Força Aérea Brasileira, a Polícia Militar do Rio de Janeiro, a Academia Brasileira de Farmácia, a Associação Cívico Cultural: “A Defesa Nacional”, o IDMM, a Potência Maçônica: “Grande Oriente do Brasil”, e a UFPE, dentre outras, sempre o fazendo de forma graciosa, tendo como única e maior retribuição, o reconhecimento, pois como já dizia Berne, o criador da Analise Transacional, em seu famoso principio, o reconhecimento está para a psiquê assim como o alimento está para o corpo. Participou de diversos congressos ou simpósios, apresentando trabalhos de História, tais como o Congresso Internacional e os da Associação Nacional dos Professores Universitários de História. Por este precioso rol de realizações, mereceu ingressar em renomados sodalicios, sendo Sócio Emérito do IGHMB, integrante da Associação Cívico-Cultural A Defesa Nacional (ADN); e membro do Instituto dos Docentes do Magistério Militar (IDMM); Cel Naccer recebeu os títulos de Comendador da Ordem do Mérito do Magistério Militar; Cavaleiro da Ordem do Mérito da Defesa; e foi agraciado com a Medalha Marechal Trompowsky; Medalha-Prêmio “Thomas Coelho” do CM, em ouro, por aplicação em estudos; e com a Medalha do Pacificador, dentre outras; pertenceu a Legião de Honra e Comandou o Corpo de Alunos do Colégio Militar do Recife em 2003. Em fevereiro de 2012, passou para a Reserva e tornou-se Pesquisador do CEPHiMEx.

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Estamos recebendo, pois, um destacado personagem da nossa área cultural, Portanto, é com grande jubilo que a Academia se engalana para recebe-lo, Cel Naccer. Doravante, esta é também a sua casa, que o acolhe na certeza de que muito contribuirá com as suas multiplas qualidades para enriquece-la com a sua importante contribuição. Seja benvindo, que D_us o proteja.

Oração ao Patrono – Cel Carlos Alberto NACCER O Coronel Annibal Barreto é o Patrono da Cadeira nº 44 da AHIMTB. O Militar nasceu em 16 de outubro de 1899, no Ceará, e fez a passagem em 29 de novembro de 1964. Filho de Aristides Barreto e Rita Ferreira, sentou praça em 29 de abril de 1919 completando, em 1º de dezembro de 1959, 36 anos e 4 meses de serviço. Foi aluno da Escola Militar do Brasil, em Realengo, além de aluno da EsAO e da ECEME. Serviu em diversas Unidades Militares como o 23º BC, o 2º RI, o 20º BC, o 11º RI, 14º RI, 10º RI, a 2ª DI, a 2ª Bda, 14º RI e o CMRJ. Serviu, ainda, na Diretoria de Infantaria e no Batalhão Escola, ao qual eu tive a honra de comandar por três anos, atualmente designado: 57º BIMtz (Escola), o Regimento Escola de Infantaria, o REI ! Pertenceu, também, à 1ª DI, à Escola Preparatória de Fortaleza, ao 3º RI, ao EME, à 8ª RM e ao CPOR de Porto Alegre. Deixou-nos, de legado, seus inestimáveis exemplos em sua brilhante carreira. Como Historiador Militar, foi autor da obra que hoje nos serve de referência: “Fortificações do Brasil’’. Produziu, ainda, diversos trabalhos nesta área de estudos. O respeitado Historiador e Museólogo Gustavo Barroso, prefaciou a referida obra da qual extraio as seguintes palavras: “Nas suas páginas, que representam admirável labor de pesquisa, se encontram os resumos históricos de cada uma de nossas fortificações, não só aquelas principais, como as de menor importância, simples redutos ou baterias, alguns de efêmera existência. Bem hajam os estudiosos pacientes e dedicados das nossas coisas que, como o Coronel Barreto, se debruçam sobres velhos mapas e empoeirados livros de assentamentos, sobre papeladas amareladas e roídas de bichos, para de tudo isso extraírem os dados seguros que vão permitir aos seus leitores a compreensão e o conhecimento do passado. Percorrer este ótimo livro de ponta a ponta é fazer circuito de todo o Brasil: de Tabatinga a Macapá, de Macapá à Lagoa dos Patos, desta à Coimbra, daí ao forte do Príncipe da Beira, pelo imenso cinturão de suas obras de defesa. Ao Coronel Annibal Barreto felicito pelo seu magistral trabalho e agradeço a honra que me deu em fazer sua apresentação’’. Coronel Annibal Barreto, o Senhor, do Oriente Eterno, sente a minha vibração em ocupar a cadeira, como segundo titular, da qual vossa senhoria é o Patrono. Para mim, não é só uma honra, mas também um privilégio, estar relacionado ao seu nome. Elogio ao Acadêmico Sucedido O Coronel João Ribeiro da Silva me precedeu como titular da Cadeira que ora ocupo. Nasceu no Rio de Janeiro, em 31 de janeiro de 1928. Formado em Geografia, História e Matemática pela Universidade do Paraná, pós graduou-se em Orientação Educacional e realizou o mestrado em Estudos de Problemas Brasileiros. Foi professor dos Colégios Militares de Curitiba, de Porto Alegre e do Rio de Janeiro. No Centro de Estudos de Pessoal, ocupou as cadeiras de Metodologia da Pesquisa em Educação, Sociologia Educacional e ainda foi Chefe da Seção de Idiomas. Este notável educador recebeu diversas condecorações onde se destaca a de Cavaleiro da Ordem do Líbano. Realizou, ainda, diversos cursos de extensão, inclusive o de Política e Estratégia da Escola Superior de Guerra. Foi membro do IGHMB e da ADESG; e participou de diversos congressos internacionais, sempre representando bem nosso país. Entre os trabalhos realizados e divulgados destacam-se: “O Homem Brasileiro’’; “O Sistema de Desenvolvimento Nacional’’; “Geopolítica Nacional e Problemas Geopolíticos’’; “O Processo de Urbanização no Brasil’’; e “O Brasil e o Sistema de Segurança Continental e Coletiva’’. O Coronel João Ribeiro da Silva inaugurou a Cadeira nº 44 que agora eu tenho a honra de ocupar. Honraria que faz minha responsabilidade, como historiador, aumentar exponencialmente.

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Ilustre Coronel, que o Grande Arquiteto do Universo me ilumine, para que eu possa ser digno de tal empreitada. Obrigado Cel Bento pela minha admissão na Academia; agradeço ao meu Padrinho, o Cel Rosty, pela indicação, fico lisonjeado pelas palavras do Professor Israel; bem como parabenizo os demais empossados pelo êxito alcançado. Agradeço, ainda, aos convidados por suas presenças nesta cerimônia; e a minha esposa e família pelo incentivo e pela compreensão. Muito obrigado!

Editor Eng Israel Blajberg Presidente AHIMTB / RJ iblaj@telecom.uff.br Rio de Janeiro – RJ 20 fev 2013

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