14 minute read
A história da Rutil no Brasil
©RUTIL/DIVULGAÇÃO
Advertisement
Massimiliano Protasoni – Diretor da Rutil Comércio de Máquinas
Oinício da caminhada começou em 1989 como técnico de teste e regulagem de máquinas na Ru� l Metal, na época, uma das maiores fabricantes do mundo de injetoras de borracha e de tecnologia e automação para a indústria de ar� gos técnicos de borracha. Alguns anos na assistência técnica, área de suporte ao cliente, instalação e treinamento, proporcionaram uma boa experiência. Finalmente, em 1996, vim pela primeira vez ao Brasil instalar duas máquinas. Naquele período foram entregues muitas máquinas, benefi ciadas pela época da paridade do dólar com o Real, estabilidade da economia e abertura dos mercados. Trouxemos muitas máquinas e vim muitas vezes instalar algumas delas aqui no Brasil. Assim surgiu a necessidade de montar uma fi lial da Ru� l no Brasil para dar suporte e assistência técnica. Decidi embarcar nessa aventura, morando no Brasil a par� r de 1997 e começando a acompanhar todo o processo do mercado da indústria de borracha no País. Com isso, o contato foi mais intenso com todas as indústrias de borracha devido à necessidade e à carência de acesso às novas tecnologias dessas empresas no Brasil. Aproveitando meu conhecimento e experiência nos mercados italiano, europeu e mundial, passei a trazer novas tecnologias, novos equipamentos para oferecer a essas empresas no Brasil, inclusive, levando esses clientes à Itália para par� cipar dos próprios eventos da Ru� l, de feiras, congressos e até open houses da própria Ru� l para conhecer novas tecnologias, novos equipa-
mentos e novos sistemas para produzir ar� gos técnicos de borracha injetados. Tudo isso para melhorar o processo produ� vo brasileiro, que ainda estava bastante defasado, podemos afi rmar arcaico, fato que ainda hoje lutamos contra, desejando fazer as empresas nacionais crescerem com as novas tecnologias e tornarem-se mais compe� � vas no mercado. Eram os anos de 1998 a 2000. Comecei a apresentar outras empresas italianas desse segmento de equipamentos e trazê-las para o Brasil. Hoje temos uma linha completa desde injetoras de borracha, acabamento, prensa, todos os sistemas possíveis de acabamento e rebarbagem (com e sem nitrogênio), abrasão, máquina de corte, máquina de pós-cura, máquina de inspeção óp� ca e controle de qualidade. Fomos os únicos na Expobor a mostrar essa tecnologia (exposta na feira pela quarta vez), que ainda é um sonho para muitas empresas e uma necessidade para muitas outras. A Ru� l Itália decidiu, infelizmente por vários mo� vos, pelo fechamento da empresa. Mas como eu atuava no Brasil há mais de dez anos, já era conhecido como eu “ru� l”, já � nha montado empresa aqui como “Ru� l”, a unidade brasileira con� nuou até os dias de hoje. Nesse momento começa a parceria com meu sócio atual, o Wilson Bastos, um profi ssional da área de ferramentaria especializada em moldes de vedações de borracha. Unimos forças nesse novo projeto e trouxemos a Yizumi, uma empresa mul� nacional chinesa com fábrica em cinco países em três con� nentes – hoje uma das maiores fabricantes de máquinas do mundo nos setores de plás� co, alumínio e borracha. Hoje ela fabrica uma das maiores injetoras de silicone e de alumínio do mundo. E teremos a maior injetora de borracha e provavelmente a maior de silicone no Brasil, que chegará neste ano, pesando 1100 toneladas com 25 litros de injeção. BORRACHA ATUAL – Estas injetoras já estão vendidas? MASSIMILIANO: Sim. E já está em fabricação. É para a indústria de isoladores de alta tensão, que é o mercado que reúne hoje os maiores fabricantes do mundo.
A tecnologia da Yizumi é chinesa? A tecnologia tem origem japonesa, mas hoje é chinesa, e o grupo Yizumi é global. A Yizumi tem três fábricas na China, uma na Índia, um centro de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico na Alemanha, uma fábrica nos Estados Unidos e centros técnicos em vários países, entre eles o Brasil. Participamos em 1997 com a Rutil na Expobor. Desde aquela época participamos de todas as feiras, levando sempre algo diferente em cada feira, nunca a mesma máquina ou a mesma prensa. Até chegarmos nessa última edição de 2022, colocando em prática um projeto que já dura quatro anos. Pela primeira vez em uma feira de borracha no Brasil, implantamos a ideia de uma fábrica completa de vedações. Nossa ideia era trazer um sistema com a injetora, um bloco de injeção a frio, um molde para injetar e produzir vedações (especificamente anéis O’ring), com um sistema interessante, por injetocompressão, injeção com molde aberto multibico, sistema que proporciona alta produtividade, baixo consumo de material e uma mínima perda com qualidade garantida. Depois dessas etapas, fazer o processo de destacamento, fazer o processo de rebarbação, e o processo de inspeção óp� ca/controle de qualidade. Enfi m, toda a linha de produção que uma indústria precisa. Outras peças técnicas necessitam de mais processos para garan� r a qualidade, a produ� vidade e baixo custo de produção, mesmo mantendo al� ssimas caracterís� cas técnicas.
Injetora vertical de borracha.
Conseguiram fazer isso na Expobor? Sim. Na feira nossos equipamentos injetavam, destacavam, rebarbavam, inspecionavam o mesmo anel que estava sendo produzido e o mesmo que saía na caixa de peças boas, aprovadas na caixa de inspeção óp� ca. Havia também uma prensa “dupla vap”, que está em nosso showroom e é um outro mercado para o cliente que precisa do processo de compressão com sistema de câmera de vácuo que melhora muito o acabamento, qualidade e aspecto da peça.
Podemos afi rmar que essa é uma novidade no Brasil? A prensa “dupla vac” não é uma novidade no Brasil. É uma realidade recente, mas consolidada. É uma evolução das prensas convencionais usadas há décadas pela indústria de peças de borracha vulcanizada, que garante uma qualidade e acabamento melhores, além de melhor aproveitamento, redução na perda do material e uma redução grande do refugo de peça.
©RUTIL/DIVULGAÇÃO
Toda essa tecnologia oferecida tem que visar esses fatores: produ� vidade, redução de custo, economia de material, melhoramento de qualidade e redução de refugo. Isso para redução de custo, aproveitamento, e o mais importante, a redução do lixo sólido gerado no processo que para a borracha é um problema eterno.
A reciclagem da borracha? Sim, a reciclagem da borracha vulcanizada. Trabalhamos para reduzir esse resíduo.
Isto contribui com a economia circular? Essas tecnologias que trazemos – e eu foco bastante, até pela minha própria experiência na Itália, tanto na produção como no controle de qualidade das peças. Essas tecnologias do equipamento não visam apenas a melhoria da produ� vidade, do lucro da empresa. Um ponto que faço questão em focar bastante quando ofereço essas tecnologias é a melhoria da qualidade de vida do próprio profi ssional que trabalha na empresa. Sempre explico que uma pessoa que trabalha o dia inteiro em uma prensa, em uma máquina, ou fazendo uma inspeção de peça, é um trabalho muito repe� � vo durante o dia inteiro e que não agrega profi ssionalmente para essa pessoa. Então, tudo o que é repe� � vo e constante, não valoriza o trabalhador da empresa. O equipamento tem que subs� tuir essa parte que pode ser automa� zada para que as mesmas pessoas, ao invés de passarem o dia inteiro, por oito ou nove horas, vendo um milhão de pecinhas redondas de borracha, que não vão agregar nada na vida delas, possam operar a máquina de inspeção de controle, regular a máquina, abastecer a máquina e com isso evoluírem pessoalmente e profi ssionalmente dentro da própria empresa. Esse é meu foco. Quero que quando uma pessoa voltar para sua casa após o trabalho, e seu fi lho perguntar o que fez hoje, ele não responda “Olhei um milhão de anéis de borracha o dia inteiro”. E amanhã? “Vou olhar mais um milhão”. Eu quero que ele responda: “Hoje regulei a máquina, inspecionei peças, fi zemos controle de qualidade, hoje reduzimos as perdas, os refugos e melhoramos a qualidade do produto de nossa empresa". Essa é a resposta que ela tem que dar a seus fi lhos, possibilitando à pessoa crescer profi ssionalmente dentro da própria empresa. O obje� vo do trabalho hoje é trazer equipamento, tecnologia e sistemas que não são produzidos no Brasil e que possam tornar a empresa e nossos clientes mais compe� � vos com mais tecnologia para compe� r no mercado nacional e mundial.
Como foi a receptividade desses equipamentos? A recepção na feira foi muito interessante, muito boa. Conhecemos empresas que ainda não conhecíamos, recebemos com surpresa muitos visitantes da América La� na, muitos clientes da Argen� na, Peru, Paraguai, Chile e Bolívia, que eu acredito que sejam empresas que não têm tanto acesso a essa tecnologia. Acredito que o trabalho que fazemos no Brasil não é feito nesses países porque, inclusive, esses sejam mercados menores, não compensando para os grandes fabricantes mundiais de equipamentos inves� rem nesses mercados, ter representantes etc. Essas empresas interessam-se em visitar a Expobor porque é a maior feira da borracha da América La� na. É importante e elas vêm para conhecer equipamentos, tecnologias, novidades e fornecedores. Tivemos bastante contatos com pessoas dos países vizinhos e brasileiros também. O País precisa retomar os inves� mentos e os empreendedores brasileiros terem boa vontade em inves� r nesses equipamentos. Muitas empresas precisam inves� r.
Os equipamentos e a indústria brasileira da borracha estariam sucateados? Não diria que estão sucateados, mas que a difi culdade para as empresas inves� rem em máquinas, equipamentos e tecnologia no Brasil é muito maior que em outros países.
Qual o motivo? Porque hoje as tecnologias são quase totalmente importadas. Temos dois fatores. O primeiro é o câmbio e sua vola� lidade. Temos um problema com o câmbio. O que lá fora é em dólar aqui é transformado em real e torna-se um inves� mento pesado para as empresas. Outro problema é o acesso dessas empresas ao fi nanciamento para a compra desses equipamentos. A taxa de juros no Brasil é muito mais alta que em outros países. Para a empresa inves� r, fi nanciar um equipamento, se torna di� cil e muito caro. E também os custos de importação de equipamentos no Brasil são muito altos, superiores aos de muitos outros países. Mesmo equipamentos que hoje têm o bene� cio da redução de imposto de importação por não ter similar nacional, têm outros impostos onerosos. Isso faz com que as empresas tenham difi culdade de acesso para poder comprar, importar, pagar ou fi nanciar. Então o passo de modernização, desenvolvimento, fi ca mais lento. Mas estamos aqui para fazer todo o possível para viabilizar e agilizar esse processo. Hoje há empresas no Brasil com inves� mento em tecnologia que estão tecnolo-
gicamente preparadas e no mesmo nível de outros países do mundo. Queremos que mais empresas possam crescer e chegar a esse nível.
A nova conjuntura internacional, a logística e a geopolítica, permitirão às indústrias brasileiras agirem e produzirem localmente? Até durante a pandemia, a crise da logís� ca, a importação, aumentaram muito os custos de importação, principalmente de artefatos prontos. Isso é muito bom para o mercado nacional, tornando a indústria nacional mais interessante para a produção in loco, atendendo em um prazo menor o cliente por um custo compe� � vo.
©RUTIL/DIVULGAÇÃO
Entendo que o Brasil tem uma grande posição também e principalmente no mercado interno. Ainda é um país consumidor, no qual grande parte da população ainda precisa entrar para o mercado de bens de consumo. Então tem um potencial de expansão de crescimento de bens de consumo produzidos localmente, pois o mercado brasileiro é muito grande. Acredito até que é muito maior que a ideia de exportação de um produto de manufatura para outros países. Mas acredito que o grande foco de crescimento ainda é o mercado interno. O Brasil é um país grande, con� nental e que precisa de uma pujante produção local. Tem um grande mercado ainda inexplorado, formado por pessoas que esperam entrar em curto prazo no mercado de consumo.
Qual será o foco de investimento da indústria de borracha nessa transformação? No segmento automo� vo, na reparação automo� va que está em crescimento, nas novas tecnologias, nos novos motores e na eletrifi cação. Diria que hoje o mercado de borracha se divide bastante. Hoje atua no mercado de transmissão
elétrica, onde o Brasil precisa crescer na parte de geração de energia elétrica, na geração e na distribuição. Isso envolve nosso setor de isoladores da linha elétrica e também o de saneamento básico. Trabalhamos em produtos para saneamento básico e construção civil, outra área em que o Brasil precisa crescer, necessita crescer e vai crescer.
A indústria de borracha crescerá junto? Sim. Porque no saneamento básico não é só a tubulação de plás� co, de PVC. Em cada tubo vai um anel de vedação de borracha. Isso envolve a vedação de tubos, de adutoras de água, distribuição de água e esgoto.
Quais os tipos de vedação? De borracha natural. O Brasil precisa crescer também nesse setor para levar água encanada e esgoto para todas as casas do país. A linha de eletrodomés� cos também, que envolve toda a linha de borracha e silicone, e hoje, com a pandemia, houve um crescimento grande no setor médico-hospitalar. Cada vez mais esse mercado u� liza produtos de qualidade, de silicone atóxico...
Estamos falando só de luva cirúrgica? Não. Hoje falamos de respiradores, pulmões ar� fi ciais, sistema de diálise, seringas, toda a parte de transmissão de fl uídos de uso médico-hospitalar que são feitos de silicone, envolvendo peças técnicas, peças moldadas e peças extrudadas. Hoje os mercados farmacêu� co e hospitalar estão em expansão com as máscaras hospitalares de silicone, mamadeiras de silicone, bicos de mamadeira e respiradores para tratamento. E tem as alimen� cias em geral. Hoje outro grande negócio em expansão no Brasil é o ”agro”. Esse setor envolve todos os acessórios, peças para os equipamentos, implementos agrícolas, plantadeiras que u� lizam pneu, óleo de borracha, além de toda a parte de vedações que é usada na indústria de máquinas agrícolas, um mercado em franca expansão, até maior que o automo� vo. Outra área em que começamos a atuar é a de mineração, envolvendo peças e partes de borracha, com destaque para as peneiras de mineração de borracha, correias transportadoras, pneus gigantes de borracha etc.
A área de eletrifi cação e de transmissão de energia terá algum desenvolvimento especial da indústria borracha? Na distribuição, obviamente, sim. A eletrifi cação da rede do país tem que levar a luz para o campo e para todas as casas do Brasil ainda. Infelizmente hoje há pessoas que nem isso tem. Esse com certeza é um mercado que vai crescer, se desenvolver. Cada vez mais a energia elétrica – e essa é a minha formação – vai ser a fonte de energia mais indispensável e necessária no futuro. Hoje o Brasil é um dos pioneiros na parte de geração de energia sustentável, de forma renovável, na parte hidrelétrica, principalmente, e hoje até a fotovoltaica. Isso vai gerar obviamente na parte de transporte, eletrifi cação dos veículos, um inves� mento nesse sen� do. As empresas e residências terão carregadores e máquinas, e isso obviamente envolverá a parte de isolamento – e os melhores isoladores elás� cos do mundo con� nuam sendo a borracha e o silicone. Isso terá um promissor futuro.
Vale a pena participar de um evento como a Expobor? Vale a pena par� cipar da feira, acreditar na feira, principalmente porque é específi ca de borracha. É di� cil e diria única. Sempre sofremos pela percepção da borracha ser, erroneamente, considerada uma derivação do plás� co. O mercado mundial do plás� co é dezenas de vezes maior que o da borracha. Mas sempre digo que é melhor ser forte naquilo que conhecemos e focar em nosso mercado, que é a indústria de borracha. Já estamos pensando na próxima Expobor, em 2024, esperamos que não aconteça nada que impeça isso e esperamos crescer tendo cada vez mais uma área maior, um estande maior para mostrar os equipamentos para as empresas. Inclusive já conversamos com um diretor da Francal sobre a próxima feira até para ele nos ajudar a trazer mais equipamentos, mais tecnologias para essa feira. Porque, infelizmente, houve muitas desistências nessas úl� mas feiras e isso é ruim para o evento e para o mercado. Tem que ter máquina, tem que ter tecnologia, tem que ter equipamento para trazer a pessoa para a feira, para que ela conheça a feira e faça a feira crescer.
As máquinas atraem mais público? Sim. Confi o na Francal para nos ajudar nessa área porque trazer máquina para a feira, colocar para funcionar, rodar e produzir na feira, é uma tarefa bastante complexa, envolve muito trabalho, esforço e dedicação, além de custos. Queremos con� nuar com isso cada vez mais. É bom ir à feira, encontrar as empresas, mas o coração da Expobor é conhecer produtos, inovação e equipamentos.
E assim diminuir a distância para os outros países? Exatamente. Espero que eu, ao longo dos meus quase 33 anos de trabalho com equipamentos de borracha, possa trazer mais coisas, mais novidade, mais tecnologia e passar esse conhecimento adiante aos outros para que con� nuem o processo.
Estrada dos Pires, 11.255, Atibaia, SP. www.rutil.com.br