Laços 3/06

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Junho-Setembro 2006 Preço avulso: e 3.00, gratuito para as sócias

Revista da Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas

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Convívios na Nossa Casa


EDITORIAL

Í N D I C E

LAÇOS Número 3/06 – Junho-Setembro 2006 2 Editorial por Maria Noémia de Melo Leitão 3 3 3 4 6 6 7 9

Actividades da A.A.A.I.O Chá da Primavera Donativos por Maria Rosete Milheiro Sardinhada dos “Três Santos” ATL “Ser Cidadão” Passagem de modelos e sarau no I.O. Protocolo de comodato com o Município de Odivelas A associação foi a Marrocos por Maria de Lourdes Sant’Anna

10 Agenda 10 Apelo a reunião de 50 anos de entrada no I.O. 11 Notícias do I.O. 11 Visita de estudo ao lar das antigas alunas do I.O. por Ana Catarina Alves Bastos 13 Visita de estudo à Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas por Patrícia Mano 13 Peregrinação a pé a Fátima por Sara Marques 14 Baptismo e 1.ª Comunhão no I.O. 15 Carnaval, uma festa sem igual por Marisa Cardoso 16 12.º Ano... um só ano para sempre! 18 Almoço de homenagem à Senhora Dona Ofélia de Sena Martins por Fernanda Ruth Jacobetty Vieira 19 O que é feito de ti, A.A.? 19 Números são a sua vida – Giselle Ataíde Lampe por M. Margarida Pereira-Müller 23 In Memoriam 24 Manuela Garcez Cavaleiro por Cesaltina Silva

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25 Destaque 25 Luxemburgo, Capital Europeia da Cultura 2007 por M. Margarida Pereira-Müller 30 À conversa com... 30 À conversa com José Neiva Correia: Fazer vinho sem romantismo por M. Margarida Pereira-Müller 33 Ideias Soltas 33 “A Casa Velha” de Cortegaça por Elsa Sofia Dayrell Portela Ribeiro 37 Memórias sobre D. Dinis por Maria Noémia de Melo Leitão 40 O vulcão (aos artistas) por Fernanda Ruth Jacobetty Vieira 41 Santa Bárbara por M. Margarida Pereira-Müller 43 Hélio Loureiro publica dois livros por M. Margarida Pereira-Müller 44 Luxo flutuante: o Voyager of the seas por M. Margarida Pereira-Müller 47 Poesia por Rosa Lobato Faria 48 Ilhas de Bruma por Elsa Portela Ribeiro LAÇOS Número 3/06 – Junho-Setembro 2006

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EDITORIAL I Maria Noémia de Melo Leitão - A.A. N.º 245/1931

A Violência dos Fogos

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iana do Castelo, a linda cidade, acolhedora e fidalga do Alto Minho não proporcionava, na segunda semana de Agosto, a paisagem maravilhosa que habitualmente se desfruta do Monte de Santa Luzia. Uma cortina de fumo cobria todas as serras envolventes, e Viana emergia reduzida ao casario disposto na margem direita do Lima e aos socalcos indiferenciados da margem esquerda. O rio, serpenteando, caprichosamente, pelo seu leito, ia cavando sulcos de areia que se desvaneciam à medida que ele se aproximava do seu encontro com o mar. A superfície líquida do Oceano, reflectindo toda a luminosidade de um Sol brilhante e quente, escondia, na profundidade das suas águas a inquietação de uma vida sempre renovada e onde uma paisagem submarina testemunha os mistérios da criação intemporal. Só a montanha, silenciosa e inacessível aos nossos olhos, não se associava ao perfeito enquadramento de uma natureza generosa e fecunda. O calor intenso de um Verão escaldante, o descuido ou intenções criminosas ateavam labaredas que, na voracidade da sua sanha destruidora, lambiam florestas, casas e haveres. O fumo, o cheiro a queimado davam a medida da gravidade da situação. Estes fogos são uma angústia para quem ama o seu país; são uma angústia para nós, portugueses, que asSó a montanha, silenciosa e impotentes, ano após ano, inacessível aos nossos olhos, não sistimos, ao desaparecimento das manchas se associava ao perfeito verdes que, na sua beleza, são um enquadramento de uma natureza prolongamento da nossa identidade, representando a riqueza não só biogenerosa e fecunda. económica, mas também a simbiose entre o homem e a Natureza. Se, durante o dia a cortina de fumo escondia a montanha, à noite inúmeras lâmpadas iluminavam o conjunto da cidade e as localidades espalhadas pelos montes circundantes. Então, era o esplendor do olhar, com a Lua, ao rubro. No seu jeito de companheira da solidão da noite, transformava as águas do rio e do mar num imenso e rugoso manto de prata. Entretanto, o fogo continuava a consumir sonhos e realidade, convertendo a vida em desolação e morte.

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ACTIVIDADES

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A.A.A.I.O.

Chá da Primavera

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ma das várias iniciativas da nossa A.A. Elsa Ribeiro foi a actuação do coro ECCE GRATUM de que ela faz parte, no dia do Chá da Primavera. Composto por 30 membros, todos vestidos a rigor, presentearam as nossas residentes com o belíssimo programa, variado e de grande qualidade, cantando peças como Ilha da Bruma (açoreana), Canção de Lisboa, Edelweiss, Ave Verum, Heilig, Oh Bleibe Herr e muitas outras, que a maior parte de nós cantou nos tempos do nosso grande coro do Instituto sob a direcção da professora Olga Violante. Foi comovente ver a alegria das nossa idosas e alguns dos seus familiares presentes maravilhados com as vozes dirigidas pelo jovem maestro Rui Pinto. Depois da actuação foi servido um lanche aos participantes do coro que tiveram a ocasião de confraternizar com todos depois de nos terem proporcionado uma tarde de grande elevação, emoção e diferente da anterior, no dia 18 de Maio, em que o tema foi “Os pregões de Lisboa” com a actuação de um grupo senior relembrando a nossa Lisboa dos anos 30 e 40.

Donativos Agradecemos os donativos que têm vindo sempre a entrar na conta da nossa Casa e de outros em género, como:

Oferta dos chapéus de sol e bases Objectos vários para tombola/rifas Livros vários encadernados Serviço de café e outros objectos Computador para a Sede Donativo Donativo Donativo Donativo

Madalena Carvalhosa Pessoa Teresa Teixeira da Silva/Amigas Coronel Pinto Soares Helena Pereira Teresa Teixeira da Silva Eduarda Caixeiro Madalena Carvalhosa Pessoa Paula Alexandra Saraiva Marques Vitor Miguel Ataíde Marques

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ACTIVIDADES

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A.A.A.I.O.

Sardinhada dos “TRÊS SANTOS”

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pesar do céu ter estado nublado e com algumas ameaças de chuviscos houve umas largas abertas de céu limpo e tempo agradável. E foi neste ambiente de vai-vem do sol que a sardinhada decorreu num clima de muito boa disposição, com a presença das habituais A.A. que gostam da nossa companhia e das nossas sardinhas, saladas e sobremesas. A decoração do pátio do Forte, muito ao nosso jeito, simples, mas colorida, com as toalhas dos galos e fustões amarelos, foi alindada e valorizada com oito chapéus de sol verdes oferecidos pelas nossa A.A. e assídua voluntária, Madalena Carvalhosa Pessoa, que deu o tom popular festivo que se pretendia. O pouco de jardim que trouxemos de Odivelas tem sido cuidado com muito empenho e dedicação pelo Sr. Costa que tem a preocupação de, por vezes, enfeitar as jarras de flores do escritório com uns pezinhos de flores coloridas e cheirosas. O jardim também deu cor às paredes centenárias do forte. A sempre muito querida A.A. Margarida Miguéns esteve presente, como não podia deixar de ser, trazendo um casal amigo e presenteando-nos com bolos e duas caixas do famoso vinho da Arruda dos Vinhos que veio deliciar os que não beberam a saborosa sangria feita pela Maria Teresa. Vieram também algumas A.A. das mais antigas, a Milita Canelhas que nos apoiou imenso, a professora Lavínia que não perde este nosso convívio e é sempre solícita nas ajudas, além da Cesaltina, das Teixeira da Silva, da Palmira, da Maria José Cadete, e do fiUma festa simples lho da saudosa falecida Jovita, que enmas animada contra na nossa Casa o apoio e a companhia que a sua mãe deixou de lhe dar. Faltou a música para animar a festa, mas nem por isso houve menos alegria. As sardinhas e carapaus foram assados pelo Sr. Costa, ajudado pelo seu colega Sr. Quintas, nossos funcionários e pela Guida Miguéns que não deixa essa sua prerogativa por mãos alheias. De salientar o trabalho impecável, solicito e organizado destes nossos funcionários bem como o desempenho das nossas ajudantes de lar que dirigidas pela Maria Teresa, Paula Santos e Laura Lobo desempenharam as suas funções sem atropelos, muito solícitas, empenhadas e bem dispostas.

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ACTIVIDADES

Além da presença da cadelinha Nina que já é a grande companhia das nossas residentes e guardiã do burgo desde o início, também passámos a ter a presença do Butxi, um bonzão e muito meiguinho que iremos cuidar por uns tempos e guardará o nosso Forte de intrusos ou estranhos. Os Srs. Quintas e Costa têm sido excelentes tratadores destes dois animais que já fazem parte da casa.

DA

A.A.A.I.O.

O convívio estendeu-se até tarde e o pátio ficou arrumado com a boa colaboração de algumas das A.A. que nos fizeram companhia. Mais uma vez, só foi pena aparecerem tão poucas sócias! Afinal estes convívios são um meio de nos podermos encontrar em ambiente descontraído e animado e para quebrar um pouco a monotonia a que, por vezes, as nossas idosas ficam relegadas.

Um aspecto do convívio

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ACTIVIDADES

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ATL “Ser Cidadão” As crianças do nosso ATL da Arroja gozaram duas semanas de praia em Santo Amaro.

O acesso privativo das nossas instalações a uma zona da praia proporcionou a estadia agradável, sem grandes aglomerações de outros grupos de crianças. Acompanhadas das várias monitoras vinham munidas dos seus lanches, além dos fatos de banho, chapéus e sandálias. Divertiram-se imenso chapinhando nas pequenas ondas, fazendo bolinhos de areia e jogos de praia com as monitoras sempre atentas e que também tomaram uns belos banhos de mar saindo todos bem moreninhos.

Passagem de modelos e sarau no I.O. A Presidente da Direcção esteve presente em Maio na passagem de modelos das alunas

finalistas do I.O. bem como na inauguração da exposição dos trabalhos e sarau de ginástica. De ano para ano se nota uma evolução na qualidade e métodos utilizados o que demonstra uma actualização constante e atenta das professoras e do acompanhamento e criatividade das alunas perante as mutações constantes das matérias, das tendências e originalidade. O sarau de ginástica apresentou desde as mais novinhas às finalistas um bom nível, muito versificado, fatos adequados às coreografias escolhidas bem como a música marcante, ritmada e selecionada de acordo com os exercícios de ginástica aplicada, ora com bolas, com fitas, etc. Parabéns à professora de ginástica, uma jovem cheia de vitalidade, imaginação e profissionalismo.

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ACTIVIDADES

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Protocolo de comodato com o Município de Odivelas

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a 11ª reunião ordinária de Câmara, de 31 de Maio 2006 a que a Presidente e Vice-Presidente da Direcção estiveram presentes, foi apresentado no ponto 8º da agenda, a “Proposta de autorização à Freguesia de Odivelas para proporcionar o uso de duas salas do pavilhão Polivalente a entidades terceiras ao contrato de comodato”. Foi posta à votação dos vários vereadores representantes das facções representadas na Câmara a deliberação do uso do referido espaço o que foi aprovado por unanimidade, espaço esse, já anteriormente cedido pela Junta de Freguesia na qualidade do seu Presidente, Sr. Vitor Peixoto, à nossa Associação para a instalação da nossa Sede. Os vereadores da CDU enviaram-nos, gentilmente o seu parecer sobre a cedência do espaço, fazendo votos de realização de um bom trabalho no desenvolvimento da nobre e importante actividade da nosOs vereadores da CDU sa Associação, com a certeza enviaram-nos o seu parecer sobre de que continuarão a intervir em prol do interesse da comua cedência do espaço, fazendo nidade, que transcrevemos:... votos de realização “Com efeito, não temos qualquer reserva na cedência do esde um bom trabalho paço à A.A.A.I.O. O trabalho no desenvolvimento da nobre e que desenvolve há várias déimportante actividade da nossa cadas no apoio à população idosa e, mais recentemente Associação através do projecto “Ser Cidadão”, a intervenção social que tem promovido junto das crianças, jovens e famílias do Bairro da Arroja, a qual tivemos oportunidade de observar, são motivos suficientemente válidos para contarem com o apoio da autarquia. Diríamos mesmo que este apoio terá de ir mais longe, dado que o estado de degradação e a exiguidade do espaço das instalações onde funciona o projecto “Ser Cidadão” limitam a capacidade de resposta às necessidades do Bairro. Esta questão é da LAÇOS Número 3/06 – Junho-Setembro 2006

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ACTIVIDADES

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maior pertinência se atendermos às carências que o Concelho de Odivelas apresenta em matéria de recursos sociais de apoio quer à infância e juventude quer à população idosa”. O Protocolo de Comodato das instalações da Sede foi assinado no dia 20 de Junho com a Presidente da Junta de Freguesia, sendo, a partir desta data, oficiosamente a morada na Rua Aquilino

Nova Sede – 1.ª Reunião da Direcção

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Ribeiro, Pavilhão Polivalente 2675-211 Odivelas, com nº de Telefone/Fax 219316512, com o horário de expediente de 2ª a 5ª feira das 10h às 13h e das 14h00 às 18 h com a presença de uma funcionária administrativa e sempre um membro ou mais da Direcção. As reuniões da Direcção bem como as da Revista “Laços” realizar-se-ão neste local.


A C T I V I D A D E S D A A . A . A . I . O . I M a r i a d e L o u r d e s S aA nCtT’ IAVnInDaA-DAE. SA . DNA. º A 2. A 78 . A/ 1. I9. 3O6.

A Associação foi a Marrocos

N

o dia 30 de Maio a Associação “foi até Marrocos” através do convite do IASSFA, que assim nos proporcionou um dia muito agradável. Primeiro uma sessão de cinema, onde pudemos admirar as cidades imperiais com os seus palácios, os seus monumentos imponentes, a sua gente com o trajo típico daquelas regiões e também a paisagem; nos prados verdes, campos tratados q u e acompanhavam o rio, enfim um aliciante de coisas, ora belas ora estranhas, que nos deixaram presas ao que íamos podendo admirar. E após este “primeiro prato” ricamente servido, seguiu-se o almoço trazido “por muçulmanas” trajadas à moda do que acabáramos de ver, e eram muitas as pessoas que rapidamente tomaram lugar à mesa onde, como não podia deixar de ser, a sopa apareceu com o “cuscus”, prato tradicional de Marrocos. E foi sem dúvida um dia bonito, diferente, sobretudo pelo que se aprendeu de outros costumes, de outras raças, de outras maravilhas que muitas de nós desconhecíamos.

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G E N D A

Pa r a f i c a r i n f o r m a d o s o b r e t o d a s a s a c t i v i d a d e s d a A . A . A . I . O. p a r a 2 0 0 6

Actividades Passeio a Rio Maior

19 de Outubro

Festa de São Martinho/Magusto

Forte das Maias

11 de Novembro, às 16h

Assembleia Geral Ordinária

Forte das Maias

25 de Novembro, às 14h30

Festa de Natal

Forte das Maias

16 de Dezembro, às 16h

REUNIÃO DE ANTIGAS ALUNAS DO I.O.

50 ANOS DEPOIS ENTRADA – 1957 SAÍDA – 1964

IIIA

• Participa e passa palavra

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• Dá-nos os contactos de outras colegas • Não faltes • Este encontro é alargado a todas as que se foram juntando a este curso

• Isabel Boavida (Bastos Moreira) – 111/57 Telefones: 214190630 - 914656066

• Isabel Leandro (Alberty Martins) – 211/56 Telefones: 214680502 - 917046604

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NOTÍCIAS

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I.O.

Visita de estudo ao lar das antigas alunas do I.O.

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o dia 19 de Maio de 2006, o 6º 1ª e o 6º 3ª foram fazer uma visita de estudo ao lar das antigas alunas do Instituto de Odivelas. Eu decidi fazer uma redacção sobre este dia tão especial e único. Começarei por contar a chegada ao Lar. Chegámos ao lar perto das 2 horas da tarde. Vínhamos do I.O prontas para actuar. Saímos do autocarro muito alegres e bem dispostas, quando vimos uma senhora idosa que se dirigia a nós, muito contente e comovida com a nossa presença. A Senhora Professora Helena Caldeira, uma das professoras que ia connosco para a visita de estudo, aproximou-se da Senhora e cumprimentou-a com grande felicidade. Fiquei tão comovida que até me apetecia chorar. Então pensei para mim: “Deviam ser colegas quando andavam na escola”, ou seja, no I.O. Adorei aquele momento, foi tão especial…. Entrámos no Lar recebidas pela Presidente da Associação, que se chamava Ana Maria Pinto Soares Hoeppner, uma pessoa muito simpática e alegre. A senhora convidou-nos a entrar e acompanhou-nos até ao quarto onde nos iríamos vestir e arranjar. Quando íamos a caminho dos quartos, reparámos que as idosas olhavam para nós muito contentes e entusiasmadas com a nossa visi-

ta. Olhámos para elas com um sorriso brilhante e feliz e lá continuámos a andar. Estávamos tão nervosas... pois o teatro estava prestes a começar! Arranjámo-nos, penteámonos, maquilhámo-nos e vimos se não faltava nada. Depois fomos para a sala onde iria decorrer o teatro. E após o 3,2,1,0 começa o teatro. A Mariana, a Sofia, a Margarida e eu éramos sereias, a Alda era o Senhor João, o (caran-

Visita de estudo ao lar das antigas alunas do I.O.

guejo), a Bruna era a Cruela (a má da fita), a Érica era o Neptuno, a Inês era o Golfinho (o melhor amigo das sereias). Era ele que nos ajudava nas músicas e espectáculos, em conclusão, era como se fosse um irmão para nós e a Adriana era a empregada (a desastrada), a que gostava de ouvir as conversas do Neptuno, atrás da porta, para depois ir conLAÇOS Número 3/06 – Junho-Setembro 2006

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tar tudo à Cruela do que ouvira. Eram estas as personagens do teatro. Quando o teatro acabou, o 6º 3ª ofereceu umas prendinhas feitas por elas: sabonetes, uma tela e outras coisas mais. No fim do teatro e das ofertas cantámos o hino, o grito e os parabéns ao filho de uma

senhora idosa que nos acompanhava no teatro e, que por acaso naquele dia tão especial, fazia anos. Cantámos cheias de entusiasmo e de força pois para a senhora era um dia muito especial e quisemos partilhar esse dia com ela, por isso lhe cantámos os parabéns. As idosas que lá estavam a assistir começaram também a cantar, lembrando-se dos tempos passados no Instituto de Odivelas. Depois de cantarmos fomos cumprimentar as senhoras que lá estavam a ver-nos actuar. Perguntámos se tinham gostado de estar no I.O. e se tinham feito muitas amigas. A maioria respondeu que sim e dizia que nunca se esquecera dos momentos que lá passara e das amigas que fizera. Depois lanchámos em comum. Após termos bebido comido e brincado, a presidente da

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Associação deu-nos um estojo de costura, para assim termos uma recordação do Lar. Quando já estávamos prestes a ir embora uma senhora apareceu lá na sala onde estávamos a lanchar, para nos pedir desculpa por não ter ido assistir à nossa actuação, pois a senhora ficara doente no dia anterior e, por isso, ainda estava em recuperação. Nós percebemos e dissemos que não fazia mal, afinal de contas também havemos de chegar a essa idade. A senhora ensinou-nos a ser fortes e a nunca desistir do que realmente queremos. Ficámos tão agradecidas que cantámos só para ela o hino, o grito e uma música associada ao mar que cantámos quando estivemos a representar o teatro, mas como a senhora não foi ver, tivemos todo o gosto em cantá-la de novo. E assim foi. A senhora ficou tão comovida que até começou a deitar umas lágrimas pela cara abaixo. Sorrimos para ela e demos-lhe um beijo de despedida. Depois desse momento tão especial fomos arrumar as coisas que estavam nos quartos, mas antes de abalarmos despedimo-nos das senhoras todas, mas especialmente da presidente da Associação. Fomos ainda ver o mar ao terraço e depois fomos para o autocarro. Quando já estávamos lá dentro, acenámos para todas as senhoras que nos estavam a ver a abalar com um enorme sorriso, enorme. E lá fomos nós para a nossa rica casa, o Instituto de Odivelas………. Por Ana Catarina Alves Bastos, A. nº232, 7º 1ª


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I.O.

Visita de estudo à Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas

No dia 19 de Maio a turma do 6º3ª foi jun-

tamente com a turma do 6º1ª à Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas. A turma do 6º1ª decidiu organizar um teatro e cantar uma canção às senhoras da associação e a nossa turma decidiu fazer umas lembranças para as fazer sentir bem e para elas terem uma recordação. Nós fizemos tudo com muito carinho e com muito cuidado para ficar tudo bem feito e no fim decidimos unir as duas turmas e cantar o Hino do Instituto de Odivelas. Enquanto cantávamos reparámos que as senhoras estavam emocionadas e algumas até cantaram connosco. No fim quando fomos entregar as prendas as senhoras mostraram um sorriso e via-se que estavam contentes.

Depois entregámos uma prenda colectiva feita pela nossa turma inspirada no nosso tema de área de projecto que é o “Mar”. No fim antes de irmos embora as senhoras quiseram agradecer-nos por termos ido visitá-las e prepararam-nos um lanche. A visita de estudo foi muito divertida e foi muito boa tanto para nós, como para as senhoras da associação. Foi bom para nós, porque conhecemos muitas pessoas que andaram na nossa escola em outros tempos e foi bom para as senhoras, porque relembraram os velhos tempos em que andaram no Instituto de Odivelas. Por Patrícia Mano A. Nº 106, 6º3ª

Peregrinação a pé a Fátima

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o dia 7 de Abril, às 9h 15m da manhã, na St. ª Apolónia, começou a nossa aventura. Vários estudantes de mala às costas, esperavam o comboio que nos levaria a Santarém e onde começaria a grande caminhada. Quando chegámos a Santarém, as nossas malas foram deixadas numa grande carrinha, para que não fossemos muito carregadas. E foi aqui que começou a nossa viagem, sempre acompanhados de adultos e carros de apoio. Foi um dia bastante cansativo, caminhámos bastante até a uma quinta onde des-

cansámos, almoçámos e repusemos as forças para voltar para um longo caminho até Pernes. Ao chegarmos a Pernes, ao Pavilhão dos Bombeiros, fomos jantar a um restaurante que havia dentro do Pavilhão. Depois de algum tempo de descanso, reunimo-nos todos para conversarmos, cantarmos e escutarmos os testemunhos de algumas pessoas. No 2º dia, 8 de Abril, acordámos bem cedo, pois esperava-nos um longo e difícil caminho pela frente. O objectivo daquele dia foi chegar a Alcanena, para almoçar, e depois ir até Minde, o último destino do dia 8. Mais uma LAÇOS Número 3/06 – Junho-Setembro 2006

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vez, à noite, reunimo-nos num Pavilhão, onde nos divertimos bastante. Finalmente no dia 9 de Abril, domingo, chegámos a Fátima. Após o almoço tivemos um tempinho livre para que pudéssemos passear por Fátima. Nesse dia fizemos, antes da missa, a nossa última assembleia. Além de ter sido um tempo de reflexão nas palavras do Padre, foi um tempo de diversão. A seguir à Assembleia fomos para a missa. Quando a missa terminou, esperavam-nos 4 autocarros que nos levavam para locais diferentes. Todos nos despedimos, com a espe-

rança de nos voltarmos a ver no ano que vem, e entrámos nos autocarros respectivos. A Peregrinação a Fátima foi uma experiência excelente, porque além de termos momentos de grande diversão, tivemos muitos momentos de paz e reflexão connosco próprios. Foi uma maneira de renovarmos o coração e ir ao encontro de Deus. Por Sara Marques, A. nº28, 10º2ª Nota: Esta peregrinação foi organizada pelo Movimento Comunhão e Libertação.

Baptismo e 1.ª Comunhão no I.O.

Baptismo da Raquel Cabrita e Primeiras Comunhões no I.O. em 2 de Junho de 2006. O celebrante foi o Padre Dr. Joaquim Nazaré Domingues, Capelão do I.O. e do C.M.

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Carnaval, uma festa sem igual

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o dia 23 de Fevereiro de 2006 realizouse mais uma vez, a festa mais divertida e mais hilariante que o nosso colégio festeja. Claro que estou a referir-me à festa de Carnaval que é a mais esperada por todos, visto que é cheia de vida, acompanhada por um pouco de fantasia. Esta é uma das fantásticas festas organizadas pelas alunas do 11º ano e deve ser uma das que lhes dá mais trabalho, visto que têm de organizar 1 teatro que está sempre um espectáculo. Este ano mais uma vez nos deliciou por completo, com situações do nosso dia a dia ali encenadas. E para não falar que têm de ser júris ao mesmo tempo, que não é tarefa fácil! É difícil, penso eu, escolher a máscara e/ou o cenário mais original, escolher uma pessoa especial, entre muitas, que se encarregue do título de rainha, escolher a máscara individual melhor, etc. Este ano, o 9º ano 2ª turma recebeu pela primeira vez o prémio de originalidade. Foi o 1º prémio que recebemos em 5 anos e a

máscara que nos deu o tão especial prémio foi «As Ghe Guevaras». Agora sei qual a sensação de ouvir o nome da tua máscara, para subir ao palco receber um dos prémios e saber que depois de tanto esforço, o teu trabalho foi reconhecido. Saberes que das muitas máscaras, a tua foi escolhida para receber um determinado preémio, consoante as características em que esteve melhor. Um dos prémios foi de originalidade, mas há quem tenha ganho o de melhor coreografia (10º ano), o de melhor cenário (7º ano 3ª turma), de colectividade (12º ano), a melhor máscara individual (senhora professora Leonor Ornelas), etc. E toda a gente sai daquele ginásio a ganhar qualquer coisa, nem que seja uma noite animada, rodeada de amigos, todos com o mesmo fim… DIVERTIREM-SE!! Portanto, o Carnaval é uma época do ano que temos de levar numa boa e lembrem-se que no Carnaval ninguém leva a mal, por isso divirtam-se!! Por Marisa Cardoso A. n.º 8, 9º Ano

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12º ANO... um só ano para sempre! - Marta 84 - Joana Oliveira 50 - Inês 85 - Sara 59 - Susana 186 - Inês Lopes 181 - Maria 68 - Cátia 52 - Andreia 181 - Sofia 125 - Cátia 241 - Eloísa 81 - Catarina 188 - Marisa 106 - Raquel 70 - Carla 63 - Raquel 105 - Lisandra 107 - Joana 201

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D’Jamila 49 Evanilde 54 Vitória 17 Joana 206 Vânia23 Cláudia 14 Bruna 48 Carolina 88 Mércia16 Joana 1 Bruna 233 Sara 224 Catarina102 Margarida 74 Rita 223 Catarina79 Andreia 69 Maria João 200 Carla187

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- Joana 34 - Raquel 235 - Mariana 67 - Helena 119 - Filipa 217 - Rita 203 - Mafalda 149 - Filipa 218 - Soraia 2 - Helena 129 - Isabel 236 - Sara 207 - Inês 114 - Isabel 40 - Filipa334 - Joana 78 - Sónia 6 - Conceição194 - Eduarda 77

- Merícia 21 - Carina 26 - Vera 223 - Khiloni 225 - Rita 123 - Inês Pires 137 - Joana 220 - Helena Raquel 118 - Sara Félix 164 - Sara 260 - Inês 58 - Ana 61 - Nancy 218 - Catarina 156 - Patrícia 36 - Tânia 169


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I.O.

Festa do 12º ANO – “O 14 de Janeiro” (23-01-2006)

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stamos a chegar ao fim de uma caminhada que começámos há muito tempo atrás. Quando demos os primeiros passos nesta casa não conseguiríamos nunca imaginar ou compreender tudo o que estávamos prestes a passar e os sentimentos que estavam prestes a crescer. É bom relembrar os tempos em que nos sentíamos tão pequenas e perdidas face à grandiosidade envolvente. Agora, sorrimos ao recordá-los, mas na altura foi um obstáculo difícil que nunca teríamos ultrapassado se não nos tivéssemos umas às outras. Os compridos corredores que atravessávamos a correr e que, mesmo assim, demoravam uma eternidade a percorrer; os claustros onde brincávamos, correndo e sorrindo; as altas paredes que tantos segredos inesquecíveis foram guardando; as camaratas onde precisávamos tanto de alguém que nos aconchegasse o coração quando as saudades apertavam; o refeitório, onde o barulho nos fazia sentir num sítio cada vez mais nosso. Quem se esquece que, apesar de 24 horas por dia juntas, sempre tivemos novidades para contar umas as outras como se não nos víssemos há imenso tempo..? É engraçado olharmos para as mais novas e revermo-nos a nós...toda a ansiedade e curiosidade que nos enchiam a alma levandonos a querer descobrir o que cada canto desta casa tinha para nos dar. Ao longo destes anos vão ficando marcados no nosso coração momentos, recordações e saudades de um tempo que não irá voltar nunca mais; mas, também guardamos intensamente a amizade que a todas nos une ou que, pelo menos um dia, nos uniu.

O dia-a-dia dentro desta escola poderemos não voltar a viver nunca mais mas as verdadeiras amizades que aqui construímos ficarão para sempre connosco, dentro de cada uma de nós, no nosso passado, no nosso presente e no nosso futuro. Jamais conseguiremos esquecer tudo o que nesta casa vivemos e todas sabemos que por muitas críticas que façamos, por muitos dedos que apontemos, por muitas revoltas que vivamos, a diferença que esta instituição faz na nossa vida pode ser boa, óptima, menos boa, mais alegre, mais triste mas acima de tudo...ÚNICA e INIGUALÁVEL. “Amo o que somos juntas e o que construímos, amo aquilo que partilhamos, amo as mentiras que contamos, as brigas que tivemos, amo os nossos segredos e as coisas que inventamos, amo os sítios onde nos escondemos e as asneiras que fazemos, amo as aulas e as baldas que passamos juntas, amo os risos e as lágrimas de cada uma de vocês como se fossem de todos, amo os vossos ombros onde me deixo chorar, amo os vossos ouvidos onde sei guardar parte de mim, amo as vossas bocas donde vêm as vossas críticas e os tão doces elogios, amo os dias que mal me falam e mais ainda os dias em que me procuram para falar. E perdoem-me por não vos amar como pessoas mas sim como um grupo... São... sem dúvida... AS MELHORES AMIGAS DO MUNDO..!” Por Sara, A. nº59, 1ºAgrupamento, 12ºANO (em 2005/06) LAÇOS Número 3/06 – Junho-Setembro 2006

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NOTÍCIAS

DO

I.O. I Fernanda Ruth Jacobetty Vieira - A.A. N.º 152/1955

Almoço de homenagem à Senhora Dona Ofélia de Sena Martins

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ompletou 90 anos, no dia 3 de Agosto, a Sra. Dr.ª Ofélia de Sena Martins, antiga Subdirectora do I.O. durante o mandato de Directora da Dr.ª Deolinda Santos. Como as professoras aposentadas do Instituto se costumam encontrar, para um almoço de convívio, na 1ª quinta-feira de cada mês, pensaram fazer uma homenagem à Sra. D. Ofélia, comemorando o seu aniversário no dia 7 de Setembro. Combinaram com a Dr.ª Margarida Raymond fazê-lo no próprio Instituto, porque esta, no início do ano lectivo cessaria as suas funções de Directora, aguardando a oficialização da sua aposentação. Seria uma surpresa a fazer à aniversariante, pelo que foi dado, “secretamente”, conhecimento desta homenagem às antigas professoras. Pela admiração da forma de ser e de estar da homenageada, a reacção a esta iniciativa ultrapassou as expectativas. Esteve presente um número elevado de professoras antigas alunas, actuais e aposentadas e um professor:, assim como quem, não sendo A.A., já estava no I.O. quando da aposentação da Sra. D. Ofélia. O encontro decorreu muito animado, tendo o apetitoso almoço sido servido no refeitório por empregadas já antigas na Casa. As mesas, com toalhas brancas transparentes sobre sombra azul forte, estavam muito bonitas. A recentemente aposentada professora de Drama Educativo, Manuela Machado, dirigiu sentidas palavras à homenageada, a quem dedicou os poemas, que disse muito bem e expressivamente, como o faz sempre, tendo sido, aplaudida entusiasticamente. A Sr.ª D. Ofélia, muito comovida com esta inesperada homenagem, apagou as velas de um grande e bonito bolo de aniversário, depois de cantados por todos os Parabéns.

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O Q U E É F E I T O D E T I , A . A . ? I M . M a r g a r i d a P e r e iOr aQ- M Uü E l lÉe rF -EAI .TAO. N D .Eº T2 I4, 4 A/ 1. 9 A 6. ?7

Números são a sua vida - Giselle Ataíde Lampe

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esde que saiu do colégio, Giselle Ataíde (Saraiva) Marques Lampe, A.A. nº 253/1965, tem levado uma vida muito cheia e diversificada por esse mundo fora. Casada com um alemão com uma vida tão preenchida como a dela, tenta levar, agora em Berlim, uma vida equilibrada entre profissão, família e tempos livres e entre o mundo da economia e o da cultura. Objectivo conseguido, como poderemos ler na entrevista que deu à Laços. No final da nossa conversa, Giselle enviou “uma saudação especial às actuais e antigas alunas do I.O. e a todos os que contribuem para a sua boa imagem!” Tens tido uma vida muito diversificada. A tua última tarefa foi levar a Caixa Geral de Depósitos (CGD) para Alemanha. Como resumirias o teu trabalho actual? Como responsável de uma empresa na Alemanha, a minha missão principal tem sido da criação e fortalecimento de “laços” com clientes actuais e potenciais. O principal grupo de clientes são os particulares. Há cerca de 130.000 portugueses que residem na Alemanha. E há alemães que tem interesses em Portugal. Mas também vejo como tarefa a criação de laços com outros interlocutores: portugueses e alemães, que estão envolvidos no relacionamento económico e financeiro bilateral da Alemanha com Portugal: bancos alemães, empresas, e instituições Gosto de trabalhar como públicas. economista O trabalho tem uma vertente estratégica – a pensar neste e nos próximos 5 anos – e uma de gestão e coordenação de meios, para assegurar uma presença adequada eficiente e crescente na Alemanha. Como são os teus dias de trabalho? Na realidade os meus dias de trabalho iniciam-se diariamente no chuveiro. Começo logo a pensar no que quero conseguir durante o dia. Depois a caminho do escritório deixo as ideias divagarem ouvindo música clássica até chegar ao escritório, cerca das 8h20. LAÇOS Número 3/06 – Junho-Setembro 2006

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O QUE É FEITO DE TI, A.A.?

Nessa altura já estou profundamente instalada no mundo do trabalho. Quando me sento à minha secretária abro o meu e-mail – mesmo antes de ler diagonalmente o jornal económico e controlo a chegada de e-mails. Há períodos em que esta prática me sai cara pois na era do e-work (electronic work) recebem-se demasiados e-mails, todos importantíssimos, sem respeito por hierarquias organizacionais e sem definição eficaz de prioridades. A informalidade associada à expectativa

Giselle com o filho Filipe

serviços; assinatura de cartas e faxes; relatórios nos intervalos. Porque a hora do almoço é óptima para trabalhar sem coordenar e para encontrar interlocutores em Portugal – dada a diferença horária – quando almoço não é antes das 14 e frequentemente por volta das 15 h. Por vezes organizo-me para almoçar com uma amiga ou com um cliente. Depois volto a casa entre as 7 e as 8 – no Verão um pouco mais cedo. O que há de mais “excitante” na tua profissão? Gosto de projectar e planear com um papel branco à minha frente e depois ver a configuração da execução e dos resultados - algum tempo mais tarde. Gosto de me relacionar com clientes, com colegas. E o de menos? A gestão dos recursos humanos é uma tarefa exigente. Por vezes temos más surpresas. Mas na maior parte dos casos, as relações desenvolvem-se e são gratificantes.

de respostas instantâneas destas solicitações – tanto de clientes como das instituições – desafia-nos, sendo frequente termos que adiar os projectos do dia. Depois são muitos telefonemas com clientes, colaboradores, prestadores de 20

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Tiraste o curso de Economia. Tens trabalhado sempre nessa área? O que fizeste anteriormente à CGD? Tenho sempre trabalhado na área de economia e gestão. Já me dediquei à consultadoria na área de desenvolvimento – na Unicef em Angola e numa empresa de consultores em Colónia – à análise económica e econométrica – em S. Paulo e em Washington (FMI). Mas, desde 1991 dediquei-me à banca e à CGD: primeiro na área de clientes públicos: os meus clientes eram as câmaras municipais do sul de Portugal;


O QUE É FEITO DE TI, A.A.?

desde que estou na Alemanha os meus clientes são na sua maioria particulares – portugueses e alemães. Imaginas-te a fazer o que fazes para sempre ou irás um dia fazer algo completamente oposto? Tenho uma competência adquirida nesta área pelo que profissionalmente provavelmente estarei sempre ligada à economia – área de que muito gosto. Penso que gostaria de dar aulas ao nível universitário. Posso imaginar criar ou participar numa empresa com amigos. Não me importava de gerir uma fundação para fins sociais relacionados com crianças. Como ocupas o teu tempo livre? Jogo ténis semanalmente. Faço ginástica uma vez por semana à hora do almoço. Vou almoçar com o meu marido quando ambos conseguimos uma hora comum. Leio semanalmente jornais – o Expresso, o Economist, o Tagesspiegel. Adoro ler os suplementos culturais dos jornais alemães ao fim de semana. Nas férias em Portugal leio livros de autores portugueses: romances históricos e análises sociológicas da sociedade portuguesa nos séc. XIX e XX. Quando viajo deixo-me seduzir por livros que me apelam. Gosto de viajar com a família, mas as férias em Portugal são sempre prioritárias.

Tens vivido em diversos países. O que encontraste de mais positivo nas diversas terras? Nos E.U.A..: o positivismo e simpatia para com o próximo, o que torna a sociedade muito mais agradável para todos. Na Bélgica: só estive 2 anos e não cheguei a conhecer muitos belgas. No Brasil: a alegria de viver – mesmo sem meios – um exemplo para todos nós. Em Angola: o prazer de cada dia que passa, não interessa o que nos espera amanhã.

Na Alemanha: o equilíbrio com a natureza e o tempo livre, a qualidade de vida, a cultura sofisticada de diálogo e filosofia, a valorização do património cultural – música, arquitectura, literatura, arte. Em Portugal: a simpatia e espírito cristão da população, a disponibilidade dos amigos e familiares, a espontaneidade e capacidade de improviso (não é só cliché) LAÇOS Número 3/06 – Junho-Setembro 2006

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O QUE É FEITO DE TI, A.A.?

O que as distingue de Portugal? A resposta só pode ser o que Portugal tem de bom: dias de Primavera em pleno Inverno, Verão sempre sem chuva, uma luminosidade límpida. Gente simpática. Famílias unidas. O melhor peixe (grelhado) do mundo. Praias fantásticas. Quando tens saudades de Portugal – possivelmente nem tens, pois vens cá com frequência – o que fazes? Entre viagens particulares e de trabalho, vou a Portugal entre 5 a 8 vezes por ano. Ao fim-de-semana telefono longamente para familiares e amigos e fico em dia. As saudades são cíclicas: no Verão, nas festas familiares. Como recordas o tempo que passaste no colégio? Lembro que entrei no 2° ano, juntamente com a minha irmã, o que me deu um certo conforto pois parte da família entrou comigo. Chorei de saudades dos pais nas primeiras noites. No início algumas vigilantes e professoras eram muito exigentes. Mas, tem piada, acabei por desenvolver uma relação especial com as professoras mais exigentes: D. Maria Eugénia Morais, D. Cândida Balcão Reis, D. Antonieta Santos. Gostava da Mrs. Garcia, da Madame Curado, da D. Eutímia, da D. Lavínia, da D. Maria José Estanco, da D. Ivone Lucena. Só tive professoras simpáticas. Gostei muito das colegas e do espírito de equipa – no meu ano criámos uma “Comunidade” com 8 elementos e dividíamos tudo: segredos, planos e chocolates. Das vigilantes gostei especialmente da D. Stuart (que me dava alguns castigos mas sorria simpaticamente). 22

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Aprendi muito: quando fiz os exames de admissão à Universidade Católica, fui uma das 3 pessoas com a melhor nota em cultura geral (16+) e lembrome que, para além de testes, na apresentação livre divaguei sobre os eco– sistemas, como tinha aprendido no I.O. E em matemática dispensei. Nos últimos anos aprendi a investir o máximo quando é preciso, o que me tem servido em todos os meus projectos. Aprendi a atingir as minhas fronteiras quando é preciso! O que vês de positivo num colégio interno? É evidente que estou condicionada pela minha experiência no I.O. Há muitos tipos de colégios internos. Talvez um colégio só para raparigas promova mais a autoconfiança das mulheres especialmente num país machista. A disciplina, os uniformes, a convivência e dependência da equipa são factores positivos para a formação do carácter e para o sucesso profissional. Toda a minha família andou em colégios internos, incluindo a minha mãe na África do Sul e o meu marido na Alemanha. Todos gostámos. Agora os meus sobrinhos também estão no C.M. e gostam muito – ao todo nove experiências positivas! E de negativo? É importante que os educadores tenham competência social para motivar e educar enquadrados no tempo. O bom convívio com os pais é importante, mesmo só no fim-de-semana. Na maior parte das situações, as vantagens justificam os compromissos.


Infelizmente não somos eternos e é sempre com pesar que dizemos adeus a algumas colegas e residentes

Maria Luísa Pavão Veloso Macedo A.A. nº 173/1918 No dia 5 de Julho de 2006 Maria Helena Pinho Canelhas A.A. nº 323/1937 No dia 2 de Agosto de 2006

A minha avó é e será sempre uma referência grandiosa na vida dos seus familiares e amigos, sendo que, o Instituto de Odivelas contribuiu para o seu engrandecimento. Lembro o carinho com que a minha avó contava factos passados durante a sua juventude passada no seu amado Instituto de Odivelas e o orgulho que sentia por isso. Maria João Teles Macedo

IN MEMORIAM

MEMORIAM

III

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IN MEMORIAM I Cesaltina Silva - A.A. N.º 229/1939

Manuela Garcez Cavaleiro A.A. 429/1933

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urante muitos anos a Manuela foi uma “menina de Odivelas” (cem por cento) com a qual podíamos contar. Desde o passado dia 18 de Maio é uma de nós que já partiu. As circunstâncias da sua vida fizeram dela alguém muito ligada ao Instituto. Nasceu em Moçambique no Ibo, só por acaso. Naquele dia 8 de Agosto de 1924, o pai que era médico militar estava ali de serviço. Cedo perdeu o pai e a mãe e foi a tia Mariana que vivia na Ota que a acolheu. Ali passou os primeiros anos, até que a 20 de Março de 1933 encontrou a sua casa, a sua família, o I.F.E.T. (Instituto Feminino de Educação e Trabalho – I.O.). Depois da instrução primária e do Curso do Liceu que completou em 12 de Julho de 1943, continuou os estudos na Escola do Magistério Primário. Terminado o curso foi convidada a ser vigilante de outras meninas que, como ela, iniciavam a sua vida de “menina de Odivelas”. A partir de 5 de Novembro de 1945 até 1 de Fevereiro de 1953, data em que rescindiu o seu contrato, quantas meninas acarinhou e ajudou a crescer. Primeiro em Pedrouços e depois em Odivelas, que anos maravilhosos passámos juntas. Estimada pelas colegas e pelas alunas, estava sempre pronta a colaborar em tudo que fosse bom para o Instituto. Ao relembrar este tempo é difícil escolher qual a melhor recordação. Em 1953 iniciou a sua missão de professora primária em Viseu. As circunstâncias da vida e as suas opções fizeram dela uma espécie de “judeu errante” que a atraiu à terra da sua origem, Moçambique, até que a evolução histórica a trouxe de novo até nós em 1975. Muitos anos gastou a ensinar os seus conterrâneos a ler, escrever e a serem homens e mulheres dignos. E eles perceberam isso, e porque a estimavam e lhe queriam agradecer tanta dedicação, quiseram “poupá-la” àquilo que temiam de negativo na “revolução” que estava em curso. Na data da independência fizeram questão que a Sra. Professora D. Manuela estivesse no navio que em paz e sossego a traria até Lisboa. Eles conheciam o seu patriotismo, coragem e sentido de dever. Apreciavam-na e não queriam, para ela, qualquer risco. Em Portugal continuou a sua vida de Bem Fazer. Colocada em Óbidos e Viseu, em qualquer lugar estava para ser mensageira da paz. Veio a aposentação, trabalhos extras, doenças, etc. Até que adormeceu no Senhor com a serenidade com que viveu.

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D E S T A Q U E I M . M a r g a r i d a P e r e i r a - M ü l l e r - A . A . N . º 2D4E 4S T / 1 9U 6 E7 AQ

Luxemburgo, capital Europeia da cultura 2007

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ela segunda vez – a única na história –, o Luxemburgo vai ser Capital Europeia da Cultura em 2007, depois de já ter tido este título em 1995. Desta vez, não se apresenta porém sozinha mas juntamente com toda a Grande Região, que engloba as terras fronteiriças alemãs e francesas. O verdadeiro espelho da Europa das Regiões. O Luxemburgo é o símbolo da encruzilhada histórica da Europa. Estando encaixada entre quatro países – faz fronteira com a Alemanha, a França, a Bélgica e os Países Baixos – foi dominada durante a sua história por diversos reinos estrangeiros. As actividades culturais relacionadas com a Capital Europeia da Cultura (www.luxembourg2007.org) vão ter lugar em cinco territórios de quatro países (Lorena, Renânia-Palatinato, Sarre (Saarland), Valónia, e, claro, o Luxemburgo), onde habitam mais de 11 milhões de pessoas e onde existem 160.000 trabalhadores fronteiriços, dos quais 100.000 saem diariamente da Bélgica, da Alemanha e de França para irem trabalhar no Luxemburgo. Cruzar fronteiras e as migrações são algumas das grandes mensagens da Capital Europeia da Cultura e daí ter Luxemburgo sido escolhido o alce como o seu símbolo: é um animal que há nesse terricom grande actividade tório e se desloca livremente entre os cultural desde 1995 vários países sem conhecer fronteiras. A festa de abertura do programa está prevista para 9 de Dezembro deste ano. As actividades irão decorrer até 8 de Dezembro de 2007, com quatro temporadas de exposições, concertos, teatros, happenings e muito mais. Domínio estrangeiro O ano de 963 marca o início da história do Luxemburgo, um pequeno país com somente 2.500 km², com uma troca entre o conde das Ardenas, Sigefroid, e a abadia de Santo-Maximino de Treveris (Trier) relativo ao rochedo do Bock. Sobre LAÇOS Número 3/06 – Junho-Setembro 2006

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as ruínas dum antigo castelo romano chamado Lucilinburhuc (= pequeno castelo), Sigefroid construiu um castelo, à volta do qual, com o correr dos anos e dos séculos, nasceu uma vila fortificada. Em 1354, o condado do Luxemburgo torna-se ducado e ganha prestígio. Em 1437, a dinastia dos Condes do Luxemburgo extingue-se e o ducado passa para os Habsburgos de Espanha. Em 1443, Filipe o Bom de Bourgogne compra o ducado, passando a fazer parte do estado de Bourgogne; mais tarde, o seu filho Carlos, o Temerário, divide o estado, passando os principados do norte para os Habsburgos da Áustria; foi criada uma confederação denominada Países Baixos, à qual o Luxemburgo pertenceu até 1839. No final do século XIX, a Lorena é anexada à Alemanha. Somente o tratado de Londres de 1867 garantiu a independência perpétua ao Luxemburgo – quebrada durante a 2ª Grande Guerra quando foi anexado por Hitler.

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Um aspecto da cidade antiga.

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A partir dos anos sessenta do século XX, o Luxemburgo tornou-se sede dalgumas instituições europeias, uma praça financeira muito importante e um dos centros cosmopolitas da Europa. Graças à sua forte imigração, o Luxemburgo – 36% da população é estrangeira – é considerado um microcosmo da Europa e um modelo de abertura ao exterior. Muitas fortificações A parte antiga da cidade, que data do século X, foi declarada pela UNESCO em 1994 como Património Cultural da Humanidade. No Luxemburgo pode encontrar-se um grande número de castelos e fortificações, fruto de seu passado fronteiriço com duas grandes potências. A defesa do castelo mandado construir pelo conde Sigefroid estava assegurada por três muralhas fortificadas, para além das defesas naturais formadas pelos rochedos dos vales do Alzette e do Pétrusse. Uma extraordinária rede de 23 km de galerias subterrâneas – as famosas casemates – e mais de 40.000 m² de bunkers à prova de bombas encontravam-se nos rochedos da cidade. Os subterrâneos têm diferentes níveis, atingindo os 40 metros de profundidade. As fortificações tinham uma superfície de 180 ha, enquanto que a cidade não ocupava mais do que 120! Após o tratado de Londres de 11 de Maio de 1867, assinado entre as grandes potências, os subterrâneos foram desmantelados, estando visíveis hoje em dia somente 10%.


Palácio dos Duques Desde 1975, o Hôtel de Bourgogne é a sede do Primeiro-ministro, Não devemos deixar mesmo ao lado da catedral de Nossa Senhora de visitar a Câmara Municipal, o Palácio dos Grandes Duques – construído em estilo renascentista espanhol entre 1572 e 1574 pelos arquitectos Charles Arendt e Gédéon Bordiau, para servir de Câmara Municipal, tendo passado a residência oficial dos grão-duques em 1890 – a catedral gótica de Nossa Seta propriamente dita estão todos os nhora (1613-1623), o Museu de Hismembros já falecidos da família dos tória e de Arte, assim como o Museu grão-duques, incluindo Mariana de Nacional. Bragança. A catedral de Nossa Senhora, situada no coração da cidade, tem dois estilos Bairro governamental bem marcados devido às duas fases de O bairro governamental situa-se no cenconstrução. A parte antiga da catedral tro da cidade, perto da catedral. Desde foi construída no século XVII como igreja 1975, o Hôtel de Bourgogne é a sede do antigo colégio dos jesuítas. Até à do Primeiro-ministro. A antiga residênchegada nos finais do século XX de cia do abade do santo espírito, Mariana de Bragança, a bisavó do acconstruído em 1740, abriga actualmentual Grão-Duque, o Grão-Ducado era um te o Ministério das Finanças. O Minispaís protestante. Ao casar-se, fez um tério dos Negócios Estrangeiros enconacordo com o Papa: os filhos varões que tra-se na antiga residência do abade nascessem do casamento seriam proSanto Maximin de Tréves, erigida em testantes e as filhas católicas. Mariana 1751. de Bragança teve 7… filhas. E assim o Na parte nova da cidade, o bairro de Grão-Ducado tornou-se um país católiKirchberg, que data do século XIX, enco. contra-se o coração financeiro com as Foi nesta ocasião que se aumentou a sedes dos bancos e das instituições da catedral e se construiu a cripta para a União Europeia, como o Tribunal de Jusfamília reinante, guardada por dois letiça, o Parlamento Europeu, Banco Euões. Logo à entrada, temos o túmulo de ropeu de Investimento, entre outras. João o Cego, Rei da Boémia e Conde do Luxemburgo, herói nacional. Na cripLAÇOS Número 3/06 – Junho-Setembro 2006

M.MARGARIDA PEREIRA-MÜLLER

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CENTRO DE TURISMO DO LUXEMBURGO

Cultura Após 1995, o Luxemburgo abriu-se verdadeiramente à cultura. Até então, a vida cultural luxemburguesa era algo pobre, mas com o estatuto de Capital Cultural Europeia floresceu de tal modo que actualmente a sua oferta cultural não fica atrás da das grandes metrópoles europeias. Vários museus e salas de espectáculos abriram as suas portas. No Verão de 2005, foi inaugurada a novíssima sala de concertos Philharmonie, um dos edifícios mais originais da cidade do Luxemburgo. Todo o edifício é de vidro, pois a Philharmonie não se quer fechar em si, mas partilhar a sua vida com o bairro onde está inserida. Assim, recebe a luz da cidade, mas à noite emana luz para a cidade. A fachada de vidro está ladeada, no interior

A sede do banco Central do Luxemburgo.

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e no exterior, por colunas brancas de 38 metros de altura. Em Julho deste ano, foi inaugurado, mesmo em frente da Philharmonie o Museu de Arte Moderna Grão-Duque João, também conhecido por “Peimusée”, por ter sido concebido pelo arquitecto sino-americano Leoh Ming Pei. Castelos feudais São muitíssimos os castelos no Luxemburgo. Realçamos aqui três castelos. Comecemos pelo castelo de Vianden construído entre os séculos XI e XIV sobre as ruínas duma fortificação romana e dum refúgio carolíngio. Em 1417, o castelo, um dos melhores exemplos das residências feudais das épocas românica e gótica na Europa, passa por herança para a Casa dos Orange-Nassau. O castelo de Clerveaux foi construído no século XII, mas fortificado e ampliado no século XV. Porém, durante a Batalha das Ardenas, em Dezembro de 1944, ficou destruído por um grande incêndio. Depois de totalmente restaurado, alberga hoje em dia o Museu da Batalha das Ardenas e a belíssima exposição fotográfica “The Family of Man”, um verdadeiro retrato da e para a humanidade, para lá de todas as fronteiras nacionais, religiosas e ideológicas. Para a exposição, o fotógrafo luxemburguês Edward Steichen visionou 2 milhões de fotografias de fotógrafos de todo o mundo das quais foram escolhidas 503 que estão expostas agrupadas por 37 temas. Considerado o centro da formação da Europa, por aí terem sido assinados os acordos duma Europa sem fronteiras, Schengen tem um pequeno castelo com


uma bela torre A Philharmonie é um dos edifícios mais originais do Luxemburgo medieval. Em 1871, Victor Hugo desenhou a sua torre; a dona do castelo ficou tão maravilhada que lhe terá dito: “Dou-lhe o meu castelo em troca do seu desenho!”. O castelo está construído em cissão do mundo católico em que se frente dum jardim barroco e dum jardim dança e canta. de especiarias. A basílica de São Willibrord, cuja forma actual data dos séculos XI e XIII, Echternach, a basílica e a sua procissão alberga na cripta o túmulo, muito dançante sumptuoso, de São Willibrord, um A um pouco mais de meia hora da cimonge irlandês e o único santo dade do Luxemburgo, encontra-se luxemburguês que participou na conEchternach, conhecida pela sua basílica versão dos frísios. e pela procissão dançante, a única pro-

PHILHARMONIE

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À CONVERSA COM... I M. Margarida Pereira-Müller - A.A. N.º 244/1967

À conversa com José Neiva Correia: Fazer vinho sem romantismo

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uando falamos com um produtor de vinho, encontramos geralmente um discurso extremamente romântico, idílico, utópico. E também sempre uma lamentação de que os vinhos portugueses são dos melhores do mundo, praticamente sem comparação, mas falham na exportação por mil e uma razões, sempre alheias aos produtores. Foi assim que muitos nos espantou, pela positiva, a atitude de José Neiva Correia, enólogo de longa data e proprietário da DFJ Vinhos que fala da produção e comercialização de vinhos como qualquer outro industrial que queira vender o seu produto. Não há lugar para romantismos nem tão pouco para lamúrias. Talvez assim se entenda porque é que a DFJ Vinhos produz 9 milhões de litros de vinho e exporta 90% da sua produção. “Vemos o negócio duma maneira diferente”, resumiu José Neiva Correia. “Aproveitamos economias de escala. Transformamos a riqueza e a variedade das castas portuguesas em vinhos de alta qualidade para as levar ao alcance da maioria dos consumidores”. Fácil de dizer, mas para pôr em prática esse objectivo há que trabalhar duramente. A DFJ Vinhos Lda surgiu em 1998 com o objectivo de apresentar os vinhos portugueses de uma forma moderna e mais competitiva. Juntou-se o saber prático da comercialização de vinhos portugueses no “Vemos o negócio duma estrangeiro com o da produção de vinhos, maneira diferente” isto é, José Neiva Correia, enólogo de renome em Portugal, juntou-se aos sócios da DF Wine Shippers que no Reino Unido vendiam vinhos portugueses com muito êxito. Como José Neiva Correia era o enólogo da Quinta da Fonte Bela, conhecida como a “Catedral do Vinho do Ribatejo”, a nova empresa DFJ Vinhos aí se instalou de armas e bagagens com a missão de “alcançar a excelência da produção de vinho, nas diversas regiões vinícolas de Portugal, transformando a riqueza e a variedade das castas portuguesas em vinhos da mais alta qualidade acessíveis aos consumidores de todo o mundo.”

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À CONVERSA COM...

Começaram pelo básico, ou seja, por estudar o mercado inglês, que pretendiam que fosse o principal: que vinhos se vendem? Onde se vendem? Depois de saberem exactamente o que os consumidores ingleses queriam, começaram a produzir para essa realidade – um caminho diferente da maioria dos produtores de vinho portugueses que produz o que quer sem se preocupar primeiro em saber se é isso que os consumidores querem. “Nascemos para produzir vinho português para o mundo com uma relação qualidade/preço que possa competir com os outros vinhos do velho e do novo mundo”. A DFJ Vinhos produz vinhos de praticamente todas as regiões vinícolas portuguesas. Falam com viticultores de todo o país. Analisam a vinha e o seu terreno e supervisionam todas as fases da produção. As uvas são trabalhadas directamente no local, à excepção das uvas do Ribatejo e das Beiras que são trabalhadas na Quinta da Fonte Bela, no Cartaxo, onde funciona a sede da DFJ Vinhos. Quatro enólogos trabalham na DFJ Vinhos que constantemente procura criar novos vinhos. Aqui jogam imaginação, conhecimentos técnicos e ousadia. Por exemplo, José Neiva Correia ousou introduzir nos vinhos nacionais a casta Pinot Noir. E trazer para o Ribatejo uma casta que todos associam ao vinho verde do Minho: o Alvarinho. Plantou-a no Ribatejo e produz agora um Vinho Alvarinho do Ribatejo. Não é de espantar assim que a DFJ Vinhos não pare de receber prémios para os seus 64 vinhos diferentes: nacionais e internacionais. Em 1999, logo um ano após a fundação da empresa, recebe

pelo seu Ramada Red 1998 o Value – Wine of the Year no International Wine Challenge, (IWC), uma das competições do mundo do vinho mais prestigiadas e que tem lugar no Reino Unido. É promovida pela revista Wine International e realiza-se há cerca de 20 anos. No International Wine Challenge de 2001, a DFJ Vinhos recebeu três medalhas de prata, nove medalhas de bronze e 12 menções honrosas. Em 2002,

A alta chaminé da Quinta da Fonte Bela

a lista de prémios aumenta e recebe a sua primeira medalha de ouro neste concurso com o Grand’Arte - Alvarinho & Chardonnay 2000, sendo o 1º vinho branco português a receber uma medalha no International Wine Challenge. Além disso, são atribuídas à DFJ Vinhos quatro medalhas de prata (Grand’Arte Merlot – 2001, Grand’Arte Touriga FranLAÇOS Número 3/06 – Junho-Setembro 20065

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À CONVERSA COM...

A catedral do vinho

ca – 2000, DFJ - Touriga Nacional & T. Franca 2000 e Pedras do Monte – 2000), dez medalhas de bronze

Barris de carvalho

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(Grand’Arte Alicante Bouschet – 2000, Grand’Arte Trincadeira – 2000, Grand’Arte Cabernet, auvignon – 2000, DFJ - Tinta Miúda & Cabernet Sauvignon 2000, DFJ - Tinta Roriz & Merlot 2000, Vega – 2000, Casa do Lago Reserva – 2000, Portada - tinto 2000, Segada - tinto 2000 e Segada - branco 2000) e muitas menções honrosas. Em, 2003, nova medalha de ouro (Grand’Arte – Trincadeira 2000), assim como medalhas de prata e de bronze e menções honrosas e o prémio Great Value - Wine of the Year (GRAND’ARTE TRINCADEIRA 2000). Em 2004, três medalhas de ouro (Grand’Arte - Trincadeira 2003, Grand’Arte - Alicante Boushet 2003 e DFJ - Touriga Nacional & Touriga Franca 2001). Em 2005, a “Revista de Vinhos” distinguiu a DFJ Vinhos como “Empresa do Ano”, além de ter voltado a receber diversos prémios na International Wine Challenge.


I D E I A S S O L T A S I E l s a S o f i a D a y r e l l P o r t e l a R i b e i r o - AI .DAE. I N . º S7 O/ 1L 9 AS T4 A8 S

«A Casa Velha» de Cortegaça

F

oi uma paixão à primeira vista. Não resisti ao apelo da compra daquela paisagem, com umas ruínas de casa, desde o primeiro instante. Lá de cima olhei em volta e deixeime deslumbrar. Em frente, ao longe a serra de Sintra, num ângulo para mim desconhecido, e lá em baixo o vale plano, muito verde, onde fica a base aérea militar, na velha Granja do Marquês, o aqueduto antigo, por baixo do qual passa ainda a Estrada dos Arcos, que liga Cortegaça ao caminho para

Mafra. Foi por alturas do Carnaval e seguíamos no meu Volkswagem a levar a filha da Luisa B. A uma festa em Torres Vedras. Passado o Lourel, já em Vila Verde e junto à estrada, bem à vista, pintado a preto na cal branca de uma velha casinha saloia, um anúncio patusco: “ Sapateiro vende terrenos”. Avisei logo a Luisa que no regresso teria que parar uns instantes para me encontrar com o sapateiro, vendedor de sonhos. Talvez tivesse à venda um moinho velho que nas minhas divagações romanescas, fosse capaz de caber no meu parco orçamento. E fui o resto do caminho a sonhar O sapateiro, com moinhos a olharem Sintra, ou vendedor de sonhos algum palheiro esquecido e abandonado, que estivesse ao alcance das minhas economias de sacrifício. Os filhos entravam na adolescência e seria talvez, uma boa forma de os ter comigo, aos fins de semana, interessados num projecto de construir qualquer coisa de concreto. No regresso, cumpri. Parei, procurei o meu presumível vendedor e apareceu-me o Sr. Domingos Inácio: sapateiro, informador e proprietário. Esperto, afável, bom conversador, com senso de humor, de riso fácil, um encanto de pessoa. ....moinho não tinha, que já custavam muito dinheiro, mas tinha uma casinha muito velha com um ‘ror de anos, onde já tinham nascido os avós, os pais, ele e LAÇOS Número 3/06 – Junho-Setembro 2006

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todos os irmãos. A mãe tinha sido a última pessoa a viver na velha casa, e já sete anos eram passados, que estava desabitada. Chovia lá dentro e estava à espera de poder ser vendida ... só que os papéis, as cadernetas, tinham que ser actualizadas e levam muito tempo a ficar prontos. A casinha era barata e, segundo o Sr. Domingos, depois de deitada abaixo, dava para fazer uma nova e bonita. Espaço não faltava ... Eram duas cadernetas: uma urbana, que dizia respeito à casa e palheiro anexo; outra rústica relativa à pedreira, onde já a família trabalhava há gerações e que não podia ser negociada em separado. Casa e pedreira, tudo junto, custavam cento e cinquenta contos! Nem menos um tostão. Tentei negociar usando todos os argumentos de que me fui lembrando, mas nada resultou. Foi irredutível: cento e cinquenta contos, trinta à cabeça para garantir o contrato de compra e venda, e o resto por ocasião da escritura. Nem menos um tostão, repetiu. Ainda não tinha sequer a mínima ideia onde era a casa-pedreira, nem o seu tamanho, nem o local exacto. Sabia só que era perto e íamos a caminho. Também não fazia ideia de como se iria processar tudo dali para a frente, inclusivamente, de como conseguir dinheiro para isso. Sei só que senti uma necessidade urgente de espreitar, ali mesmo, naquele instante. Pedi-lhe que nos fosse mostrar, porque queria prolongar o meu sonho mais uns minutos que fosse. Passámos a Granja do Marquês, virámos em ângulo recto à direita, e entramos na Estrada dos Arcos que conduz, sob os arcos do velho aqueduto, à al34

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deia. De cada lado da estrada, enormes campos verdes cultivados de cereais, salpicados de papoilas e de malmequeres que começava a florir. Estava-se a chegar à Primavera e tínhamos tido um lindo dia de sol. A pastar, ali mesmo junto à estrada, uma manada de vacas. À nossa frente, uma aldeia antiga de casas de pedra velhinhas, algumas caiadas de branco, a velha capelinha, as telhas de canudo das casas cinzentas do tempo, roupas estendidas aos restos de sol. Subimos até ao alto, até onde acabava o caminho asfaltado e começavam as pedras, que nos impediam o acesso livre à casa. Tínhamos que subir o resto do caminho pedregoso, a pé. Nada me demoveu. A minha curiosidade era maior que tudo o resto. Uns metros mais à frente começava “a casa”, toda em pedra tosca, com o seu cubo clássico caiado, uma porta ao meio e, por cima, uma janela, rodeado de telheiros. As pocilgas, enormes, saíam para o caminho em frente. De cada lado, um quarto pequeno, com uma data gravada na pedra: 1863, que ainda lá está. Era a “ casa nova” onde tinham sido criados os filhos, disse-me o Sr. Domingos comovido; onde todos tinham crescido. Fomos começando por ver tudo por fora, para eu ficar com uma ideia da superfície total. Ao lado, um buraco fundo rodeado de pedras de todos os tamanhos, e num canto um “ moledo” que fazia fronteira e escondia uma casa comprida, de construção recente, logo acima. Os muros naturais da propriedade eram constituídos por pedras enormes. Era a


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pedreira, aquele espaço sem fim. Fundo e escuro, e eu alarmada sem saber o que fazer com ele nos meus sonhos, onde ele não cabia mesmo.. Quando nos foi dado entrar na casa, descubro um soalho grosseiro de tábua larga corrida, uma escada de acesso ao 1º andar, escondida por um tabique, um tecto de barrotes de castanho muito tosco, e o soalho molhado do primeiro andar, com um buraco no telhado, de telha vã, por onde entrava a chuva, há anos. Da divisão da entrada, por uma passagem, chegava-se à cozinha por uma porta de batente, onde havia poiares de lajes grossas de mármore, a todo o comprimento; ao lado um forno, que ficava num canto, com a respectiva chaminé. Também lá estava noutro canto uma salgadeira, uma mesa de pedra e vários objectos abandonados. No forno, cozia-se, em tempos, o pão para uma semana, e naquela cozinha se reunia a família à noite. Ao lado do forno, uma pequena entrada para a casinha da lenha, lá dentro com uma cúpula redonda do forno, onde guardavam a lenha de uso, seca. O chão era de lajes de mármore, grandes e toscas. O quarto pequeno dos rapazes, que tem a porta datada e que dá para o átrio da entrada principal, tinha uma porta entaipada que dava passagem para a casa do ferreiro, que era de um tio. Era de chão inclinado e de terra batida, com uma porta para a rua, e um buraco ao canto, de pedras enormes, passagem para “o palheiro longo”, onde guardavam a lenha e as ovelhas. O espaço coberto era grande de mais para o que eu sonhava, e ... longe do que eu imaginava possível...

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Não hesitei, e sem saber como, decidi naquela tarde tornar-me proprietária de uma paisagem e de uma casa arruinada! Comprometi-me a formalizar a compra na segunda feira, corri a telefonar para a Madeira a pedir ajuda ao meu irmão Oscar. Selei o contrato de compra e venda com trinta contos, como tinha ficado combinado, e ... começou o calvário da legalização de toda a papelada. Levei dois longos anos, mas consegui, finalmente. De início, alguns amigos num autêntico acto de solidariedade, vinham ajudar a remover os escombros, com direito a churrasco. O Banco emprestou o dinheiro para a aquisição, e a algumas pequenas obras de recuperação de telhados. Não havia água canalizada, nem fossa, nem luz eléctrica, nem casa de banho, nem tecto, nem chão!! Havia uma vontade indomável dos meus quarenta anos, de construir a partir do quase nada ... e uma fartura de pedras de todos os tamanhos para começar. E foi assim que nasceu a «Casa Velha». Levei o resto da vida a consertar, a substituir, a reconstruir ... e a acreditar que vale a pena sonhar! A casa de Sintra tem cumprido a sua função que é dar tudo a quem dela precisa. Assim, por períodos variados de tempo, ocuparamna a Avó Isabelle e o Chico; a Ana quando casou; o Afonso, em pequenos períodos de férias; o Alexandre, quando veio de Paris e, mais tarde, quando se divorciou. Os netos também aí brincam desde pequeninos. Até serviu para acolher amigos, pelas mais variadas razões, desde fins de seLAÇOS Número 3/06 – Junho-Setembro 2006

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mana a luas de mel, a intervalos de obras nas suas casa, a vindas a Lisboa por períodos mais ou menos curtos. Até lá viveu, durante um ano e meio um engenheiro americano, que tinha dois pastores alemães e que a arrendou enquanto durou a sua colaboração na construção do tabuleiro da Ponte 25 de Abril. Todo o rendimento reverteu a favor das obras do telhado, que para grande desgosto meu teve de ser substituído. Lá se fizeram reuniões de família, e de amigos, e se passaram Natais inesquecíveis. Cortegaça cresceu, mudou muito. Já não há lavadouro público, onde as mulheres lavavam a roupa da semana e as vacas iam matar a sede. Os rebanhos de ovelhas deixaram de passar à minha porta logo de manhã e ao fim da

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tarde, com o tilintar dos seus chocalhos. O homem do burro já não me bate à porta, para vender fruta e hortaliças frescas e os caminhos vão estando todos alcatroados. O trânsito quebrou a quietude do lugar. A « Casa Velha» continua velha, sempre a precisar de obras e cuidados. Os netos cresceram e estão longe. Às vezes não sei o que fazer dela, porque sem gente à minha volta e a encher todo aquele espaço, ela não cumpre a sua missão, e sinto-me muito só. Tenho que combinar tudo muito bem com os meus filhos e decidirmos em conjunto que destino lhe dar. Nesta altura da vida, não posso deixar fugir o sentido prático das coisas que sempre tive: Ser coerente, “ to be or not to be” .... e não deixar para amanhã o que posso fazer hoje!

“A casa actual”


I D E I A S S O L T A S I M a r i a N o é m i a d e M e l o L e i t ã o - A . A .I DNE. Iº A 1S 4 S5 O / 1L 9 3S 1 TA

Memórias sobre D. Dinis

D.

Dinis é um rei bem conhecido pelas alunas do Instituto de Odivelas. É quase uma redundância falar sobre a sua acção governativa, sobre o muito que fez para o desenvolvimento de Portugal. Gozou da vantagem da sua longa vida que lhe permitiu exercer o poder por um período dilatado no tempoquarenta e seis anos- e aplicar, sabiamente, a sua inteligência e a sua visão de governante, não apenas em relação ao imediato, mas também visionando o futuro. Resolveu situações no âmbito internacional, económico e social. Portugal prosperou, durante o seu reinado, nos aspectos mais prementes do seu desenvolvimento, com repercussões no futuro, sem tempo de contagem. Visionou barcos sulcando o mar, em busca da prosperidade para o povo; fixou fronteiras - que são as de hoje - trazendo confiança aos que labutavam na raia e alargando alguns espaços territoriais; não se esqueceu, bem pelo contrário, do valor da cultura, ele que era um homem culto, criando novas escolas e instituindo os Estudos Gerais para aqueles que quisessem e pudessem levar mais longe a sua aprendizagem. Até no casamento foi um homem de sorte. Encontrou na sua companheira qualidades superiores de inteligência e bondade. Dona Isabel de Aragão, filha de Pedro III de Aragão, foi criada desde menina na corte de seu avô. Dizem os cronistas que muito se estimaD. Dinis, vam, pelo que o rei teve todo o cuidado na escorei com grande visão lha do homem a quem entregaria a menina dos seus olhos. A princesa foi saudada, vivamente, pela muita gente a quem chegava o eco da sua passagem pelos caminhos entre Saragoça e Trancoso, a vila portuguesa, onde D. Dinis a aguardava e que logo a fez dona desta terra. As festas do casamento prolongaram-se por alguns meses, aqueles que durou a presença do casal real por terras da Beira. A rainha D. Isabel logo se impôs pela sua serenidade e bondade largamente demonstrada na sua missão caritativa. Pacifista e pacificadora muito sofreu com o LAÇOS Número 3/06 – Junho-Setembro 2006

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recurso às armas, quer de seu marido contra seu filho Afonso (o herdeiro do trono) quer, posteriormente, entre este príncipe e o seu irmão Afonso Sanches, filho bastardo predilecto de D. Dinis. Pensa-se que a sua morte – ocorrida em 4 de Julho de 1336, em Estremoz – se deveu a um esforço físico que a Rainha exigiu do seu corpo debilitado pela idade, partindo de Coimbra, em fins de Junho, com o intuito de evitar uma guerra entre o rei Afonso IV – seu filho- e o rei Afonso XI de Castela.

Túmulo de D. Dinis na Igreja do Convento

Mostrou-se uma mãe e avó de grande desvelo e aceitou, no Paço, a presença dos filhos bastardos de D. Dinis, que educava como se seus filhos fossem. Que mais exigir desta Santa Senhora? D. Dinis era um homem volúvel, muito dado às damas. Não lhe seria difícil impor-se-lhes. Além de ser rei, D. Dinis era um poeta a quem não faltaria sensibilidade para envolver aquelas que seriam as suas musas e, algumas delas, as mães de seus filhos. 38

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Os cantares de amor e os de amigo que os cancioneiros contêm e são da autoria do nosso rei- trovador, reflectem a força da sua sensibilidade de homem dominado pelo amor, nem sempre duradouro, mas profundo e cheio de calor, nos momentos do entusiasmo de quem sonha com a posse da pessoa amada. Lendas ligadas à toponímia de lugares, como Lumiar e Amor ( no concelho de Leiria), são o falar do povo que pôs, na boca da Rainha, uma escondida admoestação de Dona Isabel, quando surpreendeu o seu marido em flagrante. Dos filhos bastardos deixados por D. Dinis, dois deles ficaram famosos: D. Afonso Sanches, já referido, era filho de Aldonça Rodrigues Telha que se crê ter sido a favorita do Rei e, talvez por isso, ele lhe dedicava uma afeição especial, a quem fez muitas mercês. D. Pedro, conde de Barcelos, autor do Cancioneiro e do Nobiliário do Conde D. Pedro, filho de D. Gracia Fróis, foi considerado Infante culto que se impôs pelas suas qualidades. As progenitoras destes Infantes moravam nos arredores de Lisboa, a caminho de Odivelas. Podemos imaginar D. Dinis, montado no seu cavalo fogoso, manto ao vento, acompanhado de seu séquito e, ao cair do dia, cavalgar desde o Vale das Flo-


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res e subir a encosta até ao que hoje se chama Lumiar, para dar largas ao seu sonho de um amor antecipado. De entre as Infantas nascidas de outras ligações do Rei, citamos Maria Afonso, filha de Branca Lourenço, a quem, segundo Frei António Brandão, D. Dinis fez doação da vila de Mirandela «por compra do vosso corpo». Estranha frase, na boca de um homem tão galante, como seria D. Dinis. A arca tumular de Dona Maria Afonso, bem simples nos seus ornamentos, ostenta o brasão de armas com insígnias reais, o que induz quanto à nobreza do seu nascimento. Pouco se sabe sobre a vida desta monja, a não ser que morreu com fama de santidade. Todas nós, antigas alunas do I. O., temos bem presente o seu túmulo, situado no absidíolo do lado direito e que contrasta, pela sua simplicidade, com o de seu pai, localizado do lado esquerdo. Não obstante a sua singeleza, esta arca tumular patenteia um certo mistério relacionado com um episódio da vida desta Infanta.

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Serve-lhe de suporte, um conjunto de duas figuras humanas, em jeito de violência e pavor, revelador de uma situação muito dramática. Conjunto que, aliás, contrasta com a serenidade do rosto juvenil da estátua jacente. Fazendo um apelo à nossa memória de adolescentes, confrontamo-nos com imagens de interrogações que colocávamos a nós-mesmas, e se ficaram por uma resposta envolvida na nebulosidade misteriosa sobre a vida de D. Dinis e daquela Infanta. Hoje, amadurecidas pelo tempo, tudo parece natural, desde que enquadrado na sua época de reis montando cavalos garbosos, à desfilada, em justas e torneios dedicados a belas damas; de noites embaladas por menestréis cantando cantigas de encantar; de conversas fortuitas que seriam outras juras de amor. A nossa memória longínqua transporta-nos àquelas pedras mudas, loquazes no seu silêncio, como testemunhas da vida dos que passaram e continuam a passar pela casa do nosso Instituto há mais de seiscentos anos!!

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S O LTA S I F e r n a n d a R u t h J a c o b e t t y V i e i r a - A . A . N . º 1 5 2 / 1 9 5 5

Tu és um vulcão Em ebulição! Fervilhas de ideias Em que te enleias. Trabalhas no forno Do teu coração As cores e a matéria Magma do vulcão. Fervendo emoções Com bons sentimentos Fabricas filões D’ outros elementos. Misturas ternura Com alguns torrões … E uma obra pura Aos outros expões.

Só ficas liberto Do fogo em que ardes Se em teu peito aberto O Mundo tu guardes.

Assim Tu artista Amor extravasas O Mundo conquistas Seduzes, abraças.

Faz tua alquimia Tuas combustões O Mundo alivia Tira-lhe os grilhões.

Os sonhos matizas Criando ilusões, Gente imortalizas: Heróis e poltrões

Mostra que o Amor Traz Paz, harmonia, Mitiga a dor E dá ousadia.

As pedras, a água, Trabalhas ou cantas Ou sobre uma tábua Tu pintas ou danças.

Que à Vida traz cor Fé e Poesia Ao rosto esplendor À Alma alegria.

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I D E I A S S O L T A S I M . M a r g a r i d a P e r e i r a - M ü l l e r - A . AI. D NE .I ºA S2 4 S4 O/ 1L 9T 6 A7 S

Santa Bárbara

N

o início de Dezembro de todos os anos, mais precisamente a 4 de Dezembro, dia de Santa Bárbara, os alemães, os escandinavos e outros povos do Norte da Europa, vão aos campos cortar ramos de cerejeiras, de pereiras, de ameixeiras ou de aveleiras. Estes ramos que já estão sem folhas, parecendo até estar sem vida, são colocados em jarros com água em locais aquecidos, normalmente na sala, e, como por milagre, abrem-se em flor no Natal! Algumas raparigas casadoiras escrevem o nome do seu bem amado nos ramos; se por acaso esse ramo não florir é porque não existe um futuro comum para os dois. Trovoadas Nós por cá, tanto quanto eu seu, não temos esta tradição. Quando era pequena, a minha Mãe sempre rezava a santa Bárbara quando havia trovoada: Santa Bárbara se levantou, Se vestiu e se calçou. No seu livrinho de ouro pegou. Jesus Cristou lhe perguntou: - Onde vais, ó Santa Bárbara? - Vou juntar a trovoada que anda por esse mundo espalhada. - Para onde a vais levar? - Para um monte no Minho Onde não há pão nem vinho Nem mulher com menino, Nem vaca com bezerrinho. Nem homem sem acidente Bendito seja Deus para sempre.1

A vida de Santa Bárbara é de historicidade insegura

Mas enfim, passemos à vida desta mulher que viveu no século III na Nicomédia, na Ásia Menor, e que graças à sua vida exemplar foi santificada. 1

Esta oração é também rezada a Santo António nalgumas zonas do país.

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Catecismo às escondidas Às ocultas dos pais, fanáticos pagãos, Bárbara vai aprendendo o que pode sobre a religião cristã. Bárbara sentiase dilacerada entre amores opostos: o dos pais e o de Cristo, amor supremo – parece até que foi escrito para ela as palavras de Jesus: “Não julgueis que vim trazer a paz à terra. Eu vim trazer a divisão entre o filho e o pai, entre a filha e a mãe, e os inimigos do homem serão as pessoas da própria casa” (Mt10,34-36). Apesar de reservar para ela um belo casamento com o imperador, o pai denunciou-a ao prefeito da província, Martiniano, quando descobriu que ela se tinha tornado cristã. O juiz, vendo a obstinação da jovem cristã em professar a fé, mandou aplicar-lhe cruéis torturas, mas suas feridas sempre apareciam curadas. Pronunciou, então, sua sentença de morte. O próprio pai, Dióscoro, furioso no seu cego paganismo, prontificou-se para executar a sentença: atirou-se contra a filha, que se colocou de joelhos em atitude de oração, e decapitou-a. Naquele 42

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mesmo instante, desencadeou-se uma grande tempestade e o pai, atingido por um raio, caiu morto. Esta é somente uma das muitas lendas sobre a vida de Santa Bárbara. Outras dizem que Bárbara dedicou toda a sua vida ao conhecimento e ao exercício da Química em aplicações bélicas e no fabrico de explosivos. O culto a Santa Bárbara Na iconografia cristã, Santa Bárbara é geralmente apresentada como uma virgem, alta, majestosa, com uma palma significando o martírio, um cálice como símbolo de sua protecção em favor dos moribundos e ao lado uma espada, instrumento de sua morte. O culto de veneração desta santa do Oriente passou para o Ocidente, sobretudo, para Roma, onde desde o século VII se multiplicaram as igrejas e oratórios dedicados a seu nome. Esta santa é invocada, sobretudo, como protectora contra a morte repentina sem confissão e contra os perigos de explosões, de raios e tempestades. Daí a oração a Santa Bárbara Ao longo dos séculos, Bárbara tem sido eleita como padroeira da Artilharia, dos engenheiros militares, dos mineiros, dos trabalhadores das pedreiras, dos fundidores, dos bombeiros, dos pirotécnicos, dos arquitectos, dos construtores e cavadores de tumbas. A vida de santa Bárbara, de historicidade insegura e protagonista dum bom número de lendas, tem grande quantidade de elementos inverosímeis, contraditórios e teologicamente surpreendentes– razão pela qual a Igreja Católica, no Concilio do Vaticano II, a tenha eliminado do calendário litúrgico.


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Hélio Loureiro publica dois livros

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élio Loureiro, actualmente o responsável gastronómico da selecção portuguesa de futebol e apresentador de um programa semanal de culinária na RTPN - Gostos e Sabores, publicou no início do Verão dois livros – pequenos mas úteis –, onde apresenta, em dois volumes, ambos editados pela Texto Editora, dezenas de receitas seleccionadas da vasta e rica gastronomia portuguesa que, sendo bastante saborosas, contribuem para criar de hábitos alimentares mais saudáveis e para fortalecer o nosso coração. Com prefácio do Prof. Xavier Malcata, posfácio de Daniel Serrão e introdução do escritor e investigador Júlio Couto, o livro “Cozinha Saudável para um Coração Forte” tem o coração no centro das atenções… gastronómicas. O coração é muito mais que um músculo que trabalha incessantemente. É também a sede simbólica e metafórica da vida emocional e afectiva que nos caracteriza como seres humanos. Se formos bons para o nosso coração, ele saberá como retribuir-nos. Tendo estas preocupações em mente, o Chefe Hélio Loureiro seleccionou 36 receitas que nos ajudam a sermos bons para o nosso coração. Em “Cozinha Saudável para Crianças e Jovens”, trinta e duas receitas seleccionadas pelo Chefe Hélio Loureiro, ajudam a cuidar da saúde dos mais novos, numa época em que a alimentação tem vindo a mudar radicalmente, com grandes, e muitas vezes, perniciosos efeitos sobre a saúde. O consumo excessivo de gordura, de açúcar ou de sal está directamente relacionado com o desenvolvimento das doenças cardiovasculares, da obesidade, da diabetes, doenças que podem ser prevenidas através de uma alimentação cuidada a partir da mais tenra idade. Esta obra tem prefácio de S.A.R., D. Isabel, Duquesa de Bragança, posfácio de Luís Figo e introdução de João Paulo Teixeira, investigador no Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge.

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S O LTA S I M. Margarida Pereira-Müller - A.A. N.º 244/1967

Luxo flutuante: o Voyager of the seas

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ela 1ª vez na sua história, começada em 1999, ano da sua inauguração, o Voyager of the Seas, da companhia de cruzeiros Royal Caribbean International, representada em Portugal pela Melair-Clube Cruzeiros, parou na Europa, nomeadamente em Lisboa – e pôde ser visto do terraço da Nossa Casa – numa viagem que o trouxe de Miami para o Mediterrâneo, onde fica de Maio a Novembro deste ano a realizar cruzeiros de 7 noites, a partir de Barcelona. Em Novembro, regressa a Miami, donde realizará cruzeiros pelas Caraíbas até Maio. Com a chegada do Voyager of the Seas ao Mediterrâneo, este passará a ser o maior navio de cruzeiros do mundo a realizar cruzeiros regulares na Europa. Pesando 138.000 toneladas, com 311 metros de comprimento, 48 metros de largura, 15 decks, 1557 camarotes e 1181 tripulantes, o Voyager of the Seas tem capacidade para 3.838 passageiros, aos quais oferece a primeira “Promenade” e o primeiro ringue de patinagem no gelo a ser construído num navio de cruzeiros, passando a ser o navio com o maior casino, biblioteca, restaurante, spa, centro de fitness, pista de jogging e patins em linha, parede de escalada, campo de golfe, sala de teatro, etc, a navegar no Mediterrâneo.

1999: o Voyager of the Seas nasceu Em 1999, quando o Voyager of the Seas entrou ao serviço como o maior barco de cruzeiros do mundo, estava destinado a ser o barco mais revolucionário alguma vez construído, mudando para sempre o mundo dos cruzeiros com infra-estruturas nunca vistas até a essa data: ringue de patinagem no gelo (!), estúdio de TV e de concertos, parede de escalaCruzeiros de luxo da, atrium horizontal, beliches intepara umas férias riores mas com vista para a descansadas “Promenade”, espaços próprios para reuniões com área de recepção para acomodar até 400 convidados, sala de reuniões executiva salas de apresentação multimédia e equipamento para teleconferência, entre outros.

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Restaurantes faixas de rodagem e o comprimento dum Os três decks do restaurante princicampo de futebol, há boutiques de cripal do barco têm nomes de operas adores internacionalmente famosos, famosas: Carmen, La Boheme e a perfumarias, lojinhas e um pub bem Flauta Mágica, sendo esse também o britânico, entre outros. tema base da decoração, incluindo as Num dos átrios da Royal Promenade maravilhosa escadaria e o candelaestá o Casino Royale, com 300 mábro de cristal. A comida é excelente quinas de jogo e mesas para blackjack, e o serviço muitíssimo afável e eficicraps, rouleta e poker. Outros espaços ente. Portofino é a alternativa para públicos incluem uma biblioteca de dois um jantar mais requintado, com andares, com acesso à Internet e sala ementas completas. de jogos. O almoço e o pequeno-almoço são tomados num self-service, o Windjammer Cabines Cafe no deck 11, com maravilhosas visApesar de haver tanto para fazer a bortas panorâmicas, que pode acomodar do, de quando em quando convém tamaté 1.000 pessoas duma só vez. Há ainda espalhados pelo barco pequenos snacks e bares. Muito apreciado pela maioria dos passageiros é o Johnny Rockets, um restaurante decorado à anos 50 com comida rápida, tipo hamburgers, cheeseburgers, sanduíches de galinha, batatas fritas. Na área das compras, temos o Café Promenade e a No teatro La Scala representam-se os musicais da geladaria Ben & Jerry, entre Broadway muitos outros. Bares há muitos, sendo o mais bonito o bar Viking Crown Lounge, com bém dormir. Obarco tem 1557 cabinas, capacidade para 335 pessoas no deck das quais 939 têm vista para o oceano 14, com vistas panorâmicas especta(e destas, 765 têm varandas com duas culares. No deck em cima está a capecadeiras e uma mesa), 618 cabinas la Skylight, muito usada para casameninteriores (e destas 138 têm vista para tos a bordo. a Royal Promenade). O barco tem uma série de suites incluO centro comercial indo as Suites da Família Real com vaQuem gosta de compras, não fica atraranda, que acomodam até oito pessopalhado no Voyager of the Seas. Na as. A suite mais luxuosa tem banheira, Royal Promenade no deck 5, com a aljacuzzi, bar, mesa de jantar, centro de tura de quatro decks, a largura de três entretenimento e um piano.

FOTO: ROYAL CARIBBEAN

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Entretenimento Em primeiro há que referir o Teatro La Scala, uma cópia do famoso teatro de Milão, com uma capacidade para 1.350 pessoas. Na decoração sobressai o canO Voyager of the Seas oferece a bordo muitas possibilidades de desporto

FOTO: ROYAL CARIBBEAN

deeiro de cristal de Murano. Todas as noites vai à cena um musical da Broadway diferente; o teatro tem 16 cantores e dançarinos. Quem gosta de dançar passa pelo night club The Vault, em dois andares. Para manter a forma há ainda, além do ringue de patinagem no gelo, da pista

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de inline skating e da parede de escalada, um campo de basquetball e um de volleyball e de badmington, um campo de mini-golfe, três piscinas, seis jacuzzis e uma pista de jogging. O centro de fitness tem 66 máquinas, incluindo 22 tapetes de jogging, uma zona de aeróbica e um belíssimo spa onde os passageiros podem fazer massagens tradicionais, massagens com pedras quentes, massagens aos pés, massagens faciais etc, um solário, sauna e banho turco. Toda esta zona tem por tema base a Grécia antiga e todo o espaço está decorado com réplicas de estátuas gregas. Enfim , uma maneira muito relaxada de passar férias, que permite ver muitas terras, sem a maçada de transporte de malas e de viagens longas e cansativas. A partir de agora e até Novembro, o Voyager of the Seas vai fazer sonhar muita gente com cruzeiros em Itália e nas ilhas gregas.

O grandioso Voyager of the Seas, o 3º maior barco de cruzeiros do mundo

LAÇOS Número 3/06 – Junho-Setembro 2006


P O E S I A I Rosa Lobato Faria - A.A. N.º P 1 3O2 E/ 1S9 I4 A5

Poema n.º 9 A

firmas que brigámos. Que foi grave. Que o que dissemos já não tem perdão. Que vais deixar aí a tua chave e vais à cave içar o teu malão. Mas como destrinçar os nossos bens? Que livro? Que lembrança? Que papel? Os meus olhos, bem vês, és tu que os tens. Não te devolvo – é minha! – a tua pele. Achei ali um sonho muito velho, não sei se o queres levar, já está no fio. E o teu casaco roto, aquele vermelho que eu costumo vestir quando está frio? E E É É

a planta que eu comprei e tu regavas? o sol que dá no quarto de manhã? meu o teu cachorro que eu tratava? teu o meu canteiro de hortelã?

A qual de nós pertence este destino? Este beijo era meu? Ou já não era? E o que faço das praias que já não vimos? Das marés que estão lá à nossa espera? Dividimos ao meio as madrugadas? E a falésia das tardes de Novembro? E as sonatas que ouvimos de mãos dadas? De quem é esta briga? Não me lembro. Do seu livro Poemas Escolhidos e Dispersos Lisboa: Roma Editora, 1997

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P O E S I A

Ilhas de Bruma (poema açoriano de M. Medeiros Ferreira)

A

inda sinto os pés no terreiro Que os meus avós bailavam o pezinho É que nas veias corre-me basalto negro E na lembrança vulcões e terramotos Por isso é que eu sou das ilhas de bruma Onde as gaivotas vão beijar a terra Por isso é que eu sou das ilhas de bruma Onde as gaivotas vão beijar a terra Se no falar trago a dolência das ondas O olhar é a doçura das lagoas É que trago a ternura das hortênsias E no coração a ardência das caldeiras Por isso é que eu sou das ilhas de bruma Onde as gaivotas vão beijar a terra Por isso é que eu sou das ilhas de bruma Onde as gaivotas vão beijar a terra Trago o roxo, a saudade, esta amargura E só o vento me ecoa na lonjura Mas trago o mar imenso no meu peito E tanto verde a indicar-me a esp’rança Por isso é que eu sou das ilhas de bruma Onde as gaivotas vão beijar a terra Por isso é que eu sou das ilhas de bruma Onde as gaivotas vão beijar a terra É que nas veias corre-me basalto negro No coração a ardência das caldeiras O mar imenso me enche a alma E tenho verde tanto verde a indicar-me e esp’rança Cedido por Elsa Portela Ribeiro A.A. N.º 7/1948

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