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Minas Mundo

Ocosmopolitismo da cultura mineira e a sua influência sobre o modernismo voltariam ao centro dos debates na manhã do dia 10 de dezembro, no seminário Cultura, Modernidade e Tradição: Minas Gerais 300 Anos, promovido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Se a Semana de Arte Moderna de 1922 em São Paulo é marco simbólico do modernismo, a viagem da caravana modernista a Minas em 1924 o transformou e renovou a cultura brasileira”, assinalou o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), André Botelho, conferencista da primeira mesa do evento, aberto pela reitora da UFMG, Sandra Regina Goulart Almeida, pelo presidente da Assembleia Legislativa, Agostinho Patrus, pelo presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), Paulo Sérgio Lacerda Beirão, e pelo reitor da Universidade Federal de Alfenas, Sandro Cerveira.

“1924 é de fato muito especial, pois foi na visita a Minas naquele ano que os modernistas descobriram a renovação da arte em lugares distantes. Surge dali uma ideia de Brasil que não pode ser desprezada e a promessa de uma nova relação entre a província e o globo, em que o passado, o presente e o futuro se sobrepõem”, apontou André Botelho, para quem foi a partir de 1924 que os modernistas passaram a estabelecer as conexões entre identidade cultural, nacionalidade e o primitivismo estético do barroco, forjando uma nova concepção de modernismo, não eurocêntrica.

Como afirmava o grande intelectual mineiro Antonio Candido, o presidente da Anpocs lembrou em sua conferência virtual que a urbanização precoce e vigorosa de Minas no século XVIII está na raiz do surgimento do cosmopolitismo da cultura mineira. Isso porque tanto o arcadismo dos poetas inconfidentes quanto o barroco e o neoclássico expressariam essa opção universalizante e cosmopolita, “traduzindo a linguagem civilizada do Ocidente em terra semibárbara, como seria o Brasil daquela época”, segundo palavras do próprio Antonio Candido.

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Além da literatura mineira, o professor destacou que a dinâmica dialética entre o particular e local e o universal, incorporada pelos modernistas, se expressaria ao longo do tempo em outras dimensões da cultura mineira, como, por exemplo, nas formas desafiadoras das esculturas de Amilcar de Castro, no cinema de Humberto Mauro, nas fotografias de Chichico Alkmim, na moda de Zuzu Angel e Ronaldo Fraga, na música de Tavinho Moura, Fernando Brant e Milton Nascimento, nas palavras do líder indígena e filósofo Ailton Krenak, nos tambores de Maurício Tizumba e nos movimentos do Viaduto Santa Tereza, em Belo Horizonte, entre tantas outras manifestações artísticas e culturais.

Mas, se a multiplicidade e “os modernismos são muitos”, o professor ressaltou que o movimento estético e artístico inaugurado pela Semana de Arte Moderna acabou “domesticado”, tanto pelo discurso oficial do nacionalismo cultural de dois regimes autoritários, o Estado Novo (1937-1945) e a Ditadura Militar (1964-1985), quanto pela descoberta da brasilidade como valor mercadológico, prevalecendo uma visão “sãopaulocêntrica”.

Assim, apesar de o modernismo ser um dos fenômenos mais estudados no Brasil, tendo se imposto como ponto de vista preponderante de análise da cultura brasileira, do passado e do presente, ele precisa ser rediscutido pela ótica da multiplicidade e das diferenças, razão pela qual 60 pesquisadores de cinco universidades brasileiras lançaram o projeto Minas Mundo, voltado para as reflexões da efeméride do centenário do modernismo, em 2022, comemorou André Botelho.

Orbe e encruzilhada

Durante o seminário, o historiador e diretor do Centro de Estudos Mineiros da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, José Newton Coelho de Meneses, apresentou o livro Orbe e encruzilhada:

Minas Gerais, 300 anos, lançado pela editora da universidade. Organizada pelo próprio professor José Newton, a coletânea reúne 14 textos inéditos de 29 estudiosos e pesquisadores, traçando um amplo panorama da construção histórica de Minas Gerais, desde a formação cartográfica do território, as desigualdades sociais, a escravidão e as rebeldias populares até a educação, a urbanização, o patrimônio e as cidades, a literatura e a mineiridade.

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