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ENTREVISTA
from Ed160
by Aspa Editora
Marcos Antonio Carpeggiani,
presidente da ABIARB e do SINDIBOR, e diretor-geral da Zana ex Borrachas, com participação de Reynaldo Lopes Megna, presidente executivo da ABIARB.
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Assista pelo QRCode a essa entrevista e também a cerimônia de premiação TopRubber.
A cerimônia de premiação do TOPRUBBER 2022 foi precedida de uma entrevista conduzida por Antonio Carlos Spallett a, Publisher de Borracha Atual, com Marcos Antonio Carpeggiani, presidente da ABIARB e do SINDIBOR, e diretor-geral da Zanafl ex Borrachas e Reynaldo Lopes Megna, presidente executi vo da ABIARB. Os temas tratados foram principalmente o mercado de borracha no Brasil, as mudanças trazidas pelos efeitos da pandemia da Covid-19, além, claro, da EXPOBOR e PNEUSHOW, eventos organizados pelas enti dades que comandam. BORRACHA ATUAL – Qual o panorama do mercado de borracha brasileiro e mundial?
MARCOS CARPEGGIANI: É di� cil defi nir o que é atual nesse mundo de mudanças constantes. O panorama atual não é um sen� mento do dia. Às vezes é o sen� mento de um, dois meses atrás. A cada dia que acordamos, os panoramas, os cenários mudam rapidamente. Acredito que isso irá con� nuar constantemente em nossas vidas. Os sintomas da pandemia ainda se fazem presentes. Aqui no Brasil esperava-se que fossem amenizados desde o fi nal do ano passado, mas com a virada do ano, com as festas de fi nal de ano, fomos surpreendidos já em janeiro e isso afetou bastante. A indústria foi bastante afetada já em janeiro por paralisações. Para se ter uma ideia específi ca, da série histórica que temos na Zanafl ex, janeiro foi o pior mês. Histórico!
E normalmente, janeiro é um mês bom... os colaboradores estão voltando...
Marcos: Sim, estão voltando, mas falo de afastamentos por Covid. E isso aconteceu como regra geral. Então, para uma
indústria que esperava voltar forte em janeiro, já � vemos algumas ocorrências ruins. Se bem que agora o panorama já melhorou bastante. Mas já temos aí, dentro do cenário atual, que não é restrito ao Brasil, um cenário de infl ação alta, os juros também vêm subindo junto com a infl ação e isso preocupa um pouco no movimento de recuperação.
A causa disso pode ser creditada à conjuntura internacional?
Marcos: Sim, podemos creditar à conjuntura internacional e afi rmar, felizmente, quando olhamos para os números de encerramento que são ofi ciais do IBGE, do CAGED, é que o setor da indústria de borracha cresceu neste ano, mesmo quando comparado com outras indústrias de transformação em geral. A nossa produção � sica industrial aumentou 18,5% em relação à recuperação que � vemos nos anos de 2020 e 2021, o que é normal.
Estamos falando do setor de artefatos de borracha?
Marcos: Exatamente. Agora, de janeiro a março (não temos os números de abril ainda), foi de 11,9%.
Estes resultados são bons?
Marcos: Sim! São números bons comparados aos de outros setores que � veram retração – principalmente o setor da indústria automobilís� ca com o qual a borracha tem uma coligação muito forte. Outros números indicam movimentações signifi ca� vas em relação à exportação. As exportações cresceram 28% em relação a 2020 e começamos a observar uma pequena queda no primeiro trimestre de 2022, de 15%, em relação ao ano passado.
Estas exportações destinam-se a quais países ou continentes?
REYNALDO MEGNA: As exportações de artefatos de borracha são prio-
Da esquerda para direita: Antonio Carlos Spalletta, Publisher de Borracha Atual, Marcos Antonio Carpeggiani, presidente da ABIARB e do SINDIBOR, e diretor-geral da Zanafl ex Borrachas e Reynaldo Lopes Megna, presidente executivo da ABIARB.
ritariamente para a Argen� na (36%), Estados Unidos (13%), Paraguai (7%) e Colômbia (6%). Quanto às importações, destacamos que se referem somente aos artefatos de borracha que compõem o capítulo 40, especifi camente, excetuando-se matérias-primas e pneumá� cos, inclusive reformados – embora na reforma de pneus o número de importações seja bem pequeno. As importações deste mesmo grupo advém da China (20%), Malásia (14%) – e quando falamos em Malásia, não falamos em borracha natural, matéria-prima e insumo que não compõe esse grupo, Estados Unidos (13%) e Tailândia (7%). Esses são os principais países da balança comercial dos artefatos de borracha do Brasil que compõem o nosso consumo aparente nacional.
Qual é a situação das empresas brasileiras dentro dessa conjuntura atual, principalmente em relação às difi culdades logísticas e a falta de matéria-prima?
Marcos: De um modo geral, há vários impactos que as indústrias estão vivenciando hoje em dia, principalmente na questão da logís� ca. Esse é um problema que afeta o Brasil e o mundo e não conseguimos fugir desse efeito. Temos o incremento dos custos do frete internacional, e sabemos que a indústria brasileira depende em grande parte da importação de alguns componentes, principalmente de produtos químicos, aceleradores, de alguns elastômeros especiais que são importados e o frete encareceu. Quando essa discussão chega no âmbito comercial com o cliente, ele trata somente do produto e não do frete – que às vezes subiu sete, oito vezes. Esse impacto na indústria é grande e tem que ser considerado. Outro fator que temos visto é o tempo e a demora, estendendo o lead ti me. Hoje os inventários muitas vezes estão dentro dos navios e as empresas necessitam de um capital de giro muito maior.
©BORRACHA ATUAL
Marcos Antonio Carpeggiani.
Estima-se que 30% dos navios estão parados nos portos, ou pelo problema da Covid na China ou da falta de matéria-prima. Essa é uma realidade que atrapalha?
Marcos: Totalmente! Falando nos aspectos que mais a� ngem o Brasil, o que podemos afi rmar é que hoje a cadeia está toda interligada. Na produção de um automóvel que tem mais de mil componentes, se faltar um, o automóvel não sai da linha. É muito importante que haja uma reorganização dessa cadeia logís� ca global e o Brasil não está isento disso. Como também é muito ní� do o cenário de semicondutores da indústria automobilís� ca, que está longe de ser resolvido. A indústria brasileira está trabalhando em soluços, principalmente a automobilís� ca, onde vemos um para e anda, para e anda e isso acontece de um modo que toda a cadeia recebe a no� cia de um modo repen� no. Chega segunda-feira, para uma determinada linha por falta de componente, a cadeia para e sofre a consequência como um todo. Sabemos que a indústria automobilís� ca é carro-chefe de grande parte dos setores industriais no Brasil e no mundo.
A falta de semicondutores tende a fazer as empresas a priorizarem modelos mais caros, ou no caso do Brasil de veículos pesados. Isso tem ocorrido com a indústria de artefatos de borracha?
Marcos: Exatamente. O valor agregado do ti cket de venda é muito importante para a indústria automo� va que fará essa opção, sim. Dentro do que é comunicado como falta borracha, temos que se especifi car exatamente o que é falta borracha dentro da cadeia de suprimentos. Muitas vezes a mídia fala que falta borracha, mas o conceito do que é borracha é bem amplo. Muitas vezes um pneu é considerado borracha e tem sua classifi cação fi scal, tem a en� dade que cuida deste produto, que é a ANIP e temos que nos preocupar muito com esses fatos. Dentro do Brasil não tem sido no� ciada tanta falta e interrupção dos artefatos de borracha para a indústria automobilís� ca. Isso também porque a demanda está muito baixa, ou seja, a capacidade instalada ociosa hoje é enorme dentro da indústria de artefatos.
Temos uma capacidade de produção de 4,5 milhões de veículos.
Marcos: Exato! E a produção está muito aquém disso, mal chegando a 2,2 milhões de unidades. Muito do que é no� ciado não é verdade. Temos que inves� gar melhor o que de borracha estaria faltando para que outras indústrias estejam parando. O Brasil está em uma posição privilegiada, exceto pela questão dos semicondutores e das difi culdades logís� cas, que afetam a todos globalmente. No mundo todo há uma infl ação alta e dentro da indústria da borracha é normal observarmos que o faturamento das empresas cresceu muito. O real por quilograma cresceu signifi ca� vamente.
Em valores absolutos?
Marcos: Não vemos o poder de compra do consumidor acompanhar o mesmo índice infl acionário dos produtos manufaturados. Isso é uma grande preocupação, porque em certo momento tudo isso se refl e� rá no consumo.
As coisas estão fi cando mais caras, o povo ganha menos e assim deixa de comprar. A lógica é essa?
Marcos: Basicamente é isso. Juros altos, infl ação alta, um poder de compra reduzido e é por isso que muitas vezes vemos a difi culdade, inclusive do crédito. A taxa de fi nanciamento subiu muito, a Selic subiu demais e isso difi culta. Mas essa é uma taxa de acomodação, que o mercado vai absorvendo ao longo do tempo e se adequando.
Quanto tempo para o mercado absorver isso e voltar ao normal?
Marcos: Hoje está di� cil fazer previsão. Mas considerando os cenários existentes, se as pessoas colocam tudo sobre risco e começam a fazer planos de ação para melhorias, com certeza em algum momento as ações vão se encaixando e indo para o seu lugar correto. Acredito que de 2023 em diante o cenário estará bem melhor, com soluções para a questão de semicondutores junto à indústria automobilís� ca. Essa volta ao normal terá uma acomodação de produção, sem falta de automóvel e nem interrupção da cadeia, além de um processo logís� co normal ao longo
do tempo e equalizado. Acredito que os preços dos fretes internacionais não cairão em função do preço do petróleo, que vai permanecer alto, mas deverá voltar a um patamar mais compe� � vo. A questão do lead ti me deverá diminuir e tudo se ajeitará. É como se � véssemos embaralhado tudo e as coisas terem fi cado fora de ordem. A pandemia não terminou e seus efeitos recentes são sen� dos na China. Esses lockdowns afetarão o transporte marí� mo, onde os portos já estão conges� onados. O lead ti me está aumentando e essa polí� ca chinesa de Covid Zero paralisa as a� vidades na própria China, que hoje é muito representa� va e causa uma dependência global muito grande de materiais que provêm de lá.
O novo presidente da ANFAVEA falou que há 29 novas fábricas de semicondutores sendo construídas. Quantas no Brasil?
Marcos: A informação que tenho é que há necessidade de localização de produção. Ou seja, é importante para soluções futuras se pensar na logís� ca e como vai funcionar a cadeia de suprimentos.
Como as novas indústrias de artefatos de borracha nessa conjuntura podem criar indústrias novas aqui para não fi car totalmente dependentes do mercado externo ou de sistemistas externos? A indústria da borracha pode aproveitar essa nova onda?
Marcos: Sempre acredito que existe a oportunidade mediante os cenários que hoje ameaçam as paralisações da indústria nacional se aproximar muito dos clientes para a solução dos problemas. Observamos que as importações caíram e há uma preferência maior pelo consumo interno. Mesmo porque algumas contabilizações que não exis� am no passado passam a pesar bastante, que é o frete. É o tempo de transporte. Então, hoje coloca-se sob risco se há certeza que o embarque ocorrerá no navio ou não. É di� cil. Vai haver transbordo? Sim ou não. Se você rastrear um navio hoje verá que muitas vezes transbordou cinco vezes a carga até chegar ao des� no e atrasou 30, 60 dias.
Aí nos deparamos com o problema brasileiro da receita federal. Caso o importador pegue um canal amarelo ou vermelho fi cará mais quinze, vinte dias por exigência de documentação. Tudo isso é muito a favor da produção local.
Principalmente aqui no Brasil, algumas matérias primas não estão com a oferta muito folgada, mas somos autossufi cientes em outras como negro de fumo, SBR e borracha nitrílica. O Brasil não está mal posicionado. A indústria brasileira é compe� � va. O dólar a deixa em um patamar que a mantém compe� � va. Temos condições, junto com a indústria automobilís� ca de aumentar muito a exportação.
O Brasil está bem posicionado?
Marcos: Acredito que o Brasil vai se posicionar melhor. Na crise da Criméia, em 2014, o Brasil se favoreceu. Agora na questão da Rússia, o Brasil também pode se favorecer. Temos que aproveitar e não só enxergar fatores nega� vos. Claro que temos problemas estruturais, vários problemas a serem resolvidos. A tributação é um problema comum a toda a indústria. Ela tem que se unir para resolver, junto com suas en� dades, as en� dades maiores como a FIESP, aqui em São Paulo, a CNI...
Quais os maiores problemas da indústria da borracha e da indústria brasileira atualmente?
Marcos: Podemos separar os problemas específi cos da indústria da borracha e os problemas comuns da indústria. É uma condição sine qua non a questão da tributação. É um problema que tem que ser resolvido. Não há uma indústria que não reclame do sistema de tributação. É complexo, muda diariamente, é di� cil se adaptar dentro da indústria, os custos de adaptação são totalmente absorvidos pela indústria, ou seja, as penalizações são altas, os riscos são altos e temos a insegurança jurídica que vem por trás disso. Muito disso que aplicamos no dia a dia de tributação é julgado e isso afasta muito inves� mento e com certeza também o capital estrangeiro. Resolvendo isso, vai atrair o inves� mento estrangeiro.
Estamos sofrendo um processo de desglobalização e talvez seja melhor concentrar a produção localmente?
Marcos: Está sob julgamento esse processo de globalização. As tensões geopolí� cas aumentaram muito no mundo em relação aos úl� mos 30 anos. Tivemos um período de muita estabilidade e agora começamos um momento de muita instabilidade. A tendência, quando temos tensões geopolí� cas é de voltar ao processo de internalização da produção, como os Estados Unidos estão fazendo. E a Europa já iniciou esse movimento quando percebeu que estava criando, na indústria da borracha, uma dependência muito grande de produtos químicos em relação à China. Acredito que tem que ser reestudado e rever a aproximação de locais em termos de logís� ca mais próximos da produção e do consumo.
Nessa conjuntura poderia ser interessante para as multinacionais produzirem no Brasil?
Marcos: Há vários fatores nega� vos que podem infl uenciar para que isso não aconteça.
Primeiro, como já falamos, é a tributação. Depois, o preparo da mão de obra. Muitos dos planos futuros que teriam que vir para o Brasil necessitariam de um plano mais de longo prazo. Inves� mentos que possam ocorrer aqui, como o de semicondutores, é de longo prazo sendo uma decisão de que caminho percorrer para o futuro em relação a determinadas indústrias. Isso falamos muito em relação à indústria automo� va que poderá seguir soluções para cada con� nente e temos aqui soluções ó� mas para o Brasil. Temos o etanol, temos exemplos de motores a combustão a etanol e híbridos com etanol, gerando muito menos emissão de gás carbônico do que um veículo elétrico na Europa. A decisão do inves� mento para o Brasil para certas empresas culminava em ir para o hidrogênio, ir para o carro elétrico ou ir para o carro a combustão. E a indústria da borracha toma a carona em todas essas decisões de inves� mento. Temos que olhar claramente para onde vai a indústria consumidora, para onde vai o consumo futuro.
A borracha vai se benefi ciar com a eletrifi cação da mobilidade brasileira?
Marcos: É di� cil responder, porque as projeções para o Brasil, por enquanto, para os próximos anos, não são o� mistas em relação à produção de carro elétrico aqui. Es� mamos que em 2030, 2035 talvez, possamos ter 10% dos carros vendidos (o que é pouco, em relação às outras tecnologias). É uma decisão ainda da indústria automo� va qual o caminho percorrer, mas com certeza um carro elétrico terá menos componentes de borracha que um carro de motor a combustão. Por outro lado, o carro com motor a combustão híbrido elétrico tem mais componentes. Depende muito desse caminho. Os inves� mentos que serão feitos no Brasil e no mundo têm fundamental importância nos estudos da cadeia desde o início até o fi nal. Muitas vezes, afi rma-se que é melhor comprar um carro elétrico para não gerar gás carbônico na atmosfera. Tudo bem, isso é uma decisão individual. Só que se na somatória da cadeia de fabricação que temos lá na ponta, que para produzir uma bateria é necessário movimentar 250, 270 toneladas de minério e que isso consumiu pneu, combus� vel e gerou muito CO2. Em quantos anos haverá o balanceamento? Então temos que avaliar muito bem o negócio em si no planejamento. Qual tecnologia cada país vai escolher? Por exemplo, o Japão está indo para o caminho do hidrogênio, Europa está em eletrifi cação e o Brasil talvez vá para outros caminhos. Mas é muito importante que se decida um caminho. Um caminho tomado errado signifi ca prejuízo ou então até uma questão de não con� nuidade.
Caso o Brasil continue a usar o etanol nos motores a combustão, poderíamos ser fornecedores mundiais de autopeças para esses motores, enquanto outros países estão eletrifi cados? É uma oportunidade?
Marcos: Vai depender muito do consumidor. Ou seja, muito da questão da comprovação daquilo que se quer. O grande obje� vo que as empresas de capital aberto estão se pronunciando, do ESG, vão no sen� do da valorização da ação dessas empresas em prol do movimento do meio ambiente, do social e da governança.
Se conseguir fabricar um produto que gere esses bene� cios, ele vai vender. Ou seja, se um motor a combustão via etanol for mais efi ciente que uma solução elétrica para um país que não tem condições de produzir energia elétrica, que não seja via combus� vel fóssil, talvez isso seja sim uma oportunidade. Temos visto vários aspectos de regulamentação ou de padronização, como no caso dos pneus – e muito poucos consumidores compram pneus olhando o selo de iden� fi cação. Pode ser que o automóvel no futuro já saia com essa padronização de geração de gás carbônico. E aí já fi ca uma opção para o consumidor. Aí é que eu digo que às vezes a solução do motor híbrido possa ser a solução ideal para aquele país.
Então é só planejar, cumprir e executar?
Marcos: Sim. É só fazer isso...
Existe uma real falta de técnicos especializados para a formulação da borracha?
Marcos: A pergunta vem bem de encontro à formação. Um sistema de educação bem preparado acaba formando bons profi ssionais. A indústria precisa estar preparada é para as transformações. Os mesmos países que decidiram já fazer o processo de eletrifi cação não têm profi ssionais sufi cientes para as novas montagens de empresas. Ou seja, não adianta criarmos empresas se não
� vermos profi ssionais para operá-las. Precisa ter bons programadores. A eletrifi cação de automóveis precisa de muita programação. Onde estão os programadores? E a formação tecnológica? Não adianta somente idealizar as coisas e sim fazer todo um planejamento. E a mão de obra é um desafi o não só para o Brasil, mas para o mundo inteiro na direção que os inves� mentos irão tomar.
Temos uma escassa formação de mão de obra, mas algumas de muito boa qualidade. Essa carência também é vista em outros países que acabam “roubando” os bons profi ssionais. Isso tem solução? Só patriota fi ca no Brasil?
Marcos: Tudo depende muito do retorno fi nanceiro. Por quê as pessoas vão embora do país? Às vezes é um desafi o profi ssional. Muitas vezes é o salário e a segurança do país aonde se vai viver. O Brasil precisa resolver seus problemas conjunturais para que as pessoas fi quem aqui. Sempre acreditei que para que as pessoas trabalhem dentro da empresa, não só de borracha, tem que remunerar bem. É preciso remunerar bem um técnico de borracha, precisa dar valor às coisas produzidas aqui. Muitas vezes não é culpa da indústria. É culpa da tributação, do sistema. Devemos resolver nossos problemas mais pesados como a tributação e a questão de ter uma polí� ca industrial – porque hoje há uma ausência de polí� ca industrial. Não sabemos aonde a indústria vai estar daqui a vinte anos, enquanto a China já planejou para cinquenta anos. É diferente você ter um planejamento e não saber aonde vai chegar ou não ter uma representa� vidade no governo. Hoje somos carentes de representa� vidade no congresso.
Dá para afi rmar que o planejamento não é o forte do brasileiro?
Marcos: Sim. A época da improvisação já passou?
Reynaldo: Essa é uma situação delicada para o setor privado, produ� vo. Porque o governo não oferece condição para o setor privado se planejar adequadamente. Tivemos há pouco a revogação de uma redução do IPI, e aí foi criado um limbo jurídico em que não se sabe que IPI você deve recolher porque estão ligados aos produtos fabricados na Zona Franca de Manaus. Todos os produtos que possuem processo produ� vo básico publicado por portaria e estão proibidos, no caso, foram excetuados do decreto no que tange à redução do imposto. E quais são esses produtos? E aí entramos em dúvida na área tributária, um exemplo dentre muitos que acontecem todas as semanas e que tornam a vida do empresário um desafi o inimaginável.
Isso pode acontecer?
Reynaldo: Foi o ministro Alexandre de Moraes quem editou o decreto, excetuando esses produtos da lista. Não entro no mérito se está correto ou não proteger uma polí� ca de produção na Zona Franca de Manaus, mas criou uma insegurança jurídica sem dar o tempo devido para esclarecer como proceder, fazendo com que talvez todo o desencadeamento de problemas seja maior que o remédio que ele deu para a situação. Não somente haverá incerteza no recolhimento do IPI, mas de todos os tributos vinculados àquela operação. Como se retrocede depois para corrigir tudo isso?
Recolhimento errado pode gerar recolhimento adicional com multa?
Reynaldo: As empresas menos “ousadas” – daí entra a falta de condições para planejamento – devem provavelmente recolher pelo topo da alíquota para se garan� r. Do contrário vão recolher pela menor e eventualmente, se depois forem apontados, vão ter que
©BORRACHA ATUAL
Reynaldo Lopes Megna.
incorrer não só no recolhimento da diferença, mas nas verbas acessórias também, multa e juros.
O recolhimento pelo topo será repassado no preço dos Tears 1, Tears 2 e fi nalmente para o consumidor fi nal?
Reynaldo: E aí teremos uma cadeia de compradores exigindo que você trabalhe em uma fração menor de recolhimento, acabando por abalar mais uma vez a concorrência leal e tornando-se refém da situação.
O próximo governo, seja ele qual for, resolverá esses problemas?
Reynaldo: É importante que visualizemos este exemplo como não sendo necessariamente um problema de governo execu� vo. Há um a� vismo judiciário muito forte no país – e não falo só do Supremo – que faz com que o Brasil tenha dois poderes execu� vos. Isso atrapalha demais a administração das empresas no dia a dia. Quando falamos de reformas estruturais, não só a tributária, é no sen� do de repensar o sistema polí� co do nosso país, o sistema de poderes e isso embarca também a reforma administra� va, a� ngindo o setor público, � rando um pouco do peso, do
excesso de Estado em cima do setor privado. E aí podemos começar a imaginar a aproveitar o nosso potencial exportador, pois há um mundo de compradores. Já hoje, não precisamos esperar a eletrifi cação. Existem muitos interessados em produtos acabados e nós somos muito competentes para isso. Temos competência para fabricar e vender no mercado externo, como já exportamos US$ 300 milhões por ano aproximadamente, o montante exportado pelo setor de borrachas. Precisamos de um pouco de incen� vo como a equiparação isonômica de tratamento tributário em relação a quanto paga uma fábrica nos Estados Unidos e uma aqui, por exemplo. Se conseguirmos dar esse nivelamento, pode ter certeza que seremos bastante compe� � vos.
A diferença é muito grande?
Reynaldo: Entre 15 e 20%, dependendo do caso.
Qual a expectativa para a Expobor?
Marcos: A expecta� va é boa, ó� ma. Acabamos adiando duas vezes. Alteramos a data e alterar a data de feira não é uma tarefa fácil. A primeira edição ocorreu em 1996. Já temos experiência das edições das feiras, que sempre são realizadas pela ABIARB, a nível nacional, sendo que a Francal é a promotora. Desde 1996 trabalhamos em conjunto e a edição de 2020, que era para ter ocorrido há dois anos, acabou sendo adiada por uma vez, muita batalha, muita alteração de situações, principalmente comandadas por legislação municipal – que regia se podíamos ou não realizar a feira, em conjunto com a Francal, passando por várias fases das deliberações da prefeitura sobre e Covid, taxa de ocupação, restrições...
Isso gerou muita incerteza. Os expositores ques� onaram a todo momento. Mesmo a posição atual para a feira que vai ocorrer era uma incerteza no ano passado. Passamos por muitas difi culdades. O pessoal está muito ansioso pela volta do presencial porque temos muita história para contar desse tempo que pulamos o evento. Temos que considerar que a úl� ma feira era para ter sido realizada em 2020, dois anos após a anterior, totalizando quatro anos. E tem muita história para ser contada desses quatro anos. Muita inovação tecnológica, muitas mudanças dentro das empresas, o ambiente mudou, a situação de trabalho, as pessoas muitas vezes mudaram de local.
Claro que será um evento mais localizado a nível Brasil e América La� na, vai ocorrer junto com o Congresso da Tecnologia da Borracha promovido pela ABTB, sempre com a Pneushow , que é o principal evento do setor de reforma de pneus... e temos lá a unidade móvel do SENAI.É um evento bem importante, tem o apoio de várias en� dades, como a SLTC, que vem convidando o pessoal da América La� na. Não acreditamos que haja muita par� cipação do pessoal de outros con� nentes, pois não sabemos quais as restrições que estarão sendo aplicadas no momento da realização da Expobor em relação à Ásia, que está com restrições de movimentação.
Como a Expobor está se aproximando, não acreditamos que esse pessoal irá comprar ti cket aéreo. A Europa preocupada com a crise da Ucrânia com a Rússia. A China envolvida com surto da Covid. Acreditamos muito no eixo das Américas. A movimentação maior virá daqui.
Todos os grandes e importantes expositores estarão presentes?
Marcos: Exatamente! Esperamos receber mais de 8 mil visitantes e reunir mais de 75 expositores nos 17 mil metros quadrados do Expo Center Norte. Peço que coloquem na agenda: 22, 23 e 24 de junho, das 13 às 20 horas, estão
todos convidados. Incen� vem! Precisamos retomar as a� vidades e realinhar os negócios. A Expobor é o evento mais importante para a indústria de artefatos de borracha.
Como será o novo normal?
Marcos: Temos que nos acostumar com esse mundo de constantes mudanças que estão acontecendo, sejam ambientais, sociais, econômicas ou tecnológicas. Os hábitos de consumo estão mudando e a determinação é que tenhamos um futuro sustentável e melhor. Esse é um obje� vo global. Para nós, que trabalhamos na indústria de artefatos já vemos um movimento de produtos de borrachas recicláveis, renováveis, com baixa geração de CO2 na cadeia... E isso deve gerar as regras futuras da cadeia de fornecimento.
A economia circular será uma realidade?
Marcos: Sim. E nós teremos que nos acostumar com essa dinâmica. Ela é muito posi� va, porque traz inovação, traz progresso, traz desafi o. Temos que pensar posi� vo. Não nos abalarmos pelos problemas que já iden� fi camos e procuramos correr atrás de soluções. Acredito que somos competentes para alcançar isso, temos que batalhar juntos, ter propósitos comuns, uma unifi cação maior e uma junção de forças.
Uma mensagem para o futuro!
Marcos: A mensagem que eu tenho é que tudo seja muito posi� vo para o futuro. Vamos par� cipar da Expobor, vamos torcer para a pandemia virar endemia, entrar nos ciclos de vacinação, confi ar na ciência, confi ar nas pessoas que estão aqui no Brasil. Eu confi o no meu trabalho. O Reynaldo trabalha muito para defender todos os interesses da indústria junto ao SINDIBOR. Ele é o execu� vo do dia a dia. Ele deu o exemplo do IPI, mas temos muitas outras frentes de trabalho, comissões que estamos trabalhando dentro da indústria da borracha, como de inovação e tecnologia, tratamento de assuntos tributários específi cos da indústria da borracha.
Reynaldo: Convidamos a todos a interagir com maior intensidade daqui para a frente, porque naturalmente cada segmento da cadeia produ� va, se pensarmos na indústria química, até os próprios setores demandantes possuem expecta� vas par� culares, problemas par� culares, mas nós do setor de borracha dependemos muito dessa troca de informação. A informação é a moeda do futuro e o nosso futuro no Brasil depende bastante dessa interação. A ABIARB, o SINDIBOR e as en� dades estão de portas abertas para receber as demandas do setor para serem discu� das internamente para que possamos provocar os associados.
Costumamos dizer que 80% do faturamento do setor é associado da ABIARB e do SINDIBOR. São 109 associados que agregam 80% do faturamento do setor. As crí� cas são bastante valiosas e a par� r daí podemos criar propostas direcionadas ao poder execu� vo, ao legisla� vo e até mesmo ao judiciário e fazer com que possamos construir um ambiente mais saudável para empreender no país e sobretudo em nosso segmento de borracha.
17º Prêmio TOPRUBBER Maiores & Melhores 2022
Solenidade mostra a resiliência do setor de borracha frente às adversidades
Assista pelo QRCode a cerimônia completa de premiação do 17º Prêmio TopRubber 2022.
Antonio Carlos Spalletta, publisher da Borracha Atual. A cerimônia de divulgação dos vencedores do 17O Prêmio TOPRUBBER – Maiores & Melhores 2022 voltou a ser realizada de forma presencial, paralelamente à transmissão eletrônica, no dia 12 de maio deste ano, tendo como palco o auditório do Millenium Centro de Convenções, em São Paulo. A apresentação das empresas e profi ssionais que mais se destacaram no ano passado mostrou total resiliência na superação das adversidades econômicas e sanitárias, habilitando-os a tornarem-se merecedores da consagração no 17o Prêmio TOPRUBBER – Maiores & Melhores 2022. A solenidade foi transmi� da ao vivo pelo canal Borracha Atual no Youtube, da mesma forma que já havia sido feita em 2021, quando o canal foi o único meio da apresentação da cerimônia de premiação, que não pôde ocorrer presencialmente devido às restrições ainda vigentes de circulação de pessoas em decorrência da pandemia da Covid-19. Os premiados foram eleitos através de votação realizada no site RBA – Revista Borracha Atual em vinte categorias com uma votação recorde.
Reynaldo Megna e Eduardo Sacco. João Carlos Ramos e Adler Fainer. Ariovaldo Gondim, Sérgio Rapoport e Luíz Cantarello.
Da esquerda para a direita: William Nogueira (Executivo de contas-RS), Ariovaldo Gondim (PresidenteDiretor), Jusara Marsiglia (Representante-RS), Cristina Ehlers (Coordenadora de Qualidade), Fernanda Novais (VP-Diretora), Sabrina Motta (Representante-RJ), João Carlos Ramos (Assessor Técnico), empresa Fragon.
Da esquerda para a direita: Ofelia Maia, João Costa, Jacques Siekierski, Cristina Barros e Nelsidevid Araujo, empresa Nitri ex.
Conheça todos os vencedores do 17º Prêmio TOPRUBBER Maiores & Melhores 2022!
CATEGORIA EMPRESA
Adesivos
Lord
Artefatos de Borracha em Geral Sampel Artefatos de Borracha para Automóveis Hutchinson Auxiliares de Processos Seriac
Banda de Rodagem Borrachas e Elastômeros Borrachas Termoplás� cas Compostos de Borracha Desmoldantes
Vipal Arlanxeo
Kraton
Zanafl ex Chem-Trend
Distribuição de Matérias-Primas Fragon
Inovação de Produto Máquinas e Equipamentos Negro de Fumo Plas� fi cantes Pneus
Silicones Ins� tuição de Ensino Empresa de Destaque Tecnologia Personalidade do Ano
Evonik
Bonfan� Cabot
quan� qcaldic Bridgestone STC Silicones
IPT
Auriquímica Re� lox Jacques Siekierski
Antonio D’Ângelo e Bruno Ziviani RETILOX
Thiago Madazio EVONIK
Clóvis Ragno, Denis Lanzillotta e Leandro Alves ARLANXEO Willian Lima e Luciano Messa CABOT
Marcos Antonio Carpeggiani ZANAFLEX
Pedro Silva e Maria Cristina Cruz LORD Leandro Aurichio e Daniely Martins AURIQUÍMICA
Ariovaldo Gondim e Fernanda Novais, FRAGON
Tifani Cruz, Claudia Tudella e Renan Pessolano Quantiq