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Í N D I C E

LAÇOS Número 1/13 – outubro de 2012-janeiro de 2013 2 2

Editorial A diáspora das Meninas de Odivelas por Joaquina Cadete Phillimore

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Atividades da AAAIO e suas sócias O Coro da nossa Casa por Teresa Paccetti Passeios dos residentes da Casa Nova por Teresa Paccetti e Maria Helena Cavaco Missão em jeito de turismo e turismo com força de missão por Eduarda Caixeiro Emblema bordado de Antiga Aluna por Ana Rita Ferreira Um Estado de Alma, um livro por Fátima Santos por M. Margarida Pereira-Müller Magusto por Joaquina Cadete Phillimore Assembleia geral para aprovação do orçamento de 2013 Odivelas – Um almoço por um sorriso Lançamento do livro “Piscina, amarelo e outras receitas do IO” por Maria Noémia de Melo Leitão SIC nas instalações de “Ser Cidadão em Odivelas” da AAAIO por Ana Maria Pinto Soares Hoeppner Dom Januário na Nova Casa por M. Margarida Pereira-Müller Prémio Raquel Ribeiro – Um testemunho por Cesaltina Nascimento Silva PASC – Plataforma Ativa da Sociedade Civil Festa de Natal na Nova Casa por Joaquina Cadete Phillimore À conversa com os Residentes por Maria Isabel Garcia Santos “Crónica duma tarde bem passada” por Maria Guilhermina de Ataíde Fim de tarde de poesia Aulas de culinária no IO com o apoio da AAAIO

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Agenda Convívios e passeios

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In Memoriam O adeus à Sra. D. Ofélia Ofélia Sena Martins por Maria Noémia de Melo Leitão

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Cartas à Direcção Domingas Matos da Cruz D. Januário Torgal Mendes Ferreira Professor Marcelo Rebelo de Sousa Maria de Lourdes Sant’Anna Maria Antónia de Luna Andermatt Maria da Luz Carvalho Lopes

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Notícias do IO “Memorial de um Sonho” – O IO no Centro Cultural da Malaposta Medalha de Honra do Município para o IO O Halloween no Instituto de Odivelas Ida ao teatro das Alunas do 3.º ciclo do Instituto de Odivelas O S. Martinho no Instituto de Odivelas IO nas XXXI Olimpíadas Portuguesas da Matemática Abertura solene do ano letivo 2012/2013 no Instituto de Odivelas (Infante D. Afonso) O Instituto de Odivelas na Cerimónia Oficial das Comemorações do Dia do Exército – 2012 Receção às Novas Alunas do Instituto de Odivelas – 2012-2013 Cerimónia de Imposição de Graduções do Instituto de Odivelas – 2012-2013 113º Aniversário do Instituto de Odivelas

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AA, o que é feito de ti? “Eu não me calo” – assim era e assim se manteve Flora Carvalho por Margarida Pereira-Müller

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À conversa com... Meninas de Odivelas, para sempre por Joaquina Cadete Phillimore

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Ideias Soltas Sobre a toxicidade das pessoas por Ana Elias Antídoto para a toxicidade humana por Joaquina Cadete Phillimore Arquiduquesa Leopoldina da Áustria, Imperatriz do Brasil por Maria Noémia de Melo Leitão Como escolher um perfume por Isabel Vidal Paleta de cores vivas por Maria de Lourdes Sant’Anna Uma grande caminhada por Francisco Cabral

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Poesia Mãe, vem ouvir por Tchillay O Mata por Maria da Assunção do Carmo Freire Bem hajam por Maria da Assunção do Carmo Freire LAÇOS Número 1/13 – outubro 2012-janeiro 2013

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EDITORIAL

EDITORIAL

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Joaquina Cadet e Phillim ore – AA Nº 193/196 0

A diáspora das Meninas de Odivelas

O

termo diáspora (em grego antigo, – «dispersão”) define a deslocação, quer forçada ou por opção própria, de povos para outros países e, até, para outros continentes. O termo “diáspora” é usado sobretudo para fazer referência ao exílio do povo hebreu e à sua dispersão no mundo antigo, no século VI AC e, especialmente, depois da destruição de Jerusalém em 135 DC.

Na diáspora, verifica-se quase sempre um fenómeno interessante que se prende com o facto dos que partem quererem manter, de forma mais ou menos propositada, a sua identidade cultural ou grupal. Incentivada a “migrar” para este tema por muitas Antigas Alunas, nas nossas conversas no Facebook, dei por mim a pensar nesta nossa condição que é muito anterior à conjuntura dos últimos anos, propiciadora do fenómeno.

A diáspora da Meninas de Odivelas vem de longe

Com efeito, desde que entrei no Instituto, sempre ouvi elogiar as Meninas que levavam o “bom nome do Colégio às cinco partes do mundo” e questionei-me, várias vezes, se viria a ser uma delas. Não fui, mas a diáspora

de outros trouxe o mundo até mim. A situação que se vive na Europa em geral, e em Portugal em particular, e que alegadamente empurra os povos, sobretudo as camadas mais jovens, para uma nova onda de emigração, deve, a meu ver, ser analisada racionalmente.

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EDITORIAL

A diáspora da Meninas de Odivelas vem de longe, quando, acompanhando as suas famílias de origem ou as que haviam constituído, ao casar, se fixavam, por mais ou menos tempo, fora de Portugal. Desde o final do século XX que muitas AA passaram a sair de Portugal, sozinhas, no âmbito de programas de intercâmbio estudantil ou profissional, como o INOV ou, ainda, o ERASMUS, que vai ser, tal como outros da área da juventude, englobado no Yes Europe. Esta saída, em idades precoces e com muita autonomia, teve como resultado a escolha consciente de ficar a trabalhar nos países que as tinham acolhido ou para onde as empresas que as contratavam as enviavam. Também a entrada de Portugal na União Europeia abriu muitas portas profissionais e não é por acaso que a primeira entrevista coletiva que vamos fazer é exatamente com as AA que trabalham, na Bélgica, na sua maioria em Bruxelas. Os laços profundos que ligam as AA são visíveis em variadíssimas situações, quer quando as estudantes de Erasmus encontram guarida em casa de AA que vivem nos países para onde vão estudar quer quando procuram saber quem são as que vivem no mesmo país para se encontrarem. A situação que melhor demonstra esta ligação ao IO será, sem dúvida, a celebração do 14 de Janeiro, nos vários países e cidades onde há AAIO. Permitam-me uma nota pessoal, um pouco dissonante do aparente modus pensandi que parece perpassar pela sociedade portuguesa. Sair do país onde se nasceu e estudou, sair de Portugal pode ser uma extraordinária maneira de “ter mundo”, o que muito enriquece quem tem essa oportunidade. Ter mundo significa ver mais além, ser cosmopolita, cidadã do mundo. Significa, ainda, saber acolher, ter espírito de classe, ser solidária, aceitar, sem reservas, as diferenças culturais. Ora, não tenho dúvidas que estas qualidades estão presentes na família alargada das Meninas de Odivelas onde quer que estejam de forma mais permanente ou temporária. A Organização das Nações Unidas premeia mesmo algumas pessoas com um título honorífico de “Cidadão do Mundo”, enaltecendo, assim, quem desenvolveu estas características. A diáspora das Meninas de Odivelas vai certamente prosseguir e continuaremos a levar aos cinco cantos do Mundo o nosso lema DUC IN ALTUM. LAÇOS Número 1/13 – outubro 2012-janeiro 2013

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ATIVIDADES

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Te r e s a P a c c e t t i – A A N º 3 1 2 / 1 9 5 8

O Coro da nossa Casa

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ma tarde, encaminhava-me eu para a Sala Verde do nosso Lar e comecei a ouvir, vinda dessa Sala, uma voz cantando, bonito e bem entoado, um fado de Lisboa.

Quando ali cheguei, descobri que se tratava da voz da Senhora D. Elvira que, na sua cadeira de rodas, animava as outras senhoras presentes. Rostos risonhos e contentes acompanhavam cada canção e, no final, ouvia-se uma salva de palmas. Surgiu então em mim a ideia de fazer um Coro, com todos os residentes do nosso Lar, que gostassem de cantar. O convite foi feito e a adesão foi suficiente para podermos dizer: “Temos um coro”. Sete cantoras – Zilda, Ana Maria, Virgínia, Alda, Elvira, Manelinha e Manuela Freirinha – e um cantor – Francisco Cabral – que se reúnem todas as segundas-feiras, entre as 17 e as 18 horas, para cantar.

Da internet vou retirando “canções de todos os tempos” – o Alecrim aos molhos, a Rosa arredonda a saia, Lá em cima está o tiro liro liro…, etc, etc, etc. A preferida é A Procissão – já ficou assente que é o ex-libris do Coro. Muitas são sugeridas pelos próprios membros Sete cantoras do Coro e algumas até só um ou outro sabe e então aí têm oportue um cantor reunem-se nidade de cantar a solo.

uma vez por semana para cantar

Aquela hora das segundas à tarde tornou-se um reviver das canções da nossa meninice e juventude. Uma residente alentejana – Ana Maria – rejubila quando cantamos canções da sua terra. Mesmo as senhoras que não fazem parte do Coro, mas assistem à cantoria, acompanham o Coro, cantarolando ou batendo palmas. A música contagia!

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Eu vou segurando na “batuta”, com a ajuda da Maria Emília Canelhas, da Teresa Neves ou da Rosete Milheiro, conforme as suas disponibilidades.

A atuação do coro na Festa dos Santos em junho de 2012

O nosso Coro já teve quatro atuações: A primeira foi no Natal de 2011, com canções natalícias, como não podia deixar de ser. A segunda foi na Missa que o Senhor Capelão celebrou na Sala do Conventinho, este ano, na quarta-feira de cinzas. A terceira, em Junho deste ano, na sardinhada, em que cantou marchas populares, acompanhadas de guitarra, tambor e adufe. E a quarta na Festa de Natal de 2012.

Parafraseando o Papa Bento XVI, “a música é realmente a linguagem universal da beleza, capaz de unir entre si os homens de boa vontade e de os levar a elevar o seu olhar ao Alto e abrir-se ao Bem e à Beleza, absolutos que têm a sua nascente última no próprio Deus”.

Cantando depois da Missa de Natal de 2012

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Te r e s a P a c c e t t i – A A N º 3 1 2 / 1 9 5 8 e Maria Helena Cavaco – AA Nº 218/1954

Passeios dos residentes da Casa Nova

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al como no ano passado os residentes do nosso Lar passaram, no verão, umas manhãs agradáveis de domingo a ouvir as diferentes Bandas, que o Museu Nacional de Arte Antiga propõe ao público de maio a julho. Acontece, que numa das vezes que nos deslocámos ao jardim do referido Museu um destes concertos tinha sido cancelado e para não desiludir os nossos residentes que gostam tanto de sair, o nosso motorista, Sr. Martins, sugeriu que fossemos ao Jardim da Estrela. Assim aconteceu, estivemos numa esplanada e desta vez acompanhou o grupo a nossa Voluntária mais novinha, a Alexandra Fradinho. Neste jardim crianças e idosos convivem, são estes que acompanham os netos aos baloiços e a verem os patos nos lagos. Aos domingos de manhã muitos são os lisboetas que para lá vão ler o jornal. Outra manhã bem passada foi quando fomos à zona ribeirinha e sentados na esplanada do Café do Forte todos pudemos admirar a Torre de Belém e contemplar esta zona do Tejo com uma luminosidade lindíssima. Alguns residentes passearam um pouco a pé ajudados por alguma Voluntária, enquanto outros preferiram ficar a tomar um café. Por motivos logísticos deixou de ser possível fazer os passeios de manhã. Fomos então uma tarde, com algum calor, ao Parque da Quinta das Conchas. Situado na Alameda das Linhas de Torres foi a primeira vez que tomámos contacto com esta quinta que é a terceira maior mancha verde de Lisboa. Tem vários lagos e equipamentos recreativos, sala para espectáculos e exposições. Vimos vários monitores com crianças ensinando-lhes alguns jogos tradicionais. Encontrámos grandes relvados e muitas árvores de elevado porte produzindo sombras nos vários bancos que este jardim tem e que os nossos residentes aproveitaram para descansar.

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comigo a agradecer o prazer que tinha dado à Avó. Tinha-a levado a um local, donde ela tinha revisto a casa, onde tantos anos tinha habitado, na Av. António Augusto de Aguiar.

Os residentes que quiseram puderam beber alguma coisa numa esplanada e refrescar-se um pouco e depois seguimos acompanhados do Sr. Carlos que ajudou também alguns residentes, pois a camionete ficou um pouco longe. Na segunda semana de Setembro passeámos um bocadinho no Jardim Gulbenkian na zona adjacente ao Museu de Arte Moderna. Foi novamente o Arq. Paisagista Gonçalo Ribeiro Telles chamado para fazer a requalificação do jardim e criou vários espaços distintos. A área onde estivemos é uma zona de muitas sombras com pequenos lagos que reflectem a luz de Lisboa. O que parece fácil nem sempre o é, todo o trajecto é feito em grandes lajes que terminam em pequenos degraus, que são um obstáculo aos andarilhos. Assim, muitas vezes estivemos de cócoras para que os andarilhos pudessem andar. No final lanchámos na cafetaria; cafés, sumos e pastéis de nata foram bem apreciados. Num dos domingos no Lar a neta da Srª D. Celestina, Antiga Aluna, veio ter

Museu Bordalo Pinheiro O Museu Bordalo Pinheiro está instalado no Campo Grande, numa das poucas moradias construídas no começo do século XX, que ainda sobrevivem, esta por sinal Prémio Valmor. Toda a colecção do Museu foi reunida pelo poeta Cruz Magalhães grande admirador da obra de Bordalo Pinheiro. Posteriormente o Museu foi adquirido pela Câmara Municipal de Lisboa. Nos anos 90 do século passado foi construído um edifício anexo ao Museu onde se realizam exposições temporárias. Da Fábrica de Faianças de Rafael Bordalo Pinheiro, construída no século XIX, nas Caldas da Rainha, saíram peças de grande originalidade executadas com as técnicas de oleiros tradicionais, que hoje pudemos observar neste museu, a famosa Louça das Caldas. Esta fábrica esteve em risco de desaparecer, foi noticiado pela imprensa, rádio e TV, o que teria sido bem triste e uma perda para o património português, o que felizmente não aconteceu, pois foi comprada, juntamente com os respectivos moldes, pela Visabeira Indústria e assim continuaremos a admirar estas e outras peças que vão sendo produzidas. LAÇOS Número 1/13 – outubro 2012-janeiro 2013

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A nossa visita começou pelo r/c, acompanhados pela técnica do museu, Srª D. Catarina, que nos deu uma panorâmica da personalidade de Bordalo Pinheiro, documentada com fotografias expostas nas paredes. Na Sala da Cerâmica observámos uma grande variedade de obras desde as mais eruditas como o Jarrão de estilo Manuelino, que mereceu uma explicação detalhada e que os nossos residentes seguiram com atenção. Peça de grandes dimensões (demorou 2 anos a executar). Também os paliteiros, pratos decorativos e obviamente o Zé Povinho, obra emblemática de Bordalo Pinheiro, que pretende mostrar o espírito de esperteza do povo português, bem conhecido dos nossos residentes. Um pequeno elevador, adaptado ao espaço disponível do que foi a residência particular de Cruz Magalhães, de uma tecnologia um pouco antiga, pois para subir tínhamos de ficar a carregar no botão. Bastante precioso pois senão existisse a maioria do nosso grupo não tinha subido. Neste piso observámos os inúmeros desenhos de Bordalo Pinheiro. Foi autor de inúmeras caricaturas 8

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de diferentes tipos de personalidades, com especial relevo para as políticas, divulgadas em vários jornais da época. Dedicou-se também à banda desenhada e com uma crítica mordaz e contundente notabilizou-se com alguns trabalhos como “A política: a Grande Porca” e “A Árvore da Liberdade” que fizeram as delícias dos nossos residentes. Foi em ambiente de boa disposição que terminou mais este passeio das quartas. Museu da Marinha O Museu de Marinha, situado na ala oriental do mosteiro dos Jerónimos, é um museu que merece várias visitas não só pela qualidade das peças como também pela sua dimensão. Foi com este Museu que encerrámos o ano de 2012 e limitámos a visita à Sala da Entrada, à Sala dos Descobrimentos e à do século XVIII. Foi uma visita guiada pelas Voluntárias, em que o tema histórico era conhecido de todos, e fomos salientando vários pormenores que nos pareciam mais relevantes. Os nossos residentes mostravam-se interessados e por vezes eram eles a contarem-nos alguns aspectos relacionados com os descobrimentos ou com as suas experiências no Ultramar. Começámos, obviamente, pela sala da Entrada e aí encontrámos ao centro a estátua do Infante Dom Henrique e as estátuas dos primeiros Descobridores, como Diogo Cão, João de Santarém, Diogo Gomes, Pedro de Sintra, Gonçalves Zarco, Gil Eanes e Nuno Tristão. Seguimos para a Sala dos Descobrimentos, em que é dado especial relevo às


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estátuas dos reis D. João II e D. Manuel I. Uma vitrine com vários instrumentos de navegação astronómica, como o sextante e o astrolábio, construídos em bronze, quase todos de origem portuguesa, prenderam a atenção dos residentes.

A propósito da Nau Príncipe da Beira tivemos uma lição de história dada pela Residente Srª D. Eugénia Amaral. Perguntou se alguém sabia qual o motivo da Cidade da Beira em Moçambique ter esse nome. Originalmente chamada Chiveve, o nome de um rio local, foi rebaptizada para homenagear o Prínci-

Um expositor dedicado aos vestígios de uma nau de pimenta, a “Nossa Senhora dos Mártires” e a rede comercial que se foi estabelecendo com os descobrimentos foi também objecto de discussão. A influência religiosa fez parte dos Descobrimentos e está patente nestas viagens através de figuras religiosas aqui expostas, como a Santa Maria de África que acompanhou o Infante Dom Henrique na conquista de Ceuta, e o arcanjo São Rafael, protector de Vasco da Gama e a única peça que sobreviveu da viagem de Vasco da Gama à Índia. Ao longo do percurso, diferentes tipos de embarcações, caravelas, barcaças, com diferentes tipos de velas e de uma notável perfeição são-nos apresentados. Terminámos esta visita, com os nossos residentes já um pouco cansados, na sala do Século XVIII e princípios do XIX. Destacamos a Nau “Príncipe da Beira” e a fragata «D. Fernando II e Glória», de que foi dado apreciar aquando da Expo 94.

pe da Beira, Dom Luís Filipe, que foi o primeiro membro da família real portuguesa a visitar Moçambique, trazendo de Lisboa o decreto real que a elevava à categoria de cidade ao mesmo tempo que passava a chamar-se Beira. Foi assim que acabámos esta visita mas, antes de regressarmos ao lar ainda houve tempo para lancharmos na Cafetaria deste Museu. Um chá e um pastel de nata fora do Lar é sempre um motivo de satisfação para os Residentes.

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Eduarda Caixeiro – AA Nº 176/1971

Missão em jeito de turismo e turismo com força de missão

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sol brilhava àquela altitude mas, lá em baixo, podia ver-se o manto de nuvens cinzentas que almofadava o verde-escuro da floresta e cobria o irregular perfil das montanhas e os vales. Pouco depois, alcançávamos o recortado litoral de pedra negra vulcânica interrompido, de quando em quando, por brancos areais, desertos uns e outros onde se entreviam traços de actividade humana.

Encontrava-me novamente a sobrevoar a ilha de S. Tomé e, tal como na minha primeira viagem, perguntava-me o que teriam sentido os nossos navegadores quando atingiram estas paragens, ao avistar as encostas luxuriantes e os relevos impressionantes dos picos S. Tomé, Cão Grande e tantos outros, procurando, por certo, uma baía abrigada ou uma boa aguada1. Desta vez, não ia apenas para cumprir um sonho já antigo, ultrapassados os receios do clima e das doenças endémicas. Para além de querer desfrutar novamente de umas férias maravilhosas, trazia na bagagem, uma missão definida, que o meu marido, conhecedor profundo da realidade santomense, apoiava incondicionalmente.

Carregávamos duas robustas malas de porão com 30 quilos cada e duas mais pequenas, de mão. Apenas uma pequena parte dessa bagagem correspondia às Um grande sorriso nossas necessidades, já que a grande de dentes muito brancos maioria se compunha de bens de consumo sempre muito bem recebidos é o agradecimento pelos nossos amigos santomenses, e dos santomenses principalmente pelo objecto da nossa missão: roupas e calçado, doados por sócias da AAAIO para as crianças, de S. Tomé e Príncipe. Neste país não encontramos crianças com fome, apenas os cães vagueiam pelos detritos “com o casaco apertado”2, a natureza é fértil e amiga dos seus habitantes 1 2

Lugar onde as embarcações se abastecem de água doce. Expressão jocosa com que alguns santomenses se referem à magreza generalizada dos cães.

A autora não segue a Nova Norma Linguística da Língua Portuguesa.

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mas uma boa parte dos miúdos anda habitualmente descalça e com roupas esfarrapadas. Nas malas vinha roupa de mulher e de criança e as tão desejadas “facilitas” que mais não são que as chinelas de enfiar no dedo, e que foram oferecidas pela Lufthansa. O problema era, desde logo, como definir a quem se iriam entregar estes artigos e como garantir que chegariam aos seus destinatários. À nossa espera, na placa do aeroporto, junto à escada do avião, encontrava-se Eduardo, o meu xará3, santomense sexagenário por quem o tempo parece não passar, que uma vez mais desempenhou o seu papel facilitador de quantas burocracias é suposto o turista enfrentar e que rapidamente nos encaminhou para a saída. Entretanto já tínhamos recuperado as malas na confusão da sala apinhada de gente e onde um tapete rolante que já viu melhores dias, ora passa diante das dezenas de braços estendidos, ora sai para o exterior quente e húmido do ar africano para ser carregado com mais volumes de bagagem, alguns dos quais semi-abertos e a largar o seu conteúdo. (Nas partidas é usual ouvir-se o som característico dos rolos de fita adesiva castanha a serem desenrolados e aplicados nos mais diversos tipos de equipagem, que leva fruta-pão, bananas, cocos, mangas e as imprescindíveis folhas para o calulu4).

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Homónimo. Prato típico africano que em S. Tomé leva folhas típicas de várias plantas.

Eduardo é, como quase todos os homens santomenses, pai de muitos filhos de diversas mulheres e estas, na sua maioria, carregam toda a vida o fardo de os sustentar e aos filhos das suas filhas, desdobrando-se em vários trabalhos, em empregos mal pagos e vivendo muitas vezes de pequenos postos de vendas, mais ou menos provisórios – as quitandas – onde transaccionam algumas bebidas, fruta e comida que confeccionam em casa. Como iríamos em seguida para a ilha do Príncipe, no pequeno bimotor a hélice da África Conection, com um limite de bagagem de 15 quilos por passageiro, dirigimo-nos rapidamente a casa do nosso amigo onde deixámos à sua guarda, a restante bagagem. O voo para o Príncipe, embora sobrevoe maioritariamente o azul turquesa do mar, onde se destacam os esqueletos ferrugentos de grandes barcos encalhados a poucas centenas de metros de S. Tomé, permite-nos vislumbrar melhor o relevo acidentado das duas ilhas e dos vários ilhéus que compõem LAÇOS Número 1/13 – outubro 2012-janeiro 2013

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o arquipélago e a vegetação luxuriante que o cobre. Não podemos esquecer que estamos sobre a linha do Equador e que a humidade é uma constante com que temos de viver. Chegámos ao pequeno aeroporto do Príncipe, e quase sem formalidades, saímos para o exterior onde nos espera Madalena Patacho, que irá ser a nossa principal interlocutora durante os quatro dias em que ali vamos permanecer. O nosso destino é o resort do Ilhéu Bombom, paraíso que já conhecemos da viagem anterior. Na realidade, é quase a única alternativa na ilha, se exceptuarmos duas residenciais na cidade de Santo António e uma roça onde se pode pernoitar, mas que apenas tem garantidas duas horas de electricidade por dia e cujo acesso é limitado a uma “picada” que pode ser um pesadelo para o mais robusto dos jipes. A Madalena é uma bióloga, mestre em gestão e conservação de recursos naturais, e que, adorando desafios, tem sido a alma portuguesa de uma série de iniciativas apoiadas pelo concessionário do resort, um milionário da África do Sul que negociou com o governo do Príncipe a concessão de grande parte da ilha. Estava pendente a decisão da UNESCO sobre a candidatura do Príncipe a Reserva Mundial da Biosfera5 e os colaboradores do resort estavam envolvidos no objectivo comum de alcançar o estatuto de unidade de turismo ecológico. Para além dos longos passeios pelas praias desertas e pelo caminho de acesso ao hotel que atravessa a floresta, 5

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Foi nomeada em 7 de Julho de 2012.

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queríamos também conhecer um pouco mais da ilha e dos seus habitantes. A dificuldade maior nas deslocações na ilha do Príncipe é que estamos dependentes das excursões vendidas no hotel, bastante caras, visto que não existem carros para alugar – há apenas cerca de 20 veículos automóveis na ilha – nem transportes públicos e a rede viária reduz-se a cerca de 4 km de estrada alcatroada entre o aeroporto e a cidade e muitos caminhos de terra batida que na época das chuvas ficam quase intransitáveis. Em conversa com a Madalena, depois de vermos alguns exemplos do artesanato local existentes na recepção, ficámos a saber que uma das suas ideias é precisamente incentivar a manufactura de peças pelos artesãos locais, basicamente para que estes possam aumentar os seus proveitos mas também para satisfazer os turistas que sempre procuram levar algo que lhes recorde a viagem. Tem sido uma das suas lutas porque, para o modus vivendi santomense, não é fácil incutir a ideia da necessidade de trabalhar para manter uma reserva para futuros clientes. Partimos no dia seguinte com a Madalena, numa visita à aldeia da Praia do Abade onde vive o sr. Trindade, antigo pescador que, para além de cuidar da horta dedica-se ocasionalmente a fazer esteiras e tapetes de fibra de palmeira. Fora o artífice dos “individuais” sobre os quais nos eram servidas as deliciosas refeições de Shyju Chummar, e que nós pretendíamos encomendar.


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Shyju é o jovem cozinheiro indiano que conhecêramos, recém-casado, no ano anterior, e que ao fim de um ano arranhava umas palavras de português mas cujo principal cartão de visita era um simpatiquíssimo sorriso de dentes muito brancos. A nossa visita à aldeia foi bem sucedida, distribuímos grande parte das camisolas, t-shirts e chinelos que levávamos, sob indicação da Madalena que conhece todos pelo nome e sabe quem tem miúdos e mais necessidades. O Sr. Trindade não foi excepção, embora mais velho, ainda tem filhos pequenos e também netos. Levou-nos a visitar a sua casa, cabana de madeira típica da ilha, orgulhoso do novo aparelho de televisão, volume no máximo – a electricidade tinha chegado à aldeia há poucos dias – que embora obsoleto para os nossos padrões ocidentais, atraía a concentração da pequenada, que deitada no chão à sua volta ensurdecia alegremente com o estrépito dos desenhos animados. Habituados à sociedade de consumo foi com estupefacção que verificámos a alegria com que guardavam os invólucros plásticos que envolviam a roupa e que para nós seriam inúteis. Lá, um saco de plástico é um bem precioso e uma garrafa vazia de água, abandonada por um turista, pode ser o brinquedo de uma qualquer criança. Pela Madalena soubemos que, na pequena cidade de Santo António, capital da ilha, com cerca de mil habitantes, vivem duas Irmãs que mantêm a seu cargo um pequeno orfanato e que aceitariam de bom grado a oferta de vestuário.

Esgotado que estava o nosso provisionamento, combinámos fazer-lhe chegar no próximo avião, assim que regressássemos a S. Tomé, mais alguma roupa para as crianças, que ela posteriormente fotografou para este texto. Para não me alongar, refiro que em S. Tomé mantivemos esta opção, de ir entregando aos poucos, à medida que conhecíamos famílias mais carenciadas, os bens que nos tinham confiado assim como aqueles que nós próprios levávamos. Numa missão deste âmbito parece-me sempre difícil, embora tenha já contactado por diversas vezes a realidade africana e a de outros países do Sul, encontrar o equilíbrio na forma de abordar a questão das dádivas, não só para não ferir a sensibilidade daqueles que precisam, não incentivar a “obrigatoriedade” da doação e de forma a que não seja encarado como uma maneira de abafar alguma má consciência de ocidentais, principais possuidores e exploradores da riqueza do mundo. LAÇOS Número 1/13 – outubro 2012-janeiro 2013

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A n a R i t a Fe r r e i r a – A A N º 6 5 / 2 0 0 5

Emblema bordado de Antiga Aluna

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os tempos que correm dou por mim a mal ter tempo para parar, para pensar, para apreciar um lindo dia de sol ou apenas a chuva a cair. Mas, por vezes, premeio-me com uns minutos para refletir no dia-a-dia, no presente, futuro e passado e é em tudo isto que vejo refletidas as palavras Instituto de Odivelas!

Quando me perguntavam se colocaria filhas minhas no IO não tinha dúvidas da resposta, quando me perguntam se vou à abertura solene, 14 Janeiro, etc. a minha resposta não foge do habitual. Neste momento tenho medo é que daqui a pouquíssimo tempo deixe de poder dar esta minha resposta positiva, pela incerteza do futuro deste meu e nosso lar. Foi com base em tudo isto que surgiu a ideia de criar um emblema bordado que nos identifique como Antigas Alunas, que divulguem o nosso IO. Muitas das AA utilizam o pin no traje académico mas considerámos que apesar de significativo é pequeno para a grandiosidade da nossa Casa. Assim comecei a reunir propostas de imagens para o dito emblema e também a elaborar outras. Simultaneamente iniciei a procura de lojas que o conseguissem fazer. Com três lojas em vista restava comparar preços, acertar a quantidade de emblemas a solicitar, acertar contas, a ideia estava quase formalizada! Ao longo de todo este processo tive o acompanhamento e pronta disponibilidade da nossa AAAIO. Esta ajuda foi crucial pois assim conseguimos fazer a encomenda, ter um emblema da AAAIO e conseguir ainda desta forma ajudar a nossa Associação. A imagem e texto escolhidos tentam representar a maioria das ideias dadas. Partilho também uma fotografia do atual emblema já cosido numa capa académica que pode ser adquirido na AAAIO ou em atividades do IO em que a Associação esteja representada, como no 14 janeiro. Irmã, Já tens o teu??

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M . M a r g a r i d a Pe r e i r a - M ü l l e r – A A N º 2 4 4 / 1 9 6 7

UM ESTADO DE ALMA,

um livro por Fátima Santos

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o passado dia 7 de Novembro foi apresentado na Casa Nova o livro “Um estado de alma” da nossa colega Fátima Santos, AA Nº 287/1964. Não conhecia a Fátima até uns dez dias antes da apresentação, quando nos encontrámos para acertar agulhas. Via-a no Facebook e lá soube que ela tinha escrito um livro. Pus-lhe à disposição a Sala do Conventinho para

o lançamento do mesmo. Todos os escritores sugam inspiração nas suas próprias vivências. Fátima Santos manteve esta linha. “Um estado de alma”, não sendo uma auto-biografia, mostra bem perto alguns dos estados de espírito que a autora sentiu nas últimas décadas. A vida não lhe tem sido fácil. Tem tido muitas peUm olhar atento dras no caminho. A escrita deste livro pode ser visto como uma catarse – a personagem Maria assim o ao que se passa reconhece: “Sabia-lhe bem escrevinhar no compuà volta de si tador, assente no seu colo” (página 52). Todos os seus pensamentos, guardados dentro de si, estavam em ebulição e tinham que se soltar do espartilho da sua mente. Na página 139, Maria, a personagem principal, reconhece que “viver é um estado de alma”. E viver significa não parar, continuar apesar dos rochedos à nossa frente. Na página 91, parafraseia António Gedeão: “Pelo sonho é que vamos”. Mesmo perante as dificuldades há que arregaçar as mangas e continuar, sonhando com uma vida sem tantos problemas. Após perder o marido e o filho, um roubado pela morte, outro pela dependência, Maria entrega-se a ser as pernas de um amigo incapacitado para se mover por LAÇOS Número 1/13 – outubro 2012-janeiro 2013

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si – “Pat tinha sido vacinado contra a hepatite B. A esclerose múltipla manifestou-se, talvez porque houvesse já uma predisposição dos seus genes para a doença. Tinha sido uma decisão de Maria ajudá-lo a ultrapassar a solidão, a sua e a dele, num acto conjunto e igualmente um acto de apoio a si própria” (página 37). Vive com ele longos períodos longe de Portugal. “Saber distanciar-se das emoções, ter tempo para reflectir, eram formas de saber estar bem com ela própria, com as pessoas que amava e com os outros” (página 38). Mas o que Maria na realidade pretende é fugir, “distanciar-se do passado, sem descortinar o futuro, como escreve na página 92. Mas esquece-se que mesmo longe, não podemos nunca fugir de nós mesmos. Os nossos problemas acompanham-nos mesmo que estejamos muito longe. “Fugi do meu mundo para distanciar-me do meu filho, para sustentar melhor a sobrevivência, para conseguir suprir os meus medos, dando, dando e dando sem conseguir dar a mim própria” (página 54). Mesmo em St. Laurent, Maria é uma pessoa apoquentada. Pensa no filho de quem nada sabe. Ao longo do livro, várias vezes se pergunta se ainda estará vivo. Se estará a passar bem. Maria não se consegue libertar de si mesmo. Sentia-se encurralada em St. Laurent. Até os muros da casa eram para si uma prisão, apesar de “ter em seu poder a chave do pequeno portão e a liberdade de sair “quando quiser (página 52). “Hoje enlouqueci de raiva, de medo e de solidão” (página 16

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54). Várias vezes se pergunta se a sua decisão de ajudar aquele amigo terá sido a certa. Ajudar pressupõe dar sem receber contrapartida. Mas isso é na teoria. Todos nós gostamos de nos sentir recompensados. Também Maria, que tanto dava de si, mas que do amigo não recebia: “Pat isolava-se no seu casulo com a sua música e o rectângulo da televisão” (página 52). Maria volta a reflectir sobre este dar e receber ao meditar sobre o dia 8 de Março, Dia da Mulher: “A mulher deve ser acarinhada todos os dias. A mulher, o homem, as crianças, os velhos, os desprotegidos. Todos precisam de carinho e amor!” (página 93). Com tenacidade e com força de vontade, e apesar das muitas contrariedades, das muitas noites passadas em branco sem saber que rumo dar à sua vida, Maria encontrou o ponto de equilíbrio e conseguiu passar o bem estar interior ao seu companheiro que aos poucos foi perdendo a sua raiva contra o mundo. Começou a apreciar as pessoas – “as pessoas eram simpáticas porque ele estava mais receptivo a elas”. Ao dar-se, recebe-se. “Um estado de alma” é assim uma reflexão sobre uma vida passada e uma vida que se pretende reconstruir. Um olhar atento ao que se passa à volta de si. Um grito de desespero e um grito de esperança. Dar importância a pequenas coisas, que muitas vezes na correria do dia-a-dia, nem damos importância. É um grito de alguém que quer viver, que se quer libertar dos grilhões dos problemas. Uma vontade


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de viver, partilhando essa mesma vida, a cumplicidade dos pequenos momentos e dos valores que nos unem. Maria cresceu muito ao longo do livro. Penso que Fátima, ao escrevê-lo, também.

solidão. A vida é muito curta para ser desperdiçada.

SER AMIGA É SER IRMÃ é o lema da nossa casa. A irmã que não nos julga e que é capaz de amar. E é um pouco sobre emoções, amizades e valores que este livro se debruça, numa altura em que as pessoas parecem já não ter tempo para falar de sentimentos. E sobre sentimentos e amizades também se refere o livro quando se refere a duas personagens do mesmo - Maria e Margarida. O livro tem como personagem principal Maria, que fala na 1ª pessoa, fragmentos de uma vida que quer apaziguada. Maria decide pôr fim à vida activa como profissional e abraça causas e abraça-se numa tentativa de equilíbrio interior.

“Um Estado de Alma” pincela amores e desamores, avanços e recuos, justiças e injustiças; sublinha a problemática das dependências físicas e emocionais, que cada vez mais fazem parte do nosso quotidiano, numa sociedade estéril de afectos, em que a luta pela sobrevivência é premente. “Um Estado de Alma” é também um grito de esperança nas personagens de Maria, Pat, Margarida e Helena. A vontade de viver é também um “Estado de Alma” assente na partilha, na cumplicidade e nos Valores, que nos permitem apaziguar e amadurecer. E fala também de Amor...O Amor que se consegue transmitir naquilo que se faz ou no que se dá: faz a diferença entre o vulgar e o transcendental. Um dos problemas que caracteriza as pessoas é a ausência de Amor e, em ausência, não há capacidade para Dar e, consequentemente Receber. Não há vida, não há partilha, não há conteúdo. Viver é, efectivamente “Um Estado de Alma”.

Maria vai ter tempo para reconstruir cheiros e lembranças. O passar do tempo incutiu-lhe o gosto pela Natureza, longe dos ruídos citadinos: poder acordar, por si só, sem horários a cumprir era um luxo que não conheceu ao longo de décadas. O cheiro da terra e a paz de espírito tinham para Maria um valor incomensurável. O prazer de TER TEMPO e saborear as coisas de uma outra forma. Maria redescobria sentimentos. Não se podia permitir aceitar qualquer mediocridade com medo da

Por fim gostaria de vos ler umas linhas que, no meu entender são uma mensagem, que retirei de uma entrevista do Moita Flores: “Devemos tentar fazer que a vida seja um minuto de construção de coisas que agradem aos outros e a nós também. A nossa relação com quem nos rodeia tem que ser pautada por aquilo que a morte nos tira: o toque com o outro, a relação com o corpo. Morrer não é fechar os olhos e parar o coração. Morrer é a ausência do abraço e das palavras”.

Sobre o seu livro, escreveu Fátima Santos, no dia da sua apresentação na AAAIO:

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J oaquina Ca dete P hi l l i mo re – AA Nº 193/ 1960

Magusto

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o ano de 2012, no dia de S. Martinho, não fomos à Adega provar o vinho, mas, na véspera, provámos a água-pé no Lar A Nova Casa da AAAIO no já tradicional Magusto que reúne Residentes, seus familiares e voluntárias da AAAIO. Como sempre, uma casa de jantar cheia, mesas decoradas com cestinhos de castanhas nos seus ouriços, preparadas pelas Senhoras e Senhores residentes do Lar com a ajuda da AA Dália Lacerda

Também não faltou, como habitualmente, a venda de produtos caseiros feitos pela Dália Lacerda que fizeram sucesso, revertendo, como sempre, uma parte do produto da venda para a AAAIO. Enquanto não vem o próximo Magusto, deixamos-vos uma foto dos cestinhos para se inspirarem.

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Assembleia geral para aprovação do orçamento de 2013

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o dia 24 de novembro de 2012, reuniu-se, em sessão ordinária, a Assembleia Geral (AG) da nossa associação com a presença de 38 associadas. O Aviso da Convocatória foi publicado em dois jornais diários, “Público” e “Diário de Notícias”, afixado na entrada da Nova Casa e na Sede da AAAIO.

Plano de ação e orçamento para 2013 Na Assembleia Geral de 27 de novembro de 2010, esta Direção foi reeleita para mais um mandato no intuito de se poder consolidar, nesse periodo, as metas e objetivos pressupostos nos compromissos dos anos anteriores. Assim, apesar de grandes contratempos não só a nível financeiro como também pessoal de alguns dos membros da Direção, as apostas pretendidas foram-se concretizando e, apenas, nos resta mais um ano para a realização das intenções e fins a atingir. Na revista Laços 1/11 páginas 16 e 17 foi divulgado o Programa de Ação e Orçamento para o triénio 2011-2013 relatando as prioridades pretendidas. Deste modo, todas as sócias interessadas poderão ter um visão mais precisa do que nos falta realizar. Neste Plano, apenas serão assinalados os objetivos ainda por atingir bem como a consolidação das finanças da Associação e a estabilização da orgânica do Lar e BACF. Atividades da AAAIO Além das atividades já tradicionais (Chá da Primavera/Sardinhada/Magusto) organização de exposições, encontros e palestras para uma maior aproximação das LAÇOS Número 1/13 – outubro 2012-janeiro 2013

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sócias e possibilidades de convívio mais assíduo, manter-se-á a promoção do voluntariado, agora alargado ao voluntariado no Apoio Domiciliário. Muitas sócias, por motivo de doença ou outros, poderão recorrer a esta ajuda para que possam ultrapassar as dificuldades em que se encontrem. A revista Laços que nos últimos dois anos tem evoluido positivamente, tem sido muito apreciada por quem a lê e se interessa pelas notícias associativas e pela variedade dos seus artigos, continuará a manter a sua qualidade e, se possível, incentivar a colaboração a mais Antigas Alunas. O lançamento do livro sobre o historial da AAAIO será agendado para 9 de março do próximo ano, cumprindo o desejo formulado pela Direção há dois anos. A visibilidade das ações associativas e a promoção da Nova Casa-Lar, serão intensificadas através dos meios de comunicação social Radio/TV/Imprensa e redes sociais de modo a tornar ainda mais conhecida a dinâmica e ação social da AAAIO. Os laços que nos ligam ao IO são cada vez mais estreitos, mantendo as boas relações com a Direção do colégio com a qual tem havido uma sintonia e programa de ação muito intenso na defesa da continuação deste Estabelecimento Militar de Ensino por excelência. Havendo viabilidade a AAAIO apoiará o projeto de criação dum infantário, um dos objetivos da Direção do IO.

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Manter-se-á a colaboração com a Associação de Pais/Encarregados de Educação no intuito de congregação de forças e ações de sensibilização na defesa do IO. Os contactos com a Presidente da Câmara Municipal de Odivelas e o Presidente da Junta de Freguesia além de outras personalidades do Concelho serão intensificadas e com projetos de sinergias que construam uma imagem sólida do IO e da AAAIO no Concelho. A AAAIO continuará a participar nos colóquios, seminários e reuniões da CLASO e os contactos com a Junta de freguesia de Carnide (Conselho Sénior) marcando assim uma presença habitual nas atividades concelhias. A AAAIO pretende reatar as negociações com a CMO e JFO no sentido de conseguir uma ajuda financeira para a sua atividade de distribuição de géneros do BACF nas novas instalações do bairro da Arroja em Odivelas, no espaço “Ser Cidadão em Odivelas”, inauguradas em junho passado com a presença da Presidente da CMO e do Presidente da JFO entre outras personalidades. As relações com as associações congéneres AAACM e APE serão mais intensas devido à problemática política do Governo no encerramento de dois dos EME (IO e IPE) e numa tentativa de congregação de ações a tomar pela defesa dos colégios. A AAACM tem mantido uma boa relação conosco, na coabitação do espaço comum no Quartel da Formação pretendendo-se que seja cada vez mais efetiva, assídua e eficaz.


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Nova Casa – Lar Haverá uma consolidação da estrutura dos Recursos Humanos e da informatização da base de dados correspondente às necessidades e bom funcionamento do lar. No final do mandato desta Direção, o Lar será autónomo e poderá ser gerido pelos seus responsáveis, embora sob a orientação da Direção da associação, e com a colaboração dos serviços médicos, de contabilidade e apoio jurídico. Manter-se-á o corpo de voluntárias já organizado e estabilizado e centrado no apoio às atividades semanais e ocasionais em sintonia com as Assistentes Sociais responsáveis pela programação dos mesmos.O acompanhamento psicológico e personalizado das voluntárias aos utentes é uma mais valia imprescindível. No que respeita ao Orçamento para 2013 prevê-se o cumprimento da liquidação dos empréstimos pedidos em 2011 de modo a que a AAAIO fique livre dos encargos neles imputados. Com a lotação completa da capacidade de camas existentes e com a aprovação por parte do ISS do aumento do número de camas para 44, prevê-se um equilíbrio financeiro e a sustentabilidade do Lar tendo sempre em conta a contenção das despesas gerais devendo o controle das mesmas ser cada vez mais rigoroso. 24 novembro de 2012 A Direção

Relatório do orçamento para 2013 O próximo ano continuará a ser um ano de crise, um ano cheio de dificuldades,

que esperamos conseguir mais uma vez ultrapassar. Assim, para o ano de 2013 estima-se que as receitas totais devam ascender a 866.083,87 , em que: • As mensalidades das utentes atinjam os 520.542,01  na base de uma ocupação média de 40 utentes mês, ao preço médio por utente 1.084,40; • O contributo efetuado pelo Centro Distrital da Segurança Social de Lisboa e da Câmara Municipal de Odivelas, ascenda a 130.203,60 ; • E que outras realizações de eventos, formação, contributos diversos, joias, antecipações e outros donativos, incluindo aqui os valores do Banco Alimentar Contra a Fome, nos rendam cerca de 196.425,07 ; • O contributo das associadas, mantendo a média das receitas anteriormente registadas, espera-se que venha a ser cerca de 18.813,18  que será aplicado de forma cuidada; • Das poucas aplicações que fazemos no Banco esperamos receber de juros 100,01 . Também no que se refere aos custos, salientamos os mais significativos: • O custo da alimentação das utentes do Lar, tendo como especial atenção as refeições a confecionar, que devem atingir o montante de 67.857,79 ; • Os custos dos salários com o pessoal estimam-se em 423.248,48 ; • A necessidade de contratar serviços externos, como por exemplo, água, eletricidade, gás, combustíveis e telecomunicações, bem como de serviços LAÇOS Número 1/13 – outubro 2012-janeiro 2013

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• •

especializados (serviços administrativos, saúde, advocacia, enfermagem, manutenção dos equipamentos, e pequenas ações, assim como jardinagem, reparações e outras que sejam de necessidade relevante) leva-nos a prever um valor de 194.777,69 ; O restante será utilizado em áreas de menor relevo em termos orçamentais, mas não de menos importância para o funcionamento da Instituição, nomeadamente os impostos no valor de 1.425,10 , e a amortização dos equipamentos no valor de 46.854,91 ; O restante no valor de 130.569,70 que inclui o banco alimentar e outros custos que possam surgir. Até ao final do ano, ainda se espera uma variação nos custos e nos proveitos, mas que não será relevante; Também se calcula que os juros a pagar ao banco pelo empréstimo que temos, ascendam a 2.522,28 . Os mapas que podem ser consultados na AAAIO espelham de forma detalhada os valores de toda a atividade que se pretende realizar, cujo total de custos e de proveitos se estima em cerca de 865.830,85  e 866.083,87  respetivamente, pelo que se apurará um resultado positivo de 253,02 .

Parecer do Conselho Fiscal O Conselho Fiscal recebeu em tempo útil todos os elementos que serviram de base à elaboração do Orçamento para 2013, o Relatório do Orçamento produzido pela contabilidade e o Plano de Ação e Orçamento produzido pela Presidente da Direção. Tivemos também 22

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a possibilidade de assistir e participar em quase todas as reuniões de Direção ao longo do ano, tendo assim tomado conhecimento das várias ações em curso e das decisões conducentes ao melhoramento da atividade interna e da situação económico-financeira da instituição. Das análises desenvolvidas concluímos que o Lar funciona muito bem face aos meios disponíveis, a Direção mantem-se ativa e com excelente capacidade de programação e implementação de ações tendentes a melhorar os recursos e os resultados e a Contabilidade mantem o rigor e o cuidado que todos conhecemos na classificação e registo de todas as despesas e receitas e no controle das obrigações fiscais e bancárias inerentes. Deste modo o Conselho Fiscal considera o Orçamento proposto para 2013, embora preparado sem otimismo que seria deslocado na conjuntura que se vive no país, bem produzido com base no historial conhecido e na situação previsível para 2013. O Plano de Ação elaborado pela Direção para o Lar e para a Associação, reflete, no nosso entender, a continuação da capacidade e energia já há muito demonstradas e o forte desejo de tudo deixar bem resolvido e arrumado, tanto na atividade interna como no que concerne a situação económico-financeira, até ao final do presente mandato. Assim sendo o Conselho Fiscal, no cumprimento do disposto no Artº 45º dos estatutos da Associação, deseja submeter à apreciação desta Assembleia de sócias


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o seu parecer sobre o Orçamento para 2013 e sobre o Relatório da Direção, como segue: a) que seja aprovado o Orçamento para 2013 b) que seja aprovado o Relatório da Direção.

O Conselho Fiscal: Presidente – Maria Fernanda Rico Vidal, Economista Vogal – Cesaltina do Nascimento Silva Vogal – Maria Isabel Freire Após discussão, foram aprovados o Plano de Ação e o Orçamento para 2013.

Odivelas – Um almoço por um sorriso

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m Almoço de Natal especial teve lugar no IO, numa iniciativa promovida por um conjunto de cidadãos e cidadãs e que teve o inestimável apoio do IO. Esta iniciativa, na qual estiveram presentes mais de 200 idosos do concelho de Odivelas, foi abrilhantada com uma excelente actuação de Cátia Santos, uma cantora de apenas 15 anos.

Para tornar possível esta iniciativa foi necessário o envolvimento de inúmeras pessoas, desde as fantásticas cozinheiras do Instituto de Odivelas, às voluntárias que serviram à mesa (alunas do Instituto de Odivelas), a comerciantes locais, a outros voluntários que deram apoio logístico. A AAAIO associou-se a este almoço tendo sido representada por dois elementos dos corpos sociais e quatro Senhoras Residentes, no Lar a Nova Casa.

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Maria Noémia de Melo Leitão – AA Nº 245/1931

Lançamento do livro “Piscina, amarelo e outras receitas do IO”

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iquei agradavelmente surpreendida quando a Margarida Pereira-Müller, minha amiga e colega, me convidou para apresentar o livro “Piscina, Amarelo e outras delícias. As receitas do Instituto de Odivelas”. Contrapondo, com toda a sinceridade, que outra pessoa de maior visibilidade académica e cultural – que não eu – devia levar a bom termo esta tarefa, a Margarida Pereira-Müller aduziu outros argumentos que quebraram a minha resistência e, assim, aqui estou muito gostosamente a cumprir este desiderato.

Todos nós conhecemos a autora deste livro e muito a apreciamos pela versatilidade das suas qualidades. Inteligente, dinâmica, trabalhadora infatigável opera o milagre de como se sorvêssemos, o tempo lhe sobejar.

É através da memória, o perfume capitoso do nosso refeitório do IO

Porquê este milagre? Porque a sua personalidade se formou no valor da disciplina, aquela que vem de dentro para fora, em liberdade, com um percurso de renúncias em relação ao supérfluo e de aceitação da essencialidade do que valoriza o ser humano através da sublimação progressiva de impulsos escondidos nos escaninhos da nossa função mental. Daqui derivam outras qualidades: a sua sensibilidade refinada, o seu interesse pela cultura, o seu enorme poder de comunicar, a sua capacidade de se dar à Família, às amigas e amigos e aos que necessitam de um olhar atento sobre a circunstância de muitos momentos. Toda esta flexibilidade enriquece a sua personalidade forte e determinada. As verbas resultantes da venda do livro vão todas para a AAAIO. A autora prescindiu dos direitos de autor.

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A versatilidade da sua cultura fá-la debruçar sobre uma temática variada, levando-a a escrever livros sobre culinária e gastronomia – já publicou dezena e meia, versando receitas desde o pão a cozinhas portuguesas e exóticas – e quatro livros de contos que enternecem as crianças e, até os adultos, fazendo-os vogar na fantasia de mundos sonhados. A alimentação é determinante nos desenvolvimentos físico e mental das populações que habitam o nosso planeta. Melhorar a qualidade da alimentação tem sido um processo lento que levou não apenas séculos, mas milénios, se tivermos em conta o isolamento de muitos povos espalhados pelos continentes e que, para bem ou para o mal, foram vendo abrir-se, progressivamente, os seus espaços físicos. A alimentação é tão mais proveitosa quanto maior for a diversidade e riqueza dos produtos nela intervenientes. Por isso, a globalização iniciada nos séculos XV e XVI pelos povos ibéricos, ao percorrerem latitudes e longitudes, fez disseminar alimentos desconhecidos de uns, daqui resultando uma troca de produtos e receitas que enriqueceram a culinária, na sua globalidade. É notório o aumento demográfico, na Europa, depois da Idade Média devastada por epidemias e fomes. A esse aumento demográfico não foi indiferente, portanto, o cultivo de espécies

vegetais e frugíferas que retemperaram o organismo, dando-lhe vitaminas e fibras muito necessárias ao equilíbrio somato-psíquico. Todas as obras de Margarida Pereira-Müller, no que concerne a alimentação, têm como condicionante melhorar a dieta dos seus leitores ou leitoras. Uma refeição apetitosa gera um bem-estar geral que permanece por algum tempo e para isso contribuiu o valor dos alimentos escolhidos e a sua confeção. De entre os livros publicados, um deles é especialmente dedicado aos cheiros, aos perfumes tão conhecidos e apreciados na nossa cozinha, como a salsa, os coentros, o manjericão, os poejos, o alecrim, a segurelha, o louro, o tomilho, a hortelã para perfumar o caldo de carne, etc. Outro livro fala-nos dos chás saborosos e salutares, os que confortam o estômago, segundo a sabedoria popular. LAÇOS Número 1/13 – outubro 2012-janeiro 2013

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Mas, de entre os livros publicados sobre a arte de confecionar alimentos, este que hoje, nos faz reunir aqui, tem um gosto especial. É como se sorvêssemos, através da memória, o perfume capitoso que se evolava do vapor anunciador de uma refeição agradável, convidando à animação – comedida, entenda-se – das alunas em volta da mesa. O título tão sugestivo “Piscina, amarelo e outras delícias. As receitas do Instituto de Odivelas” evoca justamente os pratos indubitavelmente apreciados pelas educandas. Rigorosa, como gosta de ser, a Margarida Pereira-Müller – tal como diz na Introdução – foi junto das cozinheiras do IO munida de papel e esferográfica, a fim de colher as receitas de quem as executa, hoje, e que têm vindo a passar de geração em geração. A Piscina compõe-se de bacalhau e molho branco no fundo da travessa, e onde os nossos olhos mergulham, antecipando o gosto delicado dos ingredientes envolvidos. O bacalhau – peixe que os Portugueses começaram a pescar no século XIV, revelou-se desde então um bom amigo da cozinha portuguesa, e o Instituto não é exceção. E o Amarelo, o que é? É, sem dúvida, um ex-libris da culinária do IO, tem subsistido através de décadas. Nos anos 20 e 30 já existia, sendo sempre recebido com honras de sorrisos rasgados, que ainda hoje se manifestam, aquando da festa do 14 de janeiro, estimulando abundantemente as nossas papilas gustativas. 26

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E de quantos pratos podíamos falar!... Quem esqueceu as bolas de carne acompanhadas de feijão encarnado guisado com chouriço? E que dizer dos empadões? Da carne assada com batatas tostadinhas? Enfim, seria um nunca acabar de recordar as receitas contidas no livro!... Porém, se deixarmos os salgados e pegarmos nas sobremesas, a nossa salivação pavloviana não para. Louvores ao arroz doce (onde se encontra um seu rival?); à mousse de chocolate; à pinha; ao toucinho-do-céu e tantas outras iguarias que fizeram as delícias de quem pisou o chão gasto do Claustro Grande, sonhou no romântico Claustro da Moura ou meditou na serena envolvência da nossa igreja. Do ponto de vista formal, o livro da Margarida revela todo o cuidado que põe no que pensa e executa. Exteriormente é muito bonito, com uma capa apelativa, representando o conjunto de bonecas vestidas dos uniformes que determinaram algumas décadas. Muito cuidado na sua montagem, paginação, índices e todas as exigências inerentes à sua publicação, convida à leitura do receituário e, como corolário, à sua execução. Essencialmente, esta obra tem o mérito de ter sido escrita por uma Antiga Aluna do IO que não se limitou a recordar ementas, mas quis vivê-las, revivê-las numa simbiose de saudade e de pragmatismo.


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“Piscina, Amarelo e outras receitas do IO” testemunha a preocupação dos dirigentes e responsáveis pelo Instituto em proporcionarem uma alimentação rica e adequada às suas educandas, a fim de que crescessem fortes de corpo e de espírito. Lembremos, com reconhecimento, todas as executantes das ementas apresentadas nas refeições, pelo que revelavam e representam de profissionalismo e empenhamento para que tudo fosse ou seja do agrado das “meninas”.

dência para confecionar refeições de excelente qualidade. É com alguma emoção que a felicito por ter levado a bom termo (como é o seu hábito) a tarefa minuciosa de fazer a recolha preciosa dos elementos tão significativos para quem frequentou o nosso Instituto, mas que podem ser do conhecimento de quantos se interessarem por boas refeições. A culinária e no se sentido mais lato – a gastronomia – não é apenas uma arte, mas uma marca da cultura dos diversos povos que em todos os continentes Piscina, e nas mais variadas amarelo latitudes se dedicam e outras delícias a confecionar os aliAs receitas do Instituto de Odivelas mentos, emprestanM. Margarida Alves do-lhes paladares Pereira-Müller capitosos que fazem parte, hoje, de programas turísticos.

O Sr. Coronel José Paulo Bernardino Serra que, em boa hora, dirige o Instituto de Odivelas desde Julho de 2011, escreveu o Prefácio do livro e, nas considerações nele exaradas, há que destacar o que já percecionou do que é o IO, na Desejo-lhe, Margasua força intrínseca. rida, que continue Não é demais repetir, a investigar e a dequanta mágoa sendicar-se a uma tetem as Antigas Alumática que não é nas se um dia virem exclusiva aos escritodiluído este espírito res dos nossos dias, AAAIO forte que humanipois foi abordada por zou, desde sempre, a escritores de primeira nossa casa. O espírito água, como Júlio Diforte que reúne a família das Meninas nis, Eça de Queirós e Bulhão Pato. de Odivelas. E que não lhe falte o que hoje lhe soCom certeza que a Margarida Pereirabra: capacidade criativa, dialogante e -Müller elaborou algumas destas receiboa saúde, para continuar a percorrer tas, quando a culinária era curricular a senda do trabalho que não renega, ao ensino do IO. Talvez essa disciplina mas, ao contrário, louva, praticando-o prática tivesse estimulado a sua tensegundo a sua melhor escolha. LAÇOS Número 1/13 – outubro 2012-janeiro 2013

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Ana Maria Pinto Soares Hoeppner – AA Nº 318/1952

SIC nas instalações de “Ser Cidadão em Odivelas” da AAAIO

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á cerca de dois meses apareceu nas instalações da AAAIO na Arroja “Ser Cidadão em Odivelas”, um jovem casal com uma filha pequena, estando a jovem mãe grávida de 5 meses.

Tinham chegado a Odivelas na esperança de arranjarem habitação mais barata e melhores condições de vida. Conseguida a casa logo se puseram a caminho para encontrar ajudas financeiras e outras, para o sustento da família, já que o marido apenas tinha um emprego precário. Bateram a várias portas (Segurança Social, associações de solidariedade, entre outras) mas todas as tentativas foram em vão. Alguém os informou que a AAAIO, com a parceria do BACF e Entrajuda, tinha uma dependência no bairro da Arroja que possívelmente os pudesse ajudar. Numa última tentativa, dirigiram-se às nossas instalações onde foram cordialmente atendidos e analisada a situação do agregado familiar. Apesar da nossa capacidade não poder comportar mais inscrições, a situação desta família era de tal modo precária e difícil que não se podia deixar de ajudar. Assim, a família ficou inscrita e foi aceite tendo no mesmo dia podido levar para casa um cabaz de produtos alimentares e algumas roupas. Feliz e grato pela ajuda conseguida, o jovem pai escreveu à SIC a relatar a sua enorme alegria pela ajuda conseguida e pelo acolhimento tão solidário e humano de que tinha sido alvo. Passados poucos dias, uma reporter da SIC apareceu nas nossas instalações da Arroja em Odivelas, pedindo autorização para fazer uma reportagem sobre o caso do casal e obter algumas informações sobre a nossa associação e seu historial. Este caso surgiu numa reportagem feita pela SIC com vários exemplos de solidariedade entre os cidadãos e algumas instituições e que já foi transmitida várias vezes, dando assim a conhecer mais uma faceta das atividades da nossa AAAIO. Na sequência da transmissão da reportagem da SIC, a AAAIO recebeu vários contactos de pessoas que estariam dispostas a ajudar esta família, inclusivamente um português residente em Luanda, que, impressionado com a reportagem, se disponibilizou a contribuir para o bem-estar do jovem casal.

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AT I V I D A D E S D A A A A I O E S U A S S Ó C I A S

M . M a r g a r i d a Pe r e i r a - M ü l l e r – A A N º 2 4 4 / 1 9 6 7

Dom Januário na Nova Casa

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o passado dia 20 de novembro, a Nova Casa recebeu a visita do Bispo das Forças Armadas que celebrou uma Missa na Sala do Conventinho, adjuvado pelo Capelão Borges que tem acompanhado os nossos utentes há já mais de um ano. Na sua homília, Dom Januário falou na importância de casas acolhedoras para os mais idosos onde estes sejam tratados como família para que os últimos anos de vida sejam passados com alegria.

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Cesaltina Nascimento Silva – AA Nº 229/1939

Prémio Raquel Ribeiro – Um testemunho*

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dia 1 de Outubro de 2012 foi comemorado como “Dia Internacional das Pessoas Idosas”. Podemos dizer que este foi mais um dia internacional entre tantos outros e dos quais nem sequer damos conta. Desta vez, porém, um pormenor chamou a atenção de todos aqueles que nos sentimos identificados com o I.O. Neste dia 1 de Outubro de 2012, foi instituído o “Prémio Envelhecimento Activo, Dr.ª Maria Raquel Ribeiro”

Estamos a celebrar o “Ano Europeu do Envelhecimento Activo e Solidariedade Social entre Gerações” e este é o motivo que levou a Associação Portuguesa de Psicogerontologia (APP) a desenvolver mais esforços para que 2012 seja efectivamente um ano de mudança positiva em questões relacionadas com o envelhecimento em Portugal.

Em colaboração com a Fundação Montepio e a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, a Associação Portuguesa de Gerontologia instituiu o “Prémio Envelhecimento Activo, Dr.ª Maria Raquel Ribeiro” com o objectivo de reconhecer a vida “... Ainda não deu activa e participação social de pessoas por terminada a valorização com 80 anos ou mais anos de idade que desenvolvam actividade profissional ou e actualização cívica relevante.

dos seus conhecimentos.”

Foi fácil lembrarem-se da Maria Raquel Ribeiro que todos conhecemos pela sua acção discreta, eficaz e perseverante nestas lides sociais. Foi-lhe pedido que desse o seu nome a este prémio o que fez com a habitual simplicidade e espírito de serviço que caracterizam tudo o que faz. Vale a pena recordarmos que Maria Raquel Ribeiro é a aluna nº 203/1936, a “Raquelinha” como gostamos de lhe chamar. * A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.

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Mas, que podemos dizer que identifique esta “menina de Odivelas”? Tão pouco e tanto! Em estilo B.I. que faça parte de qualquer curriculum, reproduzo o que já vi escrito: “Maria Raquel Ribeiro nasceu em Adão Lobo, desempenhou funções de Estado como Directora Geral da Assistência Social, Directora Geral do Instituto da Família e Acção Social, entre tantos outros cargos de relevo…” Esta informação está correcta mas para além do seu laconismo podemos adivinhar uma riqueza enorme porque se refere a uma vida de serviço. Nasceu em Adão Lobo concelho do Cadaval numa família que soube transmitir-lhe as raízes cristãs da fé católica que sempre tem norteado a sua vida. A sua personalidade tem, por isso, a marca sociológica das “gentes do Oeste”: a autenticidade, a busca da verdade, a audácia, a liberdade, a simplicidade… Depois de uma infância normal vivida numa terra da Província no final da primeira metade do século XX, foi admitida no IFET – Instituto Feminino de Educação e Trabalho – em Outubro de 1936. Acompanhou e viveu tudo quanto se processou no IO neste período de transformação e valorização que foram os anos quarenta. Fez o curso dos Liceus e foi uma das alunas que constituiu o primeiro 7º ano, quando este começou a fazer parte do plano de estudos no IO. Dois anos mais tarde, ao ser fundado o Lar das Universitárias, ela fez parte do 1º grupo de antigas alunas que frequentando a Universidade de Lisboa, tinham no IO, o seu Lar, a sua casa, a sua família.

Concluiu o curso de Assistente Social em 1948 e em Janeiro de 1949 iniciou a vida profissional que desde logo começou a enriquecer com novos conhecimentos. Esta valorização e actualização dos conhecimentos ainda não a deu por terminada. O sistema de internato em que se processou a sua formação escolar foi-se completando com a sua ligação com a família e a terra natal. As férias e contactos permanentes que eram noticiados permitiam acompanhar a vida em Adão Lobo e numa sociedade familiar rural. Isto foi também um elemento positivo da sua valorização. No verão de 1950 participava num Congresso Internacional em Roma. Foi este o primeiro passo para uma enorme actividade em congressos, cursos, reuniões e acções concretas em organismos internacionais. As Nações Unidas através do seu Departamento Económico-Social para a Europa com sede em Genebra facultaram-lhe vários cursos e contactos como, por exemplo, um Encontro realizado na Alemanha em 1954, até ao ano de 1994. Foi então designada LAÇOS Número 1/13 – outubro 2012-janeiro 2013

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representante oficial para a realização do Ano Internacional da Família. Com a aposentação em 1995 terminaram as relações internacionais oficiais no Conselho da Europa em Estrasburgo e na União Europeia em Bruxelas, mas não o seu interesse e colaboração com tudo o que se tem feito a nível nacional e internacional nesta área. A sua carreira profissional iniciada no Instituto de Assistência à Família em 1949 percorreu a 2ª metade do século XX e prolonga-se pela primeira dezena do século XXI. Outros cargos foi desempenhando tais como Chefe do Serviço Social da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Dirigente do Sindicato Nacional dos Profissionais do Serviço Social, Comissão Portuguesa do Conselho Internacional do Serviço Social, etc. A sua carreira político-administrativa é vasta e variegada: Directora Geral da Assistência Social, Directora do Instituto da Família e Acção Social. Foi Assessora do Secretário de Estado dos Retornados, do Secretário de Estado da Segurança Social e do Ministro dos Assuntos Sociais. Foi também Presidente da Comissão Instaladora e do Conselho Directivo do Centro Regional de Segurança Social de Lisboa, Directora Geral

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da Família. No plano internacional foi Presidente do Conselho Executivo do Ano Internacional da Família. A sua participação parlamentar foi entre 1969-1973 tendo então várias intervenções nas áreas do Trabalho, Previdência, Saúde e Assistência Social. Integrou a “ala liberal” da Assembleia Nacional, membro do Conselho Nacional do Partido Social Democrata, do Conselho Geral e da Comissão Política Distrital da Área Metropolitana de Lisboa. A esta longa lista dos frutos produzidos pela formação recebida no IO muitos outros podem ser acrescentados. Porque isso seria fastidioso limito-me a referir o último no tempo, não na importância – neste dia 13 de Janeiro de 2013, dia em que o Cadaval está em festa, ela recebeu a Medalha de Mérito Municipal pelo seu contributo para a promoção e desenvolvimento do Concelho do Cadaval constituindo exemplo para a comunidade. Mais uma condecoração, mais um fruto da sua passagem pelo IO. Presente na sua terra natal no Domingo dia 13, no dia seguinte, logo às 10 h não faltou ao “nosso 14 de Janeiro”. Entre as centenas de “meninas de Odivelas” estava a Raquelinha. Vivíamos a felicidade experimentar como é bom aquilo que nos diz o nosso lema “Ser amiga é ser Irmã”.


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PASC- Plataforma Ativa da Sociedade Civil AAAIO foi a 30ª associação a aderir à PASC - Plataforma Ativa da Sociedade Civil “Esta Plataforma está organizada e promove o seu trabalho em rede, no quadro da Missão para que foi criada e para todas as que lhe vierem a ser atribuídas pelo coletivo das Associações” suas associadas.

Trata-se de uma Plataforma que tem por Missão “Dar expressão a questões de interesse nacional fazendo apelo à mobilização dos portugueses para uma cidadania ativa e responsável, individual e coletivamente” e que é apartidária, tem um estatuto informal e depende única e exclusivamente da vontade de cada instituição associada. “As Associações que constituem a PASC – Plataforma Activa da Sociedade Civil mantêm toda a sua individualidade e independência, sem que a PASC intervenha ou ponha em causa essa liberdade. A PASC é para as Associações, um local de partilha, de encontro e participação.” Para saber mais, consultar http://www.pasc-plataformaactiva.org

Gostas de escrever? Colabora na LAÇOS. Manda-nos os teus textos. Serão apreciados pela Redação e, caso aprovados, publicados.

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J oaquina C a dete P hi l l i mo re – AA Nº 193/ 1960

Festa de Natal na Nova Casa

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o dia 15 de dezembro, cumpriu-se a tradição da festa de Natal no Lar da AAAIO, do ano de 2012.

Como sempre, o Capelão celebrou a Missa, ao fim da manhã, procurando chegar a cada residente e suas famílias, passando mensagens natalícias. Numa delas, que muito tocou a Todos, afirmou que, no Natal, é tempo de perdoar a todos quantos pensamos terem sido menos corretos conosco. E, mesmo que achemos que estamos cobertos de razão, recordou que a Deus não interessa a razão mas sim o Amor. E dei comigo a pensar que seria tão mais simples se cada um/a de nós assim decidisse em cada Natal. E, neste Natal, foram muitas as pessoas, e não apenas antigas alunas, que quiseram colaborar, organizando pequenos pontos de venda dos seus produtos artesanais, havendo sempre lugar a uma percentagem para a AAAIO ou doando artigos para a Tômbola. Também empresas solidárias voltaram a colaborar na Tômbola, a saber: Zapbolsas (www.zapbolsas. com), Miss Soap (www.facebook.com/MissSoap), o turismo rural Casa Covão da Abitureira (www. abitureira.com), a TAP, a Lufthansa, os sabonetes Canavezes (www.canavezes.com), a Wells (www. wells.pt), a CGD (www.cgd.pt) e a AA Isabel Maria, entre muitas outros. As fotos mostram as decorações natalícias que alegraram a sala de jantar, onde decorreu a festa de Natal muito concorrida como sempre, e o interessante presépio que esteve na entrada, da autoria da AA Dália Lacerda e dos Residentes, feito com materiais reciclados.

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Maria I s abel Gar c i a Sa n to s – AA Nº 194/ 1954

À conversa com os Residentes

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stamos a terminar o ano de 2012 e por isso é natural fazer um exame de consciência. Antes de o fazer vou apresentar as entrevistas que foram feitas à Srª D. Alda e à Zilda. Estas Residentes têm em comum ser AAIO mas de faixas etárias muito diferentes.

A Srª D. Alda tem 93 anos e entrou para o colégio com 7 anos. Contou-nos que foi muito bem acolhida no colégio e recorda com carinho a acção do Director, Coronel Simas. A Zilda tem 66 anos, minha contemporânea no Colégio, entrou com 10 anos. A sua entrada precoce no Lar deveu-se a problemas de saúde. Questões apresentadas às duas Residentes, Srª D. Alda Moura (a) e Zilda Silva (b) 1. Quando mudou para o Lar de que sentiu falta? a. Senti a falta da família naturalmente. b. De tudo, do ambiente familiar, do café, das saídas, de ser mais independente 2. Ao conversar com as voluntárias sentiu que tinha voltado ao colégio e que as suas histórias também lhe interessavam a elas? a. Sim, interessam-lhes. b. Não sinto que voltei ao colégio nem que as minhas histórias interessem muito. No entanto gosto e acho importante que venham cá as voluntárias, é como uma lufada de ar fresco na monotonia do lar. 3. Gosta dos passeios a museus e de ir ouvir as Bandas? a. Sim, Bandas é comigo. b. Não vou por falta de condições nas carrinhas mas gostaria de ir. Eu tenho sorte de poder sair com Familiares o que não acontece com alguns residentes que assim praticamente não saem.

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8. Pensa que é preferível que sejam antigos alunos do I.O, C.M. e dos P. E? a. Não interessa se são ou não antigos alunos. b. Talvez seja preferível pelo conhecimento da vida dos colégios. Talvez haja uma resposta mais verdadeira.

4. A que outros sítios gostaria de ir? a. Gostaria de ir à praia no Verão porque no Inverno faz muito frio. 5. Que actividades gostaria de ter aqui no Lar? a. Já temos as actividades todas. b. Tudo o que fosse para distrair: jogos, cartas, palavras cruzadas, etc. Também gosto de trabalhos manuais, por influência da Voluntária Dália que é muito empenhada e tem bom gosto. 6. Gosta que haja voluntárias? Que poderão elas fazer para tornar a sua estadia mais agradável? a. Sim, as voluntárias ajudam muito. Não sei, talvez pudéssemos dar mais passeios a pé. b. Sim, acho importante que venham, porque estão mais actualizadas nos acontecimentos do dia a dia (político e social). 7. Gostaria que também houvesse voluntários? a. Não acho mal, é indiferente. b. Penso que poderão ser igualmente úteis. 36

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Parece-me que estas entrevistas têm utilidade, porque nos permitem conhecer melhor os Residentes através das suas respostas. Muitas vezes me questiono se poderemos fazer mais, além de sermos solidárias e talvez compreender melhor o que nos dizem. Já não temos vinte anos, temos alguns múltiplos de vinte, e isso poderá ser uma vantagem na nossa acção aqui no Lar. Penso que talvez devesse vir mais frequentemente mas a inércia de vir de Carcavelos para Lisboa tem limitado a minha participação. No entanto, ao observar a logística do lar verifico que as empregadas deveriam ter formação; além disso, uma certa desorganização poderia ser colmatada com a contratação de uma governanta. Ao longo do ano tentámos transmitir a nossa amizade aos residentes e mostrar o sentido positivo do que nos rodeia. Alegrarmo-nos com a introdução de novas actividades, coro e trabalhos manuais o que enriqueceu muito a vida deste Lar. Vamos tentar que o novo ano seja mais enriquecedor para esta Grande Família. Nota: Não quero terminar sem agradecer à Helena (minha amiga e colega de turma) que me continua a apoiar na escrita.


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Maria Guilherm ina de A ta í de – AA Nº 135/ 1957

“Crónica duma tarde bem passada”

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quele lugar é mágico! Quando passamos o portão de ferro trabalhado e a enorme porta de madeira se fecha sobre nós, voltamos a ser meninas! Todos os problemas ficam lá fora! Estão proibidos de entrar! Cotas dos anos 60, somos um grupo de tropas especiais, da tal geração fantástica do Elvis, dos Beatles, do Rock e do Twist e da chegada do Homem à Lua.

Claro que isto, era só “extramuros” porque lá dentro, tínhamos de andar na forma, ser disciplinadas e estudiosas e viver ao “toque da campainha”. Foram precisamente as lágrimas, que quase todas chorámos, ao entrar para o IO, as tristezas e alegrias e os medos que aprendemos a partilhar, que nos uniram para sempre e que nos ensinaram a “Amizade verdadeira”. Ao chegar ao Clube, lá estava no “Portaló” a nossa “Almiranta” Ana Maria Ayala, que nos recebeu com o seu sorriso amigo e o seu habitual abraço acolhedor, que tornámos extensivo umas às outras.

“São desembaraçadas, divertidas e têm sentido de humor estas Meninas!”

A organização do almoço é da sua iniciativa contando com o apoio da Teresa Neves e da Fernanda Cota, como oficiais de “Transmissões”. O papel das duas consiste em fazer os primeiros contactos por Email, SMS e Telefone, e depois cabe a cada uma de nós “passar a palavra”. Do Salão Principal vêm as gargalhadas e sobe o tom do vozear constante! Há tanta conversa a pôr em dia, tanta recordação a tirar do “baú das coisas boas”! Mudada a organização dos sofás e cadeirões e arrastado o enormíssimo canapé de palhinha, damos por nós conversando em círculo. Tinha de ser assim! Ali estavam representadas, no feminino, os três ramos das Forças Armadas! Todas diferentes mas todas iguais, brincando mas respeitando a opinião de cada uma. LAÇOS Número 1/13 – outubro 2012-janeiro 2013

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Da parede daquela sala de decoração Queirosiana, D.Carlos (O rei marinheiro, grande oceanógrafo e pintor), sorria disfarçadamente, por baixo dos seus bigodes reais, balbuciando baixinho: “Que bela ideia teve o meu irmão Afonso em fundar este Colégio para as filhas dos meus oficiais. São desembaraçadas, divertidas e têm sentido de humor estas Meninas!” Para estragar este real pensamento, a Ana Ayala, impôs-se elevando a voz: “Então, que é isto, Meninas?! Haja respeito! Lembrem-se de onde estamos!”O tom das vozes baixou por momentos, logo recrudescendo, o que fez rir a nossa Chefe e dizer: “Não dou conta de vocês! Vá, Meninas, vamos sair daqui. Está a

tocar para o almoço e talvez, a comer, estejam mais caladas.” Lá fomos para o “Refeitório” onde uma sopa quentinha e um arroz de pato, nos alegraram o corpo e a alma, dando-nos ainda mais energia para falar. Coitada da Ana Ayala! Após um agradável café e uma foto tirada por um fotógrafo profissional, descoberto pela Teresa “entre a prata da casa”, chegou a hora de “Retirar”! A nossa “Almiranta” foi a primeira a chegar e a última a abandonar o navio, como mandam as “leis do Mar”! Que excelente tarde! Que bom Convívio! Temos pressa de voltar!

Fim de tarde de poesia

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o final de setembro, a antiga professora de Inglês e de Alemão do IO, Natália Hasse Fernandes, premiou-nos com um maravilhoso fim de tarde poético. Com a sala do Conventinho cheia, Natália Hasse Fernandes disse-nos maravilhosamente poemas da sua autoria, alguns dos quais acompanhados de belas imagens. Natália Hasse Fernandes já tem obra publicada, da qual realçamos os títulos E No Limite a Flor. Um êxito a repetir!

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Aulas de Culinária no IO com o apoio da AAAIO

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m janeiro deste ano, o IO retomou a longa tradição de oferecer às suas alunas aulas de Culinária, a funcionar com o apoio da AAAIO.

Este foi um longo processo. Em 1999, as alunas do 12º ano pediram ajuda à AAAIO para as apoiarem no seu pedido para que as aulas de Culinária se mantivessem na oferta extra-curricular no IO. A AAAIO falou com a diretora da época e com o Comandante de Instrução e Doutrina, tendo sido entregue uma proposta concreta para a realização desses cursos. De ambas as partes, a AAAIO e as alunas signatárias desse pedido receberam respostas ambíguas, nada tendo sido feito para se avançar com uma oferta pedagógica. No início do ano escolar em curso, o atual diretor do IO contactou a AAAIO para saber se a proposta ainda se mantinha de pé. E assim, a 16 de janeiro, teve lugar a 1ª aula de Culinária. Oito alunas do 12º ano, prepararam em conjunto um jantar completo: creme de legumes, pizza margherita, tzatziki (salada grega de pepino) e pudim flã. As aulas têm lugar todas as 4as feiras das 17h às 20h.

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AGENDA

Pa r a f i c a r i n f o r m a d o s o b r e t o d a s a s a c t i v i d a d e s d a A A A I O p a r a 2 0 1 3

Agenda Data

Hora

Atividade

9 de março

17h

Dia da Antiga Aluna

Local IO

23 de março

14h30

Assembleia Geral Ordinária

Nova Casa

25 de maio

16h

Chá da Primavera (5 )

Nova Casa

Plano semanal das actividades sócio-culturais do Lar “Nova Casa” Manhã

SEGUNDA-FEIRA

MISSA

TERÇA-FEIRA

Sem actividades, devido à consulta médica que decorre nesta hora

Tarde SESSÃO CORAL 15 em 15 dias (Voluntárias Maria Emília, Teresa Pacetti e Teresa Neves)

SESSÃO DE CINEMA (Assistente Social Andreia Martins e residente Francisco Cabral)

TRABALHOS MANUAIS (Voluntária Dália Lacerda)

A HORA DO CONTO

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QUARTA-FEIRA

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(Voluntária Margarida Pereira-Müller)

ou PASSEIO 1 x por mês (Voluntárias Helena Cavaco e Dália Lacerda)

TEATRO DA LUZ QUINTA-FEIRA

SEXTA-FEIRA

(Programa da Antena 1 “Viva a Música”)

GINÁSTICA (Enfermeira Joana Costa)

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Ofélia Moreira de Sena Martins Antiga professora e subdiretora do IO a 20/11/2012

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Maria Amélia Nunes Dias Bastos Sande AA nº 96/1929 a 12/12/2012

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Eva Cândida Fernandes André Chaves a 25/11/2012

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Margarida Maria Bernardo da Cruz a 30/11/2012

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Laurinda Maria Rebelo a 18/11/2012

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Ascenção Gonçalves da Costa a 22/09/2012

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Infelizmente não somos eternos e é sempre com pesar que dizemos adeus a colegas e residentes

IN MEMORIAM

I N ME MO R I AM

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IN MEMORIAM

O adeus à Sra. D. Ofélia

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partida deste mundo de alguém que muito estimamos, deixa sempre sentimentos de tristeza e orfandade. Não se podendo dizer que foi uma surpresa a notícia da morte da Senhora Dona Ofélia de Sena Martins, antiga subdiretora do Instituto de Odivelas, causou, no entanto, grande consternação entre as muitas Antigas Alunas que tiveram o gosto e o privilégio de a conhecer. Os testemunhos e votos de pesar, nas redes sociais, sucederam-se, provando o quanto esta Educadora influenciou muitas gerações de Meninas de Odivelas.

Na Assembleia Geral de 24 de novembro de 2012, a AA Maria Noémia Leitão, que a conheceu de muito perto, propôs um voto de pesar no que foi secundada por todas as Antigas Alunas presentes. Tendo chegado à AAAIO pela mão da antiga professora do IO, Natália Hasse Fernandes, cópia de um texto escrito por outra antiga professora, muito querida também de todas as alunas, Maria Ana Almendra, por ocasião do almoço de despedida das professoras do IO à Senhora Dona Ofélia, aquando da sua aposentação, pedimos licença para o transcrever na Laços. É um texto que revela toda a sensibilidade de quem o escreveu e que interpreta bem o sentir de quantas foram suas Colegas, ao longo de vários anos. Este texto foi lido durante os serviços fúnebres. “Senhora Subdirectora Querida Subdirectora Em nome de todas nós, tomo a liberdade de lembrar que este almoço não é uma despedida, é um pretexto para, em conjunto, lhe dizermos que temos amizade por si, que temos admiração por si. Nós temos sido as beneficiárias das suas qualidades: da sua sensibilidade e inteligência, da sua atenção aos outros, do seu rigor sem rigidez, da sua firmeza e da sua compreensão, do seu idealismo e também do seu pragmatismo, da sua competência,

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IN MEMORIAM

da sua lucidez e do seu calor humano, da sua beleza espiritual, da sua serenidade, do seu sorriso… Em suma, nós temos sido as beneficiárias da sua harmonia. Permita, Senhora Subdirectora, que prestemos homenagem a essas qualidades, nós que temos tido a felicidade da sua convivência, nós que fomos contempladas com uma Subdirectora que se admira e que se ama.

Permita, ainda, que em nome também da Exma Senhora Directora, que nos deu a honra de se associar a nós, e das Colegas que já não estão no Instituto mas continuam nele porque nele deixaram uma parte de si próprias, permita que lhe entregue uma pequena lembrança, que, sendo pequena, simboliza uma grande amizade, uma grande gratidão e que leva consigo o desejo de que continue connosco. 15.03.1986 Maria Ana Almendra

VOLUNTARIADO DOMÉSTICO Tens algum tempo livre? Podes dar apoio às nossas colegas idosas ou às colegas que estão em casa doentes e precisam de quem lhes faça as compras ou as acompanhe ao médico ou ao banco. Ou somente de quem lhes faça companhia, lhes leia o jornal ou um livro ou lhes dê dois dedos de conversa. Se estás interessada em apoiar as nossas colegas, entra em contacto connosco por email geral@aaaio.pt ou por telefone, 217 119 220 e pede para falar com a Ana Maria Hoeppner.

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IN MEMORIAM

Maria Noémia de Melo Leitão – AA Nº 245/1931

Ofélia Sena Martins

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morte é um acontecimento que não devia surpreender os que sobreviverem aos que partiram, pagando o tributo que é devido à vida. No entanto, uma mágoa acompanha o espanto, quando quem já não é, se impôs pela sua dignidade. Lembramos, hoje, aqui em modéstia de palavras, mas exaltação de sentimentos, a Senhora Drª Ofélia Sena Martins, senhora que deixou um rasto de personalidade exemplar.

Começou, muito nova, a ensinar disciplinas (latim, grego, português) que se ajustavam ao seu lado humanístico, tendo tido a oportunidade de transmitir, com toda a proficiência, aos jovens seus/suas alunos/as a beleza e profundidade do pensamento dos clássicos, autores a quem se deve uma parte da civilização ocidental. Além de professora foi Subdirectora do Instituto de Odivelas, cargo que exerceu com inexcedível profissionalismo e rara sensibilidade, mais de quarenta anos, tratando as alunas com incomparável delicadeza o que consistia, afinal, num exemplo para as próprias educandas. A suavidade era um traço predominante da sua personalidade delicada e contida, granjeando amizades que perduraram até ao fim da sua longa existência. Quando se aposentou – aos setenta anos – viu-se rodeada de várias manifestações de apreço, admiração e reconhecimento da parte de professoras e ex-professoras, funcionárias/os e ex-funcionárias e alunas e ex-alunas do IO. O Estado, reconhecendo-lhe a vida de trabalho ao serviço da educação, atribui-lhe uma condecoração (já havia recebido outras) imposta pelo Ministro da Defesa de então, Dr. Leonardo Ribeiro de Almeida que, por acaso, havia sido seu aluno no Liceu de Santarém. A cerimónia realizou-se no ginásio, revestiu-se de uma grande solenidade e teve a presença do corpo docente, funcionários e amigos convidados especialmente para o efeito, seguindo-se um jantar de gala, na Sala do Tecto Bonito, com a presença de autoridades oficiais. A Senhora D. Ofélia foi uma senhora que ficará na lembrança de quem teve o privilégio de exercer funções docentes ao seu lado, de lhe ter reconhecido a sua posição hierárquica, de ter acompanhado, em suma, a sua superior forma de estar na vida. A AAAIO apresenta as mais sentidas condolências a sua Família.

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Domingas Matos da Cruz Caras amigas, ex AA-IO, Refiro-me à carta da Salete Tereno (...), pessoa que muito estimo e considero como AA, e de quem guardo na memória a co-participação inesquecível no lançamento, da então artesanal Revista, bem como a sua dedicada, organizada e desinteressada colaboração noutras áreas da AAAIO, nomeadamente no LAR (...). Como não sei o endereço da Salete, e porque a publicação da carta a divulga pela comunidade das AAs que lêem a «Laços», utilizo este meio para me pronunciar sobre o assunto, aproveitando para, mais uma vez, anexar cópia de dois textos que se referem ao lançamento da Revista, o último dos quais escrito a pedido da Direção da AAAIO e publicado por altura do 20.º aniversário da Revista. (...) Domingas Matos da Cruz AA 156/48

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A LAÇOS reser va-se o direito de editar, resumir e só publicar cartas de leitores identificados.

CARTAS À REDACÇÃO

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C A R TA S À D I R E C Ç Ã O

D. Januário Torgal Mendes Ferreira (...) com os melhores cumprimentos, vem agradecer a gentileza da oferta dos Laços por parte da AAA desse Instituto, relevando a distinção e o bom grafismo, o sentido e o peso dos conteúdos, mas fundamentalmente, a grande lição de Família e solidariedade que sempre caracterizou uma instância pedagógico-cultural como sempre foi o Instituto de Odivelas. Assim, os mais responsáveis não esqueçam a Justiça que é devida ao que houve e aconteceu e acontece! Lisboa, 22 de Outubro de 2012

Professor Marcelo Rebelo de Sousa Com os respeitosos cumprimentos, (...) agradece o último número da “Laços”. Entretanto, esperando que o momento da fusão das instituições possa demorar a chegar. Ou mesmo não chegue.

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C A R TA S À D I R E C Ç Ã O

Maria de Lourdes Sant’Anna Mal chegada que foi a nossa Laços 3/12, e depois de ter apreciado a sua apresentação, capa artigos e sua ordenação, (...) a mandar as minhas felicitações pela excelência e alto nível da Laços e não só. Queria saber se a Maria de Jesus Cadete era A.A. tendo sabido (...) que apenas a sua Irmã é, como nós, A.A. Mas não importa, pensei, corre nas veias o mesmo sangue de todas nós. E quero referir-me ao seu artigo “ Viver com Esclerose múltipla” uma história contada na primeira pessoa. Maravilhosa, Maria de Jesus! Como te dás e nos dás a todas a doença que o destino te reservou. Com tão grande simplicidade, com quanta tranquilidade, com tamanha grandeza de alma que magoa Maria de Jesus! Não conheço muitas pessoas que o fizessem. Em geral esconde-se a doença que nos atormenta como se de vergonha se tratasse. “E o fundamental mesmo é apenas como se encara a doença”! Esta tua frase pode levar a tantos doentes a certeza da esperança a vontade de vencer, a energia de que se precisa. Bem hajas Maria de Jesus, por partilhares connosco o muito de ti mesma nesta tua caminhada. Bem hajas! Maria de Lourdes Sant’Anna AA Nº 278/1936

Maria Antónia de Luna Andermatt Pareço longe mas não é verdade (...) Não esqueço a vossa luta gloriosa e o vosso amor pela Associação das Antigas Alunas. Na balança do Além, a Vossa dedicação será bem compensada. Tenho a certeza. (...) Um abraço Luna Andermatt AA Nº 63/1935

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C A R TA S À D I R E C Ç Ã O

Maria da Luz Carvalho Lopes Queridas Amigas, Fui aluna de Odivelas de 1953 a 1959 e saí, após fazer o 5 ano. Em finais de 1958, o meu Pai foi nomeado Adido Naval na Embaixada de Portugal em Londres e a tentação que tive de me reunir à família superou a escolha óbvia e sensata de completar os meus estudos no IO. As consequências foram inevitáveis, mas a pena que senti por ter rejeitado ficar e optar por partir foi, até certo ponto, mitigada (ao longo de quase 50 anos fora do meu País) pela profunda fé e admiração que sempre senti nas altas qualidades académicas e nos valores culturais que o IO, desde o seu início, procurou inspirar nas «suas meninas». Mantenho contato regular com a minha irmã, também antiga aluna, assim como algumas amigas do meu ano, e recebo a Laços, revista a alto nível, que leio em pormenor com imenso interesse. Através dela estou sempre up-to-date com as notícias e atividades da AAAIO. Nesta fase difícil e crítica para o nosso querido IO não pude deixar de escrever para expressar o choque, e depois a tristeza, que senti quando soube que se questiona a sua existência. De Londres irei seguindo, com ansiedade, o desenrolar dos acontecimentos. Feliz 2013 para todas! Abraços, Maria da Luz Carvalho Lopes (Britnell Green) AA Nº 78/1953

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o passado dia 6 de outubro de 2012, o Instituto de Odivelas (IO) participou na VII Festa de Teatro Amador levando à cena a peça de Lurdes Augusto, “Memorial de um Sonho”. As professoras Conceição Silva e Paula Ângelo com o saber, a experiência e a dedicação com que já habituaram a comunidade educativa, adaptaram o texto e dirigiram um elenco composto por alunas do Clube de Teatro e antigas alunas que concluíram o 12.º ano no ano letivo de 2011 – 2012. A peça teatral, destinada, sobretudo, a um público jovem e escolar aborda a célebre obra literária de José Saramago e de leitura obrigatória no Ensino Secundário: “O Memorial do Convento”. Eis a sinopse: “Uma miúda de doze anos, curiosa e aborrecida com as suas distrações habituais, quer ouvir uma história diferente. Uma tia que anda a fazer uma tese sobre a obra do prémio Nobel português resolve contar-lhe, de uma maneira muito especial, O Memorial do Convento. Daqui resulta um enredo que pretende dar a conhecer aos mais novos alguns momentos fulcrais da obra de José Saramago”. O desempenho das alunas do Instituto de Odivelas foi, como é tradição, excelente. Durante mais de uma hora, as alunas estiveram em palco, numa encenação bem ritmada e eficaz, entre o passado, do século XVIII, e o presente do século XXI, com diálogos imbuídos de humor, de crítica e de história. Os aplausos de todos os que assistiram a “Memorial de um Sonho” foram o testemunho do reconhecimento do trabalho das professoras e das alunas envolvidas. No Centro Cultural da Malaposta, ocorreu mais um momento alto para o Instituto de Odivelas.

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“Memorial de um Sonho” – O IO no Centro Cultural da Malaposta

NOTÍCIAS DO IO

NO T Í CI AS D O I O

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Medalha de Honra do Município para o IO

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o passado dia 19 de novembro de 2012 o Instituto de Odivelas foi agraciado, com a Medalha de Honra do Município, Grau Ouro, por ocasião das comemorações do 14.º Aniversário do Município de Odivelas.

O Halloween no Instituto de Odivelas

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o passado dia, ou mais apropriadamente noite, de 15 de novembro 2012, decorreu a habitual Festa do Halloween no Instituto de Odivelas (IO), organizada pelas alunas do 12.º ano. A tradicional festividade também conhecida por Dia das Bruxas, e de origem anglo-saxónica, celebra-se a 31 de outubro mas, por contingências de calendário, decorreu no IO uns dias depois. O 12.º ano está de parabéns pela organização do evento que incluía um percurso “sinistro e sinuoso” no edifício e no qual participaram alunas dos vários anos de escolaridade. Como documentam as fotografias do evento, a encenação cuidada e a caracterização rigorosa das personagens proporcionaram a criação de um ambiente e de momentos que as alunas adjetivaram de assustadores e divertidos!!

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NO T Í CI AS D O I O

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Ida ao Teatro das Alunas do 3.º ciclo do Instituto de Odivelas

o dia 21 de novembro de 2012, as alunas do 7.º, do 8.º e do 9.º ano de escolaridade, assistiram à peça, em língua inglesa, A Crime in New York, da companhia teatral inglesa Interacting, levada à cena no Auditório Paroquial de Santa Joana Princesa, em Lisboa. Acompanharam as alunas, a coordenadora de ciclo, professora Margarida Lima, as professoras Anabela Pinto, Helena Proença, Maria João Anastácio, Vera Pamplona e as diretoras de turma, professoras Cristina Osório e Margarida Cunha. Os dois atores em cena, numa paródia à ação de um detetive em busca de um colar de diamantes roubado, com o recurso de diálogos simples e bem-humorados, por vezes hilariantes, numa encenação ritmada e eficaz, chamaram ao palco alunos que se encontravam na assistência. Assim, alguns dos presentes foram convidados a participar na peça, interagindo de forma animada, atuando de acordo com as palavras e gestos sugeridos pelos atores. Aliou-se à experiência de pisar um palco a possibilidade, bem-disposta, de dialogar em inglês. Por isso, no seu programa de apresentação, a Interacting, aconselha: “Remember: laugh while you learn!”. Eis três opiniões de alunas que assistiram ao espetáculo:

Gostei muito do teatro! O facto de podermos ouvir atores ingleses representar ajuda-nos a desenvolver a Língua Inglesa. A história que mais gostei foi a última que tinha como tema um crime em Nova Iorque. O facto de o público poder interagir com os atores, tornou a peça mais engraçada. Maria João Leite 8.º B Gostei do teatro! Para além de ser engraçado, foi feito num vocabulário simples para que todas o compreendêssemos. Achei que foi uma forma lúdica e criativa de aprender Inglês. Maria Teresa Nunes 9.º A Foi muito interessante! Acho que esta visita foi muito importante porque foi uma nova experiência o que nos ajudou a melhorar o nosso Inglês. Foi um teatro excelente e todas demos umas boas gargalhadas! Catarina Madeira 7.º B

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O S. Martinho no Instituto de Odivelas

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o dia 12 de novembro de 2012, o 11.º Ano apresentou no Ginásio do IO uma representação teatral, relacionada com a lenda de S. Martinho, intitulada E tu, já partilhaste hoje? à qual que assistiram Direção, Corpo Docente, Funcionários Militares e Civis e todas as Alunas. As alunas do 11.º ano dramatizaram a lenda associada ao santo, adaptando-a aos nossos dias. Segundo a tradição

cristã, Martinho, um soldado romano e cristão do século IV, viajava a cavalo num dia de tempestade, frio e chuvoso, quando um mendigo lhe pediu ajuda. O cavaleiro decidiu, então, partilhar a sua capa com o pobre homem. Passaram-se momentos animados e nunca é demais sublinhar a importância da partilha e da solidariedade, numa época em que tantos necessitam de ajuda.

IO nas XXXI Olimpíadas Portuguesas da Matemática

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s alunas do Instituto de Odivelas participam nas XXXI Olimpíadas Portuguesas da Matemática. As alunas inscreveram-se nas várias categorias – Pré-Olimpíadas, Júnior, Categoria A e Categoria B. As provas da primeira eliminatória decorreram no dia 7 de Novembro de 2012, na Sala de Matemática, entre as 15h30m e as 17h30m.

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Abertura Solene do ano letivo 2012/2013 no Instituto de Odivelas (Infante D. Afonso)

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o passado dia 31 de outubro de 2012, teve lugar a Abertura Solene do ano letivo de 2012/2013 no Instituto de Odivelas. À chegada, as Entidades Convidadas e a Alta Entidade foram recebidos pela Direção na Sala do Fundador. De seguida, decorreu a apresentação de cumprimentos pelo Corpo Docente no Átrio da Rainha Santa. A cerimónia teve início na igreja do Mosteiro de Odivelas onde estiveram presentes Alunas, Corpo Docente, Funcionários Militares e Civis, Encarregados de Educação e Pais de Alunas. Fizeram parte da Mesa de Honra: o Tenente-general Francisco António Correia, Comandante de Instrução e Doutrina, e que presidiu à cerimónia, a Dra. Susana Amador, Presidente da Câmara Municipal de Odivelas, o Tenente-general Carlos

Jerónimo, Comandante das Forças Terrestres, Ana Maria Hoeppner, Presidente da Direção da Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas e o Coronel José Serra, Diretor do Instituto de Odivelas.

de Odivelas ser uma escola feminina em regime de semi-internato e com espírito de disciplina. Sublinhou, igualmente, o aumento do número de alunas, pese embora a conjuntura difícil, e disse esperar que essa

Após a entoação do Hino do Instituto de Odivelas pelas alunas, o Sr. Diretor do Instituto de Odivelas proferiu uma alocução, onde procedeu a um breve balanço do ano letivo transato, destacando o sucesso escolar alcançado pelas alunas. Salientou ser um alicerce essencial do Projeto Educativo o facto de o Instituto

tendência siga num crescendo nos próximos dois anos. O Sr. Diretor referiu que o Instituto de Odivelas, olhando o futuro, continua fiel às suas raízes: a educação de filhas de militares, nomeadamente, aqueles que prestam missões no estrangeiro, e ainda que o Instituto de Odivelas, pelas suas características

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específicas, saberá responder à emergência de um novo paradigma familiar associado à mobilidade que enfrenta a sociedade portuguesa atual. Neste seguimento, o Sr. Diretor concluiu, afirmando que a melhor defesa do país é a Educação. O Sr. Diretor dirigiu, igualmente, palavras de agradecimento, pela colaboração e apoio, aos representantes da instituição militar, da instituição camarária, demais forças vivas da cidade de Odivelas e da Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas. Foi pedido, também, pelo Sr. Diretor uma salva de palmas ao Corpo Docente, tendo sido entregue uma lembrança aos Professores que deixa-

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ram de lecionar no Instituto de Odivelas em 2012/2013. A cerimónia prosseguiu com a Lição Inaugural proferida pelo Sr. Major Capelão António Borges Silva, subordinada ao tema: Diálogo entre Gerações. Com a sabedoria, a clareza de discurso, a comunicabilidade e o humor com que já habituou a comunidade educativa, o Sr. Capelão abordou a temática que envolve e convoca a família, a escola e a sociedade: o relacionamento interpessoal. Seguiu-se a entrega dos diplomas às alunas que terminaram o Ensino Secundário em 2012 e de prémios e medalhas às alunas que mais se distinguiram no ano

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letivo de 2011/2012. Às novas alunas foi entregue o símbolo do Instituto de Odivelas, o lacinho verde com a Cruz de Avis, pelas alunas madrinhas. Estas, por sua vez, receberam das suas afilhadas, o símbolo de madrinhas. Depois, a Comandante de Batalhão proferiu algumas palavras, destacando o papel das Alunas Graduadas na vida escolar, fazendo jus ao lema Ser amiga é ser irmã. Sucedeu-se a entoação do Hino Nacional e o grito Salve nosso Instituto! Cada vez mais alto! Por fim, na Sala do Teto Bonito, foi oferecido um Porto de Honra, precedido de palavras de agradecimento do Sr. Diretor a todos os presentes.


NO T Í CI AS D O I O

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O Instituto de Odivelas na Cerimónia Oficial das Comemorações do Dia do Exército – 2012

o passado dia 28 de outubro, na cidade das Caldas da Rainha, decorreu a cerimónia oficial das Comemorações do Dia do Exército, em que a Companhia do Instituto de Odivelas, integrada no Batalhão dos Estabelecimentos Militares de Ensino, fez parte das forças em parada. Como sempre, as Alunas do Instituto de Odivelas estiveram CADA VEZ MAIS ALTO, representando um estabelecimento militar de ensino ao serviço da Educação e de Portugal e que comemorará no dia 14 de janeiro de 2013, o seu 113.º Aniversário.

Receção às Novas Alunas do Instituto de Odivelas – 2012-2013

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os dias 13 e 14 de setembro de 2012, decorreu a receção às novas alunas internas e externas para o 2.º ciclo, o 3.º ciclo e o ensino secundário, como há muito é tradição, e no sentido de favorecer a boa integração de todas as novas “meninas” no Instituto de Odivelas (IO). As atividades realizadas ao longo dos dois dias que antecedem o início do 1.º período foram diversas e contaram com o acompanhamen-

to da Direção, das coordenadoras de ciclo, dos diretores de turma, de professores, do capelão do IO, do Gabinete de Psicologia do IO, de funcionárias civis e militares e de alunas graduadas do 12.º ano. No primeiro dia, as novas alunas percorreram os vários espaços escolares: refeitório, rouparia, camaratas, vestiário, salas de aula, laboratórios, sala multimédia, salas

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de Línguas e de Educação Visual, anfiteatro e piscina. Decorreu, depois, um animado Peddy paper na Quinta. A seguir ao almoço, teve lugar na Sala do Teto Bonito uma reunião com a Direção, as coordenadoras de ciclo, os diretores de turma, a coordenadora do Gabinete da Aluna e a psicóloga. No ginásio e no campo de jogos, as alunas participaram em jogos de atividade dinâmica organizadas para o efeito. Seguiu-se, para as alunas internas, o convívio com as alunas graduadas, o jantar no refeitório e, por fim, a ida para as camaratas. Aqui, já na manhã do dia 14 de setembro, as alunas internas cumpriram as tarefas habituais. Após o pequeno-almoço, alunas internas e

externas, organizadas por equipas, foram surpreendidas com uma Caça ao tesouro. A tradicional e misteriosa mas muito emocionante caça ao tesouro serviu de pretexto para conhecer a História e as dependências do antigo Mosteiro de S. Dinis de Odivelas, bem como as personagens históricas e as lendas a elas associadas. Trata-se de uma atividade que as alunas do IO sempre re-

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cordam com carinho quando ainda muito pouco, ou nada, conheciam do espaço onde passam a viver, a aprender e a conviver. Seguiu-se o almoço com as novas alunas e que contou com a presença da Direção, dos pais e encarregados de educação, dos professores e das alunas graduadas. Da parte da tarde, decorreram as seguintes atividades: construção de instrumentos musicais, ateliê de música e dança, experiências com lápis de cor e aguarelas e um workshop de teatro. O Senhor Diretor acompanhou os pais e encarregados de educação das novas alunas na visita às instalações escolares tendo, de seguida, reunido com os mesmos na sala do Teto Bonito. Entretanto, na sala do Infante, teve lugar uma reunião do Corpo de Alunas com a sua comandante. Por fim e, de novo, na sala do Teto Bonito, procedeu-se à entrega de prémios e diplomas da Caça ao tesouro e do Peddy-paper. Após mais um dia em cheio e pleno de emoção, as novas alunas saíram para o fim-de-semana. Já só faltavam dois dias para uma nova etapa das suas vidas começar… Sejam bem-vindas, novas alunas do IO! Votos de um ano letivo de 2012-2013 pleno de sucesso, no espírito da divisa “cada vez mais alto” e seguindo o lema inspirador das antigas alunas do IO: “ser amiga é ser irmã!”


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Cerimónia de Imposição de Graduações do Instituto de Odivelas – 2012-2013

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ecorreu no dia 12 de setembro a cerimónia de imposição de graduações, pelo Senhor Diretor do Instituto de Odivelas, às alunas do 12.º ano. As alunas graduadas terão a responsabilidade de enquadrar as alunas mais novas no ano letivo que está prestes a começar, respeitando e praticando o Código de Honra do Instituto de Odivelas.

3. Ter orgulho na farda. 4. Amar a verdade, lealdade, amizade e partilha, dando prioridade à dignidade individual.

5. Total empenho na instrução e formação física, intelectual e moral, próprias e coletivas. 6. Não fraquejar perante as adversidades e ser humilde nas vitórias. 7. Regular-se, em todas as circunstâncias, pela prática do bem e do bom senso. 8. Ser intransigente à desonestidade e a quaisquer ações contrárias à honra e à disciplina. 9. Respeitar todas as entidades para o bom funcionamento da vida colegial. 10. “Ser amiga é ser irmã”.

Código de Honra 1. Honrar a Pátria e tudo o que a representa. 2. Honrar e prestigiar o Instituto de Odivelas.

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113º Aniversário do IO

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o dia 13 de janeiro de 2013, e dando início às comemorações do 113.º Aniversário do Instituto de Odivelas realizou-se o Desfile do Batalhão de Alunas e da Banda do Exército pelas ruas da cidade de Odivelas. Ao longo de todo o percurso e no ponto de continência, na parada do Quartel dos Bombeiros, pais, familiares, antigas alunas, população de Odivelas e público em geral, acompanharam as alunas, aplaudindo-as de forma carinhosa e entusiástica. No dia 14 de janeiro de 2013 prosseguiu a celebração do 113.º Aniversário da fundação do Instituto de Odivelas, pelo Infante D. Afonso, duque do Porto e irmão do rei D. Carlos. De acordo com o programa geral da cerimónia comemorativa, decorreu na Sala do Fundador, a receção à Alta Entidade e às entidades convidadas. No Ginásio do Instituto de Odivelas (IO), foi dada sequência à Cerimónia Comemorativa. Da Mesa de Honra fizeram parte o Diretor de Educação, em representação do Comandante de Instrução e Doutrina, que presidiu à Cerimónia, o Diretor do Instituto dos Pupilos do Exército, o Diretor do Instituto de Odivelas, o Vice-Presidente da Câmara Municipal de Odivelas e a Presidente da Assembleia Geral da Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas (AAAIO).

Seguiram-se as alocuções da Comandante de Batalhão do IO, da Presidente da Assembleia Geral da Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas (AAAIO) e do Diretor do Instituto de Odivelas. A Comandante de Batalhão referiu os laços para a vida que ficam ao ser-se aluna do IO, pondo em prática o lema Ser amiga é ser irmã.

Estiveram presentes na ocasião: entidades convidadas, militares, corpo docente, fun-

A Presidente da Assembleia Geral da AAAIO salientou a dedicação do Diretor do IO à

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cionários civis, todas as alunas bem como antigas alunas e professoras.


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causa da AAAIO e a divisa Duc in Altum – Cada vez mais Alto, que justifica a tradição e o futuro do Instituto de Odivelas. O Diretor do IO apresentou o enquadramento histórico secular do Instituto de Odivelas, realçando a identidade muito própria de uma escola, de referência e inovadora, que é uma grande Família, tendo como sempre o faz, afirmado que “as alunas são a nossa razão de ser”. O Diretor do IO saudou todos os presentes e agradeceu, igualmente, a colaboração de todas e, especialmente, das entidades convidadas. O Diretor procedeu, a um breve balanço do trabalho efetuado no ano letivo de 2011 – 2012 e apresentou iniciativas e atividades a realizar no futuro. Foi entregue nesta cerimónia, simbolicamente à Comandante de Batalhão, a medalha de honra, grau ouro, do Município ao Instituto de Odivelas, atribuída por ocasião do 14.º Aniversário da elevação de Odivelas a concelho, no passado dia 19 de novembro de 2012.

des convidadas visitaram a Exposição de Motivos de Natal composta por trabalhos realizados, no decurso do 1.º período letivo, pelas alunas de todos os anos de escolaridade, no âmbito das disciplinas de Educação Visual e Tecnológica (2.º Ciclo), Educação Visual (3.º Ciclo) e Oficina das Artes (Ensino Secundário). Seguiu-se o almoço volante de convívio no refeitório geral do Corpo de Alunas com a presença da Alta Entidade, Direção, entidades convidadas, militares, corpo docente, funcionários civis e alunas. Igualmente, a presença no almoço de muitas antigas alunas proporcionou, como é sempre tradição nesta ocasião, momentos agradáveis e animados de reencontro, de confraternização e de recuperação e relato de memórias. No bolo de aniversário do 113.º Aniversário do IO, estava representada a centenária árvore

A Cerimónia Comemorativa prosseguiu com a imposição de condecorações a militares e funcionários civis ao serviço no Instituto de Odivelas. Ainda no Ginásio, foram entoados o Hino Nacional e o Hino do IO e foi dado, pela Comandante de Batalhão, o Grito do IO “Salve nosso Instituto! Cada vez mais alto!” De seguida, teve lugar a Celebração Eucarística – Memória e Ação de Graças - presidida pelo Capelão do Instituto de Odivelas. Após a Missa, a Alta Entidade e demais entida-

Avó, local de brincadeiras desde as primeiras até às atuais alunas. Deu-se, então, por concluída a Cerimónia Comemorativa do 113.º Aniversário do Instituto de Odivelas (Infante D. Afonso).

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ANTIGA ALUNA

O QUE É FEITO DE TI, AA?

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M . M a r g a r i d a Pe r e i r a - M ü l l e r – A A N º 2 4 4 / 1 9 6 7

“Eu não me calo” – assim era e assim se manteve Flora Carvalho

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o tempo do colégio do que me lembro da Flora Carvalho, AA Nº 99/1969, é ela pertencer ao grupo das meninas que estavam sempre a ser castigadas. Que era considerada rebelde. Mas as recordações estão muito envoltas na névoa do tempo. A Flora é da minha era do IO mas não pertencia ao meu grupo de amigas. Conhecia-a mal. E foi no almoço em que conversámos para este artigo que comecei a perceber algumas das situações de há mais de

três décadas.

Flora nasceu no Lobito, Angola, em 1957, onde viveu despreocupadamente os primeiros anos da escolaridade. Quando andava no 2º ano do liceu, o Pai morre. A Mãe opta por colocá-la no Instituto de Odivelas. No entanto, naquele tempo, as alunas só podiam entrar para o 1º ano. Como resolver então o caso? Solução burocrática fácil: inscreve-se a aluna no 1º ano! Foi assim que Flora já estando na realidade no 2º ano, começa tudo desde o início ao entrar no colégio. Rebeldia? Assim se compreende, porque ela tinha amigas mais velhas, o que as Inconformismo vigilantes da altura não entendiam. – um traço de carácter Era considerada difícil, rebelde sempre com a resposta na ponta da língua. À luz de hoje, vê-se a situação duma maneira bastante diferente… Mas não interessa. O que sabemos é que Flora nunca se calava. Estava constantemente a ser castigada sem perceber porquê. Uma vez no 2º ano, pousou o livro de ponto com alguma força sobre o tampo de vidro da secretária que… se partiu. Foi suspensa das aulas por um mês, que passou na enfermaria. Um dia, apanhou um grande raspanete por ter feito um desenho dum rapaz a beijar uma

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rapariga na boca e que tinha guardado no Atlas; a vigilante apanhou-o e Flora foi castigada, tendo passado uma semana na cozinha a lavar as panelas. Mas como as panelas eram muito grandes e ela não sabia como as haveria de lavar, foi buscar uma vassoura que usou para lavar as panelas. Quem viu não gostou e Flora apanhou novo castigo. Aliás, lavar panelas na cozinha do IO passou a ser tarefa rotineira. Um dia, fez um assalto aos bolos da Diretora e foi apanhada pela D. Ilda. “O grupo do assalto era grande, mas só eu fui apanhada por ter ficado para trás a lamber os dedos”, relembra Flora mais de quatro décadas depois. Castigo: ir para a cozinha lavar panelas… “Tive imensos castigos quando estava no IO. Fui posta duas vezes numa mesinha pequenina no meio do refeitório já nem sei porquê”. Todos contra a Flora? Não. “A Mrs Garcia gostava muito de mim. Dizia que eu era muito popular e que as pessoas populares são boas, são como os santos…” Com uma experiência destas, diríamos que Flora teria detestado andar no colégio, Mas não. Ainda hoje diz:!”Adorei andar no IO”. De tal modo que quando foi expulsa por mais uma tropelia, a

Mãe perguntou-lhe se queria voltar. Eu disse-lhe que não; mas ela avisou-me que em Angola, onde vivíamos, não iria ter o que tinha no colégio: os teatros, os bailados, os cinemas, as amigas. E então pedi para voltar. “A minha tia era muito amiga da Di e escreveu uma carta ao Américo Tomaz pedindo a minha reinserção no colégio”. Mesmo contra a opinião da Diretora, Flora voltou. “Tenho a sensação de que a Di não gostava das órfãs e de meninas cujos pais não eram oficiais”. Flora era aluna do Conselho e talvez isso fosse a razão para estar sempre de castigo qualquer que fosse o motivo. Uma situação que levou a que a irmã não fosse admitida. “A minha irmã não entrou porque a Di dizia que se eu era assim, a irmã seria ainda pior”. Para sobreviver no colégio, agarrou-se muito às amigas. “Gostava muito duma das minhas chefes de mesa, a Gisela Marques. Era muito calma, amiga, ponderada. Sentia que tinha nela um porto seguro”. Das professoras guarda da Cândida Balcão Reis uma boa recordação. “Era uma pessoa exigente, mas foi sempre das pessoas mais exigentes que me recordo melhor por ter sido com elas que mais aprendi”. Ao sair do colégio seguiu Enfermagem por desafio da LAÇOS Número 1/13 – outubro 2012-janeiro 2013

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colega e amiga Conceição Corrente – e foi também a Enfermeira Teresa Franco, uma chefe muito exigente que teve anos mais tarde num hospital, com quem mais aprendeu. Em 1980, resolve ir para a África do Sul. Com o curso tirado havia somente dois anos e meio, viu-se mergulhada num mundo completamente novo, a anos de luz do que se praticava em Portugal. “A minha estada na África do Sul vincou muito a minha maneira de ser e estar na vida profissional. Eu era um grãozinho de areia, os meus conhecimentos em relação a eles eram demasiado pobres. Enquanto na África do Sul já se usava material descartável, nós aqui em Portugal ainda usávamos seringas de vidro e agulhas de metal”. Quando regressou quatro anos mais tarde, vinha outra. “Trouxe de lá um conhecimento tão rico, tão rico que foi muito bom poder contribuir para implementar nos serviços os meus novos conhecimentos. “Fiz sucesso”. Teve a sorte de trabalhar com a Enfermeira Margarida Fernandes, a melhor chefe que jamais teve, exigente, sabedora e sobretudo muito humana. “Deu-me largas para eu introduzir as novidades trazidas da Africa do Sul no serviço de cirurgia do Desterro que abrimos e que cá ainda não eram utilizadas”. Foi aqui 62

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que aprendeu a gostar de ensinar – e ainda hoje lhe dá muito prazer orientar cursos e partilhar com os outros tudo o que sabe. A esterilização tem sido a sua grande paixão – e a sua grande dor de cabeça. Quando se mudou para o Hospital de Almada, nunca pensou vir a dirigir o serviço de esterilização. A Esterilização é uma área que é pouco valorizada pelos profissionais de saúde e infelizmente há poucos enfermeiros com formação específica e que invistam nesta área. O Serviço de Esterilização é um fator chave no Controlo de Infeção, por isso é um serviço exigente com características muito específicas que faz do mesmo um serviço complexo e “conflituoso”, não podemos acelerar um processo de esterilização só porque o cirurgião se quer despachar… .“Queria o melhor para o serviço, segurança e qualidade para os doentes. Não facilitava. Parti para a certificação do serviço com muito empenho e dedicação!” Comecei pela norma NP EN ISO 90001:2000 – Sistema de Gestão de Qualidade – mas rapidamente subi a fasquia e propus certificar também pela NP EN ISO 13485:2004 – Dispositivos Médicos de Gestão da Qualidade. Requisitos para fins regulamentares. Foi o primeiro e o único Serviço de Esterilização Centralizada no País a ser certificado por estas duas normas. A conformidade com essa norma internacional comprova que a sua organização está comprometida com atender aos requisitos dos clientes mediante a imple-


O QUE É FEITO DE TI, AA?

mentação e manutenção de um sistema de gestão da qualidade. Era a primeira vez que a empresa certificadora APCER certificava um serviço de Esterilização pela Norma 13485, nasceu assim um processo paralelo, eu aprendi e cresci com os auditores e eles aprenderam comigo a parte técnica. Em 2009/2010 apresenta o seu projeto “Sistema de Gestão da Qualidade num Serviço de Esterilização Centralizada” nos “Prémios Hospital do Futuro” ganhando o 3º Lugar da categoria – Qualidade-Certificação. E foi por defender com unhas e dentes a qualidade, integridade e segurança do doente bem como o prestígio do seu serviço que a dada altura pede ajuda à DGS e Infarmed. A Inspeção Geral das Atividades em Saúde (IGAS) abriu um inquérito à alegada utilização de próteses ortopédicas ilegais pelo Serviço de Ortopedia do Hospital Garcia de Orta de que Flora sabia e condenava – “eu não me calo”. Diz agora como dizia há décadas no IO. Apesar dos dois processos disciplinares terem sido arquivados …a competência,

profissionalismo e empenho não se conjugam com alguns interesses. Foi afastada do serviço de um dia para o outro por incompatibilidade com algumas pessoas, Flora virou-se para a formação, ensinando o que sabe pelo país. As suas sessões de formação são sempre um êxito. “Os formandos estavam tão interessados na matéria que a formação deveria acabar às 13H00 e eles pediram para eu continuar até às 17H00”, conta-nos Flora sobre a sua última ação nos Açores. “Ficou logo o convite para voltar para o ano com mais dias de formação. Apanhei mau tempo mas a beleza daquela ilha faz-nos esquecer o frio e a chuva e ... simplesmente olhar para aquele mar e paisagens e dar largas à nossa imaginação”. Assim é Flora. Consegue esquecer o que lhe é adverso e ver a beleza.

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À CONVERSA COM...

À CONVERSA COM...

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J oaquina Cadet e Phillim ore – AA N º 193/ 1960

Meninas de Odivelas, para sempre

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ntrevistar Antigas Alunas (AA) não é novidade na Laços, mas entrevistar um grupo de AA que têm em comum o facto de terem andado no IO e o de estarem, em um dado momento, no mesmo país, aí sim já se afasta do procedimento habitual.

Depois de termos abordado o tema da diáspora da AA do IO no editorial, quisemos saber um pouco mais sobre as razões ou motivações que levaram o grupo que vive na Bélgica, a grande parte em Bruxelas, a fazer aquela escolha.

As entrevistadas são a Anabela Pereira - AA Nº 174/1970, a Teresa Henriques - AA Nº 201/1970, a Isabel Pratt - AA Nº 116/1970, a Ana Cristina Esgalhado - AA Nº 224/1966, a Ana Henriques - AA Nº 264/1970, a Ana Teresa Caetano - AA Nº 361/1972, a Luisa Fonseca e Silva Melo/Likas - AA Nº 217/1959, a Ângela Athayde - AA “... A mulher portuguesa Nº 252/1966, a Vera Reis - AA Nº revela uma grande 143/1968 e a nossa interlocutora direta, a Lucinda Afreixo - AA Nº capacidade 364/1972. O título da entrevista de adaptação é da autoria do Grupo.

a outras culturas”

Mais uma vez consultadas as Colegas AAIO, via Facebook, para que a entrevista seja um pouco de todas nós, enviámos uma “abada” de perguntas, como diria a Isabel Afreixo. Por motivos de logística local, houve um grupo que respondeu às perguntas, em conjunto, cujas respostas resultam de uma conversa recolhida pela Anabela Pereira e que contou com a concordância de outras que não puderam estar. Para além destas respostas, temos também as que a Likas, individualmente, mas com o mesmo entusiasmo, também enviou.

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À CONVERSA COM...

E foi interessante e enriquecedor constatar vivências profissionais e motivos pessoais diferentes, na origem da escolha deste destino. AAAIO - Antes de mais, o que vos levou a sair de Portugal e depois qual a razão de terem escolhido a Bélgica? Grupo – Para a maioria, a Bélgica não foi uma escolha deliberada mas o fruto de uma proposta de trabalho com perspetivas de carreira interessantes. É de salientar que este grupo pertence grosso modo à mesma geração, aquela que nos anos 80 viveu a adesão de Portugal à União Europeia. Ao procurar um primeiro emprego, abria-se esta janela de oportunidade. Acrescentemos a este facto o bom conhecimento de línguas estrangeiras destas meninas (graças à excelente formação recebida no colégio!) e estão criadas as condições para dar o salto ! Sair do país não era uma necessidade mas um facto natural. Algumas já viviam no estrangeiro, por razões de estudo ou familiares. A proposta de trabalho em Bruxelas foi, de um modo geral, aceite com uma grande dose de ingenuidade e de desconhecimento das futuras condições de vida e de trabalho. Likas – No meu caso foi

uma decisão tomada a dois (meu marido e eu). Ele foi convidado para ocupar um lugar na área dele (controle de trafego aéreo) no Centro Europeu de Controle de Tráfego Aéreo. Em Lisboa, apesar da experiência que tinha e de ser formado pela ANA não estava a conseguir colocação na mesma área por diversas razões (sócio/politicas) que não vêm agora ao caso. Eu tinha uma carreira que nem sequer era muito aliciante como relações-públicas/faz-tudo numa PPP e demos oportunidade ao mais novo de nós e com mais perspetivas de futuro. Vem a propósito dizer que, quando vim para a Bélgica tinha 44 anos e o meu marido 26, casámos para virmos “em ordem”...burocraticamente falando!! Valeu a pena!!! AAAIO – Uma vez que a maioria reside em Bruxelas, consideram ser uma mais-valia viver numa cidade que fica perto de muitos outros centos culturais europeus?

O jantar do Grupo

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À CONVERSA COM...

Grupo – Bruxelas é uma cidade no coração da Europa o que permite um acesso fácil e rápido a uma série de outras cidades europeias. É efetivamente uma mais-valia em relação a Portugal, com uma posição periférica em relação ao resto da Europa. Bruxelas é uma cidade cosmopolita, com uma vida cultural intensa e diversificada, onde se cruzam numerosas culturas e se praticam diversas línguas. O número de nacionalidades presentes é muito elevado o que atenua o nosso sentimento de estrangeiras! Continuamos todavia a sentir a nostalgia do tempo ameno e do Sol radioso de Portugal! Likas – Geograficamente sim, é absolutamente uma mais-valia! Bruxelas não é Paris nem Londres, não tem grande dinâmica mas é sem dúvida o centro da Europa e culturalmente muito aberta. AAAIO – Trabalham todas em organizações internacionais? (UE, NATO, Delegação do Conselho da Europa) Grupo – A maioria trabalha em diferentes serviços da Comissão Europeia, três no Parlamento Europeu e uma outra no novo serviço diplomático da UE. E uma outra numa Escola Europeia. Em todos estes locais de trabalho, o ambiente é multilinguístico e pluricultural. Likas – Eu pedi licença sem vencimento na minha empresa, que não me deram, e rescindi o contrato de trabalho. Não me queixei, deram-me tudo a que tinha direito e mais alguma coisa, e reformei-me este ano. Trabalhei no Eurocontrol e na NATO como freelancer e foi excelente. Aqui é um “melting pot” e tanto se trabalha com belgas como com húngaros, arménios, americanos, canadianos, chilenos, asiáticos dos 66

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vários quadrantes, espanhóis, franceses ou sérvios...ou croatas!!!! Aprende-se rapidamente «todos diferentes, todos iguais»!!!! Para mim foi uma experiência muitíssimo positiva!!!! Não há uma nacionalidade com a qual possamos dizer que é mais fácil relacionarmo-nos. Acho que isso vai de cada um de «per si». Os turcos, por exemplo são simpáticos e cultíssimos, nada arrogantes, os americanos são «cowboys» mas muito sociáveis, os irlandeses cinco estrelas, é o país dos «pubs», do convívio, os belgas são, em geral, pouco conviviais e os franceses, no todo, arrogantes, mas particularizando tenho excelentes amigos franceses. Enfim, isto é só uma migalha do que se encontra por aqui. A Europa é um todo e é assim que se vive aqui!! AAAIO – Para as que trabalham nessas organizações, como foi a adaptação aos procedimentos adotados e qual a nacionalidade com a qual é mais fácil estabelecer uma relação mais próxima? Depois de mais de vinte anos no estrangeiro, a adaptação continua. O ambiente de trabalho nas instituições evoluiu continuamente e exige uma grande capacidade de adaptação e de flexibilidade. Inicialmente, a adaptação a um ambiente de trabalho multilinguístico e multicultural exigiu uma aprendizagem pois não é linear trabalhar com colegas de diferentes nacionalidades e, por vezes, em diferentes línguas. A cultura administrativa pode igualmente variar de um serviço para outro, dependendo da nacionalidade predominante. Um ambiente de trabalho multicultural e


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multilinguístico é enriquecedor mas igualmente altamente complexo e exige uma boa dose de bom senso e de diplomacia. E curioso notar que a mulher portuguesa revela uma grande capacidade de adaptação a outras culturas e encontramos portuguesas casadas com homens de variadíssimas nacionalidades! AAAIO – Os valores aprendidos no Instituto facilitaram a vossa integração? O facto de o colégio ser um internato, que nos obrigou a abandonar cedo a envolvente familiar, criou em nós uma grande autonomia e capacidade de resiliência, preciosos no tipo de ambiente em que nos movemos. O contacto chegado com uma grande diversidade de alunas deu igualmente origem a uma grande abertura e facilidade de contacto com os outros e, sobretudo, uma grande camaradagem e solidariedade Muitos anos passados sobre o fim dos nossos estudos, continuamos a encontrar-nos com um inegável prazer e a cumplicidade muito especial de quem partilhou momentos marcantes nas nossas vidas. A esmerada formação recebida traduziu-se numa cultura geral e num saber fazer preciosos para as nossas vidas tanto familiar como profissional. Recordamos com nostalgia e uma ponta de divertimento as aulas de Economia Doméstica onde se aprendia que a casa ideal devia ser virada a Sul e próxima do emprego do marido e da escola dos filhos! E as aulas de Puericultura e a arte de dar uma papa a um bebé que esbraceja, as aulas de Culinária e os deliciosos acepipes preparados, as aulas de Arte

de Dizer e os intermináveis exercícios de pronunciação. Enfim, um sem número de coisas cuja utilidade viemos a compreender mais tarde e que nos incutiram uma preciosa capacidade de resposta aos problemas. Likas – Os valores “aprendidos” no IO já cá estão desde que deixei o colégio em 1969. São a estrutura base da mulher e do ser humano que sou hoje. Possivelmente, por isso, tenho tantos amigos de todos os cantos do mundo! AAAIO – E as saudades, esse património português, como as gerem? A Likas com a Mikas (AA Nº 122/60) em Bruxelas

Com umas jantaradas, exclusivamente entre “meninas de Odivelas”, onde o menu é frequentemente uma viagem nostálgica aos pratos da nossa adolescência, como a piscina e o amarelo. Todas vivemos experiências diferentes mas quando nos reunimos, é flagrante que partilhamos um património comum que se revela em muitos pormenores da nossa postura, do nosso comportamenLAÇOS Número 1/13 – outubro 2012-janeiro 2013

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to, da nossa forma de estar no mundo e, sobretudo, dos nossos valores. Todos os anos passados no magnífico quadro histórico do Mosteiro de Odivelas foram um privilégio e deixaram marcas profundas e recordações inesquecíveis! Likas – As saudades gerem-se bem, acho eu. Há as novas tecnologias e há o aeroporto de Zaventem em Bruxelas, que nós dizemos meio a brincar, meio a sério que é o melhor sítio de Bru, porque é onde apanhamos o avião para Lisboa. Fora de brincadeiras, falo todos os dias com os meus netos, com os irmãos, com as filhas e “sobrinhada”. Claro que não estamos em todos os jantares ou almoços familiares, faltamos com certeza a alguns baptizados ou outras festas mas, no geral, podemos sempre ir ao casamento de fulano ou sicrano, podemos sempre ir a Lisboa festejar o aniversário dum amigo/a desde que seja organizado com tempo e, claro, nos anos dos netos é obrigatório estar presente!!!!! Grupo – Foi um prazer para algumas de nós voltar ao Colégio no âmbito da iniciativa da Comissão Europeia “Regresso à escola” para falar da Europa e das nossas experiências profissionais às atuais alunas. Várias décadas se

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escoaram desde o termo dos nossos estudos mas encontrámos as mesmas escrivaninhas, sobre as quais trabalhámos para obter os nossos diplomas. O uso deixou a sua patine mas tudo continuava primorosamente cuidado e imutável, como se o tempo se tivesse esquecido deste recanto tranquilo. De referir que Todas as entrevistadas expressaram a sua grande preocupação com a situação que se vive no IO, um estabelecimentos militar de ensino com mais de 100 anos de existência, e que contribuiu com sucesso para a formação de tantas gerações de mulheres portuguesas. E manifestam o seu apoio a todas e a todos aqueles que lutam para que a mesma não aconteça. Agradecemos a Todas o vosso pronto testemunho de “emigrantes” na Bélgica, país de chuva constante e frio mas com outras comodidades como por exemplo o acesso à saúde e aos melhores especialistas e ainda, sem dúvida, o poder usufruir de algumas vantagens relacionadas com o trabalhar em instituições europeias. Desejamos que continuem com esse espírito de Meninas de Odivelas e, já agora, experimentem outras iguarias do livro que compendia as receitas dos pratos confecionados, ao longo de mais de um século, no nosso Instituto…


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A n a El i a s – AA Nº 216/ 1982

Sobre a toxicidade das pessoas

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uando acordo, sou uma pessoa tóxica. Tão tóxica que, tanto quanto possível, evito relacionar-me com as pessoas queridas que habitam lá em casa e que, sabe Deus porquê, vieram todas ao mundo dotadas duma especial boa disposição mal abrem a pestana. Afasto-me delas e respondo por monossílabos para não as intoxicar. Aos mais pequenos, que ainda precisam de alguma ajuda, coopero com gestos mecânicos enquanto lhes peço num tom de voz controladíssimo, que se assemelha ao do Vítor Gaspar, que não cantem e moderem

as euforias. A alegria e a euforia alheias, em momentos em que estamos tóxicos, enervam-nos sempre muito porque nos parecem uma dança num ritmo que toda a gente consegue acompanhar excepto nós, os tóxicos. No fundo, como num jogo de espelhos, o ânimo alheio mostra nua e cruamente a um tóxico que ele é o feio e os outros, por contraste, os bonitos. E isso torna um tóxico ainda mais feio e mais tóxico, por A toxicidade é se confrontar por contraste com a sua toxicidade. E, talvez por isso, peço de manhã um fenómeno transversal aos meus filhos que se mexam devagara todas as pessoas -depressa: Devagar nos movimentos, mas em algum momento depressa na eficácia e no método, porque há vida lá fora que não espera e aulas para da vida onde ir e trânsito para enfrentar. Peço-lhes o impossível, portanto. No fundo, e sem querer, transfiro para eles a razão da minha neura: O contraste entre o meu ritmo biológico e o tempo a contra-relógio, porque é esse desfasamento entre mim e o mundo que me rodeia que me intoxica. Quando acordo sou uma pessoa tóxica porque o ato de acordar cedo e a horas certas, é uma coisa que me violenta. Que vai contra a minha natureza. A autoconsciência da minha toxicidade naquele momento ainda é o que nos vai salvando. LAÇOS Número 1/13 – outubro 2012-janeiro 2013

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Nas minhas madrugadas de toxicidade consciente, faço um esforço grotesco para não intoxicar os que me rodeiam, por duas razões: porque lhes quero bem, e porque me conheço. Sei do que decorre a minha neura e sei que se vai não tarda nada, depois do café tomado. A verdade é que o mérito não é todo meu. Quem vive lá em casa já sabe do que a casa gasta e perdoa-me aquele momento. Releva, desculpa, colabora, não atiça, acarinha. A toxicidade é um fenómeno transversal a todas as pessoas em algum momento da vida. Nasce desta dicotomia entre o nosso estado de espírito e o pulsar do mundo onde, por momentos (e nalguns casos em permanência), nos sentimos desenquadrados. No entanto, não é um fenómeno em que nos apeteça pensar como fazendo parte de nós. Preferimos vê-lo como um exclusivo dos outros. Porém, é bom que pensemos nele: Ajuda-nos a tomar consciência da pedra de toque nos nossos momentos de veneno interno e a controlar as doses que destilamos nos outros, e ajuda-nos também a perceber que as outras pessoas tóxicas são pessoas que precisam de ajuda, momentânea ou mais prolongada. O veneno que cada um destila decorre sempre de episódios mais ou menos violentos a que esteve sujeito. A nossa reação ao veneno que os outros destilam em nós é tão previsível quanto

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humana. Transforma-se num jogo de pingue pongue de arremessos de venenos cada vez mais tóxicos. Procuramos, por um lado, proteger-nos do veneno alheio, por outro, aniquilar o adversário. Até porque fomos apanhados de surpresa, violentados, e foi ele que começou primeiro, em total despropósito. O ideal seria termos o sangue frio para aplicar um antídoto. Mas, um antídoto eficaz para venenos tóxicos alheios é sempre uma substância demasiado doce, muito diferente daquela que conseguimos fabricar em confronto com uma pessoa tóxica. Determinada Senhora destilou veneno em mim algumas vezes. Não sei se alguma vez esteve consciente disso. Eu nunca estive à altura de fabricar antídoto. Fui antes hábil na produção doutros venenos de arremesso. Naquele tempo, se eu soubesse o que sei hoje, ter-lhe-ia dito: “Os meus acordares também são assim: agressivos, rezingões e indispostos. Nessas alturas também gostaria que o resto do mundo marchasse ao meu ritmo e apetece-me reorganizá-lo em função da minha neura. Mas não posso porque o mundo todo junto tem mais força do que eu. Vamos ali beber um café juntas a ver se isto nos passa?”


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J oaquina Cadet e P hi l l i mo re – AA Nº 193/ 1960

Antídoto para a toxicidade humana

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a obra de Agostinho da Silva, encontramos algumas normas de conduta que, se as seguíssemos, seríamos muito mais felizes. Recordo-me de uma que reza assim: “Reconheço que a crise existe, que sou incapaz de a resolver e por isso tomei uma decisão…afinal não é o mundo que está em crise, quem está em crise sou eu!”

Pois, não sendo eu Agostinho da Silva, também cheguei há muito a uma conclusão semelhante, mas ligada a outras crises, e que é: Se alguém me conseguir irritar a culpa é minha e não dessa pessoa porque já devia ter aprendido a baixar as minhas expectativas em relação ao ser humano e assim tudo ficaria mais fácil. Se não espero muito, desiludo-me menos e sou mais feliz. É como se tomasse todas as manhãs uma espécie de antídoto universal que, segundo os alfarrábios, “é uma mistura simples de três ingredientes, capaz de auxiliar nos primeiros socorros, em caso de envenenamento.” Assim, ”mistura-se: uma parte de chá forte, uma parte de leite de magnésia e duas partes de pão queimado triturado.” Explicando: o chá será a dose dupla de boa educação que temos de tomar por nós e pela pessoa que nos tentará envenenar com as suas palavras ou atitudes. O Leite de Magnésia Phillips ou de outra marca… ajudará muito a combater a azia, o enfartamento e a indigestão que aquelas pessoas nos poderão provocar ao longo do dia. Já o pão queimado será obtido ao esquecermo-nos das torradas, enquanto pensamos neste estratagema e, como não teremos tempo de preparar outras, ficaremos felizes porque o antídoto estará assim completo. Esta é uma receita possível para neutralizar os efeitos de um venenozinho humano… LAÇOS Número 1/13 – outubro 2012-janeiro 2013

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Maria Noémia de Melo Leitão – AA Nº 245/1931

Arquiduquesa Leopoldina de Áustria, Imperatriz do Brasil

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e quando em vez, Brasil e Portugal revivem momentos culturais, aproximam-se pela genialidade dos conceitos académicos e, em sentido mais amplo, fazem renascer as figuras, os factos históricos que marcaram – ou ainda marcam – a identidade de cada um destes países unidos por circunstancialismos insubstituíveis. Dos dois lados do Oceano parece existir uma certa nostalgia de pertença em que uma língua comum e valores de existência têm prevalecido através do tempo.

O ano de 2012 trouxe uma aproximação designada por “Portugal no Brasil, Brasil em Portugal”, daqui decorrendo uma troca de mensagens académicas e culturais proferidas por altos representantes da intelectualidade dos dois países.

A demonstração da portugalidade presente em relação ao Brasil – e vice-versa – trouxe-me à lembrança a vida feita de desencanto da primeira imperatriz do Leopoldina de Áustria, que o povo brasileiro reconheceu imperatriz do Brasil – símbolo Brasil como o símbolo da mulher imolada na da mulher imolada na ara ara dos interesses políticos da época.

dos interesses políticos da época

Chamava-se Leopoldina Carolina Josefa de Habsburg, filha do imperador Francisco I, filho da imperatriz Maria Teresa e irmão da infeliz Maria Antonieta sacrificada, no patíbulo, pelo ódio incontrolável dos jacobinos. Depois do vendaval que, de lés a lés percorreu a Europa, pela ambição de Napoleão, um político defensor do absolutismo de Estado – Metternich – ministro da corte austríaca, foi-se tornando um homem célebre, desenvolvendo uma política ousada e desenvolta, conseguindo um papel hegemónico na defesa de uma ideologia prevalecente e desejável nalgumas monarquias da Europa, ansiosas por gozarem uma paz redentora, após anos de um quadro de guerra avassaladora e cruel.

A autora não segue a Nova Norma Linguística da Língua Portuguesa.

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Havia chegado o momento de encontrar uma noiva para o Infante D. Pedro, primogénito e herdeiro de D. João VI e D. Carlota Joaquina. As circunstâncias do momento indicavam que a Casa de Áustria satisfazia as condições necessárias, uma vez que professava a religião católica e defendia o regimen absolutista, tal como a Corte portuguesa. Os mesmos argumentos eram defendidos por Francisco I e Metternich. Assim, começaram os movimentos diplomáticos para um acerto das condições exigidos por ambos os lados.

O casamento realizou-se em Viena, com a pompa e a circunstância inerentes a uma Corte de tão grande exigência de etiqueta e refinamento, no dia 13 de Maio de 1817. A noiva recebeu um medalhão, com o retrato de D. Pedro, cuja decoração feita com brilhantes de grande valor causou A Imperatriz a admiração das pesLeopoldina soas mais próximas de de Áustria D. Leopoldina. A Arquiduquesa tomou o rumo do Brasil a 13 de Agosto, não sem antes ter sofrido contrariedade de vária ordem, uma delas a presença de Metternich, impondo-se, até ao seu embarque.

A Arquiduquesa Leopoldina satisfazia essas exigências. Contava 20 anos, era culta, católica fervorosa, saudável, por forma a garantir a sucessão dinástica.

Com grandes demonstrações de alegria, a nau D. João VI que transportava a noiva chegou ao Rio de Janeiro no dia 5 de Novembro de 1817.

D. Pedro era, ele também, jovem, (contava 19 anos) activo, arrebatado, mas volúvel.

Para trás a Arquiduquesa Leopoldina tinha deixado a sua Áustria natal, os Alpes cobertos de neve, as florestas, os jardins de Viena, o Danúbio correndo por entre margens de suave recorte; tinha deixado o pai, os irmãos, família e amigos; uma corte requintada, culta, concertos musicais, palácios magníficos.

O Marquês de Marialva foi o embaixador escolhido para ir a Viena dar todos os complicados passos que levassem à celebração do casamento dos dois jovens. A Corte portuguesa encontrava-se, nesta data, no Brasil, e era para aqui que viria a Arquiduquesa Leopoldina, aliás mostrando-se feliz face à sua futura posição de princesa de Portugal.

Longe ficava, também, a irmã mais velha Maria Luísa que fora casada com Napoleão, afastada da corte, e que Leopoldina estimava especialmente. Compreendia que Maria Luísa vivesse em Parma, por LAÇOS Número 1/13 – outubro 2012-janeiro 2013

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ordem do pai, também ele movido por razões políticas. Ficavam-lhe as recordações e saudade dos que amara e partiram: a mãe, quando ela tinha dez anos; a madrasta a quem se refere com muito carinho, lembrando como a educou e aos seus irmãos, ensinando-os a fazer leitura e princípios de matemática. Porém, o seu casamento foi desejado, como aconteceria com outra qualquer jovem. Por isso, estava feliz por se encontrar na sua nova pátria, disposta a cumprir escrupulosamente os deveres exigidos. Depois de os noivos terem recebido a bênção nupcial começaram as grandes manifestações de júbilo, por parte da Corte e do Povo. Ruas engalanadas, cortejos de coches e cavalos ricamente arreados, arcos triunfais, barcos embandeirados, em suma, manifestações feitas de opulência ou de singelas demonstrações de alegria e respeito devidas a Sua Alteza a Princesa Real do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Os primeiros contactos com D. Pedro foram os normais entre dois seres que passavam a viver o amor sonhado e prometido. D. Leopoldina deixou uma larga correspondência dirigida a seu pai, à irmã Maria Luísa e amigos de confiança a quem, segundo a sua escolha, abria o coração para referir situações de profundo desencanto.

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Dedicou uma grande estima ao sogro; queixa-se de intrigas destruidoras da sua tranquilidade e da infidelidade do marido. Depressa se apercebeu da rudeza do marido, do seu trato nem sempre palaciano e que ela atribuía ao facto de ele lidar, desde muito novo, com cavalos e moços de estrebaria. Revelava-se extremamente nervoso e, de quando em vez, era acometido de ataques epilépticos, o que a surpreendeu. Não obstante todas estas contrariedades foi sempre bondosa, dócil, submissa, dedicada a todos os que a rodearam, e uma mãe exemplar. Em carta ao pai diz: “Estou felicíssima com a minha família; meu esposo tem boníssimo coração, é muito talentoso porém preciso de paciência, virtude que nunca tive e agora o céu me concede.” Sentiu que o marido se ia tornando mais culto, reconhecendo-lhe o mérito como músico (toca vários instrumentos) e compositor, capacidade herdada dos Braganças. Entre as suas composições – algumas de grande sensibilidade e profundidade – conta-se o hino do Brasil. Queixava-se do calor insuportável que se fazia sentir, mas que não a impedia de procurar distrair-se, passeando a cavalo pela floresta, interessando-se por enviar ao pai exemplares de plantas, conchas e alguns animais, o que lhe dava um enorme prazer. Deliciava-se com a paisagem exótica e com o mar, ali bem perto do Palácio de S. Cristóvão bem modesto na sua amplitude, mas bem decorado.


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O nascimento dos filhos fez-lhe adquirir hábitos de mãe solícita e atenta, como era. Cada filho era uma bênção, achava a filha mais velha – D. Maria da Glória (a nossa D. Maria II) – muito alemã: alegre, bonita, bem constituída, e amava igualmente os que se seguiram (D. Januária, Paula Mariana, Francisca Carolina e Pedro – futuro imperador do Brasil). Como mulher do Príncipe herdeiro de Portugal, D. Leopoldina estava sujeita às mudanças que houvesse na política portuguesa. Isto veio a verificar-se quando D. João VI regressou a Portugal, reconhecendo e jurando a Constituição de 1822, tendo ficado D. Pedro, no Brasil, recusando-se, posteriormente a regressar a Lisboa. Desta forma desvaneceram-se as esperanças de D. Leopoldina em vir para Portugal, deixando as terras dos trópicos, onde experimentara momentos de felicidade, mas tantos outros de melancolia e saudade. Ficando no Brasil, D. Pedro sentiu-se à vontade para se impor e decidir o seu destino. Logo em 1822 foi aclamado “Defensor Perpétuo do Brasil” rompendo com o “Reino Unido de Portugal e Brasil”. Estavam lançadas as bases para soltar o que se conhece como “grito do Ipiranga”, quando nas margens deste rio, junto a S. Paulo, proclama “Independência ou Morte”. Em 1 de Dezembro de 1822 é coroado e sagrado Imperador do Brasil, tornando-se D. Leopoldina, Imperatriz.

Todos estes acontecimentos trouxeram alterações à vida de D. Leopoldina que, juntamente com o marido jura a Constituição de 1824 e, na ausência de D. Pedro, em 1826, fica regente do Império, função que desempenhou com inteligência, tacto e bom senso. Destruída no seu orgulho de mulher pelas constantes leviandades do marido que apresentou na corte, e quis que aí permanecesse, a Domitília sua favorita de Castro, Domitília de duquesa Castro, feita de Santos marquesa de Santos no dia do aniversário do Imperador. D . Pe d r o rodeou de atenção e deferência a sua preferida, obrigando a Imperatriz a revelar-se amável e cortês, chegando a ter uma atitude agressiva quando D. Leopoldina se recusou a acompanhá-la. Sentia que a sua saúde se estava a degradar, perante tantas desilusões. Não obstante o seu sofrimento físico e psíquico, arranjou forças para escrever as últimas cartas endereçadas ao pai e à irmã Maria Luísa, a quem falava da imensa fraqueza que sentia agravada por um parto prematuro.

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Em carta escrita pela camareira, mas ditada por si, dizia à irmã “… ouve o grito de uma vítima que de ti reclama piedade e socorro para os meus inocentes filhos que órfãos vão ficar …” “ … por amor de um monstro sedutor me vejo reduzida ao estado da maior escravidão e totalmente esquecida pelo meu adorado Pedro …” “… maltratando-me na presença daquela mesma que é a causa de todas as minhas desgraças …”1 Finalmente, no dia 11 de Dezembro de 1826, apenas com vinte e nove anos, morria D. Leopoldina, estando o Imperador ausente em território não brasileiro, pelo que se encontrava com a regência do Império. A sua morte foi sinceramente chorada pelo povo e por todos quantos a rodea-

vam e lhe conheceram as suas nobres virtudes. Paciente, bondosa, educada e culta sacrificou parte de si mesma ao compromisso assumido, amando e servindo o homem a quem ligou a sua vida, e dedicando aos filhos todos os desvelos como mãe que ansiava por lhes dar a ternura do seu colo, conforme escrevia a seu pai. O seu corpo encontra-se sepultado na Capela do Monumento à Independência, nas margens do Ipiranga, junto ao do Imperador que para ali foi trasladado desde Portugal, em 1954, cento e cinquenta anos após o seu nascimento, no Palácio de Queluz, onde, por coincidência veio a falecer, no mesmo quarto, em 1834. Referências bibliográficas

1

Lyra (Maria de Lourdes Viana) – Rainhas de Portugal no Novo Mundo

Lyra (Maria de Lourdes Viana) – Rainhas de Portugal no Novo Mundo Santos (Eugénio dos) – D. Pedro IV Serrão (Joaquim Veríssimo) – História de Portugal

Prémio Empreendedorismo Inovador na Diáspora Portuguesa Objectivo: O Prémio Empreendedorismo Inovador na Diáspora Portuguesa tem como objectivo central o de premiar e divulgar publicamente cidadãos portugueses que se tenham distinguido pelo seu papel empreendedor, inovador e responsável no contexto das respectivas sociedades de acolhimento e que constituam exemplos de integração efectiva nas correspondentes economias e de estímulo à cooperação entre Portugal e os respectivos países de acolhimento. Destinatários: São destinatários do Prémio cidadãos portugueses que, na data da candidatura, residam no estrangeiro há mais de cinco anos. Candidaturas: As candidaturas estão abertas até dia 31 de Março através do email diaspora@cotec.pt 76

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Isabel Vidal*

Como escolher um perfume

O

perfume, como diz o perfumista Jean-Paul Guerlain, é a forma mais intensa de lembrança, por isso convém investir algum tempo a escolher a ‘imagem olfativa’ que os outros recordarão de si. Se há aromas tão ligeiros que não obrigam a grandes rasgos de personalidade, os mais capitosos exigem um estilo à altura. O segredo para se tornar realmente inesquecível é escolher um perfume que seja uma projeção de quem se é e não de quem gostaria de ser.

Por tudo isto, não se deve escolher um perfume por impulso. Ele vai ser uma expressão íntima e profunda da sua personalidade, talvez mesmo a sua ‘marca registada’ durante anos, por isso vale a pena dedicar algum tempo à escolha. Como saber qual é aquele que lhe vai ficar bem? O seu gosto pessoal é o mais importante, mas há algumas regras que ajudam. Não compre um perfume sem o experimentar, mesmo que fique fantástico na sua amiga. Faça a pesquisa de manhã cedo, quando o seu olfato ainda não está cansado, e não cheire mais de 3 aromas de cada vez. A vendedora tentará orientá-la para as novidades mas antes de começar a cheirar seja o que for diga-lhe o estilo de perfumes que adora e que detesta, se possível com nomes, para lhe dar uma pista mais concreta dos seus gostos. Não ponha de parte à partida os grandes clássicos mais antigos. Use a tira de papel para fazer uma primeira triagem mas depois aplique aqueles de que gosta na sua pele. Vaporize no interior do pulso, aguarde uns minutos e cheire. O que sente nessa altura são as chamadas notas de topo, mais voláteis, que durarão cerca de uma hora ou menos. Cheire de novo passado uma hora: já conseguirá sentir a ‘alma’ do perfume, as suas notas de coração, que durarão várias horas. No final do dia já só restarão as notas de fundo que são como as ‘pegadas na areia’ deixadas pelo perfume. Não escolha com base nas notas de topo porque essas não vão durar: o ideal é escolher conforme as notas de coração porque são essas que vão perdurar e marcar a sua presença olfativa. O ideal é viver com o perfume um ou dois dias, ver como ele evolui, como se sente com ele. Se foram feitos um para o outro, valerá a espera. Se não foram, poupará o preço de um engano. Peça a opinião da sua família e amigos mas apenas para poder excluir algum perfume que eles não suportam mesmo. No final, a sua opinião é que conta. * Editora de beleza da revista ACTIVA. LAÇOS Número 1/13 – outubro 2012-janeiro 2013

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Maria de Lourdes Sant’Anna – AA Nº 278/1936

Paleta de cores vivas

1.

Amiga dos animais Assim passei a designar a jovem alta e loura que conheci acidentalmente no café onde as duas nos encontrámos. Ela vivia naquela terra, numa velha casa antiga – mais de um século de existência –, cercada de lendas, de histórias de família, verdadeiras, e no verão cercada de sol e de flores. E no decorrer da conversa, soube do seu amor pelos animais, de como lhes dava abrigo quando abandonados, e os tratava carinhosamente. E a história começou quando lhe chegou aos ouvidos os latidos, os gemidos, de um pobre animal que descobriu preso a grossa corrente quer fizesse sol ou chuva, quiçá com fome, quicá com sede. A jovem pensou num plano de ataque; libertar o animal e levá-lo consigo. E se bem o pensou melhor o fez… saltou o muro do quintal que os separava e caminhou direito ao cão, um lindíssimo animal de cor castanho fulvo. O animal parecia aguardá-la…rastejou até ela e ali ficou estático olhando-a… Olhos humanos sabe? O fim da história? Sim, libertei-o da corrente e levei-o comigo, para o meu terreno, e ali sim (...) gostaria que estivesse foi um cão de verdade.

presente na sessão em que vamos tentar a materialização dos corpos…

2. A Sra. D. Leonor Era uma senhora encantadora, a D. Leonor, nome de rainha e porte de senhora. O cabelo grisalho que acompanhava o oval do rosto dava-lhe uma expressão de ternura e de tranquilidade. O seu conhecimento do mundo vinha-lhe do casamento com um membro do corpo diplomático e daí a sua conversa interessantíssima descrevendo o mundo que conhecera. O Tibet levou-a a um conhecimento de outras culturas de outros hábitos, bem como outros países de igual longitude. Um dia convidou-me para ir a sua casa assistir a uma sessão espírita. Porque me esqueci de referir este seu pequeno vício, aprofundar o além. E tentava convencer-me dizendo que eu tinha um certo poder mediúnico…não não, dizia eu, não me sentia interessada e esquivava-me delicadamente.

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Correcta não insistiu, e só umas semanas depois voltou ao assunto: sabe, gostaria que estivesse presente na sessão em que vamos tentar a materialização dos corpos… Naturalmente que não fui mas, fiquei certa de que a decepcionei. Como me comportaria eu assistindo a uma sessão daquelas? Não nem pensar. Insistiu, não acredita? Não, não é isso, mas não me sinto à altura… Algum tempo correu e esqueci o convite daquela boa amiga. Até que indo a casa da minha prima – esqueci-me de dizer que o prédio era uma “colmeia” de senhoras do Algarve – até que um dia vi a D. Leonor a caminho de casa. Fiquei no carro até vê-la desaparecer e só então depois fui a caminho da casa da minha prima que logo de início me deu a notícia da morte da amiga D. Leonor duas semanas atrás. Compreendi então o que queria dizer aquela aparição. Ela queria demonstrar-me a sua certeza na materialização dos corpos. Já lá vão tantos anos mas ainda hoje este acontecimento me traz angústia. Teria a D. Leonor razão? 3. Odivelas velha Falar de Odivelas é voltar à minha infância quando fomos viver naquela terra desconhecida, a fim de frequentarmos o Instituto, agora de Odivelas na altura Instituto Feminino de Educação e Trabalho. A gerente da primeira secção era a D. Maria Emília Henriques de quem guardo boas recordações. Mesmo quando chamou às “conchinhas” que eu laboriosamente trabalhava

na peça de vestuário a meu cargo, quando ao pedir-me o trabalho para apreciar, sorrindo disse à mestra, “parecem dentes de cão”…mesmo assim as recordações são boas. Mas eu tencionava falar de Odivelas terra que era então uma pequena aldeia “atrás do sol posto”, com uma única estrada alcatroada que levava do Lumiar a Caneças, e as restantes ruas de terra batida onde no verão passeavam galinhas e cães ao desbarato e no Inverno a cada passo havia poças de água onde enterrávamos os pés. Era assim a minha Odivelas de boa memória com acesso à Serra da Luz, à Paiã, a Famões, a Caneças, à Serra da Amoreira. (Nesta Serra foram encontrados vestígios de ocupação dos períodos Neolítico, Calcolítico, Bronze e a Idade do Ferro – ver Estação Arqueológica da Serra da Amoreira -). Era assim a minha Odivelas, sem esquecer o meu Rio, hoje Ribeira de Odivelas. Mas que no meu tempo chamávamos de Rio Caldas. Talvez por ser esse o nome que se lia na placa da Ponte do Caldas. Talvez a identidade que lhe conferíamos, viesse do nome do construtor da ponte. E é esse o nome pelo qual o nomeio ainda. Mas Rio ou Ribeira era no seu leito que eu gostava de caminhar descalça a partilhar da areia fina ou das lajes brancas e frias que o calçavam. E tenho ainda presentes as vozes das lavadeiras “ai menina, menina se a sua Mãe sabe…” e mais não diziam, esquecendo o meu Pai. Mas regressada de África depois de vários anos de ausência onde enconLAÇOS Número 1/13 – outubro 2012-janeiro 2013

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trar a Odivelas que eu deixara e onde vivera a minha infância e juventude. Agora era uma Odivelas sede de Município, subdividida em sete freguesias limitada pelo Município de Loures, por Lisboa e por Amadora e Sintra e que mais tarde aparece como Concelho. Desde 2004 passou a estar ligada a Lisboa pela rede do metropolitano. Dentre os vários símbolos heráldicos destaco o Brasão com escudo de prata e o Urso negro a lembrar a lenda que levou à edificação do Mosteiro de Odivelas onde hoje se encontra o túmulo de El Rei D. Dinis. Foi no Mosteiro de S. Dinis e S. Bernardo que faleceu a Rainha D. Filipa de Lencastre vítima de peste em 1415. No entanto no dizer de alguns cronistas o óbito teria tido lugar em Sacavém. Destaco também o memorial de Odivelas, Monumento a que chamávamos singelamente “ A Memória”, não sabendo o seu significado; talvez a paragem dos féretros reais cujo caixão ali descansaria como o de D. João V, ou para lembrar o local de onde El Rei D. Dinis arremessaria a pedra que iria indicar para a edificação do futuro Mosteiro, a recordar para sempre a sua salvação contra a investida do urso que o teria atacado quando ia em sua perseguição e El Rei invocara S. Gerónimo. Será assim? A verdade é que a pedra caiu no local exacto onde já havia um pequeno edifício abrigo de dezanove freiras. Como curiosidade digo que o mesmo foi destruído pelo terramoto de 80

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1755, dele restando apenas uma parede e uma janela que conheci ainda no meu tempo, no “Corredor dos Pombos” e também na aula de cimento, de cujas existências tive o gosto de sentir precisamente andando nos Claustros da Moura para onde dava a minha aula onde estudei na minha segunda secção que, na minha opinião, tirando a aula de física era a mais bonita de todas. Aquela Glicínia a cair de uma das paredes do terraço dos Claustros, brindava-nos com tanta luz e tanta beleza! Claro que a lembro com a saudade dos “bons velhos tempos”… E voltando atrás é na zona nobre ou velha de Odivelas que se encontra o Mosteiro edificação imponente magnífica, com a sua Igreja, e no Largo a estátua da Rainha Santa Isabel; no jardim as árvores seculares e o Coreto. E sobretudo o Instituto de Odivelas que educou centenas de moças (no meu tempo eramos 417, número este que pertencia à Rosa Ramalho, salvo erro, e que era uma excelente moça). Claro que muito mudou do meu tempo para hoje, mas quero ainda recordar o director Coronel Ferreira Simas que abriu as portas a um Externato abrangendo as filhas dos funcionários que prestavam serviço no Colégio. Eu própria e as minhas irmãs ali vivemos num semi-internato isto é passando o dia no Instituto e indo dormir a casa. Tanto para recordar, tanto dos anos maravilhosos passados na terra que trago agora a todas vós, amigas que me estais a ler.


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Fr a n c i s c o C a b r a l ( Re s i d e n t e )

Uma grande caminhada

A

Camões escreveu «Os Lusíadas», eu adaptei-os a uma «grande caminhada», dedicada ao nosso Lar.

s Damas e os Barões reformados, residentes no nosso Lar da Luz, que por vezes saem acompanhados, caminhando por aí «numa boa», sem ficarem muito preocupados com a idade de qualquer pessoa Cantando espalharei por toda a parte, desde Odivelas até à Luz a «longa caminhada» que estamos a viver no nosso Lar

– Começamos por assistir às segundas-feiras, com uma numerosa assistência, à celebração da missa rezada pelo capelão Padre Borges que tanto nos consola; – Ao longo da semana usufruímos de várias actividades que muito nos distraem, como as leituras de poesias e contos passados da nossa História; – Cinema com exibição de filmes de interesse; – Canto coral, onde se destacam ainda boas vozes; – Trabalhos manuais com execução de originais de muito interesse; – Passeios históricos, com visitas a museus de elevado nível; – Sempre que um residente faz anos a Direcção festeja com todos os presentes o seu aniversário; – Temos a presença de uma médica, com uma visita semanal que nos envia para o hospital, quando necessário, permanecendo uma enfermeira diária no Lar; – Todas as quintas-feiras, somos convidados a assistir a um espectáculo, no Teatro da Luz, que a RTP1 nos proporciona. Tágides minhas e Barões reformados, nesta «longa caminhada» o que importa não é acrescentar anos, mas sim vida aos seus anos.

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P O E S I A

POESIA

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Tc h ilay – AA Nº 263/1941

Mãe, vem ouvir

V

ou fazer um vestido de pétalas Flores do campo papoilas margaridas giestas madressilvas Nas mãos um malmequer um bemequer Já lavei a minha alma no orvalho da manhã para receber sem mácula a ternura deste dia Mãe! eu amanhã gostaria de ser feliz no deslumbramento que os meus olhos irão reter O mistério, a melodia, as estrelas a lua cheia Já antevejo pombas esvoaçando entre esbeltas colunas e perfumados jardins Hei de olhar todas as coisas e repartir-me nelas Bailar nas nuvens entre aladas figuras Transfigurar-me em madrugadas Em crepúsculos em sinfonias de mar Mãe! Eu queria que fosse sempre véspera de ti na minha minha alma, com um vestido de pétalas e um lírio cor de marfim no meu cabelo Não mais um dia de vida que se esvai Não mais um ano a desfazer-se em trama Só então seria sempre criança nos teus braços

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POE SIA

Maria da As s unção do Carmo Frei re – AA Nº 197/ 1947

“O Mata”

G

ostava de saber jogar com as palavras com o resultado que ao jogar o “mata” conseguia Eu corria, eu voava a toda a largura do recreio afoita, audaz, obcecada pela trajectória do jogo e a bola raramente me fugia Apanhava-a sempre, ou alta ou rente quem estivesse à minha frente era fatal “morria” Quem nunca jogou o “mata” na infância ou na adolescência não imagina a excitação inocente e orgástica do turbilhão estratégico da preparação da finta, da fuga, do salto do remate, do “apanhar” Tudo em alvoroço: os braços, as pernas, os miolos Tudo em movimento e ao mesmo tempo até “matar” Nesse tempo não havia diferença entre ser a melhor e ganhar o “mata” Um dia, um grupo de miúdas do Maria Amália foi jogar connosco Ao primeiro quarto de hora fugiram viram logo que “morreriam” todas sem conseguirem “matar” ninguém As bolas delas não traziam força nenhuma para nós tinham o peso de balões As nossas chegavam-lhes como tiros de canhões Não aguentaram a guerra, desertaram O que agora me distingue desse tempo não é a nostalgia do ganhar nem a pequena vaidade de vencer É a capacidade perdida de sonhar p’la destreza do corpo até voar p’lo espírito de tribo a envolver a vida à nossa frente p’ra brincar um metro e meio de anos a crescer. LAÇOS Número 1/13 – outubro 2012-janeiro 2013

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P O ESI A

Maria d a As s unção do Carm o Freire – AA Nº 197/1947

bem hajam os que me dÃo o seu braÇo e acompanham o meu andar cansado. bem hajam os que me alimentam e preparam o meu descanso, porque eu perdi os gestos necessÁrios para o conseguir. bem hajam os que me aceitam os meus esquecimentos e repetem, vezes sem conta, as palavras necessÁrias. bem hajam os que amparam a minha fragilidade e me ajudam a percorrer com dignidade os caminhos que me faltam para chegar À casa do pai do cÉu. maria da assunÇÃo do carmo freire – a.a. 197/1947

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