Laços 3/12

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LAÇOS Número 3/12 – junho-setembro 2012 2 Editorial 2 A mulher, guardiã das sementes por M. Margarida Pereira-Müller 4 4 6 8 10 12 14 15 17 18 19 20 22 25 26 28

Atividades da AAAIO e suas sócias Parecer do Conselho Fiscal O bando das 40 por Elizabeth Fernandes Panteão Nacional por Maria Helena Cavaco Museu Calouste Gulbenkian por Maria Helena Cavaco Formação de voluntárias/os Apresentação do DVD dos EME no IO por Fernanda Ruth Jacobetty Vieira Inauguração do centro de distribuição do BACF por M. Margarida Pereira-Müller Mnemosine e Polyhymnia à solta na sala do Conventinho por Joaquina Cadete Phillimore Chá da Primavera por Joaquina Cadete Phillimore Festa dos Santos por M. Margarida Pereira-Müller Encontro do curso de 1954 por Teresa d’Avillez Schumacher À conversa com os residentes por Maria Isabel Garcia Santos Lançamento do livro “Esborrata-te no gesto que foste” por M. Margarida Pereira-Müller Voluntariado no Forte por Ana Rita Ferreira et al. 14 de Janeiro e o futuro da nossa Casa por Ana Rita Ferreira

30 Agenda 30 Convívios e passeios 31 32 34 36 36

In Memoriam Padre Susano por Micaela Magalhães Maria Cristina Dinis por Maria Noémia de Melo Leitão Isabel Gago por M. Margarida Pereira-Müller José Hermano Saraiva por Maria Noémia de Melo Leitão

37 Cartas à Direcção 37 Carta da Salette Tereno 38 38 41 42 45

Notícias do IO Nascimento do grito por Mariana Manso e Sílvia Baldo IO, sim! por Margarida Cunha Notícias do IO Espadeirando um bolo por Joaquina Cadete Phillimore

47 47 52 53

À Conversa Com... Quatro vigilantes por Joaquina Cadete Phillimore O império do desamor por Isabel Manso Âncoras por Ana Elias

55 Destaque 55 A importância do número por Cesaltina do Nascimento Silva 57 57 61 63 65 67 69 71

Ideias Soltas Viver com esclerose múltipla por Maria de Jesus Mata Música rock para todas as idades por M. Margarida Pereira-Müller Ouvir para integrar por Natália Hasse Fernandes Truques para parecer 10 anos mais nova por Isabel Vidal Contrastes por Maria Noémia de Melo Leitão O gato das botas – Entrevista Carolina Búzio por Joaquina Cadete Phillimore Paleta de cores vivas por Maria de Lourdes Sant’Anna

74 Poesia 74 Dezassete meninas por Tchillay 76 Rimance do Duque do Porto por Rosa Lobato de Faria LAÇOS Número 3/12 – junho-setembro 2012

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EDITORIAL

EDITORIAL

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M. Margarida Pereira- Müller – AA Nº 2 4 4 / 1 9 6 7

A mulher, guardiã das sementes

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á dias por mero acaso uma amiga enviou-me a hiperligação dum programa “O tempo e o Modo” que passa na RTP2 a horas tardias. Tratava-se dum documentário sobre Vandana Shiva, uma indiana nascida em 1952, física, ecofeminista e ativista ambiental, e que fala sobre as novas colonizações: a biológica e a mental.

Há meio milénio, os governantes europeus enviavam os seus mercadores aventureiros para todo o mundo, usando uma religiosidade altamente fundamentalista para justificar a colonização. Atualmente observamos uma recolonização em todos os sentidos e igualmente movida pela ganância, sede de poder e violência. A teoria da terra vazia continua a aplicar-se hoje em dia, mas no campo da biodiversidade e dos recursos naturais. Vandana Shiva luta pela natureza e pela união do ser humano com a natureza – a natureza dá-nos tudo: água, combustível, pasto e alimento. E tudo isto é património de todos. Por isso, considera inconcebíveis muitas das práticas do mundo ocidental no campo das biopatentes. As patentes são uma ferramenta intensamente eficaz na disseminação do subdesenvolvimento. E dá exemplos bem claros: a Organização Mundial de Comércio que vê os agricultores como um problema pois guardam as sementes para as usarem nas sementeiras futuras – não comprando assim as novas sementes “criadas” pelas grandes empresas multinacionais, para as quais o lucro e ganância são valores mais elevados do que a partilha, a proteção, a evolução e o crescimento espiritual individual e coletivo. As empresas ganharam “personalidade” e transformaram as pessoas reais em não-pessoas.

As mulheres são uma força criativa, pacífica e não-violenta

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EDITORIAL

Para Vandana Shiva, o mundo está moldado de acordo com um projeto masculino no qual a economia foi redefinida em termos de bens transacionáveis e a partir dos quais se obtém lucro. Daí que “ir buscar água, cozinhar para os filhos, cuidar dum pai idoso não é trabalho, não é produtivo, não interessa à economia”. Mas este projeto do mundo, como temos vindo a observar, falhou. Rebentou como um balão: entrou em colapso. Há que encontrar novos caminhos. “As mulheres podem contribuir para a resolução das múltiplas crises que enfrentamos, fruto do pensamento mecanicista”, diz Vanda Shiva. As mulheres, a maior força laboral e produtiva do planeta, as que mais cuidam dos outros, as que praticam a economia de cuidado, são uma força criativa, pacífica e não-violenta. Trazem outras formas de conhecer que têm sido subjugadas – formas ecológicas, holísticas, relacionais. Há que retomar o verdadeiro conceito de economia, aquele que significa preservar a vida na terra, proteger todas as espécies do planeta e os recursos, ver as pessoas como parte da natureza. Nesta luta, Vandana Shiva vê a mulher como a grande guardiã das sementes, a guardiã da natureza e da vida.

VOLUNTARIADO DOMÉSTICO DE PROXIMIDADE Tens algum tempo livre? Podes dar apoio às nossas colegas idosas ou às colegas que estão em casa doentes e precisam de quem lhes faça as compras ou as acompanhe ao médico ou ao banco. Ou somente de quem lhes faça companhia, lhes leia o jornal ou um livro ou lhes dê dois dedos de conversa. Se estás interessada em apoiar as nossas colegas, entra em contacto connosco por email geral@aaaio.pt ou por telefone, 217 119 220 e pede para falar com a Maria Antónia Serpa Soares.

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ATIVIDADES

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Parecer do Conselho Fiscal Assembleia Geral de 31/03/2012

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os termos da lei e dos Estatutos, o Conselho Fiscal desta Associação vem submeter à apreciação da Assembleia de Sócias o seu parecer sobre as contas e sobre o Relatório da Direção relativos ao exercício de 2011.

A Direcção No Relatório do Conselho Fiscal do ano findo foi quase tudo dito sobre a atividade desenvolvida pela Direção e observada pelo Conselho Fiscal ao longo do ano. O mesmo tipo de constatações se aplica ao ano de 2012 agora em análise. Continuou a atuação esforçada da Direção, dos restantes corpos sociais e do corpo de voluntárias, a que já nos vamos habituando. Agora, feita a instalação na nova casa, conseguiu-se de algum modo estabilizar o funcionamento interno e prestar maior atenção às despesas e à gestão financeira. O Relatório da Direção fala por si. Não tem o Conselho Fiscal nada de novo a assinalar sobre a atuação da Direção, nada que não tenha sido referido em anos anteriores. Repetimos o apelo para que se dê maior atenção às receitas do Lar, que deverão ser maximizadas com urgência, sem o que não atingiremos nunca a desejada viabilidade económica e consequente equilíbrio financeiro. De acordo com análises de mercado desenvolvidas pelo Conselho Fiscal, a viabilidade deste tipo de instituições, com a qualidade que oferecemos aos utentes e a dimensão que apresentamos, não se consegue com comparticipações médias mensais inferiores a 1.500  ou mesmo 1.600  por utente, seja qual for a sua forma de concretização. E verificamos que o Lar que esta associação gere está ainda longe de atingir este patamar. Mas continuamos a recomendar, enquanto Conselho Fiscal, que não se perca nunca de vista este objetivo.

Por lapso, este parecer não foi publicado no último número da LAÇOS.

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Nada temos a observar sobre as restantes componentes do conjunto de atividades desta associação (Sócias e Banco Alimentar) as quais não têm estrutura empresarial. As contas: O rigor na elaboração das contas e o cuidado na apresentação dos resultados anuais, nomeadamente Demonstração de Resultados e Balanço, é mais uma vez constatado e confirmado pelo Conselho Fiscal. É de assinalar o aumento relevante no total das receitas provenientes dos utentes (mais 76% do que no ano anterior) explicável em boa parte pelo aumento do número de utentes mas também por um incremento, embora, ligeiro, da comparticipação média por utente, apenas muito pouco acompanhado pelas contribuições da Segurança Social. Repetida a análise de anos anteriores confirma-se mais uma vez que, apenas com as comparticipações da Segurança Social, o Lar já estaria encerrado. Lastimamos que esta situação não possa ser rapidamente revista pelas entidades competentes.

verificamos com bastante apreensão a débil estrutura financeira da instituição, particularmente evidenciada pela ausência de fundo de maneio o qual se apresenta ainda com valores muito negativos, pela elevada taxa de endividamento, pelo fraco índice de liquidez, e pela fraca taxa de solvabilidade. Numa palavra, se a situação económica está quase equilibrada, a situação financeira é preocupante, fortemente dependente do que há-de vir, se vier. Terminamos declarando que, pela obser vação que desenvolveu, o Conselho Fiscal acredita que o Balanço e a Demonstração de Resultados, bem como o correspondente Relatório da Direção, refletem a realidade actual desta Associação. Parecer final: Pelas razões expostas propomos à Assembleia de Sócias que: 1) sejam aprovadas as contas relativas ao ano de 2011. 2) seja aprovado o Relatório da Direção. Pelo Conselho Fiscal:

Não é função do Conselho Fiscal vistoriar o interior das contas nem os critérios aplicados na classificação dos documentos que lhes dão origem, a não ser por amostragem, que temos feito e nos permite retirar as conclusões aqui expressas.

1ª Vogal Cesaltina do Nascimento Silva

Do conjunto de quadros de análise financeira que nos foram fornecidos

2ª Vogal Maria Isabel Figueira Freire

Presidente Maria Fernanda Rico Vidal (Economista)

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Elizabet Fernandes – AA Nº 215/1963

“O bando das 40” Almoço das Finalistas de 70

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ram 40 meninas! Reencontraram-se passados mais de 40 anos. É verdade que, em grupos mais reduzidos, se foram encontrando ao longo dos anos mas… assim tantas?... não tinha sido ainda possível. Assim tantas, mortinhas de saudades e cheiinhas de recordações, que bom reencontro.

Foi muito comovente! A algazarra era quase a de adolescentes: “Quem és tu?... Ah! Bem me parecia, estás linda!” ou “Lembro-me bem da tua carita mas, desculpa, não consigo lembrar-me do teu nome…” ou ainda “Que bom voltar a ver-te… tinha tantas saudades...”, “Olha lembras-te de…? Disparavam, freneticamente, os flash querendo capturar cada instante deste reencontro… para mais tarde recordar.

Começaram a chegar pelo meio-dia e as últimas despediram-se lá pelas 19h00 com a impressão de não ter havido tempo suficiente para pôr a “escrita em 6

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dia” e com a certeza de que precisamos repetir estes reencontros de memórias e afetos. As conversas foram vivíssimas na avidez de saber quase tudo – dos filhos, dos netos, das carreiras, da reforma, da saúde. Circulavam fotos de antes e de hoje, leram-se alguns textos que queremos “publicar” e recontaram-se as histórias comuns das adolescentes que um dia fomos. E vieram meninas de longe, de Coimbra, de Abrantes, do Algarve e 5 do Porto, outras não puderam comparecer mas mandaram mensagens e prometeram juntar-se a nós no próximo encontro (houve até quem sugerisse fazermos um pic-nic).

Algumas continuam a conviver assiduamente mantendo amizades antigas, sólidas e muito próximas, muitas têm ido aos encontros do 14 de Janeiro ou da AAAIO, outras contactam-se regularmente através das redes sociais e agora… TODAS, as presentes e as ausentes, têm consigo uma lista dos contactos que podem utilizar, sempre que queiram, e que prometemos manter atualizadíssima. Que este efeito “bola de neve” nos possibilite reencontrar mais colegas de 63-70, mesmo as que foram saindo entretanto, porque “Só existe uma coisa melhor que fazer novos amigos: conservar os velhos” (Elmer G.Letterman) Obrigada a todas, até ao próximo!

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Maria Helena Cavaco – AA Nº 218/1954

Panteão Nacional

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nosso passeio de junho foi ao Panteão Nacional. Ao chegarmos à Av. Infante Dom Henrique tínhamos algumas dúvidas, em que travessa deveríamos cortar, que rapidamente desapareceram, quando o nosso motorista avistou a cúpula deste monumento. Subimos então por ruas estreitinhas desta freguesia de São Vicente de Fora, até ao Panteão Nacional. Este monumento situado no Campo de Santa Clara não foi de fácil acesso para todas as residentes. Com a ajuda das Voluntárias conseguiram subir a escadaria e só uma senhora ficou na carrinha acompanhada pelo Sr. Carlos que estacionou de maneira a esta senhora ver o ambiente da zona e estar distraída. A visita teve a colaboração duma Técnica que nos contou a história do Panteão. Originalmente destinado a igreja, dedicada a Santa Engrácia, situa-se em terrenos contíguos ao antigo convento de Santa Clara e foi mandada erigir pela infanta D. Maria, filha de D. Manuel I. A guia contou-nos a lenda associada à igreja, a história de Simão Pires de Solis, um cristão novo acusado de roubo na igreja e condenado à fogueira. Na realidade, Simão terá ido à igreja para se encontrar com uma noviça pela qual mantinha uma paixão,

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a qual não era aprovada pelo pai dela, sendo esse o motivo de ela estar no convento. Na hora de ir para a fogueira terá vaticinado que as obras de Santa Engrácia jamais teriam fim. De facto, a construção demorou 300 longos anos, só ficando concluída em 1966 e contou com a colaboração de um dos vultos da nossa engenharia (do século XX), o Engenheiro Edgar Cardoso.

do o Presidente Carmona no aniversário deste, na Cidadela de Cascais. Todos se lembravam de João de Deus e de ter aprendido pela sua Cartilha Maternal. O túmulo de Amália Rodrigues foi o que chamou mais atenção pois é o único que tem junto a ele jarras com flores enviadas por amigos e por muitos que aqui passam, como nos disse a guia que nos acompanhou.

Ao entrarmos encontramos a nave decorada por mármores coloridos, característica da arquitectura barroca portuguesa.

São também evocados no Panteão Nacional, através de cenotáfios, as personalidades ilustres da nossa história como Luís de Camões, Pedro Álvares Cabral, Afonso de Albuquerque, Nuno Álvares Pereira, Vasco da Gama e o Infante D. Henrique, ainda que os seus corpos aí não estejam presentes.

A partir de 1916, o templo passou a ter a função de Panteão onde estão sepultados os Presidentes da República portugueses Manuel de Arriaga, Teófilo Braga, Sidónio Pais e Óscar Carmona e os escritores Aquilino Ribeiro, João de Deus, Almeida Garrett e Guerra Junqueiro. Recentemente o Marechal Humberto Delgado e Amália Rodrigues. Os nossos residentes lembravam-se de vários destes presidentes da República e uma das residentes que vivia em Cascais guardava na memória ter cumprimenta-

A visita não foi completa, pois não visitámos a cúpula donde se pode ter uma vista maravilhosa sobre o Tejo mas para a atingir teríamos de utilizar uma escada em caracol o que não estava ao alcance dos nossos residentes. Os nossos residentes agradeceram esta “lição de história” que lhes foi proporcionada.

MISSA ÀS 2.as FEIRAS NA NOVA CASA

Todas as semanas, há missa na Nova Casa às 2.as feiras, pelas 12 h, na Sala do Conventinho.

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Maria Helena Cavaco – AA Nº 218/1954

Museu Calouste Gulbenkian

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m grupo de residentes visitou neste primeiro trimestre de 2012, aquele que é um dos melhores museus de Portugal, o Museu Calouste Gulbenkian. Integrado num belo parque que sofreu recentemente alterações que o beneficiaram tornando-o mais aprazível. É frequentado por famílias e as crianças deliciam-se a olhar para os patos dos pequenos lagos, sensação que também os nossos residentes tiveram, e o seu anfiteatro é um local de leitura para quem aprecia o ar livre e onde se realizam os espetáculos de Jazz em setembro.

Calouste Gulbenkian, um arménio nascido na Turquia, estudou em Inglaterra e viveu em Paris entre as duas guerras, e foi aí que adquiriu a grande maioria das suas obras de arte, que vão das artes decorativas do Mundo Islâmico e Europeu à Pintura Flamenga. Apaixonou-se por Portugal onde viveu parte da sua vida e morreu, legando a Portugal as obras que hoje podemos apreciar neste museu. Era impensável ver toda a coleção deste museu e a nossa guia sugeriu, e bem, que a visita se limitasse à Arte do Oriente Islâmico e do Extremo Oriente, pois assim os nossos residentes poderiam apreciar melhor sem se cansarem. Entrámos numa imensa sala de Arte Islâmica. A guia chamou-nos a atenção para um jarro de jade (branco), do século XV de Samarcanda, na Ásia Central, de grande perfeição, com inscrições em relevo no gargalo. Era utilizado para vinho e se a cor do jade sofresse alguma alteração era porque existia veneno! Seguiram-se os tapetes de seda ou de lã com motivos de animais, de flores e com cores lindas, manuscritos do Alcorão e persas,

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sua casa, painéis de azulejos de Iznik e veludos da Turquia otomana junto à escadaria privada de acesso ao segundo andar da sua residência em Paris, e ver os azulejos aqui no museu.

um sem fim de peças maravilhosas que captam a atenção de quem visita este museu. Calouste Gulbenkian viveu numa casa em Paris, que foi alvo de uma exposição temporária na Fundação Gulbenkian e assim pudemos ver como ele coabitava com toda esta riqueza. Um aspeto da

Também as lâmpadas de mesquita, do século XIV, foram alvo da atenção dos residentes. Terminámos a visita com as porcelanas da China e Japão, em que nos foi explicado como distinguir a fêmea e o macho no par de leões ou Cães de Fó (a leoa tem sempre o filho junto a ela). Muitas outras peças impressionaram o grupo e outra visita a este museu se seguirá.

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Formação de Voluntárias/os

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o dia 16 de junho de 2012, teve lugar na Nova Casa da AAAIO, uma sessão de formação para voluntárias e voluntários que fazem este “exercício livre de uma cidadania ativa e solidária” (Lei nº 71/98 de 3 de novembro) junto dos residentes do Lar. Trata-se, presentemente, de um grupo de AA que disponibilizam algumas horas do seu tempo, apoiando e complementando os serviços prestados aos residentes que na sua maioria são também AA ou com ligações a AA.

Esta formação foi feita a pedido das voluntárias e dinamizada pela AA Joaquina Cadete Phillimore. Os temas abordados foram desde conceitos gerais e princípios enquadradores de voluntariado até à dicotomia velhice/envelhecimento e gerontologia/geriatria e, claro, o papel do voluntário. Sobre este assunto falou-se de deveres e direitos do voluntário que levou a uma animada e proveitosa reflexão. A AA responsável por esta formação propôs às presentes a formação de um Banco de Voluntariado da AAAIO que funcionaria como local de encontro entre candidatos a voluntários para integrar voluntários e coordenar o exercício da sua atividade. Os seus objetivos seriam: • Apoiar e complementar, de forma devidamente enquadrada, a ação desenvolvida pela(o)s Voluntária(o) inscrita(o)s no BV da AAAIO; • Sensibilizar as AAIO e outra(o)s potenciais Voluntária(o)s para a importância do voluntariado no Lar da AAAIO; • Promover iniciativas ou ações intra e inter associações congéneres (AAACM/ /AAAIPE) e de voluntariado.

A AAAIO disporia assim de um grupo de Voluntária/o(s) com trabalho semanal, sistemático e comprometido a par de um leque de “disponíveis” para ações pontuais, mas toda/o(s) dentro do espírito que o Voluntariado preconiza.

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As voluntárias presentes apontaram ainda a necessidade de tornar as ações de formação sistemáticas sobre temas relacionados com este apoio concreto quer não só para s próprias como para todos quantos colaboram no Lar. Prevê-se, em breve, uma outra formação sobre a promoção do “otimismo” numa instituição como a Nova

Casa da AAAIO com uma perita na matéria. No fundo, as Voluntárias da AAAIO quer estejam ligadas ao voluntariado direto e de proximidade quer o façam através da sua participação nos corpos sociais procuram, todas, seguir o que a legislação preconiza com o coração aberto e segundo o que o esquema abaixo ilustra.

BLVTV

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Fernanda Ruth J a c o betty V i ei ra – AA Nº 152/ 1955

Apresentação do DVD dos três EME no IO

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o Salão que foi o Refeitório das Monjas de Cister do Mosteiro de S. Dionísio de Odivelas, na tarde de 28 de junho, o Presidente do Núcleo Impulsionador das Conferências da Cooperativa Militar, Coronel Rogério Taborda e Silva, fez a apresentação do DVD sobre os EME.

O Núcleo, constituído por representantes das antigos alunos dos três EME e suas AAA, trabalhando em prol dos seus colégios, levou a que, no período de dois anos, fosse feita no IASFA a apresentação de: Comunicações, em três Sessões de Fim de Tarde, e que se encontram em processo de edição em livro; um Seminário de dia inteiro, na Sala de Portugal da Sociedade de Geografia; uma Exposição de um mês, no Museu Militar, sobre os EME e as respetivas AAA. Estas iniciativas encontram-se presentes no DVD em três tipos de gravações: em vídeo, de som e em fotografias. No tempo destinado especificamente aos colégios, cada um dos três Diretores dos três EME aparecem, proferindo uma pequena alocução. Os/a Comandantes de Batalhão também têm o seu "tempo de antena". Durante as palavras proferidas pela Presidente da Direção da AAAIO são visualizados aspetos da nova Casa/ /Lar na Luz. As imagens mostram também os edifícios do IPE e CM, instituições respetivamente centenária e bicentenária. Também o edifício do mais que centenário IO, mandado construir por El-Rei D. Dinis no século XIII, foi sujeito a obras de adaptação no século XX, tanto para a instalação das primeiras pupilas como, posteriormente, em meados do século. No entanto, nos três estabelecimentos é visível a História e evolução das suas instalações, de acordo com as épocas e exigências programáticas do respetivo ensino. São referidas as figuras de muitos dos alunos/as que se celebrizaram na História, na Ciência e na Cultura do País; podem ser vistas aulas e eventos diversos, comemorações, os alunos/as em Marcha, em Parada, no Desporto e, também, em representações no estrangeiro ou em intercâmbios. O DVD já pode ser adquirido, nos três EME e respetivas AAA, assim como no IASFA.

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M . M a r g a r i d a Pe r e i r a - M ü l l e r – A A N º 2 4 4 / 1 9 6 7

Inauguração do centro da AAAIO dedicado ao Banco Alimentar contra a Fome

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Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas (AAAIO) inaugurou oficialmente em meados de julho as suas novas instalações para a distribuição dos produtos do Banco Alimentar contra a Fome e da Entrajuda, com a presença da presidente da Câmara de Odivelas, Susana Amador, da Vereadora da Ação Social, Fernanda Franchi e do presidente da Junta de Freguesia de Odivelas, Vitor Machado, além de outras personalidades do Concelho e vários membros da Direção da AAAIO.

“A AAAIO dá agora atualmente a 246 famílias, num total de 1200 pessoas das quais 334 são crianças”, referiu Ana Maria Pinto Soares Hoeppner, presidente da direção da AAAIO, lembrando que a associação foi criada em 1919 como uma instituição de cariz humanitário, para realizar a assistência material e moral às antigas alunas (AA). “Alargámos na última década o nosso espetro de ação e apoiamos a comunidade em que estamos envolvidas”. Números que a própria Presidente da Câmara realçou, sublinhando ficar “um pouco mais tranquila e serena, sabendo que há anjos da guarda como as antigas alunas do Instituto a prestar, com afeto e profissionalismo, o apoio que inúmeras pessoas necessitam. São raios de sol que iluminam, que ajudam a sorrir e a dar o conforto necessário”. Susana Amador agradeceu assim o trabalho voluntário da Associação que, em conjunto com o Município, torna este território exemplar em matéria de boas práticas sociais.”

Susana Amador corta a fita

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Em 2003, a AAAIO assinou uma parceria com a direção do BACF para poder apoiar as famílias das crianças que Visita às instalações

frequentavam o ATL. O Projeto “Ser Cidadão em Odivelas”, a criação dum ATL no bairro carenciado da Arroja em Odivelas, teve início em Março de 2002 pelo prazo de três anos, numa parceria entre o Instituto da Segurança Social, a Junta de Freguesia de Odivelas e a AAAIO na qual a nossa associação foi a Entidade Gestora do projeto. Este projeto foi prolongado por mais um ano dado o grande impacto que obteve nas 33 crianças e famílias abrangidas e dos resultados positivos obtidos. Em setembro de 2005, procedeu-se à assinatura de um protocolo entre a Junta de Freguesia de Odivelas e a AAAIO de forma a viabilizar a manutenção do ATL/Apoio Pedagógico às crianças e do Banco Alimentar contra a Fome para as 80 famílias identificadas como carenciadas. Em março de 2011, foi assinado um Protocolo de Comodato entre a Câmara Municipal de Odivelas e a AAAIO de duas lojas no bairro da Arroja, de modo a dar continuidade em melhores condições, à distribuição dos géneros alimentares do BACF.

VOLUNTÁRIOS PARA O BANCO ALIMENTAR CONTRA A FOME

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ens um tempinho livre? Queres fazer voluntariado em Odivelas ajudando no Banco Alimentar contra a Fome? Então, fala com a Ana Maria Pinto Soares Hoeppner pelo telefone nº 969577751

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J oaquina Cadet e P hi l l i mo re – AA Nº 193/ 1960

Mnemosine e Polyhymnia à solta na sala do Conventinho

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a tarde do passado dia 14 de julho, a música do coro Audite Nova de que fazem parte duas AA, a Maria Leonor Viegas Tavares e a Constança Fernandes, e dirigido pela Maestrina Clara Correia, inundou a sala do Conventinho da Nova Casa.

O repertório escolhido foi do total agrado das AA, residentes, famílias e amigos presentes quer o mais erudito quer o tradicional que muitos acompanharam cantando ou batendo palmas. Mas não foi só de música que a sala se encheu. Também as aguarelas de uma outra AA, Maria do Carmo Peixeiro, trouxeram cor e sensibilidade àquele espaço tão especial, tendo estado expostas até ao final do mês de julho. A AAAIO, ao promover estas iniciativas para todas as AA sócias e não sócias, na sala do Conventinho, também pretende que os e as residentes que vivem na Nova Casa usufruam de momentos culturais que contribuam para um envelhecimento ativo e com qualidade.

Nota: Mnemosine, musa da pintura, significa “memoria”; Polimnia, musa dos cantos sagrados e da poesia sacra. LAÇOS Número 3/12 – junho-setembro 2012

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J oaquina Ca dete P hi l l i mo re – AA Nº 193/ 1960

Chá da Primavera

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ive o’clock tea foi, no dia 26 de junho de 2012, sinónimo de Chá da Primavera na Nova Casa da AAAIO. Uma casa de jantar em ambiente festivo acentuado pelas lindas decorações feitas pelas Senhoras e Senhores residentes do Lar com a preciosa ajuda das AA Dália Lacerda e Mizé Paz Olímpio acolheu as Antigas Alunas, os residentes, os familiares e amigos que se quiseram associar a este momento, já indispensável na agenda da AAAIO.

Os vários chás, sanduíches não de pepino à inglesa, mas outras bem portuguesas, os bolos e o sempre tradicional arroz doce “acalmaram os desejos estomacais dos mesantes”, como diria o crítico gastronómico José Quitério.

A conversa animada esteve sempre presente e, na entrada, havia uma pequena mesa de chutneys (de novo o toque britânico…) e compotas feitas pela AA As decorações Dália Lacerda feitas que fizeram pelos utentes um enorme sucesso, revertendo, como sempre, uma parte do produto da venda para a AAAIO.

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M . M a r g a r i d a Pe r e i r a - M ü l l e r – A A N º 2 4 4 / 1 9 6 7

Festa dos Santos ais uma vez a boa disposição não faltou na tradicional Festa dos Santos que a AAAIO organiza anualmente em junho.

Este ano, a festa decorreu no pátio do Teatro D. Luís Filipe que a AAACM nos pôs gentilmente à disposição. E ainda bem, pois o tempo estava – como é normal na época – muito quente e ali, à sombra, Antigas Alunas, utentes e familiares passaram uma simpática tarde com boas sardinhas, caldo verde e outras iguarias da época. Para animar a festa tivemos não só o Alexandre Tomás, filho da empregada Ana Filipa Tomás, que cantou várias melodias populares, como também atuou o Coro da Casa Nova, dirigido pela AA Teresa Paccetti que trouxe como reforço o filho, o organista David Paccetti, e a namorada.

Houve ainda três bancas de vendas de produtos bem diferentes. A AA Fe r n a n d a Vi d a l vendeu joalharia. A irmã e a nora da AA Joaquina Cadete tinham à venda bases de apoio e muffins e areias. A AA Dália Rosa Lacerda foi “repetente”. Depois do êxito que os seus chutneys tiveram no Chá da Primavera, a Dália voltou com uma nova coleção de chutneys feitos por ela. LAÇOS Número 3/12 – junho-setembro 2012

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Teres a d’Av i l l ez Sc hu ma c her – AA Nº 7/ 1954

Encontro do Curso de 1954 em abril de 2012

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ins de março recebo um mail da Helena Cavaco com um convite para um encontro de antigas colegas do IO do nosso ano de entrada – 1954!!! Foi uma grande surpresa e uma grande alegria para mim, sobretudo o facto de a Lena ter descoberto a minha morada! Achei fantástica a ideia de um encontro em Lisboa e fiquei cheia de vontade de lá aparecer, claro. Pensei nos “prós” e nos “contra” e depois de tudo conversado com a família, marquei o voo e fiquei radiante com a ideia de ir ver também os meus irmãos em Lisboa.

O nosso último encontro de antigas alunas, onde eu também tinha estado, tinha sido em 1983, em Odivelas, no Colégio. Pus-me a olhar para as fotografias de 1983 e, com a lista dos nomes que a Lena tinha mandado, tentei lembrar-me. Mas confesso que não reconheci a maioria, ou antes já não me lembrava dos nomes. De três ou quatro sim, ainda me lembrava!

Muita alegria por nos vermos ao fim de tantos anos

E agora, passados já quase 30 anos, como seria? Se calhar não vou reconhecer ninguém, que vergonha. Bom, vamos ver.

Lá chegou o sábado, 28 de abril, e pouco antes das 16 horas eu lá estava (um pouco nervosa) à porta do salão de chá das Vicentinas, na Rua de S. Bento, onde estava marcado o nosso lanchinho. Oiço vozes e vejo três senhoras em grande conversa a aproximarem-se do salão de chá. Tive logo a certeza que eram antigas alunas e acertei! Eram a Helena Cavaco, a Isabel Santos e a João Neves! Mas só depois de perguntar o nome a cada uma é que eu as reconheci! E o mesmo aconteceu comigo – nenhuma delas me reconheceu, só quando eu disse o meu nome! Lá dentro no restaurante tinhamos um cantinho só para nós, as mesas já arranjadas, e entretanto iam chegando cada vez mais colegas: grande alarido, muita risota, muita alegria por nos vermos ao fim de tantos anos!

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Difícil foi para mim lembrar-me dos nomes e das respetivas caras!!! Mas a mim também ninguém me reconheceu!!! Só me perguntavam: “Onde estão os teus cabelos ruivos?” Devo confessar que durante este lanche maravilhoso – tudo tão bom – eu senti-me muitas vezes mal, pois muitas das histórias contadas eu tinha esquecido por completo! E porquê? Talvez que o facto de eu ter ido viver para a Alemanha (desde 1966, quando me casei) certamente contribuiu para dificultar os contactos e assim deixar apagar aos poucos as lembranças. Mas eu gostei imenso de ter encontrado muitas das colegas de quem eu era amiga, de ter conversado com algumas mais tempo e também de ter ficado com alguns contactos, e assim posso escrever ou telefonar e ter notícias. Tive pena de não ter visto a Pipó e a Manuela Cansado. Graças ao trabalho fantástico das organizadoras deste encontro passámos uma tarde maravilhosa, relembrando os sete anos que vivemos juntas em Odivelas e recordando muitas histórias e acontecimentos que nos marcaram, que nos divertiram nesses anos. Antes de nos despedirmos marcámos ainda uma visita ao Lar das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas, onde algumas das colegas trabalham como Voluntárias. Uma delas é a Helena Cavaco, que se ofereceu para nos guiar nessa visita. No dia 1 de maio às 16 horas da tarde, lá nos encontrámos no Largo da Luz: a Lena, a Teresa Letras e eu. Mais nin-

guém podia. Seguimos para o Lar, que fica ali muito perto da igreja. A Lena mostrou-nos todo o Lar, apresentou-nos a várias senhoras que lá vivem e contou-nos como corre lá o trabalho das Voluntárias. O Lar está muito bem arranjado, com móveis antigos bonitos e tem-se a impressão que as pessoas se sentem lá bem. A Teresa, a Lena e eu ficámos ainda um tempo numa salinha à conversa, a Teresa lembrava-se de muitas peripécias do nosso tempo em Odivelas e ainda nos rimos um pouco! Aqui vai um “muito obrigada” à Lena Cavaco, à Isabel Santos, à João Neves pelo imenso trabalho que tiveram, mas que valeu muito a pena, pois o encontro foi um sucesso! E se calhar (se Deus quiser) até ao próximo encontro?!!! E também muito obrigada pelas muitas fotografias, que tornaram este encontro ainda mais vivo!!! LAÇOS Número 3/12 – junho-setembro 2012

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Maria Isabel Garcia Santos – AA Nº 194/1954

À conversa com os Residentes

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al como no ano passado acompanhámos os Residentes do Lar ao Museu Nacional de Arte Antiga para assistirem aos concertos das Bandas Militares.

A minha amiga Helena pediu-me que escrevesse um artigo para a “Laços” sobre este passeio. A minha primeira reação foi recusar, porque não escrevo particularmente bem e, além disso, não via grande utilidade neste artigo. Reconsiderei a minha posição atendendo a que poderia falar não só destas visitas mas também do que sinto no meu papel de Voluntária. Depois desta introdução vou então fazer uma breve descrição desta nossa visita. Quando cheguei ao Lar algumas senhoras ainda não estavam prontas, porque se tinham esquecido. Houve ainda algumas que se recusaram a ir, porque entendiam que não estavam bem vestidas. Achei esta atitude errada pois pareciam-me bem arranjadas mas, por outro lado, esta atitude revelou que ainda estão atentas ao mundo exterior, o que é saudável. Finalmente as nossas Residentes sentaram-se na carrinha e seguimos viagem. É pena que a carrinha não permita levar determinadas cadeiras de rodas, pois houve quem lamentasse não ter podido ir. Esperamos que o Lar seja contemplado pelo Montepio, que vai oferecer carrinhas para pessoas com mobilidade reduzida a algumas IPSS. Quando chegámos ao MNAA, como combinado, lá estava a Domingas procurando o melhor sítio, onde não apanhássemos sol e conseguíssemos ver e ouvir a Banda da GNR. As cadeiras talvez devessem ter mais estabilidade, mas tudo correu bem. Quando auscultámos a opinião dos Residentes sobre a visita, afirmaram que tinham gostado e acrescentaram que sair era uma alegria. É bom pôr um sorriso nas suas caras e animá-las a aproveitar o que ainda pode ser bom. Quando comecei o Voluntariado, geralmente, após ter ido ao Lar, tinha grande dificuldade em adormecer. Agora isso já não me acontece. Sinto-me feliz por poder ajudar um pouco. Penso que fundamentalmente o papel da voluntária é saber ouvir. Por um lado, as suas histórias transportam-nos a um passado mais ou menos longínquo, o que é interessante, por outro lado, também nos relatam factos, do dia a dia, que lhes agradam ou desagradam. Tal como disse a nossa colega Joaquina Cadete, na

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sua Ação de Formação, a Voluntária deve ser parte da solução e não parte do problema. Assim, não devemos reforçar negativamente um problema, mas também não podemos, nem devemos deixar de reportar a quem de direito. Por isso é que registamos sempre estes factos. Os Residentes abrem-se mais com as Voluntárias, pois a Direcção está, segundo dizem, muito longe deles*. Também as Famílias se sentem mais apoiadas por terem alguém com quem podem partilhar as suas preocupações, especialmente aos sábados e domingos. Surgiu então a ideia de apresentar umas questões a dois Residentes, Srª D. Eugénia Amaral (a) e Sr. Capitão Bernardino Cabral (b), que estavam acompanhados dos seus filhos. 1. Quando mudou para o Lar de que sentiu falta? a) Senti a falta da minha casa e da vida que lá tinha (ir tomar café, conversar com senhoras amigas). b) Estava viúvo e comecei a ter problemas de estabilidade e locomoção. Senti a falta da minha casa. 2. Ao conversar com as voluntárias sentiu que tinha voltado ao colégio e que as suas histórias também lhe interessavam a elas? a) Não, gosto de conversar, mas não senti que tivesse voltado ao colégio. b) Sinto que me ouvem com interesse e na generalidade sinto que são atentas ao meu ser.

3. Gosta dos passeios a museus e de ir ouvir as Bandas? a) Gosto de ir às Bandas, ao teatro e a jardins. Gostei muito de ir ao Jardim Botânico da Ajuda. b) Gosto de ambas as coisas. 4. A que outros sítios gostaria de ir? a) Gostaria de ir até Cascais e ficar um pouco numa esplanada. Também gostaria de ir a uma praia. b) Gostaria de ir também a jardins (Jardim Botânico da Ajuda). 5. Que actividades gostaria de ter aqui no Lar? a) Gosto de fazer colagens, jogos de cartas, jogo do loto, scrabble. b) Gosto de actividades que me ocupem o tempo (colagens, dançar, etc.).

6. Gosta que haja voluntárias? Que poderão elas fazer para tornar a sua estadia mais agradável?

* Nota da Direção: A Direção está constantemente presente e atenta aos utentes. LAÇOS Número 3/12 – junho-setembro 2012

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a) Gosto que haja voluntárias que conversem comigo. b) Acho que as voluntárias têm boa comunicação, simpatia e cumprem bem a sua função. 7. Gostaria que também houvesse voluntários? a) Se houvesse achava bem. b) Parece-me, que é preferível serem voluntárias (talvez tenham mais espírito de voluntariado). 8. Pensa que é preferível que sejam antigos alunos do IO, CM e do IPE? a) Acho que é preferível antigos alunos.

b) Não acho que seja necessário ser antigo aluno, opinião contrária à do seu filho, este antigo aluno do CM. Estas questões irão ser colocadas a outros residentes pois estas respostas fizeram-nos reflectir, mais uma vez sobre a vida no Lar. Todos sabemos que uma Escola só se mantem se houver alunos e bons professores, o mesmo se passa num Lar que deve ter como objectivo a felicidade dos seus Residentes. Sabemos que dirigir um Lar não é tarefa fácil mas, segundo os nossos Residentes, a chegada de uma Voluntária é sempre uma lufada de ar fresco. A direção do Lar e todos os seus funcionários são importantes mas este Lar não seria o mesmo sem as Voluntárias. São opiniões como estas que nos fazem não desistir. Nota: Não quero terminar sem agradecer à Helena (minha amiga e colega de turma) que além de me incentivar a escrever me apoiou na escrita.

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M. Margarida Perei ra -Mü l l er – AA Nº 2 4 4 / 1 9 6 7

Lançamento do livro “Esborrata-te no gesto que foste”

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o passado dia 1 de junho, a AA Helena Caldeira Martins e a antiga professora do IO, Isabel Serra, lançaram o

seu livro ESBORRATA-TE NO GESTO QUE FOSTE, no Palácio da Independência em Lisboa. A sessão começou pela apresentação do Dr. Eduardo Mimoso Serra que falou não só da poesia de Isabel Serra como da poesia que os desenhos de Helena Caldeira transpiram. Após as palavras sentidas das Autoras, Manuela Machado fechou a sessão com chave de ouro dizendo, na sua forma encantatória, poemas do livro "Esborrata-te no gesto que foste". Um belíssimo fim de tarde entre amigos!

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Ana Rit a Ferrei ra – AA Nº 6 5 / 2 0 0 5 Marisa Cardoso – AA Nº 8/2001 Ricardo Marques, Carla Gomes

Voluntariado no Forte

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este mês de agosto tivemos (novamente para dois elementos do grupo – AA – e de novo para dois amigos dispostos a colaborar) a oportunidade de passar uns dias no “nosso” forte de Santo António da Barra. Desta forma, respondemos à nossa vontade de servir, de acompanhar, de dar um pouco de nós sem esperar nada em troca a não ser o bem das pessoas que nos rodeavam, respondemos também à solicitação da AAAIO por forma a acompanhar os residentes do lar em alguns dos seus dias de “férias”.

Nestes dias acompanhámos e estivemos acompanhados pelo Sr. Capitão Cabral, pela D. Ana Maria, pela D. Alda (AA), pela D. Virgínia (também conhecida por tia Gina), pela funcionária do lar Joana, pelas AA Lurdes Guerreiro e Elsa Portela Ribeiro e pela D. Lurdes (também AA). Fomos de mochilas às costas, de “mangas arregaçadas” e prontos a ajudar e acarinhar.

Podemos mesmo dizer que cada uma destas pessoas nos conquistou ao seu jeito. O Sr. Capitão, sempre em forma, saía diariamente para o seu passeio e aquisição de literatura “fresquinha”; a D. Lurdes demonstrou uma vitalidade imensa recusando ficar sentada, a sua boa disposição foi uma constante pois sempre que falava apresentava-nos mais uma anedota do seu vasto reportório e revelou ainda um gosto especial por farturas; a D. Alda mostrou-se feliz por voltar à sua casa de férias dos tempos em que ainda estava no colégio e contou com algumas visitas, incluindo de amigas AA e familiares; a tia Gina presenteou-nos com o seu sentido de huFomos de mochilas mor e, apesar das dificuldades em subir e às costas prontos descer aquelas escadarias, disse que sim para ajudar e acarinhar a todas as atividades propostas; a D. Ana Maria era para nós a mais reservada (que se demonstrava mais reservada), mas no último dia revelou um pouco mais de si e da sua história de vida, acompanhando a isto um enorme agradecimento que tinha a fazer-nos. Ao longo destes dias fizemos pequenas caminhadas ao passo de histórias fantásticas que só eles guardam naqueles corações, aulas de ginástica bastante reveladores pois todos aqueles senhores estão em mais que boa forma, jogámos ao loto a feijões, à Glória e às cartas, partilhámos experiências e acima de tudo prestámos um bem a todos aqueles que o quiseram receber. Demos um pouco de nós ao muito que cada um daqueles Senhores guarda. 26

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Quanto à D. Joana, não lhe podemos estar mais gratos por todas aquelas refeições mais que saborosas e a dedicação àquela causa. Sem ela nada teria sido igual. Na nossa equipa também contámos com a Jéssica, atual aluna do IO, que esteve a acompanhar os residentes do lar, a ajudar-nos sempre que solicitada e a desfrutar também desta “casa de férias”. E o que dizer das AA Lurdes G. e Elsa? (Re) conhecemos tantas histórias e aventuras do IO, tantas lições de vida, aprendemos muito e agradecemos do fundo do coração todo o carinho e conselhos para o futuro. Para o ano, e se Deus quiser, lá estaremos novamente, não é? E sempre com esse espirito que tão bem vos caracteriza. Também, como esperávamos, outras AA responderam ao convite da AAIO e foram visitar-nos ao forte e até deram uma ajuda a animar o espaço. Entre elas estão a Margarida Pereira-Müller que facilitou esta nossa estadia no forte. Outra visita que tivemos foi a do Coronel Serra, diretor do IO, sobre quem caem tantos olhares mas que se tem demonstrado bastante atento e dedicado.

Estas pessoas foram o nosso sentido de presença, foi por elas que olhámos e além de termos chegado com expetativas altas e de que todos se sentissem cuidados por nós, saímos com certezas de que estes

foram dias especiais, únicos, que nos fortaleceram e dignificaram enquanto pessoas. Quem não vive para servir, não serve para viver. Mahatma Gandhi. No servir, acabamos por não imaginar o quanto recebemos! Obrigado a todos, pelo que nos deram. Esperamos ver mais voluntários para o ano!

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Ana Rit a A. Ferrei ra – AA Nº 6 5 / 2 0 0 5

14 de Janeiro e o futuro da nossa Casa

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inalmente conseguimos fazer um desfile militar com todo o batalhão colegial! Recordo com saudade o passado ano de 2009, durante o qual batalhámos e muitas coisas nos foram negadas. Com as explicações devidas, aceitámos que não poderíamos avançar com a grande vontade da maioria das alunas mas conseguimos treiná-las e fazer um desfile do batalhão colegial no largo do Instituto.

Mas este ano foi possível! Muitas coisas estão a mudar, outras tantas a reavivar-se e é tão bom assistir a tudo isto. Para algumas AA ou familiares sei que a opinião é que a nossa casa deveria ser gerida por uma mulher, que não deveríamos transformar as meninas de Odivelas em “robots militarizados” mas também sei que somos um dos três Estabelecimentos Militares de Ensino e temos de nos fazer valer por todos os nossos princípios, regras e valores. A nossa origem é militar e quer seja um homem ou mulher a dirigir, mais importante são as qualidades e características da pessoa em si, que saiba ouvir as alunas e que tenha também em conta as opiniões dos pais e AA e julgo que isto está a ser feito.

É altura de estarmos mais presentes e ativos

Foi com muito orgulho que participei nas comemorações deste nosso 112º aniversário, com saudade que revi todas aquelas paredes e que reencontrei todas aquelas caras amigas. Tendo em conta todas as notícias que têm sido divulgadas e que nos têm preocupado sobre a possível junção dos três EME pensei que não poderia deixar de partilhar a minha opinião e muito menos poderia deixar de felicitar todas as alunas, AA, funcionários militares e civis, pais, direção do IO e todos os envolvidos neste 14 Janeiro, no bom funcionamento deste IO e em levar o seu nome Cada Vez Mais Alto! É isso que tentamos fazer no nosso dia a dia, nos estudos ou trabalho, cada uma ao seu jeito, cada uma com tudo e com cada coisa que aprendeu no IO, não esquecemos a casa que nos une e tudo o que menos queremos é a sua extinção ou fusão ou qualquer outra nomenclatura que queiram dar ao processo que teima

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em querer avançar… De várias gerações, diferentes famílias, terras distantes, temos laços a unirem-nos. A sociedade está cada vez mais exigente mas não esqueçamos que somos parte dela e que podemos fazer algo para dar a conhecer esta nossa casa, como nós a conhecemos. O IO tem já 112 anos de existência, a nossa Associação é a associação feminina mais antiga em Portugal, mas talvez esteja na hora de não ficar apenas cada uma na sua vida, à espera que a AAAIO fale por nós ou que a direção do IO consiga manter todas as histórias e tradições unidas e “protegidas” sem ter AA que as contem

e partilhem. Talvez esteja na altura de estarmos cada vez mais presentes e ativas, talvez seja o momento de fazermos algo mais por Aquilo que nos une, irmãs!

14 DE JANEIRO

V

amos festejar o aniversário

da nossa escola no dia 14 de janeiro de 2013. Mais informações na carta do Natal. Inscreve-te até dia 10 de janeiro, por e-mail (geral@aaaio.pt) ou telefone (21 711 92 20/5).

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AGENDA

Pa r a f i c a r i n f o r m a d o s o b r e t o d a s a s a c t i v i d a d e s d a A A A I O p a r a 2 0 1 2

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Agenda Hora

Atividade

Local

27 de setembro de 2012

Data

18h

Recital de poesia com Natália Hasse Fernandes

Sala do Conventinho

10 de novembro de 2012

16h

Magusto

Nova Casa

24 de novembro de 2012

14h30

Assembleia Geral

Sala do Conventinho

15 de dezembro de 2012

16h

Festa de natal

Nova Casa

PLANO SEMANAL DAS ACTIVIDADES SÓCIO-CULTURAIS DO LAR “NOVA CASA” 2.ª Feira

3.ª Feira

MANHÃ

MISSA (Capelão Padre Borges)

Sem atividades, devido à consulta médica que decorre nesta hora.

13H00 - 14H00

ALMOÇO

ALMOÇO

TARDE

SESSÃO CORAL 15 em 15 dias (voluntárias M.ª Emília, Teresa Pacetti e Teresa Neves

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4.ª Feira

5.ª Feira

A HORA DO CONTO (voluntária Margarida Pereira-Müller)

ALMOÇO

GINÁSTICA (Enfermeira Joana Costa)

ALMOÇO

TRABALHOS MANUAIS (voluntária Dália Lacerda) SESSÃO DE CINEMA (Assistente Social Andreia Martins e residente Francisco Cabral)

ou PASSEIO 1x por mês (voluntárias Helena Cavaco e Dália Lacerda)

6.ª Feira

TEATRO DA LUZ (Programa da Antena 1 “Viva a Música”)

ALMOÇO


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Maria Madalena Fernandes AA Nº 324/1936 a 21/08/2012, em Vila Nova de Gaia

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Infelizmente não somos eternos e é sempre com pesar que dizemos adeus a colegas e residentes

IN MEMORIAM

I N ME MO R I AM

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IN MEMORIAM

Maria Micaela Reis Magalhães – AA Nº 122/ 1960

Até qualquer dia, Padre Suzano

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ascido a 12 de dezembro de 1932, o padre Joaquim Suzano Coelho era natural da Paróquia de Turquel, concelho de Alcobaça. Fez a sua formação nos seminários de Santarém, Almada e Olivais, e foi ordenado sacerdote pelo Cardeal-Patriarca, D. Manuel Gonçalves Cerejeira em 29 de junho de 1956.

Exerceu as funções de Coadjutor na Paróquia da Lapa à Estrela (de 1956 a 1957), pároco de Manique do Intendente e Ereira (1957-1964), pároco de Odivelas (1964-1969). Após um ano de permanência em S. Tomé e Angola o padre Joaquim Suzano regressou a Portugal para ficar à frente da paróquia de Algueirão-Mem Martins (1970-1986) assumindo depois a paróquia do Cercal onde esteve de 1990 a 2004. No dia 29 de maio pp, foi encontrado morto na sua residência onde desde há alguns anos que, por opção pessoal, vivia só pelo que, segundo as autoridades, terá falecido há alguns dias antes da data atrás mencionada.

Nunca me tentou impor ideias nem dogmas, sempre me soube ouvir

As Exéquias foram celebradas, em Turquel, presididas pelo Cardeal-Patriarca, D. José Policarpo.

Foi durante o tempo em que esteve como pároco de Odivelas que “acumulou” as funções de capelão do Instituto de Odivelas. Uma das situações que me perturbava no colégio era a confissão. Com 10, 11, 12 anos os pecados não eram assim tantos nem tão graves. Mas o Dr. Gustavo de Almeida, capelão quando entrei no IO em 1960, intimidava-me. Quando o Padre Suzano tomou o seu lugar, as coisas mudaram. Encontrei uma pessoa exigente mas aberta, alguém que tentava preparar aquelas meninas para o mundo que as esperava.

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IN MEMORIAM

Quando saí do IO, perdi-lhe o rasto, mas em 1971, nos preparativos para o casamento, voltei a encontrá-lo na igreja do Algueirão. Foi uma festa. Recebeu-me como se eu fosse a sua mais fiel paroquiana.

O P.e Suzano a batizar a minha filha

Tivemos largas conversas, discutimos muitos assuntos, ouvimos muito boa música e partilhamos os petiscos que ele muito apreciava. Nunca me tentou impor ideias nem dogmas, sempre me soube ouvir tentando, com o melhor dos sorrisos, fazer-me ver o outro lado das questões. Foi ele que me casou na igreja de Santa Maria, em Sintra. Foi também ele que, anos mais tarde, batizou os meus filhos. “Os meus netos”, como carinhosamente lhes chamava. Depois, por circunstâncias da vida, o contacto foi diminuindo. Mas tudo

aquilo que aprendi com ele não desapareceu. Fui apanhada de surpresa com a sua partida e doeu-me. Até qualquer dia, Padre Suzano. Temos muita conversa atrasada.

MAGUSTO O magusto da AAAIO será a 10 de novembro a partir das 16h, na Nova Casa. APARECE! Inscrições: geral@aaaio.pt ou Tel. 21 711 92 20/5 Preço:  10 LAÇOS Número 3/12 – junho-setembro 2012

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IN MEMORIAM

Maria Noémia de Melo Leitão – AA Nº 245/1931

Maria Cristina Diniz

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sempre com mágoa que vemos partir que se impôs na vida pela suas qualidades pessoais e, simultaneamente, se distinguir no cumprimento dos seus deveres.

Assim acontece relativamente à Professora, Drª Maria Cristina Diniz, à antiga colega e amiga que a todos cativava com a sua doçura de trato, simpatia e postura de Senhora. Partiu no dia 3 de maio, aos 87 anos, completados a 7 de janeiro pp. Com elevado profissionalismo, transmitiu o saber às gerações de alunas que lhe foram confiadas, sem descurar a comunicação de valores, como a lealdade, a verdade – o Bem – que, intrinsecamente, faziam parte da sua personalidade. E é invocando a saudade que se constata como se vai reduzindo o grupo de professoras do Instituto de Odivelas que, como uma família, se orientava pela prática de uma sã amizade. À Família enlutada enviamos a expressão dos nossos sentimentos – família tantas vezes invocada, em conversas descuidadas em que falava, com ternura, das filhas, do filho e dos netos. Algumas AA enviaram-nos por email ou através das redes socias as suas recordações da sua antiga professora: Isabel Couto: Também gostava muito da Sra. D. Cristina. Muitas vezes elogiou as minhas composições. Lembro-me que morava em Caxias. Uma vez houve umas inundações que lhe alagaram a casa e fizeram muitos estragos. Ela levava por vezes para as aulas livros seus, para nos ler algumas passagens; lembro-me de ter levado uma vez um livro antigo com uma bonita encadernação mas com as marcas desse desaire! Era uma pessoa muito querida. Néné Piairo: Também lamento – e muito – a sua morte. Era muito querida e gostava imenso dela. Lembram-se que se disponibilizava para nos comprar chocolates e afins na cantina do IO?

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Teresa Penha: Também foi minha Professora de Português no 7º e 9º ano. Adorei! Recordarei sempres a Sra. Dra Cristina com saudade! Paz à sua alma! Conceição Gomes da Silva: Foi minha Professora de Francês. Querida! E excelente Professora! R.I.P. Saudade. Luisa Lino: Gostava de lhe ter prestado a minha homenagem! Foi quem me ensinou a gostar de Eça de Queiroz! Gostava muito da Professora Cristina Dinis, pequenina, mas grande a ensinar! Nunca mais a esquecerei! Guiducha Silva Reis: Paz à sua alma! Foi a minha 1ª professora de Português, muito serena.

A

Vera Viegas: “Ser Poeta”. Sempre que leio este poema da Florbela Espanca ou ouço a música dos Trovante, recordo a Prof. Maria Cristina Dinis, que em 1987 (foi nossa prof. no 7º, 8º e 9º anos) nos levou esta música para a sala para a ouvirmos. O meu eterno agradecimento à minha professora que me mostrou os poetas portugueses e a quem eu recordarei para sempre. Isabel Serra: Tive o privilégio de conviver com a Sra. D. Maria Cristina e lembro a sua presença discreta, serena e amiga. Estou certa que não só nós – suas colegas de profissão – mas também as suas alunas a recordarão com saudade.

José Hermano Saraiva AAAIO lamenta o desaparecimento do Professor Dr. José Hermano Saraiva, como cidadão, como homem de cultura, académico e historiador. Foi um comunicador de rara expressividade, levando a sua voz de conhecedor profundo da realidade histórica, social e cultural dos portugueses e a sua figura a casas particulares e centros públicos, onde era escutado com o maior interesse.

O IO teve-o como amigo, podemos dizer, como familiar. Aqui se deslocava frequentes vezes para pronunciar palestras, conferências, encontros mais ou menos formais, sobre figuras relevantes da nossa história e ou cultural, algumas delas relacionadas com a nossa casa de ensino. Foi casado com a prestigiada e ex-professora do IO, Drª Maria de Lourdes Sá Nogueira Saraiva, e cunhado da Drª Maria Dulce Sá Nogueira, também antiga e muito estimada professora do IO, a quem a AAAIO apresenta sentidas condolências, extensivas a toda a família. LAÇOS Número 3/12 – junho-setembro 2012

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IN MEMORIAM

M. Margarida Pereira- Müller – AA Nº 2 4 4 / 1 9 6 7

Isabel Gago, uma mulher decidida

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uando há uns anos, fui entrevistar a Isabel Gago, AA nº 81/1922, fiquei deveras impressionada com a lucidez e a vivacidade com que Isabel Maria Gago, já bem perto dos cem anos, mostrava. Pequenina, franzina, decidia a sua vida com grande à vontade. Achei fantástico não só ir às compras e tratar sozinha da sua vida, como falar-me do modo mais natural possível das suas idas ao cinema – como se estivesse a conversar com uma amiga minha da minha idade. Temos de não esquecer que à minha frente estava uma AA que tinha entrado para o IO em 1922!

Mas Isabel Gago sempre foi uma mulher decidida, de coragem e muito independente. Aos 14 anos e após cinco anos de instrução primária e dois anos de liceu, Isabel Maria saiu de Odivelas e foi para o Liceu Maria Amália. Não havia a certeza de que o colégio teria o resto do liceu e ela não quis arriscar. Saiu com a sua grande amiga, desde o primeiro dia no colégio, Vera Monteiro Torres, de quem ficou inseparável. Vera era a filha do nosso primeiro aviador militar, cujo avião foi derrubado pelos Alemães durante a I Grande Guerra. Em 1933, fez a admissão ao Instituto Superior Técnico para cursar Engenharia Química, que terminou em 1939, tendo sido portanto a primeira Engenheira Química licenciada pelo Técnico, juntamente com uma outra colega. Ficou no Técnico como assistente, tendo seguido a carreira de docente universitária até se aposentar em 1984, com 70 anos. Os laboratórios e as questões de natureza experimental foram sempre para ela de grande interesse. Quando, nos anos sessenta do século XX, foi fundada a Universidade de Lourenço Marques, Isabel Gago fez parte da equipa de académicos que montaram os laboratórios respetivos. Faleceu em 8 de maio. Uma grande senhora até ao fim.

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Acabo de receber a “LAÇOS” que li de “fio a pavio”; tenho por hábito não ler sumários, nem rebuscar notícias, começo a leitura na 1.ª página e acabo na última, tal como faço com o “Diário de Notícias” e “Visão”, minhas leituras habituais, ou com qualquer livro que esteja a ler.

A “Laços” está simplesmente excecional! Estou a lembrar-me das primeiras “Laços”, e sem dúvida, que não há termo de comparação, pois embora tivessem um ou outro artigo interessante e bem escrito, com conteúdos de nível, o resto era preenchido com memórias do IO e pouco mais, de certa maneira, infantis ou colegiais, o caso da Deolinda, autopromovida a escritora, a escrever bem. Mas vazio de algo cultural. A apresentação era modesta: dactilografada por mim, em fotocópias tiradas no meu local de trabalho, armado em “mecenas” com ilustrações alusivas e simpáticas desenhadas por uma colega. O resultado de tal “afim” foi imensamente meritório, pois a partir da ideia de lançar e concretizar a divulgação da “Laços” cuja madrinha fui eu, de que me orgulho da inspiração com que escolhi o nome, que tanto nos diz e identifica... e passado tanto tempo, continuo a achar o nome muito adequado e bonito...

E... assim, chegamos à n.º 2/12, com uma lindíssima capa, uma arrumação e grafia espectacular, conteúdos diversificados e muito bons colaboradores que escrevem muitíssimo bem; superficialidade não existe... existe sim a graciosidade e leveza bem humorada de algumas entrevistas, mas cujo testemunho nada tem a ver com a vaidade, e entre outros, artigos culturais, tais como o “Triformasdarte” e o “Tempo companheiro do nosso destino” onde se fala de Kant, se explica o étimo kronos, se passa pela mitologia e pelo tempo a fluir como um curso de água. Também gostei muito, muito, das tuas viagens (tive pena de não ir contigo ao Tibete com paragem no “Conventinho”) e eu que ao longo da vida estive em 38 países, não os conheci porque não os percorri ou não os aprofundei; os tempos eram outros, e também não haveria dinheiro para os poder fazer no pormenor, tal como tu o fazes. Guida querida, o “romance” está a chegar ao fim. É bom reconhecer-se a qualidade, usufruir dela e prestigiá-la, pois tudo reunido é um estímulo para quem se empenha no seu trabalho, neste caso, a LAÇOS “cada vez melhor... cada vez melhor” fugindo eu ao plágio de “cada vez mais alto... cada vez mais alto” Beijinhos Salette Tereno

CARTAS À REDAÇÃO

uito querida GUIDA

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C A R TA S À D I R E Ç Ã O

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NOTÍCIAS DO IO

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Mariana Cecília Silva Serafim Mans o – A A Nº 1 5 4 / 1 9 8 5 Sílvia Machado Baldo – AA Nº 12/1983

O nascimento do grito

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m conversa animada no grupo de Meninas de Odivelas, via Facebook, começámos a recordar a origem do nosso Grito. Nesta onda de recordações, e como costumo sempre ter uma memória fresquinha, fui desafiada pela Joaquina Cadete a escrever um breve trecho sobre esta nossa tradição, ainda não tão antiga, e que muitas de nós desconhecem como teve início. Como é óbvio, pensei que, sozinha, não conseguiria fazer um trabalho tão bem feito, por isso contei com a preciosa colaboração da Sílvia Baldo (n.º 12/83), que efetuou todos os contactos necessários e me enviou um texto com as informações essenciais e que me faltavam. Deste modo, apesar de ir assinado por mim, é, efetivamente um trabalho de equipa. Não posso exatamente precisar o dia do nascimento do Grito. Eu estava no 9.º ano, em 1990, e durante cinco anos tinha assistido a vários eventos com a participação dos três colégios militares. Em todos estes eventos sucedia que, tanto o Colégio Militar, como os Pupilos do Exército, gritavam orgulhosamente os seus Zacatraz, Salvés e afins, e nós… Pois é, nós não tínhamos nada para gritar. Limitávamo-nos a sorrir e bater palmas, o que nos parecia, cada vez mais, insuficiente. Tanto mais quando (como era o meu caso) tínhamos irmãos nos outros colégios e víamos a altivez com que eles se levantavam prontamente, faziam toda aquela “algazarra ordenada” e gritavam em plenos pulmões. E foi assim, dizia eu, que chegámos ao último dia antes das férias da Páscoa, em 1990. Como habitualmente, as alunas que faziam parte do coro, entre as quais estava eu, foram a Mafra cantar na cerimónia do Crisma dos três colégios. Na altura, a nossa professora de Música era a Dr.ª Margarida Lima, da qual tenho muito boas recordações! Depois da Missa e da celebração do Crisma, veio o almoço-convívio, com o inevitável pontuar dos gritos dos colégios dos rapazes, que nos encheram os ouvidos de “Jacarés” e “Zacatraz”. No regresso ao IO, na carrinha, um grupo de alunas mostrava-se particularmente agastado com esta situação. Foi ideia geral de que, se o “CM” e o “Pilão” tinham um grito, era mais do que altura de nós termos o nosso Grito também!

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NO T Í CI AS D O I O

Era um grupo composto por alunas de vários anos (pois era assim que nos organizavam nas carrinhas), entre as quais se contavam: do 12.º ano, a Edna Bernardo e a Dulce Vitiza; do 11.º ano, a Isabel Marques (França), a Cláudia Calmão, a Cláudia Tavares, a Sílvia Machado (Baldo), a Susana Costa, a Ester Pinto (Ferreira), a Maísa Ribeiro; do 10.º ano, a Cátia Guerreiro. Eu também lá estava, e certamente também outras colegas do 9.º ano (infelizmente, não me recordo, nem consegui encontrar ninguém do meu ano que se lembrasse de lá estar, pelo que não posso identificá-las…). Lançado o mote, deu-se início ao processo de criação do Grito, e as ideias foram surgindo. A primeira dúvida levantada incidia sobre a melhor forma de chamar a atenção de todas. Resolveu-se que a pergunta “IO?” seria a mais adequada, ao que todas as alunas deveriam responder/gritar “Sim!”. Era uma questão de afirmação! A utilização da expressão “Salvé” foi inspirada no hino do colégio, onde, como todas sabemos, a palavra é repetida por diversas vezes na sua parte final («Salvé bela

terra onde nascemos / Salvé santa pátria portuguesa / Salvé nossa escola a quem devemos a luz do saber, nossa riqueza / Salvé, salvé! / Salvé, salvé!»). Finalmente, lembrámo-nos de utilizar também a expressão “Cada vez mais alto!”, com base na inscrição Duc in altum que estava nas nossas medalhas (isto das medalhas também tem que se lhe diga, pois só nesse ano deixaram de ser livros e passaram a ser de metal – mas essa é uma outra história…). Existindo consenso sobre o essencial da letra, foi só uma questão de aperfeiçoá-la, juntando-lhe ritmo e um tom musical, onde a Isabel Marques teve uma grande contribuição. Saliento, aliás, que a base musical não está patente nos gritos do CM e dos Pupilos, o que, no meu ver, torna o nosso muito mais original (para não dizer melhor)!! Quanto à nossa gritadora oficial, foi logo acordado que seria a Cláudia Calmão, visto que tinha um vozeirão (as consequências da 3.ª voz do coro…) capaz de chamar a aluna que estivesse no lugar mais recôndito… O apoio do 12.º ano foi fundamental,

pois, como alunas mais velhas, tinham uma palavra a dizer, e não levantaram qualquer obstáculo a ser a Cláudia (do 11.º ano) a “comandante” do grito. No entanto, a partir daí (penso eu, pois desconheço as disposições entre as atuais alunas do colégio), foi sempre uma aluna do 12.º a escolhida para este papel. O Grito foi rapidamente aprendido e todas as alunas que se encontravam na camioneta foram mobilizadas para treiná-lo na perfeição – claro que o entusiasmo e adesão foram do tamanho do mundo! Fomos a GRITAR autenticamente todo o caminho – quando parávamos nos semáforos, as pessoas da rua ficavam a olhar para nós, boquiabertas, tal era a barulheira! Todo este treino obrigou à existência de uma cúmplice: a D. Conceição Leal, que vinha connosco na camioneta e que assistiu ao processo, dando-nos todo o apoio desde o início. De facto, foi a única pessoa (não aluna) que tomou conhecimento da criação do Grito, e guardou este enorme segredo até ao dia em que este se estreou.

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NO T Í C I A S D O I O

De regresso das férias da Páscoa, e ao longo do 3.º período, o Grito foi transmitido a todas as alunas do colégio e foi aprendido na ponta da língua (ou da garganta), mantendo-se sempre a absoluta necessidade de não contarmos a ninguém, nem sequer aos nossos pais. Esta surpresa contribuiu também para o aumentar do nosso entusiasmo e expetativa, pois era quase como se fosse uma pequena / grande partida que iríamos pregar a todos! Finalmente, esse importantíssimo dia de estreia ocorreu num encontro de coros, no ginásio do nosso colégio – mais uma vez, infelizmente, não sei precisar a data específica. Neste ano, extraordinariamente, o encontro de coros não se realizou antes do Natal, mas sim no final do ano letivo (penso que o motivo se deveu às comemorações dos 90 anos do colégio, mas não posso assegurar). No entanto, esta alteração veio mesmo a calhar, pois acho que iríamos rebentar, se não estreássemos o Grito em breve! Por outro lado, era importante que estivessem presentes os alunos dos ou-

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tros colégios, ou não teria o mesmo impacto. Estávamos todas nervosas e ansiosas. Mas, como habitualmente, fomos para o palco e cantámos. Depois, deixámos que os rapazes se pavoneassem primeiro com os seus Gritos. E finalmente… chegou a nossa vez! A Cláudia Calmão levantou-se e gritou: “IO!” E todas as alunas se levantaram e responderam com toda a garra: “SIM!” Foi de deitar a casa abaixo! Eu estava toda arrepiada e todas sentimos um imenso orgulho – ainda agora, que estou a escrever, sinto arrepios à medida que recordo o que se passou. Tivemos autenticamente a consciência de que estávamos a fazer parte da História do nosso colégio! O pasmo e a admiração foram totais e todas as pessoas (exceto nós) bateram muitas palmas no final! O sucesso, como se percebe, foi absoluto. O Grito vingou e, desde aí, é parte obrigatória de todas as nossas cerimónias. E pronto, assim termina a história da origem do nosso Grito. Peço desculpa, anteci-

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padamente, se fui imprecisa com algum detalhe, ou demasiado emotiva, mas estas são as minhas recordações (assim como as das colegas que me ajudaram), e já lá vai um tempinho que tudo se passou… Espero que haja gargantas fortes durante muitos e muitos anos e que o nosso Grito possa ser transmitido por muitas gerações. Quanto a mim, cá estarei para contar outras histórias, sempre que me for pedido. Fiquem (e gritem) bem!

GRITO DO I.O.

I.O.! Sim! Salvé Nosso (Salvé Nosso) Instituto (Instituto) Cada vez mais alto, cada vez mais alto, cada vez mais alto!


NOTÍCIAS DO IO

Marga ri da Cu n ha – Pro fesso ra do I O

IO, sim!

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á uma escola em Por tugal que defende a qualidade, o rigor e a exigência; Há uma escola em Portugal que há 112 anos alia tradição e inovação; Há uma escola em Portugal, fundada em 1900, com um propósito inicial nobre e social: educar e formar meninas e jovens órfãs de militares; Há uma escola em Portugal com alunas, filhas de militares e de civis, provenientes de meios socioeconómicos e geográficos muito diversos; Há uma escola em Portugal onde valores como o dever, a honra, a disciplina e a responsabilidade são praticados diariamente; Há uma escola em Portugal onde quando um professor entra na sala de aula, as alunas se levantam, em sinal de respeito; Há uma escola em Portugal que há décadas possui estudos acompanhados, apoios educativos e atividades extracur-

riculares reconhecidas em Portugal e no estrangeiro; Há uma escola em Portugal com sucesso escolar e com resultados nos exames nacionais e provas de final de ciclo muito acima das médias nacionais; Há uma escola em Portugal onde se vive o lema das antigas alunas: SER AMIGA É SER IRMÃ; Há uma escola em Portugal que tem no seu hino e na sua prática o ideal da VERDADE; Há uma escola em Portugal que tem como divisa: DUC IN ALTUM – Cada vez mais alto! Há uma escola «que interessa a Portugal acarinhar e incentivar, e da qual têm saído mulheres que têm prestado relevantes serviços ao País nas diversas áreas da cultura, das artes e das ciências…» (Discurso do Presidente da República, Professor Aníbal Cavaco Siva, por ocasião da Comemoração do 110.º Aniversário do Instituto de Odivelas, a 14 de janeiro de 2010) Essa escola é o Instituto de Odivelas – Infante D. Afonso.

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NO T Í C I A S D O I O

A CEG no Eurogym 2012 em Coimbra – 17 de julho tugal na Gala União Europeia de Ginástica (UEG), que decorreu em Coimbra.

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o passado dia 18 de julho, e integrada no programa do 8º EuroGym – Coimbra 2012, a Classe Especial de Ginástica do Instituto de Odivelas, a convite da Federação de Ginástica de Portugal, irá representar Por-

Apesar do calor abrasante de 40 graus, as Alunas do IO fizeram uma boa exibição – e até tiveram direito à passagem em direto no canal abolatv.pt. No final, concordaram em absoluto com o lema do Eurogym: Fun – Friendship – Fundamentals – Fantastic – Let’s Share.

Recolha de Sangue no Instituto de Odivelas

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o dia 23 de Maio, o Instituto de Odivelas abriu as portas à comunidade para receber todos quantos se quiseram juntar a mais uma dádiva de sangue. Vamos recuar ao ano letivo de 2007/2008, quando a primeira edição desta iniciativa foi levada a cabo. As alunas de Área de Projeto da turma de Ciências e Tecnologias do 12º ano, juntamente com a professora Graça Henriques, organizaram uma Feira de Saúde, atividade que culminou com a vinda do Instituto Português do Sangue ao Instituto de Odivelas.

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A iniciativa tem vindo a ter cada vez mais dadores, envolvendo a comunidade que já reconhece o Instituto como ponto de recolha. São sempre recolhidas as várias combinações de grupos sanguíneos, inclusivamente as mais raras, como é o B Rh- e o AB Rh-. A professora nesta casa durante 17 anos, não sobreviveu à terrível doença para organizar as edições que se seguiram, mas o seu legado ficou. O Instituto de Odivelas agradece a todas as Antigas Alunas, professores, pessoal civil e militar, encarregados de educação, atuais alunas e odivelenses a sua colaboração neste importante evento.


NO T Í CI AS D O I O

O IO nas cerimónias do 10 de junho em Lisboa

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o dia 10 de junho de 2012, celebrou-se o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, em Lisboa. A cerimónia solene foi presidida pelo Presidente da República Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva, Comandante Supremo das Forças Armadas Portuguesas. No desfile militar, que contou com cerca de 1500 militares dos três Ramos das Forças Armadas Portuguesas, como é tradição, participaram alunas do IO que representaram, com enorme elevação, este estabelecimento militar de ensino dependente do Exército Português. As alunas do IO estiveram sempre cada vez mais alto!

Visita de Prémio de Final de Ciclo - 6.º ano

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o passado dia 28 de maio de 2012, realizou-se a Visita de Prémio de Final de Ciclo, com as alunas do 6.º ano, à Herdade das Parchanas, no Torrão. Ao longo do dia, as alunas praticaram atividades muito variadas e radicais. Integradas na paisagem da planície alentejana, as finalistas do 2.º ciclo passaram momentos repletos de aventura e de movimento, e desfrutaram do contacto com a natureza. Acompanharam as alunas, a coordenadora de ciclo Teresa Viegas, as diretoras de turma Margarida Lima e Marina Aguiar e o professor Nuno Lopes. As alunas do 6.º ano evidenciaram um comportamento excelente envolvendo-se, de forma entusiasmada e responsável, nas atividades propostas, respeitando plenamente as regras de participação, de segurança e de utilização adequada do equipamento, previamente explicadas pelos monitores da Herdade das Parchanas. Uma referência às t-shirts usadas pelas alunas: cada turma elaborou e escolheu o motivo da sua t-shirt, na disciplina de Educação Visual e Tecnológica, com a professora Margarida Lima. A animação e a boa disposição estiveram sempre bem patentes.

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NO T Í C I A S D O I O

Finais Nacionais de Esgrima – Espada Feminina

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os dias 2 e 3 de junho, realizaram-se as provas finais nacionais de Esgrima, organizadas pela Federação Portuguesa de Esgrima, na escola secundária Vergílio Ferreira, em Telheiras. Foram dois dias em cheio com provas de florete e espada para os escalões juvenis, masculinos e femininos. Mais uma vez as alunas do Instituto de Odivelas estiveram de parabéns! Tanto pelos lugares alcançados como pela sua participação e motivação ao longo de todo este ano letivo. Foram incansáveis e muitas das vezes aceitaram o desafio de participar nos escalões acima dos seus. Nestes dias, participaram, no escalão de cadetes, a Catarina Coelho e a Marta Alves. Obrigada pelo vosso esforço! Um nível difícil…! No escalão de iniciadas participaram a Rita Pereira, a Marta Alves, a Inês Madeira e a Catarina Madeira. No escalão de infantis, a Marta Alves e as irmãs Madeira. Neste último escalão, a Marta conquistou o 1.º lugar, consagrando-se assim campeã nacional de espada feminina infantil. As irmãs Madeira conquistaram o 3.º e 5.º lugares.

Escola Alemã de Lisboa no IO

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o dia 30 de maio as alunas da Escola Alemã estiveram no Instituto de Odivelas para jogarem voleibol com as alunas da atividade extracurricular da modalidade. As nossas convidadas ficaram muito agradadas com a nossa casa. O convívio continuou à mesa com um lanche oferecido pelo IO.

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NOTÍCIAS DO IO

J oaquina Cadet e P hi l l i mo re – AA Nº 193/ 1960

Espadeirar um bolo

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título surgiu-me, de repente, quando vi as fotos em que o Comandante de Instrução e Doutrina, a comandante de batalhão do IO e a AAAIO empunhavam uma espada para cortar, em conjunto, o bolo que a AAAIO oferecera, como vem acontecendo, há vários anos, às alunas finalistas, por ocasião do tão desejado baile.

As duas representantes da AAAIO, presentes neste evento, mais uma vez confessaram às suas colegas mais novas o quanto teriam gostado de, no seu tempo, ter usufruído de uma noite como a que começou no dia 29 de maio de 2012, e que se prolongou pela madrugada do dia 30. Mas comecemos pelo princípio. “Les belles du bal” chegaram ao Colégio, numa limusina branca que, desde logo, deu o tom à noite de glamour que iriam viver. Passada a sala de entrada, onde a Direção do IO recebia quem chegava, todos os convidados se dirigiam para o Claustro da Moura, onde foram servidos os aperitivos, através da lindíssima O grupo de finalistas

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cozinha das monjas. Acho que foi a primeira vez que vi a fonte a jorrar água e iluminada. A Moura devia estar feliz… Mais tarde, todos se dirigiram para o Claustro Principal através da Sala do Teto Bonito, o antigo refeitório das monjas, permitindo a quem ainda não conhecia este espaço admirar o ex-libris do IO. O claustro principal parecia outro. A beleza das suas vetustas colunas era realçada pelo palanque colocado sobre o jardim, dele sobressaindo a fonte e alguns arbustos mais altos. No espaço onde todas, um dia, brincámos, estavam as mesas preparadas para a refeição. À medida que a noite avançava, a iluminação tornava o espaço mágico e a orquestra do

Exército tocava melodias de todos os tempos. O baile foi aberto pelo Diretor e pela Comandante de Batalhão, logo seguidos por todas as finalistas e seus pares, os Pais ou seus representantes. Mais tarde, as finalistas surpreenderam todos os presentes com um lançamento de balões iluminados, num gesto simbólico de quem vai partir para outros voos. Foi, na realidade, um momento inesquecível vivido intensamente por toda a “família do IO” e só compreendido, na sua essência, por quem tenha frequentado este Colégio ou outro similar. Esperemos que ainda se possam espadeirar muitos outros bolos…

Festas da Catequese 2012 no Instituto de Odivelas

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o passado dia 26 de maio de 2012, teve lugar a celebração das Festas da Catequese na Igreja de S. Dinis, presidida pelo Capelão do IO. De acordo com o itinerário catequético e de aprofundamento da fé, as Alunas do 5.º ao 9.º Volume receberam um diploma correspondente. Alunas receberam o sacramento da Eucaristia (Primeira Comunhão). A cerimónia religiosa revestiu-se de especial significado para as Alunas, e para todos 46

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aqueles que puderam estar presentes, nomeadamente quando testemunharam o momento em que cada uma das Alunas depositou uma flor junto da imagem da Nossa Senhora da Conceição, a Padroeira de Portugal, oferecida pela Rainha D. Maria Pia, mãe do Rei D. Carlos, ao Instituto Infante D. Afonso (assim designado à época).


J oaquina Cadet e P hi l l i mo re – AA Nº 193/ 1960

Vigiar ou educar? o longo dos anos em que gerações de Meninas de Odivelas passaram pelo colégio, houve sempre uma figura que nos marcou de forma mais ou menos profunda. Falamos das vigilantes ou monitoras, nos últimos anos.

Lançámos o desafio no Facebook para nos enviarem sugestões de perguntas e foi notável a adesão e a vivacidade da discussão que o tema despertou e que permitiu uma reflexão sobre o papel que a direção do IO atribuiu a estas colaboradoras ao longo dos tempos. A entrevista que se segue a quatro vigilantes/monitoras de várias épocas é, assim, feita a muitas mãos e agradecemos, calorosamente, a colaboração prestada a Maria Teresa Santos Oliveira Jardim – MTS – (1958 a 1966), a Maria Gertrudes (1973 a 2009), a Maria Cecília Soares Lopes Pereira – MCP – (1977 até aos dias de hoje) e a mais nova, a Maria João Raminhas, AA Nº 196/1977. O que vos levou a escolher ser vigilante num colégio interno? MTS – Um convite da Srª Dª Idalina que era auxiliar da Regente Srª Dª Cândida e também uma certa curiosidade em saber como era um colégio interno. MG – O ter frequentado um “Era um trabalho muito colégio semi-interno e gostar intenso, uma vida dedicada de crianças e de lidar com pessoas, detestar papéis e à instituição e às alunas, secretárias. As regalias dadas 24 horas sobre 24 horas...” resultavam numa simbiose perfeita para mim. Cama, mesa e roupa lavada. 2.500$00 de vencimento…eram um luxo na altura. CLP – O que me levou a enveredar pela carreira de Monitora, no Instituto de Odivelas, foi essencialmente o facto de eu gostar muito de crianças. Considerei também um desafio poder influenciá-las no sentido de as fazer sentir o colégio, mesmo sendo um internato, como uma segunda casa.

À CONVERSA COM...

A

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À CONVERSA COM...

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À CONVERSA COM...

MJR – Como havia falta de Monitoras e, sendo eu Antiga Aluna do IO, a Senhora Diretora (Dra. Deolinda Santos) fez-me o convite para exercer essa função no horário da noite, acompanhando as alunas na camarata. Tratava-se de uma proposta aliciante para uma jovem de 19 anos e aceitei de imediato. Ia ganhar o meu próprio dinheiro e deixar de depender financeiramente dos meus

Maria Gertrudes, na atualidade

pais e, principalmente, porque podia conciliar com as aulas na faculdade durante o dia. Por concurso, fiquei efetiva no QPCE, progredi na carreira e cá permaneço até aos dias de hoje. Considerando a importância do papel de vigilante / monitora que habilitações eram exigidas, no vosso tempo? MTS – Era exigido a frequência do antigo 5º ano. MG – No meu tempo, a escolaridade não era obrigatória, nem gratuita. O curso dos Liceus era assim um passaporte muito elevado, para a época, a oportunidade de estudar não era acessível a todos. 48

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O Instituto exigia o 5º ano dos liceus como mínimo (na altura ingressava-se no magistério com estas habilitações) e um registo do presidente da junta e do pároco da freguesia, em como se era pessoa correta e sem nada a apontar. Uma das condições era ser solteira ou viúva sem filhos e se pretendêssemos casar, não poderíamos continuar no Instituto… Ao assinar o contrato, tínhamos de assinar um termo de compromisso em que se aceitavam as condições impostas. CLP – As habilitações exigidas na altura que eu entrei (há 35 anos) eram o 5º ano, que corresponde hoje em dia ao 9º ano. Considero que para o desempenho desta função é importante que a pessoa tenha necessariamente formação cívica, devendo saber transmitir valores e manter uma relação de confiança com as alunas. MJR – O 9º ano de escolaridade. Como conciliavam a vida pessoal com a vida em internato? MTS – Éramos solteiras e como tínhamos uma folga semanal essa mesma folga dava para visitar a família. O período de férias também era mais longo. MG – Não podendo ser casada era relativamente fácil… Um fim-de-semana de 15 em 15 dias e um dia de saída por semana. Pessoalmente, como tinha os meus irmãos e muitos amigos em Lisboa, era relativamente fácil, nos dias de saída ia sempre ao cinema e jantar fora (na altura tinha duas colegas de estudo e da mesma aldeia), éramos um grupo de três, mas só duas monitoras podiam ter folga no mesmo dia e como éramos bem comportadas e cumpridoras podíamos ter folga no mesmo dia.


À CONVERSA COM...

Aos fins de semana, era uma alegria e nunca passei um fim de semana de folga no IO. Claro que o telefone e as longas cartas também ajudavam. Sempre tive vida pessoal fora do Instituto. CLP – Era um trabalho muito intenso, foi uma vida dedicada à instituição e às alunas. 24 horas sobre 24 horas, apenas havia um fim de semana livre de 15 em 15 dias, não deixando muito tempo para uma vida pessoal. Atualmente, já não é assim, há um horário e o colégio fecha à sexta feira à noite e só reabre domingo às 17 horas, deixando mais tempo para a vida pessoal. MJR – Quando eu entrei para estas funções, as monitoras já não eram internas mas, no meu caso, foi um prolongamento da minha vida de aluna interna, pois só estava com a minha família aos fins-de-semana e nas férias. Apesar de morar em Lisboa, era complicado gerir os horários Faculdade/Instituto e, durante a semana, só tinha oportunidade de ir a casa quando não tinha aulas ou nas férias de ponto (época de exames). Qual a regra de disciplina que mais vos custou impor às alunas? MTS – Obrigatoriedade do silêncio noturno. MG – Muitas, sem dúvida…Eu era quase da idade de algumas alunas, tinha terminado o liceu… Ter de conter o riso ou o choro… Uma vez chamaram-me a atenção por estar a chorar com uma aluna que tinha sido castigada injustamente…Era duro manter a disciplina que tínhamos de impor e…se o não fizéssemos éramos expulsas. Muitas o foram no meu tempo O silêncio às refeições era o pior, creio que era só ao pequeno almoço.

O silêncio “absoluto” nos concertos de música clássica na sala do teto bonito… que tormento. MJR – A mesma em que eu tive mais dificuldade de me adaptar enquanto aluna, o facto de não podermos comunicar telefonicamente com a nossa família, principalmente quando o bichinho da saudade apertava. É difícil para uma menina de 10 anos estar afastada, durante uma semana, dos mimos dos pais… Já como monitora, tentei minimizar essa falta às minhas meninas da camarata, lendo uma pequena história antes de apagar as luzes, aconchegar os cobertores e dar um beijinho de boa noite. Pequenos gestos que (penso) faziam a diferença. Nunca se sentiram desconfortáveis com o regime disciplinar existente? MTS – Por vezes sim, por outro lado percebíamos que era uma instituição militar onde a disciplina era a regra. MG – Claro que sim… não se podia dia usar determinada roupa, o saber comportar-se à mesa, o saber estar eram regras de ouro. Para mim, como viA Monitora Cecília nha de um colégio semi-interno e de padres, estava convencida que seria mais fácil, e foi sem dúvida, mas tive de aprender muito. Mas foi muito positivo e gratificante o que aprendi. CLP – Na minha opinião as regras de disciplina são sempre difíceis de impor LAÇOS Número 3/12 – junho-setembro 2012

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À CONVERSA COM...

às crianças. Para mim não existe nenhuma que sobressaia em relação às outras. MJR – Sim. Os horários eram muito rígidos e, mesmo não havendo alunas, trabalhávamos no dia e na noite de Natal ou noutros feriados em que seria suposto estarmos com a nossa família; por vezes fazíamos três turnos consecutivos de colónia de férias, 24h sobre Maria Gertrudes, nos seus tempos de monitora

24h durante 2 meses; não era permitido usar calças por ser “anti feminino”… No caso de ter alguma vez aplicado um “castigo injusto”, pediram desculpa à aluna ou alunas? MTS – Não posso falar por todas as vigilantes, no meu caso penso que nunca tenha aplicado algum “castigo injusto”. Isso cabe às alunas responderem se fui alguma vez “injusta” com elas. MG – Mesmo sendo justo, sempre tive ou procurei fazê-lo, por vezes eram as alunas que ficavam mais renitentes ao diálogo depois do castigo. Perfeitamente compreensível. CLP – Durante o meu tempo de serviço na instituição, nunca me senti desconfortável com o regime disciplinar existente, é obvio que apesar de muitas 50

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vezes as crianças ou as adolescentes não entenderem, um colégio tem de cumprir as regras, para poder funcionar nas melhores condições. Na sua maioria, os "castigos" são aplicados pelo Conselho Disciplinar. Nunca apliquei nenhum pequeno "castigo" que considerasse injusto, mas se tal acontecesse seria a primeira a contactar a aluna, para me desculpar e dialogar com a mesma. MJR – A nossa autonomia para “castigar” uma aluna era limitada abrangendo apenas as faltas menores e, os castigos resumiam-se a pequenas tarefas como limpar talheres na copa, dobrar meias na rouparia, alinhar as camas da camarata... Às faltas mais graves, competia à direcção a responsabilidade de aplicar o castigo que, na maioria dos casos, era a privação de saída para fim-de-semana. Penso não ter aplicado algum castigo injusto às alunas. Caso tenham tido filhas, escolheram ou ponderaram escolher o Colégio para as "educar"? A vossa experiência na função pesou numa eventual decisão? MTS – Pessoalmente, só vejo os colégios internos como solução quando não seja possível aos Pais ter os filhos em colégios de regime sem ser internato. No entanto no Instituto justificava-se, principalmente na altura em que lá estive, com o facto dos Pais estarem destacados no antigo ultramar. MG – Os meus filhos por vontade deles e não minha, quiseram frequentar um EME. O meu filho fez todo o seu percurso no Colégio Militar e adorou…Eu chorei oito anos… A minha filha foi aluna do Instituto três anos, saiu e…não voltou lá mais.


À CONVERSA COM...

muito positiva. As alunas deixaram-me Creio que o que os influenciou foi o consempre uma boa lembrança e ainda as vívio e frequência com que os levava corecordo com amizade. migo nas férias e claro o acompanharem MG – A mim, o que mais me marcou foi durante anos as minhas aventuras…em sem dúvida a indisciplina dos últimos casa, sempre havia episódios para conanos em que trabalhei no IO, e duas tar, coisas “incontidas” que trazia para alunas terem sido expulsas casa, partilhas vividas, indevidamente, com a eram já outros tempos… agravante de serem do 1º CLP – Não tive filhos, no ano. Nunca as esquecerei. entanto se tivesse uma A minha vivência no Instifilha e esta quisesse, era tuto foi muito gratificante com muito gosto que a com as alunas mas muito apoiaria, pois considero dolorosa com os adultos. que esta instituição tem, MJR – A transição da Maao longo dos anos, dado ria João/aluna para a Maprovas de que tem preparia João/monitora foi um rado alunas e dado formaMaria João Raminhas pouco complicada pois, ção para que consigam resentre uma e outra apenas ponder mais facilmente ás havia um espaço de tempo correspondificuldades da vida adulta. dente às férias de verão entre dois anos MJR – Não tenho filhas mas, se tivesletivos. Foi-me difícil começar a tratar se, não hesitaria um segundo em as as minhas ex-colegas alunas, algumas matricular no colégio, não pelo meu mais velhas do que eu, “por você” e exercício nesta função de monitora soava muito estranho o “Senhora Dona” mas sim, por tudo o que aprendi, pelo antes do meu nome. Foram várias as ensino de excelência, os valores que me ocasiões relacionadas com esta situaforam transmitidos e pelo espirito de ção que me custaram algumas idas ao camaradagem na marcante e fantástigabinete da direção para uns “puxões ca experiência que eu vivi como aluna de orelhas”. nesta instituição. Se entenderem, podem acrescentar alguma coisa que ou dar um pequeno testemunho de alguma situação que vos tenha marcado particularmente. MTS – Como facto de relevo posso dizer que foi uma experiência que considero

Sei que estes depoimentos serão lidos com muito interesse pelas antigas e atuais alunas do IO e fazem-nos compreender melhor os testemunhos mais ou menos exacerbados, mais ou menos amargurados que algumas escolhem partilhar com todas nós.

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À CONVERSA COM...

I s abel Salaviz a Mans o – AA Nº 2 9 7 / 1 9 6 3

O império do desamor

U

ma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa. LaPalisse não diria melhor. Quero com isto dizer que falar sobre o Instituto de Odivelas (enquanto instituição) é completamente diferente de falar sobre as PESSOAS (alunas/colegas) que, como eu, frequentaram o Instituto.

Não se pode comparar a sensação da ferroada da abelha com o sabor do mel que a abelha produz. Este texto é sobre a ferroada da abelha, o acre sabor do fel, o desconforto continuado de (sub)viver dos 10 aos 15 anos no Instituto de Odivelas. Este texto é quase um não-texto, como a vida em Odivelas era quase uma não-vida Este texto poderia ser um quadro de pinceladas sem tinta, sobre uma tela sem cor. Um grito sem voz, uma cara sem rosto, um esgar de dor. Não há palavras que descrevam o Império o desamor. É certo que o Ensino era exemplar. Até havia Música, Higiene, Culinária, Puericultura. O asseio era inquestionável. O conforto, indiscutível. Alimentação e assistência médica – tudo topo de gama. Mas tudo isto não chega para educar e acarinhar crianças e estruturar os futuros adultos que viríamos a ser. Os tópicos referidos são componentes importantes do projecto de educação e formação de um ser. Faltava o resto! O que não era tangível, o que tem a ver com as sensações, com o espírito, com a mente. O resto era preenchido por fantasmas, silêncios, orações, fingimentos e dissimulações. O culto do “parecer” e não do “ser” embrulhado em sorrisos de plástico. O papão do pecado, o peso da culpa. A instituição caldeava todos os ingredientes potenciadores de criaturas assexuadas e emocionalmente mutiladas. Porém, sobrevivemos sãs ao Império do desamor! Somos oásis no deserto, somos a flor que nasceu do cacto. A Natureza tem destas coisas. Mas, falar de nós, PESSOAS, não cabe neste texto. Não se misture o mel com a ferroada. Uma coisa é uma coisa… e outra coisa é outra coisa.

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À CONVERSA COM...

A

A n a El i a s – AA Nº 216/ 1982

Âncoras os 10 anos, quando se fica longe dos pais e de tudo quanto nos é familiar, é quase instintivo que se procurem âncoras de compensação emocional. É humano. Quando os meus pais me foram levar ao colégio pela primeira vez, achei tudo enorme, gigante e as senhoras que nos recebiam à entrada pareciam-me quase todas, idosas, rigorosas, altíssimas, de cabelo armado, roupa aprumada, colarinhos fechados, sapatos engraxados e nariz empinado.

Cheguei à camarata para mudar de roupa e estava lá uma monitora para nos receber. Vamos chamar-lhe Dona Girassol. Não lhe vislumbrei desaprumo, nem cabelo desalinhado, nem sapatos descuidados, nem falta de rigor, mas topei logo nos olhos dela um elemento novo que não se enquadrava no resto: doçura e uma vontade escondida de nos apertar nos braços e dar beijos repenicados nas bochechas. Gostei dela. Havia também por ali a pairar no ar um pezinho maroto, que volta e meia lhe fugia para a brincadeira, como se quisesse e não pudesse alinhar connosco.

... era capaz de ralhar com carinho como fazem as avós ...

Na minha cabeça, naquele tempo, as monitoras não tinham idade, nem vida pessoal e também, obviamente, não tinham tido infância. Dona Girassol tinha tido claramente uma infância algures, e tinha feito o favor a si própria de não se desligar dela completamente, por mais que, eventualmente, às vezes, até se esforçasse. Como se tentasse teimosamente corresponder ao que lhe era exigido. Dona Girassol sabia ainda fazer outra coisa, às vezes, que era dar gargalhadas sonoras. Ainda hoje as consigo ouvir. E, para além disso, era capaz de ralhar com carinho como fazem as avós e, embora eu não lhe conhecesse a idade, ela não tinha nem de perto nem de longe, idade para ser avó. Passado pouco tempo de entrar no colégio, ainda mal conhecia as outras meninas, aconteceu-me o drama, o horror e a tragédia: Fiz xixi na cama. LAÇOS Número 3/12 – junho-setembro 2012

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À CONVERSA COM...

Aflita e envergonhada a meio da noite às escuras, escondi o pijama molhado na mesa-de-cabeceira e, passei o resto da madrugada apavorada com a chacota que me esperava mal o sol nascesse. No dia seguinte, pela manhã, Dona Girassol andava a verificar uma a uma as mesinhas de cabeceira, a ver se tínhamos o pó bem limpo e a roupa interior alinhada. Abre a minha e, encontra lá o pijama ensopado. Tenho a certeza que corei, desconfio que fiz beicinho. Mas Dona Girassol não comentou nada. Esboçou um sorriso meigo, agarrou-me na mão e disse baixinho: “Vá pôr este pijama para lavar e passe depois na rouparia para ir buscar outro. Diga que fui eu que mandei.” Nesse dia à noite, enfiou-me num saco de riscado e atravessou comigo a camarata pelo chão. Foi uma grande animação antes de adormecermos. Ria eu, ria ela e riam as minhas colegas. Não era usual que as monitoras brincassem connosco. E era precisamente isso que nos divertia: a ternura e cumplicidade do momento, até mais que a brincadeira em si. Pensávamos também que, provavelmente, se outras monitoras entrassem na camarata naquele momento, iam reprovar o comportamento da Dona Girassol. A Dona Girassol era corajosa.

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Quando não nos comportávamos devidamente, ela revirava os olhos, numa impaciência fingida e exclamava: “Ai! Valha-me Nossa Senhora de Agrela, que não há Santa como ela!” E depois sorria. Agrela, sei hoje, é uma freguesia de Santo Tirso. Dona Girassol era alentejana mas, toda a gente sabe que a fé não é bairrista. Chegou a bela da adolescência e à medida que as maminhas me iam crescendo, a minha tendência para o desafio, para a parvoíce e para a rebelião iam crescendo. Nessa altura afastei-me da Dona Girassol, como os filhos se afastam dos pais. Ela era uma monitora, estava do lado do poder… e eu estava do outro. Só que ao contrário do que acontecia com as outras monitoras, de quem os ralhetes me eram, ora indiferentes, ora naturalmente estúpidos, quando Dona Girassol me apanhava em falso, eu fazia o meu papel de adolescente desafiadora e antissistema mas, cá dentro, no íntimo, tinha pavor de a desiludir. Aquele pavor que temos de desiludir aqueles de quem gostamos. Porque as minhas âncoras emocionais no colégio eram, sem dúvida as minhas colegas… e também a Dona Girassol.


Ces alt ina do N as cim en to Si l v a – AA Nº 229/ 1939

A importância do número

á nem damos por isso, mas a “aldeia global” em que vivemos desde o século passado reduziu o Homem a simples número. Cada uma de nós não é mais do que uma gota anónima neste mar imenso de números. Somos o número do bilhete de identidade, o número fiscal, o do cartão de utente, o sócio deste ou daquele clube ou associação... E até se precisarmos de um rotineiro serviço ou informação temos de tirar uma senha numa máquina que nos atribui um número. Seremos atendidos não como as pessoas, que somos mas como números. E até são os números que nos protegem: o código, o pin, o puk, ... Tudo nos faz esquecer quem somos, isto é, pessoas quero dizer, seres em relação e com significado para os outros. Para cada “menina de Odivelas”, o número é uma coisa muito diferente e importante porque nos integra numa relação com as outras, personaliza-nos, identifica-nos pois fazermos parte de uma família, de um mundo em que estão presentes valores humanos. É verdade que, como estamos O número é importante sempre a ouvir dizer, vivemos porque nos integra um “tempo de crise” e esta é uma crise económica, financeira, numa relação política, cívica, cultural... Não com as outras. podemos deixar de o reconhecer nos factos e acontecimentos que nos são narrados pela informação e nós próprios vivemos: fala-se de desemprego, falência, criminalidade, etc. Mas, como causa desta crise cultural encontramos uma ausência profunda de valores que os últimos eventos quiseram fazer desaparecer. Alguns desses valores humanos são recordados pelas meninas de Odivelas quando cantamos o nosso hino:

DESTAQUE

J

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D E S TA Q U E

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D ESTA Q UE

Assim cantaram no século passado, as primeiras alunas do IFET este hino da autoria do Coronel Frederico Ferreira Simas, e assim cantam as alunas do IO neste início do século XXI.

mos no “14 de janeiro”. É com alegria e entusiasmo que as actuais perguntam às antigas alunas: “Que número tinha”? E as antigas: “Quem é agora a número tal?” Que alegria quando uma antiga aluna encontra a jovem que é parte de uma cadeia formada por uma série de elos que são pessoas concretas que sabem o que é a “verdade”, o “ideal”, a “crença”, o “trabalho”, a “liberdade”, a “virtude”.

Somos vozes a lembrar a todos que há valores essenciais à pessoa humana. Elas são a chave da felicidade que todos nós buscamos. E nós, meninas de Odivelas, somos felizes quando nos encontra-

Aprendemos a conhecer estes valores, cantando e vivendo e por isso somos uma família espalhada pelos quatro cantos da terra que tem por lema “Ser amiga é ser irmã”.

“É o nosso ideal, a verdade, A verdade é a crença mais bela. O trabalho é para nós liberdade, A virtude a melhor sentinela.”

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Maria de Jes u s Ca dete A l mei da da Ma ta

Viver com esclerose múltipla Uma história na 1ª pessoa

“2

8 de Outubro de 2003 Foi estranhíssimo o que me aconteceu hoje na aula de português. Eram sensivelmente quatro e meia da tarde quando a língua se me começou a enrolar na boca, impedindo-me a articulação das palavras.

Os alunos ficaram a olhar para mim. Pedi-lhes um tempo. Sentei-me, pesadamente, na cadeira da secretária, tirei os óculos e fiquei à espera que os sintomas cessassem. Entretanto, pela minha cabeça passaram vários cenários, mas o mais forte era que deveria estar a acontecer alguma coisa no meu cérebro, tipo um AVC.

“…o mais feliz dos felizes é aquele que faz os outros felizes”.

Nem sei se fiquei assustada. Acho que fiquei, sobretudo, surpreendida. Transcorrido um bocado, nem sei quanto tempo, lá retomei o que me encontrava a dizer e a fazer. Tocava às cinco e um quarto, por isso já faltava pouco para terminar a aula. Quando a campainha soou, os alunos arrumaram os seus materiais e foram-se embora. Eu tinha uma reunião de Departamento, às cinco e meia, de maneira que aproveitei para, com calma, guardar as minhas coisas e, Nota: A autora escreve segundo a antiga ortografia

IDEIAS SOLTAS

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I D E I A S S O LTA S

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tranquilamente, dirigi-me ao outro bloco onde iria decorrer a reunião e onde se encontravam os meus outros colegas.

ao início “oficial” desta doença, sendo que a personagem principal que nele surge tem por base a minha experiência pessoal de portadora da patologia.

No caminho, encontrei o Telmo. Contei-lhe, meio divertida, meio incrédula, o que se passara. Mostrou-se preocupado, chamou a Beatriz e pediu-lhe para ir buscar o aparelho de medir a tensão.

A autora

Ela assim fez, mas estava tudo normal. Não pensámos mais no assunto e fomos para a reunião que durou até cerca das oito da noite. Apresentei um trabalho que tinha preparado e que foi aceite pelos colegas. Fartei-me de falar e nunca mais me aconteceu nada de semelhante ao que tinha sucedido de tarde.” E assim começa um dos relatos que ando a escrever e que se intitula “Quase diário de uma Esclerose Múltipla”. Quantas páginas vai ter ou quando o vou acabar são perguntas para as quais, no momento, não tenho resposta, mas estas linhas que partilho correspondem 58

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E o que se passou depois, foi que, no dia seguinte e nos que vieram a seguir a esse, as dificuldades em falar foram cada vez mais perturbantes e severas. Parecia que tinha a boca cheíssima e, por conseguinte, pronunciar fosse o que fosse, tornava-se uma tarefa impossível, não só para mim que a tentava realizar, como para todos os que me estavam a ouvir. E convenhamos que para uma professora de línguas que tem na boa dicção uma das suas plataformas de trabalho, por excelência, a coisa não estava a funcionar! Meti atestado e consultei vários médicos. Porém, os sintomas mantinham-se e agravavam-se, de dia para dia: dificuldades de preensão, escrita muito irregular, enjoos quando viajava de carro (algo que nunca me tinha acontecido), formigueiros que me apanhavam os membros inferiores e que iam até aos pés, para além de uma fadiga incontrolável e que me obrigava, frequentemente, a sentar-me, inclinar a cabeça para trás e fechar os olhos. Entretanto, houve alguém que me falou de uma neurologista e que me sugeriu uma ida à sua consulta. Por que não?! E foi o que me valeu, porque esta médica, enquanto não descobriu o que se passava comigo, não descansou.


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Ouviu-me, examinou-me de alto a baixo, fez-me imensas perguntas e pediu-me para realizar uma R.M., para ela um exame fundamental para determinar se as suspeitas que tivera se concretizavam. E o resultado chegou: esclerose múltipla. Como queria ter absoluta certeza do mesmo ainda me submeteu a outros estudos. Não havia volta a dar: era mesmo esclerose múltipla. O mistério estava solucionado, se bem que eu pouco soubesse sobre a doença. Procurei, então, informar-me e percebi que se tratava de uma patologia do foro neurológico, de causas desconhecidas, que atacava a bainha de mielina que protege as fibras nervosas existentes no nosso cérebro e que permitem que as informações referentes a tudo o que realizamos se possam efectuar. Por outras palavras, as capacidades que temos de falar, cheirar, ouvir, mexer um braço ou um pé, andar, suster a urina e as fezes e muitas, muitas outras, estavam comprometidas, porque os tais feixes nervosos que as transportam tinham a “cobertura” danificada. Mais ou menos podem estes órgãos comparar-se aos fios eléctricos que todos conhecemos e que permitem ligar uma torradeira, uma aparelhagem, uma televisão ou um ferro de engomar à corrente. Para não darem choque e para estarem preservados estão cobertos por uma substância isolante. Na esclerose múltipla, digamos que é esta camada que recobre as vias nervosas que se deteriora, fruto de uma “incompreensão” do próprio organismo

que a destrói, pensando tratar-se de algo que lhe é pernicioso. Por este motivo é que se diz que a esclerose múltipla é uma doença auto-imune. Até agora não existe ainda cura para a esclerose múltipla, nem se sabe por que é que o organismo fica baralhado e se começa a atacar a si próprio. O que já se descobriu foram alguns medicamentos, injectáveis na sua grande maioria, que conseguem controlar, espaçar no tempo, diminuir, estas situa ções críticas, que se chamam interferões, para além de corticosteróides que, em geral, são aplicados, via intravenosa, em fases agudas, isto é, quando têm lugar os surtos. Claro que todos os doentes anseiam por uma terapêutica menos agressiva e cada vez mais eficaz! O ideal será quando, em vez das injecções, se puder recorrer a um simples comprimido… e pronto! Mas há que pensar que não é assim tão simples.

Exposição itinerante dos 25 anos SPEM, no Serra Shopping, Covilhã

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Com efeito, este tratamento oral até já existe, mas ainda tem de ser mais testado, para que os portadores de esclerose múltipla não venham a correr riscos maiores do que aqueles que já têm. No entanto, os estudos frequentes que se fazem neste campo, quer a nível neurológico, quer em termos psicológicos, cognitivos e comportamentais permite-nos olhar em frente, com ânimo acrescido. E o fundamental, mesmo, é a forma como se encara a doença! Há quem se revolte profundamente: “porquê eu?” Há quem a negue, recusando-se a falar dela ou a conviver com outras pessoas igualmente portadoras, como se o facto de não se mencionar o assunto ou de se fugir dele tivesse o condão de o afastar. Engano puro! Compreendo esta fase, se bem que não tenha passado por ela. Decidi que não me ia pôr a chorar sobre “o leite derramado”. Como em tudo na vida, “ver o copo meio cheio ou meio vazio” vai sempre depender da perspectiva com que encaramos aquilo que nos surge. Na realidade, como todos os que possuem a doença, tive de abdicar de diversas coisas que deixei de conseguir fazer, mas descobri muitas outras que nunca teria descoberto se não fosse ela. Comecei a ter tempo para poder fazer coisas que até ali me estavam vedadas, 60

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precisamente por falta dele: ler, despreocupadamente, sem pensar que deveria estar a utilizá-lo noutras ocupações, conhecer contextos que ainda não tinha tido a possibilidade de apreciar, ouvir amigos e família, sobretudo alguns mais velhos e sós que têm no telefone a sua principal ligação ao mundo, descobrir capacidades que nem fazia ideia que tinha, como a aptidão para alguns trabalhos manuais, tentar fazer coisas que sempre foram relegadas para segundo plano, por não serem consideradas essenciais. E para além de tudo isto aprendi a ter sempre presente o espírito de partilha! Passei a fazer parte de uma associação, o NBI-SPEM, que é uma delegação da Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla, situada na Beira Interior, região onde moro. O nosso lema é que “o mais feliz dos felizes é aquele que faz os outros felizes”. Ser portador de esclerose múltipla, para mim, não é, por conseguinte uma condenação, mas mais uma oportunidade para, à minha medida e dentro das capacidades que estão ao meu alcance, poder ser determinante na construção de um mundo melhor. Como alguém disse, o futuro será aquilo que fizermos do presente; por isso apostar, hoje, na esperança, no optimismo, na descontracção é construir um amanhã devidamente alicerçado na alegria e na boa-disposição. Sobre o tema: http://www.spem.org/quem-somos https://www.facebook.com/#!/SPEM.NBI


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M. Margarida Perei ra -Mü l l er – AA Nº 244/ 1967

Música rock para todas as idades e “Coimbra tem mais encanto na hora da despedida”, Lisboa tem decididamente mais encanto no verão com a sua grande oferta musical para todos os gostos, para velhos e novos. De dois em dois anos, é a vez do Rock in Rio tomar conta da cidade levando centenas de milhar de pessoas a rumar qual procissão para Chelas, para o Parque da Bela Vista onde decorreu o Rock in Rio 2012 – no total, 353 mil pessoas passaram pelo Rock in Rio.

Mas o Rock in Rio é mais do que ir ver esta ou aquela banda a tocar. É viver toda uma atmosfera diferente. Para muitos, é beber MUITA cerveja, apesar dos altos preços. Crise? Qual crise? Há crise por aí? Não deve haver, ou então temos que ver que um festival de música e de happenings serve para esquecer a dita crise. Com bilhetes a  61 por dia ficamos admirados com a adesão maciça dos jovens. Perguntamos onde têm o dinheiro, como conseguem investir não só num bilhete como na alimentação e nos produtos oficiais. Por outro lado, ficamos satisfeitos ao ver que o esforço Durante o Verão, da organização deu frutos e o público aderiu bem. Lisboa anima-se No 1º fim de semana, dedicado às sonoridades mais pesadas (no 1º dia, destacou-se o concerto com muita música dos Metallica), 125 mil pessoas, uma legião de fãs de todas as idades, marcaram presença nos cerca de 200 mil metros quadrados da Cidade do Rock. Tal como nas edições anteriores, as filas para os sofás encarnados insufláveis da Vodaphone eram enormes, tal como as filas para os Multibancos. Os cabelos espetados cor de rosa do Millenium e os gigantescos óculos de sol cor de rosa davam nas vistas apesar de tão profusamente espalhados. Menos vistosas eram as mochilas verdes da Heineken. Na casinha da Control, os preservativos eram recebidos com grande agrado por todos que por lá passavam – com a cerveja a correr com tanta velocidade bem precisos seriam. A Control estava estrategicamente bem situada, mesmo ao lado da Toyota que chama o público para um jogo interessante: quem vai para dentro do carro e beija recebe uma t-shirt, mas quem só conversa só recebe um pin…. É que depois da conversa e do beijo, um preservativo poderá fazer falta…

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@ SEBASTIAN P.-MÜLLER

Se o 1º fim de semana do Rock in Rio foi para a chamada “música da pesada”, o 2ª aligeirou, puxou mais para o romantismo e levou de novo várias dezenas de milhar de pessoas de todas as idades ao Parque da Bela Vista em Lisboa.

Aí começava a Rock Street, uma rua cenográfica que os organizadores diziam inspirada em Nova Orleães (EUA) mas que a nós nos lembrou as ruas vitorianas de São Francisco. Mas não interessa onde se foram inspirar. Interessa sim saber que era uma rua da Cidade do Rock onde havia muita animação de rua: malabaristas, homens-estátua, cartomantes e caricaturistas. À porta da barraquinha do Melhor Bolo de Chocolate do Mundo – pode ser muito bom, mas quem quiser, que acredite que é o melhor – duas estátuas de “chocolate”: um homem e uma mulher, todos cobertos de “chocolate” e com look à moda dos anos 40 interagiam com o público nos momentos de descontração. Além das animações existiam nesta rua vários restaurantes e lojas, entre elas, um cabeleireiro (!) – quem vai ao Rock in Rio para ir ao cabeleireiro? –, onde se podia adquirir um verdadeiro “look Rock in Rio”.

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Na 6ª feira, o parque encheu-se de brasileiros para ouvir Ivete Sangalo. A brasileira manteve a garra e o dinamismo de outras atuações e foi ao encontro do seu público, essencialmente feminino. As mulheres pulavam – “Lisboa, vamos tirar os pés do chão!” –, cantavam, dançavam. Os homens, maridos, namorados, amigos, tinham ido ao concerto por amor mas mostravam-se muito indiferentes. O telemóvel interessava-lhes mais do que a animação bem mexida. Ivete Sangalo abriu o espetáculo com Brasileiro, mas cantou muitos dos seus êxitos como Acelera Aê, Pra Falar de Você, Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar) e Arerê, antes de fechar com o País Tropical, de Jorge Ben Jor. O público feminino continuou porém bem mimado. Nessa noite atuaram ainda Maroon 5 e Lenny Kravitz. Adam Levine com a sua voz aguda levou ao rubro as mulheres que estavam no Rock in Rio, especialmente quando dedicou a sua canção "a todas as mulheres", terminado com uma chave de ouro, She Will Be Loved. O Rock in Rio 2012 fechou sem dúvida com a chave de ouro. Em 2014 há mais.


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N a t á l i a H a s s e Fe r n a n d e s – A n t i g a Pr o f e s s o r a d o I O

Ouvir para integrar oi-me perguntado em 2002, era eu voluntária da AMI no Centro Porta Amiga das Olaias desde 1996, se poderia dar algum apoio a dois filhos de um casal russo que viriam frequentar a escola em Portugal. Aceitei dar alguma ajuda na integração na cultura e sociedade portuguesas.

Encontrei-me primeiro com a Ludmila (17 anos) e daí a um mês também com o Sergey, o irmão de 14 anos. Dos museus, jardim zoológico, oceanário, etc., passámos a lições de Português em minha casa, frequentes, longas aulas com lanche e conversa pelo meio. Frequentaram também os cursos pós-laborais de Língua Portuguesa do Estado, mas eram insuficientes para a sua situação escolar – ele no 9º ano e ela no 12º. Não sabia ainda a Ludmila um mínimo de vocabulário e gramática para construir duas frases completas e correctas em português e viu-se confrontada na escola com aulas e fichas completas sobre Fernando Pessoa e seus heterónimos… O que foram seis anos e meio da minha relação com a família Zaitsev, muito em especial com a Ludmila e o Sergey, não pode caber no formato de um blogue. Levaria horas ou dias o relato. Não foi fácil gerir os afectos, a supremacia parental, o funcionamento das estruturas escolares portuguesas, a liberdade individual, o desejo de não-dependência e a necessidade de ajuda, etc… Dei a estes adolescentes que, do outro extremo da Europa vieram até aqui, todas as formas de ajuda escolar e extra-escolar que me pareceu ser possível dar e tenho vivido com eles variadíssimos episódios das suas jovens vidas, na medida em que nos quiseram transmitir. Tenho também recebido da família vários sinais de atenção e gentileza. Estes anos têm sido, pelo menos para mim, uma experiência muito, muito intensa, muito marcante e muito bonita (também às vezes muito cansativa). Eles revelaram-me um mundo diferente nalguns aspectos. Aprendi com eles muitas coisas, curiosamente até sobre Lisboa. Tentei confirmá-los nos sólidos valores cívicos e éticos que traziam. Surpreendi-me com o respeito quase religioso que, no início, tinham pelo pão (“é o trabalho dos nossos pais”) e também o respeito pelos livros e pela escola. Eram bonitos, bem-educados e bem formados. Tinham um desenvolvido espírito prático e enorme capacidade de improvisação. Admirei a sua habilidade manual, os seus hábitos de disciplina, a sua adaptabilidade ao diferente, o seu precoce sentido Por decisão pessoal, a autora não escreve segundo a Norma Ortográfica da Língua Portuguesa. LAÇOS Número 3/12 – junho-setembro 2012

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da medida, o seu à vontade, natural e discreto, em qualquer ambiente social, e apreciei sobretudo a sua qualidade humana. Vi como é possível estar, em situação de desvantagem linguística, económica, habitacional, social, etc., de fronte erguida e com toda a dignidade. Não se mostravam deslumbrados com coisa alguma nem penalizados pelo local e casa onde viviam, nem pelo dinheiro que não tinham. Parecia-me no entanto que tinham demasiada contenção na expressão dos seus sentimentos. Tinham sido educados assim. Mais tarde vim a constatar, na prática, como essa contenção ocultava uma muito delicada e muito profunda sensibilidade. Dei-lhes lições em algumas disciplinas (que tive de estudar ou re-estudar) e arranjei-lhes algumas explicações para disciplinas para as quais eu não estava minimamente preparada (fora apenas professora de Inglês e Alemão). O pai Zaitsev, engenheiro, conseguiu um lugar numa empresa. Não é um lugar nem um ordenado de engenheiro, mas tem sido estável e trabalha com máquinas, o que lhe agrada muitíssimo. A mãe, que tem o que suponho ser um curso superior médio de economista, só encontrou trabalho doméstico de limpezas. Agora comprou uma máquina de costura e, além do trabalho fora de casa e da cozinha e da lida doméstica, faz também trabalhos de costura. Levanta-se à cinco e meia da manhã. Teve uma vida dificílima na Rússia com muito trabalho, mas sempre um sorriso que a todos anima. Os pais costumam ir à sua terra no Verão no seu mês de férias, como os nossos emigrantes vêm a Portugal.

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E agora estamos em Maio de 2009. A vida, portuguesa ou russa não é fácil, nem simples nem linear. Tem havido alegrias e preocupações. Muitas coisas mudaram e outras estão a mudar. A Ludmila e o Sergey frequentam o Ensino Superior, mas ela teve uma depressão e precisou de suspender os estudos por um ano. Está, felizmente, muito melhor e retomou os estudos, mas tem agora, além das cadeiras deste ano, cadeiras atrasadas do ano em que adoeceu. Ao Sergey não correram bem os exames do primeiro semestre, sente a cabeça cansada e vai procurar ajuda médica. A residência universitária em que está alojado este ano tem sido um proveitoso e agradável elemento integrador. Não vem a Lisboa todas as semanas. A Ludmila, além da universidade, tem, suponho, um possível namoro e, porque desde há anos decidiu não sobrecarregar financeiramente os pais, tem também um part-time. Estão ambos muito ocupados e não sei se alguma vez voltarão a ter lições comigo (bem precisariam de lições de Inglês). Mantemos no entanto contacto. E sabem que podem sempre contar com a minha grande amizade. Estou preocupada com a saúde e com o estudo de ambos. Esperemos que tudo melhore brevemente. E o que quero sobretudo dizer é isto – não se trata aqui de voluntariado. A Ludmila e o Sergey são para mim como “afilhados do coração”. São vida enxertada na minha vida. Nota: com excepção do meu nome, que é o verdadeiro, os nomes acima referidos são fictícios. Achei que estas pessoas têm direito à sua total privacidade.


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A

Isabel Vidal – Editora de beleza da revista ACTIVA

Como parecer 10 anos mais nova s mulheres não se medem aos palmos, aos quilos e muito menos pelos números inscritos no bilhete de identidade. Mas se pudermos parecer tão jovens como nos sentimos, melhor! Estes truques são simples mas funcionam: experimente.

Faça franja Dá um ar juvenil ao rosto e esconde as rugas da testa. Não a corte muito curta nem muito reta: um pouco desfiada e a bater nas sobrancelhas é ideal. Use-a para a frente ou para o lado, como se enquadrar melhor no seu penteado. Branqueie os dentes Dentes amarelados pelo tabaco, chá, café ou simplesmente pela idade, dão uma aparência envelhecida. Faça um branqueamento no dentista e depois mantenha com um dentífrico branqueador. Use um perfume fresco É verdade que não duram tanto ao longo do dia mas são tão mais juvenis! E para compensar a pouca duração é muito simples: leve-o consigo e reaplique ao fim da manhã e da tarde, como um pshit de energia. Despenteie-se Um cabelo jovem tem movimento e essa ilusão que deve dar ao seu. Quer o arranje em casa ou no cabeleireiro passe-lhe os dedos em cima e dos lados quando acabar de se pentear, ou dê-lhe uma reviravolta com um sopro do secador. Se usa o cabelo apanhado solte duas ou três madeixas dos lados do rosto. Mantenha-se hidratada Tanto por dentro como por fora. Aplique diariamente creme no rosto e no corpo, nem que seja um simples hidratante, para dar à pele uma aparência mais lisa, uma textura mais uniforme e um toque aveludado. E beba bastante água (pelo menos um litro por dia) para manter o organismo a funcionar a um ritmo jovem. Faça umas nuances mais claras Algo subtil, apenas um ou dois tons mais claras do que o seu cabelo. O rosto ganha imediatamente mais luz. Mas evite as madeixas muito marcadas em louro LAÇOS Número 3/12 – junho-setembro 2012

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esbranquiçado: o resultado é artificial (o que envelhece) e com o tempo as madeixas vão oxidando e começam a parecer cabelos brancos. Corte as unhas Unhas muito compridas dão um ar de ‘senhora crescida’... e mais velha. Se as usar curtas e ovaladas, as suas mãos ficarão com um ar mais juvenil. Em relação à cor, não tenha medo dos tons vivos, que mostram que está na moda (e criam uma boa manobra de diversão quando as mãos começam a ter manchas castanhas), evite os tons escuros que dão um ar carregado e fuja do branco ou rosa pérola: com a idade as unhas vão ficando menos lisas e o verniz nacarado torna as estrias mais visíveis. Se usa unhas de gel peça-as o mais finas possível: a idade engrossa-as naturalmente e não convém acentuar isso ainda mais. Mexa-se O médico americano Michael Roizen, co-autor, com o célebre e televisivo Dr. Oz, da série de livros ‘You’, garante que a partir dos 50 anos 50% do processo de envelhecimento é ditado pelo estilo de vida que se tem. E o exercício físico consistente e diário (mesmo que seja só uma boa caminhada) é uma verdadeira fonte de juventude. Uma silhueta esbelta e flexível, apoiada por uma boa massa muscular, não só é excelente para a sua saúde como lhe permite vestir-se de uma forma mais jovem. Corrija a sua postura Sim, as adolescentes andam meio curvadas e não parecem mais velhas por isso, mas a partir de uma certa idade uma boa postura tira-nos literalmente 66

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anos de cima. O truque: encolha a barriga, contraia as nádegas, baixe os ombros, mantenha o queixo levantado e imagine que tem um fio a sair-lhe pelo alto da cabeça a puxá-la para cima. A princípio tem de fazer isto conscientemente mas a certa altura vai conseguir fazê-lo sem pensar nisso. E vale mesmo a pena. Bónus: também vai parecer instantaneamente mais esbelta. Mantenha-se curiosa Quando aprendemos uma coisa nova ou fazemos algo de forma diferente do habitual (nem que seja mudar o risco do cabelo para o outro lado ou lavar os dentes com a outra mão) abrimos novos caminhos no cérebro, que ajudam a manter-nos jovens de corpo e espírito. Rodeie-se de pessoas com um terço da sua idade, viaje nem que seja até Cacilhas ou pela internet. Aplique extensões Elas não servem só para aumentar o comprimento do cabelo das famosas, são perfeitas também para reencontrar o volume e a densidade capilar que a idade lhe roubou. Uma ou duas dezenas de extensões aplicadas onde é necessário bastam para fazer uma enorme diferença. Não use tudo a condizer A juventude é, por definição, impulsiva e espontânea, por isso evite tudo o que pareça demasiado pensado e planeado. Evite o batom da cor exata do verniz (embora possa ser na mesma família de tons), os sapatos a fazer conjunto com a mala, os brincos da mesma ‘parure’ do colar. Uma nota dissonante dá uma imagem menos senhoril sem comprometer a elegância.


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V

Maria Noémia de Melo Leitão – AA Nº 245/1931

Contrastes ivemos numa época em que ficamos indiferentes aos maiores avanços da tecnologia, por tal forma nos fomos habituando a conviver com a capacidade inteletiva do homem, a sua imaginação, a sua destreza manual. Mas, apesar das maravilhas que o conhecimento científico nos oferece – algumas delas integradas numa tecnologia perfeita que invade o nosso quotidiano – nem por isso deixamos de admirar os avanços alcançados por equipas de cientistas, na busca de conclusões há longo tempo

perspectivadas.

Sabe-se como o cientista é insaciável e como cada descoberta é ponto de partida para outra etapa do conhecimento, gerando-se uma dialética conducente a fins insuspeitados e impreensíveis. Em julho p.p. tocaram as campainhas da comunidade científica, porque havia a possibilidade de se ter encontrado o bosão de Higgs – uma partícula elementar proposta por este físico britânico, em 1964, e indispensável a um conhecimento mais perfeito da Física. Só ao fim destes anos (desde 1964) os meios financeiros aliados a uma tecnologia avançada tornaram possível construir um aparelho complicado e de grandes proporções (o Grande Colisor de Hádrons) capaz de possibilitar que se encontrasse a Não se podem esquecer já citada partícula. No dia 4 de julho, os os valores que devem cientistas ficaram esperançados em que teriam encontrado o dito bosão de Higgs, conduzir à prática do Bem, mas, como disse o próprio cientista, são da Liberdade, da Verdade, precisos mais anos para estudar e repetir da Justiça e da Tolerância experiências. Em ciência não podem afirmar-se como definitivas, conclusões a que se chegou sem que haja, posteriormente, experimentações comprovativas. Outra notícia surpreendente foi a da chegada de um robô a Marte, transportado pela sonda “Curiosity”.

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Maravilhosas imagens mostraram o robô a descer e pousar, suavemente, na terra avermelhada de Marte, enquanto o pára-quedas que permitiu a manobra, se afastava pelo espaço ignoto.

dem e maravilham, num reconhecimento global da capacidade do ser humano. Poderíamos viver no melhor dos mundos porque temos, à nossa disposição, meios imprevisíveis de continuidade do bem-estar que a ciência e a tecnologia nos têm proporcionado. Todavia, quer a ciência, quer a tecnologia, num desenvolvimento imparável que, infelizmente, já se verifica, constituem, na sua dualidade, uma faca de dois gumes. Assim sendo, tanto são portas ao serviço do Bem, como do Mal, tanto servem a Vida como a Morte.

Bosão de Higgs

Em oito meses se realizou esta viagem surpreendente, entre a Terra e Marte. Tudo isto e tantas coisas preparadas, descobertas em laboratórios das mais variadas especificidades nos surpreen-

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Daí que o homem precise de renovar valores que orientem a realização plena da sua conduta, valores que devem conduzi-lo à prática do Bem, da Liberdade, da Verdade, da Justiça e da Tolerância. Só assim os homens e mulheres do nosso tempo se hão-de reencontrar consigo próprios e bendizer a Vida na renovação constante da Esperança.


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N

J oaquina Cadet e P hi l l i mo re – AA Nº 193/ 1960

O Gato das Botas ão é antiga aluna do IO (AAIO), mas corre-lhe nas veias “sangue de Menina de Odivelas” já que é filha (AA 29/1966), neta, bisneta e sobrinha de AAIO.

Carolina Conde Búzio Figueiredo Silva tem 23 anos e depois de se ter licenciado em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, rumou a Berlim para estagiar num estúdio de ilustração e animação e foi uma das cinco ilustradoras selecionadas para ilustrar o conto O Gato das Botas pela editora Csimota. Neste momento, trabalha em Berlim, nos estúdios Bitteschoen.tv, como animadora. Desde quando se começou a interessar pela ilustração? Suponho que o gosto pela ilustração vem desde pequena… é o gosto em ler histórias, deliciar-me a olhar para as ilustrações, ficar horas a desenhar, enfim! Todas estas pequenas coisas se vão juntando até termos maturidade suficiente para perceber que se pode ser a pessoa "por detrás" dos livros e criar os seus próprios mundos para adultos ou crianças desfrutarem. Sei que fez Erasmus em Budapeste. Essa Ilustrar uma história experiência foi determinante para este conhecida sem utilizar trabalho? palavras foi desafiante Sim, sem dúvida. Por um lado, estar submersa numa cultura diferente em que nem sequer a língua nos é familiar pode ser extremamente assustador mas também inspirador. Reparamos em pequenas coisas que se calhar seriam banais caso tivéssemos vivido lá toda a nossa vida… foi um período muito rico nesse sentido. Por outro, se não tivesse ido estudar para uma escola em Budapeste nunca teria tido a oportunidade de participar neste concurso e ser uma das cinco selecionadas! O sistema de ensino é algo diferente e, em Artes, pude verificar que havia um esforço grande para mostrar o trabalho dos alunos, fosse por participações em concursos motivadas pelos professores ou exposições no final do ano abertas ao público. Como descreveria este “seu” Gato das Botas? LAÇOS Número 3/12 – junho-setembro 2012

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Ilustrar uma história conhecida sem utilizar palavras foi desafiante, e no fundo foi essa a premissa que ditou o percurso a tomar. O número de páginas era fixo, o que fez com que passasse muito tempo a tentar condensar da melhor maneira a narrativa nestas imagens… cada uma era crucial e indispensável, não me podia dar ao luxo de criar uma imagem "porque era bonita"! Aliás, o equilíbrio entre o que é extremamente legível e óbvio (como se requer de uma história sem palavras) e a expressão própria ou artística é difícil de conseguir. As ilustrações foram feitas com papel branco recortado e dobrado para criar diferentes texturas e sombras e o ponto de vista é sempre o de um gato. Ou seja, das personagens humanas – o rei, o rapaz, a princesa – vemos… pernas!

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Pondera voltar a Portugal, a breve trecho ou acha que “lá fora” tem mais hipóteses profissionais na sua área? Quais os seus projetos futuros? Custa bastante estar longe da família e dos amigos, mas quando resolvi enveredar pelo campo das artes mentalizei-me: irei para onde for preciso de modo a poder trabalhar nesta área, não pretendo ficar de braços cruzados à espera de oportunidades… além disso aqueles oito meses em que estive a estudar em Budapeste mostraram-me que viver noutro país é uma experiência extremamente interessante e que aconselho vivamente. Para já, estou em Berlim mas, quem sabe, se surgir uma oportunidade noutro país poderei mudar-me outra vez. O plano é ficar por aqui já que tenho trabalho na área da animação (participei agora numa longa-metragem que irá estrear nos cinemas em 2013) que é outra das minhas grandes paixões, mas pretendo continuar a explorar o campo da ilustração. Já tenho alguns projetos pensados, será uma questão de tempo até os realizar! Carolina Búzio, um nome a merecer a nossa atenção, é mais uma jovem por tuguesa que tenta encontrar o seu lugar neste mundo globalizado e a quem a LAÇOS deseja muito sucesso.


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Maria de Lourdes Sant’Anna – AA Nº 278/1936

Paleta de cores vivas

1.

A minha doente O rosto da mulher transmitia uma dureza que as fundas rugas ainda acentuavam mais. Eu olhava-a, tentando penetrar naquela expressão fechada, tão fechada que não nos permitia a entrada numa pequena ponta de simpatia, na dádiva duma palavra, dum gesto… Com o correr dos dias fui compreendendo a demência que a atacava e que não consentia a esperança de um retrocesso. O psiquiatra alemão Alois Alzheimer descreveu em 1906 a principal causa da demência em pessoas com mais de 60 anos e à doença deu o seu nome. Há uma relação entre a prevalência de demência e a escolaridade. Nos indivíduos com oito anos de escolaridade, a prevalência é menor do que nos analfabetos. Daí que se fale no declínio cognitivo que porém, consentindo ser a doença degenerativa atualmente incurável, possui o tratamento que permite melhorar a saúde, retardar o declínio cognitivo, tratar os sintomas, controlar as alterações de comportamento e proporcionar a qualidade de vida ao idoso e sua família. Dizem-me também que cada paciente de Alzheimer sofre a doença de forma única, mas que existem pontos em comum, sendo o sintoma primário mais comum a perda de memória. Fico assim a saber que a “minha” doente pode ... descansada ter fases assintomáticas antes de se desligar da realidade e entrar na confusão mental, na e de consciência plena irritabilidade, na agressividade.

de sem remorsos....

2. O cão amigo do homem Naquela manhã sem sol entrei no salão do cabeleireiro com pouca ou nenhuma vontade, naqueles estados de alma pouco conformes com a realidade do momento. E assim me sentei suspirando pelo fim do “tormento” que me aguardava durante mais de uma hora; e tudo, tudo contribuía para o aumento da tamanha depressão que me envolvia. O porquê? Não sabia. Apenas via nos espelhos uma cara imersa em sombras, amargurada... Foi quando o grande cão Serra da Estrela irrompeu no salão e depois duma pequena paragem veio direito a mim e pondo a cabeça nos meus joelhos, lambeu as minhas mãos.

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3. As aves, quem as entende? Que espécie de arquejos eram aqueles que me chegavam vindos de fora, da manhã serena, cheia de sol? Mas depressa compreendi a razão daquele rumor quando reparei no vaso vazio, sem terra onde esperneava um pequeno pardalito enquanto no telhado fronteiro duas aves piavam e pulavam nas telhas, sem descanso. Depressa meti a mão no vaso e depressa o minúsculo biquito daquele nico de pardalito me picou várias vezes até que o agarrei “fazendo-lhe ver” a maneira agressiva como recebia o seu salvador enquanto a dança frenética das duas aves no telhado fronteiro havia cessado. E assim bem agarrado levei o meu salvado para o outro lado da casa cujas varandas eram protegidas por árvores de grande porte e para lá, com precaução atirei o agressivo passarito, pequena migalhinha de criatura, que ali ficou estático agarrado a um ramo. Quanto a mim, “sacudia” as mãos de contente com a boa ação praticada e prometendo não mais deixar nas varandas vasos sem terra. E assim, descansada e de consciência plena de sem remorsos, continuei as tarefas da manhã. E lembrava a aventura de pouco antes quando reparei que um anafado e gordo pardal passeava nos ferros da varanda para cá e para lá, olhando-nos com insistência nas paragens que fazia. E foi então que compreendi o motivo da “visita”, decerto o pai da migalhinha de criatura com asas mas de poucas penas “que me devia a vida”... 72

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Dizia o poeta “malhas que o império tece...”. Digo eu sem poesia “Laços que a natureza tece...” 4. Os três “irmãos na aldeia” A aldeia encheu-se de espantos, de abrenúncios! Onde já se vira três jovens assim chegados sabe-se lá de onde, com aquelas vestes, de longos cabelos caídos pelas costas, as pernas enfiadas em curtos calções... Mas depressa se soube que eram os meninos da Quinta Grande onde imperava a senhora Marianinha com os seus dois cães. Vinham de longe, de muito longe, de outras terras, de outras gentes, e calavam-se quando eles passavam e depois iam falar com a senhora Marianinha que lhes contava o que queriam. As três alminhas vinham estudar e ficavam a viver no velho casarão cheio de ventos e de frios. Mas a aldeia continuava a murmurar... onde se vira aqueles calções a deixar as pernas das moças ao léu, enquanto os compridos cabelos corriam as costas? E o tempo correu, os destinos cumpriram-se e quando os três irmãos regressaram à velha quinta, ele médico, elas professoras, uma das habitantes da aldeia acercou-se deles e sorrindo contou-lhes, como eram conhecidos das gentes da terra... As meninas, de cabelos louros, compridos, eram os anjinhos, o rapaz com os seus olhos azuis e o cabelo igualmente louro e comprido, esse era o Jesus... 4. Formigas organizadas A dona formiga cumpria a sua tarefa na estrada de saibro cujas pedrinhas


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afastava para a entrada que a levaria para o formigueiro. Eram muitas as operárias que assim abriam o caminho direto às suas dispensas, dormitórios, salas, salões, tudo o que exige a vivência de uma comunidade e ali fiquei a admirá-las debaixo dum sol ardente. Passavam umas pelas outras e as suas antenas tocavam-se num comprimento, na transmissão de uma informação presumo eu, e lá seguiam afadigadas, “Luísa sobe, sobe a calçada, Luísa desce, desce a calçada”... E assim corria o tempo e eu completamente fascinada, tão embevecida que por pura inadvertência pisei uma daquelas obreiras que ali ficou espalmada, em rigidez cadavérica enquanto eu me invetivava, achando-me assassina, sei lá que mais me chamava! E enquanto a

vida intensa continuava o seu curso, sem se apiedar com o meu drama, eu, acocorada, de mãos na cabeça, dizia mal de mim. Porquê, porquê? E mal dizia a minha pouca atenção... Mas eis senão quando uma das formigas que regressava a caminho do formigueiro parou ao pé do “meu cadáver”, rodeou-o, tocou-o com as suas antenas e em grande velocidade entrou no túnel em formação e voltou com outras formigas encaminhando-se para a formiga inanimada. E, impensável, quatro delas agarraram-se às patitas da formiga imóvel puxando-as com força até a outra abanar o corpo uma, duas, três vezes e tranquilamente continuou a tarefa que lhe estava destinada. E ali fiquei eu, “semi-inanimada” sem saber o que pensar daquela maravilhosa civilização!

Salvador Dali As formigas!!

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Tc h ilay – AA Nº 263/1941

1900 – Dezassete meninas

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P O E S I A

POESIA

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F

oi um milagre ou foi lenda Uma promessa a pagar?!... A mando de D Diniz Foi construído um convento É aquilo que se diz. E o mosteiro se levantou Por entre folhas silvestres Na doçura das campinas, Onde rezas e cantares Se ouviam pelas matinas Pedras do nosso Mosteiro! Que privilégio tamanho Essas pedras retalhadas Na obra conventual. Pedras nobres, buriladas, Mais felizes que outras pedras Por esse mundo espalhadas Em terras de Portugal! Pedras do nosso Convento! Quantas almas escutaram… A monja, freira formosa, A santa e a rainha Quando a noite deleitosa Torna a beleza divina. Quantas lágrimas choraram Sobre essas pedras ditosas… Mas um dia é o silêncio Que entristece o rouxinol. Não esvoaçam pombas mansas


PO E SI A

Tudo é saudade, abandono Porque o hábito das monjas Já não toca as brancas lajes, Nem roça de leve as pedras, Tudo envolto em solidão… Tanta beleza perdida Nas pedras que soluçavam Por não encontrarem vida! Porque as freiras de Odivelas, Por todos abandonadas, Tiveram que mendigar… Fechou-se então o mosteiro Quando a última morreu. Nascem flores, morrem flores E já ninguém as contempla. O convento é um asceta Tudo é mais frio desde então, Mais tristes as violetas. E o luar habituado A ver freirinhas rezar, Fica muito admirado Já não vê gente a passar… Até o sol brincalhão Que nasce e envolve tudo

Penetra pelas vidraças, Espia por entre ogivas, Abraça aqui e ali, Trepa as colunas esguias, Ilumina as folhas de hera, Rebrilha, nas arcarias Num fulgor de Primavera, Também ele emudeceu… Mas alguém iluminado Por Deus e seu coração, A casa ressuscitou. Foi o príncipe D. Afonso, Infante de Portugal, Que no ano mil e novecentos O Instituto fundou! Renasce a vida de novo. Há festas e alegria. Vieram reis e altezas A rainha D. Amélia E D. Maria Pia. É 14 de Janeiro! E nas pedras jubilosas, Há sonho, há riso, há esperança Soam passos de meninas, Cantam vozes de criança!

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P O ESI A

Rosa Maria Lobat o de Faria – AA Nº 132/1945

Rimance do Duque do Porto

A

s meninas de Odivelas guardadas no seu mosteiro foram as primeiras estrelas dum pensamento primeiro.

E as meninas de Odivelas no seu convento fechado já choraram todas elas o seu príncipe encantado.

Pensamento acontecido do sentimento real pois fora de rei nascido Afonso de Portugal.

D. Afonso, D. Afonso meu duque sem ter ducado num quarto gelado e esconso vais morrer abandonado.

As meninas de Odivelas no seu convento fechado já sonhavam todas elas com seu príncipe encantado.

E as meninas de Odivelas guardadas no seu mosteiro ouviram no vento leste seu suspiro derradeiro.

D. Afonso é generoso D. Afonso é folião D. Afonso é valoroso quando lho pede a nação.

Mas a lembrar para sempre o nobre gesto do Infante que a nossa casa fundou este amor adolescente repara que não mudou.

E as meninas de Odivelas guardadas no seu convento ouvem-no gritar "Arreda" sobre a cantiga do vento. D. Afonso é desditoso D. Afonso é infeliz e tem de deixar saudoso as terras do seu país.

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São dois momentos de amor guardados na nossa história: o do teu gesto, senhor e o nosso tempo de flor que deu fruto na memória. 9.3.1987



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